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A ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INDÍGENA

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SOCIODIVERSIDADE: ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INDÍGENA 
[footnoteRef:1]Elaine Cristina Dias da Costa [1: Psicóloga Clínica ( PUC Minas-2013) - Escritora e pesquisadora do corportamento humano. Contatos: cantecompelaine@gmail.com - elaine-criscosta@hotmail.com] 
É preciso considerar que, os hábitos alimentares adquiridos pelas tribos índigenas, está de certa forma relacionada à nutrição e a saúde que eles possuem. Um estudo feito por Leite (2007) procurou trazer tanto os tipos de comidas que eles comsumiam como houve tentativa de explicar o contexto em que a cultura indígena vive, justificando o relacionamento existente com a nutrição e saúde. 
Pode-se dizer que diversficadas etnias, ou seja variadas tribos índigenas, que já viviam espalhadas nesta terra, antes mesmo de receber o nome de Brasil, foram responsáveis por uma diversidade de cultura, gostos e padrões alimentares, os quais podem estar presentes até na alimentação dos descendentes de europeus que se miscigenaram, originando os brasileiros.
A pesquisa de Leite (2007) , ajudou a descartar ideias preservadas pelo senso comum, sobre o comportamento geral das tribos índigenas brasileiras, incluindo os gostos alimentares dos índios e a crença de que não possuíam afeição pelo trabalho. Observou-se que sempre foram empregados esforços, tanto para proteger os alimentos cultivados, quanto, certo cudado no preparo da comida, entre outros.
 O antropólogo Júlio César Melatti (1987), se posicionou de certa forma, em defesa dos índios brasileiros, poupando-os de críticas daqueles que ignoravam a rotina das tribos taxando-os de preguiçosos ou negligentes. Ele conseguiu mostrar por meio de sua pesquisa, que o julgamento era feito de forma injusta, pois, a maioria deles impregavam esforços para sobreviver. Enfrentavam dificuldades para plantar, carregar sacos de farinha, entre outros esforços feitos para a manutenção da tribo. Para certas comunidades, este era um trabalho muito difícil ( LEITE, 2007).
A hipótese é de que, a imagem construída por outras raças com respeito aos índios, pode estar relacionada ao antigo costume de não acumularem bens. As questões mais cogitadas sobre o que plantam e comem, que são disceminadas pelo senso comum diz respeito à farinha de mandioca, de onde preparam o biju e o predominante gosto por peixes. No entanto, quanto se estuda várias tribos, descobre-se que algumas deles, desconhecem completamente a mandioca ( aipim), e possuem como base de sua alimentação o milho. Outras tribos, plantam e colhem abundantemente a batata doce.
Os habitos de seus antepassados que foram cultivados, os garantiram que comer mandioca,vegetais, peixe , milho ou batata doce, seriam a forma de sobreviverem. Desta forma, criou-se a cultura de cultivos desses alimentos.Para eles, é semelhante aos hábitos que possuímos em comer arroz ou biscoitos, que são considerados por eles, como comida de brancos (LEITE,2007).
 O autor apresentou como modelo as tribos de índios: “Xavánte” , que habitam no Mato Grosso e “ Wari” que ocupam parte do território de Rondônia. Antes destes índios terem contato com outras culturas, conforme aponta Leite (2007) , eles apenas conheciam o milho. Ao serem surpreendidos com aqueles que esperavam ser, a mandioca seu cultivo favorito, a conheceram e passaram a cultivá-la e consumí-la. 
Outro erro relacionado, trata-se do mito, de que, os índios consomem qualquer alimento animal ou vegetal disponível ao redor da aldeia, e verificou-se que tal crença não é verdade. Foram avaliadas pelo pesquisador, diferentes tribos, e observou-se que entre elas haviam distinção, já que algumas não comiam certas espécies de animais, devido a caça ser seletiva, enquanto outras, apenas se alimentavam de peixes e vegetais. Há casos de tribos vizinhas, com culturas alimentares diferentes, como apresentado a seguir:
Os Enawenê-Nawê e os Rikbaktsá, por exemplo, ocupam a bacia do rio Juruena, no Mato Grosso, e fazem escolhas alimentares muito distintas apesar de ocuparem o mesmo ambiente. Assim, os primeiros não consomem caça, mas apenas peixes (SANTOS, G. 2001), enquanto os Rikbaktsá têm na caça sua principal atividade, e ainda consomem diversas espécies de peixes (ATHILA, 2006) citado por ( LEITE,2007, pg.185).
 
 A localização geográfica da tribo, o lugar onde habitam, a quantidade e frequência de chuvas, interferem diretamente na qualidade do solo. São fatos que alteram a escolha do cultivo e consumo de alimentos por indígenas. São questões que fazem toda diferença na hora de plantar, colher e preparar alimentos. Não é difícil entender a variação cultural índigena, quando a comparamos aos demais povos e seus costumes.
Assim como é comum na China ou Coréia, o consumo de animais exóticos como baratas, ou cães, e para os franceses natural se alimentarem da carne de cavalos, na cultura brasileira isto é inadmissível, pois cães e , gatos, cavalos, são tratados como animais de estimação, da mesma forma, é comum para algumas tribos, consumirem alguns animais específicos terem outros como sagrados.
 A questão, não é que alguns povos sejam mais evoluídos ou ignorantes que outros, o fato está no que se aprendeu cuturalmente a considerar como comida ou não. Desta forma, questões culturais, hábitos e crenças são os responsáveis pela escolha alimentar e nutricional de cada povo. 
Assim como, não comemos alguns pratos apreciados por estrangeiros ou índios, pois para nossa cultura seria um desrespeito ou ascoroso, não se pode esperar que outras raças ou cultura consideram como corretos o nosso cardápio. fato é que eles sabem exatamente o que comem e por qual motivo comem.
Não se pode generalizar os costumes das tribos e considerá-los errados, embora, não exista nada de mal em apresentar-lhes opções que estão ao alcanse deles, e caso desejarem poderão introduzí-la no cardápio, como forma de previnir a desnutrição e ter opções em caso de sobrevivêcia.Na verdade, há uma cultura construída, sobre o cultivo a colheita e até a forma como descartam o que não é consumido.
 O pesquisador trouxe uma reflexão sobre o fato de uma tribo de Rondônia, preservavam um cesto os ossos da caça, após de alimentarem. O objetivo seria devolver ao curupira quando estiverem no mato, como forma de agradecê-lo pela caça. Mediante a crença, os tais ossos não podem ser lançados no rio, já que ele é considerado lugar encantado, e não é território do curupira, por isso, não se deve deixá-lo zangado. A crença em suas divindades os levam a respeitar certas espécies, não as consumindo, a não ser quando autorizados:
Cabe aqui uma explicação sobre o último trecho da citação, que fala sobre o risco de consumir carne de caça. Segundo a tradição Warí, Sociodiversidade, alimentação e nutrição indígena 189 diversas espécies de animais devem ser tratadas com respeito e somente consumidas após a intervenção de um xamã, que garantirá que o espírito do animal morto não cause males àqueles que irão consumi-lo ( LEITE,2007,pg. 188).
Realizar uma intevenção no habito de cultivo e alimentação de tribos índigenas, só seria justificado como necessidade de ajudá-los a conhecer novas formas de sobrevivencia. O cultivo de alimentos que podem ser desconhecidos por eles, ou visto como comida de brancos, poderá salvá-los mediante mudanças climáticas, quando o solo não for favorável à algum tipo predominante de cultivo, tais como a mandioca e o milho.
Sabe-se que a falta ou excesso de chuva, podem afetar a produção dos alimentos. Se não há como sobreviver, poderá ocorrer a extinção de muitos povos. Pensar em como ajudar idosos, crianças e grávidas indígenas se nutrirem é por certo auxiliar para que alguns povos não sejam completamente extintos. 
É bom lembrar que as novas práticas alimentares adquiridas, só podem acontecer com a participação da população. São eles que decidem sobre aceitar ou não novas idéias e valores para seu dia a dia, considerando incluir os elementos considerados mais adequados. Assim, ensiná-los novas formas de preparar ou usar alimentos antes desconhecidos,com a finalidade de ajudá-los na nutrição, só é possível, respeitando suas crenças, não descartando os valores culturais por eles defendidos como pode ser visto a seguir:
Em sua análise das mudanças observadas na alimentação Warí, Leite (2007) afirma que, a despeito da presença de inúmeros itens alimentares de introdução recente, era evidente que a alimentação continuava sendo orientada por sua cultura. Para dar um exemplo, embora os Warí tivessem incluído em sua dieta alimentos como o arroz e o feijão, o principal alimento responsável por um corpo forte e saudável, pela produção do sangue e da gordura corporal permanecia sendo o milho nativo, que sempre fora a base de sua alimentação, o alimento mais caracteristicamente Warí ( LEITE,2007).
Um contato com as tribos isoladas nesse caso, com intenções de manter a saúde nutricional deles, não pode ser vista como tentativa de mudar seus hábitos ou crenças, mas, mas, precisa ser encarado como estratégia, para ajudá-los a não serem extintos. Ensiná-los a consumir outros alimentos, fontes de proteínas, nutrientes que os poupem da desnutrição ou até mesmo de morrerem, quando o solo não produzir o que é necessário, é uma forma de preservá-los, e nunca seria um desrespeito à destruição de sua cultura.
 
REFERÊNCIA
LEITE, M.S. Sociodiversidade, alimentação e nutrição indígena. In: BARROS, D. C., SILVA, D. O., and GUGELMIN, S. Â., orgs. Vigilância alimentar e nutricional para a saúde Indígena [online]. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007, pp. 180-210. ISBN: 978-85-7541-587-0. Available from: doi: 10.7476/9788575415870.009. Also available in ePUB from: http://books.scielo.org/id/fyyqb/epub/barros-9788575415870.epub.

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