Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 13 (03/06/20) - Neuroanatomia A.M.: 20. G.: 19. A.M.: Formação reticular e sistemas modulatórios de projeção difusa - cap. 20 G.: Formação reticular - cap. 19 ● Formação reticular consiste na agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico. É uma substância intermediária entre a cinzenta e a branca. ● Possui grupos de neurônios com diferentes tipos de neurotransmissores, destacando-se as monoaminas: noradrenalina, serotonina, dopamina. ● Núcleos da formação reticular: - Núcleos da rafe: trata-se de um conjunto de nove núcleos, entre os quais um dos mais importantes é o núcleo magno da rafe, que se dispõe ao longo da linha mediana (rafe mediana) em toda a extensão do tronco encefálico. Os núcleos da rafe contêm neurônios ricos em serotonina; - Locus ceruleus: na área de mesmo nome, no assoalho do IV ventrículo, esse núcleo apresenta neurônios ricos em noradrenalina; - Área tegmentar ventral: situada na parte ventral do tegmento do mesencéfalo, medialmente à substância negra, contém neurônios ricos em dopamina. Núcleo Localização da rafe mesencéfalo, ponte e bulbo área tegmentar ventral mesencéfalo locus ceruleus ponte e bulbo substância cinzenta central do mesencéfalo mesencéfalo ● Conexões da formação reticular: - conexões com o cérebro: a formação reticular projeta fibras para todo o córtex cerebral, por via talâmica e extratalâmica. Projeta-se também para áreas do diencéfalo. Por outro lado, várias áreas do córtex cerebral, do hipotálamo e do sistema límbico enviam fibras descendentes à formação reticular; - conexões com o cerebelo: existem conexões nos dois sentidos entre o cerebelo e a formação reticular; - conexões com a medula: dois grupos principais de fibras ligam a formação reticular à medula, as fibras rafe-espinhais e as fibras que constituem os tratos reticuloespinhais. Por outro lado, a formação reticular recebe informações provenientes da medula através das fibras espinorreticulares; - conexões com núcleos dos nervos cranianos: os impulsos nervosos que entram pelos nervos cranianos sensitivos ganham a formação reticular através das fibras que a ela se dirigem, a partir de seus núcleos. Há evidência de que informações visuais e olfatórias também ganham a formação reticular através da conexão tetorreticular e do feixe prosencefálico medial. ● Funções da formação reticular: - Controle da atividade elétrica cortical: ↳ Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA): constituído de fibras noradrenérgicas do locus ceruleus, serotoninérgicas dos núcleos da rafe e colinérgicas da formação reticular da ponte. Na transição entre o mesencéfalo e o diencéfalo, o SARA se divide em um ramo dorsal e outro ventral. O ramo dorsal termina no tálamo (núcleos intralaminares) que, por sua vez, projeta impulsos ativadores para todo o córtex. O ramo ventral dirige-se ao hipotálamo lateral e recebe fibras histaminérgicas do núcleo tuberomamilar do hipotálamo posterior e, sem passar pelo tálamo, esse ramo dirige-se diretamente ao córtex, sobre o qual tem ação ativadora. A lesão de cada um desses ramos causa inconsciência. A ativação cortical envolve neurônios noradrenérgicos, serotoninérgicos, histaminérgicos e colinérgicos que fazem parte dos sistemas modulatórios de projeção difusa. O SARA tem papel central na regulação do sono e da vigília. ↳ Ciclo vigília-sono: é regulado por neurônios hipotalâmicos pelo Sistema Ativador Ascendente. Durante o dia (vigília), esse sistema ativa o córtex. No final da vigília, em antecipação ao momento de dormir, um grupo de neurônios do hipotálamo anterior (núcleo pré-óptico ventrolateral) inibe a atividade dos neurônios monoaminérgicos do Sistema Ativador Ascendente, desativando o córtex. Simultaneamente, o núcleo reticular do tálamo inibe a atividade dos núcleos talâmicos sensitivos, barrando a passagem para o córtex dos impulsos originados nas vias sensoriais. Inicia-se, assim, o estado de sono de ondas lentas, no qual a atividade elétrica do córtex é devida a circuitos intrínsecos sem influência de informações sensoriais externas. Pouco antes do despertar, os neurônios do Sistema Ativador Ascendente voltam a disparar, cessa a inibição dos núcleos talâmicos sensitivos pelo núcleo reticular e inicia-se novo período de vigília. ↳ Sono REM e sono não REM: no sono não REM, o cérebro repousa. Sua taxa de consumo de oxigênio está em nível baixo e predomina o tônus parassimpático, com redução de F.C. e F.R, além da presença de miose. Observa-se baixa atividade neuronal, redução significativa do metabolismo neuronal e da temperatura encefálica. Durante o sono REM, que ocupa 20 a 25% do tempo total de sono, o consumo de oxigênio pelo cérebro é igual ou maior do que em vigília, refletindo a atividade cortical. O indivíduo sonha e seus olhos movem-se rapidamente. Além disso, tem papel importante no processo de consolidação de memórias. O sono REM é gerado por neurônios colinérgicos da formação reticular da junção ponte-mesencéfalo (núcleo pedúnculo-pontino). Durante o sono REM, muitas áreas corticais estão tão ativas como na vigília (sonhos), incluindo o córtex motor. Todavia, não ocorre a execução de movimentos devido à inibição dos neurônios motores por vias colinérgicas descendentes dos neurônios do núcleo pedúnculo-pontino, o que resulta em atonia muscular. O sono REM é encerrado pelos neurônios do locus ceruleus, que aumentam sua atividade na transição entre o sono paradoxal e a vigília, podendo ser considerados os neurônios do despertar. - Controle eferente da sensibilidade: a atenção seletiva consiste na capacidade de selecionar, dentre as diversas informações sensoriais que nos chegam, aquelas mais relevantes e que despertam nossa atenção, diminuindo algumas e concentrando-se em outras. É um fenômeno que pode ocorrer simultaneamente a outro denominado habituação, quando deixamos de perceber estímulos apresentados continuamente. Esse controle se faz pelas fibras eferentes capazes de modular a passagem dos impulsos nervosos nas vias aferentes específicas, destacando-se as fibras que inibem a penetração no SNC de impulsos dolorosos, caracterizando as chamadas vias de analgesia. - Controle da motricidade somática e postura: os tratos reticuloespinhais pontino e bulbar são importantes para a manutenção da postura e da motricidade voluntária da musculatura axial e apendiculares poximais. Para suas funções motoras, a formação reticular recebe aferências do cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral. Os tratos reticuloespinhais veiculam também comandos motores descendentes, gerados na própria formação reticular e relacionados com alguns padrões complexos e estereotipados de movimentos, como a mímica facial em situações de expressão de estados emocionais (como o riso ou o choro). - Controle do SNA: o sistema límbico e o hipotálamo têm amplas projeções para a formação reticular, a qual, por sua vez, liga-se aos neurônios pré-ganglionares do SNA, estabelecendo-se, assim, o controle da formação reticular sobre essesistema. - Controle neuroendócrino: sabe-se que estímulos elétricos da formação reticular do mesencéfalo causam liberação de ACTH e de hormônio antidiurético. No controle hipotalâmico da liberação de vários hormônios adenohipofisários estão envolvidos mecanismos noradrenérgicos e serotoninérgicos, o que envolve também a formação reticular, uma vez que nela se originam quase todas as fibras contendo essas monoaminas que se dirigem ao hipotálamo. - Integração de reflexos: ↳ Centro do vômito: situado na formação reticular do bulbo, próximo ao núcleo do trato solitário, estendendo-se até a parte inferior da ponte. ↳ A formação reticular do tronco também contém grupos de neurônios que coordenam reflexos e padrões motores estereotipados que podem se tornar mais complexos sob o controle voluntário do córtex cerebral. - Controle da respiração (centro respiratório): localiza-se na formação reticular do bulbo e apresenta uma parte dorsal, que controla a inspiração, e outra ventral, que regula a expiração. Recebe aferências do trato solitário pelas fibras do nervo vago e envia fibras reticuloespinhais que terminam fazendo sinapse com os neurônios motores da porção cervical (nervo frênico) e torácica (nervos intercostais) da medula. Os neurônios motores relacionados com os nervos frênico e intercostais recebem também fibras do trato corticoespinhal, o que permite o controle voluntário da respiração. - Controle vasomotor (centro vasomotor): situado na formação reticular do bulbo, o centro vasomotor coordena os mecanismos que regulam o calibre vascular, do qual depende basicamente a P.A., influenciando também o ritmo cardíaco. Recebe aferências do núcleo solitário a partir de barorreceptores situados principalmente no seio carotídeo que chegam por meio de fibras aferentes viscerais gerais do nervo vago. Do centro vasomotor saem fibras para os neurônios pré-ganglionares do núcleo dorsal do vago, resultando em impulsos parassimpáticos e fibras reticuloespinhais para os neurônios pré-ganglionares da coluna lateral da medula, resultando impulsos simpáticos. ● Correlações anatomoclínicas: - O córtex cerebral depende de impulsos ativadores que recebe da formação reticular do tronco encefálico e do hipotálamo. - Os processos patológicos que comprimem o mesencéfalo, ou a transição desse com o diencéfalo, quase sempre levam à perda total da consciência, isto é, ao coma. Assim, sabe-se que a formação reticular é lesada, interrompendo o SARA. Lesões patológicas no compartimento infratentorial podem causar esse quadro. - Tumores ou hematomas que levem ao aumento da pressão no compartimento supratentorial podem causar hérnia do unco, que, ao insinuar-se entre a incisura da tenda e o mesencéfalo, comprime esse último e produz um quadro de coma. ● Vias serotoninérgicas: a maioria dos neurônios serotoninérgicos do tronco encefálico localiza-se na formação reticular, nos núcleos da rafe que se estendem na linha média, do bulbo ao mesencéfalo. Projetam-se para o córtex cerebral, hipotálamo e sistema límbico e participam do ciclo vigília-sono, de comportamentos motivacionais e emocionais, do controle afetivo, digestão, termorregulação, comportamento sexual e tônus motor, além de promover a ativação cortical durante a vigília, como parte do SARA. - Fibras rafe-espinhais que saem do núcleo magno da rafe ganham a substância gelatinosa da medula, onde inibem a entrada de impulsos dolorosos, fazendo parte das vias da analgesia. - Medicamentos que induzem à recaptação de serotonina (ex.: sertralina) não podem ser tomados à noite. - Alguns antidepressivos devem ser tomados à noite → necessário serotonina para iniciar o sono. - A serotonina está relacionada com o processamento de memória, o temperamento, o sono, a cognição. ● Vias noradrenérgicas: estão distribuídas em vários núcleos da formação reticular do bulbo e da ponte. Entre esses núcleos, o mais importante é o locus ceruleus, núcleo situado no assoalho do IV ventrículo, cujas projeções atingem praticamente todo o SNC, inclusive o córtex cerebral. O sistema noradrenérgico está envolvido na regulação do alerta, da atenção seletiva e da vigília, assim como no aprendizado, na memória, na regulação do humor e na ansiedade. São especialmente ativados por estímulos sensoriais novos e inesperados, oriundos do ambiente. Em casos de eventos estressantes, participam do alerta geral do encéfalo, aumentando a capacidade cerebral de responder a estímulos e sua eficiência. Por outro lado, encontram-se menos ativos nas atividades calmas, como durante o repouso e as refeições. - Ritalina/Venvanse: melhora a atenção seletiva, mas causa perda do sono e euforia. ● Vias adrenérgicas: encontram-se misturados aos noradrenérgicos do bulbo. Também estão presentes no tronco encefálico e projetam-se para a coluna lateral da medula, modulando a atividade vasomotora por meio do sistema simpático. Outros projetam-se para o hipotálamo, participando do controle cardiovascular. ● Vias dopaminérgicas: localiza-se no mesencéfalo, na área tegmentar ventral, pertencente à formação reticular, e na substância negra, que dá origem à via nigroestriatal (termina no corpo estriado), sendo muito importante no controle da atividade motora. As vias dopaminérgicas têm distribuição restrita no encéfalo, sobretudo, no hipotálamo, onde estão envolvidos na regulação endócrina e autonômica. - Na área tegmentar ventral origina-se a via dopaminérgica mesolímbica, que se projeta para o núcleo accumbens, núcleos do septo e o córtex pré-frontal integrantes do sistema de recompensa ou de prazer do cérebro. Esquizofrenia afeta a transmissão dopaminérgica para o sistema límbico e o córtex pré-frontal. - Paciente que usa muito Sorine (nafazolina) perde o sono. Cria dependência. - Excesso de dopamina causa euforia, mania, compulsão, impulsividade, hipersexualidade, alucinações. ● Vias histaminérgicas: localizam-se no núcleo tuberomamilar do hipotálamo. Projetam-se para todo o córtex por via extratalâmica e, junto com as fibras serotoninérgicas e noradrenérgicas, integram o Sistema Ativador Ascendente, responsável pela vigília. - Os medicamentos anti-histamínicos causam sono como efeito colateral, pois são antagonistas à ação da histamina. - Crianças de 3 ou 4 meses que sofrem de privação do sono são medicadas com anti-histamínicos. ● Vias colinérgicas: situam-se na formação reticular da junção ponte-mesencéfalo (núcleo pedúnculo-pontino) e no prosencéfalo basal. - O núcleo pedúnculo-pontino é responsável pelo sono REM e pela atonia muscular durante esse sono. - O principal componente do prosencéfalo basal é o núcleo basal de Meynert, que provê grande parte das projeções colinérgicas para o encéfalo, sendo um dos componentes do Sistema Ativador Ascendente. Acredita-se que a lesão do núcleo basal de Meynert e consequente diminuição das fibras colinérgicas no córtex têm papel importante na doença de Alzheimer. ● Sistemas modulatórios e psicofarmacologia: - Fluoxetina: inibidor da captação de serotonina, usado como antidepressivo. - Os alucinógenos que têm como droga inicial o LSD têm efeitos comportamentais, com aumentosda percepção sensorial e alucinações múltiplas. Atuam sobre o sistema serotoninérgico. - As drogas estimulantes, como cocaína e anfetamina, exercem seu efeito atuando sobre os sistemas noradrenérgico e dopaminérgico, bloqueando a recaptação dessas monoaminas pela membrana pré-sináptica, o que as disponibiliza na fenda sináptica. ● Lesões da formação reticular podem resultar em coma e outras alterações específicas. Quando há lesões localizadas no córtex cerebral, há perda da função correspondente daquela área. Se há lesão difusa do córtex, o paciente pode entrar em coma. A lesão da formação reticular também pode resultar em coma, não pelo acometimento cortical, mas pelo acometimento de estruturas que ativam o funcionamento do córtex cerebral. - Situações em que a formação reticular desativa o córtex ocorrem em casos de acometimentos do encéfalo por traumas, crises epilépticas, baixa perfusão cerebral, dentre outros. Nessas situações pode ocorrer a perda da consciência (pela perda da vigília), que ocorre como mecanismo de proteção que busca a diminuição do metabolismo celular para a retomada da homeostasia. - Sinal de Lázaro: paciente em morte cerebral com movimento medular involuntário. - Síndrome do encarceramento (locked in): movimentos oculares preservados, sem expressões faciais. Lesão à nível da ponte, paciente completamente acordado e orientado. ● As desordens qualitativas referem-se ao conteúdo da consciência e podem se manifestar por delirium, demência, desorientação e alucinações. As desordens quantitativas referem-se ao nível de consciência em relação ao estado de vigília. Podem ter causas estruturais (isquemias, hemorragias, traumatismos, tumores e hidrocefalias) e não-estruturais (distúrbios metabólicos, uso de drogas, infecções e desordens psiquiátricas). ● A escala de coma de Glasgow tem a função de quantificar o estado de consciência do paciente em um determinado momento. A pontuação igual ou inferior a 8 corresponde ao estado de coma. Abertura ocular Resposta verbal Resposta motora 1 Ausente Ausente Ausente 2 Ao estímulo Sons (gemidos) Descerebração 3 Ao chamado Palavras desconexas Decorticação 4 Espontânea Confuso Inespecífica 5 - Orientado Localiza estímulo 6 - - Obedece comandos - Traumatismo leve: 15 a 13 pontos; Traumatismo moderado: 12 a 9 pontos; Traumatismo grave: 8 a 3 pontos. - A decorticação ocorre quando a lesão acomete níveis craniais aos colículos superiores e caudais do córtex cerebral. O paciente adota postura de flexão dos membros superiores e extensão dos inferiores, com flexão plantar dos pés. Há acometimento das vias corticoespinhais e preservação das vias rubroespinhais que, por meio de conexões com o cerebelo, aumenta o tônus flexor dos membros superiores. - A descerebração é resultante de lesões altas no tronco encefálico, abaixo dos colículos inferiores. Há a interrupção das vias corticoespinhais e rubroespinhais com preservação das vias reticuloespinhais e vestibuloespinhais que induzem a postura de extensão dos membros superiores e inferiores com flexão dos punhos e flexão plantar dos pés.
Compartilhar