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GINEAD GESTÃO URBANA E DE SERVIÇOS PÚBLICOS Unidade 2 - Desenvolvimento Organizacional: Conceitos e elementos fundamentais Unidade 2 Desenvolvimento Organizacional: Conceitos e elementos fundamentais Todos os direitos reservados. Prezado(a) aluno(a), este material de estudo é para seu uso pessoal, sendo vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, venda, compartilhamento e distribuição. 3 GINEAD Nesta unidade, conheceremos a Teoria do Desenvolvimento Organizacional e a dificuldade de sua implantação na esfera pública. Para tanto, distinguiremos o conceito de organização e instituição. Perceberemos que a esfera pública aproxima-se da perspectiva institucional em virtude de seu sistema burocrático. Veremos também que o Desenvolvimento Organizacional implica mudanças nas perspectivas da estrutura, do layout, da análise e do trabalho de uma organização/instituição. Abordaremos, então, os conceitos e desdobramentos desses elementos acalentados tanto na esfera pública quanto na privada. Objetivos Gerais Compreender as implicações do desenvolvimento organizacional na esfera pública no que se refere às estruturas, ao layout, à análise e à distribuição do trabalho. Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá conhecido a importância da Teoria do Desenvolvimento Organizacional, bem como a dificuldade de sua aplicação na esfera pública, fazendo uso dos objetos de interação. Ademais, tanto as questões de múltipla escolha como a atividade dissertativa e o fórum, irão auxiliar você na assimilação de elementos fundamentais na reflexão desta teoria, a saber: estrutura, layout, análise e divisão do trabalho. Apresentação 4 GINEAD 2.1 Desenvolvimento Organizacional Existem vários conceitos de Desenvolvimento Organizacional, mas o mais recente está ligado às táticas educacionais que objetivam refletir sobre as crenças, os valores e as estruturas a fim de adequar a empresa ao processo de inovação e ao mercado de modo geral. Logo, o Desenvolvimento Organizacional (DO) tem o seu foco nas relações interpessoais e grupais. O Desenvolvimento Organizacional é promovido pelo patamar mais elevado da empresa, o qual propõe uma estratégia organizacional para melhorar toda sua organização, com base em ideias sustentáveis. Isso é feito por meio de intervenções planejadas, estabelecendo uma relação entre o agente de mudanças e o sistema cliente (BRETAS PEREIRA, 1985). Nesse sentido, o Desenvolvimento Organizacional tem o intuito de oferecer às organizações instrumentos para que elas compreendam, dirijam e administrem todas as mudanças necessárias para sobreviver por muito tempo em seu ambiente. A ideia de mudança, inclusive, é um ponto central do Desenvolvimento Organizacional. Podemos afirmar que seu foco é o comportamento humano e a técnica. Figura 2.1: O desenvolvimento organizacional oferece instrumentos para que toda equipe saiba lidar com as mudanças Fonte: Plataforma Deduca (2018). Dentro do Desenvolvimento Organizacional, a cultura é um conceito fundamental a se observar. Ela reúne os valores, os hábitos, as tradições e o relacionamento de uma organização; isto é, é inerente à maneira de se refletir e agir dentro de um espaço. De acordo com a teoria, a cultura organizacional é dividida em: “aspectos formais abertos” e “informais e ocultos”. Os primeiros referem-se a questões operacionais e visíveis, como as estruturas e a distribuição de trabalho; já os aspectos informais e ocultos são de ordem mais emocional e social, como as expectativas e as atitudes das pessoas. 5 GINEAD 2.1.1 Desenvolvimento Organizacional na esfera pública Bretas Pereira (1985) afirma que o programa de Desenvolvimento Organizacional não tem conseguido obter sucesso em órgãos públicos em virtude de sua dificuldade em distinguir instituição e organização. As duas lidam com a arrumação do quadro de funcionários de maneiras diferentes. Enquanto a organização utiliza instrumentos necessários para a execução de uma tarefa; a lógica organizadora da instituição tem um caráter mais aprofundado, o qual possui um valor e uma identidade que são percebidas e reconhecidas pelo seu grupo interno e por toda comunidade. Figura 2.2: Os serviços prestados em órgãos públicos estão sempre submetidos à avaliação de toda a sociedade Fonte: Plataforma Deduca (2018). Para a autora, no âmbito público, é preciso que se vise à institucionalização em detrimento da organização. Com isso, a autora enumera algumas razões para se afirmar que as instituições têm características especiais, diferenciando-se das organizações, a saber: a) sua estrutura de valores está internalizada pelo seu ambiente interno e externo; b) seus padrões de ação são aceitos pelo ambiente; c) são sensíveis às mudanças am- bientais e flexíveis para adaptar-se a elas; d) conseguem sobreviver como um conjunto normativo seguro; e) existe consenso estabelecido em tomo de seus objetivos finalísti- cos que são profundamente enraizados no contexto social. (BRETAS PEREIRA, 1985, p. 78). 6 GINEAD Sendo assim, o desenvolvimento organizacional na administração pública ganha uma perspectiva institucional que não se limita à obtenção de lucros, mas visa também à integração, à estabilidade social e à coesão. 2.1.1.1 Distribuição e função dos órgãos públicos Os órgãos públicos cumprem a tarefa de intermediar diálogos e práticas entre o povo e o governo. Eles são classificados em órgãos de administração direta ou órgãos de administração indireta e organizações estatais. Aos primeiros, cabe a tarefa de elaborar políticas públicas e executar as funções principais do governo no setor da saúde, educação, justiça e segurança. Aos órgãos de administração indireta e organizações estatais, por sua vez, cabe a função de executar políticas mais específicas e conjunturais. Já a tarefa do Estado é elaborar políticas que os órgãos deverão aplicar e, para tanto, são instituídas leis e normas a fim de assegurar tal aplicação (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010). No contexto brasileiro, verifica-se que a administração pública possui um conjunto de leis e normas que se distanciam de técnicas administrativas mais modernas. Muitas vezes, as novas tecnologias não se encaixam ao que a lei estabelece; e, então, leis demasiadamente engessadas rejeitam mudanças no âmbito organizacional. Logo, pode-se afirmar que a falta de “espírito empresarial”, em virtude da burocracia, é um dos impasses para as mudanças nos órgãos públicos (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010). Figura 2.3: A burocracia retém a esfera pública no passado Fonte: Plataforma Deduca (2018). 7 GINEAD Problemas na organização no âmbito público são mais complexos se comparados ao setor privado, principalmente porque tudo o que acontece nos órgãos públicos afetam a população como um todo. Em virtude do tamanho da administração pública, ela teve que ser repartida em estruturas menores. Esses segmentos ficam responsabilizados por tarefas específicas de questões inerentes ao cidadão. Dessa forma, a participação organizacional do governo é pautada no controle dos meios – recursos, normas e procedimentos (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010). Função do Estado e dos órgãos públicos Órgãos públicos Intermediar diálogos e práticas entre o povo e o governo. Órgãos de administração direta Elaborar políticas públicas e executar as funções principais do governo no setor da saúde, educação, justiça e segurança. Órgãos de administração indireta e organizações estatais Executar políticas mais específicas e conjunturais. Estado Elaborar políticas que os órgãos deverão aplicar. 2.1.2 Estrutura Organizacional Inspirados em Weber, que toma a “burocracia” como tipo ideal – como se fosse um indicador que medisse o grau de burocratização de uma estrutura –, os teóricos do Desenvolvimento Organizacional classificaram as estruturas das organizações conforme as fases da burocracia. Portanto, antes do estabelecimento de uma burocracia, temos a fase pré-burocrática;e quando a estrutura de uma organização supera a burocracia, temos a fase pós-burocrática. As estruturas da administração públicas no Brasil são marcadas pela fase burocrática: apenas o chefe toma decisões e os demais têm os seus papéis bem demarcados no âmbito social. Observe o quadro comparativo para entender cada estrutura. 8 GINEAD Quadro 2.1: Comparação entre as estruturas pré-burocrática, burocrática e pós-burocrática Fator Pré-burocráticas Burocráticas Pós-burocráticas Seleção Linhagem, relações sociais Treinamento específico Potencialidade e educação generalizada Promoção Favoritismo, corrupção Mérito antiguidade Conhecimento e desempenho passado Bases de especialização Arbitrariedade ou hereditariedade Treinamento na organização Profissional: baseada na estrutura do conhecimento Hierarquia Baseada nas classes sociais Autoridade legal, sistema de status Difusa: respeito baseado no conhecimento e na competência Regras Tradição ou capricho Legalísticas, rígidas Pragmáticas, temporárias Mandato Dependente de favores Permanente Baseado na vida do projeto Tratamento dos clientes Pessoal, particularista Impessoal universalista Universalístico, democrático Fonte: AIEC (2018, p. 5). Uma estrutura tomada pela burocracia tende a causar muitos inconvenientes, entre eles desmotivação do funcionário diante de um poder centralizado e resistência à mudança diante de cargos imutáveis – tornando as organizações também imóveis. Pensando nisso, o psicólogo especialista em Desenvolvimento Organizacional, Warren Bennis, diferenciou dois sistemas: os sistemas orgânicos e os sistemas mecânicos. Os primeiros são relacionados ao desenvolvimento organizacional, enquanto os segundos referem-se às estruturas burocráticas. 9 GINEAD Glossário Burocracia: Burocracia designa, em Weber, um quadro de funcionários que, organizados dentro de uma forma específi ca e submetidos a normas de con- duta também específi cas e determinadas, exercem autoridade legal. (DE OLI- VEIRA, p. 47, 1970). Nos sistemas mecânicos/burocráticos, a relação entre funcionários e chefe é marcada pela obediência, os confl itos são reprimidos e a responsabilidade restringe-se à divisão de trabalho. Já nos sistemas orgânicos, é estabelecida uma relação de confi ança entre chefe e funcionários, os confl itos são negociados e a divisão de trabalho é percebida como participação entre grupos. Além disso, o próprio hábito de dividir as funções das instituições dentro da estrutura da organização em produção, fi nanças etc. já denota um conservadorismo impregnado nos sistemas mecânicos/burocráticos. Nota-se, portanto, que o Desenvolvimento Organizacional tem por objetivo fl exibilizar as estruturas da organização. Figura 2.4: As diferenças entre o sistema mecânico e ao sistema orgânico Burocracia DesenvolvimentoOrganizacional Sistema mecânico: • Obediência; • Repressão de conflitos; • Divisão do trabalho. Sistema orgânico: • Confiança entre chefe e funcionário; • Conflito negociado; • Participação entre grupos. Fonte: Elaborada pela autora (2018). 10 GINEAD Saiba mais O Brasil foi considerado o segundo país mais burocrático do mundo em um ranking de 94 países. Esse dado foi obtido pela TMF Group em 2017, uma consultora internacional especializada em desenvolvimento de negócios pelo mundo. Clique no link para saber mais: <http://g1.globo.com/economia/ blog/thais-heredia/post/brasil-e-o-2-de-94-paises-em-ranking-de-complexi- dade-fi nanceira.html>. 2.1.2.1 Características das estruturas De modo geral, é possível perceber pontos específi cos dentro de cada estrutura. Com base nisso, muitos autores compartilham a perspectiva de que existem pelo menos seis tipos de estruturas principais, são elas: funcional, divisional, geográfi ca, horizontal, matricial e híbrida. Figura 2.5: As organizações se estruturam no espaço e nas relações de diferentes maneiras Fonte: Plataforma Deduca (2018). A estrutura funcional é identifi cada pela separação de tarefas entre departamentos, sendo a presidência o topo da escala. É muito comum ver nessa estrutura a divisão em departamento de produção, departamento de fi nanças e departamento de vendas. Já na estrutura divisional, há divisões em departamentos referentes tanto a produtos como a serviços. Dessa forma, podemos visualizar a imagem de um departamento de produção e, dentro dele, a existência de pelo menos quatro setores. As estruturas geográfi cas, por sua vez, são pensadas a partir da produção regional, objetivando dar respostas diferentes a cada uma delas. 11 GINEAD Figura 2.6: À sua maneira, tanto a estrutura funcional como a divisional alocam os funcionários em um sistema de separação por departamento Fonte: Plataforma Deduca (2018). A estrutura horizontal é organizada para manter uma relação de comunicação entre as unidades. Seu foco é o desempenho em equipe e não apenas o indivíduo. Logo, há programas de avaliação, aplicação de treinamento e relatórios de dados. Na estrutura matricial, os participantes de cada unidade/departamento são alocados em projetos e, na medida em que eles terminam, passam para outros. Tal estrutura, inclusive, é uma tendência dos tempos modernos. Por fim, na estrutura híbrida, é possível encontrar características de todas essas estruturas aproveitando as vantagens de cada uma delas. Conceitos Fundamentais do Desenvolvimento Organizacional Desenvolvimento Organizacional Propõe uma estratégia organizacional para melhorar toda organização, baseando-se em ideias sustentáveis. 12 GINEAD Cultura Organizacional Reúne os valores, hábitos, tradições do cotidiano de uma organização. Logo, é inerente à maneira de se refletir e agir dentro de um espaço. Estrutura Organizacional São classificadas em pré-burocrática, burocrática e pós-burocrática. 2.1.3 Layout Organizacional O layout (também conhecido por “arranjo físico”) é um dos focos de mudança da Teoria do Desenvolvimento Organizacional. Ele é responsável pela distribuição das unidades e das áreas; e, quando bem planejado, tende a relacionar a distribuição de objetos a agentes no espaço físico. Assim, ele é capaz de colaborar com vários aspectos da organização, entre os eles: realização de atividades e fluxo de agentes, materiais e informações (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010). Figura 2.7: O layout organizacional planeja a melhor maneira de dispor os funcionários e os objetos no espaço físico Fonte: Plataforma Deduca (2018). Existem diferentes modelos de layouts – aqui, cabe apenas o estudo do layout administrativo. Este deve ser ilustrado em planta baixa utilizando-se escalas, seus espaços devem ser abertos de maneira a facilitar o fluxo e, consequentemente, a informação. Ademais, um bom layout deve conter tanto objetos de uso pessoal, como objetos de uso específico para o seu trabalho. Figura 2.8: Importância do layout administrativo 13 GINEAD 3. Facilita o �uxo de pessoas e informações. 1. Responsabiliza-se pela distribuição de materiais e agentes no espaço. 2. Colabora com os aspectos da organização. Fonte: Elaborada pela autora (2018). Uma noção bastante usada nos âmbitos administrativos (e que deve ser também levada em consideração) é a de ergonomia. A ergonomia estuda a relação entre o homem e o trabalho e, pensando do ponto de vista organizacional, percebe e correlaciona o comportamento humano ao espaço físico e às técnicas de trabalho. Somada à noção de ergonomia, o layout também se preocupa com as cores. Atualmente, os estudos administrativos consideram o uso das cores no espaço físico importante para compor o layout da organização; pois sabe-se que cada cor é capaz de afetar o comportamento de uma determinada maneira. A cor vermelha, por exemplo, do ponto de vista da “iluminação física”, é capaz de aumentar o calor; e, do ponto de vista psicológico, é capaz de estimular situações de violência; já a cor verde gera uma impressão de leveza no ambiente físico, incutindouma sensação de paz nos funcionários. Figura 2.9: Cada cor atua de maneira específica no modo de agir e de pensar dos sujeitos Fonte: Plataforma Deduca (2018). 14 GINEAD 2.1.3.1 A importância do planejamento do Layout O planejamento do arranjo físico/layout é inerente à decisão da localização de objetos e dos agentes de trabalho. Vale destacar que, se mal planejado, pode alterar a produtividade da organização. Há diferentes formas de planejar o layout, sendo três as mais sugeridas e utilizadas: arranjo físico por produto, arranjo físico por processo e arranjo físico posicional. O arranjo físico por processo agrupa os agentes de especialidades similares dentro do espaço físico. É muito comum em hospitais, onde cada setor atua em determinada área, e tanto os pacientes como os médicos necessitam direcionar-se para tal especialidade. A organização do espaço dessa maneira tende a flexibilizar a demanda de atendimento de produtos variados. Já o arranjo físico por produto (também chamado de linha de produção) relaciona-se ao valor agregado do produto no contexto de suas etapas. Uma de suas vantagens refere-se à produção em massa e ao controle da produtividade. Em contrapartida, no arranjo físico posicional, o objeto é fixo, sendo o planejamento pautado na distribuição de pessoas no espaço. Este tipo de planejamento é caraterístico de grandes construções, nas quais os objetos não podem ser movimentados. O layout posicional possibilita a terceirização dentro do projeto e aumenta a flexibilidade. Conceito de Layout e suas formas de planejamento Layout Responsável pela distribuição de objetos e pessoas no espaço físico. 15 GINEAD Layout por processo Agrupa os agentes de especialidades similares. Layout por produto Agrega valor ao produto no contexto de suas etapas. 16 GINEAD Layout posicional Objeto é fixo, e o planejamento pautado na distribuição de pessoas no espaço. 2.1.3.2 A realidade dos arranjos físicos no setor público brasileiro Segundo o estudo de caso intitulado “Análise do Arranjo físico no almoxarifado de organização militar”, de Lira e Silva et al. (2016), a realidade dos arranjos físicos no setor público brasileiro está longe de ser a ideal. Em instituições miliares, a compra de um produto precisa ser autorizada pelo oficial responsável pelo almoxarifado, e os demais ficam responsáveis por todo o processo até a chegada do material. Ao final, o chefe verifica se está tudo certo, lança no sistema e armazena o produto em seu lugar. Entretanto, no espaço físico do almoxarifado, verificou-se que a perspectiva de um bom layout ainda não está incutida no cenário público; seus espaços são simplesmente adaptados para o armazenamento de produtos. 17 GINEAD Figura 2.10: Um almoxarifado, quando não planejado, não tem um bom layout, podendo atuar apenas como armazenamento de materiais, o que, consequentemente, gera um ambiente bagunçado Fonte: Plataforma Deduca (2018). No tocante ao layout, o setor público tem ainda outra problemática: o longo processo administrativo para a solicitação de compras. Entretanto, a compra de produtos classificados como “pequenas despesas” ou “despesas emergenciais” não precisa entrar em um processo licitatório, ou seja, os materiais devem ser solicitados por meio de um memorando ao chefe. Cabe a ele verificar a necessidade e/ou urgência daquele material. Uma vez confirmada a necessidade, o memorando é repassado aos servidores; os subordinados, por sua vez, fazem o levantamento de preço, que deve ser encaminhado ao chefe, a quem cabe optar pelo melhor preço e qualidade dos produtos. Todo esse processo parece simples, mas, dependendo da situação financeira do batalhão, a obtenção de compras pode ser demorada em virtude das exigências demandadas pelas leis da administração pública. 18 GINEAD Figura 2.11: O planejamento do layout depende da disposição de verba. Por isso, é de suma importância a pesquisa de preços Fonte: Plataforma Deduca (2018). 2.1.4 Diagnóstico e Análise Organizacional Entende-se por diagnóstico a avaliação que podemos fazer sobre a situação atual de uma organização. Podemos diagnosticar a partir de três eixos: pontos fortes, pontos fracos e pontos a melhorar. Os pontos fortes estão relacionados aos aspectos positivos com relação aos recursos e à capacidade instalada. Os pontos fracos são aspectos que têm contribuído muito pouco para a conquista dos objetivos da empresa. Já os pontos a melhorar são inerentes às possibilidades de melhora em um contexto negativo (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010). A análise organizacional cumpre a tarefa de compreender os elementos – isto é, ambientes, estruturas e cadeiras de relações entre as unidades – que constituem a organização. Para melhor exame, pode-se dividir o eixo de análise em dois sistemas correlacionados: sistema social e sistema técnico. O sistema técnico refere-se às tarefas e ao uso dos equipamentos. Já o sistema social é inerente às relações entre os agentes e às habilidades na execução de tarefas. 19 GINEAD Figura 2.12: A análise organizacional colabora para o alcance de um bom desempenho da organização Fonte: Plataforma Deduca (2018). Tanto o diagnóstico como a análise são instrumentos fundamentais para a melhoria das organizações. Enquanto o diagnóstico objetiva verificar a situação atual da organização, a análise organizacional sugere os pressupostos ideais para interpretar e colocar em prática procedimentos operacionais (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010) Análise e diagnóstico na organização: conceitos 20 GINEAD Diagnóstico Avalia a situação atual de uma organização. Análise Tenta compreender os elementos da organização. 21 GINEAD Sistema Técnico de Análise Foca as tarefas e uso de equipamentos. Sistema Social de Análise Foco nas relações entre os agentes e suas características na execução de tarefas. 22 GINEAD 2.1.4.1 Análise Organizacional em organizações institucionais Bretas Pereira (1985) afirma que instituições têm características diferentes de organizações, pois apresentam relações mais pertinentes ao sistema burocrático. Por ser diferente, a autora estabeleceu parâmetros de análises específicas para tal âmbito. Entre eles, estão a dimensão do tempo, os recursos, a liderança, o relacionamento com os clientes, o valor e o ambiente. Figura 2.13: Para fazer uma análise das instituições, é preciso estabelecer parâmetros compatíveis com suas características Fonte: Plataforma Deduca (2018). Ao fazer a análise, é importante considerar a dimensão temporal desde o momento da fundação. Acredita-se que uma organização leva oito anos para adquirir caraterística de uma instituição. Para Bretas Pereira (1985), esse seria o tempo mínimo para a organização solidificar relacionamentos, baseados em manifestações sociais no que se refere à instituição. Os recursos financeiros e humanos também funcionam como parâmetro para a análise organizacional no setor público. Nesta perspectiva, é importante considerar o nível de institucionalização do mercado alcançado quando se atinge estabilidade no mercado de serviços e produtos, por meio da valorização dos usuários. A liderança, no âmbito institucional, é verificada diante da competência técnica nos processos gerenciais. Nos estágios iniciais, são as habilidades de coordenação e gerenciamento que tornam-se realmente importantes para eventuais situações de mudança no ambiente. No tocante ao relacionamento com o cliente, o que está em jogo é a confiança estabelecida entre o cliente e a organização. Esse parâmetro é teoricamente voltado para o atendimento das necessidades dos clientes; enquanto os clientes, por outro lado, torcem para obter sempre um bom atendimento da organização. 23 GINEAD Quando a organização consegue satisfazer às necessidades específicas de cada cliente, ela obtém o seu grau ótimo de institucionalização. Com isso, o parâmetro do valor é visualizado. Já o ambiente institucional atinge um grau ótimo quando o espaço conseguegerar um bom fluxo de idas e vindas, a fim de acalentar as novas demandas do momento. Parâmetros para a análise institucional Dimensão temporal Considera um período de oito anos, desde sua fundação. Recursos humanos e financeiros Considera o grau de estabilidade no mercado. Liderança Considera a competência técnica nos processos gerenciais. Relacionamento com o cliente Considera o atendimento das necessidades dos clientes. Valor Considera a satisfação do cliente. Ambiente Considera a fluidez dos espaços frente às demandas. 24 GINEAD Glossário Institucionalização Organizacional: Friedlander e Morse (apud BRETAS PEREI- RA, 1985) entendem a institucionalização organizacional como um processo que ocorre de maneira espontânea, fora dos parâmetros da consciência e da racionalidade. As organizações se institucionalizam quando passam a ter signifi cação simbólica e normativa. 2.1.5 O trabalho na ótica do Desenvolvimento Organizacional na esfera pública Faz parte do Desenvolvimento Organizacional promover a melhora na qualidade de vida dos trabalhadores, aumentar sua motivação e estreitar a sua relação com os seus chefes. De acordo com a proposta dessa teoria, gestor e equipe atuam juntos no planejamento das mudanças. Nesta fase, são elaborados planos e objetivos, além de medidas preventivas para possíveis problemas. Figura 2.14: No Desenvolvimento Organizacional, os colaboradores são motivados a obter sucesso Fonte: Plataforma Deduca (2018). 25 GINEAD Dentro de uma estrutura de transição, existe uma preocupação em criar canais de comunicação para amenizar as ansiedades do colaborador ou da equipe e fazer com que se fique informado de todo o processo de transição. Há, no contexto do Desenvolvimento Organizacional, a implantação de treinamentos e cursos de capacitação, sempre destacando a importância do trabalho em equipe e auxiliando os colaboradores com dificuldade de adaptação no bojo da mudança. Uma vez atingido os objetivos, o sucesso é compartilhado com todos os colaboradores. Como já mencionado, para exemplificar uma contraposição a este quadro, tem-se a burocracia encontrada na esfera pública, na qual a divisão de trabalho é uma das características principais do sistema mecânico. Dessa forma, os funcionários geralmente são alocados em departamentos específicos. Figura 2.15: No setor público, o funcionário é tomado por burocracias Fonte: Plataforma Deduca (2018). Todo o trabalho despendido pelo funcionário público é perpassado por regras e leis previstas pela administração pública, que prevê a supervisão de instâncias superiores. Essa burocracia impede ao servidor o contato com o novo, com a mudança e com o movimento, acarretando- lhe desgaste emocional. Fechados a seu departamento e em si mesmo, a avaliação de seu desempenho é restrita à técnica. 26 GINEAD Diferenças entre o trabalho no desenvolvimento organi- zacional e na esfera burocrática Trabalho no Desenvolvimento Organizacional: Trabalho em equipe. Cotidiano no Desenvolvimento Organizacional Gestor e equipe planejam juntos. 27 GINEAD Trabalho na esfera pública/burocrática Divisão de trabalho. Cotidiano na esfera pública/burocrática Funcionários presos a regras e normas. Síntese 28 GINEAD O Desenvolvimento Organizacional é inerente às estratégias de uma empresa para a promoção de mudanças necessárias. Bretas Pereira (1985) acredita que a esfera pública não tem conseguido aplicar os preceitos do Desenvolvimento Organizacional em virtude de sua dificuldade em distinguir organização e instituição. A autora afirma que a esfera pública não funciona sob a lógica da organização, mas, sim, da instituição; e esta, como tal, é tomada por uma lógica burocrática própria. Nesse contexto, o Desenvolvimento Organizacional não focaria a obtenção de lucro nas instituições – públicas –, mas visaria à integração e à coesão social. Conforme abordamos, os órgãos públicos têm a tarefa de intermediar diálogos e práticas entre o Estado e os sujeitos. Para isso, existem os “órgãos de administração direta” e os “órgãos de administração indireta e organizações estatais”, cada qual cumprindo a tarefa de aplicar políticas públicas formuladas pelo Estado. Tanto o Estado como os órgãos são guiados por técnicas administrativas regidas por leis e normas, gerando burocracia. Diante disso, muitos pesquisadores apontam que toda essa burocracia impede à esfera pública o contato com o novo e a mudança em suas estruturas. Figura 2.16: Esquema do Desenvolvimento Organizacional Desenvolvimento Organizacional Mudança Estrutura Layout Análise Trabalho Fonte: Elaborada pela autora (2018). O Desenvolvimento Organizacional sugere mudanças na estrutura, no layout, na análise e na distribuição de uma organização/instituição. Ao falar sobre a estrutura, vimos que os teóricos do Desenvolvimento Organizacional estabeleceram classificações niveladas pela burocracia, a saber: pré-burocrática, burocrática, e pós-burocrática. Para contrapor o Desenvolvimento Organizacional à burocracia, formularam também o conceito de “sistema mecânico” e “sistema 29 GINEAD orgânico”. O primeiro pertence a uma estrutura burocrática, na qual a relação entre chefe e funcionário é dada pela obediência e submissão; e os conflitos, reprimidos. Já no sistema orgânico, há a relação entre colaborador e gestor, na qual se prioriza uma relação de confiança; e os conflitos são negociados. Estudamos também que o layout de uma estrutura é a distribuição de objetos e agentes no espaço físico e, quando bem planejado, correlaciona os dois de maneira a colaborar para um melhor fluxo dos agentes e, consequentemente, de informação. O layout organizacional tende a fazer uso da noção de ergonomia, a qual percebe a importância do comportamento humano, do espaço físico e das técnicas dentro de uma estrutura. Além disso, o layout organizacional considera importante também a psicologia das cores, entendendo que cada cor pode ser capaz de alterar o comportamento dos agentes no espaço físico. Ao trazer um estudo de caso, vimos que o layout no setor público está longe de ser o ideal. No que tange ao layout de almoxarifados, por exemplo, é possível perceber que eles foram pensados apenas para o armazenamento de produtos/materiais, e não na distribuição dos objetos e pessoas no cotidiano, a fim de melhorar o fluxo e a produtividade. Cabe à análise organizacional a tarefa de entender os elementos (estrutura, ambiente, relações entre unidades etc.) que formam a organização. Para melhor organizar, vimos que se estabeleceram dos eixos para análise: sistema social e sistema técnico. O técnico refere-se ao uso dos equipamentos, já o sistema social é inerente à relação entre os agentes e suas habilidades. Entretanto, Bretas Pereira (1985) pontua que a análise nas organizações institucionais deve ter parâmetros específicos para a sua realidade, como dimensão do tempo, recursos, liderança, relacionamentos entre os clientes, valor e ambiente. Com relação ao trabalho, percebemos que o Desenvolvimento Organizacional e a esfera pública têm visões diferentes. Enquanto o Desenvolvimento Organizacional é notado pelo trabalho em equipe e uma relação de confiança entre gestor e colaborador, visando à qualidade de vida; na esfera pública, o que existe é uma relação de obediência sob a luz da divisão de trabalho, perpassado por leis e normas, fazendo com que o funcionário dificilmente entre em contato com mudanças e movimentos. Referências 30 GINEAD ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO CONTINUADA (AIEC). O desenvolvimento organizacional. 2018. Disponível em: <http://www.aiec.br/ plataforma/101101/101/unidade03/downloads/leitura/101u03lc02.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2018. BRETAS PEREIRA, M. J. L. de Desenvolvimento organizacional na administração pública. Revista Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 75-105, jul./set. 1985. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/ article/view/10276/9266>. Acessoem: 23 nov. 2018. DE OLIVEIRA, G. A. A burocracia weberiana e a administração federal brasileira. 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