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Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Obter grandezas físicas em um sistema sem impulso externo. Relacionar o centro de massa com a conservação da quantidade de movimento. Explicar o porquê da ausência de impulso externo para haver conservação. Introdução A quantidade de movimento é um vetor característico de partículas em movimento. Quando há um sistema de partículas, cada uma das inte- grantes desse sistema possuirá um momento próprio, que contribui com a sua parcela para o momento total do sistema. Assim como no caso de uma partícula, a quantidade de movimento linear do sistema se conserva quando não há impulsos externos agindo sobre ele — ou seja, você pode realizar a medida da quantidade de movimento em qualquer instante de tempo e ela será a mesma. Essa é uma característica muito importante desse tipo de sistema. Neste capítulo, você aprenderá como utilizá-la. Conservação do momento linear O momento linear (ou quantidade de movimento linear) é a grandeza física que relaciona a massa e a velocidade de uma partícula. Para uma partícula, o momento linear é matematicamente expresso por: Cap_13_Dinamica.indd 1 09/03/2018 17:16:34 Em um sistema de partículas, cada uma vai ter o seu próprio momento linear, de modo que o momento linear total do sistema será: O princípio do impulso e quantidade de movimento linear, para um sistema de partículas, mostra que uma força externa produzirá um impulso externo capaz de alterar o momento linear inicial do sistema: A partir de (3), podemos verificar que, na ausência de impulsos externos , o momento linear inicial do sistema será exatamente igual ao momento linear final do sistema: ou, ainda, na forma: em que o índice 0 que acompanha a velocidade no lado esquerdo de (5) indica que é a velocidade inicial do sistema, e a ausência de índice, na velocidade no lado direito, indica a velocidade fi nal. Análise da conservação Uma análise de (5) é fundamental para compreender bem essa conservação. O primeiro ponto é ressaltar que o sistema está isolado, ou seja, não há ação de forças externas capazes de produzir um impulso externo, de modo que: Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais2 Cap_13_Dinamica.indd 2 09/03/2018 17:16:34 É importante notar que ainda é possível existir impulsos internos no sistema, mas as forças de interação ocorrerão em pares colineares, mas com sentidos opostos, de modo que os impulsos também terão sentidos opostos, resultando em uma soma líquida nula. Ou seja, se houver impulsos internos, não serão capazes de alterar a quantidade de movimento final do sistema. Nas situações em que (6) é válido, ocorrerá, portanto, a conservação da grandeza física momento linear. Mas o que significa de fato a conservação de uma quantidade? O (5) mostra é que, independentemente do que aconteça com o sistema, o valor numérico do momento linear inicial será o mesmo valor numérico calculado em qualquer outro instante do movimento. A seção a seguir discute situações em que a conservação ocorre. O momento linear individual das partículas pode mudar ao longo do processo, o momento linear total do sistema, não. Situações práticas As situações mais comuns para ilustrar a conservação do momento linear são as colisões. As colisões podem ser de três tipos: colisões completamente inelásticas — envolvem objetos que se acoplam após a colisão. Nesse caso, é importante ressaltar que o momento linear é conservado, mas a energia cinética, não. colisões parcialmente inelásticas — são colisões em que os objetos ficam separados após a colisão mas que foram deformados de alguma maneira no choque. Aqui, assim como no caso anterior, ocorre a conservação do momento linear mas a energia cinética também não é conservada. Neste caso, porém, não é trivial compreender o que ocorre após o movimento pois existem muitas soluções que satisfazem a conservação do momento linear. colisões elásticas — são colisões em que os objetos ficam separados após a colisão, mas que não são deformados pelo choque. Nesse caso, 3Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Cap_13_Dinamica.indd 3 09/03/2018 17:16:34 tanto a energia cinética quanto o momento linear do sistema são conservados. A seguir são abordadas algumas situações que ilustram esse tipo de colisão. Para iniciar, pode-se pensar em um pêndulo balístico, ou seja, uma bala atinge um bloco, ficando presa a ele, como mostrado na Figura 1. Esse é um exemplo de colisão inelástica, e todas as forças atuando no sistema são internas ao sistema bala–bloco, de modo que o impulso externo ao sistema é nulo. Figura 1. Bala ficando alojada no bloco em um pêndulo balístico. Fonte: adaptada de Almeida (c2018). Outro exemplo de colisão elástica bastante trabalhado em exercícios é o acoplamento entre vagões de trem ou entre o vagão e a locomotiva, como mostrado na Figura 2. Ao se acoplarem, passa a existir a ação de uma tensão, mas que ocorre em pares colineares com sentidos opostos, ou seja, da locomotiva para o vagão e do vagão para a locomotiva, de modo que a soma vetorial dessas forças seja nula, não produzindo nenhum impulso externo ao sistema. Desse modo, essa é outra situação em que o momento linear se conserva. Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais4 Cap_13_Dinamica.indd 4 09/03/2018 17:16:36 Figura 2. Dois trens que seguem na mesma direção e acoplam-se em um dado instante. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. Para colisões inelásticas, pode-se pensar em um jogo de sinuca. Quando as bolas do jogo colidem, não se deformam, sendo que têm velocidade e direção alteradas após a colisão. As forças envolvidas na colisão são internas ao sistema, não produzindo impulsos externos a ele. Figura 3. Colisão entre bolas de sinuca, que é um exemplo de colisão inelástica. Fonte: Whitford (2015). 5Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Cap_13_Dinamica.indd 5 09/03/2018 17:16:39 Por fim, para citar um exemplo para além das colisões, uma explosão interna que ocorre dentro de um corpo também não é capaz de produzir impulsos externos e alterar o seu momento linear inicial, como em um foguete — após queimar todo o seu combustível, uma pequena explosão separa o terceiro estágio do quarto estágio do foguete, como mostrado na Figura 4. Figura 4. Pequena explosão separando os estágios de um foguete. Fonte: Meriam e Kraige (2009, p. 200). Centro de massa Para facilitar a resolução do problema, em particular quando ocorrem coli- sões, é preferível trabalhar com o centro de massa do sistema, onde, para N partículas, vale: Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais6 Cap_13_Dinamica.indd 6 09/03/2018 17:16:41 em que a massa m que aparece no lado direito da equação (7) é a massa total do sistema: de modo que a velocidade do centro de massa possa ser determinada por: Essa é uma quantidade importante, pois, no caso de os sistemas ficarem acoplados após a colisão, passam a movimentar-se com a velocidade do centro de massa. Por exemplo, no sistema trem–vagão mostrado na Figura 2, inicialmente cada parte do sistema possui as suas velocidades indepen- dentes, e , respectivamente. Quando acontece o acoplamento dos dois, eles passam a mover-se com a mesma velocidade do centro de massa do sistema: No exemplo a seguir, esse tipo de cálculo é executado. É muito importante ressaltar que, em situações como o acoplamento dos trens, há casos em que estes movem-se em direções opostas, de modo que as suas velocidades terão sinais contrários. Por isso é fundamental definir o sentido positivo do eixo x no início do problema. 7Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Cap_13_Dinamica.indd 7 09/03/201817:16:41 Um trem de 15.000 kg move-se com velocidade de 2 m/s em direção a um vagão de 10.000 kg que está se movendo com velocidade de 0,5 m/s na mesma direção do trem. Em algum ponto, realiza-se um acoplamento suave entre as duas partes, como mostrado na figura abaixo. Determine a velocidade do centro de massa dos trens imediatamente após o acoplamento. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. Solução: O primeiro passo para resolver o problema é definir o sentido positivo do eixo x. Definido o eixo x como horizontal com sentido positivo para a direita, as duas velocidades serão positivas. Desse modo, basta aplicar (10) para a sua componente x Para exercitar a dica do quadro “Fique atento”, o exercício a seguir apresenta um problema similar, com os trens movendo-se em direções opostas. Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais8 Cap_13_Dinamica.indd 8 09/03/2018 17:16:43 Um trem de 15.000 kg move-se com velocidade de 2 m/s em direção a um vagão de 10.000 kg que está se movendo com velocidade de 0,5 m/s em direção oposta ao trem. Em algum ponto, realiza-se um acoplamento suave entre as duas partes, como mostrado na figura abaixo. Determine a velocidade do centro de massa dos trens imediatamente após o acoplamento. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. Solução: Assim como no problema anterior, o primeiro passo para resolver esse problema é definir o sentido positivo do eixo x. Definido o eixo x como horizontal, com sentido positivo para a direita, a velocidade do trem será positiva e a velocidade do vagão será negativa. Essa diferença é muito importante e afetará o resultado da velocidade do centro de massa. Aplicando a equação (10) para a sua componente x: 9Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Cap_13_Dinamica.indd 9 09/03/2018 17:16:45 O primeiro polímero sintético desenvolvido que teve grandes aplicações foi o baquelite. Após um momento evolutivo, chegou-se à era dos polímeros projetados, com destaque para o neoprene, que é uma borracha sintética. 1. Dois vagões, A e B, movem-se ao longo de um trilho horizontal, de modo a se acoplarem. O carro B, de 70 toneladas, move-se com velocidade de 1,25 m/s em direção ao carro A, de 50 toneladas, que se move com velocidade de 0,520 m/s. Determine a velocidade que os vagões seguirão após se acoplarem. a) 0,946 m/s. b) 0,0946 m/s. c) 9,46 m/s. d) 94,6 m/s. e) 0,00946 m/s. 2. Dois vagões, A e B, movem-se ao longo de um trilho horizontal, de modo a se acoplarem, nos sentidos mostrados na figura abaixo. O carro B, de 70 toneladas, move-se com velocidade de 1,25 m/s em direção ao carro A, de 50 toneladas, que se move com velocidade de 0,520 m/s. Determine a velocidade que os vagões seguirão após se acoplarem. a) 0,0512. b) 51,2. c) 0,0512. d) 5,12. e) 0,512. 3. Um pacote de 8 kg é arremessado em um carrinho de 17 kg, inicialmente em repouso, conforme o ângulo indicado na figura abaixo. Considerando que o carrinho tem uma superfície lisa, determine a velocidade final comum do carrinho e do pacote depois do impacto. a) 1,43. b) 1,88 m/s. c) 2,05 m/s. d) 3,01 m/s. e) 6,04 m/s. Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais10 Cap_13_Dinamica.indd 10 09/03/2018 17:16:49 4. A figura mostra uma bala de 50 g que estava viajando a 600 m/s quando atingiu o centro de um bloco, que viajava em outra direção. Determine a intensidade da velocidade comum do sistema imediatamente após a colisão. a) 16,8 m/s. b) 600 m/s. c) 612 m/s. d) 12 m/s. e) 68,1 m/s. 5. Um garoto de 60 kg corre e pula sobre um trenó de 15 kg, inicialmente em repouso, e agarra-se ao carrinho, atingindo a velocidade final horizontal de 4,8 m/s. Determine a velocidade do garoto antes de agarrar-se ao carrinho. a) 1,25 m/s. b) 6,00 m/s. c) 4,80 m/s. d) 1,20 m/s. e) 3,52 m/s. 11Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais Cap_13_Dinamica.indd 11 09/03/2018 17:16:53 ALMEIDA, F. B. Pêndulo balístico. São Paulo: Mundo Educação, c2018. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/pendulo-balistico.htm>. Acesso em: 07 mar. 2018. MERIAM, J. L.; KRAIGE, L. G. Mecânica para engenharia: estática. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. WHITFORD, M. Momentum and impulse: chapter 8. [S.l.]: SlidePlayer, 2015. Disponível em: <http://slideplayer.com/slide/1671645/>. Acesso em: 07 mar. 2018. Leituras recomendadas BEER, F. P.; JOHNSTON JUNIOR, E. R.; CORNWELL, P. J. Mecânica vetorial para engenheiros: dinâmica. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 1. HIBBELER, R. C. Dinâmica: mecânica para engenharia. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica 1: mecânica. 4. ed. São Paulo: Blucher, 2002. v. 1. TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. Conservação da quantidade de movimento para um sistema de pontos materiais12 Cap_13_Dinamica.indd 12 09/03/2018 17:16:53 http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/pendulo-balistico.htm http://slideplayer.com/slide/1671645/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: