Buscar

caderno-de-resumos-sel-2017---versao-final-com-isbn-atualizado

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Realização 
Programa de Pós-Graduação em Letras 
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 
UNESP – São José do Rio Preto 
 
Caderno de Resumos 
 
2 
 
IV Congresso Internacional do PPG-Letras e XVIII 
Seminário de Estudos Literários 
18 a 20 de setembro de 2017 
 
 
 
 
QUAL O LUGAR DA 
LITERATURA? 
 
 
 
 
Caderno de Resumos 
 
 
 
 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 
Câmpus de São José do Rio Preto, 
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – 
Programa de Pós-Graduação em Letras. 
 
 
 
 
São José do Rio Preto 
Unesp – Câmpus de São José do Rio Preto 
2017 
 
3 
 
Reitor 
Sandro Roberto Valentini 
Vice-reitor 
Sergio Roberto Nobre 
Pró-Reitora de Graduação 
Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari 
Pró-Reitor de Pós-Graduação 
João Lima Sant’Anna Neto 
Pró-Reitora de Pesquisa 
Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff 
Pró-Reitora de Extensão Universitária 
Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta 
Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão 
Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll 
 
Diretora 
Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira 
Vice-Diretor 
Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva 
 
Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas 
Prof. Dr. Peter James Harris 
Profa. Dra. Norma Wimmer 
Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários 
Profa. Dra. Lúcia Granja 
Prof. Dr. Luís Augusto Schmidt Totti 
 
Programa de Pós-Graduação em Letras 
Coordenador 
Prof. Dr. Pablo Simpson 
Vice-coordenador 
Prof. Dr. Cláudio Aquati 
 
Comissão organizadora do evento 
Coordenador geral 
Prof. Dr. Pablo Simpson 
Manoela Navas 
Corpo docente 
Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro 
Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes 
Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves 
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos 
Profa. Dra. Norma Wimmer 
Profa. Dra. Susanna Busato 
Corpo discente 
Alan Medeiros Casteluber 
Davi Silistino de Souza 
Débora Spacini Nakanishi 
Dibo Mussi Neto 
Fernando Aparecido Poiana 
4 
 
Gabriela Fardin 
Gisele de Oliveira Bosquesi 
Ingrid Zanata Riguetto 
Joshua Teixeira Tangi 
Juliane Camila Chatagnier 
Laís Midori 
Leandro Henrique Aparecido Valentin 
Lucas de Castro Marques 
Monelise Vilela Pando 
Natália Fernanda da Silva Trigo 
Odair Dutra Santana Júnior 
Suzel Domini dos Santos 
 
Comissão Científica do evento 
Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE) 
Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE) 
Prof. Dr. Gustavo Scudeller (UNIFESP) 
Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP/IBILCE) 
Prof. Dr. Manuel Fernando Medina (University of Louisville, KY, EUA) 
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE) 
Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE) 
Prof. Dr. Osvaldo Copertino Duarte (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) 
Prof. Dr. Ricardo Gaiotto (PUC – Campinas) 
 
Organização do caderno de resumos 
Gisele de Oliveira Bosquesi 
Débora Spacini Nakanishi 
Diego Jesus Rosa Codinhoto 
Fernando Aparecido Poiana 
Suzel Domini dos Santos 
Pablo Simpson 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Congresso Internacional do PPG-Letras (4. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) 
Caderno de resumos [do] 4. Congresso Internacional do PPG-Letras e 18. Seminário de 
Estudos Literários [recurso eletrônico] : 18 a 20 de setembro de 2017, São José do Rio 
Preto-SP / [Organização de Gisele de Oliveira Bosquesi... [et al.]. – São José do Rio Preto : 
UNESP – Câmpus de São José do Rio Preto, 2017 
91 p. 
 
Temática do evento: Qual o lugar da literatura? 
E-book 
Requisito do sistema: Software leitor de pdf 
Modo de acesso: <http://www.ibilce.unesp.br/#!/pos-graduacao/programas-de-pos- 
graduacao/letras/congressoanual/> 
ISBN 978-85-8224-138-7 
 
1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Literatura - Estudo e ensino. 
I. Seminário de Estudos Literários (18. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) II. Bosquesi, 
Gisele de Oliveira. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto 
de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Qual o lugar da literatura? 
 
CDU – 8.013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE 
UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
O IV CONGRESSO INTERNACIONAL DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM LETRAS é uma realização do Programa de Pós-Graduação em 
Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) de São José do 
Rio Preto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O congresso reúne professores 
e pesquisadores brasileiros e estrangeiros que desenvolvem estudos nas áreas de teoria e 
crítica literária em seus diversos campos, como a literatura comparada, a literatura 
clássica, a literatura brasileira, as literaturas estrangeiras modernas e as relações entre a 
literatura e outras artes, como a pintura, o cinema, a música e as narrativas gráficas. 
O tema do encontro de 2017 vem expresso na forma de um 
questionamento: “Qual o lugar da literatura?” A proposição, em princípio simples em 
sua formulação, sugere outras questões de difícil resposta, algumas delas já antigas: O 
que é literatura? O que é um lugar? A literatura tem lugar, é entre-lugar, fronteira, 
trânsito? Quais são os modos de circulação e de legitimação disso que chamamos 
“literatura”? Ou será a literatura, ela mesma, um certo lugar, algo que se torna visível no 
espaço? Visibilidade frágil ou forma que se quer talvez sem espaço, residindo tão só na 
espacialidade da palavra, do livro, da tela? Menos imagem visível de um lugar, do que 
imaginação. Seria a literatura, ademais, essa consciência de um certo lugar sem lugar, 
de uma certa proximidade (ou lugar relativo) que pretende com relação ao eu, ao 
mundo, ao leitor? 
São questões que colocamos como sugestão para a reflexão dos participantes, 
desde já convidados a contribuir com outras mais. 
 
 
O XVIII SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma iniciativa do 
Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências 
Exatas (IBILCE), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de São José do 
Rio Preto (SP), cujo objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de Mestrado e Doutorado 
a oportunidade de debater suas pesquisas em andamento com professores convidados 
especialmente para essa finalidade. Visa-se, por meio desse debate, proporcionar aos 
alunos a possibilidade de aprimorarem sua reflexão a partir das sugestões de 
pesquisadores mais experientes. As bancas de debate são compostas por professores 
convidados, que efetivamente debatem os projetos com os alunos, e por alunos de pós-
graduação da própria Instituição, que atuam como moderadores. 
 Sejam bem-vindos, e bom trabalho! 
 
 
Agradecimento: O PPGL agradece o auxílio financeiro da FAPESP (processo 
2017/13534-4), que permitiu a vinda dos professores Adalberto Luis Vicente, Antônio 
Roberto Esteves, Emerson da Cruz Inácio, Gustavo Scudeller e Lúcia Helena Costigan, 
da PROPG/UNESP e da FAPERP, responsáveis pelo auxílio aos demais convidados de 
universidades brasileiras. 
 
Acknowledgement: The PPGL gratefully acknowledges financial support received from 
the Irish Embassy in Brasília, without which it would have been impossible for Vincent 
Woods to travel from Dublin to São José do Rio Preto to deliver his lecture. 
 
7 
 
CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS 
 
 
18 de setembro, às 10h30 
 
“SILÊNCIOS HABITÁVEIS NA PRODUÇÃO AFROLUSOBRASILEIRA 
CONTEMPORÂNEA” 
 
Emerson da Cruz Inácio (USP) 
 
O silenciamento estético, político e discursivo constitui-se ainda como umaquestão a 
ser transposta por boa parte da produção estética de assinatura afrodescendente, uma 
vez que se trata de um “universo” literário ainda em conformação e que emerge tendo 
como horizontes paradigmas como a classe, a nacionalidade e as identidades 
específicas. Assim, a proposta dessa intervenção é avaliar o estatuto da produção 
afrodescendente no Brasil e em Portugal, notadamente aquela que se sedimenta nos 
últimos 20 anos, pensando-a como dobras constituintes de um plissado (Jacques 
Derrida, Parages, 1986), que ora revelam ora escondem múltiplos processos 
emancipatórios, diálogos com os cânones sedimentados e tensões com as formas de 
expressão identitárias. Nessa perspectiva, essa produção tende a apontar 
simultaneamente a síntese e o essencialismo, a perspectivação da deriva como 
possibilidade e a necessidade de sedimentação cultural. 
 
18 de setembro, às 16h30 
 
“LITERATURA, GOZO E DENÚNCIA: DOIS FRAGMENTOS DO JORNAL 
DOBRABIL DE GLAUCO MATTOSO” 
 
Gustavo Scudeller (Unifesp) 
 
Os anos 1970 são particularmente importantes para a literatura e a arte no Brasil, por 
razões conhecidas. Com o AI-5 e o recrudescimento da censura no auge do regime 
militar, o interesse pela literatura de denúncia se torna cada vez mais urgente ao longo 
da década, ao mesmo tempo em que as suas condições de realização vão se tornando 
mais escassas. Assumindo valores de espontaneidade, informalidade e apelo popular, 
em oposição ao formalismo da arte de vanguarda do período anterior, esse tipo de 
literatura vai buscar nos jornais e na aproximação com a cultura de massas alguns de 
seus principais modelos. Não por acaso, Glauco Mattoso, escolhe polemizar com essas 
tendências nas páginas de seu inusitado Jornal Dobrabil — espécie de folhetim literário 
de pequena tiragem e declarada inspiração vanguardista. Logo na folha de abertura do 
último fascículo de 1979, o poeta, assumindo a persona do editor e crítico cultural, 
dispara invectivas contra os lugares-comuns da literatura de denúncia que começava a 
ganhar notoriedade na época, mirando principalmente os pudores dessas obras ao 
descreverem as violências e torturas praticadas por agentes de Estado. Na avaliação do 
autor, faltariam realismo e crueza a esse tipo de literatura, coisas que uma obra 
puramente imaginativa como a do Marquês de Sade, por exemplo, teria de sobra. 
Curiosamente, é no mesmo Jornal Dobrabil, que, um ano antes, Glauco apresenta um 
sinistro conto-reportagem sobre o “caso amoroso” surgido entre um homem e seu 
torturador. Considerado em paralelo com a crítica de 1979, o conto pode ser visto como 
8 
 
uma espécie de emulação criativa, isto é, uma tentativa de boa realização literária de um 
conto-denúncia, nos modelos que sua crítica, posterior, vem cobrar da literatura em 
voga na época. Mas o que poderia haver de exemplar numa literatura de denúncia 
fundada na ideia de literatura de imaginação? Haveria mesmo algo de irredutível na 
literatura que justificasse sua existência mesmo diante dos fatos mais brutos da 
circunstância política e da vida cotidiana? Essas são algumas questões que gostaria de 
abordar nesse trabalho, a partir da leitura dos dois fragmentos mencionados. 
 
 
18 de setembro às 16h30 
 
A REPRESENTAÇÃO POÉTICA DO RIO EM JOÃO CABRAL DE MELO 
NETO E MARCOS SISCAR 
 
Adalberto Luis Vicente (UNESP) 
 
Enquanto objeto natural, o rio apresenta-se de modo complexo e misterioso. Horizontes 
diversos (nascente, foz, margens, paisagens, infinito, céu), profundidades (superfície, 
fundo, leito), traços de temporalidade (intermitência sazonal, fluir contínuo, 
transitoriedade) e um conjunto de componentes concretos (pedras, plantas, lama, peixes, 
animais), embora nem sempre presentes diante do olhar, pressupõem e determinam 
aquilo que um observador pode contemplar de um rio a partir de uma determinada 
posição espacial e temporal. Pelo fato de apresentar-se sempre como uma síntese do 
visível e do invisível, do referencial e do simbólico, o rio torna-se um objeto capaz de 
excitar de modo especial a imaginação poética. Não é raro que na poesia moderna e 
contemporânea, o olhar do poeta, ao fixar-se sobre um determinado objeto, expanda a 
perspectiva para o mundo, sem deixar de buscar apreender sua “organização interna” 
(Iser). No entanto, como lembra Michel Collot, essa escritura poética que visa um 
horizonte mais amplo, tanto do ponto de vista externo quanto interno, “também remete 
(pelo jogo da metáfora) ao espaço interior da consciência poética e ao espaço do texto” 
(La Poésie moderne et la structure d’horizon, 1989, p.6). É sob essa perspectiva que 
trataremos da representação do rio em alguns poemas de João Cabral de Melo Neto (“A 
morte dos rios”, “Rios sem discursos”, “Os rios de um dia”, “Rio e/ou poço”) e de 
Marcos Siscar. No caso deste último, a análise se deterá, sobretudo, no livro Rio 
verdadeiro, incluído na coletânea Metade da Arte (2003). 
 
 
19 de setembro às 10h30 
 
LA CONSTRUCCIÓN DE LA MEMORIA EN LA NARRATIVA JUDÍA DE 
AMÉRICA LATINA 
 
Manuel Fernando Medina Medina (University of Louisville) 
 
Mi trabajo estudia la re-creación de la memoria común entre textos de escritores judíos 
que revisan los archivos de las memorias familiares para poder encontrar una fundación 
para el establecimiento de sus identidades en todos los aspectos: personal, nacional, 
profesional, de género y más. Empleo un marco teórico que parte de la idea del archivo 
foucoldiana pero trasladada a un espacio de la invención selectiva del pasado que se re-
crea en la producción cultural. Se emplea el concepto del tercer espacio, según lo 
9 
 
interpreta Homi Bhabha respecto a los lugares no-fijos desde los cuales los autores 
empiezan a hilar diferentes historias a fin de entregar al lector, y a si mismos, una 
versión revisada, re-inventada de los sucesos de acuerdo a las necesidades emocionales 
del momento. Se explora la teoría fundamental del rol de la memoria en la ficción de 
sectores marginados y subalternos. La ponencia utiliza la obra de autores judíos de 
América Latina tales como Michel Laub, en Diario de una Queda, Rosa Nissán en 
Novia que te vea, Ana María Shúa en El libro de las memorias, A Guerra No Bom Fin 
de Moacyr Scliar, la poesía de Ivonne Vailakis y la película 18-J producida por 
múltiples directores. Cada texto me permite ilustrar maneras diferentes en que los 
autores (o directores) construyen sus memorias a través de hilar invención y realidad, o 
invenciones re-creadas por medio de voces narrativas contándolas en repetidas 
ocasiones en un afán de encontrar una versión que los satisfaga y desde la cual puedan 
empezar a construir una identidad. 
 
19 de setembro às 10h30 
 
DOMINGOS CALDAS BARBOSA (1740-1800): CRONISTA DO AMBIENTE 
CULTURAL LUSO-BRASIELIRO DO SÉCULO XVIII 
 
Lúcia Helena Costigan (Ohio State University) 
 
A produção literária do poeta afro-brasileiro Domingos Caldas Barbosa ainda é 
razoavelmente inacessível tanto ao público leitor quanto aos estudiosos da literatura 
luso-brasileira em geral. Apesar de sua figura histórica ter alcançado alguma projeção 
no Brasil através da coleção de modinhas Viola de Lereno, que lhe rendeu a fama de 
compositor e cantor de modinhas, a grande maioria de suas obras permanece na 
obscuridade. O texto a ser apresentado na conferência centra-se no poema 
autobiográfico “A Doença”,que teve uma única edição em 1777 e que ainda é 
praticamente desconhecido pelos críticos literários. Procuraremos destacar que, 
diferente do modelo popular que o tornaram conhecido, este poema de cunho 
autobiográfico é uma obra de fundamental importância para o conhecimento dos 
preconceitos sofridos pelo poeta afro-brasileiro e das maneiras criativas para superá-las 
na sociedade luso-brasileira da segunda metade do século XVIII. As 49 páginas do 
poema “A Doença”, nos permitem perceber que Domingos Caldas Barbosa nãofoi 
apenas um produtor de modinhas, mas um erudito e talentoso poeta com profundo 
domínio da literatura clássica, da história universal e, acima de tudo, da sociedade e 
cultura luso-brasileira do seu tempo. 
 
 
19 de setembro às 16h30 
 
NARRATOLOGIA: NARRATIVAS E IDENTIDADES 
 
Flávia Andrea Rodrigues Benfatti (UFU) 
 
De acordo com os teóricos Brockmeier; Carbaugh (2001), a narratologia propõe um 
estudo das narrativas modernas, surgido nas décadas de 1960 e 1970 com o intuito de 
estudar os textos narrativos principalmente os de literatura ficcional. Desde então, a 
narratologia tem se transformado em uma teoria interdisciplinar envolvendo semiótica e 
10 
 
cultura de textos e contextos narrativos. Portanto, a narratologia diz respeito a tudo o 
que “conta uma estória. Ela envolve gêneros orais e escritos da linguagem, imagens, 
espetáculos, eventos, e artefatos culturais” (BROCKMEIER; CARBAUGH, 2001, p.4). 
No início, a narratologia estava atrelada ao estruturalismo e possuía algumas limitações, 
como o fato de não se considerar o contexto de produção e recepção das obras, por 
exemplo, porém, com o projeto pós-estruturalista, de estruturas invariáveis passa-se a 
pensar em estruturas variáveis que levam em consideração o contexto cultural das 
manifestações narrativas e as possibilidades interpretativas fora do texto. A partir desse 
momento, as narrativas então se adaptam a várias situações; elas dão voz às relações 
sociais e constroem significados culturais. Assim, esta apresentação visa debater sobre 
as formas de narrativas literárias, ficcionais ou autobiográficas, considerando a 
construção identitária dos sujeitos narrados dentro de uma perspectiva sócio histórica 
cultural. 
 
 
19 de setembro às 16h30 
 
LITERATURA DE ESPANHÓIS DE ORIGEM MARROQUINA: MIGRAÇÃO E 
TRANSCULTURALIDADE 
 
Antônio Roberto Esteves (UNESP) 
 
É quase um lugar comum afirmar que o planeta está se tornando um imenso território de 
deslocamentos cruzados, decorrentes da aceleração das comunicações, da globalização 
da economia e da internacionalização da cultura. Nesse processo, apesar da resistência 
de setores conservadores, a Europa avança a passos rápidos na direção de um continente 
multirracial, conforme já afirmava Umberto Eco em texto publicado no final do século 
XX. Tal processo vem acompanhado de profundas mudanças na ordem das filiações 
identitárias. Os fluxos migratórios fazem desaparecer o mito da cultura nacional 
monolítica, dando lugar a espaços e textos culturais híbridos. Um exemplo desse 
processo ocorre com a segunda geração de imigrantes marroquinos na Espanha, 
educados num entre-lugar da cultura original de seus pais e da cultura da terra de 
adoção. No caso de Barcelona, que também é multicultural, ocorre ademais uma 
constante negociação entre a cultura catalã local e a cultura espanhola do estado central. 
Um desses escritores é Saïd El Kadaoui Moussaoui, nascido no Marrocos e educado em 
Barcelona, que escreve em castelhano e catalão. Nossa intervenção fará uma leitura de 
seu último livro, No, publicado em 2016, em catalão e em castelhano. Usando fios de 
variada procedência, o romance articula elementos autoficcionais, metaficcionais e 
ensaísticos, para discutir, entre outros temas, o conflito entre a dupla identidade 
marroquina e europeia do narrador protagonista. A literatura, neste caso, encontra seu 
lugar dentro de um ambiente multicultural e trata de conciliar representações identitárias 
fragmentadas, sob um ponto de vista descentralizador e policêntrico. 
 
 
 
 
11 
 
20 de setembro – 14h às 18h 
 
THE THEATRE – FAR MORE THAN LITERATURE 
An afternoon of activities coordinated by Prof Peter James Harris 
 
At the end of his acceptance speech for the 2016 Nobel Prize for Literature Bob Dylan 
acknowledged the controversy surrounding his award, mischievously agreeing with 
those critics who had said that a lyricist should never have been eligible for the prize at 
all. He conceded that “songs are unlike literature. They’re meant to be sung, not read.” 
But in his next breath he went on to remind those same critics that the writer at the 
pinnacle of the Western Canon was also not primarily engaged in the production of 
literature: “The words in Shakespeare’s plays were meant to be acted on the stage. Just 
as lyrics in songs are meant to be sung, not read on a page.” The speakers in this 
afternoon’s programme will each seek to throw light on some of the ways in which an 
adequate understanding of the Theatre depends on first accepting that the playscript is 
not meant to be “read on a page”. 
 
 
MRS WARREN’S PROFESSION IN BRAZIL 
 
Rosalie Rahal Haddad 
 
This presentation, based on Rosalie Rahal Haddad’s Bernard Shaw in Brazil: The 
Reception of Theatrical Productions, 1927-2013 (Peter Lang, 2016), examines the 
reception of Mrs Warren’s Profession in Brazil. An overview will be given of three 
productions of Shaw’s play (in 1947, 1960 and 1998), setting the analysis in the context 
of the political, economic, and cultural climate prevailing at the time of their staging in 
Rio and São Paulo.Throughout the first half of the twentieth century, theatre and theatre 
criticism in Brazil were but precariously established: commercial considerations 
frequently prevailed over aesthetic concerns, and the theatregoer with no knowledge of 
English could have no guarantee that the translated text or adaptation of a play bore 
much more than a passing resemblance to the original upon which it was based. In the 
1950s, along with an acceleration of economic growth, there was an increasing 
development in the country’s social and political infrastructure, which saw the rise of 
the middle class, freely elected presidents, and the building of the new capital, Brasília, 
which resulted in a more optimistic view of Brazil’s place in the world. It was surely no 
coincidence that, in 1960, Brazilian theatregoers witnessed the best production of a 
Shavian play to date, presented by a highly skilled director, excellent actors, and 
reviewed by well-informed and articulate critics. A comparison of these three 
productions of Mrs Warren’s Profession thus serves to reflect the trajectory of the 
Brazilian stage and its close relationship to the country’s socioeconomic and political 
status, demonstrating that the success of a play depends on far more than the literary 
merits of the playscript. 
 
 
 
 
 
 
12 
 
COLIN MURPHY’S DOCUMENTARY THEATRE: ECONOMICS AND 
HISTORY ON STAGE 
 
Beatriz Kopschitz Bastos 
 
Dublin-born journalist and writer Colin Murphy has made a name as one of the leading 
documentary playwrights in Ireland, responding to social and economic changes in the 
country’s recent history, and also to a decade well-supplied with centenaries – in 
particular, those of WWI and the Easter Rising. Five of his plays in the documentary 
genre have been produced or read publicly in the last five years: Guaranteed! (2013); 
Bailed out! (2015); Jack Duggan’s War (2015); Inside the GPO (2016); A Day in May 
(2016).This paper provides a survey of Colin Murphy’s plays, shedding light in 
particular on Guarantee!, Jack Duggan’s War and Inside the GPO. It looks at the 
documentary features of the plays and discusses the borders between investigative 
journalism, documentary and drama, aiming to identify how Murphy’s plays conform to 
or move away from definitions of documentary theatre such as that proposed by Patrice 
Pavis: “theatre that uses, for its text, only documents and authentic sources, ‘selected’ 
and ‘assembled’ in accordance with the playwright’s social and political thesis”. 
 
 
THE DYNAMICS OF WRITING A PLAY FOR THE STAGE: LINGUISTIC 
AND PRACTICAL EXPERIMENTS IN THE TWO DEATHS OF ROGER 
CASEMENT 
 
Domingos Nunez 
 
This paper discusses the dynamics of a three-year research process that resulted in 
several drafts anda professional production of the play The Two Deaths of Roger 
Casement. The work was conceived within an innovative post-doctorate project, 
supervised by Prof Peter James Harris (IBILCE/UNESP), with the support of CAPES 
and the producer and literary director of Cia Ludens, Dr Beatriz Kopschitz Bastos. 
During this period, linguistic and practical experiments were conducted, leading up to 
the first public reading of the play as part of the Cycle of Staged Readings entitled Cia 
Ludens and the Irish Documentary Theatre (2010-2015), held in São Paulo in 
October/November, 2015. Further modifications were made during the rehearsal period, 
and the final treatment given to the script was shown in the full production of the play 
that premiered at the Teatro Aliança Francesa, in São Paulo, in September 2016. The 
final playscript was thus the result of an organic process in which the written text 
determined the practice with the cast, which in its turn reshaped the forms assumed by 
the text. Many aspects of what was performed on the stage could not be captured in the 
stage directions in the final version of the play; the text to be published will therefore 
allow future directors and actors the space for their own interpretation of the staging 
possibilities. The round-table audience members will be invited to take part in an 
experiment with the text, in the course of which clips from a video recording of the play 
will be shown in order to illustrate aspects of the creative process. 
 
 
 
 
13 
 
SAINTS, STRAWMEN AND SAGA PEOPLE: WORD AND IMAGE IN IRISH 
THEATRE 
 
Vincent Woods 
 
In this lecture Irish playwright and poet Vincent Woods will discuss text and design in 
contemporary Irish theatre, making particular reference to his own plays At the Black 
Pig’s Dyke, John Hughdy/Tom John and A Cry from Heaven, and discussing the 
influence of writers such as John Millington Synge, Tom MacIntyre and Tom Murphy. 
He will consider the role and influence of set and costume design in theatre production, 
focusing on the work and vision of two of Ireland’s leading stage designers, Frank 
Conway and Monica Frawley. Among the issues he will consider are: how the visual 
dimension of live theatre is drawn from or inspired by the literary text; what is the role 
of the designer in bringing a text to life on the stage; how do designer, writer and 
director work together to realise a particular theatrical production of a written text; why 
is Irish theatre traditionally literary and text-led, with less imagistic, experimental and 
visual theatre than in many other countries; and how does a writer of poetic texts 
imagine the play in full production? Woods will discuss the process of writing a play 
from initial concept to first draft to finished text, and illustrate the subsequent transition 
of text to play (‘page to stage’) as designer and director add their art and expertise to the 
written word. He will draw on interviews with other writers and with designers Conway 
and Frawley to show how the written word becomes image and is heightened and 
strengthened by this creative adaptation. 
Note: Frank Conway was one of the early designers for Druid Theatre Company, 
designing set and costumes for such memorable productions as Tom Murphy’s 
Bailegangaire, as well as many productions for the Abbey Theatre. Monica Frawley 
also designed many shows for Druid Theatre Company, including Woods’s At the Black 
Pig’s Dyke and Song of the Yellow Bittern, many of Tom Murphy’s plays at the Abbey 
Theatre and opera and theatre productions in Ireland, the UK, Germany and the US. 
 
 
20 de setembro às 19h 
 
A LITERATURA INVISÍVEL 
 
Luiz Ruffato 
 
Toda a minha obra literária tem se desenvolvido no sentido de abarcar um personagem 
invisível na sociedade brasileira - e portanto também invisível na literatura brasileira - 
que é a gente de classe média baixa. A literatura brasileira é pródiga em representar 
núcleos burgueses e pequeno-burgueses e também os marginalizados, em se tratando de 
produção urbana, mas se ‘esquece’ da grande massa anônima de trabalhadores, que não 
sendo intelectuais nem vivendo em comunidades, mas habitando entre ambos os 
mundos, não possui glamour para tornar-se prosa de ficção. Meus livros tentam resgatar 
essa dívida, emprestando espaço para aqueles que não pertencendo à sociedade ocupam 
o não lugar da invisibilidade. 
 
 
 
 
14 
 
COMUNICAÇÕES 
(Em ordem alfabética por sobrenome do autor) 
 
 
O PAPEL DA LITERATURA PARA O SER QUE SE QUER HUMANO 
 
Thiago Henrique de Camargo Abrahão 
thabrahao@outlook.com 
 
Após a leitura de um texto literário, não nos é mais possível, de boa-fé, alegar 
ignorância a respeito do que lemos — como não podemos, sob a égide do direito, 
justificar uma infração cometida alegando que desconhecemos a lei em vigência. 
Encontramos, nesse âmbito, um lugar de destaque para a literatura, cujas palavras, ao 
nomearem o mundo, retiram-no das sombras e o tornam perceptível e, 
consequentemente, pensável. Evidentemente, poderíamos apontar, como 
contraexemplo, que tal fenômeno também se daria com uma simples receita de bolo. O 
texto literário se destaca, entretanto, porque não são apenas suas palavras que nos 
ajudam a conhecer (ou reconhecer) o mundo, pois, a esse respeito, merecem destaque, 
dentre outros aspectos, o trabalho formal concernente à sua estrutura e as relações de 
sentido criadas por figuras de linguagem como a metáfora e a metonímia. Disso se 
segue que a literatura amplia nossa capacidade linguística e, se se quiser — como 
entendeu Ludwig Wittgenstein, para quem os limites da linguagem significam, para o 
homem, os limites de seu mundo —, a compreensão de nossa existência. Contudo, não 
queremos dizer que a literatura nos ofereça respostas prontas, pois parte de seu poder 
(análogo, a propósito, ao âmbito filosófico) é encontrado na capacidade de formular 
perguntas profícuas. À luz dessas afirmações, evidenciaremos que a literatura tem, em 
potência, a capacidade de fomentar a reflexão crítica ao oferecer outras perspectivas 
para que possamos pensar além do normalmente estabelecido pelo senso comum. Trata-
se, portanto, de um lugar de destaque, cujo papel promove — como constatou o 
professor Antonio Candido em ensaios como “A literatura e a formação do homem” — 
o alargamento do que há de humano no ser que somos. 
Palavras-chave: Literatura; Antonio Candido; humanismo. 
 
 
DE SEREIAS E O LUGAR DO CANTO AUSENTE DA LITERATURA 
 
Geisy Nunes Adriano 
geisy.nunes@hotmail.com 
 
É voz corrente que a literatura corre perigo diverso daquele de que temia Platão, isto é, 
o de ser destronada de seu papel na formação cultural do indivíduo (TODOROV, 2010), 
ou que a narração tradicional entra em declínio com a destruição da experiência 
transmissível e a mudez pós-Segunda Guerra Mundial (BENJAMIN, 1980), ou com a 
pobreza de experiências partilháveis no dia-a-dia do homem contempo-
râneo (AGAMBEN, 2008), mas também se reafirma o poder e a persistência dessa arte 
frente ao mundo e aos seus habitantes, inevitavelmente sempre humanos. Mesmo o 
herói Ulisses continua não saindo ileso ao encontro com as sereias, pois a Odisseia se 
transforma continuamente no túmulo das mulheres-pássaros, para sempre inscritas na 
narrativa e cujo silêncio torna-se impossível de escapar (BLANCHOT, 2005). Mesmo 
diante da morte prometida pelo Oráculo, é possível ser e estar no mundo via palavra 
15 
 
literária. Em nossas interrogações acerca do lugar da literatura ou da arte de narrar 
estórias no mundo contemporâneo, traçamos um diálogo com a leitura de Blanchot 
(2005; 2011) e Oliveira (2008) do canto das sereias da Odisseia, de Homero, dentre 
outros autores. Tendo por objetivo evidenciar a ideia da literatura-navegador, cujo lugar 
é o da travessia em direção ao canto ausente da sereia, não do ponto de chegada. 
Representado pela imagemde um deserto silencioso, o canto inumano é o lugar da 
essência da criação literária ou da “fala errante”, é o lugar inalcançável, imaginário e 
fantasmático que continua capturando seu narrador-viajante pela sedução do desejo pelo 
ausente. 
Palavras-chave: Literatura; Canto das sereias; Maurice Blanchot. 
 
 
O CINEMA COMO LUGAR DA LITERATURA: A QUESTÃO DAS 
REFRAÇÕES EM PERSUASÃO DE JANE AUSTEN 
 
Debora Cristina de Almeida 
almeidadebora@yahoo.com.br 
 
O presente trabalho propõe uma leitura comparativa do processo de adaptação do 
romance Persuasão (1818), da romancista inglesa Jane Austen (1775-1817), para suas 
duas versões cinematográficas produzidas pela BBC (1995 e 2007), abordando as 
implicações do diálogo intersemiótico entre a narrativa verbal do romance e a narrativa 
cinematográfica, bem como as motivações, seleções e ressignificações peculiares de 
cada versão. O objetivo é promover a discussão sobre a questão das refrações, 
características do sistema de mecenato, considerando como suporte teórico-
metodológico os apontamentos de Lefevere (1992) a respeito dos elementos 
constituintes desse sistema: os componentes ideológico, econômico e de status. 
Articulando-se a teoria das refrações de Lefevere (ibid) com os preceitos de Stam 
(2008) e Hutcheon (2006) a respeito da natureza criativo-interpretativa do processo de 
apropriação e transposição intertextual que é a adaptação, analisar-se-ão as operações de 
seleção, ampliação e concretização pelas quais passa o texto-fonte, no que concerne a 
modificações, descartes, transcodificações e suplementações feitas pelos adaptadores 
quando da passagem do texto literário para o filme, bem como os efeitos de sentido 
imbricados em cada um dos processos adaptativos. Comparando-se e contrastando-se as 
duas versões de Persuasão para o cinema (1995 e 2007), pode-se concluir que, no caso 
específico aqui abordado, as refrações do processo adaptativo apontam para dois 
prismas diferentes – o do processo e o do resultado. Busca-se, com este trabalho, 
enfatizar a crítica da fidelidade ao original uma vez que as variações dentre as versões 
de Persuasão é que fomentam o interesse atual por essa obra de quase 200 anos. É 
justamente o caráter variado da repetição de um mesmo enredo que constitui parte do 
grande fascínio do público pelas adaptações para o cinema (cf. Hutcheon, 2006). 
Palavras-chave: adaptação; cinema; refrações; Lefevere. 
 
 
 
 
 
16 
 
EUCLIDES DA CUNHA E A LITERATURA PELOS CAMINHOS DA 
AMAZÔNIA: ENTRE O RIO E A FLORESTA NA BELLE ÉPOQUE 
 
Luis Fernando Ribeiro Almeida 
fernandoalmeida15@yahoo.com.br 
 
Nejar (2007) aponta que o autor d’Os Sertões (1902) “foi sozinho uma geração, no 
princípio do século XX, em que o pensamento engatinhava”. Em uma postura mais 
incisiva, Erthal (2009) chega a ponderar que fora Euclides da Cunha que “acordou 
nosso país para a realidade, ensinando os brasileiros a olharem antes para dentro que 
para fora”. Esse período de nossa literatura que pode ser situado entre o apogeu dos 
estilos da segunda metade do século XIX e o surgimento do Modernismo em 1922, é 
comumente denominado pela crítica de Pré-Modernismo, período sincrético onde 
ocorreram certas experiências da revolução modernista, como busca de ruptura com o 
passado; denúncia da realidade; regionalismo e tipos humanos marginalizados (JOBIM 
e SOUZA, 1987). Com base no exposto, este estudo busca refletir sobre os escritos 
amazônicos de Euclides da Cunha, e as representações desse espaço e do homem, em 
especial do seringueiro, situados no contexto da Belle Époque, utilizando-se como 
procedimentos metodológicos os postulados da Teoria Literária. Nas pesquisas dessa 
vertente do escritor fluminense, resultado de sua passagem pela região amazônica como 
chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, ocorrida em 1905, Euclides da 
Cunha tem a oportunidade de ampliar seus horizontes de inspiração para escrever, 
embora imerso em outro ambiente, sob a influência agora do rio e da floresta. Como 
bem aponta Lima (2009), o sertanejo permanece como personagem central, cabendo ao 
escritor denunciar a guerra cotidiana e silenciosa travada nos seringais. Esses sujeitos, 
nordestinos-sertanejos, entram agora em um novo cenário, o que se poderia chamar de 
“outro sertão”. Para Euclides da Cunha, a Amazônia “é uma terra que ainda se está 
preparando para o homem”, este que a invadiu fora do tempo, impertinentemente, em 
plena arrumação de um cenário maravilhoso (MEIRELLES FILHO, 2004). 
Palavras-chave: Literatura; Representação; Belle Époque; Amazônia. 
 
 
A MEMÓRIA COLETIVA DA ESCRAVIDÃO E O ESQUECIMENTO EM 
FRED D’AGUIAR 
 
Elis Regina Fernandes Alves 
elisregi@hotmail.com 
 
Analisam-se dois romances do escritor anglo-guianense Fred D’Aguiar: The Longest 
Memory (1994) e Feeding the Ghosts (1997) com base no conceito de memória coletiva 
de Maurice Halbwachs (2006). Para Halbwachs, a memória nunca é totalmente 
individual, visto sermos seres sociais, coletivos. No caso da escravidão, pode-se falar 
em trauma coletivo sofrido por milhões de seres humanos escravizados, cujas memórias 
coletivas foram sendo ignoradas e esquecidas por uma história que oficializava a 
memória coletiva das elites detentoras do poder, os escravizadores. Desta forma, as 
memórias coletivas dos escravos nunca se tornavam história, pois não tinham voz como 
seres sociais, nem sequer eram considerados humanos. Nos dois romances de Fred 
D’Aguiar, há a ficcionalização de memórias coletivas de escravos, cujas vozes 
narrativas ficcionais relembram e relatam os traumas da escravidão e a própria tentativa 
de esquecimento destas memórias por parte dos escravos. Em Feeding The Ghosts, a 
17 
 
ambientação é o navio negreiro e as memórias coletivas da passagem intermédia, já The 
Longest Memory mostra uma plantation nos Estados Unidos, e a memória coletiva se 
volta para a fuga e os castigos dados aos escravos, num panorama do que foi a 
escravidão negra desde a captura em África até a vida dos escravos nas grandes 
fazendas estadunidenses. Evidencia-se que as memórias coletivas dos escravos acerca 
da escravidão foram esquecidas pelas histórias oficializadas e é a ficção que parece 
querer revisitar esses locais da memória. 
Palavras-chave: Memória coletiva; escravidão; Fred D’Aguiar. 
 
 
MEMÓRIA AFETIVA E MEMÓRIA NACIONAL EM MARCELO RUBENS 
PAIVA 
 
Maria Cláudia Rodrigues Alves 
mclaudia@ibilce.unesp.br 
 
As autoficções ou narrativas inspiradas em biografias de autores têm sido uma constante 
na literatura brasileira contemporânea. Citando apenas alguns de nossos escritores, 
podemos elencar entre muitos Marcelo Rubens Paiva, Tatiana Salem Levy, Ricardo 
Lísias, Sergio Kokis, Cristóvao Tezza, cujas obras tornaram-se best-sellers e receberam 
não somente elogios da crítica especializada, como também indicações e muitas vezes 
prêmios literários. Interessa-nos, pois, investigar o fascínio que provocam obras de 
cunho autoficcional e a difícil tarefa de categorizá-las literariamente à luz de estudiosos 
como Paul RICŒUR (1991 e 2007), Philippe LEJEUNE (2008), Marisa LAJOLO 
(2007) e Anna FAEDRICH (2014). Para tanto, buscando efetuar um recorte para este 
estudo e apresentação, elegemos inicialmente o escritor Marcelo Rubens Paiva que, em 
sua primeira obra Feliz Ano Velho (1982), e na mais recente, Ainda estou aqui (2015), 
lança mão de sua história pessoal e familiar. O primeiro romance conta o acidente que 
deixou o autor paraplégico e as consequências dessa mudança abrupta de situação no 
seio da família, socialmente etc. Mas também relata como sua casa foi invadida por 
militares durante a ditadura brasileira. Ainda estou aqui, trinta e cinco anos depois de 
seu primeiro romance, traz a mãe do autor como protagonista, a advogada, defensora 
dos direitos indígenas, Eunice Paiva, diante de duas lutas: a primeira para criar os filhossem o pai, morto pela ditadura, e a segunda, contra o Alzheimer. Pretendemos promover 
a reflexão e debate, questionando-nos: Há lugar para a autobiografia na literatura dita 
canônica? Em que momento a memória afetiva do autor, sua biografia, torna-se, uma 
vez transformada em memória social, em memória nacional, enfim literatura? 
Palavras-chave: Identidade; Memória; Autoficção; Esquecimento. 
 
 
A AUTOBIOGRAFIA E SUAS VERTENTES NA OBRA DE J.-M. G. LE 
CLÉZIO: A ESCRITA DE SI COMO UM CAMINHO NA BUSCA DE 
IDENTIDADE 
 
Islene França de Assunção 
ninnaassuncao@gmail.com 
 
A obra de Le Clézio acompanha as mutações da literatura francesa contemporânea, 
seguindo a tendência da escrita de si, porém distanciando-se da linha tradicional da 
autobiografia e assemelhando-se às novas formas recentemente surgidas no universo 
18 
 
autobiográfico, identificadas como “autoficção”, “narrativa de filiação” e “ficção 
biográfica”. Visto que a necessidade de autocompreensão liga-se a uma interrogação 
sobre a origem e a filiação, os protagonistas leclézianos empreendem uma viagem rumo 
ao passado, para narrar fatos da infância, da vida dos pais, antepassados ou de alguma 
personalidade importante em suas vidas. Traduzindo uma necessidade geral própria à 
época atual, a obra lecléziana confirmará a obstinação dos escritores contemporâneos 
em reencontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem do tempo. A volta ao 
passado configura uma partida em busca de si mesmo, pois, na tentativa de encontrar as 
origens, os protagonistas exprimem o desejo de encontrar a identidade, de suprir uma 
falta ou restituir a dignidade roubada a um de seus familiares. A viagem e a escrita 
tomam, portanto, uma dimensão iniciática, uma vez que se mostram produtos de uma 
busca identitária, assumindo papel de mediadoras do autoconhecimento e da 
preservação da memória, devido à capacidade de resistir à passagem do tempo, fazendo 
sempre vivos as pessoas e os fatos narrados. Desse modo, este trabalho objetiva 
examinar algumas particularidades das escritas de si presentes nos romances Voyage à 
Rodrigues, L’Africain, Onitsha, Ritournelle de la faim et Diego et Frida, demonstrando 
como Le Clézio ultrapassa, em seus escritos, o domínio da autobiografia tradicional e 
mesmo da autoficção. Para desenvolver essas ideias, o trabalho se fundamentará em 
teorias e críticas da literatura contemporânea, da autobiografia e da autoficção, assim 
como naquelas concernentes ao estudo do sujeito, da identidade e da memória, à luz das 
quais é feita a leitura, interpretação e análise das obras estudadas. 
Palavras-chave: literatura contemporânea; escrita de si; autoficção; identidade. 
 
 
A CONSTRUÇÃO DA TEORIA DO INDIGENATO: JUSTIFICAÇÃO DA 
COLONIZAÇÃO PELA NEGAÇÃO DO NEGRO 
 
Providence Bampoky 
providence.bampoky@gmail.com 
 
Enquanto a abolição da escravidão pretendia colocar fim à condição desumanizante do 
negro, o colonialismo introduzia dentro dos territórios africanos outras formas de 
subserviências e de alienação firmemente alicerçadas nos moldes da herança do Code 
Noir, no entanto, com características específicas. Esta mutação progressiva traduzia a 
aparição de um outro regime calcado nas mesmas ideologias de subjugação e de 
opressão da raça negra nos territórios da AOF (África Ocidental Francesa). O Regime 
do Indigenato ou mais conhecido sob o nome de Code de l’Indigénat ou l’Indigénat 
constituía um conjunto de regras e normas disciplinares concebidas nas colônias 
francesas para o controle e a repressão das populações chamadas indigènes. Segundo 
FAUGERE; MERLE (2010) o termo ‘indigène’ refere-se ao indivíduo que nasceu no 
país, o lugar em questão e que ali tem suas raízes. Esse termo entrou, em 1532, no 
vocabulário francês. Portanto, nas décadas do século XX, mais especificamente, no 
período da dominação colonial, a definição da palavra ‘indigène’ passou a adquirir uma 
série de conotações pejorativas e acompanhada, desde então, de ideologias raciais e 
separatistas. Com base nas relações entre literatura e história, este trabalho busca 
analisar e justificar o modo como o Regime do Indigenato introduziu, por um lado, 
ideias de uma negação de direitos civis para esses indivíduos cujos costumes e religiões 
os colocavam longe da civilização francesa, mas por outro lado, proporcionou o 
nascimento de uma elite intelectual literária. 
Palavras-chave: Colonização francesa; literatura; história. 
19 
 
ADDIE BUNDREN NO REINO DO INDECIDÍVEL: UMA LEITURA 
DESCONSTRUTIVA DE WILLIAM FAULKNER 
 
Leila de Almeida Barros 
leilabarros_@hotmail.com 
 
O principal objetivo deste trabalho é oferecer uma nova possibilidade de análise do 
monólogo interior de Addie Bundren, personagem central do romance Enquanto 
agonizo (1930), de William Faulkner. Sem deixar de levar em conta o imperativo do 
diálogo com a tradição, busca-se amparo no pensamento filosófico de Jacques Derrida, 
sobretudo naquelas ideias apresentadas n’A farmácia de Platão (2005) a respeito do 
quase-conceito de pharmakón. Addie retorna ao mundo dos vivos via linguagem para 
contar a sua versão dos fatos e oferecer uma alternativa à história de uma família que é 
contada a conta-gotas apenas pelos filhos e pelo marido. Chama a atenção que Addie 
ganhe voz em Enquanto agonizo apenas após tornar-se um it indefinível. Com base na 
análise de Derrida acerca do surgimento da escrita na Grécia Antiga e a consequente 
seleção de apenas um sentido ofertado a ela – o de veneno, em prejuízo de outro 
sentido, o de remédio – discute-se a problemática da entrada da metafísica ocidental no 
pensamento dualista. Derrida evidencia que mesmo Platão permanece no terreno do 
indecidível, quando admite timidamente que a escrita pode ser tanto veneno quanto 
remédio. Não um ou outro, mas sim um e outro, a morta-viva Addie e a linguagem em 
que se transfigura parecem igualmente habitar o não-lugar do indecidível que desafia o 
pensamento dualista ocidental. 
Palavras-chave: William Faulkner; Jacques Derrida; Pharmakón; Indecidível. 
 
 
SIMBAD, O MARUJO: TECENDO RELAÇÕES ENTRE TEXTO E IMAGEM 
 
Jaqueline de Carvalho Valverde Batista 
jack_cvbatista@hotmail.com 
 
O trabalho propõe uma relação entre texto e imagem na obra Simbad, o Marujo (2009), 
obra anônima, adaptada por Ana Maria Machado. Nessa obra, mergulhar-se-á para 
conhecer com afinco sua composição: a distribuição de imagens – ilustrações de Igor 
Machado – e seus atributos relacionados às palavras que compõem o texto adaptado por 
Ana Maria Machado. Na análise entre texto e imagem da obra, ressaltaremos a função 
da ilustração e suas contribuições para a construção de interpretações para o texto. 
Ainda, em síntese, destacaremos as possíveis escolhas feitas pelo ilustrador ao 
apresentar determinada imagem para o texto (qual parte ele destaca por meio da 
ilustração e no que ela pode contribuir na construção da interpretação textual). 
Entendendo-se o texto como norteador da imagem, considerar-se-á as contribuições de 
Rudolf Arnhein (1974), que atribui às imagens características que podem influenciar na 
interpretação do texto. Nas imagens (ilustrações) presentes em Simbad, o Marujo (2009) 
pode-se evidenciar, por exemplo, o predomínio de trações que contornam as imagens, o 
que, segundo Arnhein (1974), delimita o objeto. As imagens, nessa obra, ocupam a 
página em sua completude e algumas ocupam página dupla, o que pode ampliar a 
interpretação dessas imagens, frente ao seu norteador, o texto. Além dos traços, as 
cores, a sobreposição de contornos, a iluminação, a focalização adotada pelo narrador, 
atuam como norteadores de possíveis interpretações para a obra (relação entre texto e 
imagem). Na esteira de Arnhein (1974), serão utilizadas as contribuições de Nodelman 
20 
 
(1988), de Bal (2009) para estabelecer essa relação e, por fim, ressaltar-se-á, de fato, se 
as imagens são realmentedirecionadas pelo texto escrito. 
Palavras-chave: literatura infantil e juvenil; imagem; relação tensional – texto/ 
imagem; Ana Maria Machado. 
 
 
O CAMINHO DO ESPÍRITO E O CAMINHO DA NAÇÃO: AS LINHAS DE 
FORÇA DE REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA CONSTRUÍDAS PELA CRÍTICA 
BRASILEIRA OITOCENTISTA NO CASO DE A NEBULOSA (1857) 
 
Maíra Aparecida Pedroso de Moraes Benedito 
mairaapmbenedito@gmail.com 
 
O romantismo surgiu não apenas como um movimento estético contrário ao 
classicismo, mas também como um período que trouxe uma nova concepção de homem 
e de história. Neste contexto dois ideais aparecem com grande força: o Espírito e a 
Nação, sendo embasados literária e filosoficamente, estas duas instâncias se 
entrecruzam e se complementam, delimitando através do tempo o percurso para o gênio. 
No caso do Brasil, através desses ideais se formaram linhas de força para a 
representação literária, as quais a crítica transformou e até mesmo reduziu a um 
conjunto de parâmetros que se distanciaram do movimento complementar entre o 
Espírito e a Nação. Através da exposição de A Nebulosa (1857) de Joaquim Manuel de 
Macedo, um texto não canônico do período de formação da literatura brasileira, bem 
como a recepção crítica desta obra, este artigo buscará evidenciar os topos de 
representação do período oitocentista e suas limitações, bem como trazer à tona a 
multiplicidade criativa do autor que não se enquadra em categorizações estanques de 
estilo e forma. 
Palavras-chave: literatura; romantismo; representação; cânone. 
 
 
LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEAS E FOTOGRAFIAS: 
QUAIS OS SENTIDOS INTRÍNSECOS A ESTA RELAÇÃO? 
 
Renan Augusto Ferreira Bolognin 
renanbolognin@hotmail.com 
 
Esta comunicação apresentará esboços de minha pesquisa de doutorado. Circunscrita no 
grupo de pesquisa “Literatura e Tempo Presente” - liderado pelas profªs Drªs Rejane 
Cristina Rocha e Juliana Santini – esta pesquisa objetiva demonstrar mediante os 
romances Nove noites (2004), de Bernardo Carvalho; Divórcio (2013), de Ricardo 
Lísias; e do romance gráfico Rremembranças da menina de rua morta nua, de Valêncio 
Xavier, e as fotografias trazidas em suas narrações, qual(is) o(s) sentido(s) sócio-
político(s) pode(m) ser depreendido(s) na relação construída entre a fotografia e a 
literatura brasileira contemporânea (a qual chamo de diálogo inespecífico). Para levar a 
cabo estas análises, questiono o(s) porquê(s) da existência destes diálogos entre 
fotografia e literatura como inespecíficos ao embasar este trabalho nos conceitos de 
inespecífico e de campo expansivo, de Florencia Garramuño (2014); na filosofia 
desconstrucionista de Jacques Derrida (1997); e nos questionamentos políticos da arte 
através de Jacques Rancière (2009). Como hipóteses concernentes à minha pesquisa e 
que serão postas à mesa nesta proposta de comunicação, tratarei as seguintes: i. Este 
21 
 
diálogo inespecífico entre literatura e fotografia concerne a modificações dos 
procedimentos de representação da literatura; e ii. A inserção de fotografias no corpo da 
narrativa tem como finalidade criticar os paradigmas dos sistemas axiológicos da 
sociedade Ocidental. Com a soma de ambas as hipóteses, esta comunicação tratará o 
diálogo inespecífico percebido na aliança dos textos literários analisados e de suas 
fotografias como um questionamento a respeito dos protocolos de inteligibilidade e de 
visibilidade concernentes a cada arte e, obviamente, à uma fatura política intrínseca a 
este diálogo (RANCIÈRE, 2012). 
Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Fotografias; Diálogo 
inespecífico; Campos expansivo. 
 
 
A TÉCNICA NARRATIVA DE ALESSANDRO MANZONI E O PONTO DE 
VISTA DA DIVINA PROVIDÊNCIA 
 
Gisele de Oliveira Bosquesi 
gbosquesi@gmail.com 
 
Considerado uma das obras mais representativas da literatura italiana, o romance I 
promessi sposi, de Alessandro Manzoni, espelha, do ponto de vista linguístico, a própria 
unificação do país, ocorrida oficialmente em 1861, no período chamado Risorgimento. 
O primeiro romance histórico italiano, publicado em 1827 e republicado em 1840, foi 
concebido em dialeto milanês e teve sua última versão em dialeto toscano, língua que 
serviu de base para o italiano standard. São numerosos, portanto, os estudos sobre a 
relação entre a obra manzoniana e a identidade nacional, bem como a cor local que o 
gênero romanesco inaugurado por Walter Scott adquiriu em solo italiano. Entretanto, a 
relevância literária da obra estudada repousa também sobre outros aspectos, 
relacionados ao processo de construção da narrativa. Alguns desses aspectos da técnica 
de Alessandro Manzoni foram apontados por Umberto Eco em Seis passeios pelos 
bosques da ficção, a fim de esclarecer a interpretação segundo a qual o romance, 
alternando entre a visão panorâmica dos espaços geográfico e social e a focalização dos 
espaços íntimos e histórias pessoais, conta-nos não apenas a história do desafortunado 
casal Renzo e Lucia, mas também a “História da Divina Providência, que conduz, 
corrige, salva e resolve” (ECO, 1994, p. 79). Objetivamos, portanto, observar, 
apoiando-nos não apenas nas observações de Umberto Eco mas também no aporte 
teórico sobre o ponto de vista na ficção fornecido por Norman Friedman, alguns 
momentos em que o modo de exposição dos ambientes e das ações está carregado de 
sentido, a serviço da interpretação geral da obra. 
Palavras-chave: Alessandro Manzoni; Foco Narrativo; Romance Histórico. 
 
 
O SENTIMENTO DE NÃO-PERTENÇA EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE 
DULCE MARIA CARDOSO 
 
Gabriela Cristina Borborema Bozzo 
gabrielaborborema@live.com 
 
A partir dos aspectos estudados acerca da forma do romance, selecionamos a relação do 
herói com o mundo como foco do presente estudo, o qual tem como objeto de análise do 
romance Os meus sentimentos (2012), de Dulce Maria Cardoso. Partindo do aspecto 
22 
 
selecionado para a discussão e dos estudos já publicados acerca da obra da autora, em 
sua maioria pautados nos Estudos Culturais, temos a temática do desajuste, da não-
pertença que atravessa seus heróis. No trabalho de Dulce, o sentimento de não-pertença 
já apresenta-se tanto literalmente, como no narrador-personagem Rui em O retorno 
(2011), quanto metaforicamente, como em Violeta em Os meus sentimentos, 
personagem que se sente em um exílio figurado (e não geográfico) no mundo. Para 
tanto, pretendemos expor uma leitura reflexiva de partes das obras O tempo no romance 
(1974), de Jean Pouillon; O universo do romance (1976), de Roland Bourneuf e Real 
Ouellet; e Pessoa e personagem (2010), de Michel Zéraffa, seguida por uma análise em 
close reading do romance e, por fim, de um comentário crítico acerca de sua 
composição, tendo em vista os autores comentados. A partir disso, portanto, pretende-se 
analisar o sentimento de não-pertença que se manifesta na personagem como o centro 
da sua relação com o mundo que a cerca. 
Palavras-chave: Violeta; personagem; herói; Os meus sentimentos. 
 
 
O ROMANCE HISTÓRICO E SUAS MODIFICAÇÕES 
 
Marta Roque Branco 
martaroque_@hotmail.com 
 
Conforme aponta Baumgarten em “O novo romance histórico brasileiro”, “Todo 
romance, como produto de um ato de escrita é sempre histórico, porquanto revelador de, 
pelo menos, um tempo a que poderíamos chamar de tempo da escrita ou da produção do 
texto” (2000, p. 169). Contudo, ressalta ele, no âmbito dos estudos literários, essa 
definição é insuficiente para caracterizar o Romance Histórico. Em sua concepção, 
“romance histórico corresponde àquelas experiências que têm por objetivo explícito a 
intenção de promover uma apropriação de fatos históricos definidores de uma fase da 
História de determinada comunidade humana”. Nesse sentido, a origem dessa forma de 
escrita está vinculada à produção de Walter Scott e ao período de vigência do 
Romantismo, assumindo, portanto, papel importante na construçãode nacionalidades/ 
identidades europeias e americanas. Mas o Romance Histórico, tal como foi concebido 
em sua origem, passou por modificações no decorrer dos anos. Das marcas que definem 
sua forma clássica, muitas delas são redimensionadas. No que se refere à Literatura 
brasileira, o caso do Romance Histórico não foi diferente. Em José de Alencar, como 
por exemplo, As Minas de Prata (1865), vemos o desejo de, juntamente com a 
exposição dos acontecimentos históricos, definir uma identidade brasileira. Mas 
também nas produções brasileiras muitas mudanças aconteceram. É o que se pode notar, 
dentre tantos outros, em Galvez, Imperador do Acre (1975), de Márcio Bentes de Souza 
com sua narrativa inovadora que promove a reatualização de episódios históricos. 
Apresentar um quadro de algumas pesquisas sobre o Romance Histórico e um panorama 
dos Romances Históricos brasileiros, ao menos em parte, é o objetivo desta 
comunicação. Para tanto, autores como Baumgarten (2000), Lukács (2011), Hutcheon 
(1991), Jameson (2007) e Flávio Loureiro Chaves (1988) serão utilizados na exposição. 
Palavras-chave: Romance Histórico tradicional; Novo Romance Histórico; Metaficção 
Historiográfica. 
 
 
 
23 
 
“SEPULTURA”: A MORTE E O MACABRO EM CHARLES BAUDELAIRE E 
ODILON REDON 
 
Luíza Araujo Braz 
luh.araujo.braz@gmail.com 
 
O presente estudo tem por objetivo apresentar a temática da morte e do macabro na obra 
Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal), de Charles Baudelaire, e na primeira fase de 
produção artística do pintor e gravador francês Odilon Redon, a partir da descrição, 
análise e cotejo do poema “Sépulture” (“Sepultura”), da ilustração proposta para 
acompanhá-lo e de outras obras de Odilon Redon. A gravura selecionada faz parte de 
um conjunto de nove pequenos desenhos apresentados pelo pintor a seu editor em 1889, 
correspondentes a oito poemas da obra As Flores do Mal e a uma sugestão de capa ou 
de frontispício para o livro. Para tal, baseamo-nos principalmente nos conceitos de 
intertextualidade, revisitado pela autora Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. 
Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto 
literário/iconográfico, estabelecido por Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987). 
Visando a descrever o tratamento dos temas da morte e do macabro por ambos os 
artistas, é possível elaborar, ainda, um panorama dos projetos estéticos (poético e 
gráfico) e descrever os diálogos estabelecidos entre as produções de Charles Baudelaire 
e Odilon Redon, que recusava o uso da palavra “ilustração” e, além disso, preferia ser 
reconhecido como um “intérprete” ou “tradutor” das obras literárias a partir das quais 
realizava suas gravuras. 
Palavras-chave: As Flores do Mal; Paratexto iconográfico; Charles Baudelaire; Odilon 
Redon. 
 
 
O CAMINHANTE NAS ZONAS DO TERRITÓRIO DO URBANO E DO 
IMPREVISÍVEL 
 
Susanna Busato 
susanna.busato@gmail.com 
 
A poesia é exploradora de territórios e de linguagens. A poesia esgarça a linha do tempo 
e sulca o espaço familiar para, ao fazê-lo, construí-lo em outra partitura e arquitetura. 
Nesse processo encontra o estranho na imagem e mobiliza nossa percepção. São as 
zonas do território do urbano e do imprevisível da poesia que este trajeto que faço busca 
explorar. O dado visual do percurso acena para mim o traçado fotográfico que o livro 
Rua, de Guilherme de Almeida (1890-1969), vai oferecer como proposta editorial, em 
1961. É sabido que a inclinação para o visual da construção da imagem é um elemento 
de sua poética, que sabe como extrair dos referentes camadas de expressão fono-morfo-
semântica que encontram na sintaxe do verso a curva necessária para tecer o olhar da 
cena urbana como um passante da rua. O que me interessa no trajeto do seu olhar é o 
modo como a poesia emerge da paisagem urbana, como o poeta concebe sua natureza e 
a transmuta para o universo do olhar do passante, essa figura que flana e é arremessada 
aos núcleos de sentido da paisagem, de modo analógico. Percebo na poesia de Rua um 
processo de associação de imagens que vai superando/mascarando/metamorfoseando o 
referente, a ponto de termos em sobreposição duas realidades: a do objeto ou da cena 
em si e a que habita o onírico ou o devaneio que emerge do contato. Eu diria ainda que, 
mais do que flagrar um elemento do ambiente urbano, a poesia de Rua atua no familiar 
24 
 
da cena, para, por um processo de transferência de sentido, construir no signo novo o 
dado de informação de natureza encantatória. 
Palavras-chave: poesia moderna; Guilherme de Almeida; cidade; paisagem urbana. 
 
 
O LUGAR DO LEITOR NA OBRA LITERÁRIA: UMA ANÁLISE DE O 
CEMITÉRIO DE PRAGA, DE UMBERTO ECO 
 
Deborah Garson Cabral 
debcabral_rp@yahoo.com.br 
 
A obra literária se insere em um tempo e espaço, seu momento de produção, o tempo 
em que relata a história, os lugares onde ambienta essa história, além de o momento em 
que o leitor se depara com a obra e adentra por sua porta. O livro cria sentidos, abraça 
seu leitor ou o repele, faz com que ele passeie pelo universo semântico que cria, 
oferecendo possibilidades interpretativas, mais ou menos visíveis, que serão 
decodificadas por esse leitor. Umberto Eco se refere sempre, em seus textos teóricos, ao 
leitor como um construtor da narrativa, um complementador de sentidos, que precisa 
estar atento durante o passeio que promove dentro das histórias de que participa. O que 
se propõe, neste trabalho, portanto, é refletir sobre qual o lugar do leitor nas narrativas 
ficcionais, em especial no romance do mesmo autor, O cemitério de Praga (2010), que 
promove uma revisitação na história da Itália ao final do século XIX, convidando o 
leitor a questionar a realidade dos fatos, exigindo que este se esforce para construir essa 
história verificando quais fatos são reais, e quais poderiam ser. Introduzindo a figura do 
narrador, este estudo busca revelar as relações entre o processo narrativo e o de leitura, 
que se permeiam e se complementam, sendo imprescindível que esses papeis estejam 
fundidos para que a narrativa alcance seu objetivo final, a compreensão e interpretação 
mais aproximada possível da ideal. 
Palavras-chave: Narrador; leitor ideal; literatura italiana; Umberto Eco. 
 
 
LEITURA E LEITORES NA ANTOLOGIA DE LITERATURA ESTRANGEIRA 
DE PATRÍCIA GALVÃO E GERALDO FERRAZ NO SUPLEMENTO 
LITERÁRIO DO DIÁRIO DE S. PAULO (1946-1948): CONTRIBUIÇÃO À 
CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA 
 
Fernando da Silva Cabral 
fernandocabral1978@yahoo.com.br 
 
O presente projeto tem como objetivo geral investigar os artigos do suplemento literário 
do Diário de S. Paulo, especialmente a Antologia de Literatura Estrangeira publicados 
entre novembro de 1946 a novembro de 1948. A partir da pesquisa, busca-se contribuir 
com o estudo da crítica literária brasileira buscando compreender qual seria a função 
desta seção para a produção e consolidação de uma crítica em periódicos paulistas. 
O caráter biobibliográfico dos artigos acabou promovendo um projeto que apresentava 
ao público leitor aspectos importantes dos escritores selecionados por Patrícia Galvão e 
Geraldo Ferraz. Os críticos apontavam leituras, traziam traduções por vezes inéditas e 
inseriam os escritores em tradições literárias pertinentes às suas culturas literárias. 
Os objetivos específicos, a princípio, são: levantar os artigos de Geraldo Ferraz e 
Patrícia Galvão publicados na seção Antologia da literatura estrangeira publicados entre 
25 
 
1946 e 1948; esquadrinhar e estabelecer possíveis paralelos e distanciamentos entre os 
artigos da Antologia a fim de entender em que medida essa coluna contribui para a 
formação de leitores, assim como o critério de escolha dos escritores e a análise da 
função da seção. Além de contribuir para o estudo da literatura brasileira e de parte da 
história da crítica literária em um periódico paulistano, esseprojeto pretende resgatar os 
artigos publicados na coluna de Antologia de literatura estrangeira e, assim, observar 
como se dá o trabalho do crítico literário num período onde o crítico de ofício se 
configurava frente ao crítico de rodapé. 
Palavras-chave: Patrícia Galvão; Geraldo Ferraz; crítica literária; suplemento literário. 
 
 
O LUGAR DA LITERATURA NO ENCONTRO ENTRE ESCRITOR E LEITOR 
EM DIÁRIO DAS COINCIDÊNCIAS, DE JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA 
 
Priscila Miranda Caetano 
caetano.priscila@gmail.com 
 
O presente estudo tem como objetivo refletir e apreender uma tendência da literatura 
brasileira contemporânea e o sentido de sua criação: a interação entre a palavra e a 
vivência cotidiana; entre o texto e o leitor no processo de manuseio da palavra poética 
em constante mutação, mímese da própria vida. No universo da escrita de João 
Anzanello Carrascoza, encontramos uma espécie de convite ao leitor. Os fragmentos e 
rastros deixados ao longo das narrativas despertam um inicial estranhamento e, ao 
mesmo tempo, uma porta aberta para o que está além do texto; nas sombras entre as 
palavras e o silêncio, está o lugar de encontro desta literatura: o instante de 
reconciliação entre o ser e o seu “outro”, obscurecido pelo automatismo da 
modernidade. Carrascoza se alimenta da poeticidade para promover esta experiência 
leitora; em suas narrativas, o escritor e o leitor são cúmplices na missão de escrita e 
reescrita das histórias primordiais e transformadoras do mundo. No afã de realização 
deste intento, o autor promoveu um projeto de escrita coletiva, no qual recebeu histórias 
de coincidências de várias pessoas e selecionou-as para reescrevê-las e trazer à 
existência o Diário das coincidências (2016), “trazendo à luz estas histórias duplamente 
perdidas” (2016, p. 94), obra esta que constitui o corpus de nosso estudo. Para 
contribuir com esta discussão, recorremos às concepções de Roland Barthes, Octavio 
Paz, Leyla Perrone Moisés, Ezra Pound e Mário Perniola. Partiremos da hipótese de que 
a arte literária contemporânea se alimenta da poeticidade dos tempos remotos, em que 
contar histórias significava revelar-se, conhecer-se e reconhecer-se no mundo. 
Palavras-chave: Carrascoza; Diário das coincidências; poeticidade; leitura. 
 
 
ALTERNÂNCIA DE FOCALIZAÇÃO E MULTIPLICIDADE DE VOZES EM 
GRACILIANO RAMOS: DIÁLOGO ENTRE O ROMANCE VIDAS SECAS E O 
CONTO “UMA VISITA” 
 
Bruna Letícia Pinheiro Carmelin 
bruna.carmelin@hotmail.com 
 
O presente trabalho tem por objetivo evidenciar como se configuram a alternância de 
focalização e a multiplicidade de vozes no romance Vidas secas (1938), de Graciliano 
Ramos, e como essas ocorrências podem ser analisadas no conto “Uma visita”, 
26 
 
publicado na coletânea Insônia (1947), do mesmo autor. Num primeiro momento, 
procuraremos introduzir noções teóricas sobre foco narrativo nos termos de Genette 
(1995), ao denominar focalização zero, focalização externa e focalização interna como 
formas de representação de determinados pontos de vista no material da narrativa; e nos 
termos de Friedman (2001), destacando os focos narrador onisciente neutro e 
onisciência seletiva múltipla. Em seguida, será apresentada breve explanação acerca dos 
estudos de Bakhtin (2005) sobre polifonia ou multiplicidades de vozes no discurso 
literário, que consideram as vozes dos personagens não apenas como objetos do 
discurso do autor, mas sim como a representação de consciências autônomas que 
constroem um discurso em constante diálogo, no qual uma voz não impera diante das 
outras. Concluída a conceituação teórica, ilustraremos, brevemente, a distribuição do 
foco narrativo em Vidas secas e de que maneira essa distribuição contribui para a 
polifonia do romance, tendo como princípio norteador da leitura o fato de que mais de 
um personagem atua como focalizador e apresenta a sua visão e percepção dos fatos 
narrados. Por fim, analisaremos a alternância de focalização no conto “Uma visita”, 
evidenciando tal alternância de focalização como forma de trazer o episódio narrado a 
partir da experiência pessoal de cada personagem e como esse procedimento permite 
que seja assinalada certa multiplicidade de vozes que dialoga com Vidas secas. 
Palavras-chave: Graciliano Ramos; focalização; voz narrativa. 
 
 
PROSAS BÁRBARAS, DE EÇA DE QUEIRÓS: BEM MAIS QUE 
HISTORIAZINHAS ROMÂNTICAS DUM SONHADOR EMOTIVO 
 
Jean Carlos Carniel 
jc.carniel@hotmail.com 
 
O escritor português Eça de Queirós (1845-1900) publicou, durante o final da década de 
1860, diversos folhetins nos jornais Gazeta de Portugal e Revolução de Setembro, e que 
depois foram reunidos, postumamente, sob o título de Prosas Bárbaras (1903). Esses 
primeiros escritos do autor de O crime do Padre Amaro, além de serem pouco 
explorados pelos manuais de literatura, também acabam sendo rebaixados por grande 
parte da crítica, pois, são vistos como pertencentes a um período de imaturidade e 
experiência literárias. Objetiva-se, com esse trabalho, traçar algumas reflexões sobre 
como a obra Prosas Bárbaras é lida pela crítica literária. Levamos em consideração a 
importância dessa coletânea na carreira de Eça, buscando ressaltar as suas próprias 
qualidades. Deste modo, lançamos um olhar valorativo sobre a produção inicial do 
jovem Eça. As afirmações de Reis e Peixinho (2004) e Grossegesse (2006-2007) são 
utilizadas para reforçar a valorização das narrativas de Prosas Bárbaras, contrastando-
se com as afirmações de críticos que desvalorizam essa obra, como, por exemplo, 
Ferreira (1971), Saraiva e Lopes (1979), Moisés (1983) e Serrão (1985). Observa-se que 
essas narrativas são desvalorizadas por grande parte da crítica por se distanciarem do 
aclamado realismo/naturalismo do autor português, contudo, já se nota nelas a 
preocupação de Eça com assuntos de teor social. Além disso, ressalta-se o diálogo do 
escritor português com escritos de autores estrangeiros e uma variedade de gêneros 
utilizados pelo jovem Eça, fazendo com que esses textos oscilem entre narrativa 
literária, carta e ensaio. 
Palavras-chave: Eça de Queirós; Prosas Bárbaras; literatura portuguesa. 
 
 
27 
 
A LITERATURA CONTEMPORÂNEA COMO PALCO DE 
REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO DIVERSAS 
 
Juliane Chatagnier 
ju.chatagnier@gmail.com 
 
A contemporaneidade, como é chamada, serve para designar o momento no qual se 
marca a soberania do fenômeno da globalização, ou mundialização, como prefere Ortiz 
(1994). Este fenômeno é responsável tanto por mudanças positivas, como o 
estabelecimento da conexão eficaz entre lugares distantes, quanto por levar a sociedade, 
ou os indivíduos, a presenciarem mudanças nas redes de configurações sociais. A partir 
das transformações, surge um sentimento de instabilidade, posto que tudo é modificado 
velozmente e a qualquer instante. A construção dos indivíduos dá-se, muitas vezes, 
contraditória, com identidades constituídas por diversas vozes. No que concerne ao 
gênero, pode-se afirmar que desde os anos 70, este é visto como uma construção social 
de identidades sexuais e se torna o objeto de estudo também da crítica feminista, 
abrindo, assim, caminho para a desconstrução do masculino e do feminino. Uma vez 
que a biologia deixa de ser o destino e, conforme Butler (1990; 2003), o gênero é 
construto social, objetiva-se, nesta comunicação, verificar como as identidades de 
gênero masculina, feminina e/ou outras, têm sido apresentadas na literatura 
contemporânea. Partimos do princípio de que as identidades de gênero sofrem rupturas 
com os modelos tradicionais e estão deslocadas, devido à grande diversidade de opções 
oferecidas hoje em dia. Para tanto, serão utilizados romances contemporâneos, 
brasileiros, norte-americanos e ingleses, datados a partir de 1970, que serão analisados 
sob a luz da teoria da performatividade de Judith Butler (1990; 2003). 
Palavras-chave: gênero; performatividade;contemporaneidade; Judith Butler. 
 
 
A IMAGEM DA RUÍNA COMO PROCEDIMENTO DE APROXIMAÇÃO 
ENTRE ASSIM NA TERRA (2013), DE LUIZ SÉRGIO METZ, E A TRADIÇÃO 
LITERÁRIA 
 
Diego Jesus Rosa Codinhoto 
diegozuis@gmail.com 
 
É objetivo deste trabalho refletir sobre a imagem da ruína presente na obra Assim na 
terra, de Luiz Sérgio Metz (2013), à luz do conceito de ruína postulado por Corrêa 
(2006). Elegemos para análise um trecho do romance em questão em que é narrada a 
entrada do protagonista em um casarão de campanha abandonado prestes a desmoronar. 
Nesse trecho, o protagonista anota, em sua caderneta, todas as sensações e lembranças 
provocadas pelos objetos que via na “casa das casas” (METZ, 2013, p. 50), até 
encontrar determinada arca, que o protagonista supõe ter vindo de lugares longínquos, 
por via marítima, tendo uma longa história desconhecida. Em relação ao conceito de 
ruína, Corrêa (2006) esclarece que ele não só deve ser pensado no seu sentido negativo, 
como algo em decadência ou em destruição, mas também na sua acepção positiva, mais 
especificamente no sentido arqueológico do termo: as ruínas como objetos ou 
fragmentos que, ao serem escavados, adquirem um estatuto de fontes históricas de 
culturas desconhecidas ou já esquecidas. Diante de tal definição teórica sobre o conceito 
de ruína, esperamos confirmar a hipótese de que, em Assim na terra (METZ, 2013), a 
imagem da ruína se manifesta em seu duplo caráter: o casarão em ruínas explorado pelo 
28 
 
protagonista é a imagem da destruição e degeneração e, ao mesmo tempo, uma fonte de 
recuperação e regeneração histórica. A imagem do casarão em ruínas e da arca 
encontrada pelo protagonista representam no trecho destacado um procedimento 
utilizado em todo o romance, que se desdobra em um diálogo da obra com a tradição 
literária, inseridas ali por meio do procedimento de intertextualidade. 
Palavras-chave: Metz; ruína; tradição; intertextualidade. 
 
 
ENTRE O ESTÉTICO E O IDEOLÓGICO: O LUGAR DA LITERATURA EM 
1930 
 
Elisa Domingues Coelho 
elisadcoelho@gmail.com 
 
A década de 30 é, certamente, um dos períodos de maior ebulição literária da Literatura 
Brasileira, a prosa desses anos é tão numerosa que, hoje, é imensurável dizer quantos 
romances não se perderam na formação do cânone literário que hoje conhecemos e é, 
por isso, terreno ainda riquíssimo para aqueles que se propõem escavar, nos arquivos, os 
romances que lá ficaram e não galgaram seu lugar na Historiografia Literária. Essa 
produção tão vasta é, na verdade, sintomática de um período em que o lugar da nossa 
literatura, ainda incerto na nossa jovem formação literária, esteve espremido entre a 
revolução estética de 22 e a polarização ideológica advinda do avanço dos regimes 
totalitários. Nesse contexto, a literatura se via ora como extensão do embate ideológico 
da nossa intelectualidade e ora nesse entre-lugar estético-ideológico que compunha a 
“crise de representação” desse decênio. Esse trabalho não intenta chegar a uma assertiva 
sobre qual seria esse lugar da literatura de 30, mas discutir justamente esses entre-
lugares através da análise das posturas críticas dos dois grandes grupos que cindiram a 
intelectualidade de então: escritores sociais e intimistas, categorização essa formulada 
por Lafetá e já muito enraizada na crítica. Para a conceituação de todas essas questões 
em movimento em 30 e fundamentação da análise, partimos da leitura de Jorge Amado: 
Romance em tempo de utopia, de Eduardo de Assis Duarte, Uma história do romance 
de 30, de Luís Gonçales Bueno e Educação pela noite e outros ensaios, de Antonio 
Candido, uma bibliografia crítica essencial para entendermos o contexto dessa crise do 
lugar da literatura e – por que não? - de todos que dela se ocupavam. 
Palavras-chave: romance; década de 30; modernismo; literatura brasileira. 
 
 
ANÁLISE DAS RELAÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O CONTO “ADÃO E 
EVA”, DE MACHADO DE ASSIS, E O “MITO DA CRIAÇÃO”, NA BÍBLIA 
 
Diana Sousa Silva Correa 
diana.correa@ifma.edu.br 
 
Um dos grandes desafios para o professor de Português, no que se refere ao processo de 
ensino e aprendizagem dos estudos de linguagem, é desenvolver a competência 
linguística e discursiva dos educandos. Para isso, as práticas de leitura e produção 
textual devem se revestir de significação, tendo em vista que essas duas capacidades são 
indispensáveis para a democratização do acesso à cultura letrada e às formas de 
socialização mais complexas da vida cidadã. Neste sentido, o presente trabalho consiste 
numa proposta didática, que parte da Teoria Semiolinguística, de Patrick Charaudeau 
29 
 
(2010), por meio da análise das relações intertextuais nas narrativas “Adão e Eva”, de 
Machado de Assis, e o “Mito da Criação”, plasmado na Bíblia. Considerando o caráter 
interlocutivo e polifônico do texto, recorremos, também, aos estudos de Bakhtin (1988), 
que compreende a língua como um processo de interação verbal. O objetivo deste 
trabalho é, portanto, a clarificação dos aspectos de intersecção (identificação do 
intertexto) do conto machadiano com a narrativa bíblica. Observamos que esta 
perspectiva analítica contribui não só para o reconhecimento do diálogo intertextual das 
narrativas em questão, mas também para a identificação da intencionalidade e da 
ideologia. Tais aspectos consubstanciam um mecanismo de potencialização das 
habilidades de leitura e escrita. 
Palavras-chave: Teoria Semiolinguística; Narrativa; Leitura; Intertextualidade. 
 
 
NOS LIMITES DA PALAVRA: O ESTATUTO DO SILÊNCIO EM CONTOS DE 
AUTORIA FEMININA 
 
Loren Lopes Damásio 
loren_damasio@hotmail.com 
 
Este projeto de pesquisa propõe o estudo do silêncio na busca da identidade feminina no 
âmbito de três contos: “Árvore florida”, de Katherine Anne Porter (1890-1980), 
“Colheita”, de Nélida Piñon (1937-), e “Uma situação temporária”, de Jhumpa Lahiri 
(1967-). Nesses textos as protagonistas, imersas em duas das experiências humanas 
mais radicais, devotas do silêncio: o amor e a morte, experimentam certa angústia, que 
fragilizará suas relações com os demais. Ao valerem-se do silêncio como lugar de 
exílio, encontram nele um caminho para significar. Partindo da premissa de que o 
silêncio não representa ausência, mas é, pelo contrário, sentido substantivo, a pesquisa 
se lança à luz de estudos sobre o tema com Sciacca (1967), Sontag (1987), Steiner 
(1988) e Orlandi (1993), bem como dos escritos de Paz (1995) e Barthes (2003), por 
uma configuração do sujeito amoroso. Além disso, para melhor compreensão da relação 
feminina com a palavra e o silêncio, acreditam-se relevantes as contribuições de gênero 
elaboradas por Woolf (1990) e Beauvoir (1990), sem se prescindir, claro, da fortuna 
crítica das autoras que integram o corpus da pesquisa. Propõe-se, desse modo, revisitar 
o estatuto do silêncio e, por extensão, o da própria palavra, revelando a matéria literária 
do primeiro e percebê-lo, fugaz que é, apreendido nas linhas de uma escrita imanente. 
Palavras-chave: Silêncio; contos femininos; identidade feminina. 
 
 
AS EXPERIÊNCIAS DA LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA 
PORTUGUESA NA FORMAÇÃO LITERÁRIA DO ALUNO E DO PROFESSOR 
DAS ESCOLAS TÉCNICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO 
 
Michelle Mittelstedt Devides 
michelledevides@gmail.com 
 
A prática de leitura e a experiência decorrente deste ato são singulares para a formação 
do leitor, especialmente a do jovem leitor que encontra muitas vezes na escola a 
inserção de obras literárias em seu repertório de leitura, e também, a do professor, cujo 
papel é intermediar o caminho da leitura. Dessa forma, configura-se por objeto de 
estudo as experiências da Literatura Africana de Língua Portuguesa na formação 
30 
 
literária do aluno e do professor das Escolas Técnicas do Estado de São Paulo (ETECs), 
do Centro Paula Souza. O objetivo é analisar como as experiências de leitura literária

Continue navegando