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Antibioticoterapia: Mecanismos e Uso


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1 Antibioticoterapia 
Caio Márcio Silva Cruz 
Antibióticos 
 
Os antimicrobianos devem ser capazes de: 
1. Alcançar os alvos moleculares, que 
são primariamente intracelulares. 
Para isso, o antimicrobiano, em 
quantidades suficientes, precisa 
ultrapassar a membrana celular 
bacteriana. 
2. Interagir com uma molécula-alvo de 
modo a desencadear a morte da 
bactéria. 
3. Evitar a ação das bombas de efluxo 
que jogam os antimicrobianos para 
fora da célula bacteriana; 
4. Evitar a inativação por enzimas 
capazes de modificar o fármaco no 
ambiente extracelular ou no interior 
da célula bacteriana; 
 
Mecanismos de resistência bacteriana 
 
 
 
Algumas bactérias produzem enzimas que 
vão degradas o antibiótico, como a enzima 
beta-lactamase que são produzidas por 
alguns gram positivos. 
 
Transferência de gene de resistência 
 
 
Resistência 
 
 As bactérias têm um curto tempo de 
geração, elas podem responder 
rapidamente as mudanças do 
ambiente. 
 Assim, quando os antibióticos são 
introduzidos, as bactérias respondem 
tornando-se resistente àquelas 
drogas. 
 A resistência se desenvolve como uma 
natural consequência da habilidade 
da população bacteriana de se 
adaptar. 
 É inevitável e irreversível. 
 
Diferença de Gram+ e Gram- 
 
 
 
 
 
2 Antibioticoterapia 
Caio Márcio Silva Cruz 
 
 
Beta-Lactâmicos 
 
Estrutura básica: 
 Ácido 6-aminopenicilano 
 Anel tiazolidina 
 Anel beta-lactâmico (interage com o 
receptor da bactéria) 
o Também é alvo de resistência 
bacteriana. 
 Grupo amino livre; 
 
Mecanismo de ação 
 
 Ligação com as enzimas PBP 
 Interfere com a transpeptidação que 
ancora peptidoglicano; 
 Interferem na síntese de parede 
celular bacteriana 
 Lise bacteriana 
 
Penicilinas 
 
Indicação terapêutica 
 
Isoladas ou em associação, constituem 
fármaco de escolha na quimioterapia 
bacteriana. 
Ex: infecções por estafilococos e 
estreptococos; meningite bacteriana; 
endocardite; bronquite; otite; faringite; 
gonorreia; sífilis; etc. 
 
Tipos 
 
Naturais – benzil fenoximetilpenicilina (As 
Penicilina G) 
Resistentes a B-lactamase – flucloxacilina 
Amplo espectro – ampicilina, amoxicilina. 
Espectro ampliado – carbenicilina. 
 
Três mecanismos básicos de resistência aos 
B- Lactâmicos 
 
 Alteração do sítio de ligação, que no 
caso seriam as proteínas ligadoras de 
penicilina (PBPs) 
 Alteração da permeabilidade da 
membrana externa bacteriana. 
 Degradação da droga através da 
produção de b-lactamases; 
o Por isso, se associa com os 
inibidores de b-lactamases. 
 
Cefalosporinas 
 
Classificação: 
 
1ª Geração: Cefalexina, cefalotina. 
2ª Geração: Cefuroxima, Cefoxitina, 
Cefaclor. 
3ª Geração: Cefotaxima, Ceftriaxona – 
ambiente hospitalar. 
4ª Geração: Cefepina (maior resistência a b-
lactamase) – ambiente hospitalar. 
5º Geração: Ceftobiprole, Ceftarolina – 
indicação principal de infecção de pele e 
tecidos moles. 
 
Com as gerações, se aumenta o espectro 
para as bactérias gram- e a resistência aos 
b-lactamases. 
 
Farmacocinética: 
 
Algumas administradas por V.O. 
(Cefalexina), a maioria I.M ou I.V; ampla 
distribuição, algumas atravessam barreiras 
(cefoperazona*, ceftriaxona*, cefotaxima e 
Cefuroxima); eliminação por secreção 
tubular. 
* = eliminadas na bile. Muito usadas em 
pacientes que tem comprometimento renal. 
 
 Grupo de antimicrobianos mais 
prescritos no mundo. 
 Nos hospitais brasileiros são 
utilizados em cerca de 70% das 
infecções. 
 São consideradas eficazes em: 
o Septicemias de causa 
desconhecida 
o Profilaxia cirúrgica 
o Infecções das vias biliares 
 
 
3 Antibioticoterapia 
Caio Márcio Silva Cruz 
o Infecções do trato urinário 
o Sinusite bacteriana 
o Pacientes imunodeprimidos 
o Recomendadas para todas as 
faixas etárias. 
 
Fluorquinolonas 
 
 Muito utilizado em infecções de vias 
urinárias por conta da Ciprofloxacina. 
Também podem atuar em infecções de 
vias aéreas. 
 A primeira quinolona não fluorada, o 
ácido nalidíxico foi obtida durante a 
síntese da cloroquina. 
 Atualmente incluem agentes 
fluorados de amplo espectro: 
o Ciprofloxacina 
o Levofloxacina 
o Ofloxacina 
o Norfloxacina 
o Acrosoxacina 
o Pefloxacina 
 Os de menor espectro: 
o Ácido nalidíxico 
o Cinoxacina 
 
Mecanismo de Ação 
 
Atuam sobre a topoisomerase e a girasse 
alterando a replicação do DNA bacteriano; 
 
Farmacocinética 
 
Bem absorvidos por V.O., tempo de meia 
vida varia de 3h, e Ciprofloxacina à 10h. 
concentram-se nos rins, próstata, pulmões e 
nos fagócitos, a maioria não atravessa a 
barreira hematoencefálica. 
 
Antiácidos interferem na absorção (deve ser 
tomado em jejum); biotransformadas no 
fígado por enzima P450 (embora sejam 
inibidores desta enzima), são eliminadas na 
urina. 
 
Efeitos adversos 
 
Alterações gastrointestinais, erupções 
cutâneas, cefaléia e vômitos; podem ocorrer 
interações metabólicas com a teofilina 
(intoxicação). 
 
Indicação terapêutica 
 
São de amplo espectro, eficaz contra Gram+ 
e Gram-, e organismos resistentes aos b-
Lactâmicos. 
 
Principais indicações 
 
Infecção do trato urinário, infecções 
respiratórias por Pseudomonas e H. 
influenzae, prostatite, gonorreia, otite e 
Osteomelite bacilar. 
 
Interferem na síntese/Ação do Folato 
 
Sulfonamidas 
 
Sulfadiazina, Sulfametoxazol (Bactrim®) e 
Sulfadimidina. 
 
Também usadas na forma de pomadas para 
queimaduras. 
 
Mecanismo de ação 
 
Competem com o PABA pela enzima 
dihidropteroato-sintetase, impedem a 
síntese de ácido fólico (bacteriostáticos – eles 
param a bactéria, mas não a matam). 
Quando associados com Trimetoprima 
(TMR) tem efeito bactericida. 
 
Farmacocinética 
 
Absorção oral, pico plasmático de 4h; 
atravessam barreiras e são metabolizadas 
no fígado. 
 
Efeitos adversos 
 
Náusea e vômito, cefaléia, rara 
metemoglobinemia, hepatite e reações de 
hipersensibilidade. 
 
Indicações terapêuticas 
 
Associadas a TMP: queimaduras, cancro, 
infecções respiratórias causadas por 
Nocardia e infecções urinárias. 
 
Trimetoprima 
 
Assemelha-se a pteridina do Folato. 
 
 
4 Antibioticoterapia 
Caio Márcio Silva Cruz 
Mecanismo de ação 
 
Antagonista do Folato, potencializam ação 
das sulfanilamidas (bacteriostático). 
Quando somados, possuem um efeito 
bactericida. 
 
Farmacocinética 
 
Absorção oral, atravessam barreiras, 
eliminação renal, aumenta com pH ácido. 
Posologia é de 12h em 12h. 
 
Efeitos adversos 
 
Náusea, vômitos, erupções cutâneas, 
alterações hematológicas (anemia 
megaloblásticas), cristalúria. 
 
Indicações terapêuticas 
 
Em associação com sulfas: infecção urinária 
e respiratória. 
 
 
Afetam a síntese de proteínas 
bacterianas 
 
Classificação 
 
 Tetraciclinas 
 Cloranfenicol 
 Aminoglicosídeo 
 Macrolídeos 
 
Tetraciclinas 
 
Mecanismo de ação 
 
Afetam os ribossomos das células. Inibe a 
síntese protéica ao se ligar na subunidade 
30s dos ribossomos 
 
 Tetraciclinas 
 Oxitetraciclina 
 Doxiciclina 
 Minociclina 
 
Farmacocinética 
 
V.O. ou parenteral, absorção intestinal 
irregular (alimentos), prejudicada (cálcio, 
ferro, magnésio, alumínio), exceto: 
Minociclina e Doxiciclina. 
Tem ampla distribuição, atravessam 
barreiras; eliminação renal e pela bile. 
 
OBS: ela quebra o cálcio e se junta a ele, 
formando uma molécula maior e assim 
causando uma intoxicação. 
 
Indicação terapêutica 
 
Amplo espectro. 
1ª escolha: riquétsias, micoplasma, peste, 
clamídias, brucelose, cólera, leptospirose. 
2ª escolha: infecções respiratórias, acne, 
meningite, diarréia. 
 
Efeitos adversos 
 
Distúrbios gastrointestinais, Hipoplasia 
dentária e deformidades ósseas, aplasia 
medular, fototoxicidade e tontura. 
 
Cloranfenicol 
 
Originalmente isolado do Streptomyces. 
 
Mecanismode ação 
 
Inibe síntese de proteínas, liga-se a unidade 
50S do ribossomo da bactéria, assim como a 
eritromicina e a Clindamicina. 
 
Farmacocinética 
 
Administração V.O, com pico plasmático em 
2h; ampla distribuição, atravessa barreias; 
metabolismo hepático; eliminação urinária. 
 
Nota: hoje não tem mais a V.O., hoje é de uso 
exclusivamente hospitalar. 
 
Indicações terapêuticas 
 
Amplo espectro bactérias Gram- e Gram+, 
bactericida para H. influenzae; meningite; 
 
 
5 Antibioticoterapia 
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febre tifoide, conjuntivite. Resistência 
devido produção de 
cloranfenicolacetiltransferase. 
 
Efeitos adversos 
 
Aplasia medular (pancitopenia), síndrome 
cinzenta do recém-nascido (não consegue ser 
metabolizado no bebê – por isso é 
contraindicado na gestação, 
hipersensibilidade, superinfecção. 
 
Aminoglicosideos 
 
Produtos naturais ou semissintéticos 
produzidos por diferentes actinomicetes 
 
Classificação 
 
 Estreptomicina 
 Gentamicina 
 Tobramicina 
 Kanamicina 
 Metilmicina 
 Amikacina 
 Neomicina 
 
Mecanismo de ação 
 
 Inibem a síntese de proteínas, 30S 
bacterianas (bactericidas dose-
dependente). 
 Transportada para o interior da 
célula (oxigênio dependente), inibe a 
translocação do mRNA. 
 Pouco efeito sobre microorganismos 
anaeróbicos. 
Tem ototoxicidade, principalmente em 
crianças, e também nefrotoxicidade. 
 
Farmacocinética 
 
Extremamente polares, não são absorvidas 
no TGI; após I.M. absorção rápida pelos 
tecidos (pico de 30 min); não atravessam 
barreiras (há dúvidas em relação a 
placenta); baixa distribuição nos tecidos e 
concentram-se no ouvido interno e no córtex 
renal. 
Tempo de meia vida plasmática é de 2-3h; 
eliminação renal por filtração glomerular. 
 
Indicação terapêutica 
 
Gentamicina: pneumonia, sepses, infecção 
urinária, meningite, endocardite, 
queimados. 
Tobramicina: oftalmologia 
Kanamicina: tuberculose (pouco uso). 
Neomicina: preparação do intestino para 
cirurgias (V.O.); uso tópico. 
 
Macrolídeos 
 
Eritromicina foi descoberta em 1952 como 
um produto metabólico da Streptomyces 
erythreus. Claritromicina e Azitromicina 
(dose única diária, por isso é bem aceito 
pelos pacientes) são derivados semi-
sintéticos. 
 
Mecanismo de ação 
 
 Inibem a síntese de proteínas 
bacterianas (translocação do RNA), 
ao ligarem-se a unidade 50s do 
ribossomo. Competem com o 
Cloranfenicol. 
 Bacteriostáticos ou bactericidas (altas 
doses) – exemplo: Azitromicina acima 
de 500mg é bactericida. 
 Contra cocos e bacilos gram+ 
 
Farmacocinética 
 
 Administração V.O. eritromicina 
pouco estável em meio ácido, embora 
I.V. possa ocorrer tromboflebite local; 
absorção no intestino (éster); ampla 
distribuição, mas não atravessam 
barreiras; 
 Tempo de meia vida da eritromicina é 
de 3h, Claritromicina é 3x maior, 
Azitromicina é 10x maior (por isso é 
dose única). 
 Concentram-se nos fagócitos, 
potencializam a destruição das 
bactérias. 
 Inativados no fígado enzima P450 
(Claritromicina forma metabólito 
ativo), excreção na urina e bile. 
 
Efeitos adversos 
 
 
 
6 Antibioticoterapia 
Caio Márcio Silva Cruz 
Distúrbios gastrointestinais, reações de 
hipersensibilidade, distúrbios de audição, 
icterícia colestática e superinfecção; 
Inibem enzima CYP3A4 com importantes 
interações farmacológicas na clínica. 
 
Indicação terapêutica 
 
 Principalmente tuberculose e 
pneumonias, infecções de garganta; 
 Infecções por estreptococos: faringite, 
sinusite e erisipela. 
 Infecção por helicobacter pylori: 
úlcera péptica (Claritromicina está no 
esquema terapêutico). 
 Sífilis (caso o paciente seja alérgico a 
penicilina) e tétano. 
 
Glicopeptídeos 
 
Vancomicina e Teicoplanina. 
 
Mecanismo de Ação 
 
Inibe a síntese da parede celular bacteriana 
(interrompe a polimerização da cadeia 
peptidoglicana) 
Bactérias aeróbicas gram+ 
 
Indicações clínicas 
 
Vancomicina 
 
 Usada como alternativa aos b-
lactâmicos em pacientes alérgicos. 
 É uma alternativa no tratamento de 
infecções por estafilococos resistentes 
a Oxacilina. 
 
Teicoplanina 
 
 São similares às da vancomicina com 
a vantagem do intervalo, da via de 
administração e da menor toxicidade. 
 
Lincosamidas 
 
É a Clindamicina. 
 
Mecanismo de ação os aproximam dos 
macrolídeos com quem inclusive podem ter 
resistência cruzada. 
Ligação reversível com a sub-unidade 50S 
ribossômica impedindo o acesso dos RNAts 
(atividade bacteriostática) – inibição da 
síntese protéica. 
 
Polimixina 
 
 Interagem com a molécula de 
polissacarídeo da membrana externa 
das bactérias gram-, retirando cálcio 
e magnésio, necessários para a 
estabilidade da molécula do 
polissacarídeo. 
 
Antibiótico utilizado dentro do hospital de 
forma injetável. 
 
 Resulta em aumento da 
permeabilidade da membrana com 
rápida perda de conteúdo celular e 
morte da bactéria. 
 Além de potente atividade 
bactericida, as polimixinas também 
apresentam atividade 
antiendotoxina. O lipídeo A da 
molécula de lipossacarídeo, que 
representa a endotoxinas da bactéria 
gram-, é neutralizado. 
 Ativas contra muitas espécies de 
bactérias multirresistentes. 
 Tem duas formas: Colistina 
(Polimixina E) e Polimixina B. 
 
Nitroimidazol 
 
 O Metronidazol é um bactericida 
potente, com excelente atividade 
contra bactérias anaeróbicas estritas 
(cocos gram+, bacilos gram-, bacilos 
gram+) e certos protozoários como 
amebíase, tricomoníase e giardíase. 
 Após a entrada da célula, por difusão 
passiva, o antimicrobiano é ativado 
por um processo de redução. O grupo 
Nitro da droga atua como receptor de 
elétrons, levando a liberação de 
compostos tóxicos e radicais livres que 
atuam no DNA, inativando-o e 
impedindo a síntese enzimática das 
bactérias. 
 
Utilizado muito em associação para ampliar 
o espectro no tratamento.

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