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APG 06 - Dessa vez é diferente... Nayara Viana - 4 período - unifipmoc Objetivos • Compreender a fisiopatologia, etiologia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento da diarreia aguda e crônica evidenciando seus mecanismos. Diarreia Diarreia consiste em alteração do hábito intestinal por diminuição de consistência das fezes e aumento da frequência e do volume das evacuações. Alterações intestinais são caracterizadas por variações na consistência e pela presença de produtos patológicos nas fezes. Estes são definidos pela presença de muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). Os três primeiros estão frequentemente associados a diarreias de origem inflamatória, enquanto os dois últimos, às síndromes disabsortivas. As diarreias agudas persistem por menos de 2 a 3 semanas ou, raramente, de 6 a 8 semanas. A causa mais comum de diarreia aguda é infecção. As doenças diarreicas crônicas persistem pelo menos 4 semanas e, mais tipicamente, 6 a 8 semanas ou mais. Os quatro mecanismos de diarreia são osmótico, secretor, exsudativo e motilidade alterada. Como muitas doenças diarreicas são causadas por mais de um desses mecanismos, é clinicamente útil categorizar a diarreia como mal- absortiva (gordurosa), líquida e inflamatória. • Epidemiologia A diarreia é a segunda principal causa de morte em todo o mundo e é particularmente problemática para pessoas idosas e crianças com menos de 5 anos nos países em desenvolvimento. Doenças infecciosas diarreicas causam aproximadamente 525.000 mortes infantis em todo o mundo anualmente, apesar do uso aprimorado de soluções de reidratação oral (SRO), zinco e suplementos de vitamina A. A infecção por rotavírus é a causa mais comum de diarreia infantil fatal, mas a introdução da vacina oral monovalente contra rotavírus diminuiu significativamente sua taxa de mortalidade em países em desenvolvimento e desenvolvidos. • Fisiopatologia O intestino tem a função de secretar substâncias que auxiliam no processo digestivo e de absorver líquidos, eletrólitos e nutrientes. Fisiologicamente, a absorção de nutrientes e líquidos excede a secreção, e o intestino delgado é predominante nessa atividade. O intestino delgado recebe, aproximadamente, 10 l de líquidos por dia (ingesta, secreções de saliva, gástrica, biliar, pancreática e intestinal), absorve cerca de 6 L no jejuno e 2,5 L no íleo. O cólon recebe do delgado em torno de 1,5 L, e apenas 100 ml são eliminados nas fezes. A capacidade absortiva total do cólon é de 4 a 5 L/24 h e, quando essa quantidade é ultrapassada, surge a diarreia. O principal mecanismo pelo qual a água é absorvida e secretada se faz segundo o gradiente osmótico criado pelo transporte ativo do sódio. O sódio é absorvido associado ao cloro ou a alguns nutrientes. A absorção de Na+/Cl– pelas vilosidades leva a água passivamente através da mucosa. Isso se dá pela menor concentração de sódio no interior do enterócito em relação à luz intestinal. Essa via é inibida pelo cAMP e GMPc, que sofrem estimulação da adenilciclase e guanilciclase do enterócito. Essas enzimas podem ser ativadas pelas toxinas bacterianas. A absorção acoplada de Na+ com glicose, galactose e aminoácidos é ativa e não sofre influência dos agentes infecciosos, por isso é utilizado para restaurar as perdas nas diarreias infecciosas. A secreção entérica depende da secreção ativa de Cl, que se acompanha da eliminação de Na+ e H2O para o lúmen intestinal pelas células das criptas. Assim, a água acompanha o movimento do Na+, e a absorção se faz pelas células do ápice das vilosidades intestinais, enquanto a secreção é realizada pelas células das criptas. Diversos agentes estimulam a secreção ou inibem a absorção, como as prostaglandinas, o peptídio vaso- ativo intestinal (VIP) e o peptídio calmodulina, enquanto as encefalinas atuam no sentido de estimular a absorção de água e Nayara Viana - 4 período - unifipmoc eletrólitos. No cólon, há vários mecanismos de transporte de sódio, através dos quais ocorre a absorção de água. A absorção e a secreção acontecem concomitantemente com predomínio do conteúdo absorvido. A diminuição da absorção ou aumento da secreção ou a alteração de ambas produzem diarreia. Muitos microrganismos alteram o equilíbrio de absorção e secreção no intestino delgado e são capazes de provocar diarreia. Alguns produzem enterotoxinas que ativam o mecanismo secretor e outros, por alterarem as vilosidades, prejudicam a absorção. No íleo distal e cólon, a diarreia é causada principalmente por invasão e destruição do epitélio, que resulta em ulceração, infiltração da submucosa com eliminação de soro e sangue. Além disso, podem estimular resposta inflamatória local, que resulta na produção de vários secretagogos, como as prostaglandinas e interleucinas, e contribuem para a perda de líquidos para o lúmen intestinal. A fisiopatologia da diarreia envolve cinco mecanismos básicos, sendo possível a concomitância de mais de um deles no desencadeamento de determinado tipo de diarreia: A) Diarreia Secretora: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das ente- rotoxinas bacterianas. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. B) Diarreia Osmótica: o processo da digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico. Distúrbios da digestão presentes nas deficiências de dissacaridases, que mantêm um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente, diarreia. O mesmo pode acontecer pela ingestão de agentes osmoticamente ativos como a lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio. C) Diarreia Motora: resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Surge, também, por redução da área absortiva consequente de ressecções intestinais ou de fístulas enteroentéricas. D) Diarreia Exsudativa/Inflamatória: decorre de patologias causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e da fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal. A interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF), que também são liberados no sangue, causam febre, anorexia e mal-estar. E) Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. • Classificação Define-se como aguda a diarreia que tem duração máxima de 30 dias, habitualmente ficando restrita a 2 semanas. A diarreia é considerada crônica quando tem duração superior a 1 mês. Outra forma também muito utilizada na prática clínica de classificar diarreia é em relação ao local do trato gastrintestinal de sua origem. Denomina- se diarreia alta a originada no intestino delgado e baixa a relacionada com o intestino grosso. A importância dessa classificação está na diferenciação de causas mais frequentes em cadalocal, dirigindo melhor conduta médica investigativa e terapêutica iniciais. A maioria das etiologias que causam problemas ao trato gastrintestinal alto desencadeia diarreia de padrão Nayara Viana - 4 período - unifipmoc secretor. Por outro lado, as diarreias baixas costumam apresentar padrão inflamatório. • Sinais de alerta Os achados a seguir são particularmente preocupantes: Taquicardia, hipotensão e letargia (significando desidratação); Fezes sanguinolentas; Vômito bilioso; Sensibilidade e/ou distensão abdominal sensível extrema; Petéquias e/ou palidez. Diarreia Aguda Aproximadamente 80% das diarreias agudas são causadas por infecções por vírus, bactérias e parasitas. O restante se deve a medicamentos que têm força osmótica, estimulam a secreção de líquido intestinal, danificam o epitélio intestinal ou contêm açúcares pouco absorvíveis ou não absorvíveis (p. ex., sorbitol). A diarreia aguda geralmente manifesta-se como quadro de instalação súbita em resposta a estímulos variáveis, sendo os principais associados a agentes infecciosos com evolução au- tolimitada. A prevalência mundial dessa afecção é de 3 a 5 bilhões de casos/ano, associada a 5 a 10 milhões de mortes/ano. O organismo saudável possui mecanismos de defesa que permitem resistir aos agentes lesivos e que incluem: (1) o suco gástrico, que é letal a muitos organismos pelo baixo pH; (2) a motilidade intestinal, que dificulta a aderência dos microrganismos à parede do intestino; (3) os sistemas linfático e imune, que promovem a defesa celular e humoral contra os agentes nocivos. A falha desses mecanismos e/ou a alta agressividade do estímulo agressor do intestino causam a diarreia. Normalmente, a principal causa das diarreias agudas é infecciosa. Os mecanismos fisiopatológicos das diarreias infecciosas são o secretório ou o inflamatório. Alguns microrganismos estão mais associados ao estímulo secretório e outros, ao inflamatório. Aspectos clínicos Na história do paciente, devem-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida. Deve-se investigar a ingestão recente de água, frutas ou verduras potencialmente contaminadas, alimentos suspeitos, viagens recentes, presença de pessoas próximas também acometidas, uso recente de antibióticos e outros fármacos, banho em locais públicos e contatos com animais. A apresentação clínica da diarreia aguda é bastante semelhante, independente do agente causador. Entretanto, algumas diferenças podem ocorrer de acordo com a fisiopatogênese en- volvida. A diarreia inflamatória apresenta espectro clínico mais grave e exige tratamento mais criterioso. É causada por bactérias invasivas, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferentemente o íleo e o cólon. Promove ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemácias e leucócitos para o lúmen. Manifesta-se por diarreia, em geral de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal predominante no quadrante inferior esquerdo, tenesmo, dor retal. Algumas vezes, apresenta, no início da evolução, diarreia aquosa, que só mais tarde se converte em típica diarreia inflamatória, quando os microrganismos ou suas toxinas lesam a mucosa colônica. A diarreia não inflamatória é, em geral, moderada, mas pode provocar grandes perdas de volume. É causada habitualmente por vírus ou por bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferentemente o intestino delgado. Os microrganismos aderem ao epitélio intestinal sem destruí-lo, determinando diarreia secretora, com fezes aquosas, de grande volume e sem sangue; pode estar associada a náuseas e vômitos. As cólicas, quando presentes, são discretas. Na avaliação clínica, além de definir o padrão da diarreia aguda, devem-se também avaliar possíveis complicações, especialmente a desidratação. Relato de boca seca e sede, diurese concentrada, oligúria, associados a achados ao exame físico de pele e mucosas desidratadas e hipotensão postural com taquicardia, demonstram desidratação e sua gravidade. O exame físico do abdome normalmente exibe dor leve di- fusa à palpação, com possibilidade de descompressão brusca levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa. Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados. Dor localizada, sinais de irritação peritoneal in- tensa, massas ou Nayara Viana - 4 período - unifipmoc visceromegalias, distensão abdominal impor- tante e ausência de ruídos são achados que devem direcionar para avaliação cuidadosa pela possibilidade de outras afecções abdominais. Diagnóstico Principalmente clínico. Podem ser solicitados exames complementares como: Hemograma(em pacientes que evoluem com formas mais graves da diarreia aguda, onde pode ser encontrado anemia e hemoconcentração, nas diarreias por vírus pode haver linfocitose enquanto a leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda é frequente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória. Pode-se solicitar também a função renal e eletrólitos, estudo das fezes, principalmente o de leucócitos fecais que identifica processos inflamatórios mais intensos. Também pode-se realizar a coprocultura, pesquisa de antígenos de patógenos. Em casos mais graves pode-se solicitar exames de imagem como a radiografia simples do abdome que é ́util para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico. Além disso, a retossigmoidoscopia flexível deve ser feita nos pacientes com clínica de proctite (tenesmo, dor retal) e, também, se há suspeita de colite pseudomembranosa. Nesses casos, a biopsia é importante para excluir doença inflamatória intestinal. Tratamento A imunidade do hospedeiro, na maioria das vezes, é capaz de eliminar infecção gastrintestinal, sem necessidade de terapêu- tica específica. Assim, o objetivo terapêutico está relacionado com a reposição das perdas hidreletrolíticas. Logo, torna-se imprescindível a reidratação do paciente. Normalmente a reidratação oral é suficiente, a solução deve conter glicose, para favorecer a absorção do sódio. Quando as perdas forem mais importantes, a reposição deve ser feita com soluções contendo eletrólitos (Na+, K+, HCO3– e Cl–) em concentrações aproximadas daquelas perdidas na diarreia. Para os pacientes hipovolêmi- cos, deve-se fazer hidratação venosa com soluções isotônicas contendo glicose e eletrólitos. Além disso em alguns casos é recomendável o uso de antidiarreicos, como os adsorventes caulim e pectina, embora aumentem a consistência das fezes, têm pequeno efeito sobre o seu volume. As fibras solúveis medicinais como o Psyllium (uma medida até 3 vezes/dia) e absorventes de água como a policarbofila de cálcio (1 a 2 comprimidos até 4 vezes/dia) também podem ser usados para reter água e aumentar a consistência das fezes, di- minuindo os episódios diarreicos. O subsalicilato de bismuto tem efeito variado, é bactericida e antissecretor por bloquear o efeito das enterotoxinas, além de estimular a reabsorção intestinal de sódio e água. Devido a seu baixo custo, eficácia e segurança, representa boa opção para o tratamento sintomático da diarreia aguda infecciosa. Adminis- trado para adultos na dose de 30 ml, ou 2 comprimidos de 30 em 30 min até completar 8 doses, costuma ser eficaz em muitos casos de diarreia não inflamatória. Os derivados sintéticos do ópio (loperamida e difenoxilato) inibem a motilidade intestinal, aumentam o tempo de contato para a absorção de água e eletrólitos, e com isso diminuem o nú- mero das evacuações intestinais e as cólicas. O racecadotril éagente antissecretor e reduz a hipersecreção de água e eletrólitos causada pelas toxinas bacterianas, é recomendado associado às soluções reidratantes orais, principalmente em crianças. A dose habitual para adultos é de 100 mg, 3 vezes/dia durante 2 a 3 dias. Antibióticos podem ser necessários já que em alguns casos essa diarreia é causada por bactérias. Situações específicas de diarreia aguda Intoxicação alimentar, intoxicação por staphulococcus aureus, intoxicação por toxina butolínica, diarreia dos viajantes, diarreia por rotavírus, etc. Nayara Viana - 4 período - unifipmoc Diarreia crônica Ocorre predominantemente em países industrializados como EUA, onde estima-se que a prevalência da diarreia crônica seja de 5% na população adulta. As principais causas de diarreia crônica são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII), síndrome de má absorção e infecção crônica. Além disso, portadores de imunodeficiências apresentam frequentemente diarreia associada a infecções oportunistas crônicas, o câncer colorretal também pode apresentar-se com diarreia crônica, habitualmente com sinais de perda de sangue, uso de alguns medicamentos com efeito secretório direto no intestino delgado e no cólon, principalmente a fenoftaleína e os derivados antraquinônicos como o sene. Tumores neuroendócrinos também podem influenciar na diarreia crônica. As causas de diarreia crônica são múltiplas e incluem: a. Inflamação da mucosa. b. Formação de gradiente osmótico. c. Secreção de íons. d. Causas iatrogênicas. e. Má absorção de nutrientes. f. Alteração da motilidade. Aspectos clínicos A avaliação clínica acurada pode direcionar a investigação complementar, mini- mizando custos e exposição do paciente. A caracterização da diarreia como alta (intestino delgado) ou baixa (cólon), é uma das formas de classificar e guiar a sequência de propedêutica complementar. Na qualificação da diarreia, devemos ter atenção para portadores de incontinência anal. Esses indivíduos apresentam o que denominamos pseudodiarreia. Existe aumento na fre- quência das evacuações por incapacidade de conter as fezes na ampola retal. Nesta condição, não há aumento da quantidade de água nas fezes nem de seu volume global; portanto não há diarreia. Pacientes com má absorção podem apresentar várias manifestações gastrintestinais ou extraintestinais. Má absorção significativa de gordura e carboidrato geralmente causa diarreia crônica, cólicas abdominais, flatulência, distensão abdominal e perda de peso. A esteatorreia (gordura nas fezes) manifesta-se como fezes oleosas e com odor desagradável, As fezes podem ser grandes e volumosas (p. ex., insuficiência pancreática) ou líquidas (p. ex., crescimento excessivo de bactérias, doenças da mucosa). Indivíduos com má absorção também podem apresentar manifestações de deficiências de vitaminas e minerais. As manifestações de má absorção de cálcio, magnésio ou vitamina D incluem parestesias e tetania resultantes de hipocalcemia ou hipomagnesemia e dor óssea por osteomalácia ou fraturas relacionadas com a osteoporose. As diarreias inflamatórias podem se manifestar com febre e dor abdominal ou com edema para sugerir perda crônica de proteínas. Os pacientes podem ter múltiplos episódios de eliminação de fezes com sangue, de baixo volume e tenesmo para sugerir proctite ou diarreia grave. Diagnóstico A anamnese e o exame físico detalhados levam ao diagnóstico em 25 a 50% dos pacientes com diarreias crônicas. Em adultos jovens com diarreia crônica, as principais causas são a síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória do intestino (DII), colite microscópica, diarreia do ácido biliar, má absorção, medicamentos, aditivos alimentares, doença da tireoide e diabetes melito. A adição de cultura de fezes e exame de ovos e parasitas, determinação de gordura de fezes e retossigmoidoscopia flexível ou colonoscopia com biopsia aumenta a taxa de diagnóstico para aproximadamente 75%. Os 25% restantes dos pacientes com diarreia crônica precisam de investigação adicional e talvez hospitalização para fazer um diagnóstico. Nayara Viana - 4 período - unifipmoc Nayara Viana - 4 período - unifipmoc Diagnóstico Um complemento importante para diagnosticar a causa da diarreia é examinar as fezes. As fezes gordurosas e volumosas da esteatorreia e as fezes com sangue da inflamação intestinal são distintas. As fezes coletadas podem ser analisadas quanto ao peso, volume, gordura, eletrólitos (Na+, K+, Cl−), osmolalidade, pH e pesquisa de uso de laxante. Os achados conjuntos de sangue oculto e de leucócitos fecais (mais de 3 por campo) reforçam o diagnóstico de diarreia inflamatória. Além das colites, neoplasias malignas também devem ser consideradas A má absorção de carboidratos reduz o pH das fezes em decorrência da fermentação colônica de carboidratos em ácidos graxos de cadeia curta. O pH das fezes menor que 5,3 geralmente significa má absorção de carboidratos puros, enquanto nas doenças disabsortivas generalizadas, o pH das fezes é maior que 5,6 e geralmente maior que 6,0. Avalia-se também o hiato osmótico das fezes, onde o normal seria entre 50 e 125. Na diarreia osmótica, o soluto sem carga elétrica ou cátion não medido no lúmen do cólon atrai água, deprime as concentrações de Na+ (geralmente < 60 mmol/ℓ) e K+ nas fezes e resulta em um hiato osmótico nas fezes maior que 125. Fezes com concentrações de Na+ entre 60 e 90 mmol/ℓ e os hiatos osmóticos calculados entre 50 e 100 podem resultar de anormalidades secretórias ou mal-absortivas. Tratamento Para os pacientes que estão em investigação diagnóstica, deve-se prescrever inicialmente dieta pobre em resíduos, restrição de leite e derivados, utilizando-se medicamentos sintomáticos para a diarreia. Os agentes antimotilidade, derivados do ópio, também atuam sobre receptores específicos na membrana celular, ini- bindo a atividade da adenilciclase, diminuindo a concentração intracelular de cAMP, tendo assim atividade antissecretora e inibidora da motilidade intestinal. Embora os derivados sinté- ticos do ópio (loperamida e difenoxilato) sejam mais utiliza- dos, a morfina e a codeína, por terem ação central e periférica, são mais potentes e mais eficazes em diarreias persistentes de portadores do vírus HIV. Os alfa2-adrenorreceptores estão presentes no intestino e medeiam os efeitos pró-absortivos e antimotilidade das cate- colaminas. A clonidina, agonista alfa-adrenérgico, tem atividade antidiarreica, sendo utilizada com sucesso na diarreia dos diabéticos, embora apresente restrições por causa de seu efeito hipotensor. A somatostatina e o octreotídio têm ação diversificada no tubo digestivo. Inibem a motilidade e a secreção gástrica e pancreática com favorecimento da absorção de água e eletrólitos. O octreotídio é poderoso inibidor da liberação de gastrina, VIP e 5-HT. Por isso, é usado no tratamento da diarreia da síndrome carcinoide, da síndrome de Zollinger-Ellison e nos aidéticos. O octreotídio é usado, também, na diarreia dos diabéticos, diarreia aquosa idiopática e naquela que ocorre durante o tratamento com drogas antineoplásica.