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NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENÇÃO FAVENI DEIVANIA DOS SANTOS GALLASSO INTERVENÇÃO NO TEA-TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA RIBEIRÃO PRETO-SP 2022 NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENÇÃO FAVENI DEIVANIA DOS SANTOS GALLASSO INTERVENÇÃO NO TEA-TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título especialista em TEA- TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA. RIBEIRÕ PRETO-SP 2022 INTERVENÇÃO NO TEA-TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Resumo Os sinais do autismo surgem antes dos 3 anos de idade e deve ser considerado uma síndrome comportamental que engloba comprometimento nas áreas relacionadas a comunicação verbal ou não verbal, em ações simbólicas, no comportamento em geral e no distúrbio do desenvolvimento neuropsicológico. A pesquisa procurará esclarecer que receber um diagnóstico de autismo não é simples para a família, e apresentar algumas características do autismo, bem como seu histórico familiar, escolar e de saúde e a importância de uma intervenção precoce seja cada vez mais assídua. Segundo estudos quanto mais precoce for o diagnóstico mais precoce será a intervenção junto com a família e a equipe interdisciplinar e a escola. O trabalho desenvolvido pretende colaborar para uma melhor reflexão acerca da formação e do posterior trabalho dos profissionais, de forma a que cada vez se consigam intervenções mais adequadas e eficazes. Palavras-chave: Intervenção no TEA, Diagnóstico, Autismo, TEA. 1 INTRODUÇÃO A HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS DO AUTISMO: COMPREENDENDO O TRANSTORNO O artigo tem como objetivo apresentar e abordar um pouco da história do autismo e da educação inclusiva, ressaltando acontecimentos para o reconhecimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Assim, permite a compreensão do Transtorno, tanto para profissionais da saúde, como também para a comunidade educacional, esclarecendo que tais instituições devem conhecer, incluir e trabalhar com o autismo. O termo autismo foi usado pela primeira vez por Bleuler (1908), um psiquiatra suíço, que remetia para uma descrição do isolamento social de adultos, vítimas de esquizofrenia. Mas a história começa mesmo com a investigação aos finais do século XVIII, inícios do século XIX, quando Itard descreveu Victor, o rapaz selvagem de Aveyron, que segundo as características enumeradas se enquadraria na Perturbação Autista (PA) de Leo Kanner. Então, quem definiu o conceito de autismo foi o psiquiatra Leo Kanner, em 1943, que concebeu o autismo como um distúrbio do contato afetivo, acarretando um isolamento social. Leo Kanner em uma pesquisa com um grupo de crianças que tinham um padrão comum de condutas patológicas, sendo o principal distúrbio a incapacidade para estabelecer relações interpessoais, a falta de interesse em querer relacionar-se com o mundo exterior e que pareciam viver em um mundo próprio. Este fato levou a Kanner considerar haver uma perturbação inata do contato afetivo, vinculado a fatores orgânicos e ambientais, Kanner denominou esta perturbação de Autismo, que tem origem da palavra grega Autos que significa Próprio ou Eu e Ismo que indica uma Orientação, ou seja, orientado para si próprio. Ao dissertar sobre inclusão do aluno com TEA, primeiramente vai ser comentado sobre autismo, termo introduzido em 1911 por Bleuler. Já em 1943, temos Leo Kanner dizendo o seguinte: “a criança com autismo vive isolada, falta de linguagem (mutismo), obsessão a certos ruídos e alguns objetos, estereotipias e ecolalia”. Com esses estudos distinguiu uma síndrome autística em sua publicação, dando origem à nomeação “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (KANNER, 1943). Um ano após Kanner, Hans Asperge, definiu o autismo como Autismo de Asperge que é mais abrangente do que a definição de Kanner, pois os seus estudos envolviam indivíduos com patologia orgânica severa e outros que se aproximavam da normalidade. Em 1967, o termo autismo surge na 8ª edição da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (WHO) classificado como um estado de patologia infantil, como um tipo de esquizofrenia, uma psicose da infância, onde existia uma descrição da “doença”, mas sem critérios de diagnóstico que a delimitassem. E em 1977, com a publicação da CID-9 “o autismo foi classificado como uma psicose com origem específica na infância juntamente com a psicose desintegrativa” (Fávero e Vieira, 2007). Mais tarde, Michael Rutter, após uma grande investigação, propôs que o autismo passasse a ser classificado como um transtorno de desenvolvimento, e não como uma psicose, e definiu-o então como uma perturbação distinta com validade clínica enquanto síndrome, tendo juntado o diagnóstico aos fenômenos, reduzindo assim a possibilidade de uma definição conceitual. Em 1978 desenvolve o primeiro modelo importante para o diagnóstico, baseado no aparecimento de sintomas antes dos trinta e seis meses que são: resistência à mudança, movimentos estereotipados e perturbação na interação e comunicação não apenas pela deficiência mental associada, mas por outros déficits; passa então a haver distinção entre critérios de diagnóstico das perturbações psiquiátricas adultas, seguidos até então, a de autismo. E apenas no ano de 1980, quando da 3ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Perturbações Mentais - DSM III, foi sugerida a enumeração de critérios para o diagnóstico do autismo, quando foi inserida uma nova categoria denominada de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. No ano de 1987, o autismo é identificado no DSM-III-R, como sendo uma Desordem Autística, que se incluía nos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, surge aqui também a classificação de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento de Etiologia não Especificada. Mais tarde, na publicação do DSM-IV-R (1994: 66), depois de feita a quarta revisão, no capítulo sobre o autismo pode-se ler o seguinte: “As Perturbações do Espectro do Autismo envolvem limitações das relações sociais, da comunicação verbal e não-verbal e da variedade dos interesses e comportamentos. Existem cinco diagnósticos específicos do Espectro do Autismo, estes incluem a perturbação Autística, a perturbação de Asperge, a perturbação de Rett, a perturbação Desintegrativo da Segunda Infância e a perturbação global do desenvolvimento sem outra especificação. ” Em maio de 2013, é publicada a quinta versão do DSM. As duas principais mudanças que se pode encontrar nesta mais recente versão são, em vez de existirem três critérios para efetuar o diagnóstico, passam apenas a existir dois, uma vez que dois deles foram agrupados; e o fato das categorias Autismo, Síndrome de Asperge, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Segunda Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação, terem deixado de existir, passando todas elas, exceto o Síndrome de Rett que se tornou uma entidade própria, a fazer parte de um mesmo transtorno, uma única denominação: Transtorno do Espetro do Autismo (TEA). AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO Após conhecermos um pouco sobre a história do Autismo, vamos conhecer as etapas de avaliação, diagnóstico e intervenção. Sabemos que nos dias atuais existem inúmeras definições de Transtorno do Espectro do Autismo, mas é muito difícil encontrar definições que estejam em concordância, que sejam coerentes entre elas; pois encontram-se variadas definições, que vão de encontro a problemas neurológicos, genéticos, comportamentais,psicológicos, biológico, neuropsiquiátricos, deficiências de desenvolvimento, transtornos mentais, alterações cerebrais, etc. Para começar a chegar a uma definição o primeiro passo de todo processo é a avaliação. A avaliação requer do examinador todo cuidado e atenção, o ambiente, os objetos usados, influencia a forma com que o paciente responde aos estímulos, é necessário o uso de instrumentos validados que consigam atender e contextualizar na realidade do paciente. Segundo Fávero e Vieira (2007) a definição de autismo propiciou a criação de instrumentos para a sua avaliação, e hoje em dia existem tabelas de observação, entrevistas diagnósticas, escalas de avaliação entre outros. Referem ainda que, apesar da quantidade de instrumentos criados para um melhor conhecimento do autismo, estes não obtiveram o avanço esperado. Após o uso dos instrumentos avaliativos é hora de um diagnóstico. O diagnóstico tem grande importância, passando a identificar as diferentes etapas do desenvolvimento evolutivo e a compreensão da relação do paciente com a aprendizagem. Lembrando que toda criança que tem entre 18 e 24 meses deve ser feito uma triagem para o TEA, mesmo na ausência de suspeita diagnóstica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019). Dentre os instrumentos disponíveis para rastreamento de TEA, o recomendado pelo Ministério da Saúde é o M-CHAT, este é um teste de triagem, e não de diagnóstico, exclusivo para sinais precoces (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019). Este pode ser aplicado pelo pediatra em consultas de rotina, e permite uma maior sensibilidade do teste detectando maior número de casos possíveis de suspeita. O M-CHAT é baseado em comparativo da criança avaliada com os marcos do desenvolvimento normal, obtêm-se aquelas que estão com possível atraso e hipótese diagnóstica de TEA, a escala foi traduzida para a língua portuguesa em 2008 (LOSAPIO; PONDÉ, 2008). O diagnóstico é feito com a presença de pelo menos seis critérios comportamentais na interação social, comunicação e padrões restritos de comportamento e interesses, e desenvolvimento anormal em pelo menos um dos seguintes aspectos: social, linguagem, comunicação ou brincadeiras simbólicas/imaginativas, nos três primeiros anos de vida (KLIN, 2006). A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a utilização de um questionário modificado para triagem em crianças entre 16 e 30 meses considerado de seguimento, o M- CHAT-R/F, tendo maior eficácia no diagnóstico. A partir da triagem e suspeita do autismo, pode-se acompanhar o neurodesenvolvimento mais direcionado e realizar atendimentos terapêuticos a fim de impactar em uma melhora na vida da criança. O diagnóstico é um processo contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. (Bossa 1994, p.74) Depois do diagnóstico entra-se com a intervenção, vale lembrar que não é preciso que o diagnóstico de autismo tenha sido fechado para iniciar o tratamento. Isso porque, normalmente, quando os pais buscam por ajuda profissional é poque já notaram alguns sinais de atraso no desenvolvimento, como atraso na fala ou problemas na coordenação motora, quanto mais cedo começar a intervenção melhores serão os resultados. A intervenção compõe uma série de terapias e acompanhamentos que são essenciais para o desenvolvimento de quem está no espectro, mesmo com apenas suspeita o objetivo da intervenção é promover o estímulo de várias áreas necessárias. A escolha da intervenção e da equipe multidisciplinar que vai realiza-las é uma preocupação familiar, e para executá-la deve-se respeitar as singularidades de cada pessoa, pois o resultado de cada um é diferente, mas os objetivos em comum de todos especialistas é aumentar a capacidade de independência, fechando lacunas nos atrasos cognitivos, nos problemas de linguagem e comportamento, desde criança até a vida adulta. O autismo se desenvolve de forma única em cada pessoa, por isso é preciso pensar nas particularidades, dificuldades e habilidades a serem desenvolvidas pela equipe que vai atender. No geral, alguns desses especialistas que compõe essa equipe de atendimento são: - Analista de comportamento: está presente no dia a dia da pessoa; - Fonoaudiólogo: atua nas intervenções de linguagem e comunicação; - Psicopedagogo: trabalha a inclusão escolar e familiar e criação do currículo pedagógico; - Terapeuta ocupacional: avalia o desempenho do paciente em suas funções e elabora o tratamento utilizando métodos e técnicas para que as pessoas com TEA tenham o maior nível de independência possível. É necessário que toda equipe multidisciplinar tenha conhecimento e, principalmente, seja especializada no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Só assim, garante-se uma intervenção precisa. A intervenção Pedagógica, Psicopedagógica e Neuropsicopedagógica é a busca de aprendizagens significativas, a compreensão acerca de determinados conhecimentos, possibilitando o desenvolvimento ou reabilitação de competências e aptidões que se encontram diminuídas ou deficitárias. (Maluf 2016, p. 37) As intervenções indicadas são aquelas com práticas baseadas em evidências científicas, são ferramentas que funcionam e são comprovadas, atualmente são 28 práticas baseadas em evidências para o TEA, destas 23 são baseadas nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA). A pessoa com TEA gosta de manter comportamentos repetitivos e rituais diários, então estabelecer rotinas cria ordem e previsibilidade e ajudam a controlar a ansiedade, pois o autismo costuma vir associado a algumas comorbidades, como o transtorno de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade e distúrbios do sono, por isso, o uso de medicações pode ser necessário de acordo com os sintomas apresentados, pois quando o comportamento repetitivo traz prejuízo para a pessoa com TEA, limitando a aprendizagem e convívio com outras pessoas, devemos intervir para corrigir este tipo de comportamento. Por último a ajuda da família é imprescindível, pois é através dela que podemos ver os resultados do trabalho da equipe multidisciplinar mostrando em como tudo se reflete na conquista de novas habilidades, mudanças de comportamentos como a melhora nas crises, e melhora de desenvolvimento, mas devem ter a compreensão de que não há tempo para começar essas mudanças de comportamentos e habilidades, cada pessoa tem seu tempo. Esta é uma das etapas mais importantes de todas a que chamamos de capacitação parental, pois é importante que os pais estejam empenhados no tratamento e consigam aplicar os aprendizados na terapia e também incentivar tudo que acontece na escola. 2 CONCLUSÃO Espera-se com a pesquisa evidenciar alguns questionamentos presentes na sociedade diante a prática inclusiva e a compreensão de aspectos inerentes a pessoa com TEA que possam ser reconhecidos e efetivados no âmbito educacional. Devemos ter a consciência que não se pode homogeneizar o sujeito com autismo, considerando que são sujeitos diversos, com níveis de intelectualidade diferentes, e com manifestações diferentes no cotidiano da pessoa como o déficit na comunicação, de interação social que é recorrente no autismo apresentando dificuldade na socialização e contato com o próximo. Outro fator é o déficit de estabelecer rotinas diárias, além de movimentos repetitivos que são presentes na maioria dos casos, essas manifestações são estimuladas pelo transtorno, podendo ser mais leve ou mais grave, depende do grau que se encontra.A necessidade de desenvolvimento de novos estudos na área voltados para a família e cuidadores de pessoas com TEA reforçam a importância desse estudo. A participação da família é importante, sendo considerada parte integrante do processo. Dessa forma, além dos cuidados necessários voltados a pessoa com TEA, se faz necessário que a família e cuidadores sejam englobados nesse processo, tendo em vista que essa relação dos profissionais com a família é fundamental para o desenvolvimento do autista, permitindo avanços significativos no âmbito social e educacional. 3 REFERÊNCIAS APA - AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais-DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2002. APA - AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais-DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014. BOSSA, N. A. A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. BOSA, C. A. Autismo: intervenção psicoeducacionais. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 28, supl. 1, p. S47-53, 2006. BOSSA, N. A. A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 2007. Fávero MAB, Santos MA. Autismo infantil e estresse familiar: uma revisão sistemática de literatura. Psicol Reflex Crit. 2005;18(3): 358-69 KANNER, L. Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo. Tradução e Revisão: Marialice de Castro Vatavuk. Disponível em: Losapio MF, Pondé MP. Tradução para o português da escala M-CHAT para rastreamento precoce de autismo. Rev. Psiquiatr. RS. 2008;30(3) – 221 MALUF, A. C. M. Alternativas pedagógicas: propostas para ensinar e intervir em espaços de aprendizagem. Rio de Janeiro, Wak Editora, 2016, p. 27-37 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID-10: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10 Ed. vol.2. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA Manual de Orientação: Transtorno do Espectro do Autismo. Nº 05, abril de 2019.
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