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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Trombose Venosa Profunda (TVP) ↠ ↠ A TVP consiste na formação de coágulos (trombos) nas veias do sistema venoso profundo, acometendo, com maior frequência, as veias dos membros inferiores e dos membros superiores (SOCESP, 5ª ed.). OBS.: Os trombos podem se desenvolver em veias superficiais ou profundas. A trombose venosa superficial (TVS) pode ocorrer em qualquer veia superficial e, antigamente, era considerada uma doença benigna. Em alguns casos, foi possível observar que a TVS leva a complicações como recidiva da TVS, TVP e embolia pulmonar. A TVP ocorre mais comumente nos membros inferiores. A TVP dos membros inferiores é um distúrbio sério, complicado por embolia pulmonar, episódios recidivantes de TVP, e desenvolvimento de insuficiência venosa crônica (PORTH, 10ª ed.) ↠ A TVP dos membros inferiores ocorre cerca de dez vezes mais frequentemente do que a TVP nas extremidades superiores (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização: (DIRETRIZ, 2015). ➢ Proximal: quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. ➢ Distal: quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea. ETIOLOGIA ↠ A tríade (tríade de Virchow) é responsável pela formação da trombose venosa (SOCESP, 5ª ed.). FATORES DE RISCO ➢ Cirurgias e imobilizações; ➢ Uso de anticoncepcional; ➢ Gestação e pós-parto; ➢ Idade avançada; ➢ Obesos; ➢ Idosos; ➢ Viagens aéreas longas; ➢ Genética; ➢ Câncer. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ↠ Muitas pessoas com trombose venosa são assintomáticas, e até 50% das pessoas com TVP não manifestam sintomas. Provavelmente, a ausência de sinais e sintomas é devida à obstrução apenas parcial da veia ou à presença de circulação colateral (PORTH, 10ª ed.). ↠ Quando presentes, os sinais e sintomas mais comuns da trombose venosa são aqueles relacionados ao processo inflamatório, incluindo dor, edema e sensibilidade em músculos profundos (PORTH, 10ª ed.). ↠ Febre, mal-estar geral e elevação tanto da contagem de leucócitos como da velocidade de hemossedimentação também são indicativos de inflamação. Pode haver sensibilidade e dor ao longo da veia. O edema pode variar do mínimo ao muito acentuado (PORTH, 10ª ed.). OBS.: O sítio de formação do trombo determina a localização dos achados físicos. A localização mais comum são os seios venosos no músculo sóleo e as veias tibial posterior e fibular. Nesses casos, pode haver um edema (ainda que discreto) envolvendo o pé e o tornozelo. É comum haver dor e sensibilidade na panturrilha. A trombose da veia femoral produz dor e sensibilidade na área distal da coxa e na região poplítea. Trombos nas veias iliofemorais produzem as manifestações mais acentuadas, com edema, dor e sensibilidade em todo o membro (PORTH, 10ª ed.). HAM III 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck Diagnóstico da TVP ANEMNESE ↠ É importante que seja feita a investigação de comorbidades que podem estar relacionadas com o quadro (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Nos pacientes jovens é importante que seja pesquisado antecedentes trombóticos na família (componentes genéticos) e, nas pacientes, deve ser questionado histórico de gravidez mal sucedida ou abortos repetidos (SAAF) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ É importante também investigar o uso de anticoncepcionais orais combinados ou de terapia de reposição hormonal. A obesidade, o tabagismo e o histórico de desidratação podem favorecer a formação de trombos (SOCESP, 5ª ed.). EXAME FÍSICO ↠ O exame físico não deve se restringir somente ao membro acometido, ele deve ser completo, uma vez que pode conter informações importantes para o quadro clínico em geral (SOCESP, 5ª ed.). ↠ A tireoide e os linfonodos palpáveis podem sugerir processo neoplásico ou infecção. O sistema cardiorrespiratório pode apresentar alterações consequentes de uma complicação por TEP. A palpação abdominal pode revelar alterações sugestivas de doença inflamatória ou maligna (SOCESP, 5ª ed.). IMPORTANTE: O membro acometido é, em geral, o membro inferior. Ao examiná-lo devemos, em primeiro lugar, avaliar a perfusão distal com tempo de enchimento capilar, pulsos e, se possível, avaliação de fluxo com Doppler contínuo. A suspeita de TVP pode se confundir ou até mesmo vir acompanhada de insuficiência arterial periférica (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Dilatação da rede venosa superficial, causada pela estase do sangue nessa região. ↠ A trombose venosa causa inflamação local com consequente dor, calor e eritema local. O edema é geralmente importante, unilateral, variando de acordo com a extensão da trombose e pode ser avaliado comparando-o ao membro contralateral com a medida da circunferência da perna (SOCESP, 5ª ed.). INSPEÇÃO ↠ Atenção para assimetria entre membros; ↠ Alterações tróficas: ➢ Edema: vespertino, desaparece com o repouso e elevação dos membros, mole, depressível, localizando-se preferencialmente nas regiões perimaleolares. Observar simetria entre os membros. ➢ Hiperpigmentação, dermatite de estase ou ocre: no terço inferior do membro acometido - acúmulo crônico de hemossiderina na derme. ➢ Úlcera: bordas mal delimitadas, apresentando constantemente secreção serosa ou seropurulenta, fundo róseo. Localiza-se, principalmente, na região maleolar medial podendo o tecido adjacente estar hiperpigmentado. É menos dolorosa e melhora com a elevação do membro acometido. ➢ Dermatofibrose: aspecto de ‘’gargalo de garrafa’’. ➢ Hemorragias: rompimento de varizes (principalmente as dérmicas) espontaneamente ou após traumas. ➢ Hiperidrose: sudorese profusa no terço distal das pernas. ↠ Trombose venosa aguda superficial: formação de cordão doloroso, eritematoso e palpável recobrindo o trajeto venoso. Diagnóstico diferencial com linfangite aguda (cordão vermelho visível impalpável). Febre é comum. ↠ Trombose venosa profunda (TVP): dor, calor, edema, aumento do volume e consistência muscular (empastamento) do membro. Como pródromo, taquicardia com febre baixa (sinal de “Mahler-Michaelis”). ➢ Sinal de Pratt = Trajetos venosos superficiais visíveis = veias sentinelas. ➢ Assimetria do membro. ➢ Em geral do membro inferior. ↠ O TVP do segmento axilosubclávio em esportistas (síndrome de Paget-Schroeder), uso de cateteres venosos. 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Trombose da veia porta (sinal de Cruveillier- Baumgarten ou cabeça de medusa). ↠ TVP da cava inferior: edema de parede abdominal e dos genitais. Aumento da circulação colateral abdominotorácica ascendente e hipertensão portal. o TVP da cava superior- invasão, compressão (tumores do mediastino, aneurisma da aorta. e por cateteres venosos. Edema dos membros superiores, cabeça pescoço e tórax. face pletórica (congestão sanguínea) ou cianótica, estase das veias jugulares, e circulação colateral descendente toracoabdominal. PALPAÇÃO ↠ Alterações de temperatura, umidade, sensibilidade da pele. ↠ Pesquisa de edema: ➢ Presença de cacifo: compressão por 5 segundos das regiões retromaleolares, pré-tibiais e dorsal dos pés. ➢ Simétrico ou assimétrico: trombose venosa profunda. ↠ Trombose de veias superficiais: palpam-se cordões varicosos quentes e dolorosos. ↠ Trombose venosa profunda: dor, calor e edema no membro. ➢ Sinal da Bancroft: Dor a palpação da panturrilha contra estrutura óssea. ➢ Sinal da Bandeira: Empastamento da panturrilha devido ao edema da massa. ➢ Manobra de Homans: Dor na panturrilha à dorsiflexão do pé. Baixa sensibilidade e especificidade. ↠ Embora todos estes sinais clínicos possam ocorrer na TVP, eles não apresentam boa sensibilidade e especificidade. Por esse motivo, foi estabelecido, em 1995, por Wells, um modelo clínico de predição diagnóstica para TVP que separa os pacientesem “TVP provável” e “TVP não provável” (critérios de Wells) (SOCESP, 5ª ed.). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck EXAMES COMPLEMENTARES ↠ Caso a suspeita da presença de trombose venosa profunda se mantenha a recomendação é que seja feita uma ultrassonografia com Doppler, exame que apresenta elevada (acima de 90%) especificidade e sensibilidade, principalmente, para trombos femorais e poplíteos. ↠ O exame de laboratório mais útil para a TVP é a dosagem do Dímero D, metabólito resultante da degradação da fibrina, um importante indicador de fibrinólise. Seus valores de referência são > 500 ug/L para resultado positivo e < 350 ug/L para resultados negativos, podendo alterar-se com a idade. ↠ Para a confirmação diagnóstica, o mais recomendado nos casos de baixa probabilidade pré-teste pelo escore de Wells é fazer a dosagem de Dímero D, caso dê um resultado negativo, a TVP é excluída. Se o Dímero D estiver elevado, fazer exame de imagem; se for positivo, o diagnóstico é confirmado. Tromboembolismo Pulmonar (TEP) ↠ A embolia pulmonar se desenvolve quando uma substância transmitida pelo sangue se aloja em um ramo da artéria pulmonar e obstrui o fluxo sanguíneo (PORTH, 10ª ed.). ↠ A trombose nas veias profundas das pernas ou da pelve muitas vezes permanece insuspeita até o evento de uma embolia (PORTH, 10ª ed.). ↠ Quanto mais proximal o trombo estiver nas veias profundas da perna, mais provável é a sua embolização e a ocorrência de embolia pulmonar aguda (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Quando os trombos venosos se separam dos seus locais de formação, eles viajam através do sistema venoso em direção à veia cava. Eles atravessam o átrio direito e o ventrículo direito e, em seguida, entram na circulação arterial pulmonar (BRAUNWALD, 10ª ed.). . ↠ Os efeitos da embolia na circulação pulmonar estão relacionados com a obstrução mecânica da circulação pulmonar e os reflexos neuro-humorais que causam vasoconstrição (PORTH, 10ª ed.). ↠ A obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar provoca broncoconstrição reflexa na área afetada do pulmão, perda de ventilação, comprometimento das trocas gasosas e perda de surfactante alveolar (PORTH, 10ª ed.). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ↠ As manifestações de embolia pulmonar dependem do tamanho e da localização da obstrução (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, síncope ou pré-síncope. Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente (DIRETRIZ, 2022). ↠ Um infarto pulmonar muitas vezes causa uma dor pleurítica que muda com a respiração, sendo mais grave na inspiração e mais branda na expiração (PORTH, 10ª ed.). ↠ Muitas vezes se manifesta uma taquicardia para compensar a diminuição da oxigenação e o padrão de respiração é rápido e superficial (PORTH, 10ª ed.). ↠ Pessoas com embolia maciça geralmente apresentam colapso repentino, dor subesternal no tórax, choque e, às vezes, perda de consciência. O pulso é rápido e fraco, a 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck pressão arterial é baixa, as veias do pescoço se mostram distendidas e a pele se apresenta cianótica e diaforética. Uma embolia pulmonar maciça frequentemente é fatal (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico da TEP ANAMNESE ↠ Os sintomas da TEP são inespecíficos. Entretanto, a instalação aguda, muitas vezes súbita, de determinados sintomas, principalmente em pacientes com fatores de risco para TEP, deve fazer pensar nessa hipótese diagnóstica e iniciar a condução da investigação diagnóstica (PINHEIRO; CARVALHO, 2007). ↠ O sintoma mais frequente é a dispneia, seguida da dor torácica e depois da tosse (PINHEIRO; CARVALHO, 2007). ↠ A história clínica da EP caracteriza-se, normalmente, por um início agudo de dispneia e dor torácica, especialmente pleurítica. Outros sintomas também podem estar presentes como tosse, hemoptise síncope - sintomas também observados na TVP. Entretanto, arritmias e colapso hemodinâmico são apresentações menos frequentes (NAVES et. al., 2022). EXAME FÍSICO ↠ O principal sinal na TEP é a taquipnéia (frequência respiratória acima de 20 respirações por minuto) (PINHEIRO; CARVALHO, 2007). ↠ Ao exame físico, taquipneia e taquicardia são achados comuns em pacientes com EP. Também podem ser observados: edema nos pés e panturrilhas, eritema, estertores, sons respiratórios diminuídos, sinais de hipertensão pulmonar, como distensão da veia jugular, componente B2 hiperfonético e elevação paraesternal ventricular (NAVES et. al., 2022). EXAMES COMPLEMENTARES ↠ Deve-se incluir alguns exames para avaliação inicial da patologia, como: oximetria de pulso, ECG, radiografia de tórax e gasometria arterial. Além de auxiliar na identificação da patologia, esses exames podem descartas outras suspeitas diagnósticas (NAVES et. al., 2022). OBS.: Os principais achados gasométricos da TEP são hipoxemia (PaO2<80mmHg) e hipocapnia (PaCO2 <33mmHg). A hipocapnia pode levar a alcalose respiratória (pH>7,45). Entretanto, a gasometria arterial normal não pode excluir TEP. (PINHEIRO; CARVALHO, 2007). ↠ Após realizada a investigação inicial, pode-se realizar alguns exames para avaliação adicional objetivando-se a confirmação diagnóstica, dentre eles podemos citar: angiografia por tomografia computadorizada (angio-TC), dímero-d e troponina (NAVES et. al., 2022). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Insuficiência cardíaca congestiva; ➢ Pneumonia; ➢ COVID-19; ➢ Pneumotórax; ➢ Pericardite aguda. Referências BONOW, Bonow. Braunwald - Tratado de Doenças Cardiovasculares. Grupo GEN, 2017. JATENE, Ieda B.; FERREIRA, João Fernando M.; DRAGER, Luciano F.; et al. Tratado de cardiologia SOCESP. Editora Manole, 2022. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. PÂNICO et. al. Trombose venosa profunda: diagnóstico e tratamento. Diretriz da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, 2015. CORREIA et. al. Exame do sistema vascular periférico, 2020. ALBRICKER et. al. Diretriz Conjunta sobre Tromboembolismo Venoso. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2022. NAVES et. al. Embolia pulmonar: manifestações clínicas e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Development, 2022. PINHEIRO; CARVALHO. Tromboembolia pulmonar. Pneumo atual, 2007.
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