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HIV E AIDS O VÍRUS O vírus do HIV é denominado também de Retrovírus por conta de sua estrutura ser formada por um RNA e não por DNA de fita simples. É chamado dessa forma por durante a multiplicação viral transformar, por meio de uma enzima chamada transcriptase reversa, o RNA em DNA invertendo a lógica quando comparado aos seres humanos. No Brasil e na Europa é mais comum o HIV do tipo 1 sendo o principal responsável pela pandemia mundial de Aids, já no continente africano o tipo que prevalece é o HIV-2, mas nada impede de ambos os lugares terem os dois tipos de vírus, seja no continente americano ou no africano. Estruturalmente, esse vírus é formado basicamente de três estruturas que auxiliarão no processo de infecção do vírus para com as nossas células: o RNA de fita simples que é o material genético do vírus que vai ser incorporado dentro do DNA da célula hospedeira, as enzimas replicativas que são as responsáveis por promover a transformação do RNA em DNA, como já mencionado, a transcriptase reversa é uma delas e o envelope lipoproteico que é o responsável pela entrada do vírus nas nossas células. PATOGÊNESE A patogênese do HIV roda em torno de uma célula especial que é o alvo da infecção do vírus do HIV que são as células conhecidas como Linfócitos T CD4 responsáveis por uma resposta imune adequada do nosso organismo contra os patógenos invasores, assim como células neoplásicas por exemplo. Os linfócitos T CD4 são aqueles maestros sistema imune que coordenam a resposta humoral e a resposta do tipo celular do organismo humano. “As funções das células T CD4+ efetoras são recrutar e ativar os fagócitos (macrófagos e neutrófilos) e outros leucócitos que destroem os microrganismos intracelulares e alguns extracelulares, e ajudar os linfócitos B a produzir anticorpos.” Quando essas células são acometidas, ocorre destruição e sequestro delas, a resposta imune fica prejudica e isso faz com que o indivíduo portador do vírus do HIV começa a ter maior propensão para o desenvolvimento de infecções do tipo oportunistas e desenvolvimento de neoplasias dentro do organismo, sendo geralmente a causa da morte quando esses pacientes venham a falecer. Existe uma máxima de que “nenhum paciente morre de Aids” mas sim de alguma doença oportunista que veio a acometer o paciente que já apresentava um sistema imune deficiente. O CICLO VIRAL O ciclo viral é fundamental para que posteriormente seja possível entender o tratamento da doença. Inicialmente o vírus entra na célula por meio dos receptores CCR5 que a célula hospedeira possui, ocorre fusão da membrana tanto do vírus como da célula e a entrada da partícula viral nessa célula hospedeira. No segundo momento, o vírus que possui como material genético uma fita simples de RNA necessita converter em DNA para que a célula hospedeira possa realizar formação de proteínas. Dessa maneira, entra em ação a primeira das enzimas replicativas, que é a transcriptase reversa em que se tem a formação do DNA viral a partir do RNA viral. Em um terceiro momento, e agora com o DNA viral nessa célula hospedeira, é necessário que se tenha uma ligação desse DNA com o DNA da célula para que ocorre produção de proteínas virais. É nesse momento que atua a segunda enzima replicativas que é a integrasse, responsável então por costurar o DNA viral com o DNA celular. E por fim, a última enzima replicativas é aquela que atua na formação e na montagem de toda a maquinaria viral a ser produzida pela célula hospedeira. É a protease, aquela enzima que atua montando o vírus como se fossem peças de lego e produzindo novamente milhões de vírus de HIV. É nesse momento então que o vírus destrói as células que o produziram, os linfócitos T CD4. Ao sair das células para o ambiente extracelular, o vírus leva consigo um pedaço da membrana celular, que é o envelope viral posteriormente como já comentado. Milhões de vírus são produzidos cada ciclo, e assim, milhões de pedaços de membrana perdidos a cada ciclo, e sem membrana, o linfócito não sobrevive e morre. Quanto mais partículas de HIV circulando durante analise clínica, menor é a quantidade de CD4 no sangue. Tendo em mente sempre que a gravidade do HIV é comparada tendo a contagem das partículas virais principalmente e também a contagem dos Linfócitos CD4. Outro achado clinico importante em pessoas com HIV ou portadoras do vírus é um fenômeno conhecido como e que ocorre nesses pacientes de envelhecimento precoce muito por conta do processo inflamatório crônico da doença já que o vírus permanece dentro do organismo durante todo o tempo a partir de sua entrada. Assim sendo, apesar de nos dias atuais, as pessoas portadoras de HIV possuírem as mesmas expectativas de vida que pessoas normais, podem desenvolver alguns problemas mais precocemente como problemas cardiovasculares, aterosclerose e neoplasias. HISTÓRIA NATURAL DO HIV Inicialmente durante um quadro de infecção aguda por HIV ao entrar no organismo, que ainda não apresenta alguma resposta imune contra aquele vírus passa a se multiplicar enlouquecidamente. É nesse momento que se tem cargas virais extremamente elevadas, enquanto ocorre também uma intensa destruição dos linfócitos T CD4, que passa a cair drasticamente. Durante os primeiros 30 dias, o organismo começa então a desenvolver uma resposta imune, mas que demora e só se completa depois de 30 dias. Nesse período inicial ocorrem a presença de alguns sintomas inespecíficos como febres alta, linfonodomegalia, hepatomegalia, esplenomegalia e rash cutâneo com manchinhas pelo corpo inteiro, sendo o quadro denominado de mononucleose like que ocorre em 70% dos pacientes. Não adianta nesses casos fazer o teste de HIV já que nosso organismo não detectou o vírus e comumente ocorre uma negativação do teste na fase aguda de infecção. É viável de realizar o teste de carga viral que a partir do décimo dia de infecção já é possível de perceber a presença do vírus e de confirmar, portanto, o diagnóstico de HIV já nas fases mais iniciais da doença. Lembrando sempre ter atenção aos sintomas que apesar de inespecíficos, podem ser um indicio de infecção aguda de HIV, sendo importante uma anamnese bem detalhada. Passados os 30 dias iniciais da infecção, o sistema imune já começa a responder em relação ao vírus do HIV, mas não é uma resposta imune totalmente eficiente, já que se fosse a doença seria curada. Nesse momento o vírus e o sistema imune chegam em um acordo de paz em que não se tem a expansão exagerada da carga viral e nem a diminuição dos linfócitos de maneira persistente. Essa segunda fase é a fase assintomática ou de latência em que o paciente não apresenta nenhum sintoma, sendo que em alguns casos extremamente raros, podem ocorrer um aparecimento de linfedenopatia com aumento linfonodos em alguns cadeias, sem ser a cadeia inguinal. Lembrando que em nenhum momento, o diagnóstico do HIV é feito de maneira sintomática e clínica, mas sim apenas realizando o teste sorológico. Lembrando ainda que não ocorre uma latência virologica, já que o vírus continua se replicando ao longo do tempo, com queda dos linfócitos, mas ocorre a latência clínica da paciente, sendo assintomática. (USP) Importante salientar ainda que nessa fase, a carga viral é praticamente constante, sendo a contagem denominada de Set Point e importantíssima para avaliar a evolução da doença já que quanto maior a carga viral, maior gravidade da doença. Já a contagem de linfócitos vai sofrendo queda ao longo do tempo de maneira discreta, em média de 50 células por ano. Em geral, as pessoas permanecem nessa fase por cerca de aproximadamente 10 anos até ter queda acentuada e seguir para o próximo estágio da doença. Após cerca de mais ou menos 10 anos da infecção aguda a contagem doslinfócitos T CD4 começa a alcançar níveis de alerta, sendo mais especificamente menores do que 200 células por milímetro cúbico. Inicia-se então a fase grave e sintomática da infecção por HIV denominada de fase Aids ou Fase da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida que não é sinônimo de HIV. “Quem tem HIV nem sempre vai ter Aids” Nessa fase sintomática, a pessoa começa a desenvolver os sintomas de doenças oportunistas de maneira mais grave como é o caso de candidíase esofágica, traqueal e até em casos mais graves, candidíase pulmonar. Nesses pacientes não ocorre mais candidíase oral levinha, mas sim sintomas extremamente graves e exacerbados como pneumonias de repetição que podem levar mais facilmente o paciente a óbito do que pacientes que não são portadores de HIV. DIAGNÓSTICO DE HIV Lembrando que nenhum sintoma ou condição sintomática é diagnóstico certeiro de HIV já que os sintomas são muito inespecíficos quando ocorrem, assim como quando chega na fase sintomática, ocorrem infecções secundárias que podem ser indicativos de HIV, de suscetibilidade imune e mas que não representam diagnostico certeiro. Dessa forma, o diagnóstico é realizado por meio de testes laboratoriais. Em crianças menores de 18 meses, não tem como ocorrem dosagem de anticorpos contra o HIV devido ao desenvolvimento do sistema imune, sendo portanto em casos como esse dosado os valores de carga viral por pelo menos duas vezes para confirmação completa. Em casos de adultos, é realizado inicialmente os testes que são mais conhecidos atualmente como Testes Rápidos em casos de necessidade rápida de diagnóstico como casos de gestantes pré-parto que não fizeram pré-natal de maneira correta ou por meio de Imunoensaio como é o caso Teste Elisa, muito popular. Sendo em ambos os testes necessário realizar duas vezes para confirmação do diagnóstico para que depois seja realizado dosagem de anticorpos para ter o diagnóstico definitivamente confirmado de HIV. Lembrando que pode ocorrer falso negativo, por mais raro que seja, sendo que os testes são muito sensíveis ao vírus do HIV. No entanto, não se deve esquecer da existência da janela terapêutica, em que o organismo só passa produzir anticorpos a partir de 30 dias de exposição, sendo nesses casos recomendado realizar novamente o teste após cerca de 30 dias do primeiro teste. Caso o segundo teste ainda venha a ser negativo, mas estiver suspeita, pode-se fazer os testes discordantes para confirmar: Western Blot ou o Imunoblot TRATAMENTO DO HIV A terapia por HIV não é uma emergência médica, ou seja, o paciente chega com sintomas ou com suspeita de ter o contato com o vírus e é administrado antirretrovirais para ele imediatamente. Com exceção de dois casos: estupro ou abuso sexual e acidente ocupacional em que já é realizado a administração de TARV profilático para evitar o contato e a progressão da doença. O tratamento base consiste na inibição dos processos de replicação viral, inibindo as fases descritas anteriormente e atuando nas enzimas propriamente dita. É necessário o uso de pelo menos 3 drogas que inibem diferentes meios ou etapas da replicação viral para atenuar definitivamente a atividade viral e morte dos linfócitos T CD4. Esse tratamento é indicado para todas as pessoas que tem HIV ou já positivaram para o HIV, disponibilizado de forma gratuita pelo Ministério da Saúde com objetivo de diminuir a carga viral da paciente, assim como evitar transmissão do vírus seja por meio da placenta como por meio de relação sexual. O objetivo da terapia antirretroviral é garantir uma carga viral indetectável com menos de 20 células virais por milímetro de sangue, já que vírus indetectável é a mesma coisa que vírus intransmissível, independentemente dos valores de CD4. Os inibidores da transcriptase reversa são fármacos que são mais antigos no tratamento do HIV, sendo o percursor o Zidovudina (AZT) que hoje não é mais utilizado. Hoje se utiliza uma dupla dinâmica em quase todos os tratamentos associados a algum outro medicamento: Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC). Pode-se utilizar ainda Efavirenz que não é mais muito comum atualmente por conta dos efeitos. Os inibidores da integrasse são aquele que terminam com “egravir” sendo o principal deles o Dolutegravir (DTG) e o Raltegravir que antigamente era utilizado para tratamento de gestantes, mas hoje caiu um pouco em desuso devido as novas atualizações terapêuticas. E os inibidores de protease andam sempre em duplas que são o Atazanavir com ritonavir ou Lopinavir com ritonavir já que o ritonavir potencializa todos os efeitos dos outros inibidores de protease. GERAL: TDF + 3TC + DTG TUBERCULOSE: TDF + 3TC + EFV + GENOTIPAGEM GESTANTE: 10º SEMANA = TDF + 3TC + EFV...DTG (13ª) OBS: no tratamento de tuberculose com HIV faz primeiro o tratamento da tuberculose e posteriormente do HIV, e o Dolutegravir é substituído pelo Efavirenz por conta de uma interação muito forte do DTG com a Rifampicina utilizada no tratamento de tuberculose. OBS2: em gestantes, o tratamento é imediato assim que é diagnosticada a presença do HIV, inicialmente com o EFV já que não se apresenta evidencia do uso de DTG e após a 13ª semana de gestação é utilizado o DTG para seguir esse tratamento como na população geral. Os efeitos colaterais ocorrem principalmente com uso dos fármacos Tenofovir que causa nefrotoxicidade com perda da função tubular proximal, sendo contra indicado casos de portadores de doença renal, além de promover a perda óssea nos pacientes, sendo indicado exercícios físicos. O Dolutegravir praticamente não apresenta sintomas, em que pode ocorrer presença de cefaleia. Já o Efavirenz é um fármaco com muitos efeitos colaterais neuropsiquiátricos como sonolência intensa (Efavironha) e rash cutâneo. OBS3: em casos de portadores de tuberculose é utilizado o uso de Efavirenz preferencialmente. No entanto, esse tipo de paciente possui uma peculiaridade de ser intensamente resistente ao medicamento, sendo necessário realizar uma genotipagem do paciente para verificar a sensibilidade que ele apresenta quanto uso do medicamento. Caso tenha a resistência ao uso, deve-se substituir por Dolutegravir em doses duplicadas, caso contrário, segue o tratamento. PROFILAXIA POR INFECÇÃO DE HIV A profilaxia é feita em casos de risco de exposição em que o exposto é negativo para HIV mas que a fonte é positiva geralmente em casos de acidentes ocupacionais ou casos em que a fonte é desconhecida, comum em violência ou de abuso sexual. Essa profilaxia pós-exposição ou PEP deve ser realizada em até 72 horas da exposição, sendo idealmente iniciada em até 2 horas. O esquema terapêutico da profilaxia é igual ao esquema do tratamento de HIV, assim como em gestantes e portadores de tuberculose durante 28 dias. Existe ainda a Profilaxia Pré-Exposição que é utilizada em pessoas que correm risco de exposição como homens que fazem sexo com homens por conta do risco aumentado de transmissão de HIV, assim como transexuais por conta do sexo anal com risco maior de lesões e presença de maiores quantidades de linfócitos T CD4 nessas regiões. Além dos outros grupos prioritários como profissionais de sexo e em casos de casais sorodiscordantes, apesar de o tratamento correto não ocorrer transmissão. O esquema terapêutico é diferentes nesse caso: TDF + FTC ou Entricitabina sendo indicado no Brasil tomar todos os dias esses medicamentos. Estudos recentes indicam que se pode tomar cerca de 2 horas antes da exposição de riscos assim como medicamentos injetáveis.
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