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Geovanna P8 Distúrbios metabólicos e nutricionais- SP 1.2 GOTA DEFINIÇÃO Gota é uma artropatia inflamatória de origem metabólica decorrente da formação de cristais de urato monossódico di-hidratado nos tecidos articulares. Quando plenamente desenvolvida, apresenta: - Aumento dos níveis séricos de ácido úrico (hiperuricemia); - Crises repetidas de uma artrite aguda típica; - Presença de cristais de urato monossódico nos leucócitos do líquido sinovial das articulações acometidas; - Depósitos confluentes de urato monossódico (os tofos) nas articulações e tecidos periarticulares, podendo causar sérias deformidades e incapacidade física; - Nefropatia intersticial e vascular; - Nefrolitíase por cálculos de ácido úrico EPIDEMIOLOGIA É a doença articular inflamatória mais comum. Afeta na sua maioria homens, ocorrendo com maior frequência a partir dos 40 anos. Quando acomete mulher, geralmente é após a menopausa (estrógeno é uricosúrico). A prevalência varia muito em decorrência da ferramenta diagnóstica empregada, região geográfica e ano de coleta dos dados. A taxa de prevalência oscila na faixa de 1 a 5%. ETIOLOGIA - A formação dos cristais decorre da supersaturação de urato dos tecidos envolvidos. - A elevação dos níveis séricos de urato pode advir de uma produção excessiva ou uma redução na excreção renal (principal mecanismo e está presente em algum grau em 90% dos casos). - Em ph fisiológico e temperatura corporal norma, hiperuricemia é caracterizada por nível sérico de urato superior a 6,8mg/dL. - A formação de ácido úrico ocorre a partir da dupla oxidação da purina hipoxantina pela xantina oxidase. - O AU, uma vez formado, não pode ser degradado. 70% da sua eliminação ocorre pela excreção renal, e o restante pelo intestino. - A homeostase do nível sérico do ácido úrico depende basicamente dos rins. Por ser uma molécula pequena, ele é totalmente filtrado, entretanto, aproximadamente 90% dessa carga é reabsorvida no túbulo proximal, por meio de transportadores de ácidos orgânicos. O mais importante deles é o URAT1, de grande importância no tratamento, pois pode ser inibido por agentes farmacológicos. Geovanna P8 FISIOPATOLOGIA - O urato é produto final da degradação oxidativa do metabolismo da purina em humanos e espécies primatas superiores. - A hiperuricemia pode resultar tanto de um excesso na produção quanto de uma falha na eliminação do ácido úrico, bem como de uma combinação de ambos os mecanismos. Devemos ressaltar que a maioria dos pacientes apresenta falha na eliminação renal de ácido úrico!!! Produção do ácido úrico: o ácido úrico não é um componente normal dos alimentos e costuma ser produzido no organismo a partir das purinas, bases nitrogenadas liberadas pelo catabolismo dos nucleotídeos (elementos que compõem o ácido nucleico). Existem dois tipos de base nitrogenada, as purinas e as pirimidinas; as purinas são em número de três: adenina, guanina e hipoxantina. A enzima xantina oxidase metaboliza a hipoxantina em xantina e, em seguida, em ácido úrico, sendo uma peça fundamental para a síntese deste metabólito. O alopurinol, por exemplo, age inibindo essa enzima... O ácido úrico então, sob a forma de urato, circula no sangue até ser eliminado do organismo. A maior parte das purinas é sintetizada pelo próprio organismo, a partir de açúcares e aminoácidos. Uma pequena parte é derivada das nucleoproteínas dos alimentos. É importante ressaltar que apenas a presença do cristal não é suficiente para ativar os mecanismos que levam à inflamação, havendo a necessidade da participação de cofatores como ácidos graxos livres capazes de ativar o Tolllike receptor 2. Eliminação do ácido úrico: cerca de 2/3 do ácido úrico produzido são eliminados pelos rins; e o 1/3 restante, pelo tubo digestivo. Nos rins, existem quatro etapas de manipulação do urato: (1) filtração: quase todo o urato é filtrado pelo glomérulo; (2) reabsorção pré- secretória: quase todo urato filtrado é reabsorvido na porção inicial do túbulo contorcido proximal pela proteína de membrana URAT1 (inibida pelo estrogênio – daí o efeito uricosúrico desse hormônio); (3) secreção tubular: após ser reabsorvido, cerca Geovanna P8 de 50% do total é secretado pelo carreador de ânions orgânicos do túbulo proximal; e (4) reabsorção pós-secretória: boa parte do urato secretado é mais uma vez reabsorvido. O resultado do balanço dessas quatro etapas é a eliminação, em média, de 10% do urato filtrado no glomérulo. Isso equivale à quantidade de urato produzida diariamente pelo metabolismo. Causas de hiperuricemia secundária: Álcool – o álcool (etanol) resulta em hiperuricemia por três mecanismos: (1) promove a conversão de piruvato em lactato; este último estimula a reabsorção de urato no túbulo proximal (estímulo à proteína URAT1); (2) aumenta a degradação de ATP no hepatócito, aumentando a produção de ácido úrico; (3) a cerveja, em particular, contém quantidades significativas de purina. Obesidade – a obesidade está relacionada a uma redução na excreção urinária de ácido úrico e, embora não se saiba ao certo o mecanismo responsável, essa alteração é reversível com a perda de peso. Aumentos consideráveis da excreção urinária de ácido úrico podem ser conseguidos, muitas vezes, apenas com a redução discreta do peso corporal! Diuréticos – aumentam a reabsorção tubular proximal de ácido úrico, induzida pela hipovolemia. Vale ressaltar que, não raro, a crise de gota é precipitada pelo uso de diuréticos! A classe mais comumente implicada é a dos tiazídicos, mas os diuréticos de alça também aumentam a uricemia. Triglicerídeos – também existe associação estatística entre hipertrigliceridemia e hiperuricemia/ gota. Neste caso, parece que o mecanismo é uma maior síntese de ácido úrico a partir do excesso de acetato oriundo da quebra dos triglicerídeos. Síndrome metabólica – causada pela combinação de resistência insulínica + hiperinsulinemia, se apresenta com um fenótipo de obesidade, hipertensão arterial, intolerância à glicose, hipertrigliceridemia e redução do HDLcolesterol, estando estatisticamente associada à hiperuricemia. O provável mecanismo deste último achado seria a própria resistência à insulina, que induz maior reabsorção tubular renal de ácido úrico. Tais pacientes também são predispostos ao desenvolvimento de nefrolitíase por ácido úrico, devido à dificuldade de alcalinização urinária típica da síndrome metabólica (isto é, por terem urina mais ácida, esses indivíduos desenvolvem mais cálculos de ácido úrico). Geovanna P8 IMPORTANTE!!! O transportador tubular de ácido úrico mais importante é o URAT1. Certos fármacos, quando presentes no lúmen tubular, podem deslocar o ácido úrico do transportador, causando maior perda de ácido úrico na urina. Esses compostos incluem a probenecida, a losartana e ácido acetilsalicílico em altas doses e são considerados uricosúricos. IMAGEM DA FISIOPATO DA GOTA: QUADRO CLÍNICO • Dor intensa e eritema local, com hipersensibilidade ao toque • Crises que correspondem bem a medicações anti-inflamatórias e podem ter resolução após alguns dias • Segue um período assintomático e pode durar meses • Se não tratado, as crises ficam mais recorrentes e pode aparecer tofos • Tofos são mais comuns em torno das articulações e nas bursas do cotovelo Geovanna P8 1ª fase: Hiperuricemia assintomática: estágio inicial 2ª fase: Gota intermitente aguda: • Calor local • Tumefação • Eritema • Dor aguda na articulação acometida • Incidência ligeiramente mais alta no início do sono • De pontada fraca seu nível mais intenso em período curto de 4 a 12 horas • Os ataques iniciaissão em geral MONOARTICULARES • Metade dos casos envolve a primeira articulação metatarsofalangeana • Tornozelo, meio do pé, calcanhar e joelhos também são bastante afetados • Após os primeiros 5 a 8 episódios de gota aguda outras articulações também podem ser acometidas. 3ª fase: Artrite gotosa avançada DIAGNÓSTICO Padrão ouro: observação de cristais de urato monossódico na microscopia ótica de luz polarizada compensada. A amostra deve ser, de preferência coletada de articulações afetadas recentemente, bem como articulações anteriormente afetadas. Rx, USG, podem ser úteis para avaliar a fase crônica da doenças e os danos acarretados. TRATAMENTO 2 etapas: manejo da crise aguda e terapia de longo prazo. 1º: Na crise aguda alivia-se a dor, diminui a inflamação e a incapacitação articular → AINES 2º: O objetivo é diminuir as concentrações de ácido úrico circulante (AUC), bem como prevenir novas crises. Geovanna P8 MANEJO DAS CRISES AGUDAS: - Crises baixas a moderada (escala de dor menor que 6 e envolve até 3 articulações): monoterapia. Pode introduzir AINE ou Colchicina ou corticoide. - Terapia combinada quando a dor é intensa e envolvimento Poliarticular: Colchicina e AINE, corticoide oral e Colchicina ou corticoide intra-articular. Não usar corticoide e AINE juntos. - Medidas gerais: analgésico, repouso do membro, aplicação de gelo local por 20 minutos 3x/dia. - O tratamento de hiporuricemia não deve ser iniciado na crise aguda, mas se o paciente já estiver tomando não deve interromper. Geovanna P8 TERAPIAS DE LONGO PRAZO: - Metas: reduzir os níveis circulantes de urato para baixo do ponto de saturação; manter o AUC menor do que 6mg/dL e prevenir a formação de novos cristais de US. - Método mais efetivo: TERAPIA DE REDUÇÃO DE URATOS (ULT) - Informar sobre os fatores de risco não modificáveis (etnia, idade, gênero) e os modificáveis (hiperuricemia, obesidade, HAS, dislipidemia, DM, DRC, etc.) → orientar sobre medidas de controle, como redução massa corporal; redução do consumo de cerveja e destilados; redução do consumo de alimentos e ricos em purina, carnes vermelhas e frutos do mar. - Atenção aos diuréticos, tanto tiazídicos e de alça, pois aumentam o risco de incidência de gota até me pacientes com a doença estabilizada. - Quando iniciar ULT?? Gota bem estabelecida e relativamente grave: • Duas ou mais por ano • Crise em paciente com DRC de estágio 2 ou mais • Presença de um ou mais tofos • Dano articular ou nefrolitíase Vários estudos apontam que, uma vez iniciada, a ULT não deve ser descontinuada, devido ao risco de recorrência da artrite aguda. Inibidores da xantina oxidase Os inibidores da xantina oxidase são drogas que diminuem a concentração de uratos por meio da inibição de sua síntese – alopurinol e febuxostate. 1. Alopurinol: primeira linha, adm 1x/dia, baixo custo e relativamente seguro. É o medicamento mais seguro. Inicia-se com 100mg e aumenta-se nessa mesma quantidade mensalmente até que os níveis de urato estejam sob controle, em um máximo de 900mg. A dose diária é de 300mg. 2. Febuxostase: inbidor da XO; metabolismo hepático; pouco secretado na urina. Boa opção para pacientes de DRC. Não necessita de ajustes de doses Geovanna P8 SÍNDROMES METABÓLICAS DEFINIÇÃO Consiste em um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. As principais características incluem: obesidade, Hipertrigliceridemia, baixo nível de LDL, hiperglicemia e hipertensão. Geovanna P8 EPIDEMIOLOGIA No Brasil, esse o da SM tem sido visto principalmente em crianças obesas entre 7-10 anos de idade, onde a prevalência de SM chega a 17,3%. A obesidade está de fato relacionada com a gênese dessa síndrome, de modo que alguns estudos mostram a prevalência de 28,7% e 6,1% em adolescentes norte-americanos obesos e com sobrepeso, respectivamente, em contraposição com apenas 0,1% de prevalência de SM em eutróficos. FISIOPATOLOGIA O papel endócrino do tecido adiposo, sobretudo, da gordura visceral, permite explicar a possível gênese da resistência insulínica/DM2 e das outras afecções presentes na SM como dislipidemia, esteatose hepática, da hipertensão arterial. Quando em excesso, os adipócitos passam a produzir em maior quantidade adipocinas como a leptina e citocinas inflamatórias, bem como o aumento de adiponectinas o que resulta em maior estado inflamatório, diabetogênico, aterosclerótico e redução do gasto energético em pessoas com excesso de gordura. Com esse aumento do tecido adiposo tem-se um aumento dos ácidos graxos livres no organismo e há uma redução da sinalização para os efeitos da insulina (um dos efeitos da insulina, inclusive, é aumentar a síntese de ácidos graxos) culminando com uma resistência à insulina. Tanto a resistência insulínica quanto o aumento da ingesta calórica leva ao excesso de triglicerídeos circulantes, o que gera um estímulo hepático para síntese de lipoproteínas ricas em triglicerídeos como as LDL pequenas e densas e HDL disfuncionais que logo são excretadas pelos rins. Com isso, ocorre um aumento dos triglicerídeos e LDL, ao passo que há redução dos níveis de HDL, o que caracteriza o quadro de dislipidemia. Além disso, o aumento de lipídios perifericamente, em indivíduos predispostos, leva ao acúmulo de gordura em células pancreáticas (esteatose da ilhotas pancreáticas) que resulta em apoptose das células beta e compromete a secreção de insulina levando ao DM2. Os principais efeitos metabólicos da insulina são: aumento da captação de glicose principalmente no músculo e tecido adiposo, aumento da síntese de proteínas e ácidos graxos, bloqueio da produção hepática de glicose, proteólise e lipólise. Geovanna P8 Com a resistência insulínica (RI) ocorre no organismo uma resposta compensatória que eleva os níveis de insulina, gerando um hiperinsulinismo que contribui para a retenção renal de sódio e água, hipertensão diastólica, proliferação da camada médio- intimal das artérias, bem como alterações pró-inflamatórias/trombóticas, conjunto este de alterações que acarretam na hipertensão arterial sistêmica (HAS). Além disso, vale ressaltar que aquele efeito endócrino do tecido adiposo associado ao aumento do tônus simpático vai interferir na sinalização da insulina e elevar a pressão arterial. Geovanna P8 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Normalmente não está associada a sintomas. Ao exame físico, a circunferência abdominal e PA podem estar elevadas. Menos frequente, observa-se lipoartrofia ou acantose nigricans. Avaliar fatores de risco: 1. História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteróides, betabloqueadores, diuréticos). 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM: • Medida da circunferência abdominal • Níveis de pressão arterial. Deve-se aferir no mínimo duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso. Além destes dois dados obrigatórios deverá estar descrito no exame físico destes pacientes: • Peso e estatura. Devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura2. • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans.Examinar pescoço e dobras cutâneas. • Exame cardiovascular. 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM: • Glicemia de jejum. A SM, definida pelos critérios do NECP-ATP III, recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulino-resistência (clamp euglicêmico, HOMA–IR). • Dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos. • Outros: colesterol total e frações; creatina, ácido úrico, PCR, TOTG, eletrocardiograma, microalbuminúria. Geovanna P8 SÍND. METABÓLICA PELO NCEP-ATP III TRATAMENTO O tratamento da SM consiste no tratamento dos componentes da mesma, individualizando os tratamento para HAS, dislipidemia e resistência insulínica. • Atividade física • Perda de peso • Uso de metformina • Dieta com baixa ingestão de gorduras • Tratamento com estatinas se com medidas não farmacológicas o LDL >190 ou LDL>160 + obesidade? HAS/tabagismo/HF. • Colesterol total>500 entrar com FIBRATOS APENEAS. • Tratar HAS Geovanna P8 Geovanna P8 Geovanna P8 Geovanna P8 Geovanna P8 CONDUTA DO CASO CLÍNICO DA SP 1.2 REFERÊNCIAS: Diretriz Brasileira de Dislipidemias e prevenção da aterosclerose 2017 I Diretriz Brasileira de Síndrome Metabólica 2005 Medicina Interna Harrison 19 ed.