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1 Realização Programa de Pós-Graduação em Letras Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas UNESP – São José do Rio Preto Caderno de Resumos 2 IV Congresso Internacional do PPG-Letras e XVIII Seminário de Estudos Literários 18 a 20 de setembro de 2017 QUAL O LUGAR DA LITERATURA? Caderno de Resumos Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Programa de Pós-Graduação em Letras. São José do Rio Preto Unesp – Câmpus de São José do Rio Preto 2017 3 Reitor Sandro Roberto Valentini Vice-reitor Sergio Roberto Nobre Pró-Reitora de Graduação Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari Pró-Reitor de Pós-Graduação João Lima Sant’Anna Neto Pró-Reitora de Pesquisa Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff Pró-Reitora de Extensão Universitária Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll Diretora Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira Vice-Diretor Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas Prof. Dr. Peter James Harris Profa. Dra. Norma Wimmer Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários Profa. Dra. Lúcia Granja Prof. Dr. Luís Augusto Schmidt Totti Programa de Pós-Graduação em Letras Coordenador Prof. Dr. Pablo Simpson Vice-coordenador Prof. Dr. Cláudio Aquati Comissão organizadora do evento Coordenador geral Prof. Dr. Pablo Simpson Manoela Navas Corpo docente Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves Prof. Dr. Nelson Luís Ramos Profa. Dra. Norma Wimmer Profa. Dra. Susanna Busato Corpo discente Alan Medeiros Casteluber Davi Silistino de Souza Débora Spacini Nakanishi Dibo Mussi Neto Fernando Aparecido Poiana 4 Gabriela Fardin Gisele de Oliveira Bosquesi Ingrid Zanata Riguetto Joshua Teixeira Tangi Juliane Camila Chatagnier Laís Midori Leandro Henrique Aparecido Valentin Lucas de Castro Marques Monelise Vilela Pando Natália Fernanda da Silva Trigo Odair Dutra Santana Júnior Suzel Domini dos Santos Comissão Científica do evento Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Gustavo Scudeller (UNIFESP) Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Manuel Fernando Medina (University of Louisville, KY, EUA) Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Osvaldo Copertino Duarte (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Prof. Dr. Ricardo Gaiotto (PUC – Campinas) Organização do caderno de resumos Gisele de Oliveira Bosquesi Débora Spacini Nakanishi Diego Jesus Rosa Codinhoto Fernando Aparecido Poiana Suzel Domini dos Santos Pablo Simpson Congresso Internacional do PPG-Letras (4. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) Caderno de resumos [do] 4. Congresso Internacional do PPG-Letras e 18. Seminário de Estudos Literários [recurso eletrônico] : 18 a 20 de setembro de 2017, São José do Rio Preto-SP / [Organização de Gisele de Oliveira Bosquesi... [et al.]. – São José do Rio Preto : UNESP – Câmpus de São José do Rio Preto, 2017 91 p. Temática do evento: Qual o lugar da literatura? E-book Requisito do sistema: Software leitor de pdf Modo de acesso: <http://www.ibilce.unesp.br/#!/pos-graduacao/programas-de-pos- graduacao/letras/congressoanual/> ISBN 978-85-8224-138-7 1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Literatura - Estudo e ensino. I. Seminário de Estudos Literários (18. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) II. Bosquesi, Gisele de Oliveira. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Qual o lugar da literatura? CDU – 8.013 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto 5 6 APRESENTAÇÃO O IV CONGRESSO INTERNACIONAL DO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM LETRAS é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) de São José do Rio Preto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O congresso reúne professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros que desenvolvem estudos nas áreas de teoria e crítica literária em seus diversos campos, como a literatura comparada, a literatura clássica, a literatura brasileira, as literaturas estrangeiras modernas e as relações entre a literatura e outras artes, como a pintura, o cinema, a música e as narrativas gráficas. O tema do encontro de 2017 vem expresso na forma de um questionamento: “Qual o lugar da literatura?” A proposição, em princípio simples em sua formulação, sugere outras questões de difícil resposta, algumas delas já antigas: O que é literatura? O que é um lugar? A literatura tem lugar, é entre-lugar, fronteira, trânsito? Quais são os modos de circulação e de legitimação disso que chamamos “literatura”? Ou será a literatura, ela mesma, um certo lugar, algo que se torna visível no espaço? Visibilidade frágil ou forma que se quer talvez sem espaço, residindo tão só na espacialidade da palavra, do livro, da tela? Menos imagem visível de um lugar, do que imaginação. Seria a literatura, ademais, essa consciência de um certo lugar sem lugar, de uma certa proximidade (ou lugar relativo) que pretende com relação ao eu, ao mundo, ao leitor? São questões que colocamos como sugestão para a reflexão dos participantes, desde já convidados a contribuir com outras mais. O XVIII SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de São José do Rio Preto (SP), cujo objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de Mestrado e Doutorado a oportunidade de debater suas pesquisas em andamento com professores convidados especialmente para essa finalidade. Visa-se, por meio desse debate, proporcionar aos alunos a possibilidade de aprimorarem sua reflexão a partir das sugestões de pesquisadores mais experientes. As bancas de debate são compostas por professores convidados, que efetivamente debatem os projetos com os alunos, e por alunos de pós- graduação da própria Instituição, que atuam como moderadores. Sejam bem-vindos, e bom trabalho! Agradecimento: O PPGL agradece o auxílio financeiro da FAPESP (processo 2017/13534-4), que permitiu a vinda dos professores Adalberto Luis Vicente, Antônio Roberto Esteves, Emerson da Cruz Inácio, Gustavo Scudeller e Lúcia Helena Costigan, da PROPG/UNESP e da FAPERP, responsáveis pelo auxílio aos demais convidados de universidades brasileiras. Acknowledgement: The PPGL gratefully acknowledges financial support received from the Irish Embassy in Brasília, without which it would have been impossible for Vincent Woods to travel from Dublin to São José do Rio Preto to deliver his lecture. 7 CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS 18 de setembro, às 10h30 “SILÊNCIOS HABITÁVEIS NA PRODUÇÃO AFROLUSOBRASILEIRA CONTEMPORÂNEA” Emerson da Cruz Inácio (USP) O silenciamento estético, político e discursivo constitui-se ainda como umaquestão a ser transposta por boa parte da produção estética de assinatura afrodescendente, uma vez que se trata de um “universo” literário ainda em conformação e que emerge tendo como horizontes paradigmas como a classe, a nacionalidade e as identidades específicas. Assim, a proposta dessa intervenção é avaliar o estatuto da produção afrodescendente no Brasil e em Portugal, notadamente aquela que se sedimenta nos últimos 20 anos, pensando-a como dobras constituintes de um plissado (Jacques Derrida, Parages, 1986), que ora revelam ora escondem múltiplos processos emancipatórios, diálogos com os cânones sedimentados e tensões com as formas de expressão identitárias. Nessa perspectiva, essa produção tende a apontar simultaneamente a síntese e o essencialismo, a perspectivação da deriva como possibilidade e a necessidade de sedimentação cultural. 18 de setembro, às 16h30 “LITERATURA, GOZO E DENÚNCIA: DOIS FRAGMENTOS DO JORNAL DOBRABIL DE GLAUCO MATTOSO” Gustavo Scudeller (Unifesp) Os anos 1970 são particularmente importantes para a literatura e a arte no Brasil, por razões conhecidas. Com o AI-5 e o recrudescimento da censura no auge do regime militar, o interesse pela literatura de denúncia se torna cada vez mais urgente ao longo da década, ao mesmo tempo em que as suas condições de realização vão se tornando mais escassas. Assumindo valores de espontaneidade, informalidade e apelo popular, em oposição ao formalismo da arte de vanguarda do período anterior, esse tipo de literatura vai buscar nos jornais e na aproximação com a cultura de massas alguns de seus principais modelos. Não por acaso, Glauco Mattoso, escolhe polemizar com essas tendências nas páginas de seu inusitado Jornal Dobrabil — espécie de folhetim literário de pequena tiragem e declarada inspiração vanguardista. Logo na folha de abertura do último fascículo de 1979, o poeta, assumindo a persona do editor e crítico cultural, dispara invectivas contra os lugares-comuns da literatura de denúncia que começava a ganhar notoriedade na época, mirando principalmente os pudores dessas obras ao descreverem as violências e torturas praticadas por agentes de Estado. Na avaliação do autor, faltariam realismo e crueza a esse tipo de literatura, coisas que uma obra puramente imaginativa como a do Marquês de Sade, por exemplo, teria de sobra. Curiosamente, é no mesmo Jornal Dobrabil, que, um ano antes, Glauco apresenta um sinistro conto-reportagem sobre o “caso amoroso” surgido entre um homem e seu torturador. Considerado em paralelo com a crítica de 1979, o conto pode ser visto como 8 uma espécie de emulação criativa, isto é, uma tentativa de boa realização literária de um conto-denúncia, nos modelos que sua crítica, posterior, vem cobrar da literatura em voga na época. Mas o que poderia haver de exemplar numa literatura de denúncia fundada na ideia de literatura de imaginação? Haveria mesmo algo de irredutível na literatura que justificasse sua existência mesmo diante dos fatos mais brutos da circunstância política e da vida cotidiana? Essas são algumas questões que gostaria de abordar nesse trabalho, a partir da leitura dos dois fragmentos mencionados. 18 de setembro às 16h30 A REPRESENTAÇÃO POÉTICA DO RIO EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO E MARCOS SISCAR Adalberto Luis Vicente (UNESP) Enquanto objeto natural, o rio apresenta-se de modo complexo e misterioso. Horizontes diversos (nascente, foz, margens, paisagens, infinito, céu), profundidades (superfície, fundo, leito), traços de temporalidade (intermitência sazonal, fluir contínuo, transitoriedade) e um conjunto de componentes concretos (pedras, plantas, lama, peixes, animais), embora nem sempre presentes diante do olhar, pressupõem e determinam aquilo que um observador pode contemplar de um rio a partir de uma determinada posição espacial e temporal. Pelo fato de apresentar-se sempre como uma síntese do visível e do invisível, do referencial e do simbólico, o rio torna-se um objeto capaz de excitar de modo especial a imaginação poética. Não é raro que na poesia moderna e contemporânea, o olhar do poeta, ao fixar-se sobre um determinado objeto, expanda a perspectiva para o mundo, sem deixar de buscar apreender sua “organização interna” (Iser). No entanto, como lembra Michel Collot, essa escritura poética que visa um horizonte mais amplo, tanto do ponto de vista externo quanto interno, “também remete (pelo jogo da metáfora) ao espaço interior da consciência poética e ao espaço do texto” (La Poésie moderne et la structure d’horizon, 1989, p.6). É sob essa perspectiva que trataremos da representação do rio em alguns poemas de João Cabral de Melo Neto (“A morte dos rios”, “Rios sem discursos”, “Os rios de um dia”, “Rio e/ou poço”) e de Marcos Siscar. No caso deste último, a análise se deterá, sobretudo, no livro Rio verdadeiro, incluído na coletânea Metade da Arte (2003). 19 de setembro às 10h30 LA CONSTRUCCIÓN DE LA MEMORIA EN LA NARRATIVA JUDÍA DE AMÉRICA LATINA Manuel Fernando Medina Medina (University of Louisville) Mi trabajo estudia la re-creación de la memoria común entre textos de escritores judíos que revisan los archivos de las memorias familiares para poder encontrar una fundación para el establecimiento de sus identidades en todos los aspectos: personal, nacional, profesional, de género y más. Empleo un marco teórico que parte de la idea del archivo foucoldiana pero trasladada a un espacio de la invención selectiva del pasado que se re- crea en la producción cultural. Se emplea el concepto del tercer espacio, según lo 9 interpreta Homi Bhabha respecto a los lugares no-fijos desde los cuales los autores empiezan a hilar diferentes historias a fin de entregar al lector, y a si mismos, una versión revisada, re-inventada de los sucesos de acuerdo a las necesidades emocionales del momento. Se explora la teoría fundamental del rol de la memoria en la ficción de sectores marginados y subalternos. La ponencia utiliza la obra de autores judíos de América Latina tales como Michel Laub, en Diario de una Queda, Rosa Nissán en Novia que te vea, Ana María Shúa en El libro de las memorias, A Guerra No Bom Fin de Moacyr Scliar, la poesía de Ivonne Vailakis y la película 18-J producida por múltiples directores. Cada texto me permite ilustrar maneras diferentes en que los autores (o directores) construyen sus memorias a través de hilar invención y realidad, o invenciones re-creadas por medio de voces narrativas contándolas en repetidas ocasiones en un afán de encontrar una versión que los satisfaga y desde la cual puedan empezar a construir una identidad. 19 de setembro às 10h30 DOMINGOS CALDAS BARBOSA (1740-1800): CRONISTA DO AMBIENTE CULTURAL LUSO-BRASIELIRO DO SÉCULO XVIII Lúcia Helena Costigan (Ohio State University) A produção literária do poeta afro-brasileiro Domingos Caldas Barbosa ainda é razoavelmente inacessível tanto ao público leitor quanto aos estudiosos da literatura luso-brasileira em geral. Apesar de sua figura histórica ter alcançado alguma projeção no Brasil através da coleção de modinhas Viola de Lereno, que lhe rendeu a fama de compositor e cantor de modinhas, a grande maioria de suas obras permanece na obscuridade. O texto a ser apresentado na conferência centra-se no poema autobiográfico “A Doença”,que teve uma única edição em 1777 e que ainda é praticamente desconhecido pelos críticos literários. Procuraremos destacar que, diferente do modelo popular que o tornaram conhecido, este poema de cunho autobiográfico é uma obra de fundamental importância para o conhecimento dos preconceitos sofridos pelo poeta afro-brasileiro e das maneiras criativas para superá-las na sociedade luso-brasileira da segunda metade do século XVIII. As 49 páginas do poema “A Doença”, nos permitem perceber que Domingos Caldas Barbosa nãofoi apenas um produtor de modinhas, mas um erudito e talentoso poeta com profundo domínio da literatura clássica, da história universal e, acima de tudo, da sociedade e cultura luso-brasileira do seu tempo. 19 de setembro às 16h30 NARRATOLOGIA: NARRATIVAS E IDENTIDADES Flávia Andrea Rodrigues Benfatti (UFU) De acordo com os teóricos Brockmeier; Carbaugh (2001), a narratologia propõe um estudo das narrativas modernas, surgido nas décadas de 1960 e 1970 com o intuito de estudar os textos narrativos principalmente os de literatura ficcional. Desde então, a narratologia tem se transformado em uma teoria interdisciplinar envolvendo semiótica e 10 cultura de textos e contextos narrativos. Portanto, a narratologia diz respeito a tudo o que “conta uma estória. Ela envolve gêneros orais e escritos da linguagem, imagens, espetáculos, eventos, e artefatos culturais” (BROCKMEIER; CARBAUGH, 2001, p.4). No início, a narratologia estava atrelada ao estruturalismo e possuía algumas limitações, como o fato de não se considerar o contexto de produção e recepção das obras, por exemplo, porém, com o projeto pós-estruturalista, de estruturas invariáveis passa-se a pensar em estruturas variáveis que levam em consideração o contexto cultural das manifestações narrativas e as possibilidades interpretativas fora do texto. A partir desse momento, as narrativas então se adaptam a várias situações; elas dão voz às relações sociais e constroem significados culturais. Assim, esta apresentação visa debater sobre as formas de narrativas literárias, ficcionais ou autobiográficas, considerando a construção identitária dos sujeitos narrados dentro de uma perspectiva sócio histórica cultural. 19 de setembro às 16h30 LITERATURA DE ESPANHÓIS DE ORIGEM MARROQUINA: MIGRAÇÃO E TRANSCULTURALIDADE Antônio Roberto Esteves (UNESP) É quase um lugar comum afirmar que o planeta está se tornando um imenso território de deslocamentos cruzados, decorrentes da aceleração das comunicações, da globalização da economia e da internacionalização da cultura. Nesse processo, apesar da resistência de setores conservadores, a Europa avança a passos rápidos na direção de um continente multirracial, conforme já afirmava Umberto Eco em texto publicado no final do século XX. Tal processo vem acompanhado de profundas mudanças na ordem das filiações identitárias. Os fluxos migratórios fazem desaparecer o mito da cultura nacional monolítica, dando lugar a espaços e textos culturais híbridos. Um exemplo desse processo ocorre com a segunda geração de imigrantes marroquinos na Espanha, educados num entre-lugar da cultura original de seus pais e da cultura da terra de adoção. No caso de Barcelona, que também é multicultural, ocorre ademais uma constante negociação entre a cultura catalã local e a cultura espanhola do estado central. Um desses escritores é Saïd El Kadaoui Moussaoui, nascido no Marrocos e educado em Barcelona, que escreve em castelhano e catalão. Nossa intervenção fará uma leitura de seu último livro, No, publicado em 2016, em catalão e em castelhano. Usando fios de variada procedência, o romance articula elementos autoficcionais, metaficcionais e ensaísticos, para discutir, entre outros temas, o conflito entre a dupla identidade marroquina e europeia do narrador protagonista. A literatura, neste caso, encontra seu lugar dentro de um ambiente multicultural e trata de conciliar representações identitárias fragmentadas, sob um ponto de vista descentralizador e policêntrico. 11 20 de setembro – 14h às 18h THE THEATRE – FAR MORE THAN LITERATURE An afternoon of activities coordinated by Prof Peter James Harris At the end of his acceptance speech for the 2016 Nobel Prize for Literature Bob Dylan acknowledged the controversy surrounding his award, mischievously agreeing with those critics who had said that a lyricist should never have been eligible for the prize at all. He conceded that “songs are unlike literature. They’re meant to be sung, not read.” But in his next breath he went on to remind those same critics that the writer at the pinnacle of the Western Canon was also not primarily engaged in the production of literature: “The words in Shakespeare’s plays were meant to be acted on the stage. Just as lyrics in songs are meant to be sung, not read on a page.” The speakers in this afternoon’s programme will each seek to throw light on some of the ways in which an adequate understanding of the Theatre depends on first accepting that the playscript is not meant to be “read on a page”. MRS WARREN’S PROFESSION IN BRAZIL Rosalie Rahal Haddad This presentation, based on Rosalie Rahal Haddad’s Bernard Shaw in Brazil: The Reception of Theatrical Productions, 1927-2013 (Peter Lang, 2016), examines the reception of Mrs Warren’s Profession in Brazil. An overview will be given of three productions of Shaw’s play (in 1947, 1960 and 1998), setting the analysis in the context of the political, economic, and cultural climate prevailing at the time of their staging in Rio and São Paulo.Throughout the first half of the twentieth century, theatre and theatre criticism in Brazil were but precariously established: commercial considerations frequently prevailed over aesthetic concerns, and the theatregoer with no knowledge of English could have no guarantee that the translated text or adaptation of a play bore much more than a passing resemblance to the original upon which it was based. In the 1950s, along with an acceleration of economic growth, there was an increasing development in the country’s social and political infrastructure, which saw the rise of the middle class, freely elected presidents, and the building of the new capital, Brasília, which resulted in a more optimistic view of Brazil’s place in the world. It was surely no coincidence that, in 1960, Brazilian theatregoers witnessed the best production of a Shavian play to date, presented by a highly skilled director, excellent actors, and reviewed by well-informed and articulate critics. A comparison of these three productions of Mrs Warren’s Profession thus serves to reflect the trajectory of the Brazilian stage and its close relationship to the country’s socioeconomic and political status, demonstrating that the success of a play depends on far more than the literary merits of the playscript. 12 COLIN MURPHY’S DOCUMENTARY THEATRE: ECONOMICS AND HISTORY ON STAGE Beatriz Kopschitz Bastos Dublin-born journalist and writer Colin Murphy has made a name as one of the leading documentary playwrights in Ireland, responding to social and economic changes in the country’s recent history, and also to a decade well-supplied with centenaries – in particular, those of WWI and the Easter Rising. Five of his plays in the documentary genre have been produced or read publicly in the last five years: Guaranteed! (2013); Bailed out! (2015); Jack Duggan’s War (2015); Inside the GPO (2016); A Day in May (2016).This paper provides a survey of Colin Murphy’s plays, shedding light in particular on Guarantee!, Jack Duggan’s War and Inside the GPO. It looks at the documentary features of the plays and discusses the borders between investigative journalism, documentary and drama, aiming to identify how Murphy’s plays conform to or move away from definitions of documentary theatre such as that proposed by Patrice Pavis: “theatre that uses, for its text, only documents and authentic sources, ‘selected’ and ‘assembled’ in accordance with the playwright’s social and political thesis”. THE DYNAMICS OF WRITING A PLAY FOR THE STAGE: LINGUISTIC AND PRACTICAL EXPERIMENTS IN THE TWO DEATHS OF ROGER CASEMENT Domingos Nunez This paper discusses the dynamics of a three-year research process that resulted in several drafts anda professional production of the play The Two Deaths of Roger Casement. The work was conceived within an innovative post-doctorate project, supervised by Prof Peter James Harris (IBILCE/UNESP), with the support of CAPES and the producer and literary director of Cia Ludens, Dr Beatriz Kopschitz Bastos. During this period, linguistic and practical experiments were conducted, leading up to the first public reading of the play as part of the Cycle of Staged Readings entitled Cia Ludens and the Irish Documentary Theatre (2010-2015), held in São Paulo in October/November, 2015. Further modifications were made during the rehearsal period, and the final treatment given to the script was shown in the full production of the play that premiered at the Teatro Aliança Francesa, in São Paulo, in September 2016. The final playscript was thus the result of an organic process in which the written text determined the practice with the cast, which in its turn reshaped the forms assumed by the text. Many aspects of what was performed on the stage could not be captured in the stage directions in the final version of the play; the text to be published will therefore allow future directors and actors the space for their own interpretation of the staging possibilities. The round-table audience members will be invited to take part in an experiment with the text, in the course of which clips from a video recording of the play will be shown in order to illustrate aspects of the creative process. 13 SAINTS, STRAWMEN AND SAGA PEOPLE: WORD AND IMAGE IN IRISH THEATRE Vincent Woods In this lecture Irish playwright and poet Vincent Woods will discuss text and design in contemporary Irish theatre, making particular reference to his own plays At the Black Pig’s Dyke, John Hughdy/Tom John and A Cry from Heaven, and discussing the influence of writers such as John Millington Synge, Tom MacIntyre and Tom Murphy. He will consider the role and influence of set and costume design in theatre production, focusing on the work and vision of two of Ireland’s leading stage designers, Frank Conway and Monica Frawley. Among the issues he will consider are: how the visual dimension of live theatre is drawn from or inspired by the literary text; what is the role of the designer in bringing a text to life on the stage; how do designer, writer and director work together to realise a particular theatrical production of a written text; why is Irish theatre traditionally literary and text-led, with less imagistic, experimental and visual theatre than in many other countries; and how does a writer of poetic texts imagine the play in full production? Woods will discuss the process of writing a play from initial concept to first draft to finished text, and illustrate the subsequent transition of text to play (‘page to stage’) as designer and director add their art and expertise to the written word. He will draw on interviews with other writers and with designers Conway and Frawley to show how the written word becomes image and is heightened and strengthened by this creative adaptation. Note: Frank Conway was one of the early designers for Druid Theatre Company, designing set and costumes for such memorable productions as Tom Murphy’s Bailegangaire, as well as many productions for the Abbey Theatre. Monica Frawley also designed many shows for Druid Theatre Company, including Woods’s At the Black Pig’s Dyke and Song of the Yellow Bittern, many of Tom Murphy’s plays at the Abbey Theatre and opera and theatre productions in Ireland, the UK, Germany and the US. 20 de setembro às 19h A LITERATURA INVISÍVEL Luiz Ruffato Toda a minha obra literária tem se desenvolvido no sentido de abarcar um personagem invisível na sociedade brasileira - e portanto também invisível na literatura brasileira - que é a gente de classe média baixa. A literatura brasileira é pródiga em representar núcleos burgueses e pequeno-burgueses e também os marginalizados, em se tratando de produção urbana, mas se ‘esquece’ da grande massa anônima de trabalhadores, que não sendo intelectuais nem vivendo em comunidades, mas habitando entre ambos os mundos, não possui glamour para tornar-se prosa de ficção. Meus livros tentam resgatar essa dívida, emprestando espaço para aqueles que não pertencendo à sociedade ocupam o não lugar da invisibilidade. 14 COMUNICAÇÕES (Em ordem alfabética por sobrenome do autor) O PAPEL DA LITERATURA PARA O SER QUE SE QUER HUMANO Thiago Henrique de Camargo Abrahão thabrahao@outlook.com Após a leitura de um texto literário, não nos é mais possível, de boa-fé, alegar ignorância a respeito do que lemos — como não podemos, sob a égide do direito, justificar uma infração cometida alegando que desconhecemos a lei em vigência. Encontramos, nesse âmbito, um lugar de destaque para a literatura, cujas palavras, ao nomearem o mundo, retiram-no das sombras e o tornam perceptível e, consequentemente, pensável. Evidentemente, poderíamos apontar, como contraexemplo, que tal fenômeno também se daria com uma simples receita de bolo. O texto literário se destaca, entretanto, porque não são apenas suas palavras que nos ajudam a conhecer (ou reconhecer) o mundo, pois, a esse respeito, merecem destaque, dentre outros aspectos, o trabalho formal concernente à sua estrutura e as relações de sentido criadas por figuras de linguagem como a metáfora e a metonímia. Disso se segue que a literatura amplia nossa capacidade linguística e, se se quiser — como entendeu Ludwig Wittgenstein, para quem os limites da linguagem significam, para o homem, os limites de seu mundo —, a compreensão de nossa existência. Contudo, não queremos dizer que a literatura nos ofereça respostas prontas, pois parte de seu poder (análogo, a propósito, ao âmbito filosófico) é encontrado na capacidade de formular perguntas profícuas. À luz dessas afirmações, evidenciaremos que a literatura tem, em potência, a capacidade de fomentar a reflexão crítica ao oferecer outras perspectivas para que possamos pensar além do normalmente estabelecido pelo senso comum. Trata- se, portanto, de um lugar de destaque, cujo papel promove — como constatou o professor Antonio Candido em ensaios como “A literatura e a formação do homem” — o alargamento do que há de humano no ser que somos. Palavras-chave: Literatura; Antonio Candido; humanismo. DE SEREIAS E O LUGAR DO CANTO AUSENTE DA LITERATURA Geisy Nunes Adriano geisy.nunes@hotmail.com É voz corrente que a literatura corre perigo diverso daquele de que temia Platão, isto é, o de ser destronada de seu papel na formação cultural do indivíduo (TODOROV, 2010), ou que a narração tradicional entra em declínio com a destruição da experiência transmissível e a mudez pós-Segunda Guerra Mundial (BENJAMIN, 1980), ou com a pobreza de experiências partilháveis no dia-a-dia do homem contempo- râneo (AGAMBEN, 2008), mas também se reafirma o poder e a persistência dessa arte frente ao mundo e aos seus habitantes, inevitavelmente sempre humanos. Mesmo o herói Ulisses continua não saindo ileso ao encontro com as sereias, pois a Odisseia se transforma continuamente no túmulo das mulheres-pássaros, para sempre inscritas na narrativa e cujo silêncio torna-se impossível de escapar (BLANCHOT, 2005). Mesmo diante da morte prometida pelo Oráculo, é possível ser e estar no mundo via palavra 15 literária. Em nossas interrogações acerca do lugar da literatura ou da arte de narrar estórias no mundo contemporâneo, traçamos um diálogo com a leitura de Blanchot (2005; 2011) e Oliveira (2008) do canto das sereias da Odisseia, de Homero, dentre outros autores. Tendo por objetivo evidenciar a ideia da literatura-navegador, cujo lugar é o da travessia em direção ao canto ausente da sereia, não do ponto de chegada. Representado pela imagemde um deserto silencioso, o canto inumano é o lugar da essência da criação literária ou da “fala errante”, é o lugar inalcançável, imaginário e fantasmático que continua capturando seu narrador-viajante pela sedução do desejo pelo ausente. Palavras-chave: Literatura; Canto das sereias; Maurice Blanchot. O CINEMA COMO LUGAR DA LITERATURA: A QUESTÃO DAS REFRAÇÕES EM PERSUASÃO DE JANE AUSTEN Debora Cristina de Almeida almeidadebora@yahoo.com.br O presente trabalho propõe uma leitura comparativa do processo de adaptação do romance Persuasão (1818), da romancista inglesa Jane Austen (1775-1817), para suas duas versões cinematográficas produzidas pela BBC (1995 e 2007), abordando as implicações do diálogo intersemiótico entre a narrativa verbal do romance e a narrativa cinematográfica, bem como as motivações, seleções e ressignificações peculiares de cada versão. O objetivo é promover a discussão sobre a questão das refrações, características do sistema de mecenato, considerando como suporte teórico- metodológico os apontamentos de Lefevere (1992) a respeito dos elementos constituintes desse sistema: os componentes ideológico, econômico e de status. Articulando-se a teoria das refrações de Lefevere (ibid) com os preceitos de Stam (2008) e Hutcheon (2006) a respeito da natureza criativo-interpretativa do processo de apropriação e transposição intertextual que é a adaptação, analisar-se-ão as operações de seleção, ampliação e concretização pelas quais passa o texto-fonte, no que concerne a modificações, descartes, transcodificações e suplementações feitas pelos adaptadores quando da passagem do texto literário para o filme, bem como os efeitos de sentido imbricados em cada um dos processos adaptativos. Comparando-se e contrastando-se as duas versões de Persuasão para o cinema (1995 e 2007), pode-se concluir que, no caso específico aqui abordado, as refrações do processo adaptativo apontam para dois prismas diferentes – o do processo e o do resultado. Busca-se, com este trabalho, enfatizar a crítica da fidelidade ao original uma vez que as variações dentre as versões de Persuasão é que fomentam o interesse atual por essa obra de quase 200 anos. É justamente o caráter variado da repetição de um mesmo enredo que constitui parte do grande fascínio do público pelas adaptações para o cinema (cf. Hutcheon, 2006). Palavras-chave: adaptação; cinema; refrações; Lefevere. 16 EUCLIDES DA CUNHA E A LITERATURA PELOS CAMINHOS DA AMAZÔNIA: ENTRE O RIO E A FLORESTA NA BELLE ÉPOQUE Luis Fernando Ribeiro Almeida fernandoalmeida15@yahoo.com.br Nejar (2007) aponta que o autor d’Os Sertões (1902) “foi sozinho uma geração, no princípio do século XX, em que o pensamento engatinhava”. Em uma postura mais incisiva, Erthal (2009) chega a ponderar que fora Euclides da Cunha que “acordou nosso país para a realidade, ensinando os brasileiros a olharem antes para dentro que para fora”. Esse período de nossa literatura que pode ser situado entre o apogeu dos estilos da segunda metade do século XIX e o surgimento do Modernismo em 1922, é comumente denominado pela crítica de Pré-Modernismo, período sincrético onde ocorreram certas experiências da revolução modernista, como busca de ruptura com o passado; denúncia da realidade; regionalismo e tipos humanos marginalizados (JOBIM e SOUZA, 1987). Com base no exposto, este estudo busca refletir sobre os escritos amazônicos de Euclides da Cunha, e as representações desse espaço e do homem, em especial do seringueiro, situados no contexto da Belle Époque, utilizando-se como procedimentos metodológicos os postulados da Teoria Literária. Nas pesquisas dessa vertente do escritor fluminense, resultado de sua passagem pela região amazônica como chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, ocorrida em 1905, Euclides da Cunha tem a oportunidade de ampliar seus horizontes de inspiração para escrever, embora imerso em outro ambiente, sob a influência agora do rio e da floresta. Como bem aponta Lima (2009), o sertanejo permanece como personagem central, cabendo ao escritor denunciar a guerra cotidiana e silenciosa travada nos seringais. Esses sujeitos, nordestinos-sertanejos, entram agora em um novo cenário, o que se poderia chamar de “outro sertão”. Para Euclides da Cunha, a Amazônia “é uma terra que ainda se está preparando para o homem”, este que a invadiu fora do tempo, impertinentemente, em plena arrumação de um cenário maravilhoso (MEIRELLES FILHO, 2004). Palavras-chave: Literatura; Representação; Belle Époque; Amazônia. A MEMÓRIA COLETIVA DA ESCRAVIDÃO E O ESQUECIMENTO EM FRED D’AGUIAR Elis Regina Fernandes Alves elisregi@hotmail.com Analisam-se dois romances do escritor anglo-guianense Fred D’Aguiar: The Longest Memory (1994) e Feeding the Ghosts (1997) com base no conceito de memória coletiva de Maurice Halbwachs (2006). Para Halbwachs, a memória nunca é totalmente individual, visto sermos seres sociais, coletivos. No caso da escravidão, pode-se falar em trauma coletivo sofrido por milhões de seres humanos escravizados, cujas memórias coletivas foram sendo ignoradas e esquecidas por uma história que oficializava a memória coletiva das elites detentoras do poder, os escravizadores. Desta forma, as memórias coletivas dos escravos nunca se tornavam história, pois não tinham voz como seres sociais, nem sequer eram considerados humanos. Nos dois romances de Fred D’Aguiar, há a ficcionalização de memórias coletivas de escravos, cujas vozes narrativas ficcionais relembram e relatam os traumas da escravidão e a própria tentativa de esquecimento destas memórias por parte dos escravos. Em Feeding The Ghosts, a 17 ambientação é o navio negreiro e as memórias coletivas da passagem intermédia, já The Longest Memory mostra uma plantation nos Estados Unidos, e a memória coletiva se volta para a fuga e os castigos dados aos escravos, num panorama do que foi a escravidão negra desde a captura em África até a vida dos escravos nas grandes fazendas estadunidenses. Evidencia-se que as memórias coletivas dos escravos acerca da escravidão foram esquecidas pelas histórias oficializadas e é a ficção que parece querer revisitar esses locais da memória. Palavras-chave: Memória coletiva; escravidão; Fred D’Aguiar. MEMÓRIA AFETIVA E MEMÓRIA NACIONAL EM MARCELO RUBENS PAIVA Maria Cláudia Rodrigues Alves mclaudia@ibilce.unesp.br As autoficções ou narrativas inspiradas em biografias de autores têm sido uma constante na literatura brasileira contemporânea. Citando apenas alguns de nossos escritores, podemos elencar entre muitos Marcelo Rubens Paiva, Tatiana Salem Levy, Ricardo Lísias, Sergio Kokis, Cristóvao Tezza, cujas obras tornaram-se best-sellers e receberam não somente elogios da crítica especializada, como também indicações e muitas vezes prêmios literários. Interessa-nos, pois, investigar o fascínio que provocam obras de cunho autoficcional e a difícil tarefa de categorizá-las literariamente à luz de estudiosos como Paul RICŒUR (1991 e 2007), Philippe LEJEUNE (2008), Marisa LAJOLO (2007) e Anna FAEDRICH (2014). Para tanto, buscando efetuar um recorte para este estudo e apresentação, elegemos inicialmente o escritor Marcelo Rubens Paiva que, em sua primeira obra Feliz Ano Velho (1982), e na mais recente, Ainda estou aqui (2015), lança mão de sua história pessoal e familiar. O primeiro romance conta o acidente que deixou o autor paraplégico e as consequências dessa mudança abrupta de situação no seio da família, socialmente etc. Mas também relata como sua casa foi invadida por militares durante a ditadura brasileira. Ainda estou aqui, trinta e cinco anos depois de seu primeiro romance, traz a mãe do autor como protagonista, a advogada, defensora dos direitos indígenas, Eunice Paiva, diante de duas lutas: a primeira para criar os filhossem o pai, morto pela ditadura, e a segunda, contra o Alzheimer. Pretendemos promover a reflexão e debate, questionando-nos: Há lugar para a autobiografia na literatura dita canônica? Em que momento a memória afetiva do autor, sua biografia, torna-se, uma vez transformada em memória social, em memória nacional, enfim literatura? Palavras-chave: Identidade; Memória; Autoficção; Esquecimento. A AUTOBIOGRAFIA E SUAS VERTENTES NA OBRA DE J.-M. G. LE CLÉZIO: A ESCRITA DE SI COMO UM CAMINHO NA BUSCA DE IDENTIDADE Islene França de Assunção ninnaassuncao@gmail.com A obra de Le Clézio acompanha as mutações da literatura francesa contemporânea, seguindo a tendência da escrita de si, porém distanciando-se da linha tradicional da autobiografia e assemelhando-se às novas formas recentemente surgidas no universo 18 autobiográfico, identificadas como “autoficção”, “narrativa de filiação” e “ficção biográfica”. Visto que a necessidade de autocompreensão liga-se a uma interrogação sobre a origem e a filiação, os protagonistas leclézianos empreendem uma viagem rumo ao passado, para narrar fatos da infância, da vida dos pais, antepassados ou de alguma personalidade importante em suas vidas. Traduzindo uma necessidade geral própria à época atual, a obra lecléziana confirmará a obstinação dos escritores contemporâneos em reencontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem do tempo. A volta ao passado configura uma partida em busca de si mesmo, pois, na tentativa de encontrar as origens, os protagonistas exprimem o desejo de encontrar a identidade, de suprir uma falta ou restituir a dignidade roubada a um de seus familiares. A viagem e a escrita tomam, portanto, uma dimensão iniciática, uma vez que se mostram produtos de uma busca identitária, assumindo papel de mediadoras do autoconhecimento e da preservação da memória, devido à capacidade de resistir à passagem do tempo, fazendo sempre vivos as pessoas e os fatos narrados. Desse modo, este trabalho objetiva examinar algumas particularidades das escritas de si presentes nos romances Voyage à Rodrigues, L’Africain, Onitsha, Ritournelle de la faim et Diego et Frida, demonstrando como Le Clézio ultrapassa, em seus escritos, o domínio da autobiografia tradicional e mesmo da autoficção. Para desenvolver essas ideias, o trabalho se fundamentará em teorias e críticas da literatura contemporânea, da autobiografia e da autoficção, assim como naquelas concernentes ao estudo do sujeito, da identidade e da memória, à luz das quais é feita a leitura, interpretação e análise das obras estudadas. Palavras-chave: literatura contemporânea; escrita de si; autoficção; identidade. A CONSTRUÇÃO DA TEORIA DO INDIGENATO: JUSTIFICAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PELA NEGAÇÃO DO NEGRO Providence Bampoky providence.bampoky@gmail.com Enquanto a abolição da escravidão pretendia colocar fim à condição desumanizante do negro, o colonialismo introduzia dentro dos territórios africanos outras formas de subserviências e de alienação firmemente alicerçadas nos moldes da herança do Code Noir, no entanto, com características específicas. Esta mutação progressiva traduzia a aparição de um outro regime calcado nas mesmas ideologias de subjugação e de opressão da raça negra nos territórios da AOF (África Ocidental Francesa). O Regime do Indigenato ou mais conhecido sob o nome de Code de l’Indigénat ou l’Indigénat constituía um conjunto de regras e normas disciplinares concebidas nas colônias francesas para o controle e a repressão das populações chamadas indigènes. Segundo FAUGERE; MERLE (2010) o termo ‘indigène’ refere-se ao indivíduo que nasceu no país, o lugar em questão e que ali tem suas raízes. Esse termo entrou, em 1532, no vocabulário francês. Portanto, nas décadas do século XX, mais especificamente, no período da dominação colonial, a definição da palavra ‘indigène’ passou a adquirir uma série de conotações pejorativas e acompanhada, desde então, de ideologias raciais e separatistas. Com base nas relações entre literatura e história, este trabalho busca analisar e justificar o modo como o Regime do Indigenato introduziu, por um lado, ideias de uma negação de direitos civis para esses indivíduos cujos costumes e religiões os colocavam longe da civilização francesa, mas por outro lado, proporcionou o nascimento de uma elite intelectual literária. Palavras-chave: Colonização francesa; literatura; história. 19 ADDIE BUNDREN NO REINO DO INDECIDÍVEL: UMA LEITURA DESCONSTRUTIVA DE WILLIAM FAULKNER Leila de Almeida Barros leilabarros_@hotmail.com O principal objetivo deste trabalho é oferecer uma nova possibilidade de análise do monólogo interior de Addie Bundren, personagem central do romance Enquanto agonizo (1930), de William Faulkner. Sem deixar de levar em conta o imperativo do diálogo com a tradição, busca-se amparo no pensamento filosófico de Jacques Derrida, sobretudo naquelas ideias apresentadas n’A farmácia de Platão (2005) a respeito do quase-conceito de pharmakón. Addie retorna ao mundo dos vivos via linguagem para contar a sua versão dos fatos e oferecer uma alternativa à história de uma família que é contada a conta-gotas apenas pelos filhos e pelo marido. Chama a atenção que Addie ganhe voz em Enquanto agonizo apenas após tornar-se um it indefinível. Com base na análise de Derrida acerca do surgimento da escrita na Grécia Antiga e a consequente seleção de apenas um sentido ofertado a ela – o de veneno, em prejuízo de outro sentido, o de remédio – discute-se a problemática da entrada da metafísica ocidental no pensamento dualista. Derrida evidencia que mesmo Platão permanece no terreno do indecidível, quando admite timidamente que a escrita pode ser tanto veneno quanto remédio. Não um ou outro, mas sim um e outro, a morta-viva Addie e a linguagem em que se transfigura parecem igualmente habitar o não-lugar do indecidível que desafia o pensamento dualista ocidental. Palavras-chave: William Faulkner; Jacques Derrida; Pharmakón; Indecidível. SIMBAD, O MARUJO: TECENDO RELAÇÕES ENTRE TEXTO E IMAGEM Jaqueline de Carvalho Valverde Batista jack_cvbatista@hotmail.com O trabalho propõe uma relação entre texto e imagem na obra Simbad, o Marujo (2009), obra anônima, adaptada por Ana Maria Machado. Nessa obra, mergulhar-se-á para conhecer com afinco sua composição: a distribuição de imagens – ilustrações de Igor Machado – e seus atributos relacionados às palavras que compõem o texto adaptado por Ana Maria Machado. Na análise entre texto e imagem da obra, ressaltaremos a função da ilustração e suas contribuições para a construção de interpretações para o texto. Ainda, em síntese, destacaremos as possíveis escolhas feitas pelo ilustrador ao apresentar determinada imagem para o texto (qual parte ele destaca por meio da ilustração e no que ela pode contribuir na construção da interpretação textual). Entendendo-se o texto como norteador da imagem, considerar-se-á as contribuições de Rudolf Arnhein (1974), que atribui às imagens características que podem influenciar na interpretação do texto. Nas imagens (ilustrações) presentes em Simbad, o Marujo (2009) pode-se evidenciar, por exemplo, o predomínio de trações que contornam as imagens, o que, segundo Arnhein (1974), delimita o objeto. As imagens, nessa obra, ocupam a página em sua completude e algumas ocupam página dupla, o que pode ampliar a interpretação dessas imagens, frente ao seu norteador, o texto. Além dos traços, as cores, a sobreposição de contornos, a iluminação, a focalização adotada pelo narrador, atuam como norteadores de possíveis interpretações para a obra (relação entre texto e imagem). Na esteira de Arnhein (1974), serão utilizadas as contribuições de Nodelman 20 (1988), de Bal (2009) para estabelecer essa relação e, por fim, ressaltar-se-á, de fato, se as imagens são realmentedirecionadas pelo texto escrito. Palavras-chave: literatura infantil e juvenil; imagem; relação tensional – texto/ imagem; Ana Maria Machado. O CAMINHO DO ESPÍRITO E O CAMINHO DA NAÇÃO: AS LINHAS DE FORÇA DE REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA CONSTRUÍDAS PELA CRÍTICA BRASILEIRA OITOCENTISTA NO CASO DE A NEBULOSA (1857) Maíra Aparecida Pedroso de Moraes Benedito mairaapmbenedito@gmail.com O romantismo surgiu não apenas como um movimento estético contrário ao classicismo, mas também como um período que trouxe uma nova concepção de homem e de história. Neste contexto dois ideais aparecem com grande força: o Espírito e a Nação, sendo embasados literária e filosoficamente, estas duas instâncias se entrecruzam e se complementam, delimitando através do tempo o percurso para o gênio. No caso do Brasil, através desses ideais se formaram linhas de força para a representação literária, as quais a crítica transformou e até mesmo reduziu a um conjunto de parâmetros que se distanciaram do movimento complementar entre o Espírito e a Nação. Através da exposição de A Nebulosa (1857) de Joaquim Manuel de Macedo, um texto não canônico do período de formação da literatura brasileira, bem como a recepção crítica desta obra, este artigo buscará evidenciar os topos de representação do período oitocentista e suas limitações, bem como trazer à tona a multiplicidade criativa do autor que não se enquadra em categorizações estanques de estilo e forma. Palavras-chave: literatura; romantismo; representação; cânone. LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEAS E FOTOGRAFIAS: QUAIS OS SENTIDOS INTRÍNSECOS A ESTA RELAÇÃO? Renan Augusto Ferreira Bolognin renanbolognin@hotmail.com Esta comunicação apresentará esboços de minha pesquisa de doutorado. Circunscrita no grupo de pesquisa “Literatura e Tempo Presente” - liderado pelas profªs Drªs Rejane Cristina Rocha e Juliana Santini – esta pesquisa objetiva demonstrar mediante os romances Nove noites (2004), de Bernardo Carvalho; Divórcio (2013), de Ricardo Lísias; e do romance gráfico Rremembranças da menina de rua morta nua, de Valêncio Xavier, e as fotografias trazidas em suas narrações, qual(is) o(s) sentido(s) sócio- político(s) pode(m) ser depreendido(s) na relação construída entre a fotografia e a literatura brasileira contemporânea (a qual chamo de diálogo inespecífico). Para levar a cabo estas análises, questiono o(s) porquê(s) da existência destes diálogos entre fotografia e literatura como inespecíficos ao embasar este trabalho nos conceitos de inespecífico e de campo expansivo, de Florencia Garramuño (2014); na filosofia desconstrucionista de Jacques Derrida (1997); e nos questionamentos políticos da arte através de Jacques Rancière (2009). Como hipóteses concernentes à minha pesquisa e que serão postas à mesa nesta proposta de comunicação, tratarei as seguintes: i. Este 21 diálogo inespecífico entre literatura e fotografia concerne a modificações dos procedimentos de representação da literatura; e ii. A inserção de fotografias no corpo da narrativa tem como finalidade criticar os paradigmas dos sistemas axiológicos da sociedade Ocidental. Com a soma de ambas as hipóteses, esta comunicação tratará o diálogo inespecífico percebido na aliança dos textos literários analisados e de suas fotografias como um questionamento a respeito dos protocolos de inteligibilidade e de visibilidade concernentes a cada arte e, obviamente, à uma fatura política intrínseca a este diálogo (RANCIÈRE, 2012). Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Fotografias; Diálogo inespecífico; Campos expansivo. A TÉCNICA NARRATIVA DE ALESSANDRO MANZONI E O PONTO DE VISTA DA DIVINA PROVIDÊNCIA Gisele de Oliveira Bosquesi gbosquesi@gmail.com Considerado uma das obras mais representativas da literatura italiana, o romance I promessi sposi, de Alessandro Manzoni, espelha, do ponto de vista linguístico, a própria unificação do país, ocorrida oficialmente em 1861, no período chamado Risorgimento. O primeiro romance histórico italiano, publicado em 1827 e republicado em 1840, foi concebido em dialeto milanês e teve sua última versão em dialeto toscano, língua que serviu de base para o italiano standard. São numerosos, portanto, os estudos sobre a relação entre a obra manzoniana e a identidade nacional, bem como a cor local que o gênero romanesco inaugurado por Walter Scott adquiriu em solo italiano. Entretanto, a relevância literária da obra estudada repousa também sobre outros aspectos, relacionados ao processo de construção da narrativa. Alguns desses aspectos da técnica de Alessandro Manzoni foram apontados por Umberto Eco em Seis passeios pelos bosques da ficção, a fim de esclarecer a interpretação segundo a qual o romance, alternando entre a visão panorâmica dos espaços geográfico e social e a focalização dos espaços íntimos e histórias pessoais, conta-nos não apenas a história do desafortunado casal Renzo e Lucia, mas também a “História da Divina Providência, que conduz, corrige, salva e resolve” (ECO, 1994, p. 79). Objetivamos, portanto, observar, apoiando-nos não apenas nas observações de Umberto Eco mas também no aporte teórico sobre o ponto de vista na ficção fornecido por Norman Friedman, alguns momentos em que o modo de exposição dos ambientes e das ações está carregado de sentido, a serviço da interpretação geral da obra. Palavras-chave: Alessandro Manzoni; Foco Narrativo; Romance Histórico. O SENTIMENTO DE NÃO-PERTENÇA EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA CARDOSO Gabriela Cristina Borborema Bozzo gabrielaborborema@live.com A partir dos aspectos estudados acerca da forma do romance, selecionamos a relação do herói com o mundo como foco do presente estudo, o qual tem como objeto de análise do romance Os meus sentimentos (2012), de Dulce Maria Cardoso. Partindo do aspecto 22 selecionado para a discussão e dos estudos já publicados acerca da obra da autora, em sua maioria pautados nos Estudos Culturais, temos a temática do desajuste, da não- pertença que atravessa seus heróis. No trabalho de Dulce, o sentimento de não-pertença já apresenta-se tanto literalmente, como no narrador-personagem Rui em O retorno (2011), quanto metaforicamente, como em Violeta em Os meus sentimentos, personagem que se sente em um exílio figurado (e não geográfico) no mundo. Para tanto, pretendemos expor uma leitura reflexiva de partes das obras O tempo no romance (1974), de Jean Pouillon; O universo do romance (1976), de Roland Bourneuf e Real Ouellet; e Pessoa e personagem (2010), de Michel Zéraffa, seguida por uma análise em close reading do romance e, por fim, de um comentário crítico acerca de sua composição, tendo em vista os autores comentados. A partir disso, portanto, pretende-se analisar o sentimento de não-pertença que se manifesta na personagem como o centro da sua relação com o mundo que a cerca. Palavras-chave: Violeta; personagem; herói; Os meus sentimentos. O ROMANCE HISTÓRICO E SUAS MODIFICAÇÕES Marta Roque Branco martaroque_@hotmail.com Conforme aponta Baumgarten em “O novo romance histórico brasileiro”, “Todo romance, como produto de um ato de escrita é sempre histórico, porquanto revelador de, pelo menos, um tempo a que poderíamos chamar de tempo da escrita ou da produção do texto” (2000, p. 169). Contudo, ressalta ele, no âmbito dos estudos literários, essa definição é insuficiente para caracterizar o Romance Histórico. Em sua concepção, “romance histórico corresponde àquelas experiências que têm por objetivo explícito a intenção de promover uma apropriação de fatos históricos definidores de uma fase da História de determinada comunidade humana”. Nesse sentido, a origem dessa forma de escrita está vinculada à produção de Walter Scott e ao período de vigência do Romantismo, assumindo, portanto, papel importante na construçãode nacionalidades/ identidades europeias e americanas. Mas o Romance Histórico, tal como foi concebido em sua origem, passou por modificações no decorrer dos anos. Das marcas que definem sua forma clássica, muitas delas são redimensionadas. No que se refere à Literatura brasileira, o caso do Romance Histórico não foi diferente. Em José de Alencar, como por exemplo, As Minas de Prata (1865), vemos o desejo de, juntamente com a exposição dos acontecimentos históricos, definir uma identidade brasileira. Mas também nas produções brasileiras muitas mudanças aconteceram. É o que se pode notar, dentre tantos outros, em Galvez, Imperador do Acre (1975), de Márcio Bentes de Souza com sua narrativa inovadora que promove a reatualização de episódios históricos. Apresentar um quadro de algumas pesquisas sobre o Romance Histórico e um panorama dos Romances Históricos brasileiros, ao menos em parte, é o objetivo desta comunicação. Para tanto, autores como Baumgarten (2000), Lukács (2011), Hutcheon (1991), Jameson (2007) e Flávio Loureiro Chaves (1988) serão utilizados na exposição. Palavras-chave: Romance Histórico tradicional; Novo Romance Histórico; Metaficção Historiográfica. 23 “SEPULTURA”: A MORTE E O MACABRO EM CHARLES BAUDELAIRE E ODILON REDON Luíza Araujo Braz luh.araujo.braz@gmail.com O presente estudo tem por objetivo apresentar a temática da morte e do macabro na obra Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal), de Charles Baudelaire, e na primeira fase de produção artística do pintor e gravador francês Odilon Redon, a partir da descrição, análise e cotejo do poema “Sépulture” (“Sepultura”), da ilustração proposta para acompanhá-lo e de outras obras de Odilon Redon. A gravura selecionada faz parte de um conjunto de nove pequenos desenhos apresentados pelo pintor a seu editor em 1889, correspondentes a oito poemas da obra As Flores do Mal e a uma sugestão de capa ou de frontispício para o livro. Para tal, baseamo-nos principalmente nos conceitos de intertextualidade, revisitado pela autora Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto literário/iconográfico, estabelecido por Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987). Visando a descrever o tratamento dos temas da morte e do macabro por ambos os artistas, é possível elaborar, ainda, um panorama dos projetos estéticos (poético e gráfico) e descrever os diálogos estabelecidos entre as produções de Charles Baudelaire e Odilon Redon, que recusava o uso da palavra “ilustração” e, além disso, preferia ser reconhecido como um “intérprete” ou “tradutor” das obras literárias a partir das quais realizava suas gravuras. Palavras-chave: As Flores do Mal; Paratexto iconográfico; Charles Baudelaire; Odilon Redon. O CAMINHANTE NAS ZONAS DO TERRITÓRIO DO URBANO E DO IMPREVISÍVEL Susanna Busato susanna.busato@gmail.com A poesia é exploradora de territórios e de linguagens. A poesia esgarça a linha do tempo e sulca o espaço familiar para, ao fazê-lo, construí-lo em outra partitura e arquitetura. Nesse processo encontra o estranho na imagem e mobiliza nossa percepção. São as zonas do território do urbano e do imprevisível da poesia que este trajeto que faço busca explorar. O dado visual do percurso acena para mim o traçado fotográfico que o livro Rua, de Guilherme de Almeida (1890-1969), vai oferecer como proposta editorial, em 1961. É sabido que a inclinação para o visual da construção da imagem é um elemento de sua poética, que sabe como extrair dos referentes camadas de expressão fono-morfo- semântica que encontram na sintaxe do verso a curva necessária para tecer o olhar da cena urbana como um passante da rua. O que me interessa no trajeto do seu olhar é o modo como a poesia emerge da paisagem urbana, como o poeta concebe sua natureza e a transmuta para o universo do olhar do passante, essa figura que flana e é arremessada aos núcleos de sentido da paisagem, de modo analógico. Percebo na poesia de Rua um processo de associação de imagens que vai superando/mascarando/metamorfoseando o referente, a ponto de termos em sobreposição duas realidades: a do objeto ou da cena em si e a que habita o onírico ou o devaneio que emerge do contato. Eu diria ainda que, mais do que flagrar um elemento do ambiente urbano, a poesia de Rua atua no familiar 24 da cena, para, por um processo de transferência de sentido, construir no signo novo o dado de informação de natureza encantatória. Palavras-chave: poesia moderna; Guilherme de Almeida; cidade; paisagem urbana. O LUGAR DO LEITOR NA OBRA LITERÁRIA: UMA ANÁLISE DE O CEMITÉRIO DE PRAGA, DE UMBERTO ECO Deborah Garson Cabral debcabral_rp@yahoo.com.br A obra literária se insere em um tempo e espaço, seu momento de produção, o tempo em que relata a história, os lugares onde ambienta essa história, além de o momento em que o leitor se depara com a obra e adentra por sua porta. O livro cria sentidos, abraça seu leitor ou o repele, faz com que ele passeie pelo universo semântico que cria, oferecendo possibilidades interpretativas, mais ou menos visíveis, que serão decodificadas por esse leitor. Umberto Eco se refere sempre, em seus textos teóricos, ao leitor como um construtor da narrativa, um complementador de sentidos, que precisa estar atento durante o passeio que promove dentro das histórias de que participa. O que se propõe, neste trabalho, portanto, é refletir sobre qual o lugar do leitor nas narrativas ficcionais, em especial no romance do mesmo autor, O cemitério de Praga (2010), que promove uma revisitação na história da Itália ao final do século XIX, convidando o leitor a questionar a realidade dos fatos, exigindo que este se esforce para construir essa história verificando quais fatos são reais, e quais poderiam ser. Introduzindo a figura do narrador, este estudo busca revelar as relações entre o processo narrativo e o de leitura, que se permeiam e se complementam, sendo imprescindível que esses papeis estejam fundidos para que a narrativa alcance seu objetivo final, a compreensão e interpretação mais aproximada possível da ideal. Palavras-chave: Narrador; leitor ideal; literatura italiana; Umberto Eco. LEITURA E LEITORES NA ANTOLOGIA DE LITERATURA ESTRANGEIRA DE PATRÍCIA GALVÃO E GERALDO FERRAZ NO SUPLEMENTO LITERÁRIO DO DIÁRIO DE S. PAULO (1946-1948): CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA Fernando da Silva Cabral fernandocabral1978@yahoo.com.br O presente projeto tem como objetivo geral investigar os artigos do suplemento literário do Diário de S. Paulo, especialmente a Antologia de Literatura Estrangeira publicados entre novembro de 1946 a novembro de 1948. A partir da pesquisa, busca-se contribuir com o estudo da crítica literária brasileira buscando compreender qual seria a função desta seção para a produção e consolidação de uma crítica em periódicos paulistas. O caráter biobibliográfico dos artigos acabou promovendo um projeto que apresentava ao público leitor aspectos importantes dos escritores selecionados por Patrícia Galvão e Geraldo Ferraz. Os críticos apontavam leituras, traziam traduções por vezes inéditas e inseriam os escritores em tradições literárias pertinentes às suas culturas literárias. Os objetivos específicos, a princípio, são: levantar os artigos de Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão publicados na seção Antologia da literatura estrangeira publicados entre 25 1946 e 1948; esquadrinhar e estabelecer possíveis paralelos e distanciamentos entre os artigos da Antologia a fim de entender em que medida essa coluna contribui para a formação de leitores, assim como o critério de escolha dos escritores e a análise da função da seção. Além de contribuir para o estudo da literatura brasileira e de parte da história da crítica literária em um periódico paulistano, esseprojeto pretende resgatar os artigos publicados na coluna de Antologia de literatura estrangeira e, assim, observar como se dá o trabalho do crítico literário num período onde o crítico de ofício se configurava frente ao crítico de rodapé. Palavras-chave: Patrícia Galvão; Geraldo Ferraz; crítica literária; suplemento literário. O LUGAR DA LITERATURA NO ENCONTRO ENTRE ESCRITOR E LEITOR EM DIÁRIO DAS COINCIDÊNCIAS, DE JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA Priscila Miranda Caetano caetano.priscila@gmail.com O presente estudo tem como objetivo refletir e apreender uma tendência da literatura brasileira contemporânea e o sentido de sua criação: a interação entre a palavra e a vivência cotidiana; entre o texto e o leitor no processo de manuseio da palavra poética em constante mutação, mímese da própria vida. No universo da escrita de João Anzanello Carrascoza, encontramos uma espécie de convite ao leitor. Os fragmentos e rastros deixados ao longo das narrativas despertam um inicial estranhamento e, ao mesmo tempo, uma porta aberta para o que está além do texto; nas sombras entre as palavras e o silêncio, está o lugar de encontro desta literatura: o instante de reconciliação entre o ser e o seu “outro”, obscurecido pelo automatismo da modernidade. Carrascoza se alimenta da poeticidade para promover esta experiência leitora; em suas narrativas, o escritor e o leitor são cúmplices na missão de escrita e reescrita das histórias primordiais e transformadoras do mundo. No afã de realização deste intento, o autor promoveu um projeto de escrita coletiva, no qual recebeu histórias de coincidências de várias pessoas e selecionou-as para reescrevê-las e trazer à existência o Diário das coincidências (2016), “trazendo à luz estas histórias duplamente perdidas” (2016, p. 94), obra esta que constitui o corpus de nosso estudo. Para contribuir com esta discussão, recorremos às concepções de Roland Barthes, Octavio Paz, Leyla Perrone Moisés, Ezra Pound e Mário Perniola. Partiremos da hipótese de que a arte literária contemporânea se alimenta da poeticidade dos tempos remotos, em que contar histórias significava revelar-se, conhecer-se e reconhecer-se no mundo. Palavras-chave: Carrascoza; Diário das coincidências; poeticidade; leitura. ALTERNÂNCIA DE FOCALIZAÇÃO E MULTIPLICIDADE DE VOZES EM GRACILIANO RAMOS: DIÁLOGO ENTRE O ROMANCE VIDAS SECAS E O CONTO “UMA VISITA” Bruna Letícia Pinheiro Carmelin bruna.carmelin@hotmail.com O presente trabalho tem por objetivo evidenciar como se configuram a alternância de focalização e a multiplicidade de vozes no romance Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos, e como essas ocorrências podem ser analisadas no conto “Uma visita”, 26 publicado na coletânea Insônia (1947), do mesmo autor. Num primeiro momento, procuraremos introduzir noções teóricas sobre foco narrativo nos termos de Genette (1995), ao denominar focalização zero, focalização externa e focalização interna como formas de representação de determinados pontos de vista no material da narrativa; e nos termos de Friedman (2001), destacando os focos narrador onisciente neutro e onisciência seletiva múltipla. Em seguida, será apresentada breve explanação acerca dos estudos de Bakhtin (2005) sobre polifonia ou multiplicidades de vozes no discurso literário, que consideram as vozes dos personagens não apenas como objetos do discurso do autor, mas sim como a representação de consciências autônomas que constroem um discurso em constante diálogo, no qual uma voz não impera diante das outras. Concluída a conceituação teórica, ilustraremos, brevemente, a distribuição do foco narrativo em Vidas secas e de que maneira essa distribuição contribui para a polifonia do romance, tendo como princípio norteador da leitura o fato de que mais de um personagem atua como focalizador e apresenta a sua visão e percepção dos fatos narrados. Por fim, analisaremos a alternância de focalização no conto “Uma visita”, evidenciando tal alternância de focalização como forma de trazer o episódio narrado a partir da experiência pessoal de cada personagem e como esse procedimento permite que seja assinalada certa multiplicidade de vozes que dialoga com Vidas secas. Palavras-chave: Graciliano Ramos; focalização; voz narrativa. PROSAS BÁRBARAS, DE EÇA DE QUEIRÓS: BEM MAIS QUE HISTORIAZINHAS ROMÂNTICAS DUM SONHADOR EMOTIVO Jean Carlos Carniel jc.carniel@hotmail.com O escritor português Eça de Queirós (1845-1900) publicou, durante o final da década de 1860, diversos folhetins nos jornais Gazeta de Portugal e Revolução de Setembro, e que depois foram reunidos, postumamente, sob o título de Prosas Bárbaras (1903). Esses primeiros escritos do autor de O crime do Padre Amaro, além de serem pouco explorados pelos manuais de literatura, também acabam sendo rebaixados por grande parte da crítica, pois, são vistos como pertencentes a um período de imaturidade e experiência literárias. Objetiva-se, com esse trabalho, traçar algumas reflexões sobre como a obra Prosas Bárbaras é lida pela crítica literária. Levamos em consideração a importância dessa coletânea na carreira de Eça, buscando ressaltar as suas próprias qualidades. Deste modo, lançamos um olhar valorativo sobre a produção inicial do jovem Eça. As afirmações de Reis e Peixinho (2004) e Grossegesse (2006-2007) são utilizadas para reforçar a valorização das narrativas de Prosas Bárbaras, contrastando- se com as afirmações de críticos que desvalorizam essa obra, como, por exemplo, Ferreira (1971), Saraiva e Lopes (1979), Moisés (1983) e Serrão (1985). Observa-se que essas narrativas são desvalorizadas por grande parte da crítica por se distanciarem do aclamado realismo/naturalismo do autor português, contudo, já se nota nelas a preocupação de Eça com assuntos de teor social. Além disso, ressalta-se o diálogo do escritor português com escritos de autores estrangeiros e uma variedade de gêneros utilizados pelo jovem Eça, fazendo com que esses textos oscilem entre narrativa literária, carta e ensaio. Palavras-chave: Eça de Queirós; Prosas Bárbaras; literatura portuguesa. 27 A LITERATURA CONTEMPORÂNEA COMO PALCO DE REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO DIVERSAS Juliane Chatagnier ju.chatagnier@gmail.com A contemporaneidade, como é chamada, serve para designar o momento no qual se marca a soberania do fenômeno da globalização, ou mundialização, como prefere Ortiz (1994). Este fenômeno é responsável tanto por mudanças positivas, como o estabelecimento da conexão eficaz entre lugares distantes, quanto por levar a sociedade, ou os indivíduos, a presenciarem mudanças nas redes de configurações sociais. A partir das transformações, surge um sentimento de instabilidade, posto que tudo é modificado velozmente e a qualquer instante. A construção dos indivíduos dá-se, muitas vezes, contraditória, com identidades constituídas por diversas vozes. No que concerne ao gênero, pode-se afirmar que desde os anos 70, este é visto como uma construção social de identidades sexuais e se torna o objeto de estudo também da crítica feminista, abrindo, assim, caminho para a desconstrução do masculino e do feminino. Uma vez que a biologia deixa de ser o destino e, conforme Butler (1990; 2003), o gênero é construto social, objetiva-se, nesta comunicação, verificar como as identidades de gênero masculina, feminina e/ou outras, têm sido apresentadas na literatura contemporânea. Partimos do princípio de que as identidades de gênero sofrem rupturas com os modelos tradicionais e estão deslocadas, devido à grande diversidade de opções oferecidas hoje em dia. Para tanto, serão utilizados romances contemporâneos, brasileiros, norte-americanos e ingleses, datados a partir de 1970, que serão analisados sob a luz da teoria da performatividade de Judith Butler (1990; 2003). Palavras-chave: gênero; performatividade;contemporaneidade; Judith Butler. A IMAGEM DA RUÍNA COMO PROCEDIMENTO DE APROXIMAÇÃO ENTRE ASSIM NA TERRA (2013), DE LUIZ SÉRGIO METZ, E A TRADIÇÃO LITERÁRIA Diego Jesus Rosa Codinhoto diegozuis@gmail.com É objetivo deste trabalho refletir sobre a imagem da ruína presente na obra Assim na terra, de Luiz Sérgio Metz (2013), à luz do conceito de ruína postulado por Corrêa (2006). Elegemos para análise um trecho do romance em questão em que é narrada a entrada do protagonista em um casarão de campanha abandonado prestes a desmoronar. Nesse trecho, o protagonista anota, em sua caderneta, todas as sensações e lembranças provocadas pelos objetos que via na “casa das casas” (METZ, 2013, p. 50), até encontrar determinada arca, que o protagonista supõe ter vindo de lugares longínquos, por via marítima, tendo uma longa história desconhecida. Em relação ao conceito de ruína, Corrêa (2006) esclarece que ele não só deve ser pensado no seu sentido negativo, como algo em decadência ou em destruição, mas também na sua acepção positiva, mais especificamente no sentido arqueológico do termo: as ruínas como objetos ou fragmentos que, ao serem escavados, adquirem um estatuto de fontes históricas de culturas desconhecidas ou já esquecidas. Diante de tal definição teórica sobre o conceito de ruína, esperamos confirmar a hipótese de que, em Assim na terra (METZ, 2013), a imagem da ruína se manifesta em seu duplo caráter: o casarão em ruínas explorado pelo 28 protagonista é a imagem da destruição e degeneração e, ao mesmo tempo, uma fonte de recuperação e regeneração histórica. A imagem do casarão em ruínas e da arca encontrada pelo protagonista representam no trecho destacado um procedimento utilizado em todo o romance, que se desdobra em um diálogo da obra com a tradição literária, inseridas ali por meio do procedimento de intertextualidade. Palavras-chave: Metz; ruína; tradição; intertextualidade. ENTRE O ESTÉTICO E O IDEOLÓGICO: O LUGAR DA LITERATURA EM 1930 Elisa Domingues Coelho elisadcoelho@gmail.com A década de 30 é, certamente, um dos períodos de maior ebulição literária da Literatura Brasileira, a prosa desses anos é tão numerosa que, hoje, é imensurável dizer quantos romances não se perderam na formação do cânone literário que hoje conhecemos e é, por isso, terreno ainda riquíssimo para aqueles que se propõem escavar, nos arquivos, os romances que lá ficaram e não galgaram seu lugar na Historiografia Literária. Essa produção tão vasta é, na verdade, sintomática de um período em que o lugar da nossa literatura, ainda incerto na nossa jovem formação literária, esteve espremido entre a revolução estética de 22 e a polarização ideológica advinda do avanço dos regimes totalitários. Nesse contexto, a literatura se via ora como extensão do embate ideológico da nossa intelectualidade e ora nesse entre-lugar estético-ideológico que compunha a “crise de representação” desse decênio. Esse trabalho não intenta chegar a uma assertiva sobre qual seria esse lugar da literatura de 30, mas discutir justamente esses entre- lugares através da análise das posturas críticas dos dois grandes grupos que cindiram a intelectualidade de então: escritores sociais e intimistas, categorização essa formulada por Lafetá e já muito enraizada na crítica. Para a conceituação de todas essas questões em movimento em 30 e fundamentação da análise, partimos da leitura de Jorge Amado: Romance em tempo de utopia, de Eduardo de Assis Duarte, Uma história do romance de 30, de Luís Gonçales Bueno e Educação pela noite e outros ensaios, de Antonio Candido, uma bibliografia crítica essencial para entendermos o contexto dessa crise do lugar da literatura e – por que não? - de todos que dela se ocupavam. Palavras-chave: romance; década de 30; modernismo; literatura brasileira. ANÁLISE DAS RELAÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O CONTO “ADÃO E EVA”, DE MACHADO DE ASSIS, E O “MITO DA CRIAÇÃO”, NA BÍBLIA Diana Sousa Silva Correa diana.correa@ifma.edu.br Um dos grandes desafios para o professor de Português, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem dos estudos de linguagem, é desenvolver a competência linguística e discursiva dos educandos. Para isso, as práticas de leitura e produção textual devem se revestir de significação, tendo em vista que essas duas capacidades são indispensáveis para a democratização do acesso à cultura letrada e às formas de socialização mais complexas da vida cidadã. Neste sentido, o presente trabalho consiste numa proposta didática, que parte da Teoria Semiolinguística, de Patrick Charaudeau 29 (2010), por meio da análise das relações intertextuais nas narrativas “Adão e Eva”, de Machado de Assis, e o “Mito da Criação”, plasmado na Bíblia. Considerando o caráter interlocutivo e polifônico do texto, recorremos, também, aos estudos de Bakhtin (1988), que compreende a língua como um processo de interação verbal. O objetivo deste trabalho é, portanto, a clarificação dos aspectos de intersecção (identificação do intertexto) do conto machadiano com a narrativa bíblica. Observamos que esta perspectiva analítica contribui não só para o reconhecimento do diálogo intertextual das narrativas em questão, mas também para a identificação da intencionalidade e da ideologia. Tais aspectos consubstanciam um mecanismo de potencialização das habilidades de leitura e escrita. Palavras-chave: Teoria Semiolinguística; Narrativa; Leitura; Intertextualidade. NOS LIMITES DA PALAVRA: O ESTATUTO DO SILÊNCIO EM CONTOS DE AUTORIA FEMININA Loren Lopes Damásio loren_damasio@hotmail.com Este projeto de pesquisa propõe o estudo do silêncio na busca da identidade feminina no âmbito de três contos: “Árvore florida”, de Katherine Anne Porter (1890-1980), “Colheita”, de Nélida Piñon (1937-), e “Uma situação temporária”, de Jhumpa Lahiri (1967-). Nesses textos as protagonistas, imersas em duas das experiências humanas mais radicais, devotas do silêncio: o amor e a morte, experimentam certa angústia, que fragilizará suas relações com os demais. Ao valerem-se do silêncio como lugar de exílio, encontram nele um caminho para significar. Partindo da premissa de que o silêncio não representa ausência, mas é, pelo contrário, sentido substantivo, a pesquisa se lança à luz de estudos sobre o tema com Sciacca (1967), Sontag (1987), Steiner (1988) e Orlandi (1993), bem como dos escritos de Paz (1995) e Barthes (2003), por uma configuração do sujeito amoroso. Além disso, para melhor compreensão da relação feminina com a palavra e o silêncio, acreditam-se relevantes as contribuições de gênero elaboradas por Woolf (1990) e Beauvoir (1990), sem se prescindir, claro, da fortuna crítica das autoras que integram o corpus da pesquisa. Propõe-se, desse modo, revisitar o estatuto do silêncio e, por extensão, o da própria palavra, revelando a matéria literária do primeiro e percebê-lo, fugaz que é, apreendido nas linhas de uma escrita imanente. Palavras-chave: Silêncio; contos femininos; identidade feminina. AS EXPERIÊNCIAS DA LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA NA FORMAÇÃO LITERÁRIA DO ALUNO E DO PROFESSOR DAS ESCOLAS TÉCNICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO Michelle Mittelstedt Devides michelledevides@gmail.com A prática de leitura e a experiência decorrente deste ato são singulares para a formação do leitor, especialmente a do jovem leitor que encontra muitas vezes na escola a inserção de obras literárias em seu repertório de leitura, e também, a do professor, cujo papel é intermediar o caminho da leitura. Dessa forma, configura-se por objeto de estudo as experiências da Literatura Africana de Língua Portuguesa na formação 30 literária do aluno e do professor das Escolas Técnicas do Estado de São Paulo (ETECs), do Centro Paula Souza. O objetivo é analisar como as experiências de leitura literária
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