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Por Emilly Veras Traumatismo Cranioencefálico (TCE) O TCE ou LCT (Lesão cerebral traumática) é qualquer lesão decorrente de um trauma externo, que tenha como consequência alterações anatômicas do crânio, como fratura ou laceração do couro cabeludo, bem como o comprometimento funcional das meninges, encéfalo ou seus vasos, resultando em alterações cerebrais, momentâneas ou permanentes, de natureza cognitiva ou funcional (MENON et al., 2010). Etiologia As causas de TCE estão relacionadas à: Acidentes automobilísticos - principal faixa etária é de adolescentes e adultos jovens (15 aos 24 anos) os acidentes de trânsito são responsáveis por mais mortes que todas as outras causas juntas. Quedas - Idosos Causas “violentas”: ferimentos por projétil de arma de fogo e armas brancas. Fisiopatologia - Múltiplos fatores. - Mecanismo que começa a agir tão logo o TCE ocorre OU pode-se estender por dias, semanas, meses após o evento. - Lesões cerebrais: primárias e secundárias. Lesões primárias - ocorrem como resultado imediato e direto do trauma. Lesões secundárias - se iniciam após o momento da agressão. Podem decorrer da interação de fatores intra e extracerebrais, levando à morte de células que não foram afetadas no momento exato do acidente, mas que sofrem consequências posteriores. Hipótese de Monro-Kellie Também conhecida como doutrina de Monro-Kellie, explica o equilíbrio dinâmico dos conteúdos cranianos. A abóbada craniana (neurocrânio) contém três componentes principais: encéfalo, sangue e líquido cerebrospinal (LCS). De acordo com a hipótese de Monro-Kellie, a abóbada craniana é um sistema fechado e, se um dos três componentes aumentar de volume, pelo menos um dos outros dois irá diminuir de volume ou haverá elevação da pressão. Qualquer sangramento ou edema no crânio aumenta o volume de seu conteúdo e, portanto, causa elevação da pressão intracraniana (PIC). Podendo causar deslocamento do encéfalo através ou contra as estruturas rígidas do crânio. Isso provoca restrição do fluxo sanguíneo para o encéfalo, diminuindo o aporte de oxigênio e a remoção das escórias metabólicas. As células no encéfalo sofrem anoxia e não podem manter o metabolismo adequadamente, produzindo isquemia, infarto, dano cerebral irreversível e, por fim, morte encefálica. Escala de Glasgow O TCE pode ser classificado como: TCE LEVE: (13 a 15 pontos), TCE MODERADO: (9 a 12 pontos) e TCE GRAVE: (3 a 8 pontos) OBS: todo paciente com ECG < 8 deve ser intubado para proteção de vias aéreas e manutenção da ventilação. Caracterização Clínica das lesões no TCE ➔ Lesões dos envoltórios cranianos - Escalpo: lesão cutânea que pode ser de grande amplitude e levar a sangramento importante, principalmente nas crianças. - Fraturas cranianas: toda solução (interrupção) de continuidade do plano ósseo. Podem ser lineares, cominutivas (múltiplas), e deprimidas. Fratura simples (linear) é uma solução de continuidade do osso. Fratura de crânio cominutiva refere-se a uma linha de fratura múltipla ou estilhaçada. Fraturas de crânio deprimidas ocorrem quando os ossos do crânio são deslocados vigorosamente para baixo, e podem variar desde uma leve depressão até ossos do crânio estilhaçados e incrustados no tecido encefálico. Uma fratura pode ser: Manifestações Clínicas As fraturas da base do crânio tendem a atravessar os seios paranasais do osso frontal ou a orelha média localizada no osso temporal. Por conseguinte, elas frequentemente produzem hemorragia a partir do nariz, da faringe ou das orelhas, e pode aparecer sangue sob a conjuntiva. Uma área de equimose pode ser observada sobre o processo mastoide (sinal de Battle). Suspeita-se de fraturas da base do crânio quando líquido cerebrospinal (LCS) escorre pelas orelhas (otorreia liquórica) e pelo nariz (rinorreia liquórica). Lesão Cerebral Lesão cerebral traumática fechada (não penetrante) - ocorre quando a cabeça acelera e, em seguida, desacelera rapidamente ou colide com outro objeto (p. ex., uma parede, o painel de um carro), e o tecido cerebral é lesionado, mas sem abertura através do crânio e da dura-máter. Lesão cerebral traumática aberta (penetrante) - ocorre quando um objeto penetra no crânio, entra no encéfalo e provoca lesão do tecido encefálico mole em seu trajeto, ou quando o TCE fechado é grave a ponto de abrir o couro cabeludo, o crânio e a dura-máter para expor o encéfalo. Tipos de lesões cerebrais Podem ser: Lesões focais: incluem diversos tipos de contusões e hematomas. Lesões difusas: constituem as concussões e as lesões axônicas difusas. Lesões Focais Caracterizam-se pela perda da consciência associada a estupor e confusão mental. Os efeitos da lesão (particularmente hemorragia e edema) alcançam o seu pico depois de aproximadamente 18 a 36 horas. Na contusão cerebral, o encéfalo é ferido e danificado em uma área específica, devido a uma intensa força de aceleração-desaceleração ou a um traumatismo não penetrante. O impacto do encéfalo contra o crânio leva a uma contusão. Os hematomas são coleções de sangue no encéfalo, que podem ser epidurais (acima da dura-máter), subdurais (abaixo da dura-máter) ou intracerebrais (dentro do encéfalo). Hematoma epidural - Após a ocorrência de TCE, o sangue pode se acumular entre o crânio e a dura-máter. Isso pode resultar de uma fratura de crânio, que causa ruptura ou laceração da artéria meníngea média, a artéria que segue o seu trajeto entre a dura-máter e o crânio inferiormente a uma porção fina do osso temporal. A hemorragia a partir dessa artéria provoca rápida pressão sobre o encéfalo. Um hematoma epidural é considerado emergência extrema; dentro de poucos minutos, podem ocorrer déficit neurológico pronunciado ou até mesmo parada respiratória. O tratamento consiste em efetuar aberturas no crânio para diminuir a PIC de maneira emergencial, remover o coágulo e controlar o sangramento. Hematoma subdural - entre a dura-máter e o encéfalo, um espaço normalmente ocupado por um fino coxim de líquido. A causa mais comum é o traumatismo; contudo, também pode ser consequente a coagulopatias ou ruptura de um aneurisma. Mais frequentemente de origem venosa e é causado pela ruptura de pequenos vasos que atravessam o espaço subdural. O hematoma subdural pode ser agudo ou crônico, dependendo do calibre do vaso envolvido e do volume de sangramento na TC. Hematoma subdural agudo - decorrente do rompimento de veias-ponte ou de vasos corticais. Está associada a lesão craniana importante envolvendo contusão ou laceração. As manifestações clínicas surgem rapidamente. Sinais e sintomas: alterações do nível de consciência (NDC), dos sinais pupilares e da hemiparesia. Podem ocorrer sintomas de menor gravidade ou até mesmo ausência de sintomas com pequenas coleções de sangue. O coma, a pressão arterial em elevação, a diminuição da frequência cardíaca e o alentecimento da frequência respiratória constituem sinais de massa em rápida expansão, exigindo intervenção imediata. Hematomas subdurais crônicos - podem se desenvolver a partir de TCE aparentemente de menor gravidade, e são observados com mais frequência em indivíduos idosos que estão sujeitos a esse tipo de lesão cranioencefálica, devido à atrofia encefálica, que é uma consequência do processo de envelhecimento. Um TCE aparentemente de menor gravidade pode produzir um impacto suficiente a ponto de deslocar anormalmente o conteúdo encefálico. O tempo entre a lesão e o aparecimento dos sintomas pode ser longo (p. ex., 3 semanas a meses), de modo que a lesão verdadeira pode ser esquecida. Lesões Difusas Perda temporária da função neurológica, sem dano estrutural aparente ao encéfalo. Quadro clínico clássico: perda de consciência transitória (<6h) com retorno posterior ao estado de normalidade. O mecanismo da lesão geralmente consiste em traumatismo não penetrante, em consequência de uma força de aceleração-desaceleração, pancada direta ou lesão explosiva. O monitoramento inclui a observação do paciente quanto a diminuição do nível de consciência, cefaléiacuja intensidade aumenta, tontura, convulsões, resposta anormal das pupilas, vômitos, irritabilidade, fala arrastada e dormência ou fraqueza dos braços ou das pernas. Incidentes repetidos de concussão podem resultar em uma síndrome conhecida como encefalopatia traumática crônica (ETC). Tal síndrome tem sido reconhecida em pessoas que participam de esportes de contato como futebol americano e pugilismo. O quadro clínico é semelhante ao da doença de Alzheimer, caracterizado por alterações da personalidade, comprometimento da memória e transtornos da marcha e da fala. Resulta de aceleração rotacional e/ou angular mais importante da cabeça. Perda de consciência <6h. Associada ao coma traumático prolongado; é mais grave e está relacionada com um prognóstico mais sombrio que uma lesão focal. Morte Encefálica Ao sofrer um TCE grave incompatível com a vida, o paciente torna-se um doador potencial de órgãos. O enfermeiro pode auxiliar o exame clínico para determinar a morte encefálica e o processo de procura de órgãos. Os três principais sinais de morte encefálica no exame clínico são o coma, a ausência de reflexos do tronco encefálico e a apneia. Os exames auxiliares – tais como estudos de fluxo sanguíneo cerebral, eletroencefalograma (EEG), Doppler transcraniano e potencial evocado auditivo do tronco encefálico – são frequentemente usados para confirmar a morte encefálica. Avaliação O enfermeiro pode obter informações do próprio paciente (dependendo do estado neurológico do paciente), da família ou de testemunhas ou, ainda, da equipe de resgate de emergência. •Quando ocorreu a lesão? •O que causou a lesão? Um projétil em alta velocidade? Um objeto que atingiu a cabeça? Uma queda? •Quais foram a direção e a força da pancada? O enfermeiro deve determinar se houve perda da consciência, a duração do período inconsciente e se o paciente pode ser despertado. Diagnósticos de Enfermagem - Eliminação traqueobrônquica ineficaz e troca gasosa ineficaz,relacionadas com a lesão cerebral - Risco de perfusão tissular cerebral ineficaz, relacionado com elevação da PIC, diminuição da PPC e possíveis convulsões. - Volume de líquidos deficiente, relacionado com a diminuição do NDC e a disfunção hormonal. - Nutrição desequilibrada: ingestão menor que as necessidades corporais, relacionada com as demandas metabólicas aumentadas, a restrição de líquidos e o aporte inadequado. - Risco de lesão (autoinfligida ou dirigida a outros), relacionado com a ocorrência de convulsões, desorientação, inquietação ou dano cerebral. - Risco de temperatura corporal alterada, relacionado com comprometimento dos mecanismos termorreguladores no encéfalo. - Risco de integridade da pele prejudicada, relacionado com repouso no leito, hemiparesia, hemiplegia, imobilidade ou inquietação. - Enfrentamento inefetivo, relacionado com a lesão cerebral - Transtorno do padrão do sono, relacionado com lesão cerebral e verificações neurológicas frequentes - Risco de processos familiares disfuncionais, relacionados com a falta de responsividade do paciente, imprevisibilidade dos resultados, período prolongado de recuperação e incapacidade física residual e déficit emocional do paciente. - Conhecimento deficiente sobre a lesão cerebral, a recuperação e o processo de reabilitação. Planejamento ➔Manutenção de uma via respiratória pérvia ➔ PPC adequada, ➔Equilíbrio hidreletrolítico, ➔Estado nutricional adequado, prevenção de lesão secundária, ➔Manutenção da temperatura corporal dentro dos limites normais, ➔Manutenção da integridade da pele ➔Melhora da capacidade de enfrentamento ➔ Prevenção da privação do sono ➔Enfrentamento efetivo da família ➔Maior conhecimento sobre o processo de reabilitação ➔Ausência de complicações Intervenções de Enfermagem ○ Manutenção do paciente inconsciente em uma posição que facilite a drenagem das secreções orais, com a cabeceira do leito elevada a cerca de 30°, a fim de diminuir a pressão venosa intracraniana. ○ Estabelecimento de procedimentos de aspiração efetivos (as secreções pulmonares provocam tosse e esforço, o que eleva a PIC). ○ Prevenção contra a aspiração e a insuficiência respiratória. ○ Monitoramento rigoroso dos valores da gasometria arterial para avaliar a adequação da ventilação. A meta é manter os valores da gasometria arterial dentro dos limites normais para assegurar um fluxo sanguíneo cerebral adequado ○ Monitoramento do paciente que esteja recebendo ventilação mecânica para complicações pulmonares, tais como síndrome de angústia respiratória aguda e pneumonia. ○ Monitoramento da função neurológica. ○ Monitoramento do equilíbrio hidreletrolítico.