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by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Direito das Coisas I Prof. Tula Wesendonck Aula 1 (20/01/2022) Direito das Coisas X Direitos Reais Em relação a disciplina, há uma polêmica doutrinária a cerca da nomenclatura dada a ela. Alguns doutrinadores chamam a disciplina de direitos reais e outros de direito das coisas, a prof. Tula prefere a utilização do nome de direito das coisas. Basicamente, a disciplina direito das coisas inclui propriedade, posse e direitos reais sobre coisas alheias, enquanto a disciplina de direito real exclui a posse do seu núcleo. Conceito Arnaldo Rizzardo define a disciplina como “conjunto de normas, leis, regulamentações, estudos, usos e concepções positivadas, em torno dos bens ou coisas materiais que, abrangentemente se apresenta na ciência e nas codificações como o Direito das Coisas… trata da regulação do poder do homem sobre os bens e das formas de disciplinar a sia utilização econômica”. Já Luís Manoel Telles Leitão diz que o Direito das Coisas regula a atribuição de coisas corpóreas com eficácia real, eficácia absoluta perante terceiros. Tem natureza patrimonial. “sempre que surgir a atribuição de coisas corpóreas a determinadas pessoas, essa situação é regulada pelo Direito das Coisas”. Importância e evolução do Direito das Coisas A disciplina de Direito das Coisas acaba trazendo uma série de disputas em controvérsias em razão do objeto direcionado a ela, objeto esse que regula o poder dos homens sobre os bens e os modos de sua utilização econômica. O Direito das Coisas é a parte de Direito Civil que rege a posse, a propriedade e demais direitos reais. Clóvis Beviláqua diz que a posse é anterior à propriedade, e não é um poder menor, como muitos imaginam. Pode haver situações que a pessoa pode alcançar a propriedade por meio da posse e também pode acontecer o contrário. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre No Direito Romano existia um grande apego a propriedade, daquela época surgiu a expressão “ter onde cair morto”, onde a relevância da propriedade era muito além do poder econômico, mas sim na necessidade de culto aos mortos, ou seja, um local para realizar o ritual e sepultamento do corpo, trata-se de um aspecto mais religioso. No direito brasileiro temos uma evolução da posse e da propriedade, mais marcada com a Constituição de 1988 e com o Código Civil de 2003. A ideia inicial de propriedade como propriedade privada sem limitação, foi revisitada pela Constituição de 88 e pelo Código Cívil de 2003 que começaram a falar mais frenquentemente sobre a função social da propriedade e da posse, trazendo uma maior limitação à propriedade. Direitos reais vs direitos processuais Existem duas teorias que fazem a diferenciação entre os direitos reais e os direitos pessoais, são elas: (I) teoria realista; e (II) teoria personalista. Teoria realista DIREITO REAL Poder imediato e direto sem intermediação de outro sujeito. Jus in re. O direito real cria entre a pessoa e a coisa uma relação direta e imediata, encontrando-se dois elementos: a pessoa (SA) e a coisa que é o objeto. “Direito real é um direito de propriedade entre uma pessoa e uma coisa, sem relação necessária com a outra pessoa” – Hugo Grotius DIREITO PESSOAL Opõe-se unicamente ao devedor pessoa que não é o títular do direito. Jus ad rem. O direito pessoal traz uma relação entre a pessoa que está obrigada em relação àquela, em razão de uma coisa ou de um fato qualquer apresentando-se três elementos, o SA, o SP e a coisa ou fato que é objeto. Teoria personalista Alguns doutrinadores consideram essa teoria como uma teoria mais moderna, essa teoria dá um outro critério para a diferenciação do direito real e do direito pessoal, que é a caracterização do sujeito passivo. A relação jurídica para a teoria personalista será composta sempre por três elementos: SA, SP e o objeto. Windscheid, sobre o assunto disse que “relações jurídicas não se estabelecem entre pessoa e coisa”, Kant disse que “nos direitos reais, embora possa parecer existir uma relação entre pessoa e coisa, efetivamente existe uma vinculação dos outros para com o proprietário da coisa. Por isso é um direito oponível erga omnes”. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre DIREITO REAL Aqui tem-se obrigação passiva universal. DIREITO PESSOAL Aqui o sujeito passivo é a pessoa certa e determinada. Na maioria dos manuais de direito civil encontra-se esse mesmo esquema de diferenciação entre direito real e direito pessoal. Pode haver algumas alterações, mas basicamente encontra-se: DIREITO REAL DIREITO PESSOAL O direito recai sobre a coisa (ex.: hipoteca); Direito absoluto, exclusivo, oponível perante todos (erga omnes); Concede gozo e fruição de bens; Perpetuidade; Direito de sequela; Numeros clausus Recai sobre a relação (sujeita o patrimônio do devedor); Direito relativo (prestação só pode ser exigida do devedor); Concede o direito a uma ou mais prestações; Transitoriedade Execução da obrigação Autonomia privada Direitos reais CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS • Perpetuidade → em regra, mas isso não significa que não se pode colocar um termo final nem eternidade. • Taxatividade (numeros clausus) e tipicidade estrita → a doutrina tipifica os tipos de direitos reais que podem ser constituídos. Pode haver combinação de contrato, cláusulas, etc. • Sequela: inerência e ambulatoriedade → viabilidade de perseguir a coisa, onde quer que ela esteja, mesmo que o proprietário antigo já tenha transferido a coisa para outrem (art. 1228 CC). • Preferência: relevância para os direitos reais em garantia → quem executa primeiro é quem tem seu direito constituído anteriormente. • Funcionalidade (art. 1228, §1º CCB) → trata sobre a função social da propriedade. • Caráter absoluto • Oponibilidade a terceiros (eficácia erga omnes) → todos devem respeitar a propriedade de outrem. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS A classificação dos direitos reais são duas: (I) jus in re propria; e (II) jus in aliena. • Jus in re propria ◦ Propriedade. • Jus in aliena ◦ Direitos reais de gozo e fruição ◦ Direitos reais em garantia ◦ Direito real de aquisição OBRIGAÇÕES MISTAS NOS DIREITOS REAIS Obrigações que nascem com a constituição dos direitos reais, atribuindo-se o cumprimento a seus titulares. Ex.: despesas de construção e observação dos tapumes divisórios. OBJETO DO DIREITO DAS COISAS A doutrina sempre chama atenção para a existência de elasticidade, o que é hoje objeto do direito das coisas pode passar a não ser mais, assim como o contrário também pode acontecer. • Bens móveis ou imóveis, desde que corpóreos. Excepcionalmente podem ser considerados como objeto os bens incorpóreos de penhor e usufruto sobre créditos. ◦ Lei da Liberdade Econômica (13.874/2019), que incluiu os arts. 1.368-C e 1.368-F ao CC dando novo tratamento aos Fundos de Investimento que passam a ser objeto do Direito das Coisas. Há uma discussão doutrinária pois são bens incorpóreos. • No CC de 2002 não há previsão para a propriedade literária, cultural e artística. A matéria dos direitos patrimoniais e morias do autor está prevista na Lei nº 9.610/1998. • Direitos autoriais não admitem tutela possessória (Súm. 228 STJ) • DIREITO DOS ANIMAIS (?): há uma discussão se os animais poderiam ser, ou não, objeto do direito das coisas. ◦ Direito Alemão (1990) → primeira legislação a considerar que os animais não são coisas e limitar os poderes do proprietário; by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre ◦ Direito Português (2017) → passou a considerar os animais como tertium genus, entre pessoas e coisas mas aplica-se, de forma subsidiária, o Direito das Coisas; ◦ Direito Brasileiro → Projeto de Lei 27/2018, aprovado pelo senado em 07/08/2019, considerou os animais como sujeito de direitos, com direitose proteção legal em casos de violação. 🔗 Animal não é "coisa", estabelece PL aprovado pelo Senado FORMA DE CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS REAIS No ordenamento brasileiro faz-se a distinção entre bens móveis e imóveis, onde se tem a regra, que não quer dizer que é a única maneira. • Bens móveis → tradição, ou seja, entrega da coisa (art. 1.226 CC) • Bens imóveis → registro de imóveis (art. 1.227 CC). O art. 108 trata que, não dizendo a lei em contrário, a escritura pública de bem imóvel com valor superior a 30 salários mínimos. • Características dos direitos pessoais • Transitoriedade → • Autonomia prova (numeros apertus) → possibilidade de se criar modelos de direitos para serem constituídos. Aula 2 (27/01/2022) Posse Pontes de Miranda conceitua a posse como “relação fática entre pessoa que possui e o alter, a comunidade (…) Posse é estado de fato, situação real, o poder fático sobre a coisa”. Caio Mário conceitua a posse como “situação de fato em que uma pessoa, independentemente de ser ou não proprietária, exerce sobre uma coisa poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. Rizzardo conceitua a posse como “exercer, praticar ou usufruir de fato, ou efetivamente de algum dos poderes inerentes ao domínio ou à propriedade. A posse é o exercício de fato de um dos poderes inerentes ao domínio ou à propriedade”. https://www.migalhas.com.br/quentes/308293/animal-nao-e-coisa-estabelece-pl-aprovado-pelo-senado by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre As noções que aparecem na conceituação de Caio Mario e de Rizzardo conseguem ser visualizadas no Código Civil, arts. 1196 e 1228. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. POSSE ≠ PROPRIEDADE Poderes inerentes à propriedade (art. 1128 CC) Os poderes inerentes à propriedade são aqueles elencados no art. 1128 do Código Civil, quais sejam usar, gozar, dispor e reaver a coisa. • Usar → a doutrina conceitua que “usar” é retirar as utilidades próprias do bem, diferente de frutificar; • Gozar → é fazer com que a coisa renda frutos; • Dispor → o poder de disposição é definir o que vai ser feito com o bem, ex.: será vendido ou locado? • Reaver a coisa → também chamado de direito de sequela, é o poder de perseguir a coisa onde quer que ela esteja. A condição de possuidor é caracterizada com o exercício de, pelo menos, um desses poderes inerentes à propriedade. Importante ressaltar que no nosso ordenamento jurídico existe a autonomia entre o instituto da posse o instituto da propriedade, que significa que pode ser proprietário e não ser possuidor e vice- versa. Jus possessionis X jus possiendi • Jus possessionis → é a posse formal, independente de qualquer título, ou seja, a partir do momento em que o cidadão exerce a posse ele será considerado como um possuidor; • Jus possiendi → também chamada de posse casual, é o direito à posse. Ex.: contrato de compra e venda. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Teorias da posse Existem duas teorias da posse, a teoria subjetiva, de Svigny e a teoria objetiva de Ihering, que é a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. TEORIA SUBJETIVA – SAVIGNY, 1803 A teoria de Savigny foi montada pelos a partir dos elementos encontrados no Direito Romano (posse como toda a relação material intencional da pessoa com a coisa). Posse = corpus + animus domini (corpus, affectio tenendi, animus domini). Ou seja, para ser caracterizado a posse era necessário a coisa, exercer o poder sobre a coisa e ter vontade de ser proprietário. Quando há um poder físico sobre à coisa trata-se de detenção. O problema dessa teoria era que o aninus domini é um elemento de difícil constatação, além disso, há, nessa teoria, a necessidade do contato físico com a coisa, mas nem sempre o proprietário está com a coisa, às vezes ele pode alugar, emprestar, etc. Com a crítica à necessidade de contato físico, ocorreu um avanço da teoria, onde Savigny disse que em algumas hipóteses poderia ocorrer exercício da posse sem contato físico com a coisa em casos de posse derivada. TEORIA OBJETIVA – RUDOLF VON IHERING, 1880 Ihering era aluno de Savigny, ele estudou a teoria do professor, analisou às críticas a esta teoria e elaborou a teoria objetiva. Essa teoria é representada pelo único elemento, que é o elemento corpus. Mas diferente da teoria subjetiva, aqui corpus se caracteriza por exercer um poder sobre a coisa, independentemente de vontade. A teoria adotada pelo direito brasileiro foi a teoria objetiva, do início ao fim do ordenamento jurídico. Alguns doutrinadores informam que, na modalidade de usucapião existe a teoria subjetiva, mas não é verdade, como explica a Prof. Tula, quando o Cód. Civil fala do usucapião o legislador sempre se refere como “aquele que possuir como seu” que não significa vontade de ser proprietário. Essa teoria permite o desdobramento da posse, onde uma pessoa é o possuidor direto e o outro é o possuidor indireto, ex.: locação, onde o locador é o possuidor indireto e o locatário é o possuidor direto (aquele que tem o contato mais próximo com a coisa). Ou seja, não exige contato físico com a coisa para ser possuidor da coisa, daí permite-se o desdobramento da posse. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Natureza jurídica da posse Embora o ordenamento jurídico tenha adotado a teoria objetiva, quando se trata da natureza jurídica da posse, fica-se com a definição de Savigny que disse que a “posse é um fato que produz direito”. A posse é um estado de fato, não um direito. Pontes de Miranda, dizia que a posse é um fato jurídico e no caso da saisine1 não depende da ação humana, nas outras hipóteses é um ato-fato jurídico2. Objeto da posse Rizzardo diz que qualquer coisa corpórea é objeto da posse, deve ser comerciável ou ter algum valor econômico e que apresente alguma utilidade. Importante destacar a súmula 228 do STJ, que diz que “é inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.” Detenção O detentor é aquele que exerce poder sobre a coisa mas sob interesse alheio, e está prevista no art. 1198 do CC. Alguns autores conceituam a detenção como posse degradada, ou seja, o detentor é um servidor ou fâmulo da posse. Aula 3 (03/02/2022) Classificação da posse O código civil trata sobre a classificação da posse nos arts. 1.200 a 1.203. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. 1 Saisine → transferência da posse/propriedade pela abertura da sucessão com a morte de alguém. 2 Ato-fato jurídico → depende da ação humana, mas não depende de vontade. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Posse justa ou injusta A posse justa está elencada no art. 1.200 do CC, que diz que a posse justa não pode ser violenta, clandestina ou precária. Enquanto houver o vício da violência não existe posse, quando cessar a violência nasce a posse, mas trata-se de uma posse injusta (art. 1.208 do CC). O vícioda clandestinidade é quando o indivíduo possui a coisa “escondido”, a posse sempre exige a publicidade, caso contrário não se tem a caracterização da posse, a partir do momento que cessa a clandestinidade, nasce a posse, entretanto também trata-se de posse injusta. Por fim, o vício da precariedade, esse vício é considerado pela doutrina como o abuso de confiança, ou seja, alguém recebeu um bem por determinado período, mas não restitui o bem no prazo determinado, pode acontecer tanto nos casos de posse como nos de detenção, enquanto perdurar a precaridade estamos diante de situação de posse injusta. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. É importante ressaltar que não se pode falar em violência nem esbulho de bem abandonado, sendo assim não há o que se falar na existência de vício. Outra observação importante é que a posse injusta pode conferir efeitos jurídicos, inclusive para fins de usucapião. Os vícios da posse são vícios relativos, ou seja, só podem ser alegados pelo possuidor agredido em face do agressor. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Conversão da posse Há a possibilidade da conversão da posse injusta em posse justa e para que ocorra é necessário que ocorra uma interferência de uma causa diversa, não depende da mudança de intenção do possuidor mas de inversão do título. A transferência da coisa para terceiro não importa na conversão (art. 1.203 CC). Posse de boa-fé ou má-fé A posse de boa-fé está disposta no art. 1.201 do CC, esse dispositivo trata-se de uma boa-fé subjetiva, ou seja, leva-se em consideração o critério individual. O possuidor, se desconhecer o vício trata-se de uma posse de boa-fé. Entretanto, a partir do momento em que se conhece o vício da coisa, a posse passa a ser uma posse de má-fé. A boa-fé real é aquela que ignora o vício. A boa-fé presumida, disposta no p. único, é quem tem justo título, que é o título hábil em tese, que tem condições jurídicas de transferir a posse e propriedade. POSSE JUSTA ≠ POSSE DE BOA-FÉ Pontes de Miranda diferencia a posse justa da posse de boa-fé da seguinte forma: a posse justa é aquela que se dá pela justa causa, enquanto a posse de boa-fé é aquela que se dá pela crença na justa causa, ainda que não seja. A posse injusta pode ser uma posse de boa-fé (ex.: aquisição a non domino3). Desdobramento da posse O desdobramento da posse se dá em posse direta e em posse indireta, também se encontra na doutrina as posses parelelas, onde existe o exercício da posse por mais de uma pessoa, onde uma exerce a posição de possuidor direto e o outro de posse indireta (ex.: aluguel). Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 3 Aquisição a non domino = comprar coisa de quem não é proprietário. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre O enunciado 492 do CJF diz que “A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela”. Posse-trabalho (função social da posse) Essa classificação veio após a introdução do conceito de função social, tendo mais força no Código Civil de 2002, dando um tratamento mais benéfico para aquele que cumpre com a função social da posse. Há previsão dessa classificação de posse nos arts. 1228, §§ 4º e 5º (desapropriação por ato do poder judiciário), 1238 (usucapião com prazo menor), art. 1239, p. único (usucapião constitucional rural), art. 1242 (usucapião com prazo menor) e art. 1255, p. único (nova regra de aquisição de propriedade por acessões) do CC. Posse nova e posse velha Anteriormente, era posse nova aquela com menos de X dias e posse velha aquela com mais de X dias. No Código Civil atual não se fala mais em posse nova e posse velha. Posse ad interdicta ou ad usucapionem A posse ad interdicta é aquela que posse que se dá para o possuidor, direto ou indireto, justo ou injusto, de boa-fé ou de má-fé. Enunciado 493: O detentor (art. 1.198) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder. A posse ad usucapionem refere-se aquele que possui a coisa como sua, ou seja, exerce um poder sobre a coisa sem reconhecer ou se submeter ao domínio ou propriedade alheia. Aula 4 (10/02/2022) Aquisição da posse A posse é um ato-fato jurídico, ou seja, não precisa cumprir com os requisitos de validade do negócio jurídico. Não se aplica a posse o art. 104 do CC, pois a posse não é um negócio jurídico. O Código Civil não fala sobre as formas de aquisição da posse, limita-se a tratar do assunto no art. 1204 que diz que “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”. A posse se dá com a exteriorização da propriedade. Pode-se dividir a aquisição da posse em posse originária e posse derivada. Na posse originária o indivíduo recebe o bem como o primeiro possuidor, as formas de aquisição da posse originária nas situações de res nullius (quando não é de by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre ninguém) ou res derelictae (quando a coisa é abandonada). Na posse derivada ocorre uma transmissão da posse e adquire a posse com as mesmas condições da anterior, a aquisição da posse derivada ocorre a intermediação pessoal, com a tradição. Tradição A tradição subdivide-se em real, simbólica e ficta. A tradição real ocorre com a entrega efetiva da coisa. A tradição simbólica ocorre quando se tem um ato representativo (longa manu), por exemplo: entrega das chaves de um apartamento. A tradição ficta é a presunção, ex.: compra e venda de imóvel na qual vendedor passa a ser locatário. Legitimidade para adquirir a posse Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Pontes de Miranda informa que a posse pela própria pessoa não depende de requisitos de validade, basta a condição humana (não exige qualificação subjetiva). Dentro do nosso ordenamento jurídico admite-se a aquisição daposse pelos entes despersonalizados e não somente a pessoas físicas e jurídicas. O enunciado 236 fala que considera-se possuidor também a coletividade desprovida de personalidade jurídica e o enunciado 596 fala que o condomínio edilício pode adquirir imóvel por usucapião. Transmissão da posse A transmissão da posse está prevista nos artigos 1203, 1206 e 1207 do Código Civil. Em regra, com a transmissão da posse mantém-se o mesmo caráter com que foi adquirida (art. 1206 CC). Os arts. 1206 e 1207 referem-se a continuidade da posse. As regras de continuidade da posse para sucessor universal (herança legítima), aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. As regras para união da posse (acessão) faz-se necessário a diferenciação do sucessor universal e do sucessor singular (compra e venda, doação e legado). Orlando Gomes questiona as regras apresentadas pela legislação, ele diz que “o que distingue a sucessão da união é o modo de transmissão da posse, sendo a título universal, há sucessão; sendo a título singular, há união. Não importa que a sucessão seja inter vivos ou mortis causa. Na sucessão mortis causa a título singular, a acessão se objetiva pela forma da união. A sucessão de posses é by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre imperativa; a união facultativa; enquanto na singular é facultado unir sua posse à precedente. Sendo, nesta última hipótese uma faculdade, o possuidor atual só usará se lhe convier, limitando-se à sua posse quando do seu interesse”. Perda da posse A perda da posse está prevista no art. 1223 e 1224 do Código Civil que diz que a perda da posse se dá quando cessa o poder sobre o bom, mesmo que contra a vontade do possuidor, sendo que só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém a retornar a coisa, ou tentando recuperá-la é violentamente repelido. Ou seja, a perda da posse quando não se tem mais condições de exercer o poder sobre a coisa em interesse próprio. Hipóteses de perda As hipóteses de perda da posse são: abandono da coisa, tradição, perda ou destruição da coisa possuída, perda da própria coisa, coisa fora do comércio, posse de outrem (esbulho de outrem) e constituto possessório. Efeitos da posse (art. 1210 a 1222) Os efeitos da posse são as consequências jurídicas por ela produzidas, ou seja, todas as consequências que a lei atribuir. Alguns autores entendem que existe apenas um efeito, que é a possibilidade de invocar interditos, mas para outros os efeitos são variados, sendo eles: em relação a defesa da posse pelas ações possessórias, em relação aos frutos, em relação a perda ou deteriorização da coisa possuída, em relação as benfeitorias e direito de retenção, em relação a usucapião, em relação ao ônus da prova compete ao adversário do possuidor e em relação ao uso e gozo enquanto durar. Efeitos em relação as ações possessórias O meio de defesa da posse são as ações possessórias (manutenção e reintegração da posse), interditos possessórios e autodefesa. “O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado” (art. 1.210, CC). O possuidor tem como defender a sua posse, através da legítima defesa, mas “contanto que faça logo”, conforme o art. 121o, §1º do CC. Este dispositivo prevê o chamado desforço imediato, que consiste no imediato emprego moderado de meios necessários a manutenção ou a retomada da posse turbada ou esbulhada de outrem, cuidando dos excessos. A legítima defesa da pose é contra a turbação e o desforço imediato é contra o esbulho. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Efeitos em relação aos frutos O art. 1214 do CC dispõe que “o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos”. O conceito de boa-fé é a alma das relações sociais, devendo observar se o possuidor estiver com boa-fé estará equiparado como dono. O Parágrafo único dispõe que “os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação”. A lei mantém em relação ao possuidor uma proteção, já em relação ao de má-fé, deve reestabelecer o equilíbrio violado por aquela posse ilegítima, devendo devolver não só os frutos colhidos e percebidos, como responde, igualmente pelos frutos por sua culpa deixou de perceber. Concede a lei o direito de ter reembolso das despesas de produção e custeio (art. 1216, CC). Assim, de forma resumida pode-se afirmar que o possuidor de boa fé tem direito aos frutos percebidos, às despesas da produção e custeio dos frutos pendentes e dos colhidos antecipadamente, que deverão ser restituídos. Os possuidores de má-fé tem direito aos frutos e responde por todos os prejuízos que causou pelos frutos colhidos e percebidos e pelos que por culpa sua deixou de perceber. Efeitos em relação a perda ou deteriorização da coisa possuída O art. 1217 diz que o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deteriorização da coisa, a que não der causa, enquanto o art. 1218 diz que o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deteriorização da coisa mesmo que não tenha dado causa. Efeitos em relação as benfeitorias Os arts. 1219 a 1222 do CC tratam dos efeitos em relação a benfeitoria, em resumo referem-se que o possuidor de boa-fé tem direito a ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis, de levantar as voluptuárias e de retenção, pelo valor das benfeitorias úteis e necessárias. Já o possuidor de má-fé tem direito a ser indenizado pelas benfeitorias necessárias. Esses efeitos não se aplicam ao inquilinato, se o proprietário não autorizar a benfeitoria útil, não será indenizado. BENFEITORIAS (ART. 96, CC) BENFEITORIAS VOLUPTUÁRIAS → são voluptuárias as benfeitorias de mero deleite ou recreio BENFEITORIAS ÚTEIS → aumentam ou facilitam o uso do bem BENFEITORIAS NECESSÁRIAS → que tem finalidade de conservar o bem ou evitar que ele se deteriore by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Efeitos em relação ao usucapião Para caracterizar usucapião é necessário ter a posse com animus domini. Ações possessórias As ações possessórias, também chamadas de interditos possessórios, são as que tem por objetivo a defesa da posse, com fundamento na posse, em face da prática de três diferentes graus de gravidade de ofensa a ela cometida: esbulho, turbação ou ameaça. As ações possessórias têm natureza dúplice (art. 556 CC). Para tutelar a proteção da posse, as ações possessórias exigem a prova da posse devido a diferenciação entre posse e propriedade. A legitimidade ativa da ação possessória está prevista no art. 1196 do CC que diz que tem legitimidade todo aquele que exerce posse sobre o bem, devendo essa existir antes da ofensa e possuidores diretos e indiretos, compossuidores. A legitimidade passiva se dá por todos que participaram da ofensa, a não identificação dos réus invasores não prejudica o ajuizamento da ação, nesse caso identifica-se o bem e os invasores com dados disponíveis (arts. 554 e 565 do CPC). Modalidades de turbação A turbação pode ser positiva, negativa, direta ou indireta. Os atos de turbação positivos são aqueles que envolvem uma ação molestadora da posse (ex.: corte de árvores, derrubada de cercas, implantação de estacas, etc), já os atos de turbação negativos são os que impedem ou dificultam o caminho possuidor de praticar certos atos (ex.: colocar obstáculos no caminho utilizado pelo possuidor). A turbação direta é praticada na própria coisa, enquanto a turbação indireta é desenvolvida externamente à coisa, mas trazendo efeitos prejudiciais no exercício da posse. Espécies de interditos possessórios São três as espécies de interditos possessórios: a manutenção de posse (no casode turbação), a reintegração (no caso de esbulho ou perda da posse) e interdito proibitório (no caso de ameaça, sem perda ou limitação parcial do direito). Ação de manutenção da posse Está previsto no art. 1210 do CC e no art. 560 do CPC, não ocorre com a turbação, a perda da posse, há somente um prejuízo no exercício dos direitos possessórios, um embaraço no desenvolver da posse, o possuidor sofre perturbação na posse em consequência de atos de alguém. A turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Além da manutenção da posse o autor pode buscar indenização e cominação de pena para o caso de reincidência e também o pedido de desfazimento de construção ou plantação. Ação de reintegração de posse Está previsto no art. 1210 do CC e no 560 do CPC. Ocorre através de esbulho, ou seja, a perda da posse. Pratica esbulho aquele que prova outrem da posse, de modo violento, clandestino ou com abuso de confiança. A reintegração se dá para o reestabelecimento da posse de um bem que foi injustamente afastado ou retirado. Além da proteção possessória o possuidor tem direito a ser indenizado pelos prejuízos que sofreu com o esbulho, cominação de pena para o caso de reincidência e também o pedido de desfazimento de construção ou plantação. Se a coisa esbulhada não existir mais cabe ao possuidor esbulhado a indenização equivalente. Ação de interdito proibitório Está prevista no art. 1210 do CC e no art. 567 do CPC, tem caráter preventivo. É uma situação de ameaça de violência ou perturbação à posse. Há um estado de fato de iminência de turbação ou de esbulho, antecipando-se o titular da posse ao momento desencadeador de tais atos. O temor deve ser justificado, no sentido de estar embasado em fatos exteriores, em dados objetivos. Importa a seriedade da ameaça, sua credibilidade, sua aptidão, para infundir no espirito normal o estado de receio. A proibição de atos atentatórios à posse vem acompanhada de cominação de pena, em caso de transgressão à ordem. Caso no curso da ação vier a se verificar o esbulho ou a turbação, não é necessário que o autor ajuíze ação de reintegração ou de manutenção, pois aí há o desrespeito a uma ordem judicial, sanável mediante a determinação de restituir a posse, ou cessar a turbação, que se cumprirá por meio de mandado de reintegração ou manutenção, além de incidira multa arbitrada. Novidades do CPC de 2015 De maneira geral, o CPC de 2015 retornou ou detalhou o que o tratamento do CPC/73 em matéria de ações possessórias. Não trouxe, muitas mudanças, mas há duas novidades (arts. 554, §1º e 556 do CPC) que merecem destaques: (I) a regulamentação de processos com partes coletivas; (II) a possibilidade de mediação do conflito. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Ações petitórias e outras ações As ações petitórias não se confundem com as ações possessórias. Nas ações petitórias o autor quer a posse do bem, e ele assim deseja pelo fato de ser proprietário. São dois os tipos de ação petitória: reinvidicatória e imissão na posse. Além das ações petitórias, tem-se também outras ações com o objetivo de proteger a posse e a propriedade, não são ações com fundamento na condição de possuidor, são elas: (I) ação de nunciação de obra nova (utilizada como meio de penalidade ou coerção em face do dono da obra nova); (II) ação de dano infecto (dano ainda não ocorreu, mas abre-se ação para cessar obra que está sendo feita); e (III) ação demolitória. Aula 5 (17/02/2022) Propriedade No Código Civil de 1916 tinha-se uma noção conceitual do direito de propriedade vinculado ao Direito Romano, onde a propriedade era vista como um conjunto de direitos. Na Constituição Federal de 1988 temos no art. 5º, XXII o direito de propriedade aparecendo como um direito fundamental e logo no inciso XXIII tem- se a limitação desse direito, que fala sobre a função social. Já no Código Civil de 2002, no art. 1228 está muito presente o princípio da socialidade, ou seja, o interesse social se sobrepõe sobre o interesse individual e é necessário estabelecer limitações ao direito de propriedade e quem não cumprir com a função social pode sim perder a propriedade. Ideia de que propriedade rima com responsabilidade. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. O proprietário tem o direito de ajuizar ação reivindicatória, onde o proprietário busca a proteção em relação à propriedade contra o terceiro que a possui injustamente. A legislação não diz um prazo para ajuizar essa ação, mas é necessário se atentar a alguns detalhes, como por exemplo a defesa usar a ação de usucapião, a desapropriação por ato do Poder Judiciário e o parecimento do domínio (ex.: caso da favela Pullman). Limitações no direito de propriedade Função social da propriedade Previsto no art. 1228, § 1º do CC, é uma norma aberta e possui alguns critérios para que se declare esse direito. Essa orientação da função social da propriedade é tributada ao doutrinador francês Leon Duguit que dizia que os “direitos só se justificam pela missão social – proprietário deve ser considerado como um funcionário quanto à gestão de seus bens”. Ele diz que a propriedade tende a se tornar a função social do detentor de uma riqueza imobiliária e mobiliária, e dá ao detentor dessa riqueza a obrigação de empregá-la para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social. O direito da propriedade não é um direito intangível e sagrado, mas um direito em contínua mudança que se deve modelar sobre as necessidades sócias às quais devem responder. Perlingeri diz que a propriedade tem uma função social, que “permanece como uma situação subjetiva no interesse do titular, e que só ocasionalmente é investido na função social”, Orlando Gomes, no entanto diz que a propriedade é uma função social quando exercida para certos fins. Bens imóveis urbanos Na constituição federal tem-se a determinação da função social de bens imóveis urbanos e imóveis rurais. o art. 182 da CF refere-se a função social dos imóveis urbanos que diz que para que se cumpra com as funções sociais é necessário cumprir o plano diretor, se não atende essas exigências pode-se perder a propriedade. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Bens imóveis rurais O art. 186da CF refere-se a função social dos imóveis rurais, que é cumprida quando atende simultaneamente aos requisitos elencados, são eles: aproveitamento racional e adequado, utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. O art. 185 faz referência a insuscetibilidade de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário não possua outra e a propriedade produtiva. Abuso do Direito de propriedade Previsto no art. 1228 §2º do CC. Beviláqua diz que ocorre abuso de direito quando “o titular de um determinado direito subjetivo o exerce sem respeitar os interesses dos demais indivíduos e da sociedade”, portanto, o direito é exercido com abuso quando desrespeita sua função social. Percebe-se que o titular do direito de propriedade em princípio, tem o direito e pode livremente exercê-lo, mas esse exercício deve observar toda a coletividade como igual detentora de direitos, ou será abusivo. Em resumo, a teoria do abuso de direito impõe limites éticos ao exercício de direitos subjetivos e o abuso do direito reflete uma responsabilidade objetiva, ou seja, que não admite discussão de culpa para existir o dever de indenizar. Desapropriação por ato do Poder Executivo Previsto no art. 1228 §3º do CC e diz que há a possibilidade do proprietário ser privado da coisa nos casos de despropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição em casa de perigo público iminente. Essa desapropriação se dá por meio de decreto do meio estatal e será indenizada. Desapropriação por ato do Poder Judiciário Previsto no art. 1228 §4º do CC. Diferente do que acontece com a desapropriação por ato do Poder Executivo, a desapropriação por ato do Poder Judiciário não passa pelo poder executivo, a desapropriação se dá por uma peça processual. Extensão da propriedade O art. 1229 do CC trata da extensão da propriedade, que diz que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo em altura e profundidade úteis ao seu exercício. Em resumo, o espaço aéreo e o subsolo são extensões da propriedade, podendo ser utilizados considerando as limitações e podendo ser esse espaço utilizado por outrem, se o proprietário do imóvel não estiver utilizando, ex.: encanamentos que passem por baixo do meu imóvel. by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Descoberta Arts. 1233 a 1237 do CC, que falam sobre a descoberta, ou a “invenção de coisas perdidas”, é uma regra geral da propriedade e não é mais um modo de aquisição da propriedade, como era anteriormente. Um objeto perdido não pode simplesmente ser apropriado por outrem, uma vez achado o objeto, o mesmo deverá ser restituído ao proprietário, somente em situações muito excepcionais haverá a aquisição da propriedade. !! Res perdita ≠ res derelicta! Ou seja, coisa perdida não se confunde com coisa abandonada. Formas de aquisição da propriedade Existem aquisições originárias e derivadas. Quando se trata de aquisição originária, adquire-se o bem como se primeiro proprietário fosse, logo todas limitações que existiam anterior a aquisição decaem. Já na aquisição derivada, adquire-se a propriedade como está, com todos os onus e características que acompanhavam a propriedade do antecessor. As formas de aquisição de propriedade móvel seguem a mesma regra, mas mudam as modalidades. Nos bens móveis tem-se como forma de aquisição originária da propriedade: ocupação, achado de tesouro, usucapião, especificação, confusão, comistão e adjunção. Já como forma de aquisição derivada possui tradição e sucessão. Aquisição da propriedade imóvel Existem três sistemas de aquisição da propriedade: sistema francês, sistema romano e sistema germânico. Nosso ordenamento jurídico adota o sistema romano que diz que para a aquisição da propriedade é necessário cumprir a formalidade (registro imobiliário), nesse sistema há uma vinculação entre o título e o modo. Há presunção juris tantum, ou seja, admite prova em contrário. Uma invalidade quanto ao título, invalida o modo. O art. 1247 diz que, se houver irregularidade no título o registro poderá ser cancelado, podendo o proprietário reivindicar o imóvel, independente de boa-fé ou do título do terceiro adquirente. Há algumas ressalvas quanto ao art. 1247, §1º do CC. A Súmula 375 do STJ diz que o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. A Lei 13.097/2015, concentrou ou dados nas matrículas imobiliárias, ficando o terceiro de boa-fé imunizado da privação de seu direito. A Lei 13.465/2017 criou o Código Nacional de Matriculas (art. 235 da Lei de Registros Públicos). by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Retificação do registro imobiliário Os arts. 212 e 216 da LRP trata do que pode ser objeto de retificação, podendo o objeto de jurisdição ser voluntário (se não houver conflito) ou contensiosa. Essa retificação pode ser extrajudicial quando ela não traz potencialidade de dano a terceiros (art. 212 e 213 da LRP) e pode ser também uma retificação judicial, que pode ser voluntária ou contenciosa, como já visto. Etapas dos registros e averbações • Protocolização – Lei 6015/73, art. 182 e 186 • Prenotação • Registro Princípios do registro imobiliário • Prioridade – quem leva primeiro tem prioridade no registro; • Especialidade – descrição individualizada; • Publicidade; • Continuidade Processo do registro O interessado pode apresentar o título, para exame e cálculo dos emolumentos, independentemente de protocolo (prenotação). Se o título é apresentado para registro, o Oficial do RI irá fazer a verificação formal e legal do documento e caso entenda que o título não é passível de registro a LRP determina que deve manifestar por escrito a dúvida e dirigir ao Juiz competente. Quando o oficial entende que não é possível o registro e a parte entende que deveria ocorrer o registro, o oficial faz o encaminhamento para que o juiz competente decida sobre a legitimidade à exigência feita, como condição de registro, esse processo se chama “dúvida registral” e é cabível para hipóteses de registro. No caso de dúvida da averbação cabe pedido de providencias. Para que seja submetido essa dúvida registral é necessário que ela seja legítima, razoável (o oficial deve buscar soluções para viabilizar o registro), clara (linguagem acessível), exaustiva (apresentando exigência a todas as deficiências de uma só vez) e passiva (oficial não deve notificar o interessado, este deve comparecer ao Cartório). by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre Dúvida inversa (às inversas) Essa situação não está prevista na LRP, pois é dever do Oficial do RI que suscite essas dúvidas, mas no caso de ele não o fizer (como corriqueiramente não o faz) a dúvida será levantada pela parte para suprimir a inércia do oficial. Próxima aula: usucapião Direito das Coisas X Direitos Reais Teoria realista Teoria personalista Direitos reais Características dos direitos pessoais Posse Poderes inerentes à propriedade (art. 1128 CC) Jus possessionis X jus possiendi Teorias da posse Natureza jurídica da posse Objeto da posse Detenção Posse justa ou injusta Conversão da posse Posse de boa-fé ou má-fé Desdobramento da posse Posse-trabalho (função social da posse) Posse nova e posse velha Posse ad interdicta ou ad usucapionem Tradição Legitimidade para adquirir a posse Transmissão da posse Hipóteses de perda Efeitos em relação as ações possessórias Efeitos em relação aos frutos Efeitos em relação a perda ou deteriorização da coisa possuída Efeitos em relação as benfeitorias Efeitos em relação aousucapião Modalidades de turbação Espécies de interditos possessórios Ação de manutenção da posse Ação de reintegração de posse Ação de interdito proibitório Novidades do CPC de 2015 Propriedade Função social da propriedade Bens imóveis urbanos Bens imóveis rurais Abuso do Direito de propriedade Desapropriação por ato do Poder Executivo Desapropriação por ato do Poder Judiciário Extensão da propriedade Descoberta Aquisição da propriedade imóvel Retificação do registro imobiliário Etapas dos registros e averbações Princípios do registro imobiliário Processo do registro Dúvida inversa (às inversas)
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