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Cerveja Prof.a Ana Carolina Prudenciatto Ortelani Prof. Roberto Cesar Santos de Sousa Prof.a Verena Fiscina de Melo Introdução à SommelIer de Indaial – 2022 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.a Ana Carolina Prudenciatto Ortelani Prof. Roberto Cesar Santos de Sousa Prof.a Verena Fiscina de Melo Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI O77i Ortelani, Ana Carolina Prudenciatto Introdução à sommelier de cerveja. / Ana Carolina Prudenciatto Ortelani; Roberto Cesar Santos de Sousa; Verena Fiscina de Melo. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 152 p.; il. ISBN 978-85-515-0535-9 ISBN Digital 978-85-515-0531-1 1. Escolas cervejeiras. - Brasil. I. Ortelani, Ana Carolina Prudenciatto. II. Sousa, Roberto Cesar Santos de. III. Melo, Verena Fiscina de. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 663.42 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Introdução à Sommelier de Cerveja! Nosso conteúdo está dividido em três unidades que irão auxiliar no seu entendimento sobre as qualidades e expectativas relacionadas aos aspectos sensoriais das cervejas de diferentes escolas cervejeiras e como trabalhar com cada ingrediente para gerar a excelência final esperada para a bebida planejada. Na Unidade 1, abordaremos a separação das cervejas, compreendendo quais são e como surgiram as principais escolas cervejeiras do mundo. Além disso, iremos ver os principais estilos cervejeiros de cada escola e quais são suas características sensoriais mais marcantes. Em meio a isso tudo, vamos abordar um pouco do cenário cervejeiro no Brasil e como ele se comporta hoje em face dos demais. Em seguida, na Unidade 2, aprenderemos as características sensoriais dos insumos cervejeiros e como eles afetam os atributos sensoriais da bebida pronta para consumo. Passaremos por todos os ingredientes base da cerveja (água, malte, lúpulo e levedura) a fim de relacionar suas características químicas e bioquímicas com o resultado sensorial promovido por cada um deles durante o processamento. Por fim, na Unidade 3, estudaremos um pouco sobre a introdução a análise sensorial como ciência. Entenderemos sua importância para a indústria cervejeira e como o papel de provadores treinados na identificação das principais características e dos problemas mais comuns do processo cervejeiro em suas diferentes etapas pode conduzir ou não a bebida para uma qualidade superior diante do mercado. Além disso, vamos identificar as características sensoriais marcadas como esperadas e como problemáticas para a cerveja como um todo. Bom estudo! Prof.a Ana Carolina Prudenciatto Ortelani Prof. Roberto Cesar Santos de Sousa Prof.a Verena Fiscina de Melo APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. QR CODE Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 — TIPOS DE CERVEJA E SEUS RESULTADOS ................................................... 1 TÓPICO 1 — SEPARAÇÃO DAS CERVEJAS ...........................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 HISTÓRIA DA CERVEJA NO BRASIL E NO MUNDO ............................................................3 3 ESCOLAS CERVEJEIRAS ...................................................................................................8 3.1 ESCOLA ALEMÃ......................................................................................................................................8 3.2 ESCOLA BELGA ................................................................................................................................... 10 3.3 ESCOLA AMERICANA ..........................................................................................................................12 3.4 ESCOLA INGLESA ............................................................................................................................... 14 3.5 ESCOLA BRASILEIRA ......................................................................................................................... 15 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 — CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS INSUMOS E SEUS RESULTADOS ..... 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19 2 COMPOSIÇÃO DA CERVEJA ............................................................................................20 3 PROPRIEDADES FÍSICAS E SENSORIAIS ....................................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 26 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................27 TÓPICO 3 — ANÁLISE SENSORIAL DOS INSUMOS E COMPARATIVO COM PRODUTO FINAL ............................................................................................. 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29 2 ANÁLISE SENSORIAL DE INSUMOS CERVEJEIROS ...................................................... 30 2.1 ÁGUA ........................................................................................................................................................31 2.2 MALTE ....................................................................................................................................................32 2.3 LÚPULO .................................................................................................................................................32 2.4 LEVEDURAS .........................................................................................................................................33 2.5 AUXILIARES DE PROCESSAMENTO ...............................................................................................33 3 OUTRAS CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 34 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 35 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................37 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 38 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 41 UNIDADE 2 — AROMAS E PROFUNDIDADE DE SABORES ................................................ 43 TÓPICO 1 — DIFERENTES TIPOS E ESTILOS DE CERVEJA E SEUS SABORES ................ 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 45 2 TIPOS DE CERVEJA ......................................................................................................... 46 2.1 CERVEJA ALE ...................................................................................................................................... 48 2.1.1 Weizenbier ou Weissbier ........................................................................................................... 48 2.1.2 Witbier ...........................................................................................................................................49 2.1.3 Stout .............................................................................................................................................50 2.1.4 India Pale Ale (IPA) .....................................................................................................................51 2.1.5 Pale Ale ........................................................................................................................................52 2.1.6 Strong Golden Ale .....................................................................................................................53 2.1.7 Red Ale ..........................................................................................................................................53 2.1.8 Kölsch ...........................................................................................................................................54 2.1.9 Porter ............................................................................................................................................55 2.2 CERVEJA LAGER ................................................................................................................................56 2.2.1 American Lager ..........................................................................................................................56 2.2.2 Pilsen ........................................................................................................................................... 57 2.2.3 European Amber Lager ...........................................................................................................58 2.2.4 Dark Lager ..................................................................................................................................58 2.2.5 Bock .............................................................................................................................................59 2.3 CERVEJA DE FERMENTAÇÃO ESPONTÂNEA...............................................................................60 2.3.1 Gueuze ..........................................................................................................................................61 2.3.2 Faro ...............................................................................................................................................61 2.3.3 Fruit Lambic ................................................................................................................................61 2.4 FERMENTAÇÃO HÍBRIDA ..................................................................................................................62 2.4.1 Cream Ale ....................................................................................................................................62 2.4.2 Blonde Ale ..................................................................................................................................62 2.4.3 American Wheat ........................................................................................................................62 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 64 TÓPICO 2 — SENTIDOS HUMANOS ENVOLVIDOS NAS AVALIAÇÕES SENSORIAIS .........67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67 2 MEMÓRIA SENSORIAL ..................................................................................................... 68 2.1 TIPOS DE MEMÓRIA SENSORIAL......................................................................................................68 2.1.1 Memória icônica ou memória visual ......................................................................................69 2.1.2 Memória ecoica ou memória auditiva ..................................................................................70 2.1.3 Memória háptica ou memória tátil ........................................................................................70 3 A IMPORTÂNCIA DE GERAR, MANTER E APERFEIÇOAR A BIBLIOTECA SENSORIAL .....70 4 SENTIDOS HUMANOS ENVOLVIDOS E SUAS RELAÇÕES ...............................................72 4.1 VISÃO ...................................................................................................................................................... 73 4.2 OLFATO .................................................................................................................................................. 74 4.3 AUDIÇÃO ............................................................................................................................................... 74 4.4 TATO .......................................................................................................................................................75 4.5 PALADAR .............................................................................................................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................78 TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS E COMPARATIVO DE SABORES ..............81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................81 2 CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS ALIMENTOS ...................................................... 82 2.1 APARÊNCIA ...........................................................................................................................................82 2.2 ODOR/AROMA ..................................................................................................................................... 84 2.3 TEXTURA .............................................................................................................................................. 84 2.4 SABOR E GOSTO .................................................................................................................................85 3 COMPARATIVO DE SABORES .......................................................................................... 86 3.1 ANÁLISE VISUAL ..................................................................................................................................86 3.2 ANÁLISE DE AROMA ..........................................................................................................................87 3.3 ANÁLISE DE SABOR ...........................................................................................................................87 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 89 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 93 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 94 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................97 UNIDADE 3 — ANÁLISE SENSORIAL DA CERVEJA ............................................................99 TÓPICO 1 — TEORIA E TÉCNICAS DA ANÁLISE SENSORIAL ............................................ 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 101 2 DEFINIÇÃO DE ANÁLISE SENSORIAL ............................................................................102 3 COMUNICAÇÃO SENSORIAL ......................................................................................... 104 3.1 VISÃO ....................................................................................................................................................105 3.2 OLFATO ................................................................................................................................................106 3.3 AUDIÇÃO .............................................................................................................................................106 3.4 TATO ..................................................................................................................................................... 107 3.5 PALADAR ............................................................................................................................................ 107 4 O QUE INFLUENCIA NUMA ANÁLISE SENSORIAL .........................................................108 4.1 FATORES FISIOLÓGICOS ..................................................................................................................108 4.2 FATORES PSICOLÓGICOS ...............................................................................................................109 4.3 FATORES FÍSICOS .............................................................................................................................109 5 RODA DE AROMAS ...........................................................................................................111 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 114 TÓPICO 2 — TIPOS DE TESTES SENSORIAIS .....................................................................117 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117 2 DISCRIMINATIVOS .......................................................................................................... 121 2.1 COMPARAÇÃO PAREADA .................................................................................................................121 2.2 TRIANGULAR ..................................................................................................................................... 122 2.3 DUO-TRIO ........................................................................................................................................... 122 2.4 ORDENAÇÃO ...................................................................................................................................... 123 2.5 COMPARAÇÃO MÚLTIPLA ............................................................................................................... 123 3 AFETIVOS ........................................................................................................................124 3.1 TESTE DE PREFERÊNCIA ................................................................................................................. 124 3.2 TESTE DE ACEITAÇÃO ..................................................................................................................... 125 4 DESCRITIVOS ..................................................................................................................125 4.1 ANÁLISE DESCRITIVA QUANTITATIVA (ADQ) .............................................................................. 126 4.2 PERFIL DE TEXTURA ........................................................................................................................ 127 4.3 MÉTODO CATA (CHECK-ALL-THAT-APPLY) ................................................................................128 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 131 TÓPICO 3 — TEORIA E PRÁTICA DE IDENTIFICAÇÃO DE DEFEITOS (OFF-FLAVORS) .....133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................133 2 O QUE SÃO OS OFF-FLAVORS ........................................................................................134 3 QUAIS OS PRINCIPAIS OFF-FLAVORS DAS CERVEJAS ...............................................135 3.1 ACETALDEÍDO..................................................................................................................................... 135 3.2 ADSTRINGENTE................................................................................................................................. 136 3.3 ALCOÓIS SUPERIORES .................................................................................................................... 137 3.4 OXIDAÇÃO ..........................................................................................................................................137 3.5 DIACETIL .............................................................................................................................................138 3.6 DIMETILSULFURETO (DMS) ...........................................................................................................138 3.7 ÉSTERES ............................................................................................................................................. 139 3.8 CLOROFENOL .................................................................................................................................... 139 3.9 METÁLICO ...........................................................................................................................................140 3.10 MOFO ..................................................................................................................................................140 3.11 SABÃO ................................................................................................................................................140 3.12 GAMBÁ OU LIGHT-STRUCK..............................................................................................................141 3.13 FERMENTO .........................................................................................................................................141 4 O QUE CAUSA E COMO EVITAR OS OFF-FLAVORS ........................................................142 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................145 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................146 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................149 1 UNIDADE 1 — TIPOS DE CERVEJA E SEUS RESULTADOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • aprender o que caracteriza cada cerveja em seu sabor; • conhecer a diferença dos resultados mediante seus ingredientes; • medir a qualidade da cerveja por meio da análise; • identificar potencialidade em cervejas com suas análises. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SEPARAÇÃO DAS CERVEJAS TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS INSUMOS E SEUS RESULTADOS TÓPICO 3 – ANÁLISE SENSORIAL DOS INSUMOS E COMPARATIVO COM PRODUTO FINAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 SEPARAÇÃO DAS CERVEJAS TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos as origens da cerveja e sua importância no desenvolvimento social e econômico das regiões onde era produzida. A impulsão econômica e social que ocorreu nos locais onde foi identificada sua produção, bem como o desenvolvimento e criação das Escolas Cervejeiras, a importância de cada uma delas e também suas particularidades. A literatura cervejeira popular está repleta de receitas para os tipos tradicionais de cerveja. Esses produtos são produzidos em grande parte variando a composição do grão de malte (e adjunto). Isso é conseguido incluindo maltes, caramelos e açúcares especializados. Outras variações envolvem a mudança da natureza das variedades de lúpulo usadas, variando os tempos de adição de lúpulo à chaleira e o dry hopping. A natureza do processo de condicionamento e o uso de açúcares primários também afetam marcadamente o sabor da cerveja. Evidências apontam que a fabricação de cerveja surgiu historicamente pelo menos no mesmo período em que o homem iniciou o cozimento do pão, e, certamente, ambos são tão antigos quanto o início da história registrada. A cerveja é mencionada por Xenofonte e Aristóteles (como citado por Ateneu). Entre outros, o cônsul romano e estudioso Plínio, o Jovem, estimou que cerca de 200 tipos de cerveja estavam sendo fabricados na Europa no primeiro século. Os textos latinos referem-se às bebidas de cevada como cerevisia ou cerevisium, palavras de raiz que ainda estão conosco nas palavras espanholas e portuguesas para cerveza e cerveja, bem como no nome latino para a levedura de cerveja, Saccharomyces cerevisiae. 2 HISTÓRIA DA CERVEJA NO BRASIL E NO MUNDO A maior parte dos historiadores concordam que o ser humano pré-histórico deixou de ser nômade quando desenvolveu as primeiras técnicas de agricultura e passou a cultivar grãos. Posteriormente, com a possibilidade de cultivar cereais como o sorgo, a cevada e o trigo, permitiu-se a fixação desses grupos, os desobrigando a constantemente estar em locomoção para buscar alimentos. 4 A fabricação de cerveja é geralmente considerada como um subproduto do desenvolvimento da agricultura, embora a opinião minoritária sustente que o cultivo de cereais se originou como consequência do desejo do homem pelo álcool, e não vice- versa. Quaisquer que sejam as origens exatas da fabricação de cerveja, os artefatos históricos sobreviventes nos permitem rastreá-la até os mesopotâmios cerca de 6.000 ou 7.000 anos atrás. Os antigos egípcios eram cervejeiros, e a cerveja, fabricada do sorgo cereal nativo, ainda é parte integrante da política da vida tribal africana. O desenvolvimento histórico da cerveja e da indústria cervejeira está, no entanto, ligado ao norte da Europa, onde o frio inibiu o desenvolvimento da viticultura. Há também registros com símbolos que denotam que essas bebidas fermentadas eram usadas como mercadorias e moedas de troca aproximadamente em 4000 a.C., antes até do surgimento da escrita, os hieroglifos que identificavam comida eram o pão e os vasos onde foram identificados os resquícios da bebida fermentada (cerveja) (ESSLINGER, 2009; MOSHER; TRANTHAM, 2017). Existem ainda registros de bebidas fermentadas a base de cereais em várias civilizações e partes do mundo, como: sumérios e babilônios (1730 a.C.), egípcios (2200 a.C.), gregos e romanos (49 a.C.), trácios e celtas (cerca de 23-79). A cerveja era parte integrante da cultura da população agrária do norte e centro da Europa no período medieval e no início da era moderna. As cervejas mais fracas eram aceitas como parte essencial da dieta de todos e as cervejas mais fortes como uma fonte necessária de consolo em períodos muito breves de lazer em um mundo inóspito. Durante os períodos das idades clássica e média, a produção de cerveja foi muito condicionada a pequenos volumes para consumo local, nos próprios locais de produção. Esse processo absolutamente caseiro foi, por muito tempo durante este período, de inteira responsabilidade das mulheres/esposas da família constituída. Isso ocorria, porque a cerveja fazia parte da dieta destas pessoas. Em adição a isso, a fabricação de cerveja, que à época levava uma gama de especiarias e ervas (o Gruit, por exemplo), possuía atividades curativas, sendo muitas vezes tratada como um produto medicinal, além de ser um bom substituinte para a água, que tinha baixa potabilidade naquele período (CABRAS; HIGGINS, 2016; MOSHER; TRANTHAM, 2017). A escala de fabricação de cerveja variou de alguns hectolitros (hL) anualmente na casa média para centenas, ou, ocasionalmente, milhares de hectolitros nos maiores mosteiros e casas de campo. A fabricação de cerveja doméstica ainda representava bem mais da metade da cerveja produzida no final do século XVII. 5 A fabricação de cervejacomercial era geralmente confinada a tavernas e pequenas cervejarias. Estas últimas produziram uma ampla seleção de cervejas de diferentes intensidades, de cor marrom clara a escura, predominantemente para consumo local. A maior dessas cervejarias poderia chegar a dezenas de milhares de hectolitros, mas a verdadeira industrialização da fabricação de cerveja não começou até que o aumento da urbanização e o crescimento populacional concentrado forneceram um mercado pronto para a cerveja produzida em grande escala (ESSLINGER, 2009; MOSHER; TRANTHAM, 2017). FIGURA 1 – ABADIA DE NOTRE DAME D'ORVAL, FAMOSA PELA PRODUÇÃO DE CERVEJA BELGA TRAPISTA FONTE: <https://shutr.bz/35lOVFp>. Acesso em: 3 mar. 2022. Ainda em período anterior à profissionalização e industrialização cervejeira, os monges tornaram-se pesquisadores, aprimoraram métodos de fabricação e introduziram o conceito de conservação a frio das bebidas. Esses locais eram organizados, ali foram desenvolvidas várias receitas que eram guardadas em segredo, tornando esses mosteiros, os únicos locais com capacidade para produção em maior escala. A demanda por cerveja apresentava um crescimento significativo, exigindo especialização e profissionalismo daqueles envolvidos na produção, tendo em vista as dificuldades inerentes de uma produção cada vez maior, que demandava altos investimentos em equipamentos e matérias-primas. O processo de urbanização dos séculos XII e XIII ajudou na criação de negócios especializados em cerveja e na concentração do público consumidor. Durante esse período, notou-se a criação de estabelecimentos e instituições ligadas à produção e comércio dessas bebidas, consolidando-as como um produto comercial. Aos poucos, a produção deixou de ser caseira, responsabilidade das mulheres donas de casa e produção artesanal. Começavam a surgir grupo de pessoas que se juntavam para produzir, comercializar em maior escala e com isso, visar lucro. 6 A divisão do trabalho e a especialização eram as características mais significativas das economias urbanas. Os artesãos e comerciantes especializados eram os pilares da economia urbana. Os artesãos foram rápidos em se organizar em corporações, guildas autônomas responsáveis pela admissão à fabricação de cerveja, treinamento, qualidade do produto e provisão de pensões e fraternidades para caridade. As guildas tinham considerável poder decisório na política ao representarem os produtores de cerveja da época. Isso permitia as guildas impor multas e outros tipos de regulamentos e decretos. Registros de guildas de cervejeiros existem já em 1200 para Londres, 1230 para Regensburg, 1267 para Ypern e 1280 para Munique. Guildas de malteadores também surgiram em meio a uma especialização em cidades como Brunswick. Pouco depois, os trabalhadores também se organizaram. Em 1447, em Bruges (Flandres), a primeira associação de trabalhadores de cervejaria (fraternitas sancti vincenti) reuniu-se para se proteger contra “estalajadeiros, mulheres e reitores”. A especialização na produção de cerveja foi um marco da transformação localizada e caseira para um perfil profissional e lucrativo. A partir do século XVI, guildas de cervejeiros eram encontradas nas mais importantes cidades europeias e acumulavam e exerciam pressões políticas até o início do século XIX (ESSLINGER, 2009). No início do século XVII, graças à alta de demanda por cevada, os produtores viram a elevação do preço do cereal diminuir a margem de lucro na venda do produto, acirrando a competição entre os mercados. Novas cervejarias foram introduzidas e países que, até então, lucravam com a exportação da bebida, começaram a enfrentar concorrentes locais. Foi um período de grandes mudanças de hábitos, não apenas relacionados a cerveja, mas também na busca por novidades, principalmente no que se referia ao paladar. O século XIX caracterizou-se por um forte e contínuo crescimento na produção de cerveja. Tanto produção quanto consumo de cervejas aumentaram significativamente a partir de 1975 até as vésperas da Primeira Guerra Mundial, momento marcado por uma queda acentuada nos preços globais dos grãos (CABRAS; HIGGINS, 2016). No entanto, a evolução no século XX é caracterizada tanto pelo crescimento quanto pelo declínio. Na maioria dos países, a produção de cerveja diminuiu drasticamente no período de 1915-1950, mas por razões diferentes. Na Europa, a produção caiu cerca de 70% durante a Primeira Guerra Mundial. A indústria cervejeira sofreu muito, principalmente nas partes ocupadas da Europa. A mobilização fez que muitos trabalhadores da indústria cervejeira fossem dispersos, o que levou à escassez de funcionários nas cervejarias. Além disso, materiais metálicos (como cobre), veículos e animais de tração foram requisitados pelas forças de ocupação. Como consequência, muitas cervejarias tiveram que fechar seus negócios. 7 Após a guerra, a escassez de matérias-primas persistiu por vários anos. As cervejarias que queriam recomeçar ou aumentar a produção tinham que improvisar com o que podiam encontrar. Por vários anos após a guerra, todos os tipos de grãos, ervilhas, beterrabas e feijões foram usados para produzir cerveja. No entanto, a produção de cerveja recuperou-se fortemente em alguns países europeus após a guerra (CABRAS; HIGGINS, 2016). Algumas leis em países mundo afora também começaram a limitar o consumo, como o Vandervelde Act (1919, Bélgica) e a Lei Seca nos Estados Unidos (1920), que se encerrou em 1933 após revogação enviada pelo então eleito presidente, Franklin Roosevelt. O Brasil era marcado pelo alto consumo da cachaça entre a população em geral, enquanto a elite aristocrata era voltada para o consumo de vinhos europeus. A introdução da cerveja no país ocorreu apenas em meados do século XVII pelos holandeses por meio da Companhia das Índias Orientais. Logo após a expulsão dos holandeses, a cerveja parou de circular no mercado interno, retornando apenas 150 anos depois com a abertura do comércio nacional para outras nações como a Inglaterra, que passou a exportar para o Brasil as suas cervejas. O fim do século XIX foi marcado pelo que são, atualmente, grandes marcas cervejeiras nacionais. A Antarctica Paulista surgiu em 1888 e se tornou, a partir de 1891, a Companhia Antártica Paulista, estabelecida no estado de São Paulo. Enquanto isso se estabelecia no estado do Rio de Janeiro a Manufatura de Cerveja Brahma, que mais tarde, em 1904, se tornaria a Companhia Cervejaria Brahma. Mais adiante, já no século XX, outras indústrias foram inseridas no mercado cervejeiro como a Cerpa (Cervejaria Paraense) e a Skol, ambas no fim da década de 1970. Ainda sobre a Skol, esta foi responsável pela primeira cerveja comercializada nacionalmente em lata, a Skol Pilsen, já nos anos 1980. A proliferação do mercado cervejeiro nacional passou por crescimento significativo desta época em diante, evidenciados pela instauração de diversas marcas como a Cervejaria Kaiser em 1980 em Divinópolis (MG) e a Primo Schincariol em 1989, no interior do estado de São Paulo. Muitas outras cervejarias de distintos portes surgiram até que, em 1999, ocorreu a fusão da Antarctica com a Brahma, dando origem ao grupo AmBev (Companhia de Bebidas das Américas) com alcance multinacional. Posteriormente, o grupo AmBev passou pela fusão com a cervejaria belga Interbrew, dando assim prosseguimento à entrada desta nova cervejaria a um nível de produção e comércio global. 8 3.1 ESCOLA ALEMÃ A Alemanha tem sido uma das nações cervejeiras mais importantes do mundo e a principal nação produtora de cerveja da Europa.A indústria cervejeira alemã também foi conhecida por sua estrita adesão à Reinheitsgebot, a “Lei da Pureza da Cerveja Alemã” ou “Lei da Pureza da Baviera”. Promulgado pela primeira vez em 1516 na cidade de Ingolstadt, na Baviera, foi adotado em toda a Alemanha. De fato, a Baviera insistiu em sua adoção como pré- condição para ingressar no Império Alemão em 1871. Especificamente, a lei restringe os ingredientes permitidos na cerveja a água, cevada e lúpulo. Nenhuma menção foi feita à levedura porque o papel desse microrganismo não era conhecido nem entendido até o trabalho de Louis Pasteur no século XIX. 3 ESCOLAS CERVEJEIRAS Neste subtópico, falaremos um pouco de cada uma das maiores e mais expressivas escolas cervejeiras, sua importância dentro da história da bebida e suas características individuais. Se toda a cerveja do mundo fosse feita de uma receita idêntica, o julgamento seria baseado apenas no processo do cervejeiro, ou seja, se o cervejeiro seguiu a receita corretamente. Mas este não é o caso. A cerveja no mundo não é a mesma de região para região e até mesmo de cervejaria para cervejaria. No universo cervejeiro podem ser encontradas inúmeras receitas e dicas de processamento semelhantes, que podem até indicar pouca variabilidade das bebidas disponíveis, mas que despontam a resultados significativamente distintos. Com isso, várias tentativas de organizar essas receitas foram aplicadas, resultando em uma classificação usual na cultura cervejeira, conhecida como estilo. Algumas listas de estilos de cerveja chegam a mais de 100 entradas. Como em qualquer sistema de taxonomia, como a classificação de espécies em biologia, organizar os estilos em grupos com características semelhantes. Algumas cervejas são classificadas por cor, algumas por seu bico de malte (as proporções de grãos maltados usados), algumas por seu país de origem e algumas pela espécie de levedura usada na fermentação. Todos estes diferentes tipos de cervejas, suas técnicas de produção e seus ingredientes base surgiram do conhecimento e de tecnologias disponíveis nas proximidades de fabricação. Esse conhecimento agregado evoluiu dentro dos preceitos culturais de fabricantes de cervejas próximos. Com isso, foram sendo criados centros de conhecimento que originaram o que se conhece hoje como escolas cervejeiras, cada qual contribuindo com suas particularidades e estilos cervejeiros para atender aos mais variados grupos consumidores. 9 Como forma de restringir as importações para a Alemanha, o Reinheitsgebot foi derrubado em uma decisão do Tribunal de Justiça Europeu de 1988, mas para a cerveja fabricada na Alemanha, os cervejeiros alemães geralmente ainda seguem o Reinheitsgebot por uma questão de orgulho – e porque é uma boa publicidade para descrever suas cervejas como sendo fabricadas sob este antigo regulamento. As cervejas da Escola Alemã não são tão complexas e variadas quanto as cervejas belgas ou americanas. A cerveja Lager é predominante na maioria dos países, inclusive no Brasil, mas as cervejarias alemãs produzem uma variedade de Lagers. A maioria das cervejarias oferece uma variedade que inclui Pale Lagers (helles), Dark Lagers (dunkel), cervejas sazonais (incluindo märzen), Bocks e Double Bocks (doppelbocks). As cervejas de trigo são cada vez mais populares e são conhecidas como Weiss (branca) ou Weizen (trigo). A Hefeweizen, hoje copiada mundialmente, é literalmente uma cerveja de trigo (weizen) que não é filtrada e, portanto, ainda possui levedura (hefe) em suspensão. A cerveja de trigo é fabricada em toda a Alemanha com estilos específicos indígenas do norte da Alemanha, Baviera e especialmente Berlim, onde a Berliner Weisse é a marca registrada da cidade. Em 1930, a Alemanha produziu 58 milhões de hectolitros de 4.669 plantas em comparação com 20 milhões de hectolitros de 610 plantas na Grã-Bretanha e nenhuma produção nos Estados Unidos por causa da Lei Seca. A Segunda Guerra Mundial esmagou toda a produção industrial alemã, mas em cinco anos, 2.637 cervejarias foram reabertas e estavam produzindo 10 milhões de hectolitros. Em 1965, a produção era de 66 milhões de hectolitros de 2.125 cervejarias. Até o início da década de 1970, a maioria das cervejas vendidas na Alemanha era fabricada em uma cervejaria local, mas depois disso foi feito um movimento para a criação de mais marcas nacionais. O festival da cerveja conhecido como Oktoberfest, realizado em Munique, é o maior do mundo, recebendo cerca de seis milhões de participantes anualmente. Oktoberfest originou-se como uma celebração do casamento do príncipe herdeiro Ludwig da Baviera (mais tarde rei Ludwig I) e da princesa Teresa de Saxe-Hildburghausen, em 12 de outubro de 1810. As festividades ocorreram em Munique no campo conhecido como Theresienwiese (prado de Theresa), e ainda são mantidos lá hoje. A Oktoberfest dura 16 dias, terminando no primeiro domingo de outubro, a menos que esse dia caia antes do Dia da Unidade Alemã (3 de outubro), caso em que a Oktoberfest continua por um décimo sétimo dia. Esta Oktoberfest original inspirou inúmeras outras Oktoberfests na Alemanha e em todo o mundo. INTERESSANTE 10 Os principais estilos de cerveja produzidos pela Escola Alemã (HERZ; CONLEY, 2015; YENNE, 2014; MOSHER; TRANTHAM, 2017): • Pilsner ou Pilsen, não só é o estilo mais produzido quanto o mais consumido do mundo, cujas características marcantes se relacionam à cor dourada e à facilidade em consumi-la. • Helles é um estilo que se assemelha em características à Pilsen, sendo mais adocicada em virtude dos maltes aplicados, causando uma impressão geral de menos amargor. • Bock, também conhecida como “cerveja de inverno”, tem cor avermelhada e intensa, leva em sua receita bastante malte, tem teor alcoólico mais elevado e, na boca, deixa a sensação de caramelização bem presente, graças ao sabor do malte. • Oktoberfest ou Märzen é comercializada apenas na Oktoberfest. Possui maior teor alcoólico que a tradicional Pilsen. No entanto, também apresenta a cor dourada e refrescância. • Schwarzbier é cerveja de malte tostado, sabor amargo e sem gosto de café ou chocolate, como boa parte das cervejas escuras, além de ser bem leve. • Rauchbier é cerveja com alta carga de malte do processo de produção, dando a ela um aroma e sabor bastante defumado. • Weissbier ou Weizen é feita de trigo, turva, de coloração amarela, com formação de espuma cremosa e refrescante, com uma leve acidez no sabor. • Altbier é produzida principalmente na região de Dusseldorf. Amarga, frutada e de coloração marrom ou vermelha escura. • Kölsch é produzida principalmente na região de Colônia. Tem notas herbais no sabor além de um leve frutado. • Berliner Weisse é ácida e bastante consumida no verão Alemão. Geralmente é servida acompanhada de xarope de frutas, deixando a cerveja com uma coloração diferente além de um sabor bastante doce. 3.2 ESCOLA BELGA A Escola Belga de cervejas pode ser classificada como a mais tradicionalista. Originária da região da Gália, o que, atualmente, compreende entre a França e Bélgica, a Escola Belga começou a produção de suas cervejas características ainda durante a expansão do Império Romano. Com a queda do Império Romano e a expansão da influência da Igreja Católica, muitos mosteiros se estabeleceram na região equipados com instalações próprias para a produção e consumo de cerveja entre os monges. Embora seja uma nação pequena e um produtor de cerveja de volume relativamente pequeno, a Bélgica é classificada como uma das nações cervejeiras mais importantes do mundo e uma experiência sem precedentes para o viajante de cerveja. A Bélgica é o lar da misteriosa e rara Westvleteren 12, uma cerveja fabricada em um mosteiro que sempre apareceno topo de quase todas as listas sérias das dez melhores cervejas do mundo. Entretanto, é difícil encontrar tal lista em que os cervejeiros belgas não estejam bem representados. 11 Na Bélgica, seja na Flandres ao norte ou na Valônia francófona ao sul, o viajante pode escolher entre uma variedade estonteante e um nível de qualidade quase inédito em outros lugares. O fato de cada estilo de cerveja – e muitas marcas dentro dos estilos – ter seu próprio copo distinto, é um assunto de grande fascínio para o viajante cervejeiro ao visitar um bar que tem muitas cervejas de pressão. Prateleiras e mais prateleiras de vidros de formas diferentes estão acima, ao redor e atrás do bar. O viajante de cerveja também apreciará a Bélgica por sua compacidade. Muitas cervejarias artesanais de classe mundial estão localizadas a uma distância relativamente curta umas das outras, separadas apenas pela pitoresca paisagem flamenga e valônica. De fato, o terreno plano permite que muitos viajantes façam seus passeios pela cervejaria de bicicleta. Nesse passeio, o viajante encontrará muito mais cervejarias do que se pode imaginar. A maior cervejaria do mundo, AB InBev, tem sede nominal na Bélgica, embora seja uma empresa multinacional com muitos centros de gravidade de Nova York a São Paulo, e é negociada na Bolsa de Valores de Nova York, bem como na Euronext. Ele evoluiu de pontos em três continentes. O ponto belga foi a Interbrew, formada em 1988 por intermédio da fusão das duas maiores cervejarias da Bélgica, Brouwerij Artois (famosa por sua Stella Artois lager) em Leuven e Piedboeuf em Jupille (famosa por sua Jupiler lager). Enquanto isso, no Brasil, em 1999, uma empresa chamada AmBev foi criada por uma consolidação de cervejarias das quais a principal cervejaria era a Brahma. A Interbrew e a AmBev fundiram-se em 2004 para se tornar a InBev, compraram a Anheuser-Busch em 2008 e tornaram-se a AB InBev. INTERESSANTE Ao definir as cervejas belgas em geral, o que é difícil porque há tantas exceções, devemos dizer que as cervejas belgas não são tão lupuladas com lúpulo amargo quanto as cervejas artesanais no mundo anglo-americano, e que as cepas de leveduras belgas fornecem um sabor frutado e caráter floral. Ao contrário das cervejas alemãs, que aderem às rígidas restrições de água, lúpulo e cevada do Reinheitsgebot, a tradição belga permite especiarias, frutas, açúcar adicionado e muita experimentação. A Escola Belga é representada por seis estilos (HERZ; CONLEY, 2015; YENNE, 2014), a saber: • Belgian-Style Dubbel variam de marrom a muito escuro na cor. As cervejas têm uma doçura maltada e podem ter sabores de chocolate, caramelo, toffee, passas e ameixa. O amargor do lúpulo é médio-baixo a médio. Ésteres frutados gerados por leveduras (especialmente banana) podem ser aparentes. Muitas vezes condicionado em garrafa, uma leve névoa e sabor de levedura também podem ser perceptíveis. Como você poderia esperar, um dubbel é o irmão mais novo do quadrupel de estilo belga. 12 • Belgian-Style Tripel estão frequentemente na extremidade superior do espectro ABV, mas são acessíveis a muitos paladares diferentes. O sabor complexo, às vezes suave, mas picante, caracteriza este estilo, juntamente com a complexidade impulsionada pela levedura. As cervejas são geralmente acondicionadas em garrafa e terminam secas. As Tripels são semelhantes às Golden Strong Ales de estilo belga, mas geralmente são mais escuras e têm um nível mais perceptível de doçura do malte. • Witbier são fabricados com trigo não maltado (e às vezes aveia), bem como cevada maltada. No entanto, o que a maioria das pessoas percebe primeiro é o tempero, tradicionalmente coentro e casca de laranja. Wits também pode ter uma nota de fundo baixa de acidez láctica. Um estilo que remonta a centenas de anos, a sagacidade caiu em relativa obscuridade até ser revivida pelo cervejeiro belga Pierre Celis na década de 1960. Este estilo está atualmente passando por um renascimento, especialmente no mercado americano. • Flanders caracterizam-se por acidez láctica leve a forte. Este estilo é uma maravilha em complexidade de sabor, combinando malte, levedura, microorganismos, acidez e baixa adstringência do envelhecimento em barris. Sabores semelhantes à cereja são frequentemente encontrados e, às vezes, também um caráter semelhante ao cacau. Carvalho ou outros sabores de madeira podem estar presentes, mesmo que a cerveja não tenha sido envelhecida em barris. • Belgian-Style Lambic são douradas a âmbar, com certa turbidez aceitável. Este estilo pode incluir atributos florais de lavanda. O caráter de lúpulo é obtido usando lúpulos envelhecidos em baixas concentrações. Com pouco amargor, estas cervejas apresentam aromas fenólicos característicos e sabores derivados da levedura Brettanomyces estão frequentemente presentes em níveis moderados. Ésteres frutados altos a muito altos estão presentes. • Belgian-Style Fruit Lambic recebem a adição de frutas que podem influenciar não só no sabor e aroma, mas também na cor da cerveja. Este estilo resguarda muitas características semelhantes ao estilo Lambic, com a adição de um certo azedume vindo das frutas. 3.3 ESCOLA AMERICANA A história da cultura cervejeira na maioria das nações ao redor do mundo está profundamente enraizada e afetada por uma tradição antiga e estabelecida que continua a exercer sua influência hoje. Nos Estados Unidos, por outro lado, foi encontrada uma situação em que a tradição foi interrompida, suspensa por uma dezena de anos, efetivamente descartada por meio século, depois completamente reinventada. Desde as duas últimas décadas do século XX, a cultura cervejeira americana tem sido impulsionada por cervejeiros que abordaram um cenário bruto com determinação obstinada, motivados por sua própria criatividade, uma quase obsessão por inovação e uma base de consumidores aguardando ansiosamente a grandeza de fascinantes novas marcas de cerveja que são lançadas a cada ano. Na segunda década do século XXI, havia mais de 2.500 cervejarias nos Estados Unidos, um aumento de 50 vezes em relação a 1980. 13 Após a revogação da Lei Seca nos Estados Unidos, em 1933, apenas 756 cervejarias reabriram, e muitas delas faliram durante a Grande Depressão. A ascensão das marcas nacionais, com suas cervejarias de escala industrial em vários locais, definiu o cenário de uma indústria. Os pequenos cervejeiros locais e regionais não conseguiram competir e muitos desapareceram. Em 1965, menos de 200 cervejarias permaneciam nos Estados Unidos e apenas 15 anos depois o número de cervejarias havia caído para menos de 50. Enquanto isso, o volume de cerveja produzido pelas marcas nacionais fez dos Estados Unidos a maior nação cervejeira do mundo por mais de meio século. De 105 milhões de hectolitros em 1959, a indústria dobrou para mais de 200 milhões (170 milhões de barris) em 1979. Os números correspondentes para a segunda colocada, Alemanha, naqueles anos foram 46 e 94 milhões de hectolitros. Na segunda década do século XXI, havia mais de 2.500 cervejarias nos Estados Unidos, um aumento de 50 vezes em relação a 1980. A Escola Americana, mais nova, caracteriza-se, então, por diversas releituras dos estilos tradicionais de escolas mais antigas e o uso de variedades próprias de seus ingredientes, principalmente no que diz respeito ao lúpulo (HERZ; CONLEY, 2015; YENNE, 2014). • American Amber Lager: uma adaptação da cerveja estilo Viena mais seca e menos centrada no lúpulo. É um estilo de cerveja artesanal amplamente disponível que mostra malte e lúpulo. As Amber Lagers são de corpo médio com um caráter de malte tostado ou caramelo. O amargor do lúpulo pode variar de muito baixo a médio-alto. • American India Pale Ale: caracterizada por lúpulos americanos florais, frutados, cítricos, pinheiros ou resinosos.Este estilo tem tudo a ver com sabor, aroma e amargor do lúpulo. Esta tem sido a categoria mais procurada no Great American Beer Festival por mais de uma década, e é o estilo cervejeiro americano mais vendido em supermercados e lojas de bebidas americanas. • American Pale Ale: amplamente considerada a cerveja artesanal americana original, o estilo começou em 1980 com Sierra Nevada Pale Ale e o lúpulo Cascade. Na verdade, era uma interpretação americana de um estilo inglês clássico. Hoje em dia, é provável encontrar uma American Pale Ale na maioria das cervejarias locais. E fácil de beber e, portanto, amigável para iniciantes em cerveja artesanal, mas ainda complexo o suficiente para agradar até o bebedor de cerveja artesanal mais experiente. Caracteriza-se pelo caráter frutado e cítrico do lúpulo da variedade americana, produzindo amargor, sabor e aroma de lúpulo médio a médio-alto. Corpo médio e malte baixo a médio, esta cerveja pode incluir baixo caráter de malte caramelo. A chave para esta cerveja é o equilíbrio entre malte e lúpulo, deixando ambos brilharem no sabor. • American Stout: esta é uma cerveja de café e chocolate, mas com um aroma e sabor de lúpulo perceptíveis, muitas vezes de uma variedade cítrica. As stouts americanas são ousadas, com um distinto amargor torrado no final. Os ésteres frutados devem ser baixos, mas a retenção de espuma é alta. Oatmeal é um ingrediente comum em American Stouts, dando mais corpo e retenção de espuma. A cevada torrada é o ingrediente que realmente diferencia essas cervejas das porters. 14 3.4 ESCOLA INGLESA A Escola Britânica de cervejas é, em conjunto com a alemã, uma das mais tradicionais e antigas. Abrangendo os estilos cervejeiros produzidos na Inglaterra, Irlanda e Escócia, este estilo é intimamente ligado à alta fermentação, tipo de fermentação em temperaturas maiores que utilizam a levedura Saccharomyces cerevisiae como base. As maiores temperaturas características deste modelo de fermentação estimulam as leveduras a produzir substâncias adicionais que compõem sabor e aroma das cervejas do tipo Ale. Neste sentido, as Ales são conhecidas por apresentarem características mais complexas e menos limpas que as Lagers. Por causa disso, existe uma variedade maior de estilos na Escola Britânica. A classificação das Ales da Inglaterra, Escócia e Irlanda inclui uma grande variedade de produtos relativamente semelhantes. As semelhanças não são muito óbvias, mas existem no tipo de malte e lúpulo que são usados na criação dessas cervejas. Embora agrupar a miríade de estilos diferentes nesta categoria elimine muitos dos estilos especiais que merecem menção individual, as tendências gerais nas diferenças dos estilos são a intenção (YENNE, 2014; MOSHER; TRANTHAM, 2017). • English Pale Ale/Extra Special Bitter (ESB): este estilo combinado de English Pale Ales e ESBs abrange uma gama de três estilos, amargo comum, amargo especial e amargo extra especial, ou ESB. Cada um é mais cheio de sabor e mais alto em álcool e açúcar residual do que o anterior. As Pale Ales inglesas possuem sabores terrosos e notas do lúpulo próprio da região. O amargor do lúpulo varia de médio a mais acentuado, quando as características da planta devem predominar. As cepas de levedura usadas nessas cervejas conferem um sabor frutado aos seus aromas e sabores, chamados de ésteres. O malte residual e a doçura definidora desta cerveja encorpada e de sabor rico é de médio a médio-alto. O ESB é conhecido por seu equilíbrio e pela interação entre o amargor do malte e do lúpulo. Scottish Ales: este estilo cervejeiro é marcado pelo sabor do malte. Possui sabores terrosos ou de ésteres sutis em razão da menor quantidade de lúpulo adicionado. Isso permite o destaque ao malte e pouco amargor característico do lúpulo. O resultado é uma cerveja maltada que tem muito pouco lúpulo ou amargor. Embora este seja o caso, o resultado não é um sabor excessivamente enjoativo ou doce. A faixa de ABV deste estilo varia entre 2 e 5%. Irish Ales: dentre os estilos de alta fermentação da Irlanda, o mais conhecido é a Stout. Trata-se de uma cerveja marcada pela coloração escura, quase preta, graças à quantidade significativa de maltes torrados aplicados, além do amargor acentuado próprio do lúpulo. Estas características resultam em sabores tostados e uma adstringência notável. Maiores valores de ABV são visíveis nas variedades de exportação das Irish Stouts, cuja versão mais conhecida é oriunda da marca 15 Guinness. Uma curiosidade inerente a este estilo é que a Guinness Extra Stout surgiu historicamente como a Extra Superior Porter, refletindo que a origem do estilo se conecta ao uso da palavra “Stout” como um indicativo de que a Stout era uma versão mais forte do estilo Porter. 3.5 ESCOLA BRASILEIRA O Brasil ainda não apresenta uma Escola Cervejeira robusta como as mais tradicionais do Reino Unido ou Alemanha. Mesmo assim, a produção cervejeira brasileira é alta e, segundo o Governo Federal, cerca de 14 bilhões de litros da bebida foram produzidas nacionalmente apenas no ano de 2016. Em razão do alto volume de produção e a grande demanda de mercado, o setor cervejeiro é responsável por cerca de 2,2 milhões de empregos e por 1.6% do PIB. A história cervejeira no Brasil iniciou-se por meio do Conde Maurício de Nassau, que introduziu as primeiras amostras da bebida no ano de 1637, quando desembarcou em Recife. Em companhia do Conde veio ao Brasil o cervejeiro Dirck Dicx, que auxiliou na construção da primeira cervejaria do continente em 1640. O comércio de cervejas em território nacional não deslanchou por causa da obrigatoriedade de compra dos vinhos portugueses à época. Esse cenário só foi alterado com a abertura das fronteiras econômicas do Brasil por força de decreto do rei Dom João VI, fato que permitiu a entrada das cervejas inglesas no país. No entanto, com o estabelecimento de colônias de imigrantes em várias regiões do país a partir de 1850, a preferência por cervejas da Escola Alemã estabeleceu-se, e foram difundidas. O mercado atual brasileiro de cervejas tem se destacado pelo surgimento de diversas microcervejarias que disponibilizam no mercado variações de estilos com notas próprias de sabor e aroma. Identifica-se o uso de adjuvantes para aumentar a complexidade sensorial da bebida como frutas e mel. Tudo isso resultou no primeiro estilo cervejeiro brasileiro reconhecido internacionalmente, a Catharina Sour. Desde 2007, o número de cervejarias e cervejas brasileiras cresceu seis vezes. Atualmente, temos registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) 1383, dados do final do ano de 2020. FONTE: <https://bit.ly/3IbWsUE>. Acesso em: 7 mar. 2022. INTERESSANTE 16 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As cervejas são muito mais que bebidas fermentadas em água, malte e lúpulo. Há muita história e complexidade em cada estilo de cerveja produzida pelo mundo, mostrando características locais e as preferências de consumo ao longo dos anos. • Desde os primórdios da história humana documentada, a produção de cervejas atravessou por diversas modificações quanto às técnicas aplicadas, tecnologias disponíveis e sabores mais preferidos. • Com a difusão do mercado globalizado, o rompimento de barreiras culturais permitiu o surgimento de novas escolas cervejeiras capazes de agregar muito valor à cultura cervejeira, como é o caso das Escolas Americana e Brasileira. Esta última é muito recente, mas já marcada por bastante criatividade e seu primeiro estilo reconhecido internacionalmente. RESUMO DO TÓPICO 1 17 AUTOATIVIDADE 1 As diferentes escolas cervejeiras difundiram-se por meiode seus característicos estilos. Hoje, estão disponibilizadas cervejas para todos os gostos, que atendem a sabores doces ou amargos, frutados ou ácidos. No entanto, a base para a produção de cerveja continua a mesma desde os primórdios. De acordo com o material de estudo e seus conhecimentos, considerando os quatro ingredientes básicos na produção da cerveja, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Água, malte, coentro e açafrão b) ( ) Água, malte, lúpulo e levedura. c) ( ) Água, mosto, fermento e levedura. d) ( ) Água, mosto, fermento e condimentos. 2 A Escola Alemã é uma das mais importantes e tradicionais da cultura cervejeira. Surgida na região da Bavária, que compreende aos territórios atuais da Alemanha, parte da França e República Tcheca. Essa escola guarda características únicas e possui o estilo mais consumido do mundo, a Pilsen. Considerando a Escola Alemã, sua origem, características e Estilos de Cervejas produzidos lá, analise as afirmativas a seguir: I- Surgiu por meio de movimentos migratórios vindos da Mesopotâmia. As tribos Alemãs adotaram a produção e se tornaram, junto com os Celtas, os maiores produtores e consumidores da bebida na Europa, no início da Era Cristã. II- A Escola Alemã está intimamente relacionada à família de cervejas Lager, cervejas de alta fermentação. III- Fazem parte dos estilos produzidos pelos Alemães: Helles, Bock e Berliner Weisse. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) Somente a afirmativa II está correta. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa III está correta. 3 Uma das escolas cervejeiras mais marcantes da história, sem dúvida, é a Escola Belga. Essa escola teve sua origem na região da Gália, o que, atualmente, diz respeito às regiões de França e Bélgica. Conceituando a Escola Belga e suas características, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 18 ( ) É a mais tradicionalista das Escolas existentes. ( ) Existem, atualmente, 22 Cervejarias Trapistas e todas ficam na Bélgica. ( ) Witbier, um estilo de Cerveja Belga, é caracterizada pela coloração clara e acréscimo de trigo não maltado e condimentos, como a casca da laranja amarga. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 A Escola Alemã sempre prezou pela excelência das cervejas produzidas no país. Para garantir que a qualidade fosse mantida, o governo alemão decretou a Lei da Pureza no século XVI e mudou o destino desta escola cervejeira para sempre. Disserte sobre a Lei da Pureza, sua importância para a Escola Alemã e as alterações sofridas pela Lei ao longo dos anos. 5 A Escola Americana de cervejas é marcada pela releitura de estilos clássicos experimentados em outras escolas. Isso permite que a Escola Americana transite pelos tipos Lager e Ale com criatividade e muito sabor. Nesse sentido, disserte sobre a American India Pale Ale e explique como ela pode ser considerada um exemplo de releitura. 19 CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS INSUMOS E SEUS RESULTADOS UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, estudaremos os insumos e matérias-primas, entenderemos a importância de cada um e, também, iremos conhecer como cada um desses componentes presentes na cerveja afeta as suas características finais. A cerveja, produto final do processo de fabricação por meio de fermentação, é projetada para ser um produto líquido pronto para consumo. É uma mistura complexa. Bem mais de 450 constituintes foram caracterizados e, além disso, contém macromoléculas como proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos e lipídios. Juntos, todos esses constituintes produzem o caráter da cerveja. Os constituintes da cerveja podem ser divididos em componentes voláteis e não voláteis. Os componentes voláteis têm maior pressão de vapor e são responsáveis pelo bouquet ou aroma da cerveja. Eles estão concentrados no headspace acima do líquido em um recipiente fechado e passarão para o destilado se a bebida for destilada. A mistura complexa de componentes voláteis no headspace ou em um extrato solvente da cerveja pode ser resolvida por cromatografia gás-líquido, usando colunas empacotadas ou capilares, e os componentes identificados por espectrometria de massa (GC-MS ou CG-EM). Os constituintes não voláteis incluem sais inorgânicos, açúcares, aminoácidos, nucleotídeos, polifenóis e resinas de lúpulo juntamente com macromoléculas como polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos. Tais compostos são geralmente resolvidos por cromatografia líquida de alta precisão (HPLC ou CLAE). Outra maneira de classificar os constituintes orgânicos da cerveja é com referência aos heteroátomos presentes. As cervejas contêm apenas vestígios de hidrocarbonetos, a maioria dos constituintes contém carbono, hidrogênio e oxigênio. Pequenas quantidades de constituintes contendo nitrogênio estão presentes, sendo que as proteínas são importantes para as propriedades físicas da cerveja. Em geral, cervejas diferentes contêm proporções diferentes dos mesmos constituintes. Somente quando novas matérias-primas são usadas, novos constituintes são encontrados na cerveja, como, por exemplo, cervejas de frutas belgas como a Framboise. No entanto, a contaminação acidental ou deliberada do mosto ou cerveja com microrganismos estranhos pode produzir novos metabólitos e sabores. 20 2 COMPOSIÇÃO DA CERVEJA O constituinte mais abundante da cerveja é a água, o meio no qual, na cerveja clarificada, todos os outros constituintes são dissolvidos (ROSA; AFONSO, 2015). O licor cervejeiro normalmente contém apenas vestígios de matéria orgânica, enquanto os íons principais são os cátions potássio, sódio, cálcio e magnésio e os ânions cloreto, sulfato, nitrato e fosfato. O excesso de nitrato na cerveja é indesejável, pois potencialmente os nitratos podem ser reduzidos a nitritos, que, com aminas, podem formar N-nitrosaminas cancerígenas (BRIGGS et al., 2004). O dióxido de carbono é um produto natural da fermentação e as cervejas contêm 3,5 ± 4,5 g/L. Cervejas supersaturadas e cervejas naturalmente condicionadas podem conter até 6 g/L, mas o gás será liberado assim que a pressão for liberada. O limiar sensorial de dióxido de carbono é de cerca de 1 g/L, portanto, a quantidade presente influenciará o sabor da cerveja. O teor de cerveja e outras bebidas alcoólicas é expresso em álcool por volume (ABV), que é a razão entre o volume de álcool etílico contido no licor e o volume do licor incluindo o álcool etílico (expresso em porcentagem para uma casa decimal). As cervejas podem conter entre 0,05% ABV, em uma cerveja sem álcool, até cerca de 12,5%. Na Alemanha, as cervejas bock devem conter mais de 6,0% ABV e as cervejas double bock mais de 7,5% ABV (BRIGGS et al., 2004). Os carboidratos totais remanescentes na cerveja podem ser estimados espectrofotometricamente com antrona em ácido sulfúrico a 85% para uma faixa de cervejas com valores entre 0,89 ± 5,98%, conforme a glicose encontrada. Cervejas light com baixo teor de carboidratos totalmente atenuadas, originalmente fabricadas para pacientes diabéticos, agora estão geralmente disponíveis com teores de carboidratos de 0,4 ± 0,9% p/v como glicose. Dos carboidratos presentes no mosto, glicose, frutose, sacarose, maltose e maltotriose geralmente serão fermentados. As cepas de levedura subatenuantes não fermentam maltotriose, enquanto as cepas superatenuantes fermentam parcialmente a maltotetraose, mas, em geral, as cervejas conterão apenas baixos níveis de açúcares fermentáveis além daqueles adicionados como substratos. No entanto, vestígiosde muitos outros açúcares podem ser detectados na cerveja, incluindo os monossacarídeos D-ribose, L-arabinose, D-xilose, D-manose e D-galactose, os dissacarídeos isomaltose, celobiose e kojibiose, e os trissacarídeos panose e isopanose (BRIGGS et al., 2004). Outros constituintes contendo carbono, hidrogênio e oxigênio podem ser encontrados na cerveja. Muitos componentes não voláteis são produtos do metabolismo da levedura. A maioria dos intermediários nas vias metabólicas foi detectada na cerveja. Em geral, as cervejas de alta fermentação apresentaram níveis de glicerol mais elevados 21 do que as cervejas do tipo Pilsen. A cerveja também contém butano-2, 3-diol (até 280 mg/L) e quantidades menores de pentano-2, 3-diol junto com 3-hidroxibutan-2-ona (acetoína, 3 ± 26 mg/L) e 3 -hidroxipentan-2-ona. É possível encontrar também nas cervejas alguns ácidos orgânicos como ácido pirúvico, ácido málico, ácido lático e ácido cítrico. Os níveis mais altos de ácido lático (e ácido acético) foram encontrados em cervejas 'ácidas' belgas. O nível de ácido oxálico nas cervejas é importante porque o sal de cálcio insolúvel pode causar turbidez na bebida. Ácidos fenólicos presentes na cerveja que, com outros polifenóis, são extraídos do malte e do lúpulo. Os polifenóis dão cores com sais férricos. As cervejas também contêm proantocianidinas (antocianogênios) das quais predomina a procianidina dimérica B-3. Polifenóis, particularmente proantocianidinas, reagem com proteínas durante o armazenamento da cerveja para produzir névoa não biológica, mas os rendimentos de antocianidinas, liberadas com ácido, não se correlacionam com a vida útil da cerveja (ESSLINGER, 2009; ROSA; AFONSO, 2015). Intimamente relacionadas aos polifenóis estão as resinas de lúpulo. Os principais agentes amargos na cerveja são os isômeros cis e trans da isocohumulona, isohumulona e isoadhumulona. Cervejas fabricadas com lúpulo fresco, o IBU aproxima- se de mg de iso-α-ácidos/L (ESSLINGER, 2009). As cervejas podem conter 10 ± 60 IBU e excepcionalmente 100 IBU. O limiar de detecção sensorial dos iso-α-ácidos é de 5 ± 6 mg/L e os tetraidro- e hexa-hidroiso-ácidos são ainda mais amargos. Embora pequenas quantidades dos constituintes voláteis do malte e do lúpulo possam sobreviver à fervura do mosto, a maioria dos constituintes voláteis da cerveja são produtos de fermentação. Depois do etanol, o maior grupo de constituintes voláteis são os álcoois superiores. Os principais álcoois superiores encontrados na cerveja são 3-metilbutanol (álcool isoamílico), 2-metilbutanol (álcool amílico ativo), 2-metilpropanol (álcool isobutílico), propanol (álcool propílico) e β-feniletanol (álcool fenetílico). Os compostos 4-vinilfenol e 4-vinilguaicol (4-hidroxi-3-metoxiestireno) são considerados off-flavors na maioria das cervejas. No entanto, o 4-vinilguaicol, que tem um sabor de cravo e especiarias, fornece parte do caráter essencial de Weizenbier e Rauchbier. Variedades de Ale e Lager podem conter 0 ± 0,09 mg/L de 4-vinilguaicol, abaixo do valor sensorial limite de 0,3 mg/L, mas a Weizenbier contém 0,8 ± 1,5 mg/L. Esses fenóis são formados pela descarboxilação do ácido trans-p-cumárico e ácido trans-ferúlico, respectivamente. Isso pode ocorrer termicamente durante o forno ou fervura do mosto ou enzimaticamente durante a fermentação. A capacidade das leveduras de descarboxilar ácidos cinâmicos (fenótipo Pof+) é forte em cepas selvagens de Saccharomyces, mas ausente em leveduras de cervejaria Lager e na maioria das leveduras de cervejaria. No entanto, está presente nas leveduras utilizadas na produção de cervejas de trigo. O nível de 4-vinilguaicol na cerveja diminui durante 22 o armazenamento (com meia-vida em torno de 60 dias a 18 °C), presumivelmente graças à formação de 4-(1-etoxietil)guaiacol. A descarboxilação do ácido cinâmico dará estireno, que é relatado como carcinogênico. Assim, as cepas de levedura Pof+ são evitadas na fabricação da maioria das cervejas. Cada um dos álcoois presentes nas cervejas é teoricamente capaz de esterificar cada um dos ácidos potencialmente dando quase 4.000 ésteres na cerveja. O acetato de etila é o principal éster encontrado. Os ésteres são biossintetizados durante a fermentação. Dos outros ésteres encontrados na cerveja, os ésteres etílicos predominam, mas os acetatos dos álcoois superiores (os chamados "ésteres de banana") também são importantes. Os ésteres, sem dúvida, contribuem para o sabor geral da cerveja e níveis anormalmente altos podem ser considerados como sabores estranhos. As cetonas são, como os aldeídos, compostos carbonílicos, mas não são os principais produtos da fermentação. Muitos dos presentes na cerveja podem ser derivados do óleo de lúpulo ou produtos de degradação da resina do lúpulo. Uma exceção pode ser o 2-acetilfurano, que ocorre em níveis mais altos em ales do que em lagers. Os derivados de 4-hidroxi-3 (2H)-furanona também contribuem para o sabor da cerveja. 5-Metil-4-hidroxi-3(2H)-furanona tem uma nota de sabor de cárneos, mas o nível na cerveja (0,12 ± 0,77 ppm) é inferior ao limiar sensorial. Vicinal ou α-dicetonas têm dois grupos carbonil em átomos de carbono adjacentes. A dicetona vicinal (VDK) mais importante na cerveja é a diacetil (butano- 2,3-diona) que é acompanhada por pequenas quantidades de pentano-2,3-diona. Essas dicetonas produzem sabores de caramelo com limites de 0,07 ± 0,15 mg/L e 0,9 mg/L, respectivamente. Diz-se que quantidades superiores a 0,15 mg/L de diacetil produzem um sabor estranho na cerveja Lager, mas níveis mais altos podem ser aceitáveis em Ales e Stouts. As cepas de levedura diferem na quantidade de diacetil que produzem e a escolha da cepa de levedura é provavelmente o fator mais importante no controle do nível de VDK na cerveja (BRIGGS et al., 2004). 3 PROPRIEDADES FÍSICAS E SENSORIAIS As propriedades físicas avaliadas por um bebedor de cerveja incluem cor, clareza, viscosidade e espuma (BETANCUR et al., 2020). Obviamente, se a cerveja for bebida diretamente de uma lata ou garrafa, essas propriedades terão menos impacto no consumidor. A cor da cerveja é, em grande parte, em razão das melanoidinas e caramelo presentes no malte e adjuntos usados, mas pode ocorrer caramelização adicional durante a fervura do mosto. Pequenos ajustes na cor da cerveja podem ser feitos pela adição de caramelo ao cobre ou com os substratos. Outros contribuintes para a cor da cerveja são os polifenóis oxidados, especialmente na presença de traços de metais, como ferro ou cobre. Em cervejas claras, a vitamina amarela riboflavina (<1 µM) pode contribuir significativamente para a cor. 23 Clareza é a ausência de turbidez. A maioria dos bebedores espera que sua cerveja seja límpida e pode rejeitar a cerveja turva sem sabor. As névoas da cerveja são de dois tipos: biológicas e não biológicas. A infecção da cerveja clarificada com bactérias ou leveduras selvagens produzirá uma névoa biológica por causa do crescimento do organismo invasor, quando a cerveja geralmente se tornará azeda e inaceitável. Com o uso de pasteurização e filtração estéril, a infecção biológica e a formação de turbidez são bastante raras. No entanto, cervejas estéreis mantidas por um período de tempo desenvolverão uma névoa não biológica. As névoas não biológicas mais comuns encontradas na cerveja são formadas por interações entre proteínas e polifenóis (ROSA; AFONSO, 2015). Névoas frias contém entre 45,5 e 66,8% de proteínas, cujos hidrolisados são ricos em resíduos de ácido glutâmico, prolina, arginina e ácido aspártico. A hidrólise alcalina das névoas da cerveja produz uma variedade de ácidos fenólicos, incluindo: ácidos ferúlico, sinápico, vanílico, siríngico, gálico, protocatecuico e cafeico.
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