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DIMENSÕES PSICOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA AULA 4 Profª Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre Profª Fabiana Maria Alexandre 2 CONVERSA INICIAL Aprendizagem motora Segundo Tani e Corrêa (2016, p. 20), “aprendizagem motora é um campo que investiga os mecanismos e processos subjacentes às mudanças no comportamento motor de um indivíduo resultando da prática, e também dos fatores que os influenciam”. Essas mudanças correspondem a uma melhoria na capacidade do indivíduo de solucionar seus problemas motores, assim adquirindo outras habilidades motoras. O ser humano é um ser único, com características físicas, psicológicas, emocionais que o diferenciam um do outro. Essas características vão se agregando e aperfeiçoando ao longo de sua história de vida. Ao nascer, o ser humano possui características motoras limitadas, apresenta apenas reflexos primitivos (alimentação e proteção) e reflexos posturais (manutenção da posição ereta). Assim que os reflexos anteriores começam a desaparecer, surgem as habilidades motoras rudimentares da primeira infância, no período compreendido entre 12 a 24 meses, que representa um período de prática e de domínio de tarefas rudimentares iniciadas no primeiro ano, quando o bebê inicia o controle de seus movimentos. Segundo Gallahue e Ozmun (2001), após esse bombardeio de estímulos no início da vida, a criança vai adquirindo estabilidade no movimento. Então, gradativamente ela vai conseguir controlar a cabeça e o pescoço, depois o tronco, até conseguir virar de bruços e rolar. Logo ela inicia a aventura de sentar- se com apoio, sem apoio, sentar-se sozinha, até que ficará de pé, quando próxima dos 10 meses de idade, com apoio, e quando próxima dos 12 meses de vida vai ficar de pé sozinha, sem apoio. O seu próximo passo é a locomoção, a qual tem seu início aos 3 meses de idade, com movimentação de pernas; arrasto, com 6 meses; andar com 4 apoios, com 11 meses, seguido logo por um andar orientado, até que, próxima de 12 meses a criança inicia o andar sozinha. Segundo Gallahue e Ozmun (2001), geralmente podem ocorrer variações entre as crianças, pois cada uma receberá um tipo de estímulo diferente, um tipo de gestação diferente e esses fatores podem influenciar essas fases de desenvolvimento e a aprendizagem motora. 3 Paralelamente à locomoção, iniciam-se as habilidades manipulativas rudimentares, quando o bebê, próximo dos 6 meses de vida, tenta pegar e alcançar objetos. Aos 9 meses, já consegue pinçá-los e, após 1 ano de idade, já terá uma pegadura controlada e vai começar a soltar objetos de forma básica até refinar o movimento e controlá-lo, próximo de 1,5 ano de idade. Com o passar do tempo, a percepção infantil vai se ampliando e aperfeiçoando-se as percepções visual, auditiva, olfativa e gustativa, até que chega a fase do desenvolvimento das habilidades motoras (movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos), então o desenvolvimento motor vai se moldando aos estímulos, bem como as habilidades motoras, reciprocamente estruturadas pela aptidão física, atividades ligadas geralmente às capacidades motoras de força, resistência e flexibilidade, conforme Gallahue e Ozmun (2001). Na adolescência e na vida adulta essa aprendizagem motora se dá de forma mais refinada. Esse refinamento das aptidões motoras envolve desempenho, biomecânica, capacidades neurofisiológicas. Segundo Peterson et al. (1974, citados por Gallahue; Ozmun, 2001), existem cinco itens que interferem nessa aptidão e na aprendizagem: fatores do controle motor do equilíbrio (dinâmico e estático), coordenação (rudimentar e óculo manual), em conjunto com fatores de produção de força, de agilidade, velocidade e energia. As atividades físicas diárias e as atividades físicas mais elaboradas, como esportes, alto rendimento, inclusão, lazer e diversão envolvem uma certa aprendizagem motora, pois diante de cada tarefa motora tomamos uma decisão mais coerente ou consistente que implica saúde, bem-estar em diversas perspectivas: educação formal, informal, treinamento e performance (Tani, 2001). No entanto, para Tani e Corrêa (2004, citados por Tani; Corrêa, 2016, p. 19), [...] é oportuno esclarecer que os conhecimentos de aprendizagem motora não dizem respeito a como as habilidades motoras devem ser ensinadas, isto é, não são conhecimentos sobre métodos de ensino, muito menos sobre prescrições de intervenção. Constituem, sim, importantes fontes de informação que podem auxiliar o profissional, por exemplo, a interpretar comportamentos motores de aprendizes e a projetar novas ideias e formular hipóteses operacionais de experimentação no ensino de habilidades motoras. TEMA 1 – APRENDIZAGEM MOTORA NA EDUCAÇÃO Na educação física, a aprendizagem motora constitui-se como um campo de investigação, que procura elucidar os mecanismos e processos subjacentes 4 às mudanças no comportamento motor em função da prática, processo de aquisição de habilidades e fatores que influenciam, tanto no nível microscópico (bioquímico) até no macroscópico (sociológico), a visão de diversas perspectivas que permitem análise global do fenômeno estudado (Tani; Corrêa, 2010). No Brasil, o estudo investigativo da aprendizagem motora ficou mais forte a partir da década de 1980, principalmente com estudos realizados por doutores, no exterior, que retornaram ao país para dar continuidade aos estudos em suas universidades. Atualmente, a aprendizagem motora constitui um campo científico já consolidado na educação superior no Brasil. Em 2002, foi criada a Sociedade Brasileira de Comportamento Motor (Socibracom), com o objetivo de congregar pesquisadores, impulsionar as atividades de pesquisa e disseminar os conhecimentos já produzidos, segundo Tani e Corrêa (2016). Figura 1 – Aprendizagem motora da criança Crédito: Jennylipets/Shutterstock. Na educação física, os estudos se dão em nível comportamental, intermediário, e se focam no movimento observável e nos fatores que afetam a qualidade de sua execução. Esses estudos determinam a precisão do movimento ou o padrão da ação, visto que as pesquisas qualitativas são as mais precisas e baseiam-se no que foi exatamente observado. Diante do comportamento motor executado pelo pesquisado, o pesquisador realiza diagnóstico e prescrição das suas habilidades motoras, segundo Tani e Corrêa (2016). Portanto, temos no movimento humano um objeto de estudo mensurável de ser compreensível, principalmente por meio da análise dos movimentos, com padrões preestabelecidos de execução espacial e temporal; ou como produto de um processo interno que ocorre no sistema nervoso central. 5 TEMA 2 – COORDENAÇÃO E DESENVOLVIMENTO O movimento e o deslocamento humanos são objetos de estudos da aprendizagem motora e desenvolvimento e evidenciam-se pelo dinamismo dos movimentos executados, por serem observáveis e mensuráveis, causando mais curiosidade dos profissionais. Porém, a execução do movimento se dá por um processo de coordenação, permeado pelo desenvolvimento motor e pelos mecanismos do movimento. O movimento humano apresenta componentes da aptidão motora que oferecem bom desempenho infantil. Entre eles, destacam- se coordenação, equilíbrio, velocidade, agilidade e potência. A coordenação [...] é a habilidade de integrar, em padrões eficientes de movimento, sistemas motores separados com modalidades sensoriais variadas. Quanto mais complicadas as tarefas motoras, maior o nível de coordenação necessário para um desempenho eficiente. A coordenação liga-se aos componentes de aptidão motora de equilíbrio, velocidade e de agilidade, porém, não está intimamente alinhada à força e resistência (Barrow et al., 1978, citados por Gallahue, 2016). Uma sequência de movimentos coordenados requer a integração dos sistemas motor e sensorial em um padrão deação harmonioso e lógico. A coordenação óculo-manual é caracterizada pela integração de informações visuais à ação dos membros. Dessa forma, os movimentos devem ser visualmente controlados e precisos para projetar, fazer contato com um objeto exterior ou recebê-lo. Os movimentos executados com bola, por exemplo, bater, rebater, apanhar, chutar, driblar, arremessar, todos requerem consideráveis quantidades de informações visuais, integradas a ações motoras, para alcançarem um movimento eficiente e coordenado, segundo Gallahue (2016). Ao atingir 2 anos de idade, a criança atinge maturidade do aparato visual. Os aspectos anatômicos e fisiológicos dos seus olhos estão completos; porém, as habilidades perceptivas de crianças pequenas ainda estão incompletas. Mesmo que conseguindo fixar o olhar nos objetos e acompanhá-los e avaliá-los com os olhos, numerosos refinamentos ainda precisam ser feitos. A criança ainda não consegue segurar ou interceptar uma bola, ainda inverte letras e números, assim como têm precárias as habilidades perceptivas em nível plano, a percepção de distância e o cálculo de tempo antecipado, segundo Gallahue (2016). 6 2.1 Desenvolvimento perceptivo na infância Desde o nascimento, a criança começa a interagir com o meio ambiente e essa interação é um processo perceptivo e, também, motor-perceptivo. A acuidade visual, a percepção de imagens em nível plano, a percepção de profundidade e a coordenação visual-motora são importantes qualidades desenvolvimentistas que influenciam o desempenho motor. Segundo Gallahue (2016), acuidade visual [...] é a habilidade de distinguir pormenores em objetos, pode ser mensurável em ambientes estáticos (objetos estáticos) ou dinâmicos (objetos em movimento), por exemplo: um jogador de beisebol que se prepara para apanhar ou rebater a bola, deverá ter uma boa acuidade visual dinâmica, assim como um atleta de voleibol ou um lançador de bolas de beisebol, onde a acuidade estática desenvolve-se mais rápido que a dinâmica. A coordenação visual-motora refere-se à habilidade de acompanhar e fazer avaliações de intercepção de um objeto em movimento. Conforme Gallahue (2016), essa habilidade motora estará madura próximo dos 10 a 12 anos de idade. Ao trabalhar com crianças pequenas, devemos adaptar as atividades motoras para as capacidades visuais de cada faixa etária, que envolvam a aplicação de força a um objeto ou a recepção de força de um objeto. Com crianças pequenas, ajustamos tamanho e peso da bola (se bola de espuma, plástico, borracha, lã), buscando experimentar o maior grau possível de êxito. O professor de Educação Física deve estar atento às fases do desenvolvimento motor de seus alunos, para sempre planejar e organizar as atividades de modo a proporcionar desenvolvimento adequado aos movimentos coordenados de cada aluno. 7 Figura 2 – Minibasquetebol Crédito: A_Lesik/Shutterstock. 2.2 Treinamento motor-perceptivo Os programas de treinamento motor-perceptivo podem ser efetivos, se considerados como programas de aptidão que auxiliam as crianças pequenas na aprendizagem e reforço de conceitos. Geralmente, esses programas são projetados para crianças que sofreram limitação ou restrição em seus ambientes experimentais (por exemplo: classe com baixo padrão socioeconômico, enfermidade prolongada, ambiente étnico ou exposição excessiva às tecnologias como internet, TV, smartphones). Segundo Gallahue (2016), o movimento é usado em conjunto com técnicas tradicionais de sala de aula para melhorar o entendimento cognitivo dos conceitos apresentados, desde a educação infantil até o ensino fundamental. Segundo Gallahue (2016), a maior parte do desenvolvimento motor perceptivo ocorre entre 3 a 7 anos de idade, que são cruciais excedentes, o tempo em que a maioria das crianças começam a aprender a ler; uma criança está apta a leitura quando consegue codificar e decodificar impressões sensoriais em determinado ponto no tempo, para que essa capacidade de leitura se amplie, as experiências prévias de aprendizado da criança devem ter sido numerosas e de alta qualidade. Portanto, é importante a prática da educação física como prática de cultura corporal, em que a criança será oportunizada a obter o maior número possível de experiências motoras e afetivas, pois, como já foi visto, o vasto 8 número de estímulos fará a criança atrasada igualar-se às outras crianças e as crianças sem débito na aprendizagem poderão melhorar seu repertório motor. TEMA 3 – LATERALIDADE E DOMINÂNCIA HEMISFÉRICA A lateralidade é um dos componentes da aprendizagem motora do movimento. É uma capacidade coordenativa que, juntamente com a dominância hemisférica, vai definir o lado dominante da execução dos movimentos motores e essa dominância pode ser unilateral ou bilateral, ou seja, pode ser com um dos lados ou ambos os lados. Isso depende dos estímulos recebidos pela criança, jovem ou adolescente no período em que está ampliando seu repertório motor. Segundo Tani e Corrêa (2016), o corpo humano apresenta um mecanismo perceptivo dos mecanismos centrais, presentes em três modelos: perceptivo (identificação do estímulo); decisório (em que ocorre a elaboração do plano de ação ou a seleção da resposta); e efetor (no qual acontece a programação da resposta motora). Esses mecanismos são interligados por meio do fluxo de informações. Portanto, o movimento humano, segundo Newell (1978, citado por Tani; Corrêa, 2016), é tido como o deslocamento do corpo e dos membros produzido como uma sequência do padrão espacial e temporal da contração muscular. Segundo Marteniuk (1975, citado por Tani; Corrêa, 2016), o movimento humano é composto por cinco mecanismos: órgãos dos sentidos, mecanismo perceptivo, mecanismo de decisão, mecanismo efetor e sistema muscular, mais os circuitos de feedback interno e externo. Portanto, a aprendizagem motora faz-se presente em todo o processo de construção dos movimentos humanos diante de estimulação afetivo-social, cognitiva e motora dos mecanismos receptores, acionando as capacidades motoras coordenativas, dentre elas a lateralidade e a dominância hemisférica ou dominância lateral, a qual define o lado dominante da criança, seja direito, seja esquerdo, como o mais forte e mais ágil. A definição de um lado mais ou menos dominante pode ocorrer por aplicação de testes motores e grafismo (direção gráfica da escrita) de membros superiores, inferiores, olhos e noção espaçotemporal, que irão mostrar qual o lado dominante da criança nas atividades motoras e na escrita, pois essa dominância irá refletir-se na aprendizagem da escrita de letras e números, pois nesse primeiro contato da criança ela irá aprender o domínio do gesto e do instrumento (lápis ou giz), a 9 percepção e a compreensão da imagem a qual vai reproduzir, segundo Meur et al. (1991). A lateralidade motora e a dominância hemisférica vão implicar tanto a execução dos movimentos humanos quanto a escrita, pois a escrita precisa dessa dominância motora fina, que irá se construir gradativamente, inicialmente da forma livre, quando a criança deverá expressar de forma espontânea a sua grafia, a sua visão de mundo, a construção do sonho para a realidade. Deve-se revelar e libertar a criança, gerando assim uma aprendizagem real da manipulação do lápis, do giz, do quadro, do caderno, da folha em espaços que podem ser disponibilizados para a expressão de seus sentimentos, diante do mundo. Ao adquirir a dominância dos desenhos, a criança melhora o movimento de cotovelo e ombro, então a proporção dos desenhos diminui e eles ficam mais detalhados, pois ocorrem mais movimentos refinados de punho e dedos. Figura 3 – Dominância hemisférica Crédito: 9'63 Creation/Shutterstock. Nesse sentido, a estruturação espacial faz-se necessária e fundamental na construção do repertóriomotor, com o objetivo de construção das capacidades coordenativas que irão orientar espacialmente as crianças, ao longo de suas vidas. A lateralidade e a dominância também são influenciadas por essa estruturação espacial: na consciência do espaço em que se vive; na percepção do solo; na percepção da medida e da forma dos espaços percorridos; na noção de direção e localização espacial. Todo esse conhecimento motor, essa aprendizagem motora ocorre e se estrutura ao longo do período escolar, coincidindo, na maioria das vezes, com a maturação neurológica da criança. 10 Poder vivenciar esse conhecimento é o componente básico para a aquisição precisa de estímulos e de tempo, segundo Mattos e Neira (1999). Portanto, é importante na elaboração das aulas de Educação Física, principalmente na educação infantil, que as aulas práticas forneçam elementos de aprendizagem motora de forma lúdica, por meio de atividades organizadas e planejadas, objetivando a melhoria dos domínios cognitivo, afetivo-social e motor, das dimensões do pensar (saber fazer), sentir (querer fazer) e o desenvolvimento em si dessa motricidade (poder fazer). Figura 4 – Crianças brincando Crédito: Tramp57/Shutterstock. Isso significa que as aulas devem ser planejadas de acordo com a faixa etária de cada turma, pois, de 3 a 6 anos de idade, na fase pré-conceitual (cognitiva), para Piaget (1975), a criança está adquirindo a função simbólica. Para Vayer (motor), a ação motora melhora com a prática e se desenvolve a precisão. Já para Wallon (socioafetivo), a criança apresenta, nessa idade a crise da oposição, da autoadmiração, do egocentrismo e da imitação do contexto familiar. Para a faixa etária entre 7 a 10 anos, Piaget (1975) (cognitivo) mostra que é a fase da progressiva descentralização, da interiorização dos esquemas corporais. Já Vayer (motor) diz que a criança associa as sensações motoras aos outros sentidos, afirma a lateralidade e a independência dos segmentos. Para Wallon (socioafetivo), a personalidade polivalente vai ajustando-se às circunstâncias e possibilidades. A partir dos 11 anos de idade, Piaget (1975) 11 (cognitivo) apresenta que há na criança o surgimento do pensamento lógico e dedutivo. Para Vayer (motor), os movimentos motores ficam mais precisos e ritmados e Wallon (socioafetivo) mostra que a criança e o adolescente apresentam extrema valorização do grupo e conhecimento incompleto de seu potencial, também segundo Mattos e Neira (1999). TEMA 4 – COORDENAÇÃO MOTORA AMPLA E ATIVIDADE FÍSICA Segundo Schmidt e Wrisberg (2001), a coordenação motora ampla pode definir-se como a capacidade de sincronizar os movimentos corporais utilizando cérebro, músculos e articulações, também denominada de coordenação grossa. E que inclui movimentos de saltar, sentar, rolar, empurrar, pular, correr, andar, engatinhar, driblar; ou seja, movimentos das grandes articulações do corpo, que se utilizam de sincronia de braços e pernas de maneira harmoniosa. As atividades de coordenação motora ampla têm por objetivo ampliar o repertório motor das crianças, adolescentes e jovens, bem como desenvolver de forma conjunta as capacidades coordenativas que maximizam o conjunto do movimento humano: lateralidade, agilidade, equilíbrio, equidade, velocidade, aptidão motora. Disso ainda fazem parte a força e a resistência, mas não estão diretamente ligadas às capacidades coordenativas. A coordenação ampla refere- se a essa habilidade de sincronizar todas as outras, em padrões eficientes de movimentos, com sistemas motores separados, com suas modalidades sensoriais variadas, ou seja: quanto maior o nível de complexidade de uma ação motora, maior o nível de coordenação motora necessária para execução, desempenho eficiente, sincrônico, ritmado e sequencial, segundo Gallahue e Ozmun (2001). A coordenação motora está ligada à performance dos movimentos, na prática de atividade física tidos como aqueles produzidos “[...] através do sistema músculo-esquelético, que produzam gasto energético”, segundo WHO (2020). A prática de atividade física tem por objetivo manter o ser humano ativo e, ao longo de sua trajetória, fazer-lhe criar hábitos saudáveis mediante prática regular de atividade física, bem como estimular hábitos alimentares saudáveis, o que irá acarretar uma melhor qualidade de vida. 12 Figura 5 e 6 – Vivências motoras das crianças Créditos: Photo Plaza/Shutterstock. Créditos: Vera Petrunina/Shutterstock. Para a educação física, a prática de atividade física pode ser subdividida em três categorias: jogos e esportes; ritmos e dança; atividades autoanalíticas, segundo Gallahue e Ozmun (2001). As atividades dos jogos e esportes podem ser utilizadas para melhorar as habilidades motoras apropriadas ao nível desenvolvimentista da criança e frequentemente são classificadas em subcategorias: jogos com poucas regras, jogos de liderança e esportes oficiais. Na categoria dança e ritmos, as atividades são importantes áreas do conteúdo do programa motor, pois nela todo movimento coordenado é ritmado e envolve a sequência temporal de eventos e a sincronia de ações. Suas subcategorias são: ritmos fundamentais, danças criativas, danças folclóricas, simétricas e aeróbias e danças sociais. Na categoria de autoanálise representa-se grande variedade de atividades nas quais os indivíduos trabalham por conta própria e podem melhorar seus desempenhos pelo próprio esforço. Ela segue uma https://www.shutterstock.com/pt/g/Rajdeep+imgcanon https://www.shutterstock.com/pt/g/petrunins 13 classificação própria: atividades motoras fundamentais, habilidades esportivas, de aptidão física, acrobacias, cambalhotas, pequeno aparelho manual e aparelho grande. Figura 6 – Desenvolvimento das habilidades Créditos: Kateryna Mostova/Shutterstock; Monkey Business Images/Shutterstock. Para se obter grande eficiência e performance, deve ocorrer uma gradativa aprendizagem motora, partindo do mais simples para o mais complexo, ou seja, das atividades fundamentais até a fase de especialização motora, por isso é fundamental que o professor de Educação Física estruture e organize as atividades motoras de forma apropriada, conforme as habilidades motoras. Para Gallahue e Ozmun (2001), os conceitos motores fornecem ao aluno base conceitual para o aprendizado. São eles: esforço, espaço e relacionamentos. O esforço é subdividido em três categorias: força (grau de tensão muscular necessário para movimentar o corpo ou suas partes, de um lugar para outro, ou para manter seu equilíbrio, sendo que a força pode ser leve, moderada ou pesada; tempo (velocidade na qual ocorre o movimento – ele pode ser rápido, gradual, súbito, errático ou controlado); e fluxo (continuidade ou coordenação dos movimentos – ele pode ser suave, desajeitado, livre ou limitado). O espaço relaciona-se com onde o corpo movimenta-se e envolve: nível (altura na qual o movimento é desempenhado, se alto, médio ou baixo); direção (orientação do movimento, que pode ser frontal, traseira, diagonal, para cima, para baixo, à esquerda, à direita; e também seu padrão: se reto, curvo ou em zigue-zague); escala (localização relativa do corpo do indivíduo, se em autoespaço ou espaço geral). Os relacionamentos referem-se tanto a como quanto a onde o corpo movimenta-se em harmonia com objetos (em face da posição estacionária do indivíduo em diferentes posições em relação aos https://www.shutterstock.com/pt/g/stockbroker 14 objetos) e outras pessoas (realizar movimentos variados com as pessoas, podem ser com o solo, com o parceiro, em grupo ou em massa). Como podemos verificar, a coordenação motora, em conjunto com outras capacidades coordenativas, faz a prática de movimentos corporais apresentar maior performance e aproveitamento, em cada fase de desenvolvimento humano, com cadaser humano em sua própria forma de aprender e absorver o conteúdo da aprendizagem motora. Daí, as diferentes formas de praticar atividade física, da mais elementar até a forma mais especializada, em que cada ser humano irá apresentar diferentes níveis de habilidades motoras. O mais importante é a organização e o planejamento do professor de Educação Física, de modo a objetivar a sessão ou a aula que deverá ser ministrada gradativamente, buscando atingir os objetivos dos alunos, respeitando cada fase em que se encontram, pois cada um tem um tempo diferente de aprender, diante das experiências vividas. TEMA 5 – PSICOMOTRICIDADE E JOGO SIMBÓLICO A psicomotricidade é uma área que estuda a formação do eu, da personalidade da criança, o desenvolvimento do seu esquema corporal, consciência corporal, expressão corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal, expressão por desenhos, domínio progressivo do desenho e do grafismo. A psicomotricidade deve estabelecer metas de aprendizagem, de forma coerente e eficaz, para cada fase do desenvolvimento do esquema corporal da criança. Portanto, a noção corporal deve ser abordada primeiramente por meio de exercícios motores (noção espacial), depois com exercícios sensoriomotores (manipulação de objetos) e finalmente com exercícios perceptomotores (objetos com análise). Para que o professor de Educação Física desenvolva um trabalho adequado de abordagem psicomotora ele deverá desenvolver jogos simbólicos que impliquem a presença dos elementos da psicomotricidade: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e pré-escrita. Os jogos simbólicos devem abordar atividades com esses elementos, mediante exercícios ricos em criatividade e que forneçam o elemento lúdico como principal meio de permear as atividades, em que cada aluno deverá oferecer também elementos do seu contexto para as brincadeiras e jogos, de 15 modo a despertar a autonomia como elemento do favorecimento da aprendizagem. O local para ministrar as sessões de jogos simbólicos deve ser um ambiente alegre, amplo, fechado, de preferência. Serão necessários locais para atividades em pé, com os indivíduos deitados ou sentados. As sessões podem durar entre 30 a 45 minutos, realizadas 2 vezes por semana, permitindo sempre relembrar o objetivo da sessão anterior, propiciando bom relacionamento entre as crianças, reeducando-as constantemente. Os jogos simbólicos, segundo Piaget (1975), devem se iniciar a partir do segundo ano de vida de uma criança, sempre utilizando símbolos como possibilidade de representação de situações do real, propiciando o surgimento de condutas, imitação diferida (comportamento atrasado em um momento posterior do que ocorreu), imagem mental, linguagem e desenho. Os jogos simbólicos propiciarão à criança melhorar sua capacidade de diferenciar significantes e significados (objeto, acontecimento). Para Freitas (2010, p. 146), [...] ao jogar simbolicamente ou imaginar e imitar, a criança cria um mundo em que não existem sanções, coações, normas e regras, provenientes do mundo dos adultos, o que possibilita a ela transformar a realidade com o objetivo de atender as suas necessidades e desejos. Evidencia-se, assim, a importância da função simbólica como um meio que permite à criança expressar seus desejos, conflitos, etc. e adaptar- se gradativamente ao meio em que vive. Dessa forma, a criança poderá manifestar suas condutas de representação simbólica que foram utilizadas como meio de avaliação do seu desenvolvimento cognitivo e afetivo, num processo de desenvolvimento da linguagem e do desenho (Freitas, 2006). Figura 7 – Linguagem corporal e grafismo 16 Crédito: Varuna/Shutterstock. A criança vai criar, junto com o professor, outras ações, no jogo simbólico, que irão remeter a ações do seu cotidiano. Por exemplo, em uma brincadeira de “casinha”, a criança reproduz as ações da família, ao cuidar de uma criança (boneca), fazer comida, limpar o ambiente, dar ordens, organizar situações ou desenvolver a brincadeira de modo diferente disso tudo, se a sua própria casa a remeter a uma situação de falta de organização, violência, brigas e broncas. A reprodução do símbolo vem ao encontro do objetivo do jogo, que será realizado de forma orientada para extrair autonomia e simbolismo das ações da criança, até que esse simbolismo lhe forneça aprendizagem. Figura 8 – Criança e objetos Crédito: Famveld/Shutterstock. https://www.shutterstock.com/pt/g/varuna 17 Para Huizinga (1980, p. 11), o jogo baseia-se em três características: a primeira é ser livre, de ser liberdade, a segunda reside no fato de que o jogo não é vida “corrente”, nem vida real, pelo contrário, trata-se de uma evasão da vida “real” para uma esfera temporária de atividade com orientação própria, isto é, para o autor a ação simbólica representa um ir além da vida real, de uma maneira consciente sobre o fato em si. O professor deve estabelecer uma boa relação com os alunos. Isso vai favorecer a aprendizagem. Mas, essa relação se dá ao longo do tempo. Portanto, os primeiros encontros são os mais importantes para estreitar os laços de confiança e empatia. Depois disso, o professor deverá conhecer gradativamente todos os seus alunos de maneira individual, fazendo assim uma avaliação diferenciada de cada um. Isso é muito importante para que os alunos sejam respeitados, em suas individualidades. Figura 9 – Crianças sociabilizando Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. Durante as sessões de jogos simbólicos os alunos poderão levar elementos e contribuir para a atividade; poderão escolher materiais; deverão ser ouvidas e, por isso, é importante que haja intervalos nas atividades, para o descanso e para a interação, a sociabilização, a descontração e a aprendizagem. O professor deverá programar momentos de trabalho e de conversa. O professor deverá retornar sempre ao lúdico, à diversão, enaltecer erros e acertos, https://www.shutterstock.com/pt/g/Rawpixel 18 facilidades e dificuldades. O bom humor tem um lugar existencial na abordagem psicomotora. NA PRÁTICA O tema abordado nesta aula foi a psicomotricidade e a coordenação motora segundo as dimensões psicológicas na educação física, assim como a aprendizagem motora como um campo de investigação, com seus mecanismos e processos subjacentes. Também foram analisadas as mudanças no comportamento motor de um indivíduo, causadas por diversos fatores externos e internos, bem como pela prática da atividade física, por estímulos motores, experiências afetivo-sociais e cognitivas. Sabe-se que o ser humano possui características únicas (físicas, psicológicas e emocionais) e isso vai diferenciá-lo dos demais. Essas características vão se agregar e aperfeiçoar ao longo de sua trajetória de vida, assim que os movimentos vão evoluindo, de acordo com o desenvolvimento motor e os estágios em que acontecem. A aprendizagem motora tem seu início na infância e vai até a vida adulta, porém cada fase tem sua especificidade. Na vida adulta, ela alcança o refinamento das aptidões motoras, as quais envolvem desempenho, biomecânica e capacidades neurológicas. A aprendizagem motora reflete-se nas atividades diárias e também nas mais elaboradas, por exemplo: práticas esportiva, de lazer, de treinamento e práticas recreativas. Vale reforçar que a aprendizagem motora serve para o profissional de educação física analisar e interpretar comportamentos motores para daí formular hipóteses operacionais de experimentação, no ensino de habilidades motoras. Outros aspectos da aprendizagem são a coordenação e o desenvolvimento motor, de que provêm alguns estudos do movimento humano, evidenciados pelo dinamismo dos movimentos executados, por serem observáveis e mensuráveis. Porém, a execução do movimento se dá por um processode coordenação do movimento, permeado pelo desenvolvimento motor e por mecanismos do movimento, ou seja: coordenação é integrar com eficiência os sistemas motores separados com modalidades sensoriais variadas. Isso significa que uma sequência de movimentos coordenados requer a integração dos sistemas motor e sensorial em um padrão harmonioso e lógico. Portanto, o professor de Educação Física deve propor atividades sequenciais que vão das 19 mais simples para as mais complexas. Por exemplo, ao ensinar um esporte, a criança deverá iniciar a modalidade de forma lúdica, brincando e se divertindo. Depois, na fase de iniciação esportiva, até 12 anos, ocorre a fase de transição; dos 13 aos 14 anos já pode ocorrer a especialização, então o professor de Educação Física já poderá exigir exercícios mais elaborados e também o cumprimento das regras oficiais do esporte. Após os 14 anos de idade o esporte já pode ocorrer em alta performance, então o professor poderá ensinar e exigir o esporte de forma oficial, buscando resultados competitivos em jogos. Outra capacidade motora abordada foi a lateralidade, aliada à dominância hemisférica. Elas, juntas, definem o lado dominante de execução dos movimentos motores, ou seja, a criança, o jovem ou o adolescente recebe estímulos para ampliar seu repertório motor. O mecanismo motor está integrado aos órgãos do sentido, ao mecanismo perceptivo, ao mecanismo de decisão, ao mecanismo efetor e ao sistema muscular, juntamente com os circuitos de feedback interno e externo. Portanto, o professor de Educação Física deverá levar em consideração todos os mecanismos para conduzir o aluno a um processo de construção dos movimentos humanos, diante de um planejamento que lhe ofereça atividades que estimulem as suas dimensões afetivo-social, cognitiva e motora, dessa forma acionando as capacidades motoras coordenativas, dentre elas a lateralidade e a dominância hemisférica ou dominância lateral. O professor de Educação Física poderá organizar atividades com ou sem materiais como bolas, arcos, cordas, cones. E deve exigir que se utilizem ambas as mãos e os pés, por exemplo: pedir para a criança driblar a bola com uma mão e depois a outra, independentemente da dominância, depois utilizar ambas juntas, assim como os pés; realizar domínio de bola com ambos os pés, com uma bola e duas bolas, uma em cada pé, para ativar neurologicamente os dois lados do hemisfério cerebral. Dessa forma, o professor colabora para ampliar o repertório motor e a estruturação motora das crianças. Como dito ao longo da aula, a prática da atividade física deve ser considerada, na educação física, em suas três categorias: jogos e esportes; ritmo e dança; atividades autoanalíticas. Com isso, se desenvolverá a coordenação motora ampla, tida também como a capacidade de sincronizar os movimentos corporais, utilizando-se cérebro, músculos e articulações em todos os movimentos corporais, como saltar, pular, sentar, rolar, correr, andar, engatinhar, 20 empurrar, chutar, driblar etc. Ou seja, o professor de Educação Física deverá auxiliar na ampliação do repertório motor das crianças, adolescentes e jovens, para que estes maximizem o seu conjunto de capacidades motoras. Ele deve oferecer atividades planejadas, com poucas regras, jogos de liderança, depois esportes oficiais; na categoria de ritmo e dança, deve propor exercícios ritmados, com ritmos fundamentais, dança criativa, danças folclóricas, simétricas e aeróbias, até chegar à dança social. Na categoria autoanálise, devem ser oferecidas atividades variadas, em que a criança trabalhe por conta própria e tente melhorar o desempenho pelo próprio esforço e autonomia. Todas as capacidades motoras devem estar presentes na prática das atividades motoras. Sendo assim, uma sugestão bem importante é a prática de atividades de psicomotricidade para crianças, atividades complexas em que se busque a formação do eu, da personalidade, do esquema corporal, da expressão corporal e de toda a estruturação espacial, pelo domínio progressivo do corpo e da escrita, sempre de forma coerente, respeitando as fases do desenvolvimento da criança. Deve-se abordar, primeiramente, exercícios motores, depois sensoriomotores e finalmente perceptomotores, com o professor de Educação Física devendo planejar atividades que sempre contemplem: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e pré-escrita, com atividades simbólicas, exercícios criativos e lúdicos, no contexto de jogos e brincadeiras que despertem autonomia e aprendizagem. FINALIZANDO Na educação física, a aprendizagem motora constitui-se como um campo de investigação, que procura elucidar os mecanismos e processos subjacentes às mudanças no comportamento motor em função da prática, processo de aquisição de habilidades e fatores que influenciam, tanto no nível microscópico (bioquímico) até no macroscópico (sociológico), a visão de diversas perspectivas que permitem análise global do fenômeno estudado (Tani; Corrêa, 2010). No Brasil, o estudo investigativo da aprendizagem motora ficou mais forte a partir da década de 1980, principalmente com estudos realizados por doutores, no exterior, que retornaram ao país para dar continuidade aos estudos em suas universidades. Atualmente, a aprendizagem motora constitui um campo científico já consolidado na educação superior no Brasil. Em 2002, foi criada a Sociedade Brasileira de Comportamento Motor (Socibracom), com o objetivo de 21 congregar pesquisadores, impulsionar as atividades de pesquisa e disseminar os conhecimentos já produzidos, segundo Tani e Corrêa (2016). Na educação física, os estudos se dão em nível comportamental, intermediário, e se focam no movimento observável e nos fatores que afetam a qualidade de sua execução. Esses estudos determinam a precisão do movimento ou o padrão da ação, visto que as pesquisas qualitativas são as mais precisas e baseiam-se no que foi exatamente observado. Diante do comportamento motor executado pelo pesquisado, o pesquisador realiza diagnóstico e prescrição das suas habilidades motoras, segundo Tani e Corrêa (2016). Portanto, temos no movimento humano um objeto de estudo mensurável de ser compreensível, principalmente por meio da análise dos movimentos, com padrões preestabelecidos de execução espacial e temporal; ou como produto de um processo interno que ocorre no sistema nervoso central. O movimento e o deslocamento humanos são objetos de estudos da aprendizagem motora e desenvolvimento e evidenciam-se pelo dinamismo dos movimentos executados, por serem observáveis e mensuráveis, causando mais curiosidade dos profissionais. Porém, a execução do movimento se dá por um processo de coordenação, permeado pelo desenvolvimento motor e pelos mecanismos do movimento. O movimento humano apresenta componentes da aptidão motora que oferecem bom desempenho infantil. Entre eles, destacam- se coordenação, equilíbrio, velocidade, agilidade e potência. A coordenação [...] é a habilidade de integrar, em padrões eficientes de movimento, sistemas motores separados com modalidades sensoriais variadas. Quanto mais complicadas as tarefas motoras, maior o nível de coordenação necessário para um desempenho eficiente. A coordenação liga-se aos componentes de aptidão motora de equilíbrio, velocidade e de agilidade, porém, não está intimamente alinhada à força e resistência (Barrow et al., 1978, citados por Gallahue, 2016). Uma sequência de movimentos coordenados requer a integração dos sistemas motor e sensorial em um padrão de ação harmonioso e lógico. A coordenação óculo-manual é caracterizada pela integração de informações visuais à ação dos membros. Dessa forma, os movimentos devem ser visualmente controlados e precisos para projetar, fazer contato com um objeto exterior ou recebê-lo. Os movimentos executadoscom bola, por exemplo, bater, rebater, apanhar, chutar, driblar, arremessar, todos requerem consideráveis 22 quantidades de informações visuais, integradas a ações motoras, para alcançarem um movimento eficiente e coordenado, segundo Gallahue (2016). Segundo Gallahue (2016), a maior parte do desenvolvimento motor perceptivo ocorre entre 3 a 7 anos de idade, que são cruciais excedentes, o tempo em que a maioria das crianças começam a aprender a ler; uma criança está apta a leitura quando consegue codificar e decodificar impressões sensoriais em determinado ponto no tempo, para que essa capacidade de leitura se amplie, as experiências prévias de aprendizado da criança devem ter sido numerosas e de alta qualidade. Portanto, é importante a prática da educação física como prática de cultura corporal, em que a criança será oportunizada a obter o maior número possível de experiências motoras e afetivas, pois, como já foi visto, o vasto número de estímulos fará a criança atrasada igualar-se às outras crianças e as crianças sem débito na aprendizagem poderão melhorar seu repertório motor. A lateralidade é um dos componentes da aprendizagem motora do movimento. É uma capacidade coordenativa que, juntamente com a dominância hemisférica, vai definir o lado dominante da execução dos movimentos motores e essa dominância pode ser unilateral ou bilateral, ou seja, pode ser com um dos lados ou ambos os lados. Isso depende dos estímulos recebidos pela criança, jovem ou adolescente no período em que está ampliando seu repertório motor. Segundo Tani e Corrêa (2016), o corpo humano apresenta um mecanismo perceptivo dos mecanismos centrais, presentes em três modelos: perceptivo (identificação do estímulo); decisório (em que ocorre a elaboração do plano de ação ou a seleção da resposta); e efetor (no qual acontece a programação da resposta motora). Esses mecanismos são interligados por meio do fluxo de informações. Portanto, o movimento humano, segundo Newell (1978, citado por Tani; Corrêa, 2016), é tido como o deslocamento do corpo e dos membros produzido como uma sequência do padrão espacial e temporal da contração muscular. Segundo Marteniuk (1975, citado por Tani; Corrêa, 2016), o movimento humano é composto por cinco mecanismos: órgãos dos sentidos, mecanismo perceptivo, mecanismo de decisão, mecanismo efetor e sistema muscular, mais os circuitos de feedback interno e externo. Portanto, a aprendizagem motora faz-se presente em todo o processo de construção dos movimentos humanos diante de estimulação afetivo-social, cognitiva e motora dos mecanismos receptores, acionando as capacidades motoras coordenativas, dentre elas a lateralidade e a dominância hemisférica ou 23 dominância lateral, a qual define o lado dominante da criança, seja direito, seja esquerdo, como o mais forte e mais ágil. A definição de um lado mais ou menos dominante pode ocorrer por aplicação de testes motores e grafismo (direção gráfica da escrita) de membros superiores, inferiores, olhos e noção espaçotemporal, que irão mostrar qual o lado dominante da criança nas atividades motoras e na escrita, pois essa dominância irá refletir-se na aprendizagem da escrita de letras e números, pois nesse primeiro contato da criança ela irá aprender o domínio do gesto e do instrumento (lápis ou giz), a percepção e a compreensão da imagem a qual vai reproduzir, segundo Meur et al. (1991). Portanto, é importante na elaboração das aulas de Educação Física, principalmente na educação infantil, que as aulas práticas forneçam elementos de aprendizagem motora de forma lúdica, por meio de atividades organizadas e planejadas, objetivando a melhoria dos domínios cognitivo, afetivo-social e motor, das dimensões do pensar (saber fazer), sentir (querer fazer) e o desenvolvimento em si dessa motricidade (poder fazer). Segundo Schmidt e Wrisberg (2001), a coordenação motora ampla pode definir-se como a capacidade de sincronizar os movimentos corporais utilizando cérebro, músculos e articulações, também denominada de coordenação grossa. E que inclui movimentos de saltar, sentar, rolar, empurrar, pular, correr, andar, engatinhar, driblar; ou seja, movimentos das grandes articulações do corpo, que se utilizam de sincronia de braços e pernas de maneira harmoniosa. As atividades de coordenação motora ampla têm por objetivo ampliar o repertório motor das crianças, adolescentes e jovens, bem como desenvolver de forma conjunta as capacidades coordenativas que maximizam o conjunto do movimento humano: lateralidade, agilidade, equilíbrio, equidade, velocidade, aptidão motora. Disso ainda fazem parte a força e a resistência, mas não estão diretamente ligadas às capacidades coordenativas. A coordenação ampla refere- se a essa habilidade de sincronizar todas as outras, em padrões eficientes de movimentos, com sistemas motores separados, com suas modalidades sensoriais variadas, ou seja: quanto maior o nível de complexidade de uma ação motora, maior o nível de coordenação motora necessária para execução, desempenho eficiente, sincrônico, ritmado e sequencial, segundo Gallahue e Ozmun (2001). 24 A psicomotricidade é uma área que estuda a formação do eu, da personalidade da criança, o desenvolvimento do seu esquema corporal, consciência corporal, expressão corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal, expressão por desenhos, domínio progressivo do desenho e do grafismo. A psicomotricidade deve estabelecer metas de aprendizagem, de forma coerente e eficaz, para cada fase do desenvolvimento do esquema corporal da criança. Portanto, a noção corporal deve ser abordada primeiramente por meio de exercícios motores (noção espacial), depois com exercícios sensoriomotores (manipulação de objetos) e finalmente com exercícios perceptomotores (objetos com análise). Para que o professor de Educação Física desenvolva um trabalho adequado de abordagem psicomotora ele deverá desenvolver jogos simbólicos que impliquem a presença dos elementos da psicomotricidade: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e pré-escrita. Os jogos simbólicos devem abordar atividades com esses elementos, mediante exercícios ricos em criatividade e que forneçam o elemento lúdico como principal meio de permear as atividades, em que cada aluno deverá oferecer também elementos do seu contexto para as brincadeiras e jogos, de modo a despertar a autonomia como elemento do favorecimento da aprendizagem. O local para ministrar as sessões de jogos simbólicos deve ser um ambiente alegre, amplo, fechado, de preferência. Serão necessários locais para atividades em pé, com os indivíduos deitados ou sentados. As sessões podem durar entre 30 a 45 minutos, realizadas 2 vezes por semana, permitindo sempre relembrar o objetivo da sessão anterior, propiciando bom relacionamento entre as crianças, reeducando-as constantemente. Os jogos simbólicos, segundo Piaget (1975), devem se iniciar a partir do segundo ano de vida de uma criança, sempre utilizando símbolos como possibilidade de representação de situações do real, propiciando o surgimento de condutas, imitação diferida (comportamento atrasado em um momento posterior do que ocorreu), imagem mental, linguagem e desenho. Os jogos simbólicos propiciarão à criança melhorar sua capacidade de diferenciar significantes e significados (objeto, acontecimento). Para Freitas (2010, p. 146), 25 [...] ao jogar simbolicamente ou imaginar e imitar, a criança cria um mundo em que não existem sanções, coações, normas e regras, provenientes do mundo dos adultos, o que possibilita a ela transformar a realidade com o objetivo de atender as suas necessidades e desejos. Evidencia-se, assim, a importância da função simbólica como um meio que permite à criança expressar seus desejos, conflitos, etc. e adaptar-se gradativamente ao meio em que vive. 26 REFERÊNCIAS FREITAS, M. L. L. U. A evolução do jogo simbólico na criança. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, p. 145-163, 2010. _____. A função simbólica como um meio para avaliação e intervenção em atendimentos psicopedagógicos: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Tradução: Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo. São Paulo: Phorte Editora, 2001. HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1980. MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação física na educação infantil: construindo o movimento na escola. São Paulo: Ed. Phorte, 1999. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed, 2001. TANI, G.; CORRÊA, U. C. Aprendizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo: Blucher, 2016. _____. Aprendizagem motora: tendências, perspectivas e aplicações. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 18, p. 55-72, 2004. _____. Pesquisa na área de comportamento motor: modelos teóricos, métodos de investigação, instrumentos de análise, desafios, tendências e perspectivas. Revista da Educação Física, v. 21, p. 329-80, 2010.
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