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- -1 Processo de endividamento público brasileiro Marcelo Huber Introdução Olá, caro aluno! Seja bem-vindo à Unidade Temática 3, que trata da gestão fiscal responsável. Você certamente já ouviu falar do processo de endividamento público brasileiro, certo? Mas sabe exatamente o que isso significa para a vida do país e da sociedade? Ele diz respeito à gestão pública e impacta todos nós, pois se os gestores não conseguem arrecadar visando custear as despesas, de algum lugar terão de sair recursos para isso. Geralmente é da base de empréstimos do setor financeiro, muitas vezes com a emissão de títulos públicos que são colocados no mercado para captar dinheiro com tal finalidade. Neste tema, você vai analisar e entender o processo de endividamento de nosso país, o que é o Portal da Transparência e quais informações ele nos traz. Também entenderá por que foi criada a Lei de Acesso à Informação (LAI) e como ela é cumprida pelo Poder Público. Pronto para começar? Mãos à obra e bons estudos! Ao final desta aula, você será capaz de: • discutir o endividamento público brasileiro; • identificar o Portal da Transparência; • compreender a Lei de Acesso à Informação. 1. Endividamento público Para entendermos sobre o endividamento público crescente em nosso país, vamos lembrar da seguinte equação: receitas orçamentárias - despesas orçamentárias = resultado primário. Esse resultado pode ser de superávit ou déficit, e após ele ser obtido são pagos os juros da dívida; caso venha a sobrar, é amortizado algum valor da dívida total. Em nosso país, de 1998 a 2013 o governo federal possuía superávit primário em suas contas, mas de 2014 até 2019 o resultado primário foi de déficit, e a dívida pública explodiu. O governo, além de não pagar os juros nem amortizar a dívida, ainda a aumentou, pois não conseguiu se manter com as receitas arrecadadas pelos tributos. • • • - -2 Figura 1 - Dívida Pública Federal Fonte: TESOURO NACIONAL TRANSPARENTE, [s.d.]. Conforme podemos verificar no gráfico apresentado, o problema se agravou a partir de 2014, quando começou o resultado deficitário. Para “fechar a conta” das despesas, o governo precisou captar dinheiro no mercado, piorando assim o quadro de endividamento. A esse respeito, Nascimento (2014 p. 199) salienta: “Não é fácil avaliar a sustentabilidade da posição da dívida pública, pois para isso é necessário fazer projeções de variáveis como taxa de juros, taxas de crescimento econômico e receita e despesas públicas”. Portanto, à luz desse conceito, o endividamento público possui variáveis além das receitas e despesas. Para que ele diminua, precisamos ter crescimento econômico, propiciando maior arrecadação, e diminuição das despesas públicas, gerando maior superávit primário. Mas não podemos esquecer que as taxas de juros do país precisam ser baixas, pois impactam muito o resultado nominal, ou seja, o resultado financeiro após o pagamento dos juros e encargos da dívida. Caso haja superávit dessa equação, o chamado , sobrará para asuperávit nominal amortização da dívida existente, reduzindo o endividamento. Vamos analisar os dados do orçamento de 2019 do governo federal, extraídos do Portal da Transparência. Na Lei FIQUE ATENTO O superávit primário ocorre quando o governo consegue pagar suas despesas e sobra dinheiro para o pagamento dos juros e encargos da dívida. Já superávit nominal acontece quando são pagos os juros e encargos da dívida. - -3 Vamos analisar os dados do orçamento de 2019 do governo federal, extraídos do Portal da Transparência. Na Lei Orçamentária Anual (LOA), o governo federal estipulou uma receita de R$ 3.261.378.698.948,11 e uma despesa de R$ 3.229.390.152.317,85. De acordo com esses números, as receitas seriam suficientes para cobrir as despesas, não é mesmo? Mas, veja o que aconteceu: as receitas se mantiveram no valor estipulado na LOA, mas as despesas tiveram um aumento, saltando para R$ 3.296.888.635.302,85, ou seja, extrapolaram as receitas. Resultado: faltou dinheiro. Então, o que acontece é a emissão de mais títulos públicos no mercado a fim de arrecadar dinheiro, aumentando ainda mais o endividamento. 2. O Portal da Transparência Muitos de nós já ouvimos falar sobre o Portal da Transparência, mas o que é isso e o que nos traz de informações? Ele nos mostra como nosso dinheiro, arrecadado por meio de tributos, é investido pelo governo. Trata-se de um site governamental lançado em meados de 2004 pelo Ministério da Transparência e pela Controladoria Geral da União (CGU) ao qual qualquer cidadão tem acesso. O objetivo é deixar as contas públicas transparentes, além de demonstrar os atos dos gestores públicos em nosso país. A CGU é a entidade que administra o Portal da Transparência e é responsável por captar os dados de várias fontes de informação governamentais. Entre elas, podemos citar o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), o Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape), além de dados sobre os benefícios sociais como Bolsa-Família e outros. O material disponível no portal é constantemente atualizado para deixar o cidadão sempre informado do que está acontecendo. Vamos olhar o gráfico a seguir, extraído do Portal da Transparência, relativo às despesas do governo federal em 2019. EXEMPLO O endividamento público é uma consequência de gastos maiores do que a arrecadação. Em nossa vida financeira pessoal é a mesma coisa: quando gastamos mais do que ganhamos, acabamos nos endividando e recorrendo a algum tipo de empréstimo. FIQUE ATENTO O Portal da Transparência expõe em seu site informações retiradas de fontes de órgãos governamentais representando a atual situação financeira deles, informando o cidadão o que está sendo feito com os valores arrecadados. - -4 Quadro 1 - Gastos públicos Fonte: PORTAL DA TRANSPARÊNCIA, 2020. Podemos ver os cinco programas orçamentários do governo federal que mais consomem recursos públicos, totalizando R$ 2.607.035.269.465,40. Trata-se de um número absurdo, concorda? Como nosso estudo neste tema é sobre endividamento público, vamos olhar melhor os valores desses itens. Serviço da dívida interna (juros e amortizações) – corresponde a 19,90%, ou seja, R$ 518.771.487.923,97; Refinanciamento da dívida interna – corresponde a 17,73%, ou seja, R$ 462.261.225.023,01. O Portal da Transparência, como já citado, traz as informações da gestão pública para os brasileiros. Devemos, sempre que possível, acessá-lo a fim de ver o que está sendo realizado no país, como o orçamento anual, as receitas e despesas públicas, as áreas de atuação governamental, benefícios aos cidadãos, as ações dos órgãos do governo, relatórios de auditoria etc. Essa transparência já estava estabelecida na Constituição Federal de 1988, mas o cidadão não tinha acesso às informações, e com a implantação da Tecnologia de Informação (TI) isso se tornou possível. 3. A transparência dos gastos públicos Com a inserção das tecnologias de controle – a mais importante foi a Tecnologia da Informação (TI) – ficou mais fácil o controle orçamentário e financeiro por parte dos gestores. É possível acompanhar quase em tempo real as finanças, ou seja, a despesa pública fixada e paga e a receita tributária prevista no orçamento, mas nem sempre paga pelo contribuinte. Conforme destaca Nascimento (2014, p. 206), “esses sistemas (SIAFI, SICONV, CAUC, SISTN) são também SAIBA MAIS Para entender mais sobre a situação financeira de qualquer órgão governamental, no site do Portal da Transparência você pode achar todos os dados atualizados de que precisa. - -5 Conforme destaca Nascimento (2014, p. 206), “esses sistemas (SIAFI, SICONV, CAUC, SISTN) são também utilizados pelos órgãos de controle externo e interno de cada Unidade da Federação, possibilitando inclusive o acesso público das informações relacionadas a gestão orçamentária e financeira”. Esses sistemas permitem ao governo federal divulgar no Portal da Transparência, controlado pela CGU, as informações de como está sendogerido o orçamento e – mais importante ainda – feita a gestão financeira, tornando públicas todas as receitas estimadas e arrecadadas, todas as despesas fixadas, pagas e não pagas dentro do exercício financeiro a que correspondem. Figura 2 - Transparência dos gastos públicos Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2020. Essas informações já estavam previstas na Constituição Federal, mais precisamente no art. 37, que trata dos princípios aos quais os atos da Administração Pública devem seguir, entre eles o da publicidade. Em 2011, entrou em vigor a Lei n. 12.527/2011, obrigando o Poder Público a ser transparente, ou seja, divulgar seus atos à população. Nesse sentido, foi criado o Portal da Transparência. 4. A Lei de Acesso à Informação A Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011), conhecida como LAI, foi sancionada em 18 de novembro de 2011, com objetivo de divulgar ao cidadão as informações públicas. Como já citamos, ela atende ao princípio da publicidade disposto na Constituição Federal e deve ser cumprida pelos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) da União, estados, Distrito Federal e municípios. Para entendermos melhor quem é subordinado a essa lei, vamos ver o que consta no parágrafo único do art. 37: Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei: I – os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público; II – as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (BRASIL, 2011) A LAI foi criada para aumentar o controle e a eficiência do Poder Público, e assim diminuir a corrupção, tendo - -6 A LAI foi criada para aumentar o controle e a eficiência do Poder Público, e assim diminuir a corrupção, tendo como diretriz que o acesso à informação é direito do cidadão e dever do Estado. Figura 3 - Lei de Acesso à Informação Fonte: Lisa-S, Shutterstock, 2020. Em 2012, mais precisamente em 16 de maio de 2012, entrou em vigor o Decreto n. 7.724, o qual regulamenta a Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011). Vamos ver o que o art. 9º desse decreto nos diz: Art. 9º Os órgãos e entidades deverão criar Serviço de Informações ao Cidadão – SIC, com o objetivo de: I – atender e orientar o público quanto ao acesso à informação; II – informar sobre a tramitação de documentos nas unidades; e III – receber e registrar pedidos de acesso à informação. (BRASIL, 2011) Como vimos, o art. 9º exigiu por parte do Poder Público a criação do chamado Sistema de Informações ao Cidadão (SIC), disponível na internet, com o intuito de permitir, cada vez mais, que o cidadão tenha acesso a informações relativas a órgãos e entidades do Executivo federal. Fechamento Neste tema, você teve oportunidade de conhecer e entender sobre o endividamento público. Pôde verificar o aumento que ele teve desde 2014, haja vista que o país não está tendo superávit primário (vem gastando mais do que arrecada). Conheceu também acerca do Portal da Transparência, que está disponível a qualquer cidadão. Vimos também o que é a Lei de Acesso à Informação (LAI), criada com o intuito de trazer transparência ao setor público e buscar diminuir a corrupção. Ela estabelece que o cidadão pode ter acesso aos dados da gestão pública, saber onde os gestores estão investindo os valores arrecadados pelos tributos e cobrar dos governantes ações - -7 saber onde os gestores estão investindo os valores arrecadados pelos tributos e cobrar dos governantes ações para termos um Brasil melhor. Referências BRASIL. Decreto n. 7.724, de 16 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 16 maio 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Decreto/D7724.htm. Acesso em: 12 abr. 2020. BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 18 nov. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso em: 12 abr. 2020. NASCIMENTO, E. R. Gestão Pública. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. PORTAL DA TRANSPARÊNCIA. [S.d.]. Disponível em: http://www.portaltransparencia.gov.br/. Acesso em: 12 abr. 2020. PORTAL DA TRANSPARÊNCIA. Despesas públicas. 2020. Disponível em: http://www.portaltransparencia.gov. br/despesas?ano=2019. Acesso em: 12 abr. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Decreto/D7724.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm http://www.portaltransparencia.gov.br/ http://www.portaltransparencia.gov.br/despesas?ano=2019 http://www.portaltransparencia.gov.br/despesas?ano=2019 Introdução 1. Endividamento público Dívida Pública Federal 2. O Portal da Transparência Gastos públicos 3. A transparência dos gastos públicos Transparência dos gastos públicos 4. A Lei de Acesso à Informação Lei de Acesso à Informação Fechamento Referências