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DISTÚRBIOS DA UNIDADE MOTORA AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO INTRODUÇÃO - Quais os componentes da unidade motora? · A célula do corno anterior da medula · Nervo periférico · Junção neuromuscular · Músculo - Quais são os distúrbios da unidade motora · Distúrbio da junção neuromuscular · Miastenia grave · Miastenia por drogas · Síndrome miatênica de Lambert-Eaton · Botulismo · Distrofia muscular · Distrofia miotônica · Miotonia congênita Junção neuromuscular - A Junção neuromuscular possui a região pré-sináptica, fenda sináptica e região pós-sináptica. · A contração/relaxamento muscular depende de uma interação adequada entre essas três regiões. Sendo a comunicação feita via neurotransmissores via fenda sináptica e receptores de superfície que desencadeiam um balanço/desbalanço de íons, e por fim na alteração/estabilização do potencial de ação da célula na região pós-sináptica. MIASTENIA GRAVIS - Causas de miastenia · Congênita – genética, não tem resposta a imunossupressão, anticorpos negativos e ocorre abaixo dos 2 anos. · Autoimune – imunológica, responde a imunossupressão, anticorpos são positivos e o início é tardio. - A miastenia gravis resulta de uma alteração na transmissão neuromuscular devido a um ataque mediado ao receptor nicotínico da acetilcolina (ACh-R) nas junções neuromusculares. - É uma doença comum, que pode se iniciar em qualquer idade, mas é mais comum entre a 2ª-4ª década de vida. · Antes dos 40 anos é 3x mais comum em mulheres, acima dessa idade os dois sexos são igualmente atingidos. Etiopatogênese - Anticorpos IgG policlonais são produzidos por plasmócitos na medula óssea, timo e órgãos linfóides periféricos. - Anticorpos saturam até 80% de todos os locais ACh-R nos músculos. · Os receptores de acetilcolina (ACh-R) ficam bloqueados devido à ligação do autoanticorpo. Além de diminuírem a sua densidade. · Esse fenômeno leva à internalização dos receptores e degeneração dentro das vesículas intracelulares. · Logo, o paciente não vai conseguir contrair a musculatura de forma adequada e satisfatória. - O timo mostra-se quase sempre anormal: hiperplasia do timo em 65% e em 10-15% dos pacientes ocorre timoma. - Em 25% dos pacientes não há doença tímica, e não se sabe o desencadeante que faz as pessoas desenvolverem uma miastenia idiopática. Clínica - Fraqueza muscular flutuante é o sintoma mais evidente, a fraqueza varia no decorrer de um dia e de um dia para outro. · “Crise” – exacerbação da fraqueza muscular que acomete musculatura respiratória. · Os músculos oculares são os primeiros acometidos em 40% dos casos (ptose e diplopia) · Quando afeta os músculos extraoculares dá diplopia, quando afeta os músculos palpebrais dá ptose. · Alguns pacientes evoluem para a MG ocular pura, mas alguns evolui. · Em 85% dos casos vai ter musc ocular afetado · Se fraqueza bulbar nos músculos faciais e orofaríngeos – disartria, disfagia, disfonia (voz anasalada) e limitação dos movimentos faciais. · Quando a fraqueza evolui acomete de forma proximal e assimétrica os membros, porém os reflexos tendinosos são normais. · *Dúvida: a professora pontuou que quase nunca os membros são atingidos isoladamente. · Sensibilidade normal e reflexos preservados. · Resposta a drogas colinérgicas - Características típicas (não esqueça) · 1ª Fraqueza flutuante que melhora com repouso · 2ª Distribuição da fraqueza – musculatura ocular Diagnóstico - O diagnóstico depende: das 1) manifestações clínicas, 2) demonstração de resposta aos fármacos, 3) evidência de anticorpos circulantes e 4) evidência eletroneuromuscular anormal. - Classificação de Ossermann · Classe I – envolvimento ocular puro · Classe IIa – envolvimento muscular generalizado sem repercussão respiratória. · Classe IIb – manifestações bulbares · Classe III – doença aguda fulminante, com rápida progressão bulbar e fraqueza muscular respiratória. · Classe IV – grave, com progressão lenta - Testes anticolinesterásicos - Exames laboratoriais · Dosagem de anticorpos anti-AChR são encontrados em 85-90% dos pacientes, na forma ocular pura ocorre em cerca de 70-80% · Título de anticorpo normal não exclui o diagnóstico. · 40% dos pacientes com anti-ACh-R negativos possuem anti-MuSK + · Dosagem de anticorpo anti-Musk (quinase específica do músculo esquelético) – 5 a 10% com predomínio bulbar, sem patologia única. · Dosagem anticorpo anti-LRP4, em 1 a 2% - Anticorpo anti-AChR é o mais comum, os subtipos são: · Ligador · Modulador · Bloqueador - ENMG – diminuição progressiva na amplitude do potencial de ação muscular evocado pela estimulação repetida com uma agulha de estímulo. · Corrobora para o meu diagnóstico é a eletroneuromiografia, onde avaliamos a condução decremental dos potenciais de ação. · Como há uma internalização e degeneração de receptores de ACh, a medida que progride você não vai conduzir o potencial de ação do mesmo modo. Então, há uma condução decremental. Embora, se eu aumentar o valor de acetilcolina, eu consigo deslocar o anticorpo a ponto de melhorar a contração até certo ponto. Nas primeiras contrações, a fraqueza é menos intensa. Mas, à medida que a condução progride, a amplitude do potencial de ação tende a diminuir. Isso se deve aos estoques de acetilcolina não serem suficientes para “lutar contra” os anticorpos-AChR. · Por exemplo, se por algum motivo você pedir para um paciente contrair repetidamente o grupo muscular sem possibilitar o neurônio motor refazer seus estoques de acetilcolina, cada vez menor ocorrerá a transmissão do sinal, e mais intensa será a fraqueza. · Esse padrão é característico da Miastenia Gravis por autoanticorpo. · Quanto considerar o padrão de condução decremental do potencial de ação? · Decremento maior que 10% - Tomografia de tórax e radiografia de tórax – no Merrit, não há lugar para a radiografia, mas sabe-se que todo paciente com MG deve ser submetido a triagem com TC de mediastino para encontrar timoma, exceto os microscópicos. · A RM não é mais sensível que a TC nessa situação - Teste do Tensilon (edrofônio) – injeção venosa de 1 a 10mg, melhora em 15 segundos e se mantém por até 2 minutos. · O Edrofônio é um inibidor da acetilcolinesterase (que degrada a acetilcolina), o que aumenta a acetilcolina dentro da placa motora. Isso melhora o estímulo dentro da placa motor. · O paciente melhora da fraqueza, depois passa o intervalo de tempo de ação da droga, e ele volta com a fraqueza. - Teste da neostigmina – 1,5-2mg via IM e a resposta ocorre de 05 minutos a 2 horas - Teste do gelo – AChE não funciona bem · No Merrit – quanto positiva é altamente específica para MG. Consiste em aplicar uma bolsa de gelo no olho com ptose por 1-2 minutos, se melhora é considerado positivo. Tratamento - Tratamento sintomático – anticolinesterásicos · Drogas anticolinesterásicos – piridostigmina VO 60mg 3-8x ao dia. · Faz a mesma coisa do edrofônio, porém com uma meia vida longa. - Tratamento imunossupressor – prednisona, azatioprina, ciclosporina e pulso com ciclofosfamida · Diminuir a produção de autoanticorpos produtores de acetilcolina - Tratamento imunomodulador – imunoglobulina, plasmaférese (crise miastênica e pré-operatorio de timectomia) · Usado em duas situações específicas: · Pré-operatório – devido ao trauma anestésico cirúrgico · Crise miastênica – exarcebações agudas das manifestações de fraqueza muscular - Timectomia · Como a grande maioria dos pacientes possuem uma alteração do timo, uma retirada dele pode resolver o quadro. · É uma conduta recomendada para pacientes com MG generalizada ou paciente com timoma · Regra geral tem sido preferido a timectomia em todo paciente que desenvolve a MG entre a puberdade e os 55 anos. · Os efeitos benéficos podem demorar meses ou até anos para aparecer, 80% dos pacientes tornam-se assintomáticos ou entram em remissão total MIASTENIA POR DROGAS - Quais drogas? · Aminoglicosídeos e tetraciclina · D-penicilamina – é o exemplo mais comum, em pacientes com tratar artrite reumatóide, esclerodermia ou doença de Wilson. · Propanolol, quinidina e lítio (desencadeiam quadro miastêmicolatente) - Semelhante à MG, porém quando retira o fármaco os anticorpos e as manifestações clínicas regridem. SINDROME MIASTÊNICA DE LAMBERT EATON - Distúrbio da transmissão neuromuscular, rara, adquirida, autoimune. · 2,8 casos por milhão · Rara na população pediátrica, mais comum na faixa de 35 anos · Incidência quase igual em homens e mulheres, antes era 2:1 homem. - Anticorpos da classe IgG contra canais de cálcio da terminação pré-sináptica da junção neuromuscular. - Possui uma associação de 60% com os pacientes que possuem carcinoma de pequenas células do pulmão. · O prognóstico da SMLE paraneoplásica não é bom Clínica - O quadro clínico é semelhante ao da MG com algumas particularidades · Fraqueza generalizada, principalmente proximal e de membros inferiores que melhora após esforço máximo. · Fraqueza muscular lenta e progressiva · A força muscular melhora com ativação muscular breve e rigorosa · Sinal de Lambert – aperto de mão mais forte com avaliação repetida da força muscular. · Abolição dos reflexos patelares e aquileus · Boca seca, disfunção sexual, constipação intestinal · Ausência de diplopia, disfagia e disartria (aula) · Se sabe que pode ter envolvimento bulbar, mas não é tão comum como na MG. · Esse ponto marca a diferença da SLME e da MG, além da abolição dos reflexos. · A insuficiência respiratória leve a moderada é incomum na SLME, e quando presente associa a aumento da mortalidade. - ENMG – resposta incremental à estimulação nervosa repetitiva na frequência acima de 10 Hz. · Oposto da MG - Anticorpos anti-AChR ausentes - Anticorpos contra canais de cálcio voltagem dependente (anti-VGCCs) são encontrados em 80% dos casos associados a neoplasias e em 20-30% dos casos não paraneoplásicos. Tratamento - Não há um tratamento curativo, e os casos que não afetam a vida cotidiana não requerem tratamento. - Excisão tumoral - Farmacoterapia · Bloqueador dos canais de potássio (guanidina e 3,4-diaminopiridina) – prologam a despolarização da membrana pré-sináptica, aumenta a entrada de cálcio e libera mais ACh na fenda. · Piridostigmina – inibe a acetilcolinesterase, tem meia vida curta, opção para paciente que não tolera a 3,4-diaminopiridina · Quimioterápicos – se CP de pequenas células - Plasmaferese (casos graves/refratários), corticoides e imunossupressores BOTULISMO - Clostridium botulinum – bactéria anaeróbia Gram-positiva produz a toxina por esporos de clostrídios. - Toxina botulínica – bloqueador pré-sináptico da liberação de acetilcolina · Paralisia quase total da transmissão nicotínica e muscarínica colinérgica · Contaminação – alimentos que crescem no solo, inadequadamente cozido (peixe) ou mal preparado (como no peixe não eviscerado), feridas anaeróbicas ou ingestão/inalação de esporos em lactentes. · Pós-cirurgia intestinal pode promover um ambiente acloridrico ou pela antibioticoterapia e estimular crescimento do C. botulinum. - Fraqueza muscular progressiva, inicia-se nos músculos extraoculares e faríngeos · Simetria dos sinais, boca seca e ausência de saliva, e paralisia pupilar. Tratamento - São tratados em terapia intensiva para cuidados respiratórios (manutenção da função respiratória). - Terapia específica – terapêutica com antitoxina (trivalente) e cloridrato de guanidina (liberação do transmissor das terminações) - Imunoglobulina antibotulínica (BIG) – casos de botulismo do lactente para reduzir necessidade de ventilador DISTROFIAS MUSCULARES - Doenças geneticamente determinadas que causam degeneração progressiva primariamente do tecido muscular. - O advento da genética moderna ajudou a classificação dos vários tipos, pois aspectos clínicos semelhantes ocorrem em genes de locais diferentes e defeitos localizados num mesmo gene determinam fenótipos diferentes. Distrofinopatias - As distrofias musculares progressivas pseudo-hipertróficas de Duchenne e Becker têm herança recessiva ligada ao X - Afetam metade dos homens da família e metade das mulheres são portadoras assintomáticas. - Duchenne – gene anormal no braço curto do cromossomo X, locus Xp21 · O gene é responsável pela produção da proteína distrofina, localizada no sarcolema das fibras musculares - Quadro clínico no Duchenne · Sintomas entre 2 e 6 anos · Dificuldade para correr, quedas frequentes · Marcha anormal – excesso de movimento da cintura pélvica, lordose lombar, protusão abdominal, retração dos músculos isquiotibiais, pé equino · Levantar miopático – manobra de Gowers · Param de deambular por volta dos 10 anos, apesenta uma hipotonia generalizada e hiporreflexia · Pseudo-hipertrofia das panturrilhas · Dificuldade para tossir, insuficiência respiratória e infecções de repetição · Miocardiopatia (fibrose miocárdica, arritmias) - Distrofia de Becker · Transmissão idêntica à Duchenne · Apresenta mesmos sinais e sintomas, porém de forma mais branda · Progressão mais lenta · Sobrevida acima dos 30 anos Diagnóstico - Enzimas séricas aumentadas (CPK) - ENMG – recrutamento, redução dos potenciais e das voltagens. Padrão miopático. - Biópsia muscular – proliferação de tecido conjuntivo, infiltração por tecido adiposo, necrose, fagocitose e degeneração e regeneração de fibras. - DNA por técnica de PCR - Detecção da distrofina por imuno-histoquímica Tratamento - Não há tratamento eficaz - Corticosteroides – prednisona - Fisioterapia ativa - Órteses - Aconselhamento genético DISTROFIA MIOTÔNICA - Dificuldade para o relaxamento do músculo esquelético após a realização de contração muscular - Herança autossômica dominante (cromossomo 19q) – aumento da repetição da trinca CTG - Prevalência 5:100.000 - Achados · Miotonia · Paresia – musculatura distal · Atrofia gonadal · Calvície · Catarata · Baixa inteligência · ECG – bloqueio de ramo · Insuficiência cardíaca MIOTONIA CONGÊNITA - Herança autossômica dominante – Thomsen - Herança autossômica recessiva – Becker - Anormalidade no canal de cloreto do músculo esquelético - Miotonia – mãos, face. - Hipertrofia muscular é comum - MMII
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