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FARMACOLOGIA CLÍNICA - M5 DOR: "Experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais lesões”. - IASP DOR AGUDA - fácil localização, alerta para o organismo DOR CRÔNICA - dor difusa, é uma doença que persiste que gera vários prejuízos na qualidade de vida. TIPOS DE DOR ○ Nociceptiva - detecção de lesão tecidual ○ Inflamatória - lesão tecidual + inflamatória ○ Dor patológica - lesão neuronal //neuralgia// (câncer, queimado, …) Aguda visceral Aguda tegumentar - pele e forâneos Crônica Câncer Dor neuropática RESPOSTAS NEURONAIS A DOR ○ Reflexa: medula e arco reflexo do neurônio motor ○ Mesencefálica: PA e FC, respiração ○ Cortical e límbica: Emoção NOCICEPÇÃO E NOCICEPTORES NOCICEPTORES - 4 FASES TRANSDUÇÃO → estímulo doloroso recebido pelos nociceptores que irá gerar um potencial de ação. TRANSMISSÃO → o potencial é conduzido até a medula espinal MODULAÇÃO → no corno dorsal o impulso é modulado antes de chegar aos níveis mais superiores do SNC. PERCEPÇÃO → no córtex o impulso é integrado e interpretado como dor. NOCICEPTORES Fibras A Delta (mielinizada) e C (amielinizada) As fibras Adelta transmitem a informação da dor rapidamente, enquanto a fibra C, por não conter mielina, lentamente. Normalmente, a dor é mais intensa e curta no primeiro momento (1° dor) e depois mais branda e prolongada (2° dor), ao bloquear as fibras Adelta só permanece a 2° dor e bloqueando a fibra C só permanece a 1° dor. As fibras sinápticas da dor são divididas em lâminas, as fibras de nociceptores ficam na lâmina I, II e V e os interneurônios inibitórios e excitatórios na lâmina II. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - 2022.2 VIAS ASCENDENTE E DESCENDENTES FIGURA: vermelho - via ascendente e verde - descendente. A sensação nociceptiva entra no corno dorsal espinhal através de fibras aferentes primárias e faz a sinapse nos neurônios de transmissão. As fibras de projeção ascendem através do trato espinotalâmico contralateral, as projeções ascendentes têm como alvo o tálamo, e as projeções colaterais têm como alvo os núcleos mesencefálicos, incluindo o DRt, o RVM e o PAG. A modulação descendente da dor é mediada por projeções para o PAG, que também recebe entradas de outros locais, incluindo o hipotálamo e se comunica com o RVM, bem como outros núcleos medulares que enviar projeções descendentes para o corno dorsal espinhal através do DLF. O locus ceruleus noradrenérgico (LC) recebe entradas do PAG, se comunica com o RVM e envia noradrenérgicos descendentes com projeções inibitórias para a medula espinhal. As projeções espinopetais antinociceptivas e pronociceptivas do RVM modulam positivamente e negativamente as entradas nociceptivas e proporcionam uma dor endógena sistema regulatório. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 LOCAIS DE AÇÃO DOS OPIÓIDES A - Tecido B - Medula espinal C - Tálamo - sistema somatosensorial e límbico D - Bulbo rostral ventromedial (RVM) E - Locus cerúleos → aumento da via descendente da dor Os fármacos interferem na gênese, percepção, condução, reação e interpretação da dor. Os analgésicos e opióides atuam em alguns desses pontos enquanto os anestésicos gerais irão atuar em todos eles. TRANSMISSÃO DA DOR Estímulos como calor/ frio/ pressão/ lesão/ inflamação chega no tecido e abre os canais de sódio dos nociceptores de primeira ordem. Há 2 canais de sódio: TRPV1 ou canais de sódio de voltagem dependentes. TRPV1 - ativados a partir da bradicinina ou NGF. Canais de sódio voltagem dependentes - ativam pela interação com as prostaglandinas. IMAGEM 1: A lesão tecidual leva à liberação de mediadores inflamatórios que ativam e sensibilizam os nociceptores. A ativação ao contrária leva a liberação de substância P e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP). Histamina estimula prurido Bradicinina - descoberto por Mauricio Glutamato transmite a dor A ativação dos canais de sódio gera o potencial de ação. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 O potencial de ação irá ativar os canais de cálcio dependentes de voltagem, o influxo de cálcio irá gerar a translocação das vesículas e a liberação de seu conteúdo na fenda sináptica. O principal conteúdo das vesículas é o glutamato, o glutamato irá interagir com os receptores do nociceptores de segunda ordem que são o AMPA e NMDA, canais iônicos que ao reagir com o glutamato irão permitir a entrada de sódio e cálcio. Além do glutamato, há a substância P que irá interagir com os receptores NK1 gerando uma despolarização pós sináptica e a propagação de um potencial de ação até o córtex. No córtex, ele vai interpretar como dor e ativar uma via inibitória da dor de forma a modular a dor. O córtex ativado irá liberar glutamato para ativar a região cinzenta periaquedutal (PAG) que ativará duas regiões: o núcleo magno da rafe (NMR) e locus ceruleus (LC). O NMR liberará encefalinas e serotonina enquanto o LC noradrenalina no corno dorsal da medula espinal. A encefalina e endorfinas irão interagir com os receptores μ opióides acoplados à proteína G Inibitória do nociceptor de primeira ordem que resulta uma liberação de potássio que geram uma hiperpolarização da célula. Já serotonina irá interagir com receptores serotoninérgicos na membrana de interneurônio GABAérgicos constitutivamente ativos, isso leva a liberação de GABA que vai reagir com seus receptores GABA que são canais de cloreto, com a entrada de cloreto na célula ela fica mais negativa. A norepinefrina vai interagir ao receptores alfa2 adrenérgicos que também são acoplados à proteína Gi. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 Todas essas substâncias irão causar uma hiperpolarização da célula que não irá permitir a abertura de canais de cálcio voltagem dependentes, sem a entrada de cálcio não há liberação de glutamato e substância P. Essas substâncias também agem no nociceptor de segunda ordem para impedir a propagação do potencial de ação. Existem casos em que o estímulo doloroso é tão grande que não é possível a inibição efetiva por esta via e é aí que entram os opióides. OPIÓIDES Fármacos com alta eficácia porém apresentam grande gama de efeitos adversos. HISTÓRICO Ópio - Papaver somniferum Séc. XVIII - Friedrich Sertürner isolou seus derivados → morfina “morphium” (1805) A partir da morfina foram identificados os receptores opióides. Encefalinas Endorfinas Dinorfinas RECEPTORES OPIÓIDES ○ μ(mu) - opióides ○ κ(kappa) - opióides ○ 𝛿(delta) - opióides Todos são acoplados à proteína Gi e são expressas no SNC, coração, pulmão, intestino, células do sistema imune … Os opióides têm ação em 3 níveis: supramedular, medular e periférico. SUPRAMEDULAR Na PAG também há interneurônios GABAérgicos que ao serem ativados irão liberar GABA que inibem a PAG, sem a PAG não a ativação de NMR e LC, e o estímulo doloroso persiste. Os opióides que interagem com os receptores na membrana dos interneurônios GABAérgicos irão inibir a liberação de GABA. Logo, a via supramedular permite a passagem da via descendente inibitória. MEDULAR Na medula, os opióides irão se ligar aos nociceptores e inibir o glutamato inibindo assim a via ascendente excitatória. PERIFÉRICO Os opióides interagem com receptores e inibem a liberação de diversos mediadores inflamatórios responsáveis por sensibilizar os nociceptores (ver imagem 1). A morfina é capaz de inativar a cascata do ácido araquidônico. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 EFEITOS FARMACOLÓGICOS E USOS CLÍNICOS Os opióides só são eficazes quando atuam nos 3 níveis. FÁRMACOS Morfina tem muito efeito de primeira passagem e por isso é administrado por via parenteral. AGONISTA FORTES → fármacos com maiores eficácias e totalmente agonistas - Morfina, hidromorfona, oximorfona, levorfanol, metadona, meperidina, fentanil e heroína. Metadona tem meia vida longa e é um fármaco de escolha para crise de abstinência, pois sua crise de abstinência demora mais a semanifestar. Fentanil é mais potente que morfina. Como quantificar o efeito da morfina? Estudo com ratos e causa de ereção dos rabos dos ratos. Morfina é contraindicada em obesos Naloxone é antagonista da morfina e bloqueia os outros opióides AGONISTAS FRACOS/MODERADO → Geralmente associados com acetaminofen e AINES - Codeína; oxicodona; hidrocodona; difenoxilato; propoxifeno (muito fraco e geralmente associado com acetaminofen). AGONISTAS/ANTAGONISTAS MISTOS → Agonistas de uns receptores e antagonistas de outros. Não devem ser usados com agonistas fortes pois podem antagonizar o seu efeito. - Nalbufina, buprenorfina, butorfanol, pentazocina. ANTAGONISTAS → - Nalorfina, naloxona, naltrexona, levalorfan. EFEITOS NO SNC ○ Analgesia ○ Euforia ou disforia ○ Recompensa ○ Depressão respiratória ○ Supressão de reflexo da tosse (em doses baixas e com ação no bulbo) ○ Sedação ○ Náusea e vômito ○ Redução da temperatura corporal MECANISMO DA RECOMPENSA PV - pálido ventral CPF - córtex pré frontal ATV - área tegumentar ventral NAc - núcleo accumbens [de baixo para cima] No pálido ventral há neurônios dopaminérgicos que quando ativados liberam dopamina gerando sensação de prazer . Em geral, esses neurônios estão inativados pelos neurônios gabaérgicos que estão projetados desde o NAc até o PV. A modulação desses neurônios é feita pelos neurônios glutamatérgicos do CPF. Quando ocorre algo bom é estimulado os neurônios dopaminérgicos de ATV que irá liberar dopamina no NAc. A dopamina irá interagir com receptores D2 que são receptores inibidores o que vai impedir a liberação de GABA deixando livre a liberação de dopamina. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 Isso é modulado por neurônios GABAérgicos na ATV e por isso o efeito é limitado. Os opióides estimulam os receptores (mu-opióides) MOR dos neurônios GABAérgicos e inibem sua função inibitória deixando livre a liberação de dopamina gerando toda uma sensação de euforia/ recompensa. DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA 1° - Efeito depressor direto na regulação do ritmo respiratório no bulbo ventrolateral. 2° - Depressão da resposta ventilatória à elevação da [CO2] 3° - Efeito nos quimiorreceptores dos corpos carotídeo e aórtico (hipóxia) EFEITOS PERIFÉRICOS ○ Hipotensão ortostática; ○ Constipação e lentidão no esvaziamento gástrico; ○ Retenção urinária; ○ Espasmo e cólica biliar; ○ Redução da testosterona, FSH, LH, cortisol, ocitocina e ADH. ○ Supressão direta do sistema imune. USOS CLÍNICOS ○ Analgesia; ○ Anestesia; ○ Edema agudo de pulmão → reduz retorno venoso e diminui pressão pulmonar ○ Diarréia; ○ Tosse - Codeína Normalmente os fármacos aconselhados são: ○ Não opióides - dipirona e paracetamol ○ AINES - ibuprofeno ou ácidos acetilsalicílico ○ Adjuvantes: antidepressivos (amitriptilina) e anticonvulsivantes (ácido valpróico e carbamazepina) ○ Opióide fracos - codeína ○ Opióide forte - morfina e metadona Supressão da diarréia - difenoxilato e loperamida Supressão da tosse - codeína, hidrocodona e diidrocodeína (xarope - polêmico) Adjuvantes anestésicos - fentanila Tratamento da abstinência a opióides TOLERÂNCIA, DEPENDÊNCIA E INTOXICAÇÃO TOLERÂNCIA Adaptações celulares induzidas pelo tratamento crônico com opióides. ○ Dessensibilização dos receptores opióides ○ Up-regulation da via do AMPc ○ Supersensibilização da proteína G excitatórias aos receptores opióides ○ Efeitos dos sistemas dependentes de proteínas cinases (proteína cinase C) Respostas fisiológicas diferentes podem desenvolver tolerância a taxas muito variadas! A tolerância não abrange igualmente todas as funções da tolerância. Há 3 receptores μ: μ1, μ2 e μ3 Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 Exemplo: um paciente que faz uso do opióide A e precisa trocar, não se poderia trocar por um opioide C pois ele teria a tolerância completa de μ1 e parcial de μ3, sendo um opioide B ou D de melhor escolha. Isso é importante na prática clínica pois ao paciente adquirir resistência é necessário saber por qual fármaco substituir. DEPENDÊNCIA FÍSICA → síndrome da abstinência → sinais físicos devido a falta da substância. Sintomas: disforia, agitação, dor, midríase, cólicas e diarréias. Tratamento: metadona (devido meia vida longa e menor incidência de depressão respiratória). Vale lembrar que deve ser prescrito a menor dose possível pois pode prolongar o intervalo QT e gerar uma arritmia. morfina → buprenorfina → metadona PSICOLÓGICA → adição (doença crônica que o indivíduo busca recompensa) INTOXICAÇÃO Superdosagem ○ Euforia; ○ Sedação; ○ Analgesia; ○ Miose pupilar; (TRÍADE DA OVERDOSE) ○ Estado comatoso; ○ Depressão respiratória grave. Tratamento: opioides antagonistas INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FÁRMACOS INTERAÇÕES COM OPIÓIDES Sedativos-hipnóticos Álcool Maior depressão do SNC, principalmente depressão respiratória Antipsicóticos Maior sedação iMAO Tramadol e tapentadol Crise hipertensiva e síndrome serotoninérgica Contraindicação relativa a todos os opióides. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2 Fonte: Katzung, 11 ed. Mar���l� Si�ões C����ca��� - Cur�� �� Med����a - UF�� - 2022.2
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