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1 TrabalhoArtigo - Análise da Obra Vestido de Menina - Daiana Holz

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Ministério da Educação
Universidade Federal do Paraná
Programa de Pós-Graduação em Educação
Doutorando(a): Daiana Maria Holz de Souza
Disciplina: Tópicos Especiais em Licores – Letramento Literário
Professor(a) Dr(a): Elisa Dalla Bonna e Rafael Ginane
A EDUCAÇÃO DO OLHAR ATRAVÉS DO LIVRO ILUSTRADO: ANÁLISE DA OBRA VESTIDO DE MENINA, DE TATIANA FILINTO.
	Ler, interpretar, descrever, ver, observar uma imagem. A competência do olhar enquanto leitor se relaciona com as dimensões do sujeito que interpreta a si e ao mundo, num olhar sensível, capaz de aprender, apreender e então, devolver. Ler uma imagem é compreende-la numa constituição do olhar nas interações do sujeito com o mundo e da educação do olhar. Assim, o ser humano é leitor e/ou produtor de comunicação e coloca seus sentidos em busca de significação para a compreensão de imagens, gráficos, cheiros, sinais, gestos, etc. 
Apesar da grande quantidade de estímulos visuais que nos cercam e da avançada tecnologia na produção de imagens perceptíveis na contemporaneidade, as dificuldades de leitura e de narrativa das imagens demonstram a necessidade da educação do olhar acerca da leitura como processo de compreensão e como decodificação mecânica. Maria Helena Martins (1994, p.30) considera que a leitura “é um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de quê linguagem”. Assim sendo, ler é atribuir significado, seja a uma imagem, a um texto ou a ambos, como no caso da leitura de um livro ilustrado. Desta forma, o olhar diferenciado apresenta-se como uma importante modalidade de percepção que o ser humano dispõe para aprender e conhecer o mundo. É um recurso cognitivo e inclui representações internas (imagens mentais) e representações externas (imagens reais). Tecendo uma abordagem sobre a leitura de imagens, o presente texto propõe os significados e possibilidades de leitura do livro ilustrado, explorando os elementos de produção de sentidos e significados, a partir da obra Vestido de Menina, de Tatiana Filinto, com ilustrações de Anna Cunha. 
Sobre a educação do olhar e a leitura de imagens
Mais do que apenas livros infantis, os livros ilustrados ampliam a capacidade de leitura de imagens e de mundo. Segundo Paulo Freire ( 1982, p.8) “aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender e ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade”. Para a leitura de imagens, se faz necessário compreender que nosso olhar se relaciona com nossa história, experiências, época, lugar e referenciais, num lançar de múltiplos olhares sobre um mesmo objeto. As imagens da literatura infantil geralmente proporcionam encantamento e fascínio, onde cada página gera uma descoberta visual de surpresa a cada olhar. 
Segundo Maria Alice Faria (2012) e baseando-se na teoria de Maria Helena Martins, a autora destaca três níveis de leitura: o sensorial, ligado a aspectos externos à leitura (tato, ilustrações, planejamento gráfico etc.); o emocional, relacionado à fantasia e ao imaginário; e o racional, ligado ao plano intelectual. Contendo esses três níveis de leitura, o livro infantil deve, portanto, ser trabalhado de acordo com as competências de leitura da criança, as quais estão ligadas tanto às experiências familiares quanto às escolares e se subdividem em quatro tipos: domínio da língua oral, domínio da capacidade abstrata de associar, conhecimentos objetivos da leitura (consciência do papel pedagógico da leitura) e conhecimentos intuitivos da leitura (consciência dos sentidos diversos da leitura). As funções da imagem no livro ilustrado seriam então a de criar, sugerir, completar o espaço plástico, marcando momentos-chave na narrativa pela duplicação visual. 
Compreende-se que ler, contemporaneamente, é atribuir significado, seja a uma imagem ou a um texto, a partir dessa premissa, segundo Analice Dutra Pillar (2014) “ao ler, estamos entrelaçando informações do objeto, suas características formais, cromáticas, topológicas e informações do leitor, seu conhecimento acerca do objeto, suas inferências, sua imaginação. Assim, a leitura depende do que está a frente e atrás de nossos olhos” (2014, p.8). 
Tanto em textos narrativos quando em narrativas por imagens, existem “brancos” que o leitor deve preencher. Uma determinada articulação entre o explícito e o não explícito onde o leitor preenche estes espaços em sua leitura. Por isso, a articulação entre textos e imagens deve compreender plenamente as informações para que o leitor possa, a partir das ferramentas que possui, construir sua leitura de forma significativa. Para esta autora, ao abordar o conceito de leitura, sugere como as imagens “deveriam ser” na literatura infantil, apresentando algumas características e cita exemplos com imagens, como: vários ambientes em um só plano, várias ações num só plano e as diferentes perspectivas. Apresenta também um aspecto relevante da ilustração, que, no livro infantil, articula-se com o texto de modo a ambos concorrerem para a compreensão da narrativa, já que, ao contrário da leitura do texto, a leitura da ilustração não é linear. É preciso salientar, diz a autora, que a relação entre imagem e texto, nesse caso, pode ser de repetição ou complementaridade, além do que a ilustração apresenta características da história que, se descritas, tornariam o texto demasiadamente pesado e longo. Em suma:
a imagem deve ser clara e econômica também quanto à indicação das ações, que por outro lado não podem se perder em meio às descrições visuais estáticas. Além disso, devemos considerar que a ilustração divide as páginas do livro com o texto escrito, por meio do projeto gráfico, e por isso os espaços destinados à imagem precisam ser muito bem aproveitados, condensando informações, mesmo nos livros em que o texto é pequeno (2012, p. 43).
Assim, a imagem encontra elementos de significação na narrativa. O livro infantil está associado à arte, no que diz respeito à construção da narrativa textual, do texto escrito e também, à ilustração – do texto visual que deve ser descrito, analisado, interpretado, tanto à visão do leitor quanto à luz do contexto e do conteúdo para que foi criada. Essa leitura deverá ultrapassar a descrição dos aspectos formais da obra, de maneira a possibilitar a construção de significados para os leitores. 
Para compreensão dos processos ilustrativos, tornou-se essencial a obra Livro Ilustrado: palavras e imagens de Maria Nikolajeva e Carole Scott para a compreensão dos aspectos que abarcam o livro ilustrado. Através do visual e verbal as autoras exploram as possibilidades e nos apontam que os estudos literários em geral costumam negligenciar o aspecto visual de suas obras, muitas vezes tratando as imagens como algo secundário. Isso ocorre porque poucas análises abarcam a dinâmica do livro ilustrado como texto e imagem, verbal e visual, e de como tais formas podem operar juntas para criar uma forma de leitura que é distinta, justamente pela multiversalidade entre a comunicação visual e iconográfica. A obra destas duas autoras é tão virtuosa por trazer o livro ilustrado como arte completa entre iconografia e linguagem verbal, discutindo e instrumentalizando pesquisadores e profissionais de educação no trabalho com o letramento literário, explicando conceitos usados, exemplificando as proposições feitas e caracterizando os vários níveis de relação entre texto e imagem. 
	Já no início do livro, em seu primeiro capítulo, numa tentativa de desenvolver tipologias, as autoras classificam quatro tipos de livros ilustrados e oito formas de cooperação entre palavras e imagens, o que já traz possibilidades amplas de análise de narrações verbo-visuais. Destaco aqui as categorias “complementar” e “simétricas” 
Se palavras e imagens preencherem suas respectivas lacunas, nada restará para a imaginação do leitor e este permanecerá um tanto passivo. O mesmo é verdade se as lacunas forem idênticas nas palavras e imagens (ou se nãohouver nenhuma lacuna). No primeiro caso, estamos diante da categoria que chamamos “complementar”; no segundo, da “simétrica”. Entretanto, tão logo palavras e imagens forneçam informações alternativas ou de algum modo se contradigam, temos uma diversidade de leituras e interpretações. (NICOLAVEJA e SCOTT, 2011, pp 32-33).
Os ilustradores geralmente são chamados para ler a obra literária e interpretar, elaborando e criando as ilustrações conforme a faixa etária, deixando de lado a preocupação com a interpretação das crianças. Porém, as autoras trazem a perspectiva importante da leitura de imagens. Se em geral ler implica a apropriação de códigos, assim também acontece com a leitura de imagens. Nessa intersecção entre texto e imagem, há uma dupla narração e estas devem estar articuladas. Para isso, me aprofundo nas questões de leitura de imagem a partir da obra literária Vestido de Menina, de Tatiana Filinto com ilustrações de Anna Cunha.
Olhares e leituras para a obra Vestido de Menina
Buscando retratar de forma sensível e poética questões do processo de crescimento em relação a histórias pessoais, pertencimento aos antepassados, juntamente com as vivências e os conflitos gerados pela convivência da personagem com os sujeitos ao seu redor, o livro traz com delicadeza um processo de contação de história na descoberta de si e de estar no mundo. Lidando com diferenças na interação com outras pessoas e o lidar com os próprios sentimentos, assuntos como o crescimento, a puberdade e relações interpessoais em uma literatura voltada para o público Infanto-juvenil aparecem, podendo, inclusive expor debates acerca do status quo, da descoberta da sexualidade, da construção da identidade, num entretecer de texto e ilustração. 
A capa do livro a personagem costurando com uma linha que tece alguns emaranhados que atravessam a página o seu próprio vestido, e este apresenta textura característica do rendado sutil. Num contraste de vermelho do fundo com o vestido em verde água, as cores de contraste possuem significado simbólico que auxiliam na criação da atmosfera da emoção do livro. O projeto estético apresenta diferencial num formato 28x14 que traz ao leitor um manuseio diferente do livro fazendo com que os olhos percorram da esquerda para a direita todas as texturas presentes nas ilustrações, cheias de detalhes semióticos. A qualidade da costura dá ao livro o manuseio adequado e resistente, assim como a seleção da fonte e o espaçamento entrelinhas, mostrando-se acessível ao público que se destina. Os paratextos apresentam estética que corrobora com todo o livro, trazendo a ideia de tessituras, fios e nós que atraveam a página, dando o fio condutor para o leitor que acompanhas as páginas. A estética texturizada das ilustrações se apresentam em tecidos e vestimentas dos personagens como podemos observar no vestido da menina já desde a capa e na Figura 1 da página 3 e de outros personagens (como a família) na Figura 2 da página 4, o que também corrobora com a proposta do título e a estética da obra. 
Figura 1 – pg.3 –
Figura 2 – pg. 4
Nas páginas iniciais, as ilustrações mostram seu fio entrelaçado aos de sua família, presente na ilustração da página 6. O status quo dos personagens pode ser observado na textura dos tecidos usados nas ilustrações como um todo, mas também nas taças seguradas pela família na Figura 3 conforme a página 6. O fio que conduz a história também se faz presente nas ilustrações, desde a página 2, onde o urdimento se dá com o texto entre tecidos, fios, nós e emaranhados que se entrelaçam, mostrando ações que são tomadas no mundo a partir das relações estabelecidas e da consciência individual da personagem em estar no mundo. Durante todo o texto se encontram presentes estas palavra - tecido, fio, nós - como nas páginas 6 e 7, 12 e 13 demonstradas nas Figuras 3 e 4. 
Figura 3 – pg. 6
Figura 4 – pg. 7
No trecho da página 3 “o tecido do vestido da menina era composto por fios diferentes que ela recolhia das conversas que os adultos e irmão teciam durante as refeições” apresenta a metáfora do vestido e, juntamente com a ilustração, desempenha importante papel, observada também no fio que a menina segura entre suas mãos e que atravessa a página. Na Figura 5 da página 14 o emaranhado de fios se entrelaça com os amigos bem próximos enquanto o texto da página 15 , conforme a figura 6, nos relata que o fio “era tão apertadinho que ficava difícil identificar qual fio era de quem” nos fazendo refletir sobre a amizade na vida em plena vivência, sobre a formação do sujeito enquanto existência. 
Figura 5. P.14
Figura 6 – pg. 15
A página 21 nos mostra a menina com muitos fios que tecem uma máquina de escrever, onde ela, repleta de histórias, podia conta-las e os fios deixavam o vestido comprido e repleto de fios. Neste ponto, a escrita parece ser muito autobiográfica, refletindo os sentimentos da autora em seus processos criativos. Ao final é possível observar o paratexto em que se destacam os dados biográficos da autora e da ilustradora ao fim do livro na página 27.
Figura 7 – pg. 21
No que se refere as questões de texto referente as imagens, ao ler o título, a primeira impressão é de que será um livro muito ligado ao gênero, mas a medida em que as páginas são percorridas, entende-se que este vestido se refere aos papéis sociais que desempenhamos na vida e que podem se modificar a medida em que vamos vivendo. Porém, não se pode deixar de lado a anunciação de questões de gênero ao tratar sobre crescimento de uma menina que usa um vestido, dentro da tradição heteronormativa. O texto é escrito em terceira pessoa, mas no decorrer das páginas e a partir da ilustração da página 21, se mostra bastante autobiográfico ao se ter uma menina que aprende a contar histórias e que senta em frente a uma máquina de escrever. Isso se percebe com maior destaque nas páginas 18 ao ilustrar os pés pisando na poça de água de vestido e página 22 que mostra a personagem ajudando a cozinhar, por a mesa e servir as pessoas. 
Figura 8 – pg. 18
Figura 9 – pg. 22
Outra leitura aprofundada que pode ser feita se refere a tomada de consciência de mundo deste sujeito (a personagem do livro) que passa a se desenvolver primeiramente em contato com outros fios, como no trecho da página 3 “...composto por fios diferentes que ela recolhia das conversas que ao adultos e os irmãos mais velhos teciam...”. Já a partir da página 16 e 17 a menina começa a passear por acontecimento de forma mais individual onde “o vestido começou a circular por outras paisagens” até chegar a página 22 onde a ilustração mostra a menina cozinhando, pondo temperos na panela com suas próprias letras e o texto reitera “...não só participava do brinde como ajudava a por a mesa, servia as pessoas e cozinhava junto...”. 
Figura 10 – pg. 16 e 17
Nesta interpretação, em contatos com outros sujeitos encontra a consciência de como ela se vê no mundo, como ela se apresenta, como os outros a vêem, conforme a página 23 onde “os fios esbarravam na trama do tecido de outras pessoas, mas já não davam nó...” E conclui numa linda metáfora de seus fios urdidos de histórias numa belíssima ilustração onde os fios e letras da menina chegam até ela e seu vestido é desfiado por pássaros que levam para o vento.
Figura 11 – pg. 23
Sobre a adequação temática, p leitor destinatário mostra-se coerente, sendo o infanto-juvenil entre os 9-12 anos, voltados para uma realidade social onde noções de pertencimento se fazem presentes nos conceitos de família e amigos (páginas 4, 6, nas ilustrações dos quadros na parede da página 11, 14 sentada ao colo de sua mãe página 14). 
Figura 12 – pg. 4,6, 11 e 14
Sua linguagem em prosa poética trabalha de forma metafórica e conduz o leitor ao pensamento, dando acesso a uma interpretação como falado anteriormente, trazendo o vestido e a ideia do urdimento com os fios que fazem o vestido se relacionarem com a tomada de consciência do sujeito. Isso pode ser percebido ao início do livro (página 3 quando ela recolhe diferentes fios de conversaom os adultos) e ao final quando ela compreende que a narradora é ela mesma, e não mais os fios. Há harmonia e beleza entre texto e ilustração, numa sutil referência ao contexto de pertencimento e da forma de ser menina, numa perspectiva heteronormativa em que se apresenta. A partir dos discursos que se naturalizam na sociedade e, por conseguinte, na escola, o texto funciona discursivamente, com enunciados sexistas e binários que produzem sentidos de existir uma relação causal entre o sexo biológico, o gênero e a identidade determinando características e funções para os gêneros. Tais perspectivas vão construindo no imaginário o que é - ou deve ser - a relação de gêneros e o mundo, de forma a reforçar o sentido de que existem um estereótipo de que meninas e seus vestidos. 
É importante destacar que a imobilidade de sentidos sobre o uso do vestido se cristaliza na imagem feminina, onde não se fala sobre a compreensão do próprio corpo, enfatizando e naturalizando relações de características e comportamentos de gênero e sexualidade. Compreendendo que o livro enfatiza as noções de pertencimento neste universo feminino heteronormativo, a leitura se torna válida por sua colaboração nos processos de compreensão do ser-sujeito e sua consciência de estar no mundo. 
Conclusão
A semiótica das imagens traz a perspectiva dialógica, onde o leitor infantil age sobre a imagem tanto quanto a imagem age sobre ele, não apenas como desenho, mas como obra literária e artística. As imagens do livro Vestido de menina apresentam um caminho fértil para a interpretação, carregada de significados dentro de um contexto sociocultural, que instiga a criança a refletir, pensar, recriar e transformar. Nas ilustrações, os recursos contribuíram par aa elaboração de informações que atraíram o olhar: a composição, a dinâmica, o enquadramento, a linha, a cor, o corte, as texturas, por exemplo. A ilustradora, de forma consciente, utilizou os recursos para associar elementos da linguagem imagética, fazendo com que o leitor leia o significado desejado por ela.
Entre esses recursos destaca-se o uso da textura, que adiciona uma elegância à ilustração e enfatiza a perspectiva. A textura é o aspecto da trama e do entrelaçamento das fibras que constituem uma superfície. Ela pode dar uma idéia da iluminação, de definição dos contornos, acentuar os detalhes do objeto, dando-lhe diversas aparências, tais como: lisa, rugosa, esponjosa, aveludada, acetinada, felpuda, granulada, ondulada, entre outras. A textura permite criar zonas claro-escuras que ressaltam as imagens e dirigem o olhar do leitor e que se desloca pelo contraste. A linha também é um dos recurso muito bem explorado pela ilustradora, pois traz uma possibilidade expressiva, principalmente na guia da história. De acordo com Oliveira e Garcez (2004, p. 50), “a linha é uma marca contínua ou com uma aparência de contínua. Quando é traçada com a ajuda de qualquer instrumento sobre uma superfície, chama-se linha gráfica e é o sinal mais versátil, pois pode sugerir movimento e ritmo, comunicar sentimentos e sensações”.
Numa obra poética como a analisada neste texto, se faz necessário refletir sobre a Literatura Infantil e as especificidades das crianças como leitores. Provocar um movimento no sentido de querer adequar o conteúdo para um produto facilitado, de pouco esforço cognitivo da criança, revela o preconceito de que as crianças sejam indivíduos que não conseguem lidar com a subjetividade e com a plurissignificação que a arte literária oferece. Uma prosa poética, com imagens que instiguem os sentimentos e sentidos do leitor, fazem com que , por meio da literatura, a criança possa desenvolver a criatividade e a personalidade em relação ao desenvolvimento intelectual e afetivo; organizando sua realidade e resolvendo conflitos (internos ou não). Sentimentos percebidos pelas crianças e pelos adultos são atemporais, como o amor, a alegria, a tristeza, o medo, a saudade, a honestidade, o poder, a vingança, a raiva, a decepção, entre outros. 
A Literatura Infantil é uma arte que, como qualquer outra, proporciona uma experiência estética, o desenvolvimento cognitivo, o lazer, desenvolve a criatividade, entre outras habilidades, mas, sobretudo, está atrelada ao potencial de transferência de informação. Com isso, torna-se fecundo o uso do livro ilustrado para a educação do olhar, numa abordagem ampla de significados, entrelaçando informações com suas experiências de vida, conhecimentos e imaginação. 
REFERENCIAS:
FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil em sala de aula 5ªed. São Paulo: Contexto, 2015.
FREIRE, Paulo. Da leitura da palavra a leitura do mundo. Leitura: Teoria e Prática. Campinas, n.1, p.3-9, nov. 1982.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
NIKOLAVEJA, Maria e SCOTT, Carole. Livro Ilustrado: palavras e imagens. Tradução de Cid Knipel. São Paulo: Cosac Naif, 2011. 308pp, 108ils.
OLIVEIRA, Jô, GARCEZ, Lucília. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as artes visuais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. 
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 11.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no ensino das artes. 8ªed. Porto Alegre: Mediação, 2014. 
UFPR | Programa de Pós-Graduação em Educação | www.ppge.ufpr.br | www.facebook.com/ppge.ufpr/

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