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CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 3 Profª Cassiana Bortoli 2 TRATAMENTOS CONTÁBEIS ESPECÍFICOS RELACIONADOS A PMES CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) a mais uma aula de nossa disciplina! Vamos aqui tratar dos seguintes temas relacionados aos tratamentos contábeis específicos relacionados às PMEs: 1. Estoques; 2. Ativo Imobilizado e redução a valor recuperável de ativos (Impairment); 3. Ativos Intangíveis; 4. Instrumentos financeiros básicos e o custo dos empréstimos; 5. Disclosure de PMEs. Após o estudo dos temas abordados, faça os exercícios disponibilizados ao final da aula para fixação do conteúdo. CONTEXTUALIZANDO A compreensão dos tratamentos contábeis voltados para as micro, pequenas e médias empresas é indispensável para aqueles que se interessam pelo mundo dos negócios e que, portanto, necessitam compreender a essência dos valores contidos nas demonstrações contábeis. Essa necessidade se dá para todos os stakeholders e, principalmente, para os sócios e gestores desses empreendimentos, os quais necessitam conhecer a real situação das empresas e os instrumentos utilizados para fins de mensuração, reconhecimento e posterior divulgação de tais valores. TEMA 1 – ESTOQUES O estoque é considerado um dos ativos mais importantes para uma empresa, seja ela industrial ou comercial. Ao se tratar de PMEs, é atribuído ainda mais importância a esse ativo tangível, pois uma vez que esses são bem estruturados, há maior chance de a companhia aumentar seu patrimônio líquido. O estoque pode ser segregado em mercadorias para venda, produtos acabados, produtos em elaboração, matérias-primas, almoxarifado, importações em andamento, adiantamentos a fornecedores de estoques e ativo biológico, 3 devendo ser dessa forma classificadas as contas sintéticas do estoque sempre correspondente às atividades da empresa (Silva; Marion, 2013). O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprova o pronunciamento Técnico Geral pela Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TG) 1000 (Revisão 1 – R1) que trata da Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas. O referido pronunciamento trata, dentre outros itens, da obrigatoriedade de divulgar separadamente os valores dos estoques (Conselho Federal de Contabilidade, 2016, p. 23): 1. Mantidos para venda no curso normal dos negócios; 2. Que se encontram no processo produtivo para posterior venda; 3. Na forma de materiais ou bens de consumo que serão consumidos no processo produtivo ou na prestação de serviços. Os estoques podem ser considerados um direito de propriedade, uma vez que considerar apenas como posse da empresa descaracteriza a ideia de manutenção para venda, ou ainda como matéria-prima para posterior venda (Silva; Marion, 2013). Ludícibus (citado por Silva; Marin, 2013, p. 92) compreende que os estoques são representados por: Itens que estão sobre posse da empresa, mas que são de propriedade de terceiros (seja por consignação, beneficiamento, guarda ou outro motivo); Itens adquiridos ainda em trânsito, quando o comprador é responsável pelo frete, FOB – Free On Board (diferentemente de quando o frete é por conta do cendedor, CIF – Cost, Insurance and Freight); Itens da empresa remetidos à terceiros devido a interesse de compra (por consignação, por exemplo), cuja propriedade se mantém com a empresa; Itens da empresa que estão armazenados, beneficiados ou de outra forma em posse de terceiros. Assim, torna-se evidente a necessidade do controle e manutenção dos estoques das companhias. 1.1 Controle dos estoques Os estoques devem ser bem adquiridos e estruturados para que as empresas consigam efetuar suas respectivas vendas e auferir os lucros desejados. Do contrário, uma mercadoria mal adquirida pode resultar em perda de capital. Há indícios de que escrita e até mesmo a contabilidade tenha se originado pela necessidade de controlar a riqueza, o patrimônio, e até mesmo os 4 estoques. No contexto de uma empresa, o controle dos estoques deve assegurar o saldo de disponibilidade para atender às necessidades e evitar compras desnecessárias. Dessa forma, conhecer os estoques de forma quantitativa e qualitativa é essencial na prática da gestão (Silva; Marion, 2013). Silva e Marion resgatam alguns pontos destacados por Dias (2008, p. 25), mostrando que há necessidade de: Determinar quais itens e quantidades desses devem permanecer em estoque; Determinar periodicidade de abastecimento; Determinar quantidade de compra dentro do período; Efetuar solicitação de compra de estoque ao setor de compra, especificando produtos e quantidades necessárias; Receber, armazenar e guardar os materiais adquiridos e estocados para as necessidades operacionais; Fornecer informações sobre posição do estoque, quantidade e valor; Efetuar levantamento periódico dos estoques para verificação das quantidades e qualidade dos materiais estocados; e Identificar itens obsoletos e danificados e retificar o saldo reportado. O controle do estoque pode ser efetuado de forma periódica – em que o inventário é feito num período determinado; ou permanente – é realizada sempre que for necessário movimentar a mercadoria, seja pela compra ou pela venda. A primeira forma, a periódica, é feita com menor frequência do que se considera ideal para o controle dos estoques; essa basicamente ocorre quando há necessidade de compra ou, em muitos casos, nem mesmo nesses momentos. As empresas possuem um nível de controle significativamente maior sobre seus estoques e atividades que sofrem influência desses estoques quando adotam o controle permanente. Apesar disso, em ambas as formas, é necessário que sejam realizadas descrições detalhadas dos materiais para o controle (Silva; Marion, 2013). Para detalhar os estoques, a ficha de controle é o instrumento mais comumente utilizado. Essa ficha deve apresentar a data, quantidade, preço unitário e total correspondente às entradas e saídas, bem como o correspondente saldo para cada item do estoque. Para manutenção da ficha, 5 deve ser considerado o preço unitário de compra contendo seus custos de aquisição, transformação e outros custos inerentes ao processo. Veja a seguir: 6 Tabela 1 – Ficha de controle de estoque Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Quantidade Preço Unitário Valor Total Quantidade Preço Unitário Valor Total Quantidade Preço Unitário Valor Total Fonte: Dutra, 2012, citado por Silva; Marion, 2013. 1.2 Custos dos estoques Conforme a NBC TG 1000 (R1), os custos de aquisição abrangem o preço de compra, tributos de importação e outros tributos (com exceção daqueles recuperáveis), transporte, manuseio e outros custos diretamente atribuíveis à aquisição de bens acabados, materiais e serviços, além dos descontos comerciais, abatimentos e outros itens similares que devem ser deduzidos na determinação dos custos de compra de mercadoria. Os custos de transformação dos estoques, por sua vez, incluem custos diretamente relacionados às unidades de produção, tal como mão de obra direta. Além disso, há os custos indiretos de produção, fixos e variáveis, que devem ocorrer de forma sistemática na fase em que os produtos em elaboração se convertem em produtos acabados. Alguns custos são excluídos dos custos dos estoques e reconhecidos como despesas no período em que são incorridos de acordo com a NBC TG 1000 – R1: Quantidade anormal de material, mão de obra ou outros custos de produção desperdiçados; Custos de estocagem, a menos que tais custos sejam necessários durante o processo de produção, antes do estágio de produção mais avançado; Despesas indiretas administrativas que não contribuem para colocar os estoques até sua localização econdição atuais; Despesas de vendas. Empresas prestadoras de serviço podem ter serviços sendo executados e, dessa forma, deve ser mensurado e registrado na conta estoques de serviços em execução. Os custos desse estoque compreendem mão de obra e custos de pessoal diretamente envolvidos na prestação de serviço, incluindo pessoal de supervisão e custos indiretos atribuíveis. Outra situação específica para atribuição dos custos abrange a produção agrícola que a entidade colhe de seus 7 ativos biológicos, os quais devem ser avaliados no reconhecimento inicial pelo valor justo menos as despesas estimadas para vender no ponto de colheita. 1.3 Métodos de avaliação de estoques Na concepção de Silva e Marion (2013), o método de avaliação de estoques surge devido à necessidade de controlar o custo de uma mercadoria quando unidades idênticas de mercadorias são adquiridas por diferentes custos unitários durante um período. Assim, no momento da venda, é preciso identificar seu custo unitário utilizando um dos seguintes métodos de avaliação: PEPS (primeiro que entra é primeiro que sai – FIFO – first-in, first-out); UEPS (último que entra é o primeiro que sai – LIFO – last-in, first-out); ou custo médio ponderado. Essa é uma escolha contábil que implica em diferentes custos de estoques e, consequentemente, em lucros distintos para cada um dos métodos. No entanto, dentre esses métodos, apenas o PEPS e o custo médio ponderado são aceitos no Brasil pela legislação fiscal. Ao escolher o PEPS, o estoque final é composto pelos custos mais recentes, uma vez que os estoques mais antigos são os primeiros que saem. Ademais, com a tendência de elevação dos preços pela inflação, o estoque tende a possuir saldos mais elevados, bem como os custos das mercadorias vendidas tendem a ser menores e os lucros maiores. Ao escolher o custo médio ponderado, o estoque final é composto pelos custos médios. E, se comparado ao PEPS, com o passar do tempo tende a haver pequenas elevações nos preços dos estoques, uma vez que tais elevações são diluídas a todas as unidades em estoques. Assim, quanto maior for a quantidade de um item mantido em estoque, menor tende a ser o impacto das elevações em seus respectivos valores unitários e, consequentemente, no saldo em estoque. Nessa linha, os custos tendem a ser maiores do que os PEPS, caso a empresa enfrente consequências crescentes de inflação e menos lucro. Percebe-se que a escolha do método de avaliação de estoque pode impactar valores distintos nas demonstrações contábeis e devem refletir de forma distinta a cada um dos stakeholders. Vamos utilizar um exemplo para que você possa perceber e acompanhar as variações para cada um dos três métodos, sendo que no Brasil é permitida a utilização de apenas dois deles. Suponhamos que a empresa Doces e Sabores efetuou três remessas de compra e duas de venda de um mesmo doce no mês de abril de 2019, conforme apresentado a seguir: 8 02/04/2019 – Compra de mercadoria, 15 unidades, preço unitário R$ 4,50; 08/04/2019 – Venda de mercadoria, 14 unidades, preço unitário R$ 10,50; 12/04/2019 – Compra de mercadoria, 21 unidades, preço unitário R$ 4,70; 25/04/2019 – Compra de mercadoria, 40 unidades, preço unitário R$ 4,45; 29/04/2019 – Venda de mercadoria, 30 unidades, preço unitário R$ 10,00. Quadro 1 – Método PEPS (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair) Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. 02/04 NF 1708 15 4,50 67,50 15 4,50 67,50 08/04 NF 1032 14 4,50 63,00 1 4,50 4,50 12/04 NF 1891 21 4,70 98,70 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 25/04 NF 1996 40 4,45 178,00 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 40 4,45 178,00 29/04 NF 1105 1 4,50 4,50 32 4,45 142,40 21 4,70 98,70 8 4,45 35,60 30 138,80 04/2019 76 344,20 43 201,80 32 4,45 142,40 Quadro 2 – Método UEPS (Último a Entrar, Primeiro a Sair) Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. 02/04 NF 1708 15 4,50 67,50 15 4,50 67,50 08/04 NF 1032 14 4,50 63,00 1 4,50 4,50 12/04 NF 1891 21 4,70 98,70 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 25/04 NF 1996 40 4,45 178,00 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 40 4,45 178,00 29/04 NF 1105 30 4,45 133,50 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 10 4,45 44,50 32 147,70 04/2019 76 344,20 43 196,50 32 147,70 Quadro 3 – Método do Custo Médio Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. 02/04 NF 1708 15 4,50 67,50 15 4,50 67,50 08/04 NF 1032 14 4,50 63,00 1 4,50 4,50 12/04 NF 1891 21 4,70 98,70 1 4,50 4,50 21 4,70 98,70 22 4,69 103,20 25/04 NF 1996 40 4,45 178,00 22 4,69 103,20 40 4,45 178,00 62 4,54 281,20 29/04 NF 1105 30 4,54 136,06 32 4,54 145,14 04/2019 76 344,20 43 199,06 32 4,54 145,14 A partir dos quadros apresentados e do Quadro 4, que você verá a seguir, é possível perceber que o valor da receita não é afetado e o custo da mercadoria vendida é diferente, para cada um dos métodos, pois os custos unitários são distintos para cada uma das vezes em que são adquiridas novas unidades de 9 estoque do doce, de forma que o critério de baixa das unidades do estoque interfere no custo e, consequentemente, no saldo final em estoque. Nesse sentido, o controle de estoque é considerado uma importante ferramenta de gestão, servindo para evidenciar a quantidade de itens disponíveis em estoque, o custo das mercadorias adquiridas e vendidas, bem como o custo da mercadoria mantida em estoque. Tais informações são imprescindíveis para a formação do preço de venda, o qual influencia na sobrevivência da empresa (Silva; Marion, 2013). Quadro 4 – Resumo: principais diferenças entre os métodos de avaliação de estoques DESCRIÇÃO PEPS UEPS CUSTO MÉDIO Receita com venda da mercadoria (Preço*Quantidade) 447,00 447,00 447,00 Custo da Mercadoria Vendida (CMV) 201,80 196,50 199,06 Lucro bruto (Receita - CMV) 245,20 250,50 247,94 Estoque Final (Estoque Inicial + Compras - CMV) 142,40 147,70 145,14 1.4 Manutenção de estoques Os estoques mantêm valores significativos de uma empresa, e se esta mantiver um mesmo nível de crescimento, a tendência é que os estoques se tornem permanentes. Manter elevados níveis de estoques pode comprometer o capital de giro da empresa e, consequentemente, a sua sobrevivência. Existem algumas formas de reduzir sensivelmente o volume de dinheiro investido nesses ativos, para os quais sugere-se a pesquisa adicional segundo os autores Júnior, Rigo e Cherobim (2010) e Assaf Neto (2016). No entanto, é necessário manter um nível adequado de estoques para as finalidades básicas, as quais, segundo Júnior, Rigo e Cherobim (2010), podem ser: Estoques operacionais, funcionais ou mínimos: representa a quantidade suficiente para garantir a operação e desenvolvimento da empresa. Os níveis de estoques precisam ser adequados às entradas e saídas de materiais e produtos, de acordo com as características específicas do processo de compra, transformação e venda da mercadoria. Para as empresas de atividade comercial, os estoques devem estar associados às expectativas de venda. Estoques de segurança: são estoques adicionais de materiais e produtos necessários para o processo produtivo, que são mantidos para superar 10 imprevistos de fornecimento que possam afetar a produção e, consequentemente, as vendas. Essa atitude aumenta os níveis de estoque da empresa por medida de segurança, aumentando também os riscos, uma vez que afeta o giro da empresa. Contudo, tal ato é justificado pela continuidade do fornecimento dos produtos aos clientes. Estoques especulativos: são mantidos para que a empresa possa se beneficiar e reduzir os efeitos negativos de variações nos preços dos materiaisno mercado. As empresas tendem a efetuar compras adicionais de estoques em momentos de volatilidade nos preços, principalmente antes de um aumento das matérias-primas necessárias, para evitar que esses onerem os custos de produção. Essa decisão, de utilizar estoques especulativos, deve ser analisado com cuidado, analisando a relação custo-benefício. TEMA 2 – ATIVO IMOBILIZADO E REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS (IMPAIRMENT) Sobre os estoques e ativos imobilizados, a NBC TG 1000 (R1) destaca que a maior parte dos ativos não financeiros, os quais a entidade reconhece inicialmente pelo custo histórico, são, posteriormente, avaliados sobre outras bases de mensuração. Têm-se como exemplos descritos nessa norma: (a) a empresa avalia o ativo imobilizado pelo menor valor entre o custo depreciado e o valor recuperável deste; (b) a empresa avalia os estoques pelo menor valor entre o custo e o preço de venda estimado descontado das despesas de produção e de venda; e (c) a empresa deve reconhecer a perda por redução de valor recuperável relacionado aos ativos que estão em uso ou mantidos para venda (NBC TG 1000 R1, 2016). Ativos imobilizados são bens tangíveis de longo prazo, que ocupam seu espaço e são considerados bens fixos (mesmo que utilizado para fins de produção ou transporte). Podemos utilizar, como exemplo, móveis, utensílios, máquinas, equipamentos, instalações, terrenos, veículos, dentre outros. A Lei 6.404/1976 sofreu alterações pela Lei 12.973/2014, a qual altera de R$ 326,61 para R$ 1.200, o valor do custo de aquisição de bens de ativo não circulante, imobilizado e intangível, que pode ser deduzido como despesa operacional no valor modificado ou prazo de vida útil superior a um ano (Silva; Marion, 2013; Brasil, 2014). Silva e Marion (2014) destacam que os imobilizados que não 11 possuem mais uso ou capacidade de uso, não devem se manter registrados como ativo imobilizado. Assim, deveria haver o questionamento sobre o bem ser de longa duração; caso não for, registra-se como despesas, mas no caso de ser, deve-se questionar, ainda, se o ativo é usado para um fim de produção. Caso a resposta seja negativa, deve-se registrar como investimento, e havendo resposta afirmativa, registra-se ou se mantêm registrado como imobilizado. Ativos adquiridos com intenção de venda, ou no surgimento da intenção de venda daqueles existentes não devem ser classificados como imobilizados, mas sim como investimentos. Em conformidade com a NBC TG 1000 (R1), os custos do ativo imobilizado abrangem: (a) o preço de aquisição, incluindo taxas, tributos não recuperáveis, deduzidos dos descontos e abatimentos; (b) custos para deixar o ativo em condição de funcionamento (frete, montagem, instalação e testes); (c) estimativa de desmontagem, remoção e restauração do ativo. Para a referida norma, não são considerados custos do imobilizado: (a) de abertura de novas instalações; (b) de inserção de novo produto; (c) custos de administração e treinamentos para novos negócios; (d) administrativos e indiretos; e (e) de empréstimos. O reconhecimento deve ser equivalente à aquisição do ativo à vista na data em que ocorreu. No caso de a aquisição ter sido realizada a prazo e os respectivos pagamentos ocorrerem após a contratação normal, o reconhecimento deve ocorrer pelo valor presente dos pagamentos futuros. A norma trata, ainda, que a entidade deve mensurar o ativo imobilizado após o reconhecimento inicial, devendo-se aplicar a depreciação ou quaisquer perdas por redução ao valor recuperável (impairment). 2.1 Depreciação A depreciação ocorre devido ao desgaste de um bem, assim, deve ser realizada ao longo de sua vida útil. Alguns fatores podem acelerar o processo de depreciação, alterando o valor residual ou a sua vida útil. Se isso ocorrer, a entidade deve registrar a mudança ocorrida. A depreciação de um ativo imobilizado se inicia no momento em que este está disponível para uso (condições de uso e local adequado) e se encerra quando for baixado. Não é mais necessário efetuar a depreciação de um bem somente quando este for baixado (ou totalmente exaurido), não devendo este ser encerrado apenas por estar ocioso ou não ser utilizado no processo produtivo. 12 Para determinar a vida útil, a própria NBC TG (R1) (2016) orienta que a depreciação seja feita considerando: (a) uso esperado pelo ativo – pela capacidade esperada ou produção em itens; (b) desgaste ou quebra do ativo – pelos fatores operacionais; e (c) obsolescência técnica ou comercial – pelas mudanças ou melhorias na produção ou, ainda, pela demanda de mercado; (d) limites legais ou semelhantes ao uso do ativo – pelo término de contrato (de arrendamento, por exemplo). Silva e Marion (2014) descreve que a depreciação deve ser reconhecida ainda que o valor justo ultrapassar o valor contábil, desde que seu valor residual não ultrapasse o valor contábil. A manutenção do ativo e prorrogação de sua vida útil não elimina a necessidade de depreciá-lo. O valor justo representa o valor que um ativo pode ser trocado, um passivo liquidado ou ainda uma relação em que não haja privilégios entre as partes. Já o valor contábil é o valor pelo qual um ativo ou passivo é reconhecido na demonstração; balanço patrimonial. 2.1.1 Métodos de depreciação O método de depreciação adotado por uma empresa deve refletir o padrão de consumo dos benefícios econômicos futuros. O método de depreciação deve ser revisado ao final de cada ano de atividade a fim de detectar se houveram alterações significativas no padrão de consumo anteriormente previsto. Assim, uma vez que são detectadas alterações, o método deve ser alterado e registrado. Alguns dos métodos de depreciação a seguir são utilizados: método linear ou quotas constantes; método do saldo decrescente duplo e método das unidades produzidas (Silva; Marion, 2014). O método linear determina valores idênticos de depreciação para cada ano de vida útil de um determinado ativo. Este é calculado dividindo o valor depreciável (valor de custo – valor residual) pelo tempo de vida útil. Podemos usar como exemplo um bem cujo valor de custo seja R$ 20.000, com valor residual de R$ 4.000 e vida útil de 10 anos. Assim, calcula-se o valor da depreciação anual = [(20.000 – 4.000) / 10]. Caso o ativo seja utilizado em apenas uma parte do ano, a depreciação é dividida proporcionalmente a esta. O método do saldo decrescente duplo aponta uma despesa periódica e decrescente em relação à vida útil de um ativo. Podemos utilizar como exemplo um ativo com vida útil de 10 anos com taxa do saldo decrescente duplo de 20%, conforme calculo = [(1/10)*2], ou seja, [10%*2]. Tendo como base o exemplo 13 utilizado no método linear, veja os valores de depreciação para cada um dos anos: Quadro 5 – Depreciação pelo método do saldo decrescente duplo. Ano Custo Depreciação acumulada no início do ano Valor contábil no início do ano Taxa de saldo decrescente duplo Depreciação do ano Valor contábil no fim do ano 1 20.000 20.000,00 20% 4.000,00 16.000,00 2 20.000 4.000,00 16.000,00 20% 3.200,00 12.800,00 3 20.000 7.200,00 12.800,00 20% 2.560,00 10.240,00 4 20.000 9.760,00 10.240,00 20% 2.048,00 8.192,00 5 20.000 11.808,00 8.192,00 20% 1.638,40 6.553,60 6 20.000 13.446,40 6.553,60 20% 1.310,72 5.242,88 7 20.000 14.757,12 5.242,88 20% 1.048,58 4.194,30 8 20.000 15.805,70 4.194,30 194,30 4.000,00 9 20.000 16.000,0021.3 4.000,00 4.000,00 10 20.000 16.000,00 4.000,00 4.000,00 E, por fim, o método de unidades produzidas aponta o mesmo valor de despesa com depreciação para cada unidade produzida, ou unidade utilizada no ativo (como horas). A taxa de depreciação anual podo ser calculada pelo número de unidades produzidas pelo ativo, dividido pelo número total de unidades estimadas para serem produzidas durante toda a vidaútil do bem. Utilizando o mesmo exemplo, considere um custo de R$ 20.000 e um valor residual de R$ 4.000, com vida de 15.000 horas de atividade. Assim, calcula-se = [(20.000- 4.000)/15.000], ou seja, R$ 1,07 por hora. Para o primeiro ano, a empresa estipula o consumo de 1.300 horas, assim, o custo seria = [(1.300*1,07)], ou seja, R$ 1.391 de depreciação por unidade no primeiro ano. Para determinar as taxas de depreciação, Silva e Marion (2014) trazem as tabelas do Decreto n. 3.000/1999, do Regulamento do Imposto de Renda: Quadro 6 – Estimativa de taxa de depreciação para fins tributários Itens Taxa anual de depreciação Anos de vida útil Terrenos Não existe Indeterminado Móveis e Utensílios 10% 10 Veículo 20% 5 Máquinas e Equipamentos 10% 10 Instalações 10% 10 Edifícios 4% 25 Equipamentos de Informática 20% 5 14 Quadro 7 – Coeficientes para cálculo de depreciação acelerada Horas de Operação Coeficiente 08 horas 1,0 16 horas 1,5 24 horas 2,0 Ressalta-se que o Decreto n. 3.000/1999, que trata do Regulamento do Imposto de Renda, foi inteiramente revogado por outros decretos. Contudo, para fins gerais, os Quadros 6 e 7 ainda são utilizados. Para a obtenção de informações mais específicas sobre o Imposto de Renda, sugere-se a consulta da Instrução Normativa RFB n. 1700 (Brasil, 2017) e RFB n. 1881 (Brasil, 2019). 2.2 Redução ao valor recuperável de ativos Os ativos imobilizados que forem considerados relevantes e que apresentarem indicativos de desvalorização devem ser testados a fim de detectar o valor recuperável estimado. O impairment deve ser realizado nos bens do ativo não circulante, bem como aqueles mantidos para venda. O bem pode estar registrado contabilmente por um valor superior ao seu valor recuperável, seja pelo uso ou venda. O valor recuperável pode ser entendido pelo maior valor entre o valor justo líquido e as despesas de venda de um bem e seu valor de uso, ou seja, capacidade de geração de fluxos de caixa futuros. Anualmente, as empresas devem testar os ativos para analisar se estes perderam valor, de forma que esteja reconhecido bens acima de seu valor recuperável. TEMA 3 – ATIVOS INTAGÍVEIS A palavra intangível vem do latim tangere, ou tocar. Dessa forma, o intangível representa os bens que não podem ser tocados, pois não possuem existência física (Silva; Marion, 2014). Esses são limitados aos direitos e benefícios que estes conferem ao seu proprietário. A NBC TG 1000 (R1) define por ativo intangível um bem não monetário identificável fisicamente. Pode-se dizer, igualmente, que são ativos incorpóreos, cujo valor é limitado aos seus respectivos direitos e benefícios. Ativo intangível é considerado uma área de difícil compreensão por muitos pesquisados, portanto, destaca-se que a NBC TG 1000 (R1) trata sobre o assunto em duas seções: 18 – Ativo Intangível Exceto Ágio por Expectativa de Rentabilidade Futura (Goodwill), e 19 – Combinação de Negócios e Ágio por Expectativa de Rentabilidade Futura (Goodwill). Outra 15 seção da norma trata ainda dos ativos intangíveis mantidos para venda no curso normal dos negócios, na Sessão 23. A norma destaca ainda que não podem ser considerados ativos intangíveis os ativos financeiros e os diretos de exploração de recursos minerais e suas reservas (por exemplo, petróleo, gás natural e recursos não regenerativos similares). Além disso, podem ser considerados ativos intangíveis aqueles incorpóreos que estão sob controle da empresa e que são capazes de gerar benefícios futuros: alguns investimentos de longo prazo – gastos realizados com bens de capital; goodwill – ágio (expectativa de rentabilidade futura = diferença entre o valor pago e o valor de mercado) na aquisição de investimentos; marcas (identificação de uma empresa com seus produtos) e patentes (direitos exclusivos de produção e venda de produtos); desenvolvimento de software – produto desenvolvido para der comercializado ou vendido, sendo parte ou não de um produto físico; franquias – exploração do direito de uso da marca; direitos autorais – direito exclusivo de publicação e venda; licenças – permissão para fazer algo; dentre outros (Silva; Marion, 2014). O reconhecimento dos ativos intangíveis, conforme a norma, requer que a empresa demonstre: (1) que esse se enquadre e se defina como tal; e (2) satisfaça os critérios de reconhecimento, ou seja, que tenha probabilidade de benefícios econômicos futuros e que possa ser mensurado confiavelmente. Silva e Marion (2014) preocuparam-se com a significação da mensuração confiável e destacam que, para isso, é necessário que sejam cumpridas as seguintes funções: fidedignidade e representação – representar fielmente os fenômenos; verificabilidade – consenso entre os indivíduos responsáveis pela mensuração sobre o valor e sobre a utilização adequada do método; e neutralidade – não há viés. Contudo, o ativo intangível deve ser reconhecido no balanço apenas se: (1) for provável que gere benefícios econômicos futuros à entidade; (2) o custo puder ser mensurado com confiança; e (3) for possível identificá-lo e separá-lo da empresa, ou seja, que pode ser vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado, seja individualmente ou em conjunto a um contrato de ativo ou passivo a esse relacionado, segundo a NBC TG 1000 – R1. Essa norma trata, também, do momento em que um ativo intangível deve ser baixado: (1) no momento da venda; ou (2) quando não se pode esperar benefícios econômicos futuros associados a esse. Para não cometer erros enquanto ao processo de 16 reconhecimento e/ou baixa, destaca-se algumas características que diferenciam os ativos intangíveis: (1) inexistência de usos alternativos; (2) falta de separabilidade; e (3) maior incerteza com relação à recuperação. Os ativos intangíveis, adquiridos em combinação de negócios, são, normalmente, mensurados e reconhecidos pelo seu valor justo. A união de entidades ou negócios, a qual produz demonstrações contábeis de uma única entidade, da adquirente, se for mensurada com confiabilidade suficiente, é registrado a valor justo. Contudo, é necessário que esses ativos possuam as características destacadas no parágrafo anterior para atender aos critérios do ativo intangível. O reconhecimento inicial de um ativo intangível deve acontecer pelo custo, o qual compreende o preço de compra (incluindo os tributos de importação e compra não recuperáveis e deduzidos dos descontos e abatimentos) e os demais custos diretamente atribuíveis à elaboração. No entanto, se o ativo intangível for adquirido em combinação de negócios, o custo do ativo é o seu valor justo. A empresa pode gerar um ativo intangível internamente e, assim, reconhecer os gastos incorridos internamente para a sua geração, como despesas no momento da ocorrência, a não ser que tais gastos se tornem parte do custo de outro ativo. Os gastos com pesquisa devem ser registrados contabilmente como despesa no momento em que forem incorridos, ou seja, fazem parte do resultado do exercício. No entanto, aqueles gastos incorridos na fase de desenvolvimento podem ser registrados como ativo intangível se for comprovada a viabilidade técnica e econômica, de forma que comprove os benefícios futuros gerados a partir desse. Uma vez que o gasto for registrado como despesa, este não deve ser reconhecido em data futura como custo (e assim registrado em seu ativo intangível) (Silva; Marion, 2014). A norma, além disso, orienta que o ativo intangível deve ser considerado como tendo vida útil finita. No entanto, ativos intangíveis originados de direitos contratuais, por exemplo, não podem ter vida útil superior ao direito. A amortização desse ativo deve ser registrada como despesa, e deve ter início apenas a partir do período em que esse ativo está disponível para utilização. Aentidade deve escolher o método de amortização que reflita a forma que a empresa espera consumir os benefícios econômicos futuros associados. De forma geral, é entendido que o valor residual do ativo intangível é igual a zero, a menos que: (1) exista compromisso da empresa para com terceiros para comprar 17 o ativo ao final de sua vida útil; ou (2) exista um mercado ativo para esse ativo, de modo que seja possível estimar seu valor por meio desse e que tal mercado exista até o final de sua vida útil. Sobre o ativo intangível, a entidade deve divulgar, para cada classe: (1) vida útil e taxas de amortização; (2) método de amortização; (3) valor contábil bruto e valor das amortizações acumuladas para o início e o final do período; (4) conta da demonstração do resultado em que incidem qualquer amortização proveniente desses ativos; e (5) conciliação a valor contábil no início e no final do período (devendo constar adições, baixas, aquisições por meio de combinação de negócios, amortização, impairment e outras alterações). Além disso, deve ser divulgado: (1) descrição, valor contábil e período de amortização remanescente de qualquer ativo intangível individual que seja material para as demonstrações contábeis; (2) os ativos intangíveis adquiridos por meio de subvenção governamental e inicialmente reconhecidos a valor justo (o valor justo reconhecido inicialmente e seus respectivos valores contábeis); (3) existência de valores contábeis dos ativos intangíveis para o qual a entidade tenha titularidade restrita ou que tenham sido dados como garantia de passivos; e (4) os valores respectivos aos acordos contratuais para aquisição de ativos intangíveis. Além do mais, segundo essa norma, devem ser divulgados os valores gastos com pesquisa e desenvolvimento reconhecidos como despesa do período. TEMA 4 – INSTRUMENTOS FINANCEIROS BÁSICOS E CUSTO DOS EMPRÉSTIMOS Outro importante item para as Micro, Pequenas e Médias Empresas – MPMEs, que são destacados na NBC TG 1000 (R1), são os “Instrumentos Financeiros Básicos” – Seção 11, e os “Outros Tópicos sobre Instrumentos Financeiros” – Seção 12. A Seção 11 exige o uso do método do custo amortizado para todos os instrumentos financeiros básicos, exceto para investimentos em ações preferenciais não conversíveis e não resgatáveis, e ações ordinárias não resgatáveis, negociadas em mercados organizados ou cujo valor justo possa ser avaliado em valor confiável. Podem ser considerados como instrumentos financeiros básicos: (1) caixa; (2) instrumento de dívida (como, por exemplo, conta bancária, títulos ou empréstimos a receber ou a pagar) que atenda alguns requisitos; (3) compromisso de receber um empréstimo que (a) não pode ser liquidado em 18 dinheiro, e (b) quando o compromisso é executado, espera-se que o empréstimo atenda aos requisitos; e (4) investimentos em ações preferenciais não conversíveis e ações ordinárias ou preferenciais não resgatáveis. O instrumento financeiro que atender a todos os requisitos de (1) e (2) deve ser contabilizado pelo método do custo amortizado de acordo com a NBC TG 1000 – R1: 1. Retornos ao detentor são: (a) uma quantia fixa; (b) uma taxa de retorno fixada ao longo da vida do instrumento; (c) um retorno variável que, por toda a vida do instrumento, é idêntica à taxa de juros observável ou cotada (como, por exemplo, a LIBOR); ou (d) uma combinação de tal taxa fixa e da taxa variável, desde que ambas as taxas, fixa e variável, sejam positivas. Para cálculo de retorno de juros de taxa fixa e variável, o juro é calculado multiplicando-se a taxa aplicável pelo valor principal em aberto no período. 2. Não há disposição contratual que possa, por si só, resultar na perda do titular da quantia principal ou quaisquer juros atribuídos ao período corrente ou aos períodos anteriores. 3. As disposições contratuais que permitem que o emissor (devedor), pague antecipadamente um instrumento de dívida, ou permitem que o titular (credor) resgate antecipadamente, não são contingentes em relação a eventos futuros. 4. Não há retornos condicionais ou disposições de reembolso, exceto para o retorno da taxa variável descrita em (1) e pelas disposições de pagamento antecipado descritas em (3). A partir do momento em que um ativo ou passivo é reconhecido inicialmente, a entidade deve mensurar e registrar pelo custo da transação, a menos que se caracterize por uma transação financeira. Se o acordo constituir uma transação financeira, este deve ser avaliado com base no valor presente dos pagamentos futuros, descontados pela taxa de juros de mercado para um instrumento de dívida semelhante. Ao final de cada exercício, a empresa deve avaliar os instrumentos financeiros sem nenhuma dedução dos custos de transação de que esta possa vir a arcar com a venda ou alienação. O custo amortizado de um ativo ou passivo financeiro, de acordo com a mesma norma (NBC TG 1000 – R1), deve ser apresentado na data de divulgação, liquido das quantias: (1) valor condizente ao reconhecimento inicial; 19 (2) menos qualquer amortização do principal; (3) diminuído ou acrescido da amortização acumulativa, por meio do método de taxa de juros efetiva, de quaisquer diferenças do reconhecimento inicial e do valor no vencimento; e (4) menos, no caso do ativo financeiro, qualquer redução à valor recuperável ou reconhecimento de perda por provável não recebimento. Ao final de cada exercício, para efetuar a divulgação, a empresa deve avaliar se há evidências objetivas quanto ao valor recuperável dos ativos financeiros avaliados com base no custo ou custo amortizado. No caso de a empresa detectar a perda, esta deve registrar o impairment. Tais evidências objetivas, incluem dados observáveis que chamam a atenção do titular do ativo, os quais podem ser: (1) dificuldade financeira visível e significativa do emissor ou devedor; (2) quebra de contrato, devido à inadimplência total ou parcial (podendo ser, inclusive, apenas do principal ou dos juros); (3) concessão de algo (descontos, por exemplo) devido à dificuldade financeira; (4) probabilidade significativa que o devedor declare falência ou efetue outra forma de reorganização financeira; e (5) indícios de redução de fluxos de caixa futuros a partir de dados observáveis, de forma que seja possível a mensuração. Além disso, mudanças no ambiente tecnológico, econômico ou legal em que a empresa opere, podem ser utilizadas como evidências de impairment. A empresa deve avaliar todos os seus instrumentos patrimoniais, independentemente se sua importância, seja de forma individual ou em grupo, a depender das características de risco. TEMA 5 – DISCLOSURE DE PMEs A NBC TG 1000 (R1) traz interpretações e comunicados que tratam das exigências contábeis enquanto ao reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação. A norma reconhece que muitas incertezas que cercam eventos e circunstâncias são divulgados, obedecendo ao princípio da prudência. A divulgação em período intempestivo faz com que ocorra a perda da relevância dessa informação. O conjunto completo de demonstrações contábeis inclui: (1) Balanço Patrimonial – BP; (2) Demonstração do Resultado – DR; (3) Demonstração do Resultado Abrangente – DRA; (4) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL; (5) Demonstração do Fluxo de Caixa – DFC; e (6) Notas Explicativas – NE, contendo o resumo das políticas contábeis 20 significativas e demais informações exploratórias dessas. As referidas demonstrações contábeis devem abranger o período de divulgação. As empresas devem apresentar o conjunto completo de demonstrações contábeis, inclusive informações comparativas, pelo menos com frequência anual. Quando a data de encerramento do período de divulgação for alterada e, assim, as demonstrações contábeis forem apresentadas para um período maior oumenor que um ano, a empresa deve divulgar as informações sobre: (1) o fato; (2) as razões que a levaram a utilizar demonstrações por período diferente ao padrão (um ano); e (3) os fatos que tornam informações contidas nas demonstrações não inteiramente comparáveis, de um período para o outro, escolhas contábeis. Em notas explicativas, o resumo das principais práticas contábeis deve ser exposto, devendo constar: (1) a base de mensuração utilizada na elaboração da informação; e (2) outras práticas contábeis que sejam consideradas relevantes, pela empresa, para a compreensão das demonstrações contábeis, de acordo com a NBC TG 1000 – R1. A referida norma recomenda que a empresa divulgue, em notas explicativas, informações relativas aos pressupostos utilizados na geração das informações e que provocam incertezas enquanto às estimativas de fluxos de caixa futuros. Dessa forma, os usuários da informação passam a ter ciência sobre o risco significativo de alteração do material e nos valores registrados nos ativos e passivos durante o exercício financeiro seguinte. Assim, a respeito dos ativos e passivos que apresentam algum grau de incerteza, devem ser divulgados em notas: (1) sua natureza e (2) os respectivos valores registrados ao final do período de divulgação. Quando a empresa adere a uma mudança na prática contábil devido à mudança na norma, e essa implica em efeitos sobre o exercício corrente ou quaisquer períodos anteriores, ou, ainda, possa ter efeitos em períodos futuros, a empresa deve divulgar: (1) a natureza de alteração da prática contábil; (2) para o exercício corrente e anterior, esta deve apresentar, na medida do possível, o ajuste de cada conta afetada pela alteração; (3) igualmente, deve-se apresentar, na medida do possível, o valor correspondente aos ajustes; e (4) deve-se apresentar explicações no caso de não ser possível determinar os valores referentes aos itens (2) e (3). Entretanto, quando a mudança na prática contábil ocorre de forma voluntária, implicando em efeitos sobre o exercício corrente ou quaisquer 21 períodos anteriores, a empresa deve divulgar: (1) a natureza de alteração da prática contábil; (2) os motivos de que a nova prática torna as informações mais relevantes e confiáveis à prática adotada anteriormente; (3) na medida do possível, os valores correspondentes aos ajustes das contas devem ser divulgados de modo separado para: (a) o exercício corrente; (b) os exercícios anteriores; e (c) de modo agregado, para exercícios anteriores aos apresentados; e (4) deve-se apresentar explicações no caso de não ser possível determinar os valores referentes ao item anterior (3). A empresa deve divulgar, também, de acordo com a norma, qualquer mudança das estimativas contábeis e seus efeitos sobre os ativos, passivos, receitas e despesas no exercício corrente e para os exercícios futuros, se conseguir estimar. As empresas podem vir a cometer erros matemáticos na aplicação de práticas contábeis, omissões e interpretações erradas dos fatos, e até fraude. Assim, na medida do possível, a empresa deve corrigir os erros retrospectivamente, devendo: (1) reapresentar as demonstrações contábeis anteriores em que o erro ocorreu; e (2) se o erro ocorreu antes do período mais antigo apresentado, deve-se recalcular os saldos iniciais das contas de ativo, passivo e patrimônio. Sobre tais erros, a empresa deve divulgar: (1) a natureza do erro; (2) para cada erro, deve ser apresentado, na medida do possível, o valor correspondente a cada uma das contas; (3) assim como, na medida do possível, deve ser apresentado o valor da correção no período mais antigo; e (4) uma nota explicativa no caso de não ser possível a divulgação dos valores referentes aos itens (2) e (3). TROCANDO IDEIAS Você já havia lido ou estudado sobre os tratamentos contábeis específicos para as MPEs apresentados nesta aula? Conhecia os diferentes métodos de controle de estoques e compreendia o impacto desses nos valores de saldo de estoque, custo e, consequentemente, no lucro? Compreendia como se dá o procedimento de redução a valor recuperável dos ativos (impairment)? Tinha conhecimento sobre o que é um ativo intangível e como se dá a sua mensuração? Conseguia distinguir quais são os instrumentos financeiros básicos e como a mensuração desses instrumentos pode afetar o custo dos empréstimos? E, por fim, sabia qual era o conjunto completo de demonstrações 22 contábeis cabíveis às MPEs, bem como os cuidados e conteúdos imprescindíveis de divulgação? A partir da concepção sobre esta aula, que trata dos tratamentos contábeis específicos às MPEs, é possível compreender a importância dos cuidados a se ter com os registros iniciais das informações contábeis, bem como o acompanhamento dos ativos e passivos registrados, além do impacto da forma de avaliação e reavaliação para com as contas patrimoniais e de resultado. É também possível compreender que as normas de contabilidade não ditam, para todos os fatos, os procedimentos que devem ser adotados, mas as possibilidades de mensuração e formas de registro. Isso porque, a depender do tipo de empresa, os ativos e passivos devem ter importâncias formas de utilização distintas, para cada um de seus ativos e passivos. Dessa forma, cabe ao profissional contábil a escolha dos procedimentos contábeis que melhor refletem o valor do ativo, quando há discricionariedade na norma. E, assim, haverá implicações em valores atuais e futuros. NA PRÁTICA Responda às questões a seguir (as respostas encontram-se ao final deste documento). 1. Suponhamos que a empresa Doces e Sabores efetuou duas remessas de compra e três de venda de um mesmo doce no mês de maio de 2019, conforme apresentado a seguir: 10/05/2019 – NF 2032 de Compra, 50 unidades, preço unitário R$ 4,48; 13/05/2019 – NF 1207 de Venda, 35 unidades; 17/05/2019 – NF 1278 de Venda, 22 unidades; 20/05/2019 – NF 2101 de Compra, 25 unidades, preço unitário R$ 4,72; 27/05/2019 – NF 1299 de Venda, 30 unidades. Considere o saldo final do mês de abril de 2019 (conforme exercício desenvolvido no decorrer dessa aula) e efetue o controle dos estoques pelos dois métodos permitido pela Legislação Brasileira: PEPS e Média Ponderada. Assinale a alternativa INCORRETA: a. No mês 05/2019, houve entradas de 75 itens por um valor total de R$ 342,00 para ambos os métodos de controle de estoques. 23 b. No mês 05/2019, houve saídas de 87 itens por um valor total de R$ 389,91 e de R$ 394,92, respectivamente para PEPS e Média Ponderada. c. Há uma diferença de R$ 4,50 entre os saldos finais de mercadorias mantidas em estoque em relação as duas técnicas de controle (PEPS e Média Ponderada). d. O custo das unidades mantidas em estoque no final de maio é de R$ 4,72, considerando o método PEPS. e. O custo das unidades mantidas em estoque no final de maio é de R$ 4,61, considerando o método Média Ponderada. Questão para fórum de discussão: De que forma o teste de impairment pode contribuir para a qualidade da informação contábil? Quais são os impactos que este pode gerar na tomada de decisões gerenciais? FINALIZANDO Anteriormente conhecemos um pouco sobre o ambiente contábil das PMEs: (1) contabilidade como ferramenta de controle da gestão; (2) contabilidade PMEs e sua aplicação (CPC – PME); (3) diferenças entre CPC – PME e o conjunto completo de pronunciamentos contábeis; (4) pronunciamentos necessários na adoção inicial do CPC – PME; e (5) estrutura e funcionamento de empresas de serviços contábeis. Além disso, pudemos aprofundar alguns pontos específicos do pronunciamento contábil destinado às micro e pequenas empresas, conhecendo alguns tratamentos contábeis relacionados aos: (1) estoques; (2) impairment; (3) ativos intangíveis; (4) instrumentos financeiros básicos e custos dos empréstimos; e (5) disclosure,sendo que o conhecimento desses pontos é fator crucial para a apresentação e divulgação adequada das demonstrações contábeis aos seus interessados, de modo a demonstrar fidedignamente os valores que representam a situação econômico financeira das empresas. O pronunciamento contábil voltado para a elaboração das demonstrações contábeis das micro e pequenas empresas oferecem formas de mensuração distintas para os ativos e passivos, os quais impactam nas receitas e despesas e, consequentemente, nos lucros da empresa. Dessa forma, torna-se 24 imprescindível que o profissional contábil haja com ética, de forma a realizar as escolhas contábeis que demonstrem a real situação das empresas, de forma que tal essência prevaleça em relação à maximização do interesse próprio do gestor e/ou da empresa. Assim, a utilização da discricionariedade nas escolhas contábeis vem a ser um ponto positivo das normas, de forma que a contabilidade pode ser flexível os procedimentos podem ser repensados, uma vez que seja detectada a necessidade. 25 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei n. 12.973, de 13 de maio de 2014. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 maio 2014. BRASIL. Receita Federal. Instrução Normativa RFB n. 1700, de 14 de março de 2017. _____. Instrução Normativa RFB n. 1881, de 3 de abril de 2019. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC TG 1000 (R1). Contabilidade para pequenas e médias empresas, 2016. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1000(R1).pdf>. Acesso em: 11 out. 2019. LEMES JÚNIOR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SILVA, A. C. R. da; MARION, J. C. Manual de contabilidade para pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2013. 26 RESPOSTA 1. c. Resolução: (Método PEPS (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair e Método do Custo Médio) Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. 01/05 32 4,45 142,40 10/05 NF 2032 50 4,48 224,00 32 4,45 142,40 50 4,48 224,00 13/05 NF 1207 32 4,45 142,40 47 4,48 210,56 3 4,45 13,35 17/05 NF 1278 22 4,48 98,56 25 4,48 112,00 20/05 NF 2101 25 4,72 118,00 25 4,48 112,00 25 4,72 118,00 27/05 NF 1299 25 4,48 112,00 20 4,72 94,40 5 4,72 23,60 05/2019 75 342,00 87 389,91 20 4,72 94,40 Data Histórico ENTRADA SAÍDA SALDO Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. Qtd. Preço U. Valor T. 01/05 32 4,54 145,14 10/05 NF 2032 50 4,48 224,00 82 4,50 369,14 13/05 NF 1207 35 4,50 157,56 47 4,50 211,58 17/05 NF 1278 22 4,50 99,04 25 4,50 112,54 20/05 NF 2101 25 4,72 118,00 50 4,61 230,54 27/05 NF 1299 30 4,61 138,32 20 4,61 92,22 05/2019 75 342,00 87 394,92 20 4,61 92,22 Diferença no saldo final: 94,40 – 92,22 = 2,18. Resposta à questão para fórum de discussão: O teste de perda por valor recuperável de ativos tem sido considerado um grande avanço para a contabilidade, uma vez que estreita as relações entre a contabilidade financeira e gerencial, propiciando avanços na qualidade da informação contábil gerada e divulgada, quando do reconhecimento, pois os 27 valores expressos na divulgação das informações contábeis se aproximam da real situação da empresa, servindo para a tomada de decisões, tanto para os usuários internos, quanto para os usuários externos. Ao se tratar de um impairment sobre os estoques, há de se pensar sobre a viabilidade da concretização da venda, ajuste do preço de venda ou, ainda, leva a empresa a considerar outras possibilidades sobre o ativo. Em relação a um imobilizado, este deve levar os gestores a refletir sobre a permanência do bem na empresa, possibilidade de troca, manutenção ou, simplesmente, venda.
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