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Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 1 PROVA DE 3 PONTOS Sanção Penal: É a resposta estatal, no exercício do ius puniendi e após o devido processo legal, ao responsável pela prática de um crime ou de uma contravenção penal. Divide-se em duas espécies (consequências jurídico-penais decorrentes da prática criminal): Pena – reclamam a culpabilidade do agente, e destinam-se aos imputáveis e aos semi-imputáveis sem periculosidade. Medida de segurança – possuem como pressuposto a periculosidade e dirigem- se aos imputáveis e aos semi-imputáveis dotados de periculosidade, pois necessitam, no lugar de punição, de especial tratamento curativo. Assim, o Direito Penal é um sistema de dupla via, pois admite as penas (1ª via) e as medidas de segurança (2ª via) como respostas estatais aos violadores de suas regras. Observação: fala-se também em uma terceira via do Direito Penal, situações em que embora tenha sido cometida uma infração penal, não são impostas penas nem medidas de segurança, devido ao fato da punibilidade estatal ceder espaço à reparação dos danos causados à vítima. Pena – conceito: privação ou restrição de determinados bens jurídicos (liberdade, patrimônio, entre outros – em conformidade com a legislação em vigor) de um sujeito diante da ocorrência de um fato ilícito, com a finalidade de castigar seu responsável, readaptá-lo ao convívio em comunidade e, mediante a intimidação endereçada à sociedade, evitar a prática de novos crimes ou contravenções penais. É a reação que uma sociedade politicamente organizada opõe a um fato que viola uma das normas fundamentais da sua estrutura e, assim, é definido na lei como crime. A pena, como reação contra o crime (grave transgressão das normas de convivência) aparece com os primeiros agregados humanos, desde que existe a coexistência entre pessoas. Nenhuma sociedade pode dispensar a pena e sem essa ameaça de pena nenhuma sociedade existiu. Violenta e impulsiva nos primeiros tempos (sentimento de vingança), ela foi se disciplinando com o progresso das relações humanas, abandonando os apoios extrajurídicos e tomando o sentido de uma instituição de Direito posta nas mãos do poder público para a manutenção da ordem e segurança social. Fundamentos (por quê?) e finalidades (para quê?) da pena O estudo das teorias relaciona-se intimamente com as finalidades da pena. Há a divisão em três: Teoria absoluta (retributivas) – PUNIÇÃO – De acordo com essa teoria, a pena é a retribuição estatal justa ao mal causado pelo condenado, consistente na prática de um crime ou de uma contravenção penal - ao mal do crime impõe-se Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 2 o mal da pena. Não tem finalidade prática, pois não se preocupa com a readaptação social do infrator, punindo-se simplesmente como forma de retribuição ao mal causado. A pena atua como instrumento de vingança do Estado contra o criminoso, com a finalidade única de castigá-lo, fator esse que proporciona a justificação moral do condenado e o restabelecimento da ordem jurídica. A pena não pode ter nenhum caráter social, pois dessa maneira o indivíduo estaria sendo utilizado pra fins sociais. Se a pena tivesse caráter social e restaurador do cidadão, estaria ferindo a dignidade do criminoso. Por razões éticas, se o indivíduo praticou uma infração penal deve ser punido por isso. O crime é a negação do direito. A pena é a negação da negação do direito: -Kant: Pena é um imperativo categórico de ordem moral (a obrigação de punir o crime é moral, é ético punir). -Hegel: Pena é um imperativo categórico de ordem dialética. A pena deve ser imposta, o mal da pena é justo em retribuição do mal do crime que é injusto. Cumprir a pena seria uma negação ao crime. A pena nega o crime e o crime nega o direito (a pena é pra restaurar o direito que foi violado) – essa é a dialética, uma conversa/diálogo entre crime, pena e direito. Tem por finalidade a dialética, a restauração da vigência do Direito. Relativas – RESSOCIALIZAÇÃO e PREVENÇÃO - A pena deve ter uma finalidade restaurativa, de ressocialização, além de prevenção, ou seja, evitar a prática de novas infrações penais (punitur ne peccetur), sendo irrelevante a imposição de castigo ao condenado. A pena só se justifica se tiver função social. Se fosse possível prever que o sujeito nunca mais voltaria a cometer o crime, a pena perderia sua legitimidade pois não teria necessidade de prevenir o que não vai acontecer. Também não é possível ter um período determinado, pois se tem um fim de reeducar o indivíduo a pena deverá durar o período que a pessoa leve para se recuperar (penas indeterminadas e não tempo determinado, pois varia de acordo com cada sujeito). Adota-se uma posição totalemnte contrária à teoria absoluta, pois a pena não está destinada à realização da justiça sobre a terra, servindo apenas como proteção para a sociedade. A pena é um mal necessário e deve ter uma utilidade: -Prevenção geral (negativa): É destinada ao controle da violência, na medida em que busca diminuí-la e evitá-la. Sabendo da existência da punição, as pessoas são inibidas de cometer a infração penal, por medo da pena. Tem o propósito de criar no espírito dos potenciais criminosos um contraestímulo suficientemente forte para afastá-los da prática do crime. Busca intimidar os membros da coletividade acerca da gravidade e da imperatividade da pena, retirando-lhes eventual incentivo quanto à prática de infrações penais. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 3 Demonstra-se que o crime não compensa, pois ao seu responsável será inevitavelmente imposta uma pena. Devido a isso, as execuções devem ser públicas e divulgadas o máximo possível, para gerar uma coação psicológica geral (servir de exemplo). No nosso cenário atual isso está claro no estado do Espírito Santo (praticamente um expurgo). A pena serve como exemplo, o indivíduo vê o outro sendo punido e se inibe a praticar a infração para não ser punido também. A punição é geral, para todos. Por meio do exemplo, dirige-se a prevenção a todos, de forma genérica – a ameaça da pena é destinada a toda a sociedade e não a um indivíduo em especial. -Prevenção geral (positiva): Consiste em demonstrar e reafirmar a existência, a validade e a eficiência do Direito Penal. Almeja-se demonstrar a vigência da lei penal. A pena tem a missão de demonstrar a inviolabilidade do Direito diante da comunidade jurídica e reforçar a confiança jurídica do povo. -Prevenção especial (negativa): A pena não intimida a não praticar crime, e sim satisfaz as pessoas em ver que o direito é eficiente. É relacionada ao indivíduo em especial. Ao punir o indivíduo, impede-se a prática de crimes por aquele indivíduo, específico em relação a ele e não a toda a sociedade indistintamente. O importante é intimidar o condenado para que ele não torne a ofender a lei penal. Busca-se por tanto evitar a reincidência. Isso ocorre por meio de segregação e reeducação (tira o indivíduo da sociedade para não cometer mais crimes e reeduca para quando retornar à sociedade não volte a cometer a infração. É chamada especial por ser direcionada exclusivamente à pessoa do condenado. -Prevenção especial (positiva): Preocupa-se com a ressocialização do condenado, para que no futuro ele possa retornar ao convívio social preparado para respeitar as regras a todos impostas pelo Direito. A pena é legítima somente quando é capaz de promover a ressocialização do indivíduo. Mistas (ou ecléticas) – Pena com caráter retributivo/punitivo mas também de reeducação/reintegração do indivíduo. É uma mistura das duas teorias anteriores – a pena deve, simultaneamente, castigaro condenado pelo mal praticado e evitar a prática de novos crimes, tanto em relação ao criminoso como no tocante à sociedade. A pena assume tríplice aspecto: retribuição, prevenção geral e prevenção especial. É a teoria utilizada pelo ordenamento jurídico brasileiro: Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 4 Art. 59 (caput) - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Princípios constitucionais O que são princípios? Alicerces, fundamentos inerentes à sociedade, nem sempre positivados. Postulados de origem geral, servem como um farol. Os princípios possuem uma característica de generalidade e flexibilidade que as regras não possuem, são mais amplos que regras (mas não deixam de ser norma, assim como as regras também o são). Princípios que se contradizem podem coexistir, sem nenhum problema, apenas respeitando um critério de ponderação na hora da aplicação. Um não elimina o outro. Já as regras, dada sua rigidez e especificidade, caso sejam coincidentes uma deverá ser eliminada. Princípio da legalidade e Princípio da anterioridade (CF, artigo 5º XXXIX – cláusula pétrea) Também chamado de reserva legal. Nulla poena sine praevia lege – somente a lei pode cominar pena (legalidade). Não se pode aplicar uma pena que não esteja prevista no momento do crime (anterioridade) , salvo se a nova pena for mais benéfica ao réu (lei em sentido estrito – lei mesmo (produzida de acordo com o processo legislativo constitucional) devido ao princípio da retroatividade penal. Obs: lei em lato senso é qualquer ato normativo, decreto, medida provisória etc). Art 5º XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Princípio da personalidade (intranscendência, intransmissibilidade) - (artigo 5º, XLV) A pena só se aplica para quem praticou o crime ou pelo menos ajudou (autor, coautor e partícipe). Ninguém pode ser responsável criminalmente pela prática criminosa de terceiro (ela nunca ultrapassa a pessoa do condenado. Art 5º XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 5 É possível, porém, que a obrigação de reparar danos e a decretação de perdimento de bens, compreendidos como efeitos da condenação, sejm, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas até o limite do valor do patrimônio transferido (como se a dívida herdada fosse uma pena (segundo alguns autores, mas há bastante divergência)). Princípio da Individualização da Pena (artigo 5º, XLVI) Tirar o caráter genérico da pena e individualizá-la a cada indivíduo. Elege a justa e adequada sanção penal, quanto ao montante, ao perfil e aos efeitos pendentes sobre o sentenciado, tornando-o único e distinto dos demais infratores, ainda que coautores ou partícipes do delito. Sua finalidade e importância residem na fuga da padronização da pena. Repousa no ideal de justiça segundo o qual se deve distribuir, a cada indivíduo, o que lhe cabe, de acordo com as circunstâncias específicas do seu comportamento – ou seja, não aplicar a pena levando em conta a norma em abstrato, mas especialmente os aspectos subjetivos e objetivos do crime. Ocorre em três momentos: -Formação da lei penal (legislativo) - dirigido primeiramente ao legislador na própria construção da lei penal – a pena deve ser posta de acordo com a magnitude do fato, de cada infração. Não seria correto a pena para homicídio e para roubo de galinha ser a mesma. Ex: homicídio – 6 a 20 anos. -Concretização da pena (judicial) – já há o crime e o criminoso, considera-se FATO (crime) + HOMEM (criminoso). Considera-se a conduta do indivíduo, antecedentes, se liderou o crime ou só participou etc. -Execução da pena (administrativa) – progressão, regressão etc. De acordo com os méritos pessoais na execução da pena o indivíduo pode acabar progredindo de regime entre outras coisas. Art 5° XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; Princípio da inevitabilidade (ou inderrogabilidade) Sustenta que a pena, se presentes os requisitos necessários para a condenação, não pode deixar de ser aplicada e integralmente cumprida. É, contudo, Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 6 mitigado por alguns institutos penais, como por exemplo a prescrição, o perdão judicial,m o sursis, o livramento condicional etc. Princípio da intervenção mínima A pena é legítima unicamente nos casos estritamente necessários para a tutela de um vem jurídico penalmente reconhecido. Princípio da humanidade (ou humanização das penas) A pena deve respeitar os direitos fundamentais do condenado enquanto ser humano, não podendo assim violar sua integridade física e moral. Princípio da proporcionalidade A resposta penal deve ser justa e suficiente para cumprir o papel de reprovação do ilícito, bem como para prevenir novas infrações penais. Funciona como barreira ao legislador e ao magistrado, orientando-o na dosimetria da pena. Deve haver correspondência entre o ilícito cometido e o grau da sanção penal imposta, levando-se ainda em conta o aspecto subjetivo do condenado. Princípio da Limitação das Penas Não é qualquer pena que pode ser objeto penal. Penas proibidas (em tempo de paz): -Pena de morte (é prevista somente no código militar, no caso de guerra declarada). -Penas de caráter perpétuo: impedem a regeneração e ofendem a dignidade do indivíduo. Penas com contorno de prisão perpétua também são proibidas – ex: pena de 30 anos para um indivíduo de 70 anos: entende-se que a pessoa ficaria presa pelo resto da sua vida, tendo assim um caráter perpétuo (e consequentemente sendo proibido). *Crimes imprescritíveis também são proibidos (mas isso a própria Constituição Federal prevê). *O cumprimento da pena deve ser de no máximo 30 anos. A condenação pode ser muito maior, porém o indivíduo não pode ficar mais de 30 anos dessa pena encarcerado. A única hipótese é quando as penas concorrem (tinha sido condenado à 50 anos, cumpriu 5 e cometeu outro crime sendo condenado a mais 30 anos, etc), ou seja, é possível reencher o tanque da pena, ficando novamente limitado a 30 anos (isso se esse novo crime foi cometido após o início da execução da pena do outro crime). – Artigo 75 CP: Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 7 Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) -Pena de trabalhos forçados: isso se equivaleria à escravidão. Trabalhos de presidiáriosàs vezes são vistos como forçados, mas não o são, pois não é algo forçado, existindo inclusive benefício para quem o faz (a cada três dias de trabalho diminui um dia da pena). Alguns autores dizem que o trabalho na comunidade seria forçado também, mas como não são obrigatórios não se encaixam como forçados (é uma escolha que também possui benefícios para o réu). -Pena de banimento (privação da cidadania com proibição de entrada no território nacional). – era muito comum nas ordenações filipinas. -Penas cruéis (inclusas também as penas infamantes – ex: tatuar um símbolo na pessoa etc.) – constrangimento físico, psíquico, castração química, etc. Classificação das Penas As penas são classificadas de acordo com o bem jurídico atingido. Penas corporais – recaem sobre a pessoa física do condenado, sobre sua integridade física – ex: morte, açoite, mutilação, etc. São vedadas pelo artigo 5º XLVII, e , CF. Penas privativas de liberdade – penas que privam o indivíduo de sua liberdade. São advindas do direito canônico, onde para que o indivíduo não fugisse de sua pena, era privado de sua liberdade (prendia para que realmente sofresse a punição). Retira do condenado o seu direito de locomoção, em razão de prisão por tempo determinado. Penas restritivas de liberdade – limitam (restringem) o exercício da liberdade, mas não o suprimem (não o privam da liberdade) - ex: proibição de frequentar certos lugares, de se aproximar da vítima, limitação de final de semana, etc (penas alternativas). Penas pecuniárias – Incide sobre o patrimônio do condenado - multa, perdimento de bens. Penas restritivas de direitos em geral – Limitam um ou mais direitos do condenado, em substituição à pena privativa de liberdade – ex: prestação pecuniária, prestação de serviços à comunidade etc. A restritiva de liberdade é um dos tipos dessa pena (liberdade é um dos direitos que pode ser restrito). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 8 Há também a classificação das penas quanto ao critério constitucional: rol exemplificativo e quanto ao critério do Código Penal: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa. Concurso de crimes É o instituto que se verifica quando o agente, mediante uma ou várias condutas, pratica duas ou mais infrações. Pode haver, portanto, unidade ou pluralidade de condutas, mas sempre serão cometidas duas ou mais infrações penais. Há na legislação brasileira dois sistemas de aplicação da pena: Cumulatividade material (soma integral): Aplica-se ao réu o somatório (soma aritmética integral) das penas de cada uma das infrações penais pelas quais foi condenado. Aplica-se no concurso material/real – artigo 69 CP e no concurso formal imperfeito/impróprio – artigo 70, in fine . Ex: foi condenado a três crimes, com penas respectivamente de 3 anos, 2 anos e 4 anos - Nesse sistema, a pena dessa pessoa seria de 9 anos (3+2+4 anos = 9 anos). A pena de cada crime é calculada sem se importar com o outro crime, e no final apenas há a somatória de todas as penas desse concurso de crimes. Acredita-se no caráter retributivo da pena. Crítica: essa simples operação aritmética pode resultar em uma pena muito longa, desproporcionada com a gravidade dos delitos, desnecessária e com amargos efeitos criminógenos. È possível que o agente atinja a ressocialização com uma pena menor. Exasperação (uma das penas, aumentada em certas frações): Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave praticada pelo agente, aumentada de determinado percentual. Aplica-se ao concurso formal perfeito/próprio – artigo 70, 1ª parte e ao crime continuado. No caso do concurso formal homogêneo e crime continuado homogêneo há a aplicação da pena de um só dos crimes (no caso do concurso heterogêneo – quando as penas dos crimes do concurso são diferentes entre si - aplica-se a pena mais grave) aumentada de uma fração, determinada pela gravidade das demais infrações penais. Aqui acredita-se que a pena tem caráter de ressocialização, assim ela não deve ser exagerada, apenas suficiente para restaurar o condenado (por isso aplica-se apenas uma pena aumentada, e não a somatória de todas). Absorção: Considera que a pena do delito mais grave absorve a pena do delito menos grave, que deve ser desprezada. Aplica-se exclusivamente a pena da infração penal mais grave, dentre as diversas praticadas pelo agente, sem qualquer aumento. Crítica: os vários crimes menores ficariam impunes, sendo uma carta de alforria para quem já delinquiu. Foi consagrado pela jurisprudência em relação aos crimes falimentares praticados pelo falido. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 9 Cúmulo jurídico: A pena a ser aplicada deve ser maior do que a cominada a cada um dos delitos sem, no entanto, se chegar à soma delas. As únicas adotadas pelo Direito Brasileiro são: cúmulo material e exasperação. Resumindo: CONCURSO MATERIAL (2 ou mais condutas produzem 2 ou mais crimes) Sistema do cúmulo material. CONCURSO FORMAL (1 conduta produz 2 ou mais crimes) A)Perfeito a1)Homogêneo Sistema da exasperação da pena (qualquer uma aumentada de 1/6 a ½) a2)Heterogêneo Sistema da exasperação da pena (a pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a ½) B)Imperfeito b1)Homogêneo Sistema do cúmulo material (penas somadas) b2)Heterogêneo Sistema do cúmulo material (penas somadas) CRIME CONTINUADO A)Comum Sistema da exasperação da pena (pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a 2/3). B)Qualificado Sistema da exasperação da pena (pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a 2/3). C)Específico Sistema da exasperação da pena (pena do crime mais grave aumentada até o triplo). Tipos de concurso de crimes: Concurso formal (ideal/ideológico) - Há uma única conduta, com pluralidade de lesões típico-penais (unidade de conduta + pluralidade de infrações/resultados). A unidade de conduta somente se concretiza quando os atos são realizados no mesmo contexto temporal e espacial. Contudo, a unidade de conduta não importa, obrigatoriamente, em ato único, pois já condutas fracionáveis em diversos atos (como quem mata alguém (conduta) mediante diversos golpes de punhal (atos)). Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 10 Homogêneo – Quando os crimes são idênticos. Exemplo: três homicídios culposos praticados na direção do veículo automotor. Heterogêneo – Quando os delitos são diversos. Exemplo: A , dolosamente, efetua disparos de arma de fogo contra B , seu desafeto, matando-o. O projétil, entretanto, perfura o corpo da vítima, resultando em lesões culposas em terceira pessoa. Próprio (perfeito) – É a espécie de concurso formal em que o agente realiza a conduta típica, que produz dois ou mais resultados, sem agir com desígnios autônomos. Desígnio autônomo, ou pluralidade de desígnios, é o propósito de produzir, com uma única conduta, mais de um crime. É fácil concluir, portanto, que o concurso formal perfeito ou próprio ocorre entre crimes culposos, ou então entre um crime doloso e um crime culposo. Impróprio (imperfeito) – É a modalidade de concurso formal que se verifica quando a conduta dolosa do agente e os crimes concorrentes derivam de desígnios autônomos. Cuidam-se, assim, de dois crimes dolosos (qualquer que seja a espécie – dolo direito ou dolo eventual). A ação é una, mas os desígnios são autônomos, ou seja, há o dolo em todas as ações do concurso, o autor deseja cometer todas as infrações ( matar dois coelhoscom uma paulada só ). A conduta não é aferida apenas por conteúdos externos. A orientação subjetiva importa muito mais do que as ações externas. O agente quer os múltiplos resultados decorrentes de sua conduta de forma dolosa. Atua com desígnios específicos em relação a cada resultado. Subjetivamente sua conduta não é única, embora externamente o seja. Aqui há dolo eventual/culpa. Ex: o portador de doença venérea estupra alguém e tem a intenção de transmitir a doença à vítima, como forma de vingança/punição – em uma mesma ação comete duas infrações. Ex 2: um genro coloca veneno na comida em que sabia que os sogros iriam comer – mesma ação com mais de um resultado, e há a vontade de que ambos os resultados ocorrem. Aplicação de pena no concurso formal: Perfeito: Aplica-se uma das penas, aumentada de 1/6 ou até a metade – exasperação. No concurso homogêneo, pode ser aplicada qualquer uma das penas. No heterogêneo, aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até a metade. Ex: um portador de doença venérea estupra uma pessoa, mas não há a intenção de transmitir a doença – comete uma única ação e não há desígnio de cometer a outra (transmitir a doença). O concurso formal perfeito é causa de aumento de pena, e incide, por corolário, na terceira fase de aplicação da pena. E na aplicação da pena privativa de liberdade, esse aumento não incide sobre a pena-base, mas sobre a pena acrescida por circunstância qualificadora ou causa especial de aumento. É nítida a conclusão de que Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 11 a regra do concurso formal perfeito constitui-se em flagrante benefício ao réu. O Código Penal utilizou-se dessa opção, todavia, por se tratar de hipótese em que a pluralidade de resultados não deriva de desígnios autônomos, eis que os crimes são culposos ou no máximo, apenas um é doloso e os demais, culposos. Em regra, a pena é caracterizada assim: Número de crimes Aumento da pena 2 1/6 3 1/5 4 1/4 5 1/3 6 ou mais 1/2 Imperfeito: Sistema do cúmulo material. De fato, se há desígnios autônomos. Há dolo na conduta que produz a pluralidade de resultados, e o agente deve responder por todos os resultados a que deu causa, sem nenhum tratamento diferenciado. Concurso material benéfico: O concurso formal próprio ou perfeito, no qual se adota o sistema da exasperação para aplicação da pena, foi criado para favorecer o réu, afastando o rigor do concurso material nas hipóteses em que a pluralidade de resultados não deriva de desígnios autônomos. Sena contraditório, portanto, que a sua regra, no caso concreto, prejudicasse o agente. Assim, quando o sistema da exasperação for prejudicial ao acusado, deve ser excluído, para o fim de incidir o sistema do cumulo material, pois a soma das penas é mais vantajosa do que o aumento de uma delas com determinado percentual, ainda que no patamar mínimo. Apesar de ser aplicada a exasperação, no concurso formal heterogêneo pode ser que a aplicação da exasperação cumule em uma pena maior ao réu (isso ocorre quando a gravidade entre os crimes é bastante distinta), sendo nesse caso aplicada a cumulatividade. Ex: homicídio simples (6 a 20) + lesão corporal leve – 6 anos (pena mínima) + 1/6 (1/6 de 6 = 1) = 7 anos. Nesse caso, a exasperação seria prejudicial ao réu (e não estaria cumprindo o caráter a que se destina, de aplicar penas menores com intuito de ressocialização, e não punição. Aplicar uma pena maior seria como punir, o que vai totalmente contra a intenção da exasperação), pois a pena mínima para lesão corporal é de 3 meses. Assim, aplicaria-se a cumulatividade material benéfica – 6 anos + 3 meses = 6 anos e 3 meses, e não 7 anos (artigo 70 - Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do artigo 69 deste Código). Crime continuado – (artigo 71) – Crime continuado, ou continuidade delitiva, é a modalidade de concurso de crimes que se verifica quando o agente, por meio de duas ou mais condutas, comete dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, local, modo de execução e outras semelhantes, devem os Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 12 subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. É uma forma de concurso material (as condutas são autônomas, se tirar uma não desclassifica o crime, apenas tira uma repetição dele), mas com crimes praticados em determinadas circunstâncias que permitem que os crimes sejam atrelados um ao outro (crimes de mesma espécie). É uma ficção penal, para que existam punições mais brandas. Razões de política criminal para evitar penas severas (Por razões de política criminal, a lei confere a uma pluralidade de delitos – que na verdade são autônomos e distintos – característica de unidade, desde que presentes determinadas circunstâncias. Por ficção jurídica consideram-se vários crimes como se fossem um só, em continuação ). Isso é decorrente no Direito Penal primitivo, onde as penas eram extremamente severas, e em caso de concurso de três crimes, poderia no primeiro ingerir óleo fervente e no terceiro poderia ter seu braço arrancado etc – penas extremamente severas. OBS: Não confundir com crime habitual. No crime habitual há um só tipo penal, que só se configura se a conduta se expressar com habitualidade. Pune-se um hábito. Ex: exercício ilegal da medicina – uma conduta só mas que demonstra que não acontecerá apenas uma vez. Se prescrever um remédio uma só vez não configura, agora se alugar uma sala contratar uma secretária e começar a prescrever demonstra que isso vai ser habitual, do contrário não alugariam sala pra isso, pra praticar a conduta uma só vez. O que determina o crime habitual é o tipo – se ele não prever a habitualidade, não será crime habitual. Ex: exercer ilegalmente a medicina uma única vez não caracteriza crime habitual, pois o tipo prevê que isso precisa acontecer reiteradamente, caracterizando um hábito – obs: aqui é uma conduta só, diferente do crime continuado, que se roubar 24 vezes, serão 24 condutas e não apenas uma como no crime habitual. No crime continuado, vários delitos, por ficção jurídica, são legalmente considerados como um só, para fins de aplicação da pena. Cada crime parcelar, contudo, tem existência autônoma, e, não fosse a série de continuidade, subsistiria isoladamente como fato punível. Como exemplo, três apropriações indébitas cometidas por um indivíduo nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outra semelhantes caracterizam um crime continuado, mas não se pode dizer que uma apropriação indébita, por si só, não seja crime. De seu turno, crime habituai é aquele em que cada ato isolado representa um indiferente penal. O crime somente se aperfeiçoa quando a conduta é reiteradamente praticada peio agente. Exemplificativamente, cada ato de exercício ilegal da medicina, analisado separadamente, é irrelevante, mas a pluralidade de atos iguais acarreta na tipicidade do fato Natureza jurídica: 1. Teoria da ficção jurídica: A continuidade delitiva é uma ficção criada pelo Direito. Existem, na verdade, vários crimes, considerados como um único delito para fins de aplicação da pena. Os diversos delitos parcelares formam um crime final. Foi a teoria Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 13 acolhida pelo artigo 71 do Código Penal. Obs: A unidade do crime continuado se opera exclusivamente para fins de aplicação da pena. 2. Teoria da realidade: Vislumbra o crime continuado como um único delito. Para ele, a conduta pode ser composta por um ou vários atos, os quais não necessariamente guardam absoluta correspondência com a unidade ou pluralidade de delitos. Requisitos para acontinuidade delitiva: 1. Pluralidade de condutas: não confundir conduta com ato (uma conduta pode ser fragmentada em vários atos – ex: roubar um relógio, depois um celular – mesma conduta, dois atos). 2. Pluralidade de infrações (se parasse nesses 2 itens, seria apenas concurso material – agregando-se as condições do artigo 71 considera-se crime continuado); 3. Crimes de mesma espécie: as várias infrações precisam ser da mesma espécie – há divergência doutrinária quanto ao que são crimes de mesma espécie. Duas correntes: - 1ª: Os que têm as mesmas elementares, ou seja, mesmo tipo básico, com suas formas tentada, majorada, privilegiada e qualificada (Hungria, Damásio etc). São os tipificados pelo mesmo tipo penal, consumados ou tentados, seja na forma simples, especial ou qualificada. É uma posição consolidada pelo STJ. - 2ª: Não precisa ser definido no mesmo tipo, desde que se componham de similares elementos objetivos e subjetivos. São aqueles que tutelam o mesmo bem jurídico. É a posição do STF. Há uma questão se lesões a bens jurídicos pessoais, de vítimas diferentes podem caracterizar crime continuado. Ex: estuprar pessoas diferentes, com alguns dias de diferença – bem jurídico atingido: dignidade sexual – mesmo bem jurídico pessoal, porém vítimas diferentes. Antes da reforma penal não se admitia crime continuado em caso de condutas contra a vida (súmula). Após a reforma essa súmula perdeu sua força perante a nova lei, passando a ser permitido, sendo classificado como crime continuado qualificado ou específico (podendo aumentar a pena até no triplo). Com a reforma da parte geral (art 71, parágrafo único), admite-se a continuidade, mas o tratamento legal é mais rigoroso. A pena pode ser exasperada até o triplo . 4. Nexo lógico de continuidade (indicado por circunstâncias de tempo, lugar, modo de execução ( modus operandi ) etc). Condições: a)Tempo – Necessária proximidade temporal. A lei não define, mas a doutrina e a jurisprudência construíram uma ideia de mais ou menos 30 dias. É importante Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 14 lembrar que se trata de uma conexão temporal, e não de imediatismo cronológico. Há uma exceção para crimes contra a ordem tributária – 3 meses. b)Lugar – Também não há na legislação, tendo a doutrina e a jurisprudência definindo algumas correntes. Uma delas defende que deve ser na mesma comarca, outra defende que a proximidade deve ser analisada no caso concreto, e não fixada previamente. A jurisprudência fixou que os delitos devem ser praticados na mesma cidade ou no máximo em cidades limítrofes, próximas entre si. c)Modo de execução – Forma como o sujeito realiza o crime. O agente deve seguir sempre um padrão análogo em suas diversas condutas. Ex: golpe da guitarra (máquina de fazer dinheiro) e cheque sem fundo – não há relação entre o modo de execução de ambos. Há divergência quanto ao crime com mudança de partícipe, onde o criminoso pratica várias condutas, cada uma com um partícipe diferente. Uma doutrina defende que a mudança de partícipe descaracteriza o crime continuado. Outra teoria já defende que só alterar com quem a pessoa fez o crime não descaracteriza a continuação. o Sobre o crime continuado e a unidade de desígnios: 1ª Teoria objetivo-subjetiva: Não basta a presença dos requisitos objetivos previstos no art. 71, caput, do Código Penal. Reclama-se também a unidade de desígnio, isto é, os vários crimes resultam de plano previamente elaborado pelo agente. É necessário que entre essas condições haja uma ligação, um liame, de tal modo a evidenciar-se, de plano, terem sido os crimes subsequentes continuação do primeiro. O entendimento do STF é no sentido de que a reiteração criminosa indicadora de delinquência habitual ou profissional é suficiente para descaracterizar o crime continuado. Essa posição deve ser utilizada em concursos públicos que exigem uma postura mais rigorosa do candidato, para o fim de diferenciar o crime continuado, extremamente vantajoso ao réu, da atividade habitual daquele que adota o crime como profissão. 2ª Teoria objetiva pura ou puramente objetiva: Basta a presença dos requisitos objetivos elencados pelo art, 71, caput, do Código Penal. Sustenta ainda que, como o citado dispositivo legal apresenta apenas requisitos objetivos, as outras semelhantes condições ali admitidas devem ser de natureza objetiva, exclusivamente. Em suma, dispensa-se a intenção do agente de praticar os crimes em continuidade. É suficiente a presença das semelhantes condições de índole objetiva. o Espécies de crime continuado e dosimetria da pena: O art. 71 do Código Penal apresenta três espécies de crime continuado: simples, qualificado e específico. Foi adotado, em todos os casos, o sistema da exasperação. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 15 Crime continuado simples ou comum é aquele em que as penas dos delitos parcelares são idênticas. Exemplo: três furtos simples. Aplica-se a pena de um só dos crimes, aumentada de 116 a 213. No crime continuado qualificado, as penas dos crimes são diferentes. Exemplo: um furto simples e um furto qualificado. Aplica-se a pena do crime mais grave, exasperada de 116 a 213. Em ambas as situações, o vetor para o aumento da pena entre 116 e 2/3 é o número de crimes, exclusivamente. Segue-se a sistemática abaixo: Número de crimes Aumento da pena 2 1/6 3 1/5 4 ¼ 5 1/3 6 ½ 7 ou mais 2/3 É possível o aumento da pena na fração máxima (2/3) quando não se conhece, com exatidão, o número de delitos praticados pelo agente, desde que sejam vários e prolongados em amlo espaço de tempo. Por sua vez, crime continuado específico é o previsto no parágrafo único do art 71 do Código Penal, o qual se verifica nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça á pessoa. Aplica-se a pena de qualquer dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada até o triplo O crime continuado, em qualquer de suas espécies, constitui-se em causa obrigatória de aumento da pena, e incide, por corolário, na terceira fase de aplicação da pena. Se, entretanto, os diversos crimes parcelares forem objetos de variadas ações penais, em juízos distintos, não unificadas antes do trânsito em julgado, é possível a unificação das penas em sede de execução, com fulcro no art. 82 do Código de Processo Penal. o Pelos mesmos fundamentos explicados no concurso formal (item 37.5.4.), a pena do crime continuado não pode exceder a que seria resultante do concurso material. É o que se extrai da parte final do art. 71, parágrafo único, do Código Penal. o Crime continuado e conflito de leis no tempo: A Iei mais gravosa deve ser aplicada a toda a série delitiva, pois o agente que insistiu na empreitada criminosa, depois da entrada em vigor da nova lei, tinha a opção de seguir ou não seus mandamentos. Além disso, se o crime Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 16 continuado é um único delito para fins de aplicação da -pena, deve decidir a lei em vigor por ocasião da sua conclusão. Nesse sentido é o teor da Súmula 711 do Supremo Tribunal Federai: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior á cessação da continuidade ou da permanência MULTA: Obedece ao sistema da cumulatividade material. São aplicadas pela somatória de todas as multas (não se calcula a maior + uma parte da outra). O sistema da exasperação é utilizado apenas para o regime prisional. Legislação seca: Concurso material Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa d/e liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Concurso formal Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime continuado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art69 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art69 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art69 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art69 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art69 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art70 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art70 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art70 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 17 Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços (exasperação). (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro na execução – Quando depois de iniciados os atos preparatórios a ação é viciada, é falha – atingindo outro alvo ou cometendo outro crime. Aberratio Ictus – artigo 73, CP Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código (unidade simples). No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código (unidade complexa). (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O agente, visando atingir um alvo, atinge outra pessoa, por erro na execução de sua conduta (bem jurídicos iguais – vida). O erro sempre vai recair sobre o ato executório – o agente tem o dolo de praticar o delito mas acaba atingindo pessoa diversa da pretendida. Há a vítima virtual, que é o alvo pretendido e a vítima real, que é o alvo atingido. O agente responderá como se tivesse atingido a pessoa pretendida – as características a serem consideradas são as da vítima virtual – seja para beneficiar (ex: X estupra a filha de Y, que tenta matar X, porém atinge Z – Y responderá como se tivesse matado X, e terá a causa de diminuição por relevante valor moral considerada, mesmo Z não tendo nada a ver com isso – isso porque a motivação do crime é X, não Z) ou prejudicar sua condição (ex: X tenta matar Y por algum motivo fútil (causa de aumento da pena) porém atinge Z – responderá como se tivesse matado Y e será considerado o motivo torpe como causa de aumento da pena, mesmo que essa não tenha sido a razão de matar Z – o que importa é a motivação do crime). Aqui há erro quanto à execução – erro de mira, etc. Aqui não há engano quanto à pessoa – ele quer atingir o A, tenta atingir o A mas por erro de pontaria ou algo do tipo atinge o B. Ex: o marido tenta bater em sua mulher mas seu irmão entra na frente – o caso é julgado segundo a Lei Maria da Penha, pois http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art73 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 18 atingir o irmão foi erro de execução, e assim ele é julgado como se tivesse atingido sua mulher (que era a pessoa que pretendia atingir). São levadas em conta as características da vítima virtual (a que pretendia atingir) e não da real (a que realmente atingiu). Com resultado único (unidade simples): Consideram-se as qualidades e condições da vítima virtual e não as da vítima real (efetivamente atingida). Com resultado múltiplo (unidade complexa): Aplicam-se as regras do concurso formal de infrações (artigo 70 CP). Unidade simples (resultado único) – Por erro na execução atinge-se uma outra pessoa diferente da pretendida (atinge a vítima real, porém com intenção de atingir a vítima virtual). Unidade complexa (resultado múltiplo) – Por erro na execução ambas as vítimas (real e virtual (não é virtual mesmo porque também foi atingida, apenas não era pretendida) – a pretendida e uma que não havia intenção) são atingidas uma conduta, dois resultados. A classificação de próprio/ impróprio não é cabível no erro pois se havia desígnio para matar ambos não há erro (erro seria se tivesse acertado ambos porém só houvesse desígnio para matar um). Diferença para o erro quanto à pessoa – Natureza do erro (origem) e o momento do inter criminis em que esse erro recai. O erro quanto a pessoa ocorre nos atos preparatórios – o agente está vislumbrando sua vítima – vê uma pessoa e acredita ser outra, porém ainda não começou a execução do crime (confunde a pessoa – obs: a pretendida não precisa nem estar no local, basta que o agente pense ser ela). O erro recai sobre a pessoa da vítima. Já o erro quanto à execução ocorre na execução – o erro recai sobre o ato executório, não quanto a identificação da vítima. Já quanto a natureza do erro, o erro quanto a pessoa é um erro psicológico, subjetivo – origem interna (psicológica). O erro quanto a execução se dá com a exteriorização do pensamento – origem externa, naturalística. O erro quanto à pessoa é decorrente do comportamento do agente, enquanto o de execução é decorrente de seu pensamento. Aberratio criminis – artigo 74, CP: Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art74 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 19 Aqui, o bem jurídico atingido é diferente – ex: tem a intenção de atingir a pessoa (bem jurídico vida) porém atinge a coisa (bem jurídico patrimônio). A principal diferença em comparação ao aberratio ictus é a consequência jurídica. O agente responderá na modalidade culposa (se o crime tiver a tipificação culposa – se não tiver, pode ser um fato atípico). Aqui a intenção era cometer determinado crime, mas acaba-se cometendo outro. Ex: jogar um tijolo em alguém para tentar acertar essa pessoa mas ao invés disso acertar o vidro do carro responde apenas civilmente. Agora, se a intenção era acertar o carro mas acaba acertando também a pessoa, responde civil (reparação do dano) e penalmente (crime culposo) – obs: se não houver previsão legal para a modalidade culposa, não haverá culpa penalmente. Unidade simples: Apenas é causado o resultado adverso do que o pretendido (culposamente). Ex: o agente quer atingir uma pessoa (bem jurídico vida) e joga uma pedra em sua direção, erra e acerta o carro de uma terceira pessoa (bem jurídico patrimônio). Responderá a título culposo, estando esse previsto pela lei. Nesse exemplo seria um resultado de dano – porém não há modalidade culposa para o dano, assim a consequência jurídica seria a tentativa de crime doloso. Há bastante divergência na doutrina quanto ao fato de se o agente deveria responder a título de tentativa, porém essa consequência parece viável (a discussão seria sobre o erro ser ou não circunstância alheia a vontade do agente – e para a maioria da doutrina a resposta é sim). Assim, o resultado alcançado será respondido na modalidade culposa, e o pretendido na forma tentada (se forem previstos na lei). Unidade complexa: Acontece o resultado pretendido e um não pretendido. O resultado pretendido será respondido dolosamente e o não respondido culposamente. A pena será calculada por concurso formal (pena maior acrescida de 1/6 até a metade da pena menor). Sursis – É a suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade, na qual o réu, se assim desejar, se submete durante o período de prova à fiscalização e ao cumprimento de condições judicialmente estabelecidas. Instituto para substituir a pena, com fins de ressocialização. Lê-se sirci . O entendimento atual é de que o sursis possui caráter de sanção/punição penal, pois é uma suspensão condicionada a várias regras, e não um puro e simples livramento da pena. Também é entendido como um instituto bilateral, pois o juiz tem obrigação, presente os requisitos legais, de facultar ao sentenciado o sursis , pois assim como ele pode ser benéfico, ele pode também prejudicar o réu. O instituto não pode ser imposto ao sentenciado, há o direito de escolha – a sentença condenatória faculta ao sentenciado o sursis , que só terá eficácia se o condenado aceitar as condições. O sursis também não pode ser revogado sem antes haver o contraditório/ defesa. Natureza jurídica: Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 20 Há três posições: a) Instituto de política criminal: cuida-se de execução mitigada da pena privativa de liberdade. O condenado cumpre a pena que lhe foi imposta, mas de forma menos gravosa. É, assim, benefício, tal como proclama o art. 77, II, do Código Penal, e também modalidade de satisfação da pena. É o entendimento dominante. b) Direito público subjetivo do condenado: consubstancia-se em benefício penal assegurado ao réu. O juiz tem liberdade para analisar a presença dos requisitos legais, os quais, se presentes, impõem a concessão do sursis. c) Pena: seria uma espécie de pena, embora não prevista no art. 32 do Código Penal Natureza jurídica, segundo o visto em sala de aula: direito do sentenciado – o juiz não pode deixar de suspender condicionalmente a pena quando os requisitos estão presentes. Direito subjetivo público do réu. Não é mera faculdade judicial. A dicção poderá do artigo 77 = poder de valorar a presença dos requisitos. Dois sistemas: Belga-francês (franco-belga/europeu-continental): o juiz condena e fixa a pena, porém suspende sua execução. O réu é processado normalmente, e, com a condenação, a ele é atribuída uma pena privativa de liberdade. O juiz, entretanto, levando em conta condições legalmente previstas, suspende a execução da pena por determinado período, dentro do qual o acusado deve revelar bom comportamento e atender as condições impostas, pois, caso contrário, deverá cumprir integralmente a sanção penal. Foi adotado pelos arts. 77 a 82 do Código Penal em relação ao sursis. Anglo-saxão (anglo-americano/probation system): O juiz reconhece que o fato ocorreu e reconhece seu autor, porém suspende-se a condenação, ficando o réu sujeito a algumas regras durante um determinado período de tempo (período de provas). Caso cumpra as regras, a condenação não ocorrerá. Caso não cumpra, a pena será proferida e inclusive será considerado o comportamento durante esse período de suspensão. O magistrado, sem aplicar pena, reconhece a responsabilidade penai do réu, submetendo-lhe a um período de prova, no qual, em liberdade, deve ele comportar-se adequadamente. Se o acusado não agir de forma correta, o julgamento é retomado, com a conseqüente prolação de sentença condenatória e imposição de pena privativa de liberdade. Há ainda outro sistema: Sistema do "probation of first offenders act": o juiz determina a suspensão da ação penal, permitindo a liberdade do acusado, sem, contudo, declará-lo culpado. Durante a suspensão, o réu deve apresentar boa conduta, pois, caso contrário, é reiniciada a ação penal. Esse sistema foi acolhido, no Brasil, no tocante à suspensão condicional do processo, definida pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 21 No Brasil, adotou-se uma forma de sursis característica do sistema belga- francês (artigo 82 do CP, 708 do CPP) – suspende-se a execução da pena privativa de liberdade que já foi imposta em caráter definitivo na sentença. Requisitos (para que a pena de liberdade seja suspensa e obtenha-se a suspensão condicional (sursis) – artigo 77 do CP: São de natureza objetiva (qualidade e quantidade da pena) e subjetiva (condições pessoais do condenado – primário, bons antecedentes etc): Requisitos objetivos (relacionados à pena): 1) Qualidade da pena: Só a pena privativa de liberdade (reclusão ou detenção) ou prisão simples, no caso de contravenção penal; 2) Quantidade da pena: Não pode, de regra, ultrapassar 2 anos. Excepcionalmente, no sursis etário (maior de 70 anos)/humanitário (problemas de saúde), não pode ultrapassar 4 anos (artigo 77, parágrafo 2° CP) - essa é a quantidade de pena fixada, se for até dois anos pode ser trocada pelo sursis, e excepcionalmente penas de até 4 anos poderão ser substituídas. Obs: há ainda o limite de 3 anos para os crimes ambientais. 3) Não cabimento da substituição para restritivas – caso caiba a substituição por pena restritiva de direitos, essa deverá ser a escolha do juiz, e não o sursis, por ser a restritiva mais vantajosa ao réu. Remanesce o sursis para raras hipóteses, tal como quando o réu, não reincidente em crime doloso, for condenado à pena privativa de liberdade igual ou inferior a dois anos por delito cometido com o emprego de violência à pessoa ou grave ameaça, Requisitos subjetivos (relacionados ao agente - pertencem à personalidade, conduta e antecedentes do sentenciado – artigo 77, I e II do CP): 1) Não ser reincidente em crime doloso – porém, se a segunda condenação (a que gerou a reincidência) tiver sido apenas de multa (a condenação anteriorfor exclusivamente de multa), mesmo sendo doloso, poderá conseguir o benefício do sursis (artigo 77, parágrafo 1º). Se for reincidente em crime culposo, não já impedimento ao sursis, além de condenação anterior por contravenção penal também não impedir. 2) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias do crime, autorizem a concessão do benefício: a análise deve ser efetuada, exclusivamente, no caso concreto. Os indicadores do artigo 59 (são semelhantes ao do artigo 77 inciso II), que se relacionam à presunção sobre a probabilidade de cometimento de novo crime. Importante: essas características de outras ações penais podem impedir, mas não automaticamente impedem a suspensão condicional da pena. Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 22 Em resumo: Espécies de sursis : A) Simples: aplicável quando o condenado não houver reparado o dano, injustificadamente, elou as circunstâncias do art. 59 do Código Penal não lhe forem inteiramente favoráveis. No primeiro ano do período de prova o condenado deverá prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana, cabendo a escolha ao magistrado. Aquele cujos requisitos estão elencados exclusivamente no artigo 77 do CP. Implica no cumprimento obrigatório, no primeiro ano de prazo, de restrição de direitos (prestação de serviços à comunidade ou limitação de final de semana – artigo 78, parágrafo 1º), além de outras condições eventualmente impostas na sentença. B) Especial: aplicável quando o condenado tiver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 do Código Penal lhe forem inteiramente favoráveis. Nessa modalidade, o condenado, em regra, não presta serviços á comunidade nem se submete a limitação de fim de semana, pois o juiz pode substituir tal exigência por outras condições cumulativas: proibição de frequentar determinados lugares e de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, e comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. Não é possível a cumulação das condições do sursis especial no sursis simples. Previsto no artigo 78, parágrafo 2º, CP: Além dos requisitos do artigo 77, devem estar presentes mais dois: -reparação do dano, salvo impossibilidade; -circunstâncias (todas) do artigo 59 do CP inteiramente favoráveis. Requisitos do sursis Objetivos Natureza da pena: deve ser privativa de liberdade Quantidade da pena aplicada: não pode ser superior a 2 anos (ou 4 anos para o etário/humanitário Que não tenha sido a pena privativa de liberdade subsituída por restritiva de direitos Subjetivos Réu não tenha sido reicidente em crime doloso, salvo se a condenação anterior foi exclusivamente a pena de multa Que as característocas do artigo 59, bem como os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a concessaõ do benefício Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 23 Obs: o especial é mais brando, sendo mais favorável ao réu (e para ser mais brando precisa de mais requisitos a serem cumpridos) – isso se comprova no parágrafo 2º do artigo 78 (não precisa cumprir o ano que a espécie simples prevê). C) Etário: é aquele destinado aos condenados que tenham mais de 70 anos. Pode ser o simples ou o especial , e a pena de até 4 anos poderá ser suspensa – artigo 77, parágrafo 2º. Entende-se que a idade seja necessária na data da sentença (doutrina majoritária), porém não há especificação na lei, existindo entendimentos de que possa ser até no trânsito em julgado. Obs: o sursis etário só é benéfico ao réu se a pena superar 2 anos, pois ele não teria direito ao sursis se não fosse a idade. Caso seja menor que 2 anos, não é interessante pois a suspensão é de 4 a 6 anos (muito pior do que ficar 2 anos). D) Humanitário: é destinado a pessoas com algumas condições de saúde. A legislação deixa em aberto quais as razões de saúde, porém entende-se que sejam condições sérias, relevantes, que o delimitem e tornem o réu merecedor de uma pena especial. Legislação seca: artigos 77 e seguintes do CP/ artigos 156 e seguintes da LEP. Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Requisitos da suspensão da pena Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 24 II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48). (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente: (Redaçãodada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) proibição de freqüentar determinados lugares; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) atualmente essa autorização é melhor entendida como comunicação ao juiz. c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Sursis - Condições http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art77 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9714.htm#art77�2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9714.htm#art77�2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art78 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art79 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art80 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 25 Como o próprio nome diz, a suspensão é condicional, isso é, obedece a condições. São de caráter positivo ou negativo (vedações). Legais: caráter obrigatório – são exigência da lei, de modo que o juiz não pode deixar de impô-las. Ex: a restrição de direitos no sursis simples (artigo 78, parágrafo 1º - CP, artigo 158, parágrafo 1º - LEP). No especial, cumulativamente também são aplicadas as condições do artigo 78, parágrafo 2º - CP. O art. 81 do Código Penal ainda prevê condições legais indiretas, assim chamadas por autorizarem a revogação do sursis. São condições proibitivas, uma vez que, se presentes, acarretarão na revogação do benefício. No sursis simples, a condição legal e obrigatória é a prestação de serviços á comunidade ou limitação de fim de semana, durante o primeiro são do período de suspensão (CP, art. 78, § I.°). No sursis especial, as condições legais que devem ser cumpridas cumulativamente no primeiro ano do período de suspensão são: proibição de freqüentar determinados lugares e de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, e comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. Judiciais: Circunstâncias especificadas pelo magistrado, na sentença, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado. De acordo com as características pessoais e circunstâncias do caso serão impostas circunstâncias judiciais (não expressamente previstas na lei, e assim não obrigatórias a todos os casos, sendo previstas de acordo com a necessidade do caso). Jamais podem ser vexatórias ou abusivas, não se admitindo que violem direitos fundamentais do condenado. Também devem ser cumpridas, por identidade de razão, somente no primeiro ano do período de suspensão. Ex: em casos de lesão corporal impor uma medida que impeça o sujeito de se aproximar da vítima. OBS: o Código Penal não admite o sursis sem condições – o que seria contraditório instituir uma suspensão condicional sem condições. Momento de concessão do Sursis Artigos 157 – LEP e 697 – CPP. O juiz deve pronunciar-se na sentença condenatória/acórdão – o que não significa que terá que conceder. Sendo a sentença até dois anos (ou quatro, nos casos etários e humanitários) o juiz deverá obrigatoriamente se pronunciar sobre a concessão ou não do Sursis. Caso o juiz se omita, a sentença que contem a omissão está sujeita a embargos de declaração (artigo 382 NCPC – embarguinho ). Caso na sentença o juiz não imponha condições para o sursis, essas poderão ser aplicadas pelo juízo da execução (artigo 66 – LEP), e que pode inclusive modificar as condições impostas pelo juiz (mas não o teor da sentença – e nem pode conceder o sursis). O juízo da execução pode conceder a suspensão condicionai da pena? Não, em regra, por ser questão que deve ser solucionada durante o trâmite da ação penai. É possível, todavia, a delegação dessa matéria ao juízo da execução quando a ação penal não Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 26 apresentar elementos probatórios suficientes para se decidir se o condenado preenche ou não os requisitos legalmente exigidos para a medida. O juízo da execução também poderá conceder o sursis quando, por força de fato superveniente à sentença ou ao acórdão condenatório, desaparecer o motivo que obstava sua concessão Início da suspensão condicional da pena Depois do trânsito em julgado (pois cabe recurso), quando se realiza a audiência admonitória (artigo 160 LEP). Nessa audiência são expostos ao sentenciado o conteúdo da sentença, as condições da mesma e se ele aceita essa suspensão (a partir do momento em que o réu aceita, dá-se início ao sursis). A data da audiência já é o primeiro dia da suspensão. Caso o condenado não compareça injustificadamente à audiência ou se recuse às condições, o sursis não terá eficácia, pois tem natureza bilateral (causas de ineficácia do sursis) – obs: essas não são causas de revogação, e sim de ineficácia do sursis – não é revogação pois o condenado ainda não tem o sursis (pois não aceitou ou não compareceu). A partir do momento que o sentenciado aceita o sursis, poderá acontecer revogação, pois ele já tem o instituto (não dá pra tirar o que não tem). Competência Juízo de conhecimento Período de prova: É o intervalo de tempo fixado na sentença condenatória concessiva do sursis no qual o condenado deverá revelar boa conduta, bem como cumprir as condições que lhe foram impostas pelo Poder Judiciário. Na regra geral do Código Penal, varia entre dois e quatro anos (art. 77, caput), o que também se dá nos crimes ambientais, embora o limite da condenação seja de três anos, diferentemente do previsto na legislação comum. No caso de sursis etário ou humanitário, o período de prova é de quatro a seis anos, desde que a condenação seja superior a dois anos e inferior a quatro anos, por questão de razoabilidade. Com efeito, se a condenação seguir a sistemática comum, ou seja, for igual ou inferior a dois anos, o período de prova será o comum (dois a quatro anos). O período de prova tem início com a audiência admonitória, realizada pelo juiz depois do trânsito em julgado da condenação. Nessa audiência, o juiz procede â leitura da sentença ao condenado, advertindo-o das consequências de nova infração penai e do descumprimento das condições impostas (LEP, art. 160). Fiscalização das condições impostas durante o período de prova: A fiscalização do cumprimento das condições do sursis será atribuída, pelo juiz, a serviço social penitenciário, Patronato, Conselho da Comunidade ou instituição beneficiada com a prestação de serviços, inspecionados pelo Conselho Penitenciário, pelo Ministério Público, ou por ambos (LEP, art. 158, § 3°). Revogação do prazo do Sursis Artigo 81 – incisos I, II, III e parágrafo 1º. Direito Penal III - 2017 ToledoPrudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 27 Sursis é um instituto condicional, sendo assim está sujeito a ser revogado. As causas são de 2 naturezas: Obrigatórias: Revogadoras indefectíveis. Não há discricionariedade para o juiz, havendo os requisitos (artigo 81 – I, II e III) é obrigatória a revogação. Facultativas: Não implica obrigatoriamente a revogação. É facultativa pois permite ao juiz optar por, em vez de revogar, prorrogar, até o limite legal máximo, o período de prova. (artigo 81 § 1º) Com a revogação do sursis, o condenado deverá cumprir integralmente a pena privativa de liberdade que se encontrava suspensa, observando-se o regime prisional (fechado, semiaberto ou aberto) determinado na sentença. Portanto, não se considera o tempo em que permaneceu no período de prova, ainda que, nesse intervalo, tenha cumprido as condições impostas Revogação obrigatória – Decorre da lei. O juiz não decide, apenas reconhece a revogação – pois é obrigatória e automática. Não há margem para discricionariedade acerca da decisão de manter ou não a suspensão. Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – Nos crimes culposos e contravenções penais não cabe esse inciso. Nos crimes Preter dolosos (o agente dolosamente quer realizar um determinado crime, porém o resultado dessa ação é diferente do desejado (por falta de cuidado, previdência etc) – ex: lesão corporal seguida de morte). Há o dolo em praticar um crime menor. É considerado um crime doloso, fazendo parte desse inciso I. Penas de multa também não se encaixam (se não é impedimento para conseguir o benefício, também não pode ser razão para revogá-lo). Perdão judicial (a lei prevê algumas circunstâncias onde o juiz pode conceder o perdão judicial) possui natureza condenatória no aspecto moral (pois a ação precisa ser procedente, não se perdoa inocente/quem não cometeu nada) – não pode implicar a revogação, pois juridicamente não possui natureza condenatória, sendo previsto como causa de exclusão de punibilidade (corrente majoritária possui esse entendimento). II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – Não é simplesmente não pagar, e sim frustrar, fraudar a execução. Também é causa de revogação quando exigida a reparação patrimonial e, havendo o condenado para fazer essa reparação, o mesmo não o faz (o condenado solvente deixa, injustificadamente, de reparar o dano). III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – Descumprimento injustificado da obrigação de prestar serviços á comunidade ou limitação de fim de semana ( sursis simples). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 28 Revogação facultativa – Permite ao juiz a liberdade de revogar ou não o benefício. § 1º - A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Também é causa facultativa o descumprimento de condições impostas no sursis , quaisquer outras que não aquelas cujo descumprimento é causa de revogação obrigatória. Prorrogação do prazo do Sursis – É a situação em que a duração da suspensão condicionai da pena excede o prazo do período de prova determinado na sentença condenatória. Prevalece o entendimento de que durante a prorrogação do período de prova não subsistem as condições do sursis. Existem, no Código Penal, duas hipóteses de prorrogação do período de prova: 1ª hipótese: O beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção - art. 81, §2° Nesse caso, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. Como o Código Penal disse considera-se , conclui-se ser automática a prorrogação, ou seja, independe de decisão judicial expressa nesse sentido. Basta o recebimento da denúncia ou queixa, e não a mera prática do crime ou contravenção penal, pois a lei fala em beneficiário que está sendo processado . 2ª hipótese: Nas hipóteses de revogação facultativa - art. 81, §3° Nesses casos, o juiz pode, em vez de decretar a revogação do sursts, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado. A prorrogação não é automática. Depende de expressa decisão judicial nesse sentido. Artigos 81, parágrafo 2º e 3º do CP. Prorrogação do período de prova § 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) essa prorrogação é automática e obrigatória, além se de seu prazo ser indeterminado – existirá até que o outro processo seja finalizado (até sua decisão definitiva). Aqui a prorrogação é cautelatória. Durante essa prorrogação, quando alcançar o período antes determinado pela sentença, o condenado não estará mais sujeito às condições impostas pelo sursis. Embora esteja suspenso o prazo, seria abusivo manter as condições, pois essa prorrogação é indeterminada (ex: a prorrogação poderia durar uns 6 anos, sendo que a condenação era de 2 anos, o que seria abusivo. Sendo assim, mesmo suspenso o prazo, quando completar 2 anos o sujeito não precisará mais cumprir as condições). § 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado. (Redação dada http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art81 Direito Penal III - 2017 Toledo Prudente Centro Universitário Sofia Blazquez Barberio Página 29 pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O juiz pode ou não revogar, mas ele terá que optar por revogar ou prorrogar. Aqui será uma prorrogação punitiva/ sancionatória. Não confundir revogação, cassação e ineficácia do sursis : Revogação Pressupõe o curso do benefício, pois só se revoga aquilo que está acontecendo. É regida pelas hipóteses do artigo 81 – CP. Ineficácia Ocorre quando ou o beneficiário não comparece à audiência admonitória (recusa tácita) ou quando comparece e recusa (recusa expressa). Cassação Concessão por equívoco, como por exemplo quando o benefício é concedido porém verifica-se que há uma situação incompatível com o instituto (ex – está preso). Também há cassação quando desde a ação até a concessão do benefício verifica-se que o condenado obteve outro sursis. Outra hipótese é quando depois de concedido o benefício o MP recorrer. Não é revogação pois não iniciou o cumprimento ainda, apenas conseguiu o benefício. Sursis coetâneos/ simultâneos São simultâneos os sursis cumpridos ao mesmo tempo. Isso pode ocorrer em duas hipóteses: 1ª hipótese: O réu, durante o período de