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MÓDULO 2 IDENTIFICANDO, AVALIANDO E RESPONDENDO AOS PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS DO PACIENTE Os pensamentos automáticos não são peculiares a pessoas com angústia, eles são uma experiência comum a todos nós. A maior parte do tempo, nós mal estamos cientes desses pensamentos, embora com apenas um pouquinho de treinamento possamos facilmente trazer esses pensamentos à consciência. Os pensamentos automáticos podem estar em uma forma verbal, visual (imagens) ou em ambas as formas. Quando nos tornamos cientes dos nossos pensamentos, podemos automaticamente fazer uma checagem de realidade quando não estamos em sofrimento psíquico. Esse tipo de testagem de realidade automática e resposta a pensamentos negativos é uma experiência comum. Pessoas que estão aflitas, no entanto, podem não se engajar nesse tipo de exame crítico. A terapia cognitiva, então, ensina ferramentas para avaliar seus pensamentos de uma forma consciente estruturada, especialmente quando eles estão aflitos. Identificar, avaliar e responder a pensamentos automáticos (de uma forma mais adaptativa) usualmente produz uma mudança positiva em afeto. Ao explicar os pensamentos automáticos, é desejável que sejam utilizados os exemplos do próprio paciente. O momento oportuno para obter um pensamento automático do paciente é quando o terapeuta percebe uma mudança de afeto na sessão. Identificar pensamentos automáticos na hora dá ao paciente a oportunidade para testar e responder aos pensamentos imediatamente, de modo a facilitar o trabalho no resto da sessão. Já para identificar os pensamentos em uma situação já vivida, o terapeuta ajuda a paciente a reexperimentar a situação como se ela estivesse acontecendo no momento. Se um paciente tem dificuldade em identificar os pensamentos automáticos em uma situação interpessoal, o terapeuta pode ajudar a recriar a situação através do roleplay. O paciente descreve quem disse o que verbalmente, então o paciente desempenha o papel de si mesmo enquanto o terapeuta faz o papel da outra pessoa na interação. Uma pergunta que pode ajudar o paciente a identificar pensamentos automáticos é “o que estava passando na sua cabeça naquele momento?”. Após identificar esses pensamentos, o terapeuta ajuda o paciente à avaliar se eles são funcionais ou disfuncionais (se estão ou não trazendo sofrimento emocional). É impotante lembrar que os pacientes têm milhares de pensamentos em um dia, alguns disfuncionais, alguns não. Visando à eficácia terapêutica, o profissional seleciona apenas um ou alguns pensamentos chaves para serem avaliados em uma determinada sessão. Enetão, como selecionar os pensamentos automáticos mais úteis para avaliação? Como julgar esses pensamentos e como ensinar aos pacientes um sistema para avaliar os seus próprios pensamentos? Algumas perguntas que podem ajudar o terapeuta a decidir se um pensamento automático é útil são: 1. O que eu estou tentando alcançar nesta sessão? Trabalhar como esse pensamento nos ajuda a atingir as metas terapêuticas que eu tenho para a sessão? 2. O que o paciente colocou no roteiro? Focalizar esse pensamento inclui o problema sobre o qual ele deseja trabalhar? Se não, nós teremos tempo suficiente para chegar às preocupações dele? Ele colaborará comigo para avaliar esse pensamento? 3. Esse é um pensamento importante a ser focalizado? Ele parece significativamente distorcido ou disfuncional? Quão típico ou central ele é? Focalizá-lo ajudará o paciente em outras situações, além dessa? Explorá-lo irá ajudar-me a conceituar melhor o paciente? Tendo separado um pensamento automático, determinado que ele é importante e aflitivo e identificado suas reações acompanhantes (emocionais, fisiológicas e comportamentais), o terapeuta pode decidir ajudar o paciente a avaliá-lo. Algumas perguntas que podem ajudar à avaliar um pensamento automático são: 1. Quais são as evidências? Quais são as evidências que apóiam essa idéia? Quais são as evidências contra essa idéia? 2. Existe uma explicação alternativa? 3. Qual é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso? O que é o melhor que poderia acontecer? Qual é o resultado mais realista? 4. Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de mudar o meu pensamento? 5. O que eu deveria fazer em relação a isso? 6. O que eu diria a um amigo se ele ou ela estivesse na mesma situação? Após isso, o terapeuta pode ajudar a investigar, junto com o paciente, quais são as possíveis distorções cognitivas que podem estar mediando esses pensamentos, e então orientá- lo à resolução de problemas, imaginando um plano para melhorar essa situação. Para avaliar e responder aos pensamentos automáticos, um instrumento muito utilizado é o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD). Utilizando esse formulário, o paciente descreve: (1) a situação vivida, (2) os pensamentos presentes (e o quanto, de 0% à 100% acredita neles); (3) a emoção experimentada (e sua intensidade de 0% à 100%); (4) respostas adaptativas (que são obtidas através de sugestões de questionamentos sobre aqueles pensamentos relatados anteriormente); e (5) o resultado de o quanto o paciente, agora, acredita em seus pensamentos automáticos. É importante que o terapeuta, antes de passar o RPD como uma tarefa de casa, preencha o formulário durante a sessão, ensinando o paciente a como utilizá-lo. Assim, o paciente se sentirá mais seguro para avaliar seus pensamentos durante a semana. Uma vez que o paciente utiliza o RPD de forma correta e aprende a generalizar esses questionamentos para diversas situações, sentirá uma melhora geral em seu estado de humor. REFERÊNCIAS BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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