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CLÍNICA CIRÚRGICA – 2ª ETAPA Sara Belmiro TRAUMA ABDOMINAL E PÉLVICO - Lesões abdominais e pélvicas não diagnosticadas continuam sendo causa de morte evitável • Está estável hemodinamicamente, choque classe II • Dor no tórax que pode levar a instabilidade seria um pneumotórax e um hemotórax. • Dor no abdome, pela cinemática do trauma em alta velocidade, pode ter explosão de órgão oco como o intestino delgado, bexiga, intestino grosso. Pode ter tido ruptura de algum hilo vascular, por ex, do baço ou do rim. • Dor na pelve → pode ter fraturas pélvicas. • É um paciente vitima de politraumatismos. ➔ REFERÊNCIAS EXTERNAS: - Limites do abdome anterior: • Superior: linha intermamilar • Lateral: Linha axilar anterior • Inferior: sínfise púbica e ligamento inguinal - O flanco é dividido da linha axilar anterior até a linha axilar posterior. - Limites do dorso: • Superior: Linhas inter escapulares • Lateral: Linha axilar posterior • Inferior: Região de crista ilíaca póstero superior. Obs: fratura de arcos costais inferiores pode ter lesões torácicas e abdominais. MECANISMO DO TRAUMA Quando suspeitar de lesão abdominal e pélvica? TRAUMA FECHADO • Velocidade • Ponto de impacto • Intrusão - ex: porta foi para dentro do veiculo e bateu em direção ao flanco (pode ter lesão renal, esplênica) • Dispositivos de segurança • Desaceleração - estruturas dentro da cavidade abdominal são fixas e a inércia do movimento pode fazer com que algumas estruturas se rompam e gerem lesões • Ejeção – gerar politraumatismo - A cinemática do trauma é extremamente importante para inferir probabilidade de lesão FERIMENTOS PENETRANTES • Tipo de arma • Distância • Número e local dos ferimentos Quanto maior o calibre da arma, maior é o halo de cavitação. Esse halo de cavitação gera calor que gera lesão térmica, pode trazer lesões de alças tardias → rupturas e extravasamento de líquido para cavidade. EXPLOSÃO • Mecanismo combinado - Paciente pode ser arremessado em um objeto contuso ou penetrante. Além de que o próprio mecanismo de explosão devido a diferenciação de pressão nos órgãos ocos pode ocasionar as rupturas. Meso do intestino delgado está todo rompido. Comum em pacientes que tiveram trauma por mecanismo de desaceleração intenso, ex: colisão em alta velocidade. Há uma parada abrupta e o organismo tende a inércia: as alças intestinais tendem a continuar o movimento, como estão fixas na raiz do mesentério, podem romper e liberar líquido na cavidade. TRAUMA FECHADO ➔ Lesões frequentes 1) Baço – principal órgão a ser lesionado 2) Fígado 3) Delgado 4) Pelve FERIMENTOS PENETRANTES Todos os órgãos estão em risco Arma branca • Baixa energia, lacerações • Fígado, intestino delgado, diafragma e cólon Órgãos mais acometidos: ➢ Trauma abdominal fechado: Baço e fígado. ➢ Trauma penetrante com arma branca: fígado e intestino delgado. Arma de fogo • Tipo de arma • Distância do alvo • Intestino delgado, cólon, fígado e estruturas vasculares (mira para região central do abd) EXPLOSÕES • ABCDE • Combinação de mecanismos • Trauma fechado • Fragmentos penetrantes (múltiplos) • Onda de pressão - Considerar: proximidade, ambiente fechado, múltiplos fragmentos e impactos secundários (arremesso ou queda de altura) AVALIAÇÃO Como saber se tem lesão abdominal ou pélvica? EXAME FÍSICO: - Inspeção: No trauma fechado: tatuagens traumáticas, abdome distendido, contusões, equimoses, escoriações. - Ausculta: é difícil fazer na sala de trama pelo barulho. ex: paciente com ruídos hidroaéreos positivos e depois 2 horas não tem mais RH+ → pode estar sangrando ou ter rompido alguma víscera oca e fez o íleo paralitico. - Percussão e palpação: se o paciente tem sinal de irritação peritoneal está dado o diagnóstico de trauma abdominal e precisa de laparotomia exploradora - Exame da pelve e do períneo: examina uma vez só. Primeira coisa que palpa na pelve é a sínfise púbica: se não consigue palpá-la ou não tem resistência óssea é provável que essa pelve esteja aberta, tenho que fazer o enfaixamento pélvico dessa paciente. Também pode examinar fechando a pelve na mão: quando crepita ou tem muita maleabilidade pélvica → instabilidade pélvica, fazer o enfaixamento pélvico. Avaliar o períneo em pacientes graves: fazer o toque vaginal (objetivo de sentir a integridade de mucosa vaginal, ver se tem espícula óssea, se tem sangue), toque retal (avaliar a integridade e tônus do esfíncter, mucosa do reto, se tem sangue, espícula óssea). Em trauma raquimedular pode ter perda de tonicidade esfincteriana. MEDIDAS AUXILIARES DA AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: ✓ RX de bacia ✓ FAST ✓ LPD. - Normalmente o FAST e o LPD são usados em pacientes instáveis como medidas auxiliares na avaliação primária para dar o diagnóstico dessa instabilidade, se é um hemoperitonio ou não. - Lembrar: imagem anecoica no trauma é sangue → Fatores que comprometem o exame: • Álcool e outras drogas • Lesão cerebral ou medular • Trauma de costelas, coluna ou pelve Obs: no trauma raquimedular não esperar o paciente ter dor e irritação peritoneal. Cuidado: • A lesão abdominal não percebida pode ser causa de morte evitável • Examinar a estabilidade da bacia de forma excessiva ou repetida pode piorar a lesão - Exame pélvico tem que ser feito por uma pessoa só e se tiver uma lesão tratar de forma imediata MEDIDAS AUXILIARES SONDA VESICAL • Monitorar o débito urinário • Diagnóstico • Descompressão da bexiga antes da LPD • Doentes com fratura de bacia tem risco de lesão de bexiga e de uretra • A presença de hematúria faz diagnóstico da lesão - Paciente com politraumatismo grave quando chega na sala de trauma já faz a sondagem vesical de praxe para todos. Objetivo: avaliar a perfusão tecidual para ver a resposta da reposição volêmica. - Sonda vesical ajuda no diagnóstico, ex veio hematúria: pode ter sangrado do rim, ureter ou na bexiga. Se está com hematúria, fazer uma cistografia retrógada (contrastar para ver se tem lesão na bexiga). No LPD precisa estar com bexiga e estômago vazios para evitar lesões iatrogênicas. Diferente do FAST, que é melhor com a bexiga cheia (consegue ver os contornos da bexiga e o líquido fora). Quando a bexiga está muito murcha a imagem não fica tão boa e clara. - Paciente com fratura de pelve - Equimose de base de períneo, parecido com uma asa de morcego. - Possibilidade de lesão de uretra. LESÃO DE URETRA: → É proscrito realizar a sonda vesical de demora em paciente com uretrorragia sem antes estudar a uretra com contraste através de uma uretrografia retrograda. Ao sondar pode piorar a lesão uretra. Quando não tem especialista faz a cistostomia no centro cirúrgico. - Probabilidade de lesão de uretra: • Fratura de bacia • Equimose na base do períneo - o sinal de Fox. • Uretrorragia • Próstata cefalizada – não consegue palpar no toque retal, como se estivesse longe. - A lesão de uretra posterior geralmente ocorre em doentes com múltiplas lesões e fratura pélvica - Em contrapartida, a lesão de uretra anterior resulta de impacto a cavaleiro e pode ocorrer como lesão isolada -Uretra anterior: uretra peniana e uretra bulbar -Uretra posterior: uretra membranosa, uretra prostática − Uretrografia retrógrada: pega sonda de Foley pequena (10, 12), coloca na uretra glandar e insufla o balonete. Injeta contraste e bate o raio X para estudar a uretra desse paciente: Vê a uretra toda contrastada até chegar na bexiga. Quando tem lesão de uretra: esse contraste não passa ou tem uma irregularidade. SONDA GÁSTRICA • Avaliar a distensão gástrica • Descomprimir o estômago antes da LPD Cuidado: • Fratura de base de crânio/face • Pode induzir vômito/ aspiração – em paciente acordadoEXAMES DE SANGUE E URINA • Não existem exames de sangue obrigatórios antes de laparotomia de urgência o Tipagem sanguínea e prova cruzada – pois precisa fazer reserva de sangue o Exames de coagulação – pode fazer ou não, bom fazer para ver se evolui com discrasia sanguínea • Teste de gravidez • Álcool ou outras drogas – não faz na rotina • Hematúria (macroscópica x microscópica) EXAMES RADIOLÓGICOS ➢ Trauma fechado: Tórax e bacia, em AP ➢ Ferimentos penetrantes: Tórax em AP e abdome com marcas radiopacas (se hemodinamicamente normal) Obs: No trauma faz raio X de tórax e de pelve (sempre em AP). E raio X cervical e de membros (quando indicados). Não faz raio X de abdome no trauma, exceto quando tomou um tiro e não tem orifício de saída, para saber onde está o projétil. EXAMES CONTRASTADOS • Tomografia • Uretrografia • Cistografia • Urografia excretora • Tubo digestivo. Ex: contraste retal, contraste oral → Cuidado: Não retardar o tratamento definitivo - Paciente instável: o exame para diagnosticar lesões abdominais é o ultrassom (FAST) ou lavado peritoneal diagnóstico. - Paciente estável (capaz de sair da sala de avaliação para fazer o exame complementar): faz a TC. Tomografia com contraste venoso sempre. - Precisa do contraste para caracterizar o grau de lesão. Baseado no grau de lesão e na estabilidade do paciente vai definir tratamento cirúrgicos ou não cirúrgicos. Caso o paciente tenha estabilidade hemodinâmica posso fazer, até mesmo em lesões graves, tratamento conservador - não cirúrgico. - Uretrografia e cistografia não precisa sair da sala de trauma para fazer. - A urografia excretora quase não usa. Objetivo é ver se o paciente tem lesão de rim ou ureter. Injeta contraste na veia do paciente e bate o raio x, se tiver rim lesado, não vai filtrar e não vai excretar pelo ureter. EXAMES – TRAUMA FECHADO LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO Vantagens: diagnóstico precoce, obs: não é realizado tão rapidamente não (precisa ter treinamento, pegar material disponível - não se compara ao FAST). Sensibilidade alta de detectar lesão (98%), detecta lesão intestinal (presença de restos alimentares, secreção intestinal). Não precisar transportar o paciente. Desvantagens: é um exame invasivo, não é replicável exames posteriores, a especificidade é baixa (LVD negativa não quer dizer que não tenha lesão), não diagnostica lesões de diafragma e retroperitonial Indicações: Traumas fechados em pacientes instáveis, ou traumas penetrantes. Obs: Lesão penetrante no abdome com certeza que violou a cavidade peritoneal, tem que operar, não tem dúvida. Mas nem sempre faca, por ex penetra na cavidade peritoneal, então tem que ter certeza que penetrou para indicar cirurgia, nesse caso pode fazer o LVD. Raramente usa LPD para isso. Ideal é fazer um botão anestésico em volta da ferida penetrante e introduzir o dedo para ver se violou cavidade peritoneal ou não, se violou a indicação é laparotomia exploradora FAST Vantagens: diagnóstico precoce, exame não invasivo, realizado rapidamente, pode ser repetido, tem sensibilidade boa e não precisa de fazer transporte. Desvantagens: precisa de ter alguém com capacidade técnica para fazer, exame examinador dependente (no trauma boa parte dos cirurgiões sabem fazer). As imagens podem não ser bem apuradas por causa de gases e enfisema subcutâneo. Pode não diagnosticar lesões no diafragma, do intestino e de pâncreas (órgãos retroperitoneais). Indicação: Trauma fechado em pacientes instáveis. TOMOGRAFIA Vantagem: é o exame mais específico, a probabilidade de deixar passar uma lesão despercebida é muito pouca, sensibilidade boa, é um exame não invasivo. Desvantagem: custo é maior e precisa de tempo, tem que transportar o paciente para uma sala específica. Pode não diagnosticar lesões diafragmas, do intestino, algumas lesões pancreáticas principalmente quando elas são muito pequenas. Indicação: no trauma fechado estável e traumas penetrantes no dorso e flanco. ➢ Pode ter lesão no flanco que não penetrou em órgão retroperitoneal e nem em cavidade peritoneal, aí se o paciente estiver estável faz a tomografia com triplo contraste (oral, venoso e retal) para ver se tem lesão de intestino, cólon. EXAMES - FERIMENTOS PENETRANTES Doentes hemodinamicamente normais - Transição toracoabdominal ➔ Exame físico repetido, toracoscopia, laparoscopia ou tomografia Principalmente nas diafragmáticas a laparoscopia é necessária quando tem dúvida na tomografia. - Parede anterior do abdome – arma branca ➔ Exploração do ferimento, LPD ou exame físico repetido Se o ferimento violou a cavidade peritoneal = laparotomia exploradora, se não, LVD e exames físicos repetidos ou eventualmente a TC com contraste. - Dorso e flanco – arma branca ➔ LPD, exame físico repetido ou tomografia com duplo ou triplo contraste Obs: O LVD não é um bom exame para diagnosticar lesão de órgão retroperitoneal LAPAROTOMIA Que doentes devem ser operados? → Indicações de laparotomia – trauma fechado: • Hemodinamicamente anormal, com suspeita de lesão abdominal • Gás livre (pneumoperitônio) • Lesão de diafragma • Peritonite – irritação peritonial • FAST, LPD ou TC positivos Obs: TC positiva naqueles pacientes que evoluem para instabilidade ou que não consigo fazer tto conservador. Obs: Irritação peritoneal - sangue, urina, coco demoram para irritar o peritônio. Ter FAST positivo, líquido livre na barriga, não obrigatoriamente tem peritonite. Indicações de laparotomia – Ferimentos penetrantes • Hemodinamicamente anormal • Gás livre • Peritonite • FAST, LPD ou TC positivos • Evisceração - Nos ferimentos por arma de fogo, a melhor estratégia geralmente é a operação precoce Obs: nem todos ferimentos penetrantes vai fazer laparatomia. FRATURAS PÉLVICAS • Energia significativa • Lesões associadas – ex: lesões abdominais • Sangramento pélvico – venoso/ arterial do plexo retoperitoneal AVALIAÇÃO DAS FRATURAS PÉLVICAS - Inspeção • Discrepância no tamanho dos membros, rotação externa • Exposta ou fechada (exposta ex: espícula óssea no ânus, vagina) - Palpação do anel pélvico, estabilidade - Exame retal/ GU/ vaginal • Exposta ou fechada? Palpação da próstata − Faz movimento de abrir e fechar livro para avaliar estabilidade da pelve, a pelve normal é fixa. − Palpar a sínfise púbica - consegue avaliar a aberturado anel pélvico. − Faz rolamento em bloco, enfaixamento pélvico para fechar o anel pélvico e diminuir o sangramento - As forças das fraturas pélvicas podem ser laterais, quedas de grande altura fazendo compressão Antero- superior e também com cisalhamento, são mecanismos de fratura de pelve. TRATAMENTO DAS FRATURAS PÉLVICAS A e B: como habitual C: Controle da hemorragia: • Enfaixamento/ Diminuição do anel pélvico • Descartar hemorragia abdominal • Arteriografia, fixação • Tamponamento pélvico - cirurgia Armadilhas: • Demora no controle de hemorragia abdominal ou pélvica → aumenta risco de mortalidade – sempre que tem lesão tem que tratar • Lesões intra-abdominais/ retroperitoneais ocultas • Ferimentos de dorso e de flanco - desafio • Manipulação repetida da pelve é um erro, pois aumenta sangramento • Lesão de medula/ alteração do sensório atrapalha exame físico • Enfaixamento pélvico mal colocado pode aumentar o sangramento, ao invés de melhorar • Necrose da pele pelo enfaixamento pélvico Obs: não coloca enfaixamento na crista ilíaca, coloca no trocanter maior do fêmur, onde tem pressão para fechar a pelve. LETRA D - Propedêutica em relação ao abdome: FAST ou LPD, como ele está instável não pode fazer tomografia. FAST ou LPD positivo, conduta: Laparotomia. Não vai encaminhar para que realizar lavado, se já tem FAST positivo.Não usa droga vasoativa no trauma, usa soro, sangue e cirurgia. LETRA D LETRA C - Trauma abdominal estável → tomografia de abdomen pélvico com contraste venoso, não importa o FAST. LETRA A. Abre a barriga, pois consegue fazer o reparo do diafragma pelo abdômen e também fazer o inventário da cavidade abdominal para ver se tem alguma outra lesão. É um trauma extremamente grave e uma energia cinética alta. Hérnias diafragmáticas sempre por via abdominal, quando traumáticas aguda 1 - Incisão de Kocher - subcostal direita, vesícula. 2 - Incisão mediana xifo-púbica, vem do apêndice xifoide até o púbis. 3 - Incisão de McBurney, apendicite. 4–Incisão de Battle cirurgia em ovários apendicectomias. 5- Incisão de Lanz ou Davis, apendicectomia. 6 - Incisão paramediana, porque está lateral a linha média. 7 - Incisão transversa no abdômen. 8 - Incisão de Morrison. 9 - Incisão de Phannestiel, para cesárea. LETRA D - Faz cirurgia de controle de danos quando abre o paciente e ele tem muitas lesões. Controla os danos na cavidade abdominal e se ele sobreviver nas próximas 24, 48h volta e aborda as lesões. O objetivo do demage control é evitar tríade letal do trauma.
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