Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SOI III 3° PERÍODO APRENDIZAGEM EM PEQUENOS GRUPOS S11P2: INVASÃO ALVEOLAR • O termo pneumonia significa inflamação das estruturas parenquimatosas do pulmão e das vias respiratórias inferiores, inclusive alvéolos e bronquíolos. • Qualquer agente infeccioso – bactérias, vírus, fungos, parasitos e outros microrganismos – pode causar pneumonia, embora a grande maioria seja causada por bactérias. • A inalação de fumaças irritantes ou a aspiração do conteúdo gástrico, embora sejam muito menos comuns que as causas infecciosas, podem causar pneumonia grave. • Nas pneumonias, bronquíolos respiratórios e alvéolos são preenchidos por exsudato inflamatório, comprometendo a função de troca gasosa. • Agentes infecciosos atingem os pulmões preferencialmente através do ar inalado, embora em algumas situações possam atingi-los pela corrente sanguínea. O desenvolvimento de quadro infeccioso no parênquima pulmonar envolve três componentes: 1. Patogenicidade do agente; 2. Mecanismos de defesa; 3. Capacidade de resposta do hospedeiro. Observação: Fatores que afetam a resistência em geral incluem doenças crônicas, deficiência i mu n o l ó g i c a , t r a t a m e n t o c o m a g e n t e s imunossupressores e leucopenia. Os mecanismos de defesa locais do pulmão podem ser comprometidos por muitos fatores, incluindo: 1. Perda ou supressão do reflexo de tosse, como resultado de coma, anestesia, distúrbios neuromusculares, medicamentos ou dor torácica (podem levar à aspiração do conteúdo gástrico). 2. Lesão do aparelho mucociliar, tanto por prejuízo da função ciliar quanto por destruição do epitélio ciliado, em virtude de tabagismo, inalação de gases quentes ou corrosivos, doenças virais ou defeitos genéticos da função ciliar (p. ex., na síndrome dos cílios imóveis). 3. Acúmulo de secreções em condições como fibrose cística e obstrução brônquica. 4. Interferência com a ação fagocítica ou bactericida dos macrófagos alveolares por álcool, tabaco, anoxia ou intoxicação por oxigênio. 5. Congestão e edema pulmonares. As pneumonias têm sido classificadas de acordo com o contexto em que ocorrem: 1. Comunidade (adquiriras nas comunidades); 2. Hospitais (adquiridas nos hospitais). - Observação: Para as duas condições a condição imune do hospedeiro é bastante relevante. Também podem ser classificadas de acordo com o tipo de agente que causa a infecção : 1. Típico: Resultam da infecção por bactérias que se multiplicam fora das células alveolares e causam inflamação e exsudação de líquidos para os espaços aéreos dos alvéolos. 2. Atípico: São causadas por vírus e micoplasmas que afetam o septo alveolar e o interstício pulmonar. Esses microrganismos causam sinais e sintomas físicos menos marcantes que as pneumonias bacterianas. Exemplo: Não há infiltração dos alvéolos e escarro purulento, leucoci tose e condensação lobar nas radiografias do tórax. Podem ser classificadas com base na distribuição anatômica da infecção: 1. Pneumonia lobar: O termo pneumonia lobar refere-se à condensação de uma parte ou de um lobo pulmonar inteiro. O m i c ro rg a n i s m o m a i s associado à pneumonia lobar é o pneumococo ( S t r e p t o c o c c u s p n e u m o n i a e ) , frequentemente associado a pneumonias adquiridas na comunidade 2. Broncopneumonia : Significa uma área de condensação variegada envolvendo mais de um lobo do pulmão. É um processo caracterizado por focos múltiplos, às v e z e s b i l a t e r a i s , d e Maria Vitória de Sousa Santos inflamação purulenta no parênquima pulmonar; em alguns casos, os focos são confluentes e podem comprometer grande parte do pulmão. Microscopicamente, encontram-se hiperemia, edema e exsudato purulento na luz dos alvéolos e bronquíolos, com destruição da parede dessas estruturas. As mesmas fases da pneumonia lobar podem acontecer no desenvolvimento do processo, porém com distribuição focal. 3. Pneumonia intersticial: O acometimento pode ser zonal ou difuso, às vezes bilateral. Macroscopicamente, o quadro é pouco caracter ís t ico, podendo haver apenas hiperemia. Ao microscópio, o achado dominante é inflamação n i t idamente intersticial, em que os septos alveolares tornam- se alargados por edema e infiltrado de mononucleares. Os alvéolos contêm pequena quantidade de líquido e, nos casos graves, apresentam membranas hialinas, indicativas de dano alveolar. Dependendo do agente etiológico, podem ser encontrados elementos específicos. CONDIÇÕES PREDISPONENTES Condições predisponentes incluem: 1. Extremos de idade; 2. Doenças crônicas (insuficiência cardíaca congestiva, DPOC e diabetes); 3. Deficiências imunológicas congênitas ou adquiridas; 4. Função esplênica diminuída ou ausente ( a n e m i a f a l c i f o r m e o u e s t a d o p ó s ‐ esplenectomia, que coloca o paciente em risco de infecções por bactérias encapsuladas, como pneumococos). FATORES DE RISCO 1. Fumo: provoca reação inflamatória que facilita a penetração de agentes infecciosos; 2. Álcool: interfere no sistema imunológico e na capacidade de defesa do aparelho respiratório; 3. Ar-condicionado: deixa o ar muito seco, facilitando a infecção por vírus e bactérias; 4. Resfriados mal cuidados; 5. Mudanças bruscas de temperatura. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pacientes com Pneumonia costumam apresentar quadro de: 1. Tosse com ou sem expectoração; 2. Dispneia; 3. Febre e dor torácica 4. Dor pleurítica 5. Mialgias 6. Anorexia e fadiga. Ao exame físico, pode ser visto: 1. Taquicardia 2. Taquipneia 3. Hipotensão 4. Crepitações 5. Redução dos murmúrios vesiculares 6. Aumento do frêmito toracovocal 7. Sinais de consolidação. Observação: Em relação aos idosos, o limiar de suspeita para pneumonia deve ser mais baixo, pois os mesmos podem não manifestar febre, tosse ou dispneia, e geralmente apresentam-se confusos, com mudanças na capacidade funcional e ainda agravamento de uma doença de base preexistente. PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC) • O termo pneumonia adquirida na comunidade é usado para descrever infecções causadas por microrganismos encontrados nas comunidades, em vez de nos hospitais ou nas instituições asilares. • Essa condição é definida por infecção que começa fora do hospital, ou é diagnosticada dentro de 48 h depois da internação hospitalar de um paciente que não residia em instituição de cuidados de longa permanência há 14 dias ou mais desde a data da internação. • As pneumonias adquiridas na comunidade também podem ser classificadas de acordo com o risco de morte e a necessidade de internação hospitalar com base na idade, na coexistência de outras doenças e na gravidade da infecção, tendo como base os resultados do exame físico e dos testes laboratoriais e radiológicos. Etiologia • A pneumonia adquirida na comunidade pode ser bacteriana ou viral. • A causa mais comum de infecção em todos os grupos é Streptococcus pneumoniae. • Outros patógenos comuns são H. influenzae, S. aureus e bastonetes gram-negativos. Maria Vitória de Sousa Santos • Patógenos menos frequentes, ainda que se tornem cada vez mais comuns, são Mycoplasma pneumoniae, Legionella, 19 espécies de Chlamydia e vírus – descritos algumas vezes como agentes infecciosos atípicos. • Entre os vírus que frequentemente ocasionam pneumonias adquiridas na comunidade estão influenza, VSR, adenovírus e para-influenza. PNEUMONIA ADQUIRIDA NO HOSPITAL • A definição de pneumonia adquirida no hospital é infecção das vias respiratórias inferiores que não existia ou se encontrava no período de incubação por ocasião da admissão ao hospital. • Em geral, as infecções que ocorrem 48 h ou mais depois da internação são classificadas como pneumonias adquiridas no hospital. - Observação: Os pacientes que necessitam de intubação e respiração artificial formam o grupo de risco especialmente alto. Outros grupos de risco são pacientesimunossuprimidos e com doença pulmonar crônica ou instrumentação das vias respiratórias (p. ex., intubação endotraqueal ou traqueotomia). Etiologia • A maioria das infecções adquiridas no hospital é bacteriana. • Os microrganismos são os que estão presentes no ambiente hospitalar e incluem P. aeruginosa, S. aureus, espécies de Enterobacter e de Klebsiella, Escherichia coli e espécies de Serratia. - Observação: Os microrganismos que causam pneumonias adquiridas no hospital são diferentes dos envolvidos nas pneumonias adquiridas na comunidade, e alguns deles adquiriram resistência aos antibióticos e são mais difíceis de erradicar. PNEUMONIA DO PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO • Em geral, o termo hospedeiro imunossuprimido é aplicável aos pacientes com várias anormalidades coexistentes no sistema de defesa. • Isso inclui pacientes com imunodeficiências primária e secundária, receptores de transplantes de medula óssea, portadores de cânceres de órgãos sólidos ou hematológicos e pacientes em tratamento com corticoides e outros fármacos imunossupressores. • Embora quase todos os tipos de microrganismos possam causar infecção primária na população imunossuprimida, alguns tipos de anormalidade imune tendem a favorecer determinados tipos de infecção. • As anormalidades da imunidade humoral predispõem às infecções bacterianas, contra as quais os anticorpos desempenham um papel importante, enquanto os distúrbios da imunidade celular favorecem as infecções causadas por vírus, fungos, micobactérias e protozoários. • Neutropenia e distúrbios da função dos granulócitos (p. ex., pacientes com leucemia, em quimioterapia e depressão da medula óssea) predispõem às in fecções causadas por Staphylococcus aureus, Aspergillus, bactérias gramnegativas e Candida. - Observação: O tipo de evolução da infecção frequentemente fornece indícios quanto ao agente etiológico envolvido. Em geral, a pneumonia fulminante é causada por infecção bacteriana, enquanto um início insidioso geralmente indica infecção viral, fúngica, micobacteriana ou causada por protozoários. PNEUMONIAS BACTERIANAS AGUDAS OU TÍPICAS • Normalmente, as estruturas pulmonares situadas abaixo dos brônquios principais são estéreis, apesar da entrada frequente dos microrganismos nas vias respiratórias por inalação durante a ventilação ou a aspiração das secreções nasofaríngeas. • A m a i o r i a d o s i n d i v í d u o s a s p i r a imperceptivelmente pequenas quantidades de microrganismos, que colonizam suas vias respiratórias superiores, principalmente enquanto dormem. • Em condições normais, esses microrganismos não causam infecção em razão das quantidades pequenas aspiradas, porque os mecanismos de defesa das vias respiratórias do hospedeiro impedem que eles cheguem às vias respiratórias distais. • Supressão do reflexo da tosse, lesão do endotélio ciliado que reveste as vias respiratórias ou distúrbios das defesas imunes predispõem à colonização e à infecção do sistema respiratório inferior. • A aderência bacteriana também desempenha um papel importante na colonização das vias respiratórias inferiores. • As células epiteliais dos pacientes em estado crítico ou com doenças crônicas são mais receptivas à adesão dos microrganismos que causam pneumonias. • Outros fatores clínicos que favorecem a colonização da árvore traqueobrônquica são tratamento com antibióticos que alteram a flora bacteriana normal, diabetes, tabagismo, bronquite crônica e infecção viral. 1- Pneumonia pneumocócica • Streptococcus pneumoniae (pneumococo) ainda é o agente etiológico mais comum das pneumonias bacterianas. Maria Vitória de Sousa Santos • Causa a pneumonia lobar. • O S. pneumoniae é um diplococo gram-positivo que tem uma cápsula polissacarídica. • A virulência do pneumococo depende de sua cápsula, que impede ou dificulta a digestão pelos fagócitos. • O polissacarídio é um antígeno que ativa basicamente a reação das células B que desencadeiam a produção de anticorpos. • Quando esses anticorpos não estão presentes, a erradicação dos pneumococos no corpo depende do sistema reticuloendotelial, com os macrófagos do baço desempenhando um papel importante na sua eliminação. • Somado ao papel do baço na formação dos anticorpos, isso aumenta o risco de bacteriemia pneumocócica entre pacientes com asplenismo anatômico ou funcional (não existência de baço), inclusive crianças com doença falciforme. • As primeiras etapas da patogênese da infecção pneumocócica são fixação e colonização do microrganismo ao muco e às células da nasofaringe. • Colonização não significa que ocorram sinais de infecção. • Indivíduos absolutamente saudáveis podem ser colonizados e portar o microrganismo sem indícios de infecção. - Observação: Os indivíduos saudáveis colonizados são os principais responsáveis por d i s s e m i n a r d e t e r m i n a d a s c e p a s d e pneumococo, principalmente as que são resistentes aos antibióticos. O processo patogenético da pneumonia pneumocócica pode ser dividido em quatro estágios: 1. Edema 2. Hepatização vermelha 3. Hepatização cinzenta 4. Regressão/resolução. - Edema: Durante o primeiro estágio da pneumonia pneumocócica, os alvéolos são preenchidos por líquido de edema rico em proteínas (exsudato Fibrinoso) contendo grandes quantidades de microrganismos. - Hepatização vermelha: Em seguida, há congestão capilar acentuada, que resulta no extravasamento de grandes quantidades de leucócitos e hemácias. Como a consistência inicial do pulmão assemelha-se à do fígado, essa fase é conhecida como estágio de hepatização vermelha. - Hepatização cinzenta: O próximo estágio, que ocorre depois de 2 dias ou mais, dependendo do sucesso do tratamento, consiste na chegada de macrófagos, que fagocitam as células polimorfonucleares fragmentadas, as hemácias e outros restos celulares. Durante esse estágio, conhecido como estágio de hepatização cinzenta, a congestão diminui, mas o pulmão ainda se encontra enrijecido. - Regressão/resolução: Em seguida, o exsudato alveolar é removido e o pulmão volta gradativamente ao normal. Ocorre lise da fibrina e redução progressiva do exsudato, permitindo a penetração de ar nos alvéolos. 1.1-Manifestações clínicas • O s s i n a i s e s i n t o m a s d a p n e u m o n i a pneumocócica variam amplamente, dependendo da idade e das condições de saúde do paciente. • Nos indivíduos previamente saudáveis, o início geralmente é súbito e evidenciado por mal estar, calafrios com tremores intensos e febre. • Durante o estágio congestivo ou inicial, a tosse elimina escarro aquoso e o murmúrio vesicular está reduzido com estertores finos. Maria Vitória de Sousa Santos • À medida que a doença avança, as características do escarro mudam, ou seja, pode adquirir coloração sanguinolenta, cor de ferrugem ou aspecto purulento. • Dor pleurítica – dor aguda e mais intensa com os movimentos respiratórios – é uma queixa comum. • Nos idosos os únicos sinais de pneumonia podem ser perda do apetite e deterioração do estado mental dos idosos. 1.2-Vacinação • A pneumonia pneumocócica pode ser evitada por imunização. • Os polissacarídios capsulares induzem a formação de anticorpos, principalmente por mecanismos dependentes dos linfócitos T. A vacina é recomendada para os indivíduos: 1. De 65 anos ou mais; 2. Para pacientes de 2 a 65 anos com doenças crônicas, especialmente distúrbios pulmonares e cardiovasculares, diabetes melito e alcoolismo, que aumentam a morbidade associada às infecções respiratórias; 3. A imunização também está recomendada para pacientes imunossuprimidos de 2 anos ou mais, inclusive portadores de doença falciforme ou pacientes que fizeram esplenectomia ou têm doença de Hodgkin, mieloma múltiplo, insuficiência renal, síndrome nefrótica, transplantes de órgãos e infecção pelo HIV; 4. A vacinaçãotambém é recomendada para indivíduos que residem em ambientes especiais ou condições sociais nas quais o risco de desenvolver doença pneumocócica invasiva é maior e residentes de instituições asilares e serviços de cuidados médicos de longa duração. • Como seu sistema imune é imaturo, a resposta humoral à maioria dos polissacarídios capsulares pneumocócicos não é adequada ou é fraca nas crianças com menos de 2 anos de vida. 2- Pneumonia por Legionella • Doença dos legionários é um t ipo de broncopneumonia causada por um bastonete gram negativo conhecido como Legionella pneumophila. • A transmissão interpessoal não foi confirmada e, normalmente, a infecção ocorre quando um indivíduo adquire o microrganismo do ambiente. • Nos casos típicos, a infecção se dá quando água contendo o patógeno é suspensa em aerossol com partículas de diâmetro apropriado e é aspirada por um hospedeiro suscetível. • Embora indivíduos saudáveis possam contrair a infecção, o risco é maior entre fumantes, portadores de doenças crônicas e pacientes com imunidade celular deprimida. 2.1-Manifestações clínicas • Nos casos típicos, os sinais e sintomas da doença começam cerca de 2 a 10 dias depois da infecção. • Em geral, o início é súbito com mal-estar, fraqueza, letargia, febre e tosse seca. • Outras manifestações clínicas são distúrbios da função do sistema nervoso central, problemas referidos ao sistema digestório, artralgia e elevação da temperatura corporal. • Pneumonia com diarreia, hiponatremia e confusão mental é típica da infecção pulmonar por Legionella. • Essa doença causa condensação dos tecidos pulmonares e dificulta a troca de gases. 3- Pneumonia por Klebsiella • Klebsiella pneumonie é a principal bactéria Gram-negativa causadora de pneumonia. • O microrganismo é causa comum de pneumonia em alcoólatras (40 a 60 anos), usualmente com higiene oral precária. • Neles, aspiração de secreções contendo microrganismos para os pulmões é potencializada pela inibição da fagocitose pulmonar causada pelo álcool. • Na forma aguda, a característica principal é a distribuição lobar das lesões, com envolvimento de mais de um lobo, resultando em pulmão consolidado e com aparência mucoide. • São comuns pleurite fibrinosa e necrose extensa (em contraste com a pneumonia pneumocócica), esta proporcional à duração da doença. • Nas áreas de necrose, formam-se abscessos, muito comuns nesse tipo de pneumonia. • A forma crônica caracteriza-se por fibrose extensa e múltiplos abscessos contendo bacilos viáveis, que muitas vezes evoluem para bronquiectasia. 3- Pneumonia por Haemophylus • Haemophylus influenzae é importante agente etiológico de pneumonias em crianças, podendo causar também meningite. • Trata-se de bactéria Gram-negativa cuja p a t o g e n i c i d a d e é m e d i a d a p o r u m prolongamento na sua superfície que favorece a aderência ao epitélio respiratório e pela secreção de enzimas que afetam os batimentos ciliares e inativam a IgA secretória. • O agente compromete em geral indivíduos com bronquite crônica e/ou bronquiectasia e geralmente encontra-se associado a infecções virais que, por destruição do epitélio, favorecem a aderência de bactérias. Maria Vitória de Sousa Santos • Com isso, o microrganismo causa extensa p n e u m o n i a d e s t r u t i v a ( l o b a r o u broncopneumonia) que pode evoluir para bronquiolite obliterante. • Como complicação podem se formar abscessos, cu ja c icatr ização extensa pred i spõe a bronquiectasia. 4-Pneumonia estafilocócica • A característica principal da pneumonia estafilocócica (Staphylococcus aureus) são focos de hemorragia parenquimatosa e abscessos. • Uma das complicações é a invasão da pleura, causando empiema. • Em geral, a pneumonia é precedida por quadro viral agudo ou subagudo tipo influenza ou por septicemia secundária a infecção extrapulmonar. • O quadro clínico pode ser frustro ou com início abrupto de tosse, dor pleural, hemoptise e febre. 5-Pneumonia por pseudômonas • É mais frequente em pacientes com doenças pulmonares crônicas (forma bacteriêmica), com queimaduras, em imunossuprimidos ou com neoplasias malignas hematológicas (forma abacteriêmica). • O lobo inferior é o mais acometido. • Trata-se de broncopneumonia hemorrágica multifocal que poupa os ápices pulmonares e se associa a derrame pleural serossanguinolento, áreas de necrose e abscessos. • Histologicamente, encontra-se exsudato de polimorfonucleares associado a múltiplas áreas de hemorragia. • A necrose é mais facilmente identificada em colorações para fibras reticulares. • O quadro característico é inflamação aguda com necrose fibrinoide da parede de pequenas artérias e veias. PNEUMONIA ATÍPICA PRIMÁRIA • As pneumonias atípicas primárias são causadas por vários microrganismos, dentre os quais o mais comum é Mycoplasma pneumoniae. • As infecções por micoplasmas são especialmente comuns entre crianças pequenas e adultos jovens. • Outros agentes etiológicos são vírus (p. ex., influenza, VSR, adenovírus, rinovírus e vírus do sarampo e da varicela) e Chlamydia trachomatis. • As pneumonias atípicas caracterizam-se por acometimento difuso dos pulmões, confinado principalmente ao septo alveolar e ao interstício pulmonar. • O termo atípica refere-se à inexistência de condensação pulmonar, produção de quantidades moderadas de escarro, elevação moderada da contagem de leucócitos e inexistência de exsudato alveolar. • Os patógenos que provocam pneumonia atípica causam lesão do epitélio respiratório e deprimem as defesas das vias respiratórias, deste modo predispondo às infecções bacterianas secundárias. Manifestações clínicas • A evolução clínica dos pacientes com pneumonias causadas por vírus e micoplasmas varia amplamente de um quadro infeccioso brando (p. ex., influenza A e B, adenovírus) semelhante a um resfriado comum, até os casos mais graves possíveis de evoluir ao óbito. • Os sintomas são basicamente febre, cefaleia e dor e desconforto musculares. • Quando manifesta, a tosse geralmente é seca, irritativa e não produtiva. Infecções por Influenza • Se o hospedeiro não tiver anticorpos de proteção, os vírus infectam os pneumócitos e estimulam várias alterações citopáticas. • Logo depois de entrar nos pneumócitos, a infecção viral inibe os canais de sódio, produzindo desvios de água e eletrólitos que levam ao acúmulo de fluidos na luz alveolar. • Segue‐se a morte das células infectadas através de vários mecanismos, incluindo a inibição da tradução de mRNA nas células hospedeiras e ativação das caspases, levando à apoptose. • A morte das células epiteliais exacerba o acúmulo de fluidos e libera “sinais de perigo” que ativam os macrófagos residentes. • Além disso, antes de sua morte, as células epiteliais infectadas liberam vários mediadores inflamatórios, incluindo várias quimiocinas e citocinas, adicionando combustível ao “fogo inflamatório”. Somem‐se ainda os mediadores liberados de células epiteliais e macrófagos que ativam o endotélio pulmonar próximo, permitindo que os neutrófilos se liguem e extravasem para o interstício dentro de 1 ou 2 dias de infecção. • Em alguns casos, a infecção viral pode causar dano pulmonar suficiente para causar a síndrome da angústia respiratória aguda, mas geralmente mais grave e fatal é a doença pulmonar que se origina de uma pneumonia bacteriana superposta. PNEUMONIAS POR HELMINTOS • Infecção pulmonar por helmintos é evento raro e invariavelmente associado a imunossupressão. • O exemplo mais característico deste grupo é a infecção causada pelo Strongyloides stercoralis, helminto responsável por complicação pulmonar grave que provoca inflamação aguda, lesão da microcirculação e hemorragia extensa. Maria Vitória de Sousa Santos • Clinicamente, as lesões pulmonares são, em geral, assintomáticas,podendo apresentar-se como nódulos isolados ou fazer parte de doença generalizada. • Enquanto a larva está viva nos tecidos, não há reação tecidual. Após a morte do organismo, substâncias são liberadas e induzem reação inflamatória. PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO (QUÍMICA) Pneumonia aspirativa é a lesão resultante da penetração de alimentos ou conteúdo gástrico nos pulmões. O processo ocorre nas seguintes situações: (1) broncoaspiração aguda. Pode resultar de: (a) vômitos em indivíduos com redução do nível de consciência (lesões encefálicas, estados de coma, anestesia etc.) ou com transtornos no reflexo de tosse. Nesses casos, há aspiração de grande quantidade de conteúdo gástrico; (b) doenças do esôfago em que há retenção do bolo alimentar no órgão ou fístulas traqueo/ broncoesofágicas, que favorecem a penetração do material deglutido nas vias aéreas; (2) broncoaspiração crônica, associada geralmente a refluxo gastroesofágico: Como o material é aspirado em pequena quantidade, a agressão não é suficiente para provocar comprometimento maciço dos pulmões, embora cause pneumonia recorrente e alterações das vias aéreas, como bronquiectasia. As lesões pulmonares por aspiração devem- se a dois componentes: (1) agressão química produzida pela secreção ácida gástrica em contato com a mucosa; (2) infecção por microrganismos da microbiota buca l , e spec ia lmente microrganismos anaeróbios. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO PARA PAC A avaliação da gravidade do quadro do paciente é importante para determinar se há ou não necessidade de internamento. Alguns fatores observados são: doenças associadas, condição social, adesão terapêutica, idade avançada, comorbidades (insuficiência cardíaca, neoplasia, doença coronariana, alcoolismo), anormalidades ao exame físico e/ou radiológico. Levam em consideração um critério maior e três menores. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é baseado nos achados clínicos - febre, tosse, dispneia, dor torácica - juntamente com exame físico estertores crepitantes, sinais de consolidação, taquipneia e taquicardia - e alterações radiológicas. 1. Radiografia do tórax: Os principais padrões de alterações vistas na radiografia de tórax são: consolidação lobar, focos de consolidação, opacidades intersticiais e cavitação. Vale ressaltar que a radiografia é importante também para avaliar gravidade e identificar possíveis condições coexistentes, acompanhar evolução e resposta ao tratamento. 2. Hemograma: completa o diagnóstico clínico, podendo apresentar leucocitose (>12.000) ou leucopenia (<4000). Leucopenia em geral se c o r re l a c i o n a c o m p i o r p ro g n ó s t i c o , independentemente do agente etiológico. 3. Gasometria arterial: pode identificar hipoxemia (PaO2 ‹ 60mmHg) ou hipercapnia (PaCO2 > 45mmHg) e indicar suplementação de oxigênio ou internação na UTI. 4. Hemocultura: geralmente indicada aos pacientes com pneumonia considerada grave ou refratária ao tratamento. O pneumococo é o germe mais frequentemente isolado. Serve para identificar o patógeno. 5. Cultura de escarro: difícil obtenção de amostras adequadas e com qualidade. Deve ser realizado apenas quando há condições adequadas - boa quantidade, presença de polimorfonucleares, baixo número de células escamosas, processamento para cultura em até 2 horas, transporte rápido e análise de acordo com regras internacionais. COMPLICAÇÕES DA PNEUMONIA As complicações da pneumonia incluem: (1) destruição e necrose dos tecidos, levando à formação de abscesso; (2) disseminação da infecção para a cavidade pleural, causando a reação fibrinossupurativa intrapleural conhecida como empiema; (3) disseminação bacterêmica para valvas cardíacas, pericárdio, cérebro, rins, baço ou articulações, causando abscessos metastáticos, endocardite, meningite ou artrite supurativa. ABSCESSO PULMONAR • Abscesso pulmonar é uma coleção de pus na intimidade do órgão resultante de agressão e destruição tecidual com formação de cavidade onde se acumula secreção purulenta constituída por restos celulares, microrganismos e células inflamatórias. Maria Vitória de Sousa Santos • Os principais microrganismos envolvidos na gênese de abscessos pulmonares são os anaeróbios da microbiota bucal, embora agentes causadores de pneumonias possam estar também envolvidos. Abscessos pulmonares formam-se em diversas condições: (1) complicação de pneumonias bacterianas, especialmente naquelas com grande lesão tecidual, como acontece nas infecções por S. aureus e K. pneumoniae; (2) aspiração de material contaminado; (3) infecção secundária em lesões prévias (tumores, infartos etc.). Algumas vezes, um câncer pulmonar apresenta-se como abscesso; (4) embolia séptica; (5) lesões torácicas perfurantes. • Os abscessos podem variar desde pequenos (menores que 1 cm, microabscessos) até lesões cavitadas volumosas, com vários centímetros, podendo haver confluência de lesões adjacentes. • O interior do abscesso normalmente contém restos celulares resultantes de necrose tecidual, células inflamatórias e microrganismos. • O conjunto desses elementos forma um característico nível líquido na cavidade, o qual pode ser identificado em exames de imagem. TRATAMENTO PARA PAC • A recomendação atual é a de que se inicie o tratamento o mais rápido possível ainda no ambulatório ou no pronto-atendimento em que o paciente está sendo examinado. • Medidas gerais adicionais ao tratamento antimicrobiano são cessação do tabagismo, repouso, hidratação adequada e analgésicos/anti- inflamatórios não esteroides para controle da dor pleurítica, caso ocorra. • A gravidade da doença e fatores do hospedeiro, incluindo idade, comorbidades e alergias a fármacos, ajudam a determinar a terapia antimicrobiana empírica para pacientes hospitalizados com PAC. Critérios para tratamento • O CURB-65 baseia-se em variáveis das quais deriva seu nome (em inglês): Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score)(48); Ureia > 50 mg/dl; frequência Respiratória > 30 ciclos/min; (Blood pressure): pressão arterial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial diastólica < 60 mmHg; e Idade ≥ 65 anos. • A forma simplificada (CRB-65), sem a dosagem de ureia, é útil em ambientes nos quais exames laboratoriais não estão disponíveis, como na atenção primária. • 0= Baixo risco/ 1-2= Moderado/ 3-4= Alto risco Maria Vitória de Sousa Santos TRATAMENTO PARA PAH Os esquemas terapêuticos sugeridos pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) são: 1-Pacientes de baixo risco para presença de bactérias potencialmente resistentes: Ger mes prováveis : S. pneumoniae, H. influenzae, S. aureus oxac i l ino-sens íve l , enterobactérias sensíveis: Es- cherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp., Serratia marcescens Opções de tratamento, após considerar o padrão local de resistência: 1. Associação de betalactâmico-inibidor de betalactamases não ativos contra Pseudomonas sp. 2. Fluoroquinolonas 3. Cefalosporinas de terceira geração não ativas contra Pseudomonas sp. 2-Pacientes com fatores de risco para patógenos resistentes: Germes prováveis: P. aeruginosa, Acinetobacter sp., Stenotrophomonas maltophilia, enterobactérias resistentes, S. aureus oxacil ino-resistente Geralmente se emprega terapia combinada: 1. Betalactâmicos-inibidores de betalactamases ativos contra Pseudomonas sp. 2. Cefalosporinas de quarta geração 3. Carbapenêmicos 4. Quinolona com ação antipseudomonas 5. Aminoglicosídeos 6. Monobactâmicos 7. Fármacos antiestafilocócicos: glicopeptídeos (vancomicina), oxazolidinonas (linezolida) ou estreptograminas (quinupristin/dalfopristin) Referências: -Porth- Fisiopatologia -Robbins- Patologia básica -Bogliolo- Patologia -Luiz Carlos Corrêa- Pneumologia Maria Vitória de Sousa Santos S12P1: SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ INTRODUÇÃO • O sangue é um tipo especializado detecido conjuntivo que consiste em células sanguíneas (hemácias ou eritrócitos, leucócitos e plaquetas) suspensas em um líquido extracelular, conhecido como plasma. • O sangue representa aproximadamente 7 a 8% do peso corporal total. • O volume total de sangue no adulto médio é de 5 a 6 L e circula por todo o organismo confinado aos limites do sistema circulatório. • Como o sangue circula por todo o corpo, ele é o veículo ideal para o transporte de substâncias para dentro e fora das células. FUNÇÕES DO SANGUE O sangue apresenta três funções gerais: 1. Transporte: O sangue transporta oxigênio dos pulmões para as células do corpo e dióxido de carbono das células corporais para os pulmões para que seja exalado. Além disso, leva os nutrientes do sistema digestório para as células corporais e hormônios das glândulas endócrinas para outras células do corpo. O sangue também transporta calor e produtos residuais para diversos órgãos para que sejam eliminados do corpo. 2. Regulação: O sangue circulante ajuda a manter a homeostasia de todos os líquidos corporais. O sangue ajuda a regular o pH usando tampões. Além disso, auxilia no ajuste da temperatura corporal por meio da absorção de calor e propriedades refrigerantes da água no plasma sanguíneo e sua taxa variável de fluxo pela pele, onde o excesso de calor pode ser perdido do sangue para o ambiente. 3. Proteção: O sangue é capaz de coagular (se tornar parecido com um gel), propriedade que o protege contra perdas excessivas do sistema circulatório depois de uma lesão. Além disso, seus leucócitos protegem contra doença, realizando fagocitose. Diversos tipos de proteínas sanguíneas, inclusive anticorpos, interferonas e complemento auxiliam na proteção contra doença de várias formas. COMPOSIÇÃO SANGUÍNEA O sangue total possui dois componentes: (1) Plasma sanguíneo: Matriz extracelular aquosa que contém substâncias dissolvidas. (2) Elementos figurados: Consistem nas células e nos fragmentos celulares. - Observação: Se uma amostra de sangue for centrifugada em um pequeno tubo de vidro, as células (que são mais densas) se depositam no fundo do tubo enquanto o plasma (que é menos denso) forma uma camada na parte superior. • Cerca de 45% do sangue é constituído pelos elementos figurados e 55% por plasma sanguíneo. Normalmente, mais de 99% dos elementos figurados são eritrócitos (hemácias). • Os leucócitos e as plaquetas correspondem a menos de 1% dos elementos figurados. • Por serem menos densos que as hemácias, porém mais densos que o plasma sanguíneo, eles formam uma fina camada de creme leucocitário entre as hemácias e o plasma no sangue centrifugado. Elementos figurados Os elementos figurados do sangue incluem três componentes principais: hemácias, leucócitos e plaquetas. 1. Hemácias ou eritrócitos: Transportam oxigênio dos pulmões para as células corporais e dióxido de carbono das células do corpo para os pulmões. 2. Leucócitos: Protegem o corpo de patógenos invasores e outras substâncias estranhas. Existem diversos tipos de leucócitos: neutrófilos, basófilos, eosinófilos, monócitos e linfócitos. Os linfócitos são ainda subdivididos em linfócitos B (células B), linfócitos T (células T) e células exterminadoras naturais (natural killers, NK). 3. Plaquetas: São fragmentos celulares sem núcleo. Entre outras ações, elas liberam substâncias químicas que promovem a Maria Vitória de Sousa Santos coagulação do sangue nos casos de dano dos vasos sanguíneos. ESTRUTURA DAS HEMÁCIAS • As hemácias ou eritrócitos contêm a proteína carreadora de oxigênio hemoglobina, que consiste em um pigmento que confere ao sangue sua cor vermelha. • Cada hemácia contém cerca de 280 milhões de moléculas de hemoglobina. • Uma molécula de hemoglobina consiste em uma proteína chamada globina, composta por quatro cadeias polipeptídicas (duas cadeias alfa e duas beta), e um pigmento não proteico anular chamado heme, que está ligado a cada uma das quatro cadeias. • No centro de cada anel de heme, encontra-se um íon ferro (Fe2+) que pode se combinar reversivamente com uma molécula de oxigênio, possibilitando que cada molécula de hemoglobina se ligue a 4 moléculas de oxigênio. • Cada molécula de oxigênio captada dos pulmões ligase a um íon ferro. • À medida que o sangue flui pelos capilares teciduais, a reação ferro-oxigênio se inverte. • A hemoglobina libera oxigênio, que se difunde primeiro para o líquido intersticial e, depois, para as células. HEMATOPOIESE • Processo pelo qual os elementos figurados do sangue se desenvolvem. • Antes do nascimento, a hemopoese ocorre primeiramente no saco vitelino do embrião e, depois, no fígado, no baço, no timo e nos linfonodos do feto. • A medula óssea vermelha se torna o principal local de hemopoese nos últimos 3 meses da gravidez e continua sendo a fonte de células sanguíneas depois do nascimento e ao longo da vida. • É encontrada principalmente nos ossos do esqueleto axial, nos cíngulos dos membros superiores e inferiores e nas epífises proximais do úmero e fêmur. • De 0,05 a 0,1% das células da medula óssea vermelha são chamadas de células-tronco pluripotentes, essas células são capazes de se desenvolver em muitos tipos de células diferentes. • Nos recém-nascidos, toda a medula óssea é vermelha e, portanto, ativa na produção de células sanguíneas. • Com o envelhecimento do indivíduo, a velocidade de formação de células sanguíneas diminui; a medula óssea vermelha na cavidade medular dos ossos longos se torna inativa e é substituída por medula óssea amarela, formada principalmente por células gordurosas. • Em determinadas condições, como sangramentos graves, a medula óssea amarela pode voltar a ser medula óssea vermelha; isso ocorre porque célulastronco formadoras de sangue da medula óssea vermelha vão para medula óssea amarela, que é repovoada por células-tronco pluripotentes. • As células-tronco na medula óssea vermelha se reproduzem, proliferam e se diferenciam em células que dão origem a células sanguíneas, macrófagos, células reticulares, mastócitos e adipócitos. ANEMIAS CARENCIAIS • Anemia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais. • As anemias podem ser causadas por deficiência de vários nutrientes como ferro, zinco, vitamina B12 e proteínas. A N E M I A P O R D E F I C I Ê N C I A D E F E R R O (FERROPRIVA) • A deficiência de ferro é uma causa comum de anemia em todo o mundo, acometendo pessoas de todas as idades. • É associada à redução da capacidade de trabalho em adultos e ao retardo no desenvolvimento mental e motor da criança. liga-se células-tronco Maria Vitória de Sousa Santos • É a principal causa de anemia microcítica e hipocrômica. A anemia ferropriva pode ser consequência de: 1. Deficiência alimentar: Vegetarianos, crianças entre 6 meses e 2 anos, idosos. 2. Perda de ferro mediante sangramento: Perdas menstruais excessivas, doenças do trato gastrointestinal (varizes, úlcera péptica, doenças inflamatórias intestinais, etc); doadores habituais de sangue, distúrbios da hemostasia, hematúria, uso de AINEs e anticoagulantes. 3. Má absorção: Doença celíaca, gastrite atrófica, gastrectomia, cirurgias bariátricas. 4. Aumento na demanda. • Como o ferro é um componente do heme, a deficiência leva a uma diminuição da síntese de hemoglobina e, consequentemente, à redução no aporte de oxigênio aos tecidos. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE • O ferro no organismo é utilizado diariamente por vários mecanismos. • Quando as hemácias entram em processo de envelhecimento são degradadas, o ferro é liberado e reutilizado na produção de novas hemácias. • Não obstante, a eficiência desse processo, pequenas quantidades de ferrosão perdidas nas fezes e precisam ser repostas por meio da dieta. • O equilíbrio do ferro é mantido pela ingestão de 1 a 2 mg/dia para substituir a perda de ferro nas fezes. • A maior parte do ferro é derivada da carne e, quando não existe disponibilidade desse alimento, como no caso de populações menos favorecidas, ou por não ser um componente alimentar, como para os vegetarianos, pode ocorrer uma deficiência de ferro. • A razão mais comum para deficiência de ferro em adultos no mundo ocidental é a perda crônica de sangue, porque o ferro não pode ser reciclado para retornar ao pool sanguíneo. • Em homens e mulheres na pós-menopausa, a perda de sangue pode ocorrer a partir de sangramento gastrintestinal resultante de úlcera péptica, lesões vasculares, pólipos intestinais, hemorroidas ou câncer. • Embora a interrupção da menstruação elimine uma grande fonte de perda de ferro na gestante, as necessidades de ferro aumentam durante a gestação e é comum a manifestação de deficiência. • As evidências demonstram que gestantes com anemia ferropriva submetidas à suplementação não sofrem maior perda fetal ou problemas fetais congênitos que mulheres com níveis adequados de ferro e sem suplementação durante a gestação. • No entanto, gestantes com anemia ferropriva sem s u p l e m e n t a ç ã o a p re s e n t a m u m a t a x a l ige i ramente maior de recém-nasc idos prematuros e taxas de natalidade mais baixas do que aquelas que recebem suplementação de ferro. • O processo de crescimento de uma criança impõe exigências adicionais sobre o organismo. • O volume de sangue aumenta, elevando as necessidades de ferro. • As necessidades de ferro são proporcionalmente mais altas na primeira infância (3 a 24 meses) do que em qualquer outra idade, embora também sejam maiores por toda a infância e adolescência. - Observação: Na infância, as duas principais causas de anemia ferropriva são baixos níveis de ferro ao nascimento devido a uma deficiência materna e uma dieta que consiste principalmente em leite de vaca, que é pobre em ferro absorvível. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações de anemia ferropriva estão relacionadas com prejuízo no transporte de oxigênio e falta de hemoglobina. Dependendo da gravidade do quadro, podem se manifestar: 1. Fadiga; 2. Palpitações; 3. Dispneia; 4. Angina; 5. Taquicardia. 6. Complicação neurocomportamental curiosa -> pica (compulsão patológica por comer coisas não alimentares, como sujeira ou terra). É comum o desenvolvimento de atrofia epitelial, que resulta em: 1. Palidez cérea; 2. Cabelos e unhas quebradiços, algumas vezes com um tipo de deformidade chamada coiloníquia, que confere às unhas um aspecto de colher; 3. Língua lisa, com feridas nos cantos da boca e, 4. Disfagia e diminuição da secreção ácida (raramente). DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • São características da anemia ferropriva baixo nível de hemoglobina e hematócrito, diminuição das reservas de ferro e baixo teor de ferro sérico e ferritina (proteína que armazena ferro). • Existe uma quantidade menor de hemácias, e estas são microcíticas e hipocrômicas. Maria Vitória de Sousa Santos • Também ocorrem poiquilocitose (formato irregular) e anisocitose (tamanho irregular). 1° estágio: depleção de reservas de ferro na medula/fígado: 1. Redução de ferritina 2. Redução da saturação de transferrina 3. Aumento da capacidade total de ligação do Ferro 4. Redução do ferro sérico 2° estágio: alterações hemograma 1. Hb/Ht diminuídos 2. VCM/HCM diminuídos 3. Redução do n° de reticulócitos 4. Leucopenia discreta 5. Trombocitose 6. Aumento do RDW (anisocitose) Testes laboratoriais • Os testes laboratoriais indicam menores valores de CHCM - Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média (serve para analisar a quantidade de hemoglobina presente nas hemácias) e VCM - Volume corpuscular médio - (indica o tamanho médio das hemácias). - Observação: Alterações na membrana podem predispor à hemólise, causando uma perda ainda maior de hemácias. Prevenção • A prevenção da deficiência de ferro é a principal preocupação em lactentes e crianças. • Recomenda-se evitar o uso de leite de vaca, a s u p l e m e n t a ç ã o d e f e r ro e m c r i a n ç a s amamentadas com leite materno com idades entre 4 e 6 meses e o uso de fórmulas e cereais enriquecidos com ferro para crianças com menos de 1 ano de vida. • Durante o segundo ano, uma dieta contendo alimentos ricos em ferro e o uso de vitaminas enriquecidas com ferro ajuda a evitar a deficiência desse nutriente. Tratamento • O tratamento da anemia ferropriva em crianças e adultos é direcionado ao controle de perda crônica de sangue, aumento na ingestão de ferro e administração de suplementos. • A suplementação com sulfato ferroso (120 a 180 mg de ferro elementar/dia), que é a terapia de reposição oral rotineiramente empregada, repõe as reservas de ferro em um intervalo de meses. ANEMIAS MEGALOBLÁSTICAS • Anemias megaloblásticas são causadas pelo comprometimento na síntese de DNA, que resulta em hemácias aumentadas de tamanho (VCM > 100 fl), devido à maturação e divisão deficientes. • A deficiência de vitamina B12 e ácido fólico são as condições mais comumente associadas a casos de anemia megaloblástica. • Como a anemia megaloblástica se desenvolve lentamente, muitas vezes poucos sintomas se manifestam até que a condição já esteja muito avançada. ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 (ANEMIA PERNICIOSA) • Esta vitamina, também conhecida como cobalamina, funciona como cofator para duas reações importantes no organismo de seres humanos. • É essencial para a síntese do DNA e para a maturação nuclear, que, por sua vez, conduz à maturação e divisão normal das hemácias. • A vitamina B12 também está envolvida com a reação que impede as moléculas anormais de ácidos graxos de serem incorporadas aos lipídios neuronais. • Essa anomalia pode predispor à decomposição da mielina e produzir algumas complicações neurológicas causadas por deficiência de vitamina B12. Observação: Nos dias de hoje, aproximadamente 5 a 20% dos idosos apresentam deficiência de vitamina B12 por problemas de má absorção, que pode ser afetada por diferentes fatores, como uso a longo prazo de inibidores da bomba de prótons e metformina ou submissão a uma cirurgia de desvio gástrico (bypass). No entanto, outras pessoas além dos idosos podem adquirir anemia megaloblástica. Por exemplo, uma criança com histórico de gastrosquise que tenha desenvolvido deficiência de vitamina B12. PRINCIPAIS CAUSAS 1. Deficiência nutricional : ocorre nos vegetarianos que não consomem produto de origem animal e populações com hábitos vegetarianos impostos pela pobreza. 2. Má absorção da vitamina B12 dos alimentos: ocorre em pacientes com cirurgia gástrica, uso de medicamentos supressores da secreção gástrica (omeprazol). 3. Ausência de secreção gástrica: deficiência da produção do fator intrínseco associada à produção deficiente de ácido clorídrico pode ser decorrente de gastrectomia, gastrite atrófica crônica secundária à destruição autoimune das células parietais da mucosa. 4. Má absorção induzida por drogas: biguanidas, cloreto de potássio, colchicina, neomicina. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE Maria Vitória de Sousa Santos • A vitamina B12 é encontrada em todos os alimentos de origem animal. • A deficiência alimentar é rara e geralmente é encontrada apenas em vegetarianos estritos, que evitam todos os produtos lácteos, bem como carne e peixe. • As reservas orgânicas usuais de 1.000 a 5.000 microgramas (mg) supre as necessidades diárias de 1 mg por vários anos. • Portanto, a deficiência de vitamina B12 se desenvolve lentamente. • A vitamina B 12 é absorvida por um processo especial. Depois de liberada da proteína animal, ela se liga a um fator intrínseco, uma proteína secretada pelas células parietaisgástricas. • O complexo fator intrínseco–vitamina B12 protege a molécula de vitamina contra a digestão por enzimas intestinais. • O complexo viaja até o íleo, onde se liga a receptores de membrana nas células epiteliais. • A vitamina B 12 então se separa do fator intrínseco e é transportada através da membrana para a circulação. • Na corrente sanguínea, ela se liga à proteína transportadora, a transcobalamina II, que transporta a vitamina B12 até os locais de armazenamento e os tecidos. • Qualquer defeito nessa via é capaz de causar uma deficiência. • Anemia perniciosa é uma forma específica de anemia megaloblástica causada por gastrite atrófica e incapacidade de produção de fator intrínseco, o que resulta na incapacidade de absorção de vitamina B12. • Acredita-se que a anemia perniciosa seja o resultado de uma destruição da mucosa gástrica mediada imunologicamente, possivelmente autoimune. O soro dos pacientes + afetados contém vários tipos de autoanticorpos que: 1. Anticorpo tipo 1: Bloqueiam a ligação da vitamina B12 ao fator intrínseco 2. Anticorpo tipo 2: Impedem a ligação do complexo fator intrínseco–vitamina B12 à cubilina (receptor íleal). • A gastrite atrófica crônica (causa mais comum) resultante se caracteriza por perda de células parietais e produção de anticorpos que interferem na ligação da vitamina B12 ao fator intrínseco. • Outras causas de anemia pela deficiência de vitamina B12 incluem gastrectomia, ressecção ileal, inflamação ou neoplasias no íleo terminal e síndromes de má absorção. • A principal característica da deficiência de vitamina B12 é a anemia megaloblástica. • Quando a quantidade de vitamina B12 não é suficiente, as hemácias produzidas são anormalmente grandes devido ao excesso de crescimento e citoplasmático e produção de proteínas estruturais. • As células têm núcleos imaturos e mostram sinais de destruição celular. • Elas apresentam membranas frágeis e formato oval, em vez de bicôncavo. Essas células de formato estranho têm um curto tempo de vida que pode ser medido em semanas, em vez de meses. • A deficiência de vitamina B12 está associada a outros distúrbios além da anemia perniciosa. • A maioria desses distúrbios prejudica a absorção da vitamina em uma das etapas anteriormente descritas. • Com a acloridria e a perda da secreção de pepsina (que ocorre em alguns indivíduos idosos), a vitamina B12 não é prontamente liberada das proteínas dos alimentos. • Com a gastrectomia, o fator intrínseco não está disponível para a captação no íleo. • Com a perda da função pancreática exócrina, a vitamina B12 não pode ser liberada dos complexos haptocorrina‐vitamina B12. • A ressecção ileal, ou doença ileal difusa, pode remover ou lesar o sítio de absorção do complexo fator intrínseco‐vitamina B12. Observação: É armazenada no fígado, que normalmente contém reservas suficientes p/ suportar as necessidades corporais de 5 a 20 anos. Devido a esses grandes estoques hepáticos, apresentações clínicas de deficiência de vitamina B12 normalmente ocorrem após anos de má absorção. Maria Vitória de Sousa Santos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. A perda de hemácias resulta em um quadro entre moderado e grave de anemia e icterícia. 2. O VCM é elevado, uma vez que as células são maiores do que o normal, e o valor de CHCM é normal. 3. Palidez 4. Cansaço 5. Em casos graves, dispneia e até ICC. 6. As alterações neurológicas que acompanham a doença são causadas por desarranjos na metilação da proteína mielina. 7. A desmielinização das colunas dorsal e lateral da medula espinal causa parestesia simétrica dos pés e dedos, perda da sensação vibratória e de propriocepção, bem como eventual ataxia espástica. 8. Em casos mais avançados, a função cerebral pode ser alterada. 9. Em alguns casos, sintomas de confusão mental, demência e outras alterações neuropsiquiátricas podem preceder alterações hematológicas. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • O diagnóstico de deficiência de vitamina B12 é estabelecido quando se verifica um nível sérico anormalmente baixo de vitamina B12. Os achados que suportam o diagnóstico de deficiência de vitamina B12 incluem: 1. Baixos níveis séricos de vitamina B12 2. Níveis séricos de folato normais ou elevados 3. Anemia macrocítica moderada a grave 4. Leucopenia c/ granulócitos hipersegmentados 5. Acentuada resposta reticulocitária (dentro de 2 a 3 dias) à administração parenteral de vitamina B12 • No passado, utilizava-se o teste de Schilling, que mede o débito urinário de 24 h, com vitamina B12 radiomarcada administrada por via oral para documentar a redução na absorção de vitamina B12. • Atualmente, o diagnóstico da anemia perniciosa geralmente é estabelecido por meio da detecção de células parietais e anticorpos de fator intrínseco. • O tratamento é para toda a vida e consiste em injeções intramusculares ou doses orais elevadas de vitamina B12 para reverter o quadro anêmico e melhorar as alterações neurológicas. ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE ÁCIDO FÓLICO • O ácido fólico também é necessário para a síntese de DNA e a maturação das hemácias; sua deficiência produz o mesmo tipo de alterações megaloblásticas ocorridas na anemia por deficiência de vitamina B12 (p. ex., aumento de VCM e CHCM normal). - Observação: Os sintomas também são semelhantes, mas sem manifestações neurológicas. PRINCIPAIS CAUSAS 1. Aumento das necessidades nutricionais: gravidez e lactação 2. Doenças do intestino delgado: o espru tropical e doença celíaca podem ocorrer por deficiência de folatos decorrentes da má absorção causadas pelas anormalidades da mucosa intestinal 3. Abuso de álcool 4. Medicamentos: trimetoprina, pirimetamina, metotrexato, sulfassalazina, quimioterápicos, antirretrovirais. • O ácido fólico é facilmente absorvido pelo intestino. • Pode ser encontrado em vegetais (especialmente os tipos de folhas verdes), frutas, cereais e carnes. • Grande parte da vitamina, contudo, é perdida no cozimento. • As causas mais comuns de deficiência de ácido fólico são desnutrição ou falta de ácido fólico na dieta, especialmente em idosos ou em associação ao etilismo. • São necessários 50 mg diários na dieta. • A deficiência na dieta pode resultar em anemia em poucos meses. • É relevante saber que sua conversão dentro das células de di- hidrofolato p/ tetra-hidrofolato pela di-hidrofolato redutase é particularmente importante. • O tetra-hidrofolato age como receptor e doador de unidades de carbono em várias reações necessárias p/ a síntese de desoxitimidina monofosfato (dTMP). • Se o armazenamento intracelular de folato falhar, a dTMP é sintetizada em quantidade insuficiente e a replicação do DNA é bloqueada, levando à anemia megaloblástica. • Problemas relacionados com a má absorção de ácido fólico podem decorrer de síndromes como a doença celíaca ou outros distúrbios intestinais. • Certos medicamentos, particularmente o anticonvulsivante fenitoína e os contraceptivos orais, interferem na absorção. • Alguns medicamentos usados para tratar transtornos convulsivos (p. ex., primidona, fenitoína, fenobarbital) e triantereno, um diurético, interferem na absorção do ácido fólico. • É comum a observação de deficiência de ácido fólico em casos de doença neoplásica, nos quais células tumorais competem pelo folato. • O metotrexato, que é um análogo do ácido fólico utilizado no tratamento de câncer, também pode Maria Vitória de Sousa Santos prejudicar a ação de ácido fólico, bloqueando a conversão para a forma ativa. • Como a gestação aumenta a necessidade de ácido fólico em 5 a 10 vezes, comumente se manifesta uma deficiência. • Maus hábitos alimentares, anorexia e náuseas são outras razões para a deficiência de ácido fólico durante esse período. • É sabido que existe uma associação entre a deficiência de folato e defeitos do tubo neuralno feto em crescimento; por isso, todas as mulheres em idade fértil sexualmente ativas devem ser aconselhadas a avaliar se a ingestão de ácido fólico é alta o suficiente para evitar déficits do tubo neural em sua prole. Observação: Mesmo com uma ingestão normal de ácido fólico, é possível ocorrer deficiência relativa quando as necessidades aumentam. As condições em que se observa esse quadro incluem gravidez, lactentes, distúrbios hematológicos associados à hematopoiese hiperativa (anemias hemolíticas) e câncer disseminado. Em todas essas circunstâncias, as demandas por maior síntese de DNA tornam a ingestão normal inadequada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os principais sintomas são: 1. Falta de apetite 2. Perda de peso 3. Atrofia das papilas linguais (glossite) 4. Aspecto envelhecido 5. Esplenomegalia (casos graves) TRATAMENTO Folatos: reposição com ácido fólico, 1mg, via oral, 1 x por dia. Referências: -Porth- Fisiopatologia -Robbins- Patologia básica Maria Vitória de Sousa Santos S12P2: VIDA CURTA ANEMIA HEMOLÍTICA A anemia hemolítica se caracteriza por: 1. Destruição prematura das hemácias. 2. Retenção orgânica de ferro e outros produtos da degradação da hemoglobina. 3. Aumento na eritropoese. • Devido à redução da vida útil da hemácia, a medula óssea geralmente se torna hiperativa, resultando no aumento do número de reticulócitos na circulação sanguínea. • Tal como acontece com outros tipos de anemias, a pessoa sente cansaço, dispneia e outros sinais e sintomas de comprometimento do transporte de oxigênio. • Nos casos de anemia hemolítica, a degradação das hemácias pode ocorrer dentro ou fora do compartimento vascular. - Observação: Anemia e redução da tensão de oxigênio tissular desencadeiam a produção de eritropoietina, que, por sua vez, estimula a di ferenciação er i troide e provoca o aparec imento de maior número de precursores eritroides (normoblastos) na medula óssea. Aumentos compensatórios na eritropoiese resultam em reticulocitose p ro em i n en t e n o s an gu e p e r i f é r i c o . Classificações 1. Hemólise intravascular: A hemólise intravascular é menos comum e ocorre como resultado da fixação do complemento em reações transfusionais, dano mecânico ou fatores tóx icos. É caracter izada por hemoglobinemia, hemoglobinúria, icterícia e hemossiderinúria. 2. Hemólise extravascular: Ocorre hemólise extravascular quando as hemácias perdem parte da capacidade de deformação, o que dificulta sua passagem através dos sinusoides do baço. As hemácias anormais são sequestradas e fagocitadas por macrófagos no baço. As manifestações de hemólise extravascular incluem anemia e icterícia. Outra classificação de anemia hemolítica se baseia na causa: 1. Causas intrínsecas: Incluem defeitos da m e m b r a n a d a s h e m á c i a s , d i v e r s a s hemoglobinopatias e deficiência enzimática heredi tár ia . Dois t ipos pr incipais de hemoglobinopatias podem causar a lise das hemácias: a substituição anormal de um aminoácido na molécula de hemoglobina, como nos casos de anemia falciforme, e falhas na síntese de uma das cadeias polipeptídicas que formam a porção globina da molécula de hemoglobina, como no caso de talassemia. 2. Causas extrínsecas ou adquiridas: São causadas por agentes externos às hemácias, como medicamentos, toxinas bacterianas e outras, anticorpos e traumatismo físico. ANEMIAS HEMOLÍTICAS HEREDITÁRIAS Há também um grupo de anemias hemolíticas hereditárias, como anemia falciforme, talassemia e esferocitose hereditária. 1- ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA Fisiopatologia • A esferocitose hereditária é transmitida principalmente de forma autossômica dominante e é a doença hereditária mais comum da membrana das hemácias. • A doença é causada por anormalidades nas proteínas de membrana espectrina, anquirina, proteína 4.2 ou banda 3, que conduzem a uma perda gradual da superfície da membrana. • A perda relativa de membrana em relação ao citoplasma faz a célula perder sua bicamada lipídica do citoesqueleto. • As hemácias assumem uma forma esférica e não conseguem atravessar facilmente o baço. • Gradualmente, a maioria dessas hemácias perde uma quantidade cada vez maior de membrana superficial e morre. • O ciclo de vida das hemácias afetadas diminui, em média, para 10 a 20 dias dos 120 dias normais. • Em virtude de sua forma esferoide e da menor deformabilidade, os desafortunados esferócitos são aprisionados nos cordões esplênicos, tornando‐se presas fáceis para os macrófagos. • De algum modo, o ambiente esplênico também exacerba a tendência das hemácias EH de perderem a membrana, juntamente com os íons K+ e H2O; sugeriu‐se que a exposição esplênica prolongada (eritroestase), a depleção da glicose eritrocitária e a diminuição do pH eritrocitário contribuem para essas anormalidades. Maria Vitória de Sousa Santos Manifestações clínicas Os sinais clínicos variam, mas geralmente incluem: 1. Anemia hemolítica leve 2. Icterícia 3. Esplenomegalia 4. Cálculos biliares de bilirrubina. 5. Pode advir uma crise aplásica (células da medula óssea que se transformam em células maduras são danificadas, o que resulta em números reduzidos de glóbulos vermelhos, g l ó b u l o s b r a n c o s e / o u p l a q u e t a s . ) potencialmente fatal quando a interrupção s ú b i t a d a p r o d u ç ã o d e h e m á c i a s (frequentemente por parvovírus B19) provoca uma rápida queda nos índices de hematócrito e níveis de hemoglobina. Tratamento • O diagnóstico se baseia na história familiar, nos achados hematológicos e nas evidências laboratoriais. • As hemácias EH também exibem aumento da concentração de hemoglobina corpuscular média (HCM) devido à desidratação causada pela perda de K+ e H2O. • A doença é tratada, em geral, com esplenectomia para reduzir a destruição das hemácias. • Podem ser necessárias transfusões de sangue durante uma crise. 2- ANEMIA FALCIFORME • A anemia falciforme é uma doença hereditária em que ocorre a produção de uma hemoglobina anormal (hemoglobina S [HbS]), que conduz a um estado crônico de anemia hemolítica, dor e falência de órgãos. • O gene HbS é transmitido por herança recessiva e pode se manifestar como traço de células falciformes (i. e., heterozigoto com um gene HbS) ou anemia falciforme (i. e., com dois genes homozigotos HbS). A anemia falciforme afeta aproximadamente 70.000 a 100.000 indivíduos nos EUA. • Em determinadas regiões da África, onde a malária é endêmica, pessoas com anemia falciforme experimentam um leve efeito protetor contra o Plasmodium falciparum causador da malária. Etiologia e patogênese • A estrutura anormal de HbS resulta de uma mutação pontual na cadeia beta da molécula de hemoglobina, com a substituição anormal de um único aminoácido, a valina, pelo ácido glutâmico. • Existem variações nas proporções, e a concentração de HbS está relacionada com o risco de afoiçamento das hemácias. • No indivíduo homozigoto com anemia falciforme, a HbS causa o afoiçamento quando desoxigenada ou em baixa tensão de oxigênio. • A hemoglobina desoxigenada forma agregados que sofrem polimerização no citoplasma e formam um gel semissólido, que altera a forma e a capacidade de deformação da célula. • A célula que sofreu afoiçamento pode retornar à sua forma normal pela oxigenação dos pulmões. • No entanto, depois de repetidos episódios de d e s ox i g e n a ç ã o , a s c é l u l a s t o r n a m - s e permanentemente falciformes. • A pessoa com traço falciforme, que tem menos HbS, apresenta pouca tendência de desenvolver c é l u l a s f a l c i f o r m e s e é p r a t i c a m e n t e assintomática. • HbFetal inibe a polimerização de HbS. • Portanto, a maioria das crianças com anemia falciforme não começa a sentir os efeitos do afoiçamento até depois de 8 a 10 semanas de vida, quando a HbF foi substituída por HbS. ácido glutâmicopela valina. Maria Vitória de Sousa Santos H á d u a s g r a n d e s c o n s e q u ê n c i a s relacionadas com o afoiçamento das hemácias: 1. Anemia hemolítica crônica 2. Oclusão dos vasos sanguíneos. • A destruição prematura das células devido à membrana rígida e indeformável ocorre no baço, causando hemólise e anemia pela diminuição do número de hemácias. • A oclusão vascular é um processo complexo que envolve uma interação entre células falciformes, células endoteliais, leucócitos, plaquetas e outras proteínas do plasma. Os fatores associados ao processo de afoiçamento e oclusão vascular incluem: 1. Frio 2. Estresse 3. Esforço físico 4. Infecção 5. C o n d i ç õ e s q u e p rovo q u e m h i p ox i a , desidratação ou acidose. - Observação: A taxa de polimerização de HbS é afetada pela concentração de hemoglobina na célula. - Observação: A desidratação aumenta a concentração de hemoglobina e contribui para a polimerização, resultando no afoiçamento. A acidose reduz a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, resultando em maior quantidade de hemoglobina desoxigenada e no aumento do afoiçamento. Manifestações clínicas Entre os sintomas típicos estão: 1. Dor forte provocada pelo bloqueio do fluxo sanguíneo e pela falta de oxigenação nos tecidos; 2. Dores articulares; 3. Fadiga intensa; 4. Palidez e icterícia; 5. Atraso no crescimento; 6. Feridas nas pernas; 7. Tendência a infecções; 8. Cálculos biliares; 9. Problemas neurológicos, cardiovasculares, pulmonares e renais; 10. Priapismo (ereção dolorosa sem estímulo sexual). • Indivíduos homozigotos para o gene HbS sofrem de anemia h e m o l í t i c a g r a v e , hiperbilirrubinemia crônica e crises vasoclusivas. • A dor e inchaço das mãos e pés, chamada síndrome mão-pé, pode ser o primeiro sinal clínico na criança que ainda não recebeu o diagnóstico. • A hiperbilirrubinemia proveniente da degradação dos produtos da hemoglobina muitas vezes leva a icterícia e à produção de cálculos de pigmentos na vesícula biliar. • A oclusão dos vasos sanguíneos é responsável pela maioria das complicações graves. • Um episódio de dor aguda resulta de uma oclusão vascular e da hipoxia e pode ocorrer subitamente em quase qualquer parte do organismo. • Comumente, a obstrução por células falciformes acontece no abdome, tórax, ossos e articulações. Muitas áreas podem ser simultaneamente afetadas. • Infartos causados pela lentidão do fluxo sanguíneo têm como consequência lesões crônicas do fígado, baço, coração, rins, retina e outros órgãos. • A síndrome torácica aguda é uma pneumonia atípica resultante de um infarto pulmonar. • É uma das principais causas de hospitalização em pessoas com doença falciforme e se caracteriza por infiltrado pulmonar, que causa dispneia, tosse e angústia respiratória. • A síndrome é capaz de causar insuficiência respiratória crônica e é uma das principais causas de morte em casos de anemia falciforme. • Cr ianças podem apresentar atraso no crescimento e suscetibilidade à osteomielite. • Crises ósseas dolorosas podem ser causadas pelo infarto da medula dos ossos das mãos e dos pés, resultando em edema dos membros. • Um ataque isquêmico transitório ou uma hemorragia cerebral podem preceder um acidente vascular encefálico. • O baço é especialmente suscetível a danos por HbS. • Devido à lentidão do fluxo sanguíneo e à baixa tensão de oxigênio no baço, a hemoglobina nas hemácias que atravessam o baço sofre desoxigenação, que provoca isquemia. • A lesão esplênica se inicia na infância, caracterizada por congestão intensa, e geralmente é assintomática. • A congestão causa asplenia funcional e predispõe ao desenvolvimento de infecções potencialmente fatais por organismos encapsulados, incluindo Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae tipo b e Klebsiella spp. - Observação: Recém-nascidos e crianças pequenas ainda não tiveram tempo de p r o d u z i r a n t i c o r p o s c o n t r a e s s e s microrganismos e dependem da função do baço para a remoção. Não havendo um anticorpo específico para os antígenos Maria Vitória de Sousa Santos capsulares de pol i s sacar íd ios desses microrganismos, a atividade do baço é essencial para a remoção deles quando invadem a corrente sanguínea. Diagnóstico e triagem • O diagnóstico neonatal da anemia falciforme é feito com base nos achados clínicos e nos resultados de solubilidade da hemoglobina, que são confirmados por eletroforese (teste do pezinho). • Nos EUA, os programas de triagem têm sido implementados para detectar os recém-nascidos c o m a n e m i a f a l c i f o r m e e o u t r a s hemoglobinopatias. • São coletadas amostras de sangue do cordão umbilical ou do calcanhar, que são submetidas à eletroforese para separar a HbF da pequena quantidade de HbA e HbS. • Podem ser detectados e quantificados outros tipos de hemoglobina, para análise laboratorial posterior. Tratamento • Atualmente não existe cura conhecida para a anemia falciforme. • Portanto, as estratégias de tratamento devem se concentrar na prevenção de episódios de afoiçamento, manejo de sintomas e tratamento das complicações. • No período mais crítico, que vai dos 3 meses até os 5 anos de vida, a criança pode receber suplementação de ácido fólico e antibióticos, geralmente a penicilina, por via oral ou injetável para prevenção de infecções. • C r i a n ç a s c o m e s s a d o e n ç a d e v e m obrigatoriamente receber vacinas adicionais, além das já previstas no calendário oficial de imunização, como é o caso da antipneumocócica, que ajuda a prevenir a infecção pulmonar causada pelo pneumococo, uma bactéria bastante implicada em infecções graves nestes pacientes. • Em vista da anemia persistente, transfusões de sangue também são freqüentes nos portadores da doença, especialmente entre os adultos, que, por conta disso, precisam usar medicações ou outros recursos para retirar o excesso de ferro da circulação. • A pessoa é aconselhada a evitar situações que precipitam episódios de afoiçamento das hemácias, como infecções, exposição ao frio, esforço físico intenso, acidose e desidratação. • As infecções devem ser tratadas de maneira agressiva e podem ser necessárias transfusões de sangue em um episódio de crise ou cronicamente realizadas em casos graves da doença. • A maioria das crianças com anemia falciforme apresenta maior risco para o desenvolvimento de septicemia por infecção por microrganismos encapsulados durante os três primeiros anos de vida. • Recomenda-se manter em dia o calendário de vacinação, incluindo vacina contra H. influenzae e contra hepatite B. A hidroxiureia é um fármaco citotóxico utilizado para evitar complicações da anemia falciforme e é recomendado como tratamento padrão para todos os portadores dessa condição. • Essa substância viabiliza a síntese de uma quantidade maior de HbF e menor de HbS, reduzindo, desse modo, o processo de afoiçamento. • No entanto, são desconhecidos os efeitos a longo prazo do uso da substância em relação a danos em órgãos, crescimento, desenvolvimento e risco de doenças malignas. • O transplante de medula óssea ou de células- tronco tem o potencial de cura em crianças sintomáticas, mas traz consigo vários riscos de complicações. • Atualmente muitas pessoas com anemia f a l c i f o r m e s ã o t r a t a d a s c o m t e r a p i a anticoagulante, como heparina e varfarina, para evitar o desenvolvimento de outros distúrbios trombóticos e vasoclusivos. • No entanto, ainda não existem dados que sustentem a eficácia desse tratamento em casos de anemia falciforme. 3-TALASSEMIAS • São um grupo de distúrbios hereditários que envolvem a síntese de hemoglobina e conduzem a Maria Vitória de Sousa Santos uma redução na síntese das cadeias alfa ou beta globina da HbA. • As beta-talassemias são causadas por deficiênciana síntese da cadeia beta e as alfa-talassemias por síntese deficiente da cadeia alfa. • O defeito é herdado como um traço mendeliano e a pessoa pode ser heterozigota para o traço e apresentar uma forma leve da doença, ou ser homozigota e apresentar a forma mais grave. - Observação: Como nos casos de anemia falciforme, as talassemias ocorrem com muita frequência em determinadas populações. As beta-talassemias, algumas vezes conhecidas por anemia de Cooley ou anemia do Mediterrâneo, são mais comuns nas populações do Mediterrâneo no sul da Itália e na Grécia, e as alfa-talassemias são mais comuns entre os asiáticos. Tanto as alfa quanto as beta-talassemias são comuns em africanos e afroamericanos. Há dois fatores que contribuem para a anemia que se desenvolve nos casos de talassemia: 1. Baixa hemoglobina intracelular (hipocromia) devido à diminuição na síntese da cadeia afetada. 2. A produção e acumulação contínua da cadeia de globina não afetada. - Observação: A redução na síntese de hemoglobina resulta em uma anemia hipocrômica e microcítica, enquanto a acumulação da cadeia afetada interfere na maturação de hemácias normais e contribui com as alterações de membrana que conduzem a hemólise e anemia. βtalassemias • São o resultado de várias mutações pontuais no gene da beta-globina, causando um defeito na síntese da cadeia beta. • Nas beta-talassemias, o excesso de cadeias alfa sofre desnaturação, formando precipitados (i. e., corpúsculos de Heinz) nos precursores de hemácias na medula óssea. • Os corpúsculos de Heinz prejudicam a síntese de DNA e provocam danos à membrana das hemácias. • Quando os precursores de hemácias são gravemente afetados, eles são destruídos na medula óssea. • Aqueles que escapam da morte intramedular estão em maior risco de destruição no baço. • Além da anemia, pessoas com formas moderadas a graves da doença sofrem de coagulopatias. Manifestações clínicas • As manifestações clínicas das btalassemias são baseadas na gravidade da anemia. • Gene normal em indivíduos heterozigotos (talassemia menor) geralmente resulta na síntese de hemoglobina suficientemente normal para impedir o desenvolvimento de um quadro grave de anemia. • Indivíduos homozigotos para o traço (talassemia maior) têm anemia grave, dependente de transfusão de sangue, que se torna evidente entre 6 e 9 meses de idade, quando a hemoglobina troca de HbF para HbA. • Se a terapia transfusional não é iniciada no começo da vida, isso ocasiona grave retardo de crescimento em crianças com o distúrbio. • Em casos graves de beta-talassemia, o quadro anêmico acentuado produzido por hematopoese ineficaz e hemólise conduz a um aumento na secreção de eritropoetina (estimulação da eritropoiese medular) e hiperplasia da medula óssea e de sítios extramedulares de hematopoese. • A massa crescente de medula eritropoética invade o córtex ósseo, prejudica o crescimento dos ossos e produz outras anormalidades ósseas. Maria Vitória de Sousa Santos • Ocorre o adelgaçamento do córtex ósseo, com formação de osso novo evidente no maxilar e nos ossos frontais da face (i. e., fáceis de esquilo). • Os ossos longos, costelas e vértebras podem se tornar vulneráveis a fraturas devido a osteoporose ou osteopenia, o que contribui para o aumento da morbidade em pessoas mais velhas. • O aumento do baço (esplenomegalia) e do fígado (hepatomegalia) provém de hematopoese extramedular e aumento da destruição de hemácias. • A sobrecarga de ferro é uma das principais complicações da beta-talassemia. • O excesso das reservas de ferro, que se acumulam pelo aumento da absorção dietética e por transfusões repetidas, se deposita no miocárdio, fígado e órgãos endócrinos e induz a lesões nesses órgãos. • Doenças cardíacas, hepáticas e endócrinas são causas comuns de morbidade e mortalidade por sobrecarga de ferro. Tratamento • Transfusões de sangue regulares, para manter os níveis de hemoglobina entre 9 e 10 g/dl, melhoram o crescimento e o desenvolvimento, além de evitar a maioria das complicações; a terapia quelante de ferro pode reduzir a sobrecarga de ferro e aumentar a expectativa de vida. • O transplante de células-tronco potencialmente representa a cura para indivíduos de baixo risco, em particular em pessoas mais jovens e sem complicações resultantes da doença ou do tratamento, e tem mostrado excelentes resultados. • No futuro, a reposição gênica de células-tronco pode proporcionar a cura para muitas pessoas com a doença. αtalassemias • São causadas por uma deleção do gene que resulta em defeitos na síntese da cadeia alfa. • A síntese das cadeias de alfa-globina da hemoglobina é controlada por dois pares ou quatro genes. A gravidade dos casos, que está relacionada com o número de deleções de genes: 1. Deleção de um gene: Portadores silenciosos que têm deleção de um único gene de alfa- globina são assintomáticos. 2. Deleção de dois genes: Apresentam quadros leves de anemia hemolítica. 3. Deleção de três ou quatro genes: A deleção de três dos quatro genes da cadeia alfa leva à formação de agregados instáveis de cadeia alfa, chamados hemoglobina H (HbH). Essa condição é a forma clínica mais importante e é comum entre a população asiática. • As cadeias beta são mais solúveis do que as cadeias alfa e sua acumulação é menos tóxica para as hemácias, de modo que são mais afetadas as células senescentes (envelhecidas) do que as células precursoras de hemácias. • A maioria das pessoas com HbH apresenta anemia hemolítica crônica moderada e pode necessitar de uma transfusão de sangue quando se encontram febris, enfermas ou fazem uso de determinados medicamentos. Manifestações clínicas • Apresentam sintomas moderados ou graves de anemia, incluindo fadiga, falta de ar, palidez e aumento do tamanho do baço. • A forma mais grave de alfa-talassemia se desenvolve em crianças nas quais os quatro genes de aglobina são suprimidos; a condição é conhecida como síndrome de hidropisia fetal. • Esse tipo de defeito resulta na síntese de uma molécula de hemoglobina (Hb Bart) que é formada exclusivamente a partir de cadeias de HbF. • As moléculas Hb Bart, que têm afinidade extremamente elevada com o oxigênio, não são capazes de liberar o gás nos tecidos. • A síndrome de hidropisia fetal geralmente resulta em morte no útero ou logo após o nascimento. 4-DEFICIÊNCIAS ENZIMÁTICAS HEREDITÁRIAS • O defeito enzimático de herança mais comum que dá origem à anemia hemolítica é uma deficiência de glicose6fosfato desidrogenase (G6PD). • O gene que determina essa enzima se localiza no cromossomo X, de modo que o defeito se expressa apenas em indivíduos do sexo masculino e em mulheres genótipo homozigótico. • G6PD reduz a n i co t inamida aden ina dinucleotídeo fosfato (NADP) para NADPH, ao mesmo tempo que oxida a glicose‐6‐fosfato Maria Vitória de Sousa Santos NADPH, então, fornece os equivalentes redutores necessários à conversão da glutationa oxidada em glutationa reduzida, a qual protege contra a lesão oxidante pela participação como cofator em reações que neutralizam compostos como H2O2. • Há muitas variantes genéticas dessa doença encontrada em todas as populações, mas particularmente entre grupos do continente africano e da área do Mediterrâneo. • O distúrbio torna as hemácias mais vulneráveis aos oxidantes e provoca a oxidação direta da hemoglobina em meta-hemoglobina, que não é capaz de transportar oxigênio, e a desnaturação da molécula de hemoglobina para formar os corpúsculos de Heinz, que formam precipitados nas hemácias. • A hemólise geralmente ocorre à medida que hemácias danificadas se movem através dos vasos estreitos do baço, causando hemoglobinemia, hemoglobinúria e icterícia. • A hemólise é de curta duração, ocorrendo 2 a 3 dias após o evento desencadeante. • Entre a população negra o defeito
Compartilhar