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CCJ0225_9

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DIREITO CIVIL - FAMÍLIA - CCJ0225
Semana Aula: 9
União estável e outras entidades familiares.
Tema
União estável e demais entidades familiares: família monoparental, homoafetiva e 
poliafetiva.
Palavras-chave
União estável. Família monoparental. Família homoafetiva. Família poliafetiva.
Objetivos
- Analisar a união estável.
- Estudar as demais entidades familiares: família monoparental, homoafetiva e 
poliafetiva.
Estrutura de Conteúdo
Unidade 5 - União estável e outras entidades familiares. Bem de família.
5.1. União estável: conceito, elementos caracterizadores, impedimentos, efeitos pessoais 
(direitos e deveres) e patrimoniais (regime de bens), conversão em casamento.
5.2. Demais entidades familiares: família monoparental, homoafetiva e poliafetiva.
União estável
A união estável não se coaduna com a mera eventualidade na relação e, por conta disso, 
ombreia-se ao casamento em termos de reconhecimento jurídico, firmando-se como 
forma de família, inclusive com expressa menção constitucional (CF, § 3º do art. 226).
Após estas considerações, podemos iniciar o estudo deste tema, ressaltando que o art. 
1.723, CC reconhece “como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, 
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo 
de constituição de família”.
Gagliano e Pamplona Filho (2018, p. 1.309) conceituam “a união estável como uma 
relação afetiva de convivência pública e duradoura entre duas pessoas, do mesmo sexo ou 
não, com o objetivo imediato de constituição de família”, deste conceito extraindo os 
autores (2018) seus elementos caracterizadores, quais sejam:
a) Publicidade (convivência pública, reconhecimento social como família), que a 
diferencia da relação clandestina. Inobstante a informalidade que lhe é inerente, a união 
estável pode ser facultativamente registrada, conforme Provimento n° 37 do CNJ, de 7 de 
julho de 2014.
b) Continuidade (convivência contínua), com animus de permanência e definitividade, o 
que a diferencia do namoro.
c) Estabilidade (convivência duradoura), diferenciando-a da “ficada”.
O STJ conceituou o ato de “ficar” com um relacionamento casual, fugaz, de apenas um 
encontro, embora dele possa advir consequências como a concepção, dado que não é 
necessário o envolvimento amoroso para que haja contato sexual (REsp 557.365/RO, Rel. 
Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 07/042005, DJ 03/10/2005, p. 242)
d) Objetivo de constituição de família, que a distingue de uma mera relação obrigacional. 
Ausente este elemento finalístico ou teleológico, estará configurado apenas um namoro, 
como já assentou a jurisprudência: (TJRS, Apelação Cível 70034815902, Rel. Claudir 
Fidelis Faccenda, julgado em 18-3-2010, 8ª Câm. Cív.)
Já decidiu o Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.194.059/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. 
Massami Uyeda, j. 06.11.2012, DJe 14.11.2012) que “a lei não exige tempo mínimo nem 
convivência sob o mesmo teto, mas não dispensa outros requisitos para identificação da 
união estável como entidade ou núcleo familiar. Entre estes requisitos menciona, além da 
convivência duradoura e pública, com notoriedade e continuidade, “apoio mútuo, ou 
assistência mútua, intuito de constituir família, com os deveres de guarda, sustento e de 
educação dos filhos comuns, se houver, bem como os deveres de lealdade e respeito”. 
O art. 1.723, CC, em seus parágrafos, preceitua o seguinte:
Art. 1.723...
§1°. A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não 
se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de 
fato ou judicialmente.
§2°. As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.
Assim, em qualquer situação prevista como impedimento para o casamento as pessoas 
também estarão impedidas de manter união estável, salvo quando o companheiro, ainda 
casado, estiver separado de fato ou judicialmente. Tais pessoas, portanto, não poderão 
casar, mas podem constituir união estável.
Diferentemente do que ocorre no casamento, onde, uma vez configurada qualquer causa 
suspensiva, é imposta aos cônjuges a sanção de adotar o regime da separação obrigatória, 
na união estável não se aplica a restrição.
O art. 1.724, CC, estabelece os efeitos pessoais da união estável para os companheiros, 
indicando seus direitos e deveres recíprocos: “As relações pessoais entre os 
companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, 
sustento e educação dos filhos”.
Por seu turno, o art. 1.725, CC, regula os efeitos patrimoniais da união estável, definindo 
o regime de bens padrão: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, 
aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de 
bens”.
Conforme Enunciado n° 115 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, há 
presunção de comunhão de aquestos na constância da união mantida entre os 
companheiros, não sendo necessária “a prova do esforço comum para se comunicarem os 
bens adquiridos a título oneroso durante esse período”, efeito este que “é decorrente do 
próprio regime da comunhão parcial”, o que evidencia estar “superada a antiga ideia de 
prova de esforço comum para a comunicação de bens na união estável, o que remonta à 
antiga aplicação da Súmula 380 do STF à união estável, antes da Constituição Federal de 
1988”. (TARTUCE, 2017, p. 365)
Acrescente-se que quando um dos companheiros contar com mais de 70 anos, ainda 
assim não será aplicado o regime legal da separação obrigatória, pois, além de ser 
flagrantemente inconstitucional sua interpretação, “as situações previstas no art. 1.641 de 
separação legal de bens no casamento, por seu inequívoco caráter restritivo de direito, 
não comportarem interpretação extensiva ou analógica” (GAGLIANO e PAMPLONA 
FILHO, 2018, p. 1.327).
Família monoparental
Existe previsão desta entidade familiar na Constituição Federal, mas não com esta 
nomenclatura, sendo ela composta por um dos pais e sua prole, podendo ser classificada 
como: a) originária, quando ela já se constitui monoparental, como é o caso do indivíduo 
que, sozinho, independente do sexo, adota uma criança ou da mãe solteira, seja por 
produção independente, relação sexual casual da qual surgiu prole ou relacionamento que 
não subsistiu ao advento do estado gravídico; ou b) superveniente, quando temorigem na 
fragmentação de um núcleo familiar, seja pela morte, separação de fato ou divórcio. 
(GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018)
Família homoafetiva
Advertem Gagliano e Pamplona Filho (2018, p. 1.333-1.334) não serem adequadas as 
expressões homossexualismo e homoerotismo para caracterizar um “vínculo que une e 
justifica a concepção de família derivada do núcleo formado entre pessoas do mesmo 
sexo”, preferindo o Direito a expressão homoafetividade, “pois as pessoas que integram 
esse núcleo não estão unidas apenas pelo sexo, mas, sim, e principalmente, pelo afeto”. 
Daí podermos “conceituar a união homoafetiva como o núcleo estável formado por duas 
pessoas do mesmo sexo, com o objetivo de constituição de uma família”.
Com a decisão proferida em sede da ADI n° 4.277, a falta de regulamentação para a 
união homoafetiva foi suprida, tendo entendido o Ministro Ayres Britto que ao art. 1.723 
deveria ser dada interpretação conforme a Constituição Federal, dele excluindo qualquer 
significado que impeça o reconhecimento da legitimidade da união entre pessoas do 
mesmo sexo como entidade familiar, quando contínua, pública e duradoura. 
Com o julgamento do STF, concretizou-se a proteção familiar da união homoafetiva, 
adotando-se “a premissa da inclusão, como manda o Texto Maior, afastando-se 
preconceitos e discriminações. A tutela da dignidade humana e o bom senso venceram”. 
O Supremo Tribunal Federal não rompeu “suas esferas de atuação. Muito ao contrário, 
fez o Tribunal Constitucional o seu papel democrático, servindo, mais uma vez, como um 
contrapeso à inércia conservadorado Congresso Nacional Brasileiro”. (TARTUCE, 2017, 
p. 400)
Gagliano e Pamplona Filho (2018, p. 1.335) entendem que não importa se a união 
homoafetiva será reconhecida como união estável uma nova modalidade familiar, “pois a 
premissa intransponível e mais relevante é que se trata, efetivamente, de uma ‘família’, 
merecedora de respeito, e, dado o seu reconhecimento constitucional — na perspectiva da 
dignidade humana — também de tutela jurídica, com a aplicação analógica das regras 
atinentes à relação de companheirismo heterossexual, com os direitos e deveres daí 
decorrentes”.
Quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo, a Resolução n° 175/2013, do CNJ, veio 
para dirimir dúvidas, vedando às autoridades competentes a recusa de habilitação, 
celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre 
pessoas de mesmo sexo.
Família poliafetiva
“O poliamorismo ou poliamor admite a possibilidade de coexistirem duas ou mais 
relações afetivas paralelas, em que os seus partícipes conhecem-se e aceitam-se uns aos 
outros, em uma relação múltipla e aberta”, mitigando “pela atuação da vontade dos 
próprios atores da vida, o dever de fidelidade, pelo menos na concepção tradicional que a 
identifica com a exclusividade” (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.337-
1.338).
Tartuce (2017, p. 362) afirma que ainda há “entraves para quebrar a monogamia em 
nosso País, inclusive no caso de união estável”, havendo grande apego à moral e aos bons 
costumes no discurso, que não condiz com a prática social das condutas. Todavia, 
defende o autor “que o futuro reserva uma nova forma de pensar a família, e que, em 
breve, serão admitidos relacionamentos plúrimos, seja a concomitância de mais de uma 
união estável, seja a presença desta em comum com o casamento”, pertencendo o futuro 
“às famílias paralelas, cabendo ao tempo mostrar a razão, especialmente pela visão de 
mundo das gerações mais novas. Na verdade, se a família é plural, essa deve ser mais 
uma opção oferecida pelo sistema, para quem desejar tal forma de constituição”.
Devemos ressaltar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já se posicionou pelo 
impedimento aos cartórios de todo o país de lavrar qualquer tipo de documento que 
declare a união estável entre mais de duas pessoas.
Estratégias de Aprendizagem
AULA 9 DA DISCIPLINA DIREITO CIVIL V
Antes da sala de aula, é recomendável a leitura do Plano de Ensino da disciplina, 
atentando para a ementa e o conteúdo, a fim de se inteirar dos temas que serão abordados 
ao longo da disciplina. Verificar os aspectos metodológicos, procedimentos de avaliação 
e os títulos da bibliografia. Acessar o ambiente virtual da disciplina no SAVA (no SIA, 
entrar em Sala de Aulas Virtuais e Minhas disciplinas presenciais) e tomar o primeiro 
contato com os recursos didáticos disponíveis, como o material didático (livro da 
disciplina), conteúdo interativo (videoaulas e conteúdo on-line) e calendário, entre outros. 
Uma panorâmica do que será apresentado na disciplina pode ser conferida na Aula 
Teletransmitida, disponível no ambiente da Sala de Aula Virtual – SAVA.
Para apreensão e compreensão do primeiro tema da disciplina, verifique antes da aula 
presencial o item estrutura de conteúdo deste Plano de Aula. Leia as páginas 
correspondentes do material didático (Livro Didático de Direito Civil V, no SAVA) e 
faça as demais leituras sugeridas.
Durante a sala de aula, esteja atento às explicações e apresentação do conteúdo. 
Converse com seu professor e tire as dúvidas provenientes de suas leituras ou mesmo das 
atividades recomendadas.
Após a sala de aula, desenvolva as atividades de autoestudo e retome ou aprofunde os 
conteúdos apresentados pelo professor. Para isso, escolha uma das sugestões de leitura e 
pesquisa que constam no campo Aplicação: articulação teoria e prática deste Plano de 
Aula. Você também pode assistir à Aula Teletransmitida (disponível no SAVA).
Indicação de Leitura Específica
Livro didático da disciplina de Direito Civil V (tópicos correspondentes aos conteúdos 
abordados nesta aula).
Aplicação: articulação teoria e prática
Questão objetiva 1:
Em relação à união estável, assinale a alternativa correta.
(A) Para que fique caracterizada a união estável, é necessário, entre outros requisitos, 
tempo de convivência mínima de cinco anos, desde que durante esse período a 
convivência tenha sido pública e duradoura.
(B) Quem estiver separado apenas de fato não pode constituir união estável, sendo 
necessária, antes, a dissolução do anterior vínculo conjugal; nesse caso, haverá simples 
concubinato.
(C) Não há presunção legal de paternidade no caso de filho nascido na constância da 
união estável.
(D) O contrato de união estável é solene, rigorosamente formal e sempre público.
Questão objetiva 2:
(Analista Judiciário/DPE/DF – FGV/2014) Fernanda e Ricardo mantêm uma relação de 
namoro. Ricardo reside com seus pais e Fernanda mora com sua avó. Acontece que após 
seis anos de relacionamento, Fernanda engravidou, ficando confirmada a paternidade de 
Ricardo, mas os dois continuaram com suas residências originais, mantendo o 
relacionamento nos moldes anteriores à gravidez. É correto afirmar que:
(A) em momento algum se configurou uma união estável.
(B) após cinco anos de relacionamento, já havia uma união estável na forma da lei.
(C) havia uma união estável desde o início do relacionamento, independentemente do 
tempo em que o casal esteve junto.
(D) a união estável se configurou a partir do nascimento da criança.
(E) a união estável se configurou a partir do momento em que Fernanda ficou grávida.
Questão subjetiva:
Tício, residente na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, vive em união estável, 
nessa cidade, com Maria Antonia, desde o ano de 2002. A união apresenta todos os 
requisitos constantes na lei civil. Toda a sociedade local reconhece a existência da 
entidade familiar, tratando os companheiros como se casados fossem.
Todavia, Tício é viajante e, desde o ano de 2003, encontra-se com Maria Figueiredo 
todas as segundas-feiras, na cidade de Franca, onde mantém um escritório. A relação 
também se enquadra nos termos do art. 1.723 do CC/2002. Tício e Maria Figueiredo têm 
um filho comum: João Henrique, de um ano de idade.
Tício mantém ainda uma união pública, notória e contínua com Maria Augusta, na cidade 
de Batatais, para onde vai todas as quintas-feiras vender seus produtos. Aliás, Maria 
Augusta é dona de um estabelecimento comercial em que Tício consta como sócio. 
Ambos têm um negócio lucrativo naquela cidade do interior paulista. O relacionamento 
amoroso existe desde 2004.
Por fim, Tício tem um apartamento montado na cidade de São Paulo, onde vai 
ocasionalmente, de quinze em quinze dias, a fim de comprar produtos para vender no 
interior paulista. Nesse apartamento reside Maria Carmem, com quem Tício tem um 
relacionamento desde o final do ano de 2004. Essa sua convivente está grávida e espera 
um filho seu.
No caso hipotético, uma Maria não sabe da existência da outra como convivente de seu 
companheiro, até que, um dia, o pior acontece e o mundo desaba.
Cada um destes relacionamentos constitui uma união estável, nos termos do que consta 
do Código Civil e da Constituição? (TARTUCE, 2017, p. 354-355)
Considerações Adicionais
Recomenda-se a leitura de algum dos livros da bibliografia básica ou complementar, na 
parte correspondente a esta primeira aula, à escolha do aluno, de acordo com a sua 
afinidade com a linguagem e entendimento do autor.

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