Prévia do material em texto
SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 1 EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA Características gerais • Realizar na presença dos pais, sempre que possível e incentivar perguntas sobre o que é fisiológico ou não • difícil seguir roteiro, mas tentar cranio → caudal • Iniciar pelo exame cardiorrespiratório se o bebê estiver calmo → quando está chorando: ↑ FC e ↑ FR (aumento de FR indica pneumonia) • Realizar exame oftalmo se bebê acordado e alerta Na sala de parto • Sucinto → ver vitalidade Apgar • Antes o APGAR era usado para indicar reanimação, mas atualmente se usa para avaliar o sucesso da reanimação. Para indicar reanimação, os critérios avaliados atualmente são: (1) Respiração, (2) Tônus/ (3) Se é a termo ou não • É normal o bebê nascer com cianose central → nasce com saturação de 60% e em dez minutos chega a 90% • APGAR até 5min > 7: ok < 7: avaliação de 5 em min até 20min EXAME FÍSICO GERAL Postura Pele • alterações: - Os neonatos apresentam certa instabilidade vasomotora e lentidão circulatória periférica → Podem ter acrocianose (doença arterial periférica funcional, é uma descoloração persistente, indolor e azulada de ambas as mãos e, menos comumente, de ambos os pés) - Mosqueteamento ou moteamento da pele: instabilidade vasomotora (desconforto respiratório, sepse ou variação de temperatura) - Palidez pode ser anemia ou choque, lembrar da doença hemolítica perinatal. - Vermelha intensa é vista na policitemia (doença crônica que afeta o sangue. Consiste em um aumento de todas as células sanguíneas, especialmente dos glóbulos vermelhos) - Cor/sinal de arlequim: divisão do corpo da região frontal ao púbis em metades vermelha e pálida, alteração vasomotora transitória, sem importância clínica - ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS * manchas mongólicas: Pigmentação cinza-azulada no dorso e nas nádegas, acúmulo de melanócitos SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 2 * pérolas de epsteins: Acúmulos temporários de células epiteliais no palato duro * vérnix caseoso: Substância gordurosa esbranquiçada formada principalmente por células mortas e secreções sebáceas, que lubrifica a pele e facilita a passagem através do canal do parto * Lanugem ou lânugo: pelos finos, macios e imaturos * Eritema tóxico: Erupção cutânea composta de pápulas ou lesões vesiculopostulosas surgem com 1-3 dias de vida e desaparecem com 1 semana. A pele oleosa obstrui os ductos, parece acne, comum em cidades quentes * Descamação fisiológica - Na primeira semana de vida. * bolhas por sucção - Geralmente por sucção na vida intrauterina * Milium facial - Cistos queratogênicos, causados por obstrução dos folículos pilosebáceos * Melanose pustulosa: Causa desconhecida, apresenta-se desde o nascimento, na face e tronco com pústulas pequenas, flácidas e superficiais, que se rompem facilmente e deixam máculas hiperpigmentadas acastanhadas SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 3 * Miliária: Obstrução de glândulas sudoríparas, 2 semanas de vida * Icterícia neonatal Sinais Vitais • Temperatura: 36,5 a 37,4. Geralmente axilar. • Frequência cardíaca: 95-160bpm. • Frequência respiratória: 30 a 60ipm. - Pausas curtas 5 a 10 seg podem ser normais. - Apneia definida por mais de 20 seg, associada a cianose ou bradicardia merecem avaliação aprofundada. • Pressão arterial, não é aferida rotineiramente. PA invasiva: pelo coto umbilical • Oximetria de pulso Medidas • logo após o nascimento • peso • Comprimento - estadiamento • Perimetro cefálico (ps: bossa Serossanguinea) – mede até dois anos • AIG: adequado para a idade gestacional • GIG: mães com DM • PIG: CIUR na gestação Cabeça e pescoço • Cabeça ocupa ¼ da superfície corpórea • Examinar fontanelas e suturas, ver medidas, pulsátil, abaulada ou deprimida • O formato do crânio pode ser influenciado pela via de parto, uso de fórcipe. • cavalgamento de suturas: superposição óssea • bossa serossanguínea: tumefacção do escalpo sobre o periósteo, não respeita suturas. • céfalo-hematoma: Coleção sanguínea subperiosteal, que respeita as linhas de sutura. - alterações patológicas do crânio * encefalocele: herniação do conteúdo do cérebro, é coberta por pele e está presente no lobo frontal ou occipital. É cirúrgica. Defeito no fechamento do tubo * craniossinostose: quando ocorre o fechamento precoce das suturas SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 4 * torcicolo congênito - alterações boca * A boca deve ser inspecionada e palpada para a busca de fendas palatais, ou labiais, soluções de continuidade nas gengivas e presença de dentes decíduos. * Buscar pérolas de Ebstein. * fenda palatina. * labio leporino - Alterações fáscies * síndrome de pierre-robin: Retrognatia, ou micrognatia e glossoptose; via aérea dificil * sindrome de moebius: Face de cera, sem mímica facial; cytotec/ ↑ mortalidade * síndrome de down: Macroglossia e epicanto caracterizam a fácies mais frequente na clínica. É decorrente da trissomia do cromossomo 21 Avaliação cardiorrespiratório • cor: Tom rosa-avermelhado ou acrocianose • padrão respiratório: Inspeção e ausculta. Passada a transição inicial, o RN deve respirar sem esforço - gemido: pressão expiratória final positiva autogerada - batimento de asa de nariz: diminuição da resistência de vias aéreas. - retrações intercostais: estabilização da parede torácica - TAQUIPNEIA mais frequente que BRADIPNEIA (lesão neurológica). - Murmúrio vesicular reduzido, assimétrico, estertores • coração - Bulhas cardíacas hipofonéticas, ou deslocadas (dextrocardia) - ver atividade precordial, frequência, ritmo, características das bulhas cardíacas e a existência ou não de sopros. * sopros: os sistólicos são frequentemente auscultados transitoriamente sem doença cardíaca estrutural significativa X os diastólicos são sempre anormais. Doenças cardíacas graves podem não ter sopro. * se alterações: radiografia de tórax, pa dos 4 membros, saturação pré e pós ductal, e ecocardiograma. - avaliar pulsos (amplitude e simetria) • Tórax - as clavículas devem ser palpadas. - inspecionar a forma e a simetria do tórax. SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 5 - tórax abaulado e abdome escavado – hérnia diafragmática – mortalidade de 50% - tem que intubar se tiver desconforto respiratório Abdome • O abdome do RN deve ser globoso e com a pele íntegra. • Avaliar coto umbilical. • O fígado deve ser palpável até 2cm RCD. • Alterações: - onfalite: inflamação no coto por baixa higiene - onfalocele: protrusão de vísceras abdominais através de um defeito da linha média na base do umbigo. - Gastroquise: grave, cesariana, cirurgião pediátrico → defeito congênito da parede abdominal do bebê, em sua porção próxima ao umbigo, que cursa geralmente com a saída de conteúdo intestinal pelo orifício, que fica exposto ao líquido amniótico durante a gravidez. - atresias: Vômitos, não progressão da sonda orogástrica, retardo na eliminação de mecônio - hérnia umbilical: Aparelho GU • nos meninos devem ser palpados os testículos (descida completa após 35 sem IG). - alterações: * criptorquidia.: testículos não descidos, ou a ausência de um ou dos dois testículos na bolsa testicular (saco escrotal) * hidrocele associado ou não com hernia inguinal (comunicante): acumulo de líquido dentro do escroto envolvendo o testículo) * epispadia: defeito presente ao nascimento na abertura da uretra, canal por onde sai a urina. Essa alteração faz com que a abertura da uretra seja na parte superior do pênis e pode levar a perda do controle urinário e infecções do trato urinário SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA –UESB 6 * hipospadia: malformação genética que ocorre nos meninos, tendo como principal característica a abertura anormal da uretra, em um local abaixo do pênis, ou em outros locais, como no escroto ou no períneo, ao invés do local natural: na ponta (extremidade da glande) * extrofia vesical: anomalia congênita rara decorrente de falha da fusão dos tecidos da linha média da pelve durante a embriogênese e caracteriza-se por má formação da região inferior da parede abdominal envolvendo o trato geniturinário e o sistema musculoesquelético • Nas meninas pode haver secreção leitosa (leucórreia), sanguinolenta, aumento de grandes lábios e sinéquias. • Avaliar sempre - genitália ambígua Osteoarticular • Avaliar traumas de parto e malformações congênitas. • Luxação congênita de quadril, ou displasia do desenvolvimento do quadril: ocorre com o deslocamento contínuo dos ossos do quadril, o que não permite a perfeita articulação da cabeça do fêmur com o acetábulo. - mais frequente no sexo feminino e deve ser pesquisada ao nascimento em todos os RN • Manobras de ortolani e barlow. - Ortolani: consiste em colocar os membros inferiores do neonato em posição de rã e, com o terceiro dedo no grande trocanter e o polegar e o indicador segurando o joelho, tentar recolocar a cabeça do fêmur no acetábulo, empurrando para cima com o terceiro dedo e lateralmente com o polegar no joelho. Caso haja uma luxação, a cabeça do fêmur será deslocada para cima - Barlow: consiste em empurrar posteriormente o fêmur com o quadril em flexão e a coxa em adução. Sente-se a cabeça deslocar-se do acetábulo para trás - alterações: * focomelia: aproximação ou encurtamento dos membros do feto, tornando-os semelhantes aos de uma foca * polidactilia: presença de dedos supranumerários * sindactilia: presença de uma membrana que une os dedos, tanto nas extremidades superiores como nas inferiores SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 7 * pé torto congênito: * lesão de plexo braquial • Coluna vertebral * deve ser realizado com o recém-nascido em decúbito ventral. * A coluna deve ser inspecionada e palpada em toda a sua extensão, especialmente nas regiões lombar e sacra, para pesquisa de tumorações de linha média resultantes de defeito de fechamento do tubo neural, como mielomeningocele (herniação de raízes nervosas cobertas por meninge) e meningocele (herniação de meninge sem exposição de raízes nervosas) Avaliação neurológica • A primeira etapa do exame neurológico do recém-nascido para avaliar tônus, postura, resposta ao manuseio, tipo de choro e capacidade de se acalmar com a cessação do estímulo deve ser realizada à medida que o exame físico geral é conduzido pelo examinador. • O tônus do recém-nascido é flexor. • Avaliar o tipo de choro, se consolável, muito irritado, gemência REFLEXOS PRIMITIVOS 1. Sucção - desencadeado pela estimulação dos lábios por uma chupeta ou o dedo do avaliador - Observa-se sucção vigorosa. - Sua ausência é sinal de disfunção neurológica grave - desaparece em 2 meses - resposta: movimentos rítmicos da mandíbula, levantamento e abaixamento da lingua, deglutição 2. De busca - desencadeado por estimulação da face ao redor da boca. Observa-se rotação da cabeça na tentativa de “buscar” o objeto, seguido de abertura da boca e sucção reflexa do mesmo. - desaparece com 3 meses 3. Moro - Estimulo: queda súbita da cabeça em extensão - Resposta: MMSS em abdução, com os dedos estendidos → cruzam sobre o tronco em adução → choro SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA GABRIELA BRASIL | MEDICINA – UESB 8 - desaparece e tende a se integrar por volta do 5º ou 6º mês de vida do bebê, não devendo persistir no segundo semestre. 4. Tonico-cervical - Ao ser colocada em posição supina, a cabeça da criança deve ser rotacionada em 90° para um dos lados pelo examinador e assim permanecer durante 15 segundos. - reflexo assimétrico será perceptível pela extensão ipsilateral (à rotação) dos membros superior e inferior e flexão contralateral (do lado occipital) dos membros superior e inferior. - também conhecido como reflexo do esgrimista ou reação de Magnus-Kleijn, pode indicar algum comprometimento neural caso seja exagerado ou se torne persistente, isto é, ultrapasse o terceiro mês de vida. - reflexo tônico-cervical assimétrico não deve estar presente do 2º semestre de vida 5. De marcha - avaliador deve segurar e suspender a criança pelo tronco, mas permitindo que ela toque os pés em uma superfície. - reflexo será obtido com a inclinação do corpo da criança após obter o apoio plantar, estando presente já nos primeiros dias de vida e desaparecendo entre a 4ª e 8ª semana de vida da criança. - Observa-se cruzamento das pernas, uma à frente da outra 6. Preensão palmar - examinador deve posicionar dedo index na palma da mão da criança, obtendo como resposta a flexão dos dedos - desaparece entre 4 e 6 meses (integra-se) 7. Preensão plantar - examinador coloca o polegar na planta do pé do bebê, logo abaixo dos dedos → pressão da base dos artelhos. - Observa-se flexão dos dedos - desaparece por volta dos 15 meses de vida. 8. Babinski/cutâneo-plantar - examinador deve estimular a porção lateral do pé da criança, no sentido proximal-distal. - Após realizar esse movimento, será observada a extensão do hálux que, apesar de ser um indicativo de lesão neurológica no adulto, é considerado normal na criança até os 18 meses de vida