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Nefro - Doenças Tubulointersticiais: Nefrite Tubulointersticial: - Pode ser primária e se iniciar na área tubulointersticial ou surgir como evento secundário e se disseminar pelos vasos sanguíneos, incluindo os capilares glomerulares. - Embora a lesão aos componentes do interstício tubular possam ser fruto da autoimunidade, de lesão tóxica ou da exposição a agentes infecciosos ou medicamentos, o processo inflamatório sempre possui um componente imunológico, levando à liberação de citocinas nos tecidos, que acabam por converter as células epiteliais em fibroblastos, que, por sua vez, geram fibrose. - A nefrite pode ser dividida em tipos agudos e crônicos. - A forma aguda frequentemente se inicia de maneira abrupta. Quando os eventos desencadeantes cessam, a nefrite se resolve, e a taxa de filtração glomerular tende a se normalizar, com pouco dano residual, exceto em pacientes com doenças preexistentes. - A forma crônica é persistente e, com o tempo, reduz o número de néfrons funcionantes por encapsular-los e destruí-los por meio de uma fibrose irreversível. A chamada nefropatia tóxica é semelhante a essa forma de nefrite. Epidemiologia: - A nefrite intersticial aguda surge inesperadamente em indivíduos previamente saudáveis por diversas causas. - Cerca de 1% dos pacientes com hematúria e proteinúria apresentam NIA. - Grande parte dos casos de NIA é decorrente do uso de medicamentos. Outras causas importantes são as infecções e as doenças autoimunes idiopáticas. - As penicilinas semissintéticas, as cefalosporinas, as sulfas e seus derivados, além dos AINES, encabeçam a lista de fármacos desencadeantes. - Os AINES causam tanto a NIA quanto a nefropatia crônica por analgésicos. - A difteria em crianças, a legionelose, a leptospirose, a histoplasmose, a tuberculose e os vírus de DNA como o citomegalovírus e o Epstein-Barr são agentes bem conhecidos da nefrite intersticial aguda. - Todas as formas de lesão renal, independente da origem, progridem para um estágio terminal renal através de uma fase terminal de nefrite intersticial crônica. - Além das glomerulonefrites, doenças císticas e diabetes, muitas condições renais começam lentamente no túbulo-interstício e muitas vezes não são reconhecidas até atingirem estágios avançados, quando a biópsia mostra NIC. - A NIC primária pode ser causada por processos tóxicos, metabólicos, hematológicos, obstrutivos e infecciosos. Fisiopatologia: - Independente da origem da inflamação renal, os rins não sofrem falência até que a nefrite intersticial, a fibrose ou a atrofia tubular se desenvolvam. - A nefrite intersticial é o equivalente patológico da progressão clínica, já que é a via terminal comum do dano tecidual permanente. - O grau de redução da TFG se correlaciona com o grau de lesão intersticial. - O fluxo urinário é impedido pela obstrução tubular. - O aumento da resistência vascular causa lesão tubular e fibrose progressivas. - Uma redução total na área transversal dos vasos peritubulares aumenta a resistência pós-glomerular para um nível em que a elevação compensatória na pressão hidrostática glomerular não possa restaurar por completo a filtração em níveis normais. - O feedback tubuloglomerular assume uma importância maior na transição entre glomerulonefrite aguda e crônica quando a autorregulação do fluxo sanguíneo renal é rompida pela fibrose tubulointersticial. - A perda da autorregulação do feedback tubuloglomerular leva à ausência ou à insensibilidade da arteríola aferente. - Talvez ainda mais significativo seja o efeito da pressão intersticial na sensibilidade do mecanismo do feedback, - A atrofia tubular pode prejudicar o gradiente osmótico renal normal pela redução do transporte de cloreto de sódio ao longo do túbulo proximal ou do ramo ascendente espesso da alça de henle. - O resultado é a baixa reabsorção de água do filtrado, com hipostenúria e poliúria. - Tal aumento nas quantidades de soluto e água do fluido tubular resulta na diminuição adaptativa do processo de filtração glomerular. - Os alvos antigênicos para o sistema imunológico na nefrite intersticial não são bem conhecidos. - Os medicamentos agem como haptenos,mimetizando as estruturas endógenas do interstício, alterando a regulação do sistema imunológico,ou funcionando em algumas combinações dessas ocorrências. - Embora a resposta imune adaptativa seja similar à que ocorre em outros tecidos, a ativação de linfócitos T é proeminente na nefrite intersticial. Raramente são observados anticorpos (na doença antimembrana basal tubular) e deposição de complexos imunes localizados ao longo da membrana basal tubular (no lúpus eritematoso sistêmico). - Os antígenos apresentados pelas moléculas do complexo principal de histocompatibilidade de classe II presentes em macrófagos, células dendríticas e no epitélio tubular adjacente, em conjunto com as moléculas de reconhecimento associadas, ativam os linfócitos T CD4/CD8. - O efeito resultante é a liberação de citocinas e proteases, lesionando os néfrons tubulares e as membranas basais, e levando à formação local de fibroblastos na transição entre o epitélio e o mesênquima. - O fator transformador do crescimento β (TGFβ), o fator de crescimento de fibroblastos 2 e o fator de crescimento derivado de plaquetas são particularmente ativos nesta transição. - Se a nefrite persistir, a fibrogênese destrói os néfrons e causa atrofia tubular. Em estágios tardios, a reação inflamatória supera os fatores de sobrevivência, e os linfócitos e os fibroblastos desaparecem devido à apoptose ou deixam uma cicatriz fibrótica acelular. - Ambos os rins costumam estar envolvidos, exceto nos casos de infecção, obstrução ou trauma unilaterais. - O processo infiltrativo está associado ao edema intersticial, que afasta os túbulos uns dos outros e leva ao aumento de volume dos rins. Pode ocorrer ruptura da membrana basal tubular em casos mais graves. - Na nefrite intersticial crônica, o rim assume uma aparência irregular ou contraída. Os epitélios tubulares se assentam sobre membranas basais tubulares espessadas ou interrompidas e, com frequência, são obliterados por lúmens dilatados. Assim, os túbulos acabam sendo desfeitos e atrofiam. O termo crônico é relativo, já que as alterações fibróticas surgem em 7 a 10 dias de inflamação contínua. - Na nefrite intersticial secundária, os glomérulos normais acabam sendo cercados pela fibrose periglomerular e sofrem esclerose segmentar ou global. O espessamento vascular crônico e as alterações glomerulares estão presentes nos estágios avançados da doença. - Uma terceira categoria patológica, a formação de granulomas, pode ser observada tanto na nefrite intersticial aguda quanto na crônica. - Na nefrite intersticial granulomatosa aguda, os granulomas são esparsos e não necróticos, e as células gigantes são raras. - Na nefrite intersticial crônica, os granulomas contém muitas células gigantes e, naquelas causadas pela tuberculose, podem se tornar necróticos. - Os medicamentos são causas comuns desta lesão em sua forma aguda e considera-se que a maioria dos fármacos associados à nefrite intersticial aguda leva à formação de granulomas. Nefrite Intersticial Aguda: Manifestações Clínicas: - A maioria dos pacientes se apresenta com aumento assintomático do nível de creatinina sérica ou um exame de urina anormal, e é importante considerar a nefrite intersticial aguda em qualquer paciente com diminuição precipitada inexplicada da função renal. - Uma vez que a lesão é frequentemente assintomática, os pacientes já apresentam insuficiência renal significativa quando da apresentação inicial. - Os pacientes também podem apresentar sintomas não específicos, como letargia ou fraqueza, e muitos têm febre e oligúria devido à lesão renal aguda severa. - Várias características podem distinguir a NIA da necrose tubular aguda ou da glomerulonefrite. - Febre e ocasional dor nos flancos sobre os rins ocorrem na infecção ou na NIA induzida por fármacos. - A dor lombar, às vezes unilateral, é devido à distensãoda cápsula renal. - Reações alérgicas estão associadas a erupção maculopapular, febre e eosinofilia, mas a tríade completa é observada em menos de 33% dos pacientes, e ainda é rara quando os AINES são a causa da NIA. - A progressão da insuficiência renal na NIA ocorre de dias a semanas, e segue a cinética da resposta imune primária. - No entanto, a insuficiência renal pode ser precipitada, especialmente em pacientes expostos a um agente prévio. - Raramente, a progressão da doença pode ser prolongada, com a TFG diminuindo por um período de meses se o diagnóstico não for reconhecido. Esse curso prolongado é mais comum na NIA induzida por diuréticos. - A NIA induzida por fármacos se estabelece dias a semanas após o início do tratamento e um histórico de alergia prévia é raro. - O quadro clássico de reação a medicamentos é o paciente febril com processo infeccioso que se resolve enquanto submetido à ATB, com desenvolvimento de febre recorrente alguns dias mais tarde. Diagnóstico: - O exame de urina é especialmente útil. - A hematúria e proteinúria, leves ou moderadas, são observadas na maioria dos casos de nefrite,embora a hematúria maciça seja ocasionalmente observada. - O sedimento tipicamente apresenta leucócitos e hemácias, e cilindros leucocitários são raramente vistos. - Por outro lado, os cilindros hemáticos sugerem um diagnóstico glomerular. - O achado de eosinófilos na urina apoia o diagnóstico de nefrite intersticial alérgica, mas a ausência de eosinofilia não exclui o diagnóstico de NIA. - Um nível de creatinina sérica elevado é geralmente o primeiro resultado laboratorial anormal na lesão renal. A faixa de normalidade da concentração de creatinina sérica vai de 0,6 a 1,3 mg/dL e varia de acordo com a massa muscular, a idade e o sexo do paciente. - O reconhecimento precoce da nefrite intersticial aguda requer um alto nível de suspeita clínica, pois o nível de creatinina sérica pode estar somente levemente elevado até mesmo após os rins terem perdido suas funções. - A magnitude da proteinúria na nefrite intersticial aguda é quase sempre de menos de 3 g/24 horas e é tipicamente menor que 1 g/24 horas. - A proteinúria de faixa nefrótica não é vista, a menos que haja uma lesão glomerular coexistente, tal como na lesão mínima concorrente, ou após a exposição aos AINES. - Muitos pacientes com nefrite intersticial aguda também apresentam uma fração de excreção de sódio (FENa ) maior do que 1%, mas ocasionalmente estes indivíduos podem estar oligúricos. - As imagens são de pouco valor diagnóstico. O rim na nefrite intersticial aguda é geralmente normal ou levemente aumentado em tamanho na ecografia ou nas imagens tomográficas. O aumento na ecogenicidade cortical pode se correlacionar com infiltrados intersticiais difusos na biópsia renal. Biópsia: - A biópsia deve ser realizada em pacientes com insuficiência renal aguda que apresentem sinais e sintomas sugestivos de um processo intersticial e nos quais a insuficiência renal aguda pré-renal e a necrose tubular aguda evidente não podem ser excluídas com base nos achados clínicos. - Na nefrite intersticial aguda primária, a biópsia revela células inflamatórias que costumam poupar o glomérulo até os estágios finais da doença. - As lesões que reduzem a função renal costumam ser difusas, mas a lesão intersticial induzida por medicamentos é, com frequência, desigual, iniciando-se profundamente no córtex antes de se disseminar. Tratamento: - A principal intervenção na nefrite intersticial aguda é a remoção do fármaco causador ou o tratamento da infecção. - Os esteróides (prednisona em doses de 0,75 a 1 mg/kg por via oral) podem ser tentados por cerca de 1 semana, concomitantemente ou após alguns dias, se a concentração de creatinina sérica não baixar. - Se não ocorrer melhoria, a ciclofosfamida oral (1 a 2 mg/kg/dia) pode ser adicionada por várias semanas. Nefrite Intersticial Crônica: Manifestações Clínicas: - Pacientes com NIC primária tipicamente apresentam níveis séricos elevados de creatinina e sinais e sintomas de insuficiência renal, incluindo hematúria, hipostenúria, noctúria,fadiga e náusea. - Ao exame de urina, observa-se densidade urinária próxima a 1,010, glicosúria ocasional, proteinúria na faixa não nefrótica (<1g/L), eritrócitos,leucócitos e cilindros granulares. - Piúria e cultura urinária positiva para bactérias são ocasionalmente vistas, e graus variáveis de acidose metabólica e hiperfosfatemia podem estar presentes. - Antes de a taxa de filtração glomerular cair abaixo de 25-30 mL/min, a acidose tubular é comum. - A anemia costuma ser desproporcional ao grau de insuficiência renal e muitos pacientes apresentam hipertensão, geralmente sem edema até estágios avançados da doença. - A síndrome de Fanconi adquirida pode ser observada em pacientes com nível sérico de creatinina menor que 2,5mg/dL nos quadros de exposição a medicamentos, infecção pelo HIV, intoxicação por chumbo e nefropatia por ervas. Diagnóstico: - Como qualquer paciente com evidência de insuficiência renal, a avaliação inclui testes laboratoriais para determinar possíveis causas e gravidade. - Esses testes incluem medições da função renal (nível de creatinina sérica e nível de nitrogênio de uréia sanguínea), além dos níveis de eletrólitos séricos, cálcio, fosfato, ácido úrico e albumina. - Ao exame de urina, observa-se densidade urinária próxima a 1,010, glicosúria ocasional, proteinúria na faixa não nefrótica (geralmente < 1 g/L) com hemácias, leucócitos e cilindros granulares. - Dependendo da situação clínica, a busca de causas específicas pode incluir eletroforese de proteínas sérica e urinária, hemograma e testes sorológicos para doenças autoimunes. - As imagens da nefropatia analgésica à tomografia são bastante específicas e mostram diminuição no tamanho total do rim, cicatrizes atróficas e contorno cortical irregular algumas vezes acompanhados por necrose papilar. - Na biópsia, a nefrite intersticial crônica é manifestada pelo infiltrado celular, que é eventualmente reposto pela fibrose tubulointersticial. - Os infiltrados linfocitários e os raros neutrófilos são dispersos e menos abundantes do que na nefrite intersticial aguda. Tratamento: - A nefrite intersticial crônica tende a progredir lentamente. - Os fatores desencadeantes, como obstrução, infecção, medicamentos ou toxinas, devem, sempre que possível, ser removidos. - Os IECA ou os BRAII são rapidamente usados para diminuir a progressão da doença e têm como meta uma pressão arterial sistólica de 130 mmHg ou menos, exceto quando a hipercalemia limita seu uso. Necrose Papilar: - A necrose aguda da papila renal está associada com anemia falciforme, nefropatia analgésica, nefropatia diabética e pielonefrite obstrutiva. - Na doença falciforme, o meio hipóxico e hipertônico da medula interna promove a falcização, e a falcização crônica nos vasos retos resulta em isquemia medular. - Consumo maciço e prolongado de analgésicos, especialmente uma combinação de aspirina, cafeína e acetaminofeno, está associado à nefrite intersticial crônica e predisposição à necrose papilar; acredita-se que a isquemia medular seja causada pela inibição de prostaglandinas vasodilatadoras pela aspirina, e a toxicidade direta é atribuída aos metabólitos da fenacetina. - Semelhantemente, acredita-se que a perfusão medular seja comprometida na nefropatia diabética e pielonefrite obstrutiva. - As manifestações clínicas da necrose papilar podem incluir dor nos flancos e hematúria. - Se a papila estiver esfacelada, a obstrução pode ocorrer na pelve renal ou uretra do rim afetado, com dor referida migrando do flanco ao escroto. - Uma papila esfacelada pode precipitar franca insuficiência renal se a função do rim contralateral estiver prejudicada ou se a obstrução ocorrer no nível da bexiga ou uretra. - Classicamente, a necrose papilar é diagnosticada em uma pielografia excretora, como um defeito caliceal após o esfacelamento da papila, mas a TC com contraste é igualmente boa para lesões avançadas.- Entretanto, se a papila necrótica for retida, o defeito será mais sutil. - Carcinoma celular transicional pode ocorrer com a necrose papilar ou pode simular seu aparecimento. - A obstrução, se presente, deve ser aliviada, mas o tratamento está limitado ao controle da dor e hidratação. Necrose Tubular Aguda/ Lesão Renal Aguda: - Anomalia funcional ou estrutural do rim que se manifesta em 48 horas, sendo determinada pelos exames de sangue, urina, biópsias ou exames de imagem. - Do ponto de vista diagnóstico, a redução da função renal na LRA está associada ao aumento absoluto na creatinina sérica de 0,3 mg/dL ou a um aumento percentual de 50% da creatinina sérica. - Além disso, a redução do volume urinário, constituindo oligúria < 0,5 mL/kg/h) por mais de 6 horas, também preenche os critérios diagnósticos da LRA. - Tanto do ponto de vista conceitual quanto diagnóstico, as diversas causas da LRA estão divididas em três categorias anatômicas: pré-renal, intrarrenal ou intrínseca, e pós-renal. Azotemia Pré-Renal: - A azotemia pré-renal, a causa mais comum de LRA, é responsável por cerca de 60 a 70% dos casos adquiridos na comunidade e 40% dos adquiridos no hospital. - A diminuição da perfusão renal é vista em estados doentios que reduzem o volume intravascular, tais como a sepse, a insuficiência cardíaca ou a insuficiência hepática. - Além disso, as medicações que reduzem a perfusão capilar glomerular, como os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), os bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRAs) e os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), também podem causar LRA pré-renal. - Sem uma intervenção médica terapêutica imediata, a azotemia pré-renal progride, a isquemia piora e a lesão resultante nas células epiteliais tubulares diminui ainda mais a TFG. - Essa progressão da azotemia pré-renal concomitante à LRA isquêmica é um processo contínuo que depende da gravidade e da duração da agressão fisiológica. Lesão Renal Aguda Intrínseca: - A LRA intrarrenal é muitas vezes o resultado de azotemia pré-renal não tratada ou intratável que leva a uma LRA isquêmica. - As causas da LRA intrínseca são variadas e podem envolver qualquer porção da vasculatura renal, néfron ou interstício renal. - A LRA intrínseca é classificada de acordo com o sítio histológico primário de lesão: túbulos, interstício, vasculatura ou glomérulos. - A lesão celular dos túbulos renais, comumente chamada de necrose tubular aguda (NTA), ocorre com maior frequência quando há isquemia, embora os túbulos renais também possam ser danificados por toxinas renais específicas. - Lesão séptica ou isquêmica são as principais causas. - A isquemia pode se originar de uma série de cenários clínicos diferentes, mas a patogênese subjacente comum é o fluxo sanguíneo renal reduzido com a progressão da azotemia pré-renal para a LRA isquêmica em quatro fases celulares e clínicas distintas: iniciação, extensão, manutenção e recuperação. - A lesão celular no túbulo proximal durante a fase de iniciação da isquemia renal é primeiramente manifestada pela formação de bolhas nas membranas apicais, com perda da borda em escova. - As superfícies membranosas das células do túbulo proximal perdem sua polaridade e a integridade das junções firmes. - Com a progressão da lesão, as células proximais, vivas ou necrosadas, se destacam e entram no lúmen tubular, onde acabam formando cilindros no túbulo distal. - Os cilindros contribuem para a redução da TFG ao obstruir o fluxo urinário tubular, prevenindo, assim, uma maior filtração naquele néfron. - Além disso, a perda da barreira celular epitelial e das junções firmes entre as células permite o vazamento do filtrado glomerular de volta para o interstício, comprometendo ainda mais a TFG. - Na LRA causada por lesão intersticial, é visto um infiltrado inflamatório misto composto por linfócitos T, monócitos e macrófagos. Essas lesões inflamatórias podem ter distribuição difusa. - Os granulomas podem ocasionalmente ser observados, principalmente nas reações de hipersensibilidade a medicamentos. - A nefrite intersticial aguda que persiste e se torna crônica é caracterizada pela fibrose intersticial e pela atrofia tubular, embora focos de células inflamatórias possam persistir. - Esse processo pode levar a doenças renais crônicas, e até mesmo de estágio final, que requerem diálise crônica. - As toxinas renais também podem danificar os túbulos tanto direta quanto indiretamente. - Felizmente, a LRA não se desenvolve em todos os pacientes expostos a esses agentes; mas os pacientes idosos, com diabetes melito, hipotensos ou com redução do volume arterial efetivo (insuficiência cardíaca, queimaduras, cirrose, hipoalbuminemia) são os mais suscetíveis à lesão renal tóxica. - A LRA secundária à lesão no interstício renal é chamada de nefrite intersticial aguda. Lesão Renal Aguda Pós-Renal: - A LRA pós-renal pode ocorrer nos quadros de obstrução bilateral do fluxo urinário ou em um paciente com apenas um rim quando o único trato do fluxo urinário é obstruído. - Intuitivamente, se esperaria que essa pressão reduzisse a TFG. Porém, devido à dilatação da arteríola glomerular aferente, a TFG permanece praticamente inalterada. Infelizmente, tal compressão é apenas transitória, e a TFG começará a diminuir se a obstrução não for rapidamente revertida. - Com a obstrução durando por mais de 12 a 24 horas, o fluxo sanguíneo renal e a pressão intratubular diminuem, e grandes áreas não perfundidas e sub-perfundidas do córtex renal resultam na redução da TFG. - Mais comumente, este tipo de obstrução de fluxo é observado em pacientes com hipertrofia prostática, câncer prostático ou cervical, ou doenças retroperitoneais. - Uma obstrução funcional pode ser observada nos pacientes com bexiga neurogênica. - Além disso, a obstrução intraluminal pode ser vista em pacientes com cálculos renais bilaterais, necrose papilar, coágulos de sangue e carcinoma vesical; enquanto a obstrução extraluminal está associada à fibrose retroperitoneal, ao câncer de cólon e aos linfomas. - Por fim, a cristalização intratubular de compostos como o ácido úrico, o oxalato de cálcio, o aciclovir, a sulfonamida e o metotrexato, bem como as cadeias leves do mieloma, podem causar obstrução tubular. Fisiopatologia: - A etiologia da LRA é diversa, e pode surgir de inúmeros traumatismos fisiológicos que lesam os rins e reduzem a TFG. - A diminuição da perfusão renal e uma TFG reduzida podem ocorrer com ou sem lesão celular; dano tóxico, isquêmico ou obstrutivo do túbulo renal; inflamação ou edema do interstício tubular; e um processo de doença glomerular primária. Manifestações Clínicas: - A LRA, mesmo quando avançada, é frequentemente diagnosticada primeiro pela observação de anormalidades nos exames laboratoriais de um paciente, e não pela apresentação de sinais e sintomas específicos. - As manifestações clínicas associadas à LRA são frequentemente protraídas, ocorrem tardiamente e não costumam ser aparentes até que a disfunção renal tenha se tornado grave. - Os pacientes com LRA podem relatar sintomas como anorexia, fadiga, náusea, vômito e prurido, assim como diminuição do volume urinário ou a coloração enegrecida da urina. Além disso, se o paciente apresentar sobrecarga de volume, podem ser observadas falta de fôlego e dispneia ao exercício. - Se uma sobrecarga de volume estiver presente, podem ser encontrados edema periférico, crepitações pulmonares e distensão de veias jugulares. Achados tais como asterix, mioclonias ou atrito pericárdico podem acontecer na LRA grave. Diagnóstico: - A análise laboratorial de amostras de sangue e urina de pacientes com LRA revela o nível de disfunção, e frequentemente sugere uma causa, podendo também sinalizar a rapidez na qual uma terapia específica precisa ser instituída. - Todos os pacientes com achados clínicos de LRA devem ser avaliados com medições séricas de eletrólitos, creatinina, cálcio e fósforo; um nível de nitrogênio ureico sanguíneo; e hemograma completocom diferencial. - Além disso, as determinações das concentrações urinárias de sódio, potássio, cloreto e creatinina (Cr), para o cálculo da fração de excreção de sódio (FENa), são importantes. - A microscopia e fitas da urina devem ser realizadas com uma amostra fresca, já que importantes elementos celulares que podem indicar as causas potenciais da doença se degradam com o passar do tempo. - Por fim, uma ultrassonografia renal para determinar a presença ou ausência de obstrução para a saída da urina deve ser incluída na avaliação inicial. Tratamento: - Os pilares da terapia da LRA são seu rápido reconhecimento e as correções das causas reversíveis, evitar-se qualquer lesão renal posterior, e a correção e manutenção de um equilíbrio eletrolítico e do volume interno. - A terapia preventiva ou as intervenções médicas realizadas durante as fases de iniciação e extensão da LRA fornecem as maiores probabilidades de minimizar o tamanho do trauma e acelerar a recuperação renal.
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