Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Módulo de Didáctica de Ciências Naturais para o Ensino Básico Universidade Pedagógica Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720 Fax: (+258) 21-322113 Centro de Educação Aberta e à Distancia Programa de Formação à Distância Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto Telefone: (+258) 82 3050353 e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com 2 Ficha técnica Autoria: Pedro Teresa Sitoe Revisão Científica: Susann Müller Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Suzete Buque Edição Linguística: João Armazia Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro Capa: Gaël Epiney Primeira Edição © 2016 Impresso e Encadernado por: © Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica. 3 Índice Visão Geral do Módulo .................................................................................................................................................... 5 Unidade no 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais ...................................................................................... 13 Lição no 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” ............................................................................................ 14 Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais ............................................................................ 15 Conceito de Didáctica ............................................................................................................................... 15 Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” ................................................................................................ 15 Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais ................................................................................ 15 Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras Ciências ........................................................... 17 Importância da Didáctica de Ciências Naturais ......................................................................................... 18 Lição no 2: Conteúdos das Ciências Naturais” ....................................................................................................... 21 Conceito de Conteúdo e sua classificação ............................................................................................... 22 Conceito de Conteúdo .............................................................................................................................. 22 Classificação dos Conteúdos ................................................................................................................... 22 Critérios de Selecção dos Conteúdos ...................................................................................................... 22 Procedimentos metodológicos para a formulação de conteúdos ............................................................. 25 Lição no 3: Objectivos ............................................................................................................................................ 31 Conceito de Objectivo e sua classificação................................................................................................ 32 Conceito Objectivo ................................................................................................................................... 32 Classificação dos Objectivos .................................................................................................................... 32 Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos ..................................................................... 36 Formulação dos Objectivos ...................................................................................................................... 37 Unidade no 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das Ciências Naturais................................................... 43 Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos ....................................................................................................... 44 Actividades cognitivas ............................................................................................................................. 45 Função das Actividades Cognitivas........................................................................................................... 45 Classificação das Actividades Cognitivas ................................................................................................. 45 Lição no 2: Meios de Ensino................................................................................................................................... 52 Conceito e Função Geral de Meios Didácticos .......................................................................................... 53 Conceito Meios Didácticos ....................................................................................................................... 53 Função geral dos Meios Didácticos .......................................................................................................... 53 Funções específicas dos Meios Didácticos ............................................................................................... 53 Factores para a escolha dos Meios Didácticos ........................................................................................ 54 Classificação dos Meios Didácticos .......................................................................................................... 57 Importância dos Meios Didácticos ........................................................................................................... 58 Propostas de Temas para Investigação ....................................................................................................................... 61 Unidade no 3: Organização do ensino das Ciências Naturais ..................................................................................... 64 4 Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos ....................................................................................................... 65 Fundamentos para a Planificação ............................................................................................................ 66 Elaboração do Plano de aula .................................................................................................................... 69 Lição no 2: Excursão ..............................................................................................................................................77 Excursão Didáctica .................................................................................................................................. 78 Excursão Didáctica .................................................................................................................................. 78 Etapas da Planificação da Excursão ......................................................................................................... 78 Importância da Excursão para Estudo das Ciências Naturais .................................................................. 79 Propostas de Temas para Investigação ....................................................................................................................... 81 Bibliografia Geral .......................................................................................................................................................... 85 5 Visão Geral do Módulo Introdução Bem vindo ao Módulo “Didáctica de Ciências Naturais” O Homem sempre soube da importânciada educação para a sua formação integral. Os fenómenos naturais são objectos muito fascinantes de interpretação para o Homem e por isso, se preocupou em procurar formas de sistematizar todo o conhecimento a eles relacionados, numa área denominada Ciências Naturais. A Didáctica de Ciências Naturais surge como resposta à necessidade de viabilizar o ensino dessa disciplina científica. Terminado o estudo do módulo de Didáctica de Ciências Naturais você poderá ser capaz de planificar e executar com sucesso as aulas de Ciências Naturais para o ensino básico. Este módulo possui três unidades temáticas e um total de 7 lições 6 Objectivos do Módulo O módulo tem o objectivo de tornar você capaz de: Adquirir conhecimentos metodológicos de trabalho que permitam uma futura intervenção inovadora, globalizante, integrada, activa e flexível; Promover a interdisciplinaridade do conhecimento e da avaliação de diferentes áreas de competências visando a iniciação à prática profissional; Compreender a importância e a necessidade da articulação dos conhecimentos científicos nas suas vertentes natural e na compreensão do mundo; Desenvolver metodologias activas e integradoras dos diferentes saberes, que permitam o desenvolvimento de competências cognitivas, socio- afectivas e psicomotoras da criança; Elaborar materiais didácticos, que permitam um desenvolvimento e formação harmoniosos da criança. 7 Estrutura do Módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade inclui uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e uma ou mais actividades para auto- avaliação. Para permitir maior compreensão no seu estudo, o módulo apresenta a seguinte estrutura: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do curso/módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomenda-se vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do módulo O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade tem uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e exercícios com uma ou mais actividades para auto-avaliação no final de cada lição e de cada unidade. A quem se destina o Módulo Este Módulo foi concebido para todos aqueles que estão inscritos no Curso de Licenciatura em Ensino Básico à distância, fornecido pela Universidade Pedagógica. Constitui-se como um dos instrumentos fundamentais para que você realize com sucesso o ensino de Ciências Naturais, usando técnicas e métodos necessários para interpretar os fenómenos naturais e, a partir deles elaborar conteúdos acessíveis à compreensão dos alunos durante a sua planificação de aulas. 8 Avaliação Serão realizados dois testes escritos e quatro trabalhos para investigação com oito temas que se encontram no final de cada unidade, incluindo a planificação de unidades temáticas, aulas e produção de material didáctico. No final do módulo, a avaliação final poderá ser através de um exame escrito ou oral. 9 Ícones de Actividades Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e facilmente localizar cada um dos elementos da lição, foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones (na sua maioria) foram concebidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no módulo: 1. Exercício [enxada em actividade] 2. Actividade [colher de pau com alimento para provar] 3. Auto-Avaliação [peneira] 4. Exemplo/estudo de caso [Jogo Ntxuva] 5. Debate [à volta da fogueira] 6. Trabalho em grupo [mãos unidas] 7. Tome nota/Atenção [batuque soando] 8. Objectivos [estrela cintilante] 9. Leitura [livro aberto] 10 10. Reflexão [embondeiro] 11. Tempo [sol] 12. Resumo [sentados à volta da fogueira] 13. Terminologia/ Glossário 14. Vídeo/Plataforma [computador] 15. Comentários [balão com texto] 1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática ou aplicar o aprendido. 2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e verificar como está a ocorrer a aprendizagem. 3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não aprendido. 4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso diferente. 5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira. 6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de entreajuda, que se apoiem uns aos outros 7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção 8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor 9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter informações adicionais através de livros ou outras fontes. 11 10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber. 11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou lição. 12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade. 13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta, indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou então que se apresenta um Glossário com os termos mais importantes. 14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na plataforma digital de ensino e aprendizagem. 15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de auto-avaliação. 12 Pág. 12 - 42 Conteúdos 1 U N ID A D E Unidade no 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais Lição no 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais Conceito de Didáctica Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras Ciências Importância da Didáctica de Ciências Naturais Lição no 2: Conteúdos das Ciências Naturais” Conceito de Conteúdo e sua classificação Conceito de Conteúdo Classificação dos Conteúdos Critérios de Selecção dos Conteúdos Procedimentos metodológicos para a formulação de conteúdos Princípios Lição no 3: Objectivos Conceito de Objectivo e sua classificação Conceito Objectivo Classificação dos Objectivos Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos Formulação dos Objectivos Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais 13 Unidade no 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais Introdução Bem vindo à primeira unidade do Módulo de Didáctica de Ciências Naturais. No nosso quotidiano,qualquer actividade que executamos possui uma finalidade objectiva ou subjectiva e, tendo em conta isso, a executamos de forma específica. Em relação ao ensino de Ciências Naturais, cada fenómeno ou processo que se ensina constitui um conteúdo e para medirmos a materialização da sua transmissão é necessário definirmos com clareza os objectivos. Nesta unidade abordaremos os conceitos básicos de Didáctica, sua aplicação no âmbito do ensino das Ciências Naturais, bem como os objectivos e conteúdos das Ciências Naturais. Esta unidade tem 3 lições. O tempo de leitura da unidade é de 125 minutos e o tempo de resolução das actividades é de 100 minutos. Objectivos Ao terminar esta unidade você será capaz de: Conhecer os objectivos e conteúdos das Ciências Naturais; Seleccionar os conteúdos de ensino de Ciências Naturais para a planificação de uma aula; Operacionalizar os objectivos de uma aula de Ciências Naturais através da planificação das aulas. 14 Lição no 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” Introdução Para iniciarmos a nossa abordagem sobre a conceptualização da Didáctica de Ciências Naturais, iremos discutir a origem da palavra Didáctica e seguidamente faremos o seu enquadramento no contexto das Ciências Naturais. Por isso, nesta lição apresentamos o conceito da Didáctica de Ciências Naturais, bem como os objectivos que norteiam o seu estudo e a sua pertinência para você ter sucesso no ensino das Ciências Naturais. Objectivos Ao terminar esta lição você será capaz de: • Conceituar a Didáctica de Ciências Naturais; • Relacionar a Didáctica de Ciências Naturais com outras ciências; • Descrever a importância da Didáctica de Ciências Naturais. Tempo Tempo de Leitura: 30 minutos Terminologia Didáctica, Ciências Naturais 15 Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais Conceito de Didáctica A palavra “Didáctica” vem da expressão grega techné didaktiké, que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. Segundo LIBÂNEO (1992: 25), Didáctica é a teoria de ensino que investiga os fundamentos, as condições e as formas de realização do ensino. Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” A Didáctica de Ciências Naturais é uma das ramificações da Didáctica que especifica as técnicas e métodos para a transmissão ou mediação dos conteúdos específicos das Ciências Naturais. Como área específica, a Didáctica de Ciências Naturais observa, analisa e controla os sistemas de parâmetros das aulas de Ciências Naturais, explorando todos os mecanismos necessários para dotar o professor de instrumentos úteis na planificação das suas aulas, tendo em conta a observação e experimentação. Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais O objecto de estudo da Didáctica de Ciências Naturais é a educação como um todo onde esta observa: O saber e a transposição didáctica do conhecimento; O trabalho do aluno; O trabalho do professor; O sistema do conhecimento científico das Ciências Naturais; Os métodos de pesquisa e as estratégias metodológicas de ensino de Ciências Naturais. Uma coisa deve ficar clara quando falamos de transposição didáctica, é que o conhecimento científico organizado em áreas do saber científico precisa de ser tansformado pelo professor num saber escolar útil para o quotidiano do aluno, respeitando as suas potencialidades e limitações concretas. Por exemplo, se 16 você quer ensinar técnicas de conservação de pescado aos alunos, poderá recorrer a transposição didáctica para permitir a adaptabilidade das técnicas científicas existentes às condições materiais concretas da comunidade onde a escola e o aluno estão inseridos, podendo privilegiar as técnicas de frio, salgamento ou fumagem adequadas. Actividade 1. Enquadre o conceito Didáctica no contexto da Pedagogia. 2. Como podemos aplicar o conceito de Didáctica no âmbito das Ciências Naturais? Feedback Antes de reponder as actividades acima colocadas, deve se recordar que aprendeu a relação entre a Didáctica e a Pedagogia no módulo de Didáctica Geral. Entretanto, deve ter se lembrado que a Didáctica é a parte da Pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de Ensino, destinados a colocar em prática as directrizes da teoria pedagógica. Mas estaria ainda num caminho certo se tivesse referido que a Didáctica é entendida como a Ciência que investiga as regularidades durante o processo de transmissão ou mediação de conteúdos pelo professor assim como de aquisição de conhecimentos pelos alunos. Portanto, se tomarmos em consideração a reflexão de SOUSSAN (2003: 48), a Didáctica deve ser considerada como o estudo das relações entre o sujeito de aprendizagem (aluno) e o objecto da aprendizagem ou seja os conteúdos a serem ensinados, no nosso caso, as Ciências Naturais. De acordo com NIVAGARA (s.d.: 22), o educador Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da didáctica moderna, e foi um dos maiores educadores do século XVII. 17 Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras Ciências A Didáctica de Ciências Naturais não pode ser vista de forma isolada, mas sim de forma integrada, considerando que ela se insere no grupo de outras ciências. Neste âmbito, a Didáctica de Ciências Naturais, como toda outra didáctica, insere-se dentro da Pedagogia, concretamente na Pedagogia do Ensino Escolar. Por ser uma ciência pedagógica, enquadra-se no contexto das ciências humanas e interactua com elas, buscando delas alguns subsídios para a sua viabilização. Preste atenção na figura abaixo: Fig. 1 – Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras ciências (MÜLLER, 2005: 6 - adaptado) De acordo com a figura acima, cada ponta da estrela representa uma área de conhecimento com um conjunto organizado de conteúdos que fornecem bases para o aprofundamento da compreensão na abordagem da Didáctica de Ciências Naturais. Por exemplo, no contexto do ensino das Ciências Naturais, se por um lado a Didáctica fornece as bases metodológicas de ensino de uma maneira geral, a Psicologia fornece os pressupostos psicológicos que devem ser tomados em 18 conta no âmbito da planificação e leccionação das aulas, alinhados com os conteúdos específicos das Ciências Naturais. Importância da Didáctica de Ciências Naturais A importância da Didáctica de Ciências Naturais insere-se na necessidade de viabilizar a leccionação das Ciências Naturais no Ensino Básico. Segundo COSTA (1999: n.p.), durante muitos anos o ensino das ciências nos diferentes níveis de escolaridade esteve centrado na memorização de conteúdos, na realização de actividades de mecanização e na aplicação de regras para a resolução de questões semelhantes às anteriormente apresentadas e resolvidas pelo professor. Esta visão mecanicista entendia as ciências como um corpo organizado de conhecimentos e regras a aprender e a aplicar sem qualquer ligação com a realidade. Uma das razões que justifica a inclusão das Ciências da Natureza no currículo do Ensino Básico é a necessidade de os alunos adquirirem um conjunto de conhecimentos e competências essenciais para se iniciarem no estudo das Ciências. Este é o papel da disciplina de Ciências Naturais visto na perspectiva da própria ciência. O papel desta disciplina no currículo justifica-se também na perspectiva do indivíduo, pelo seu importante contributo para o desenvolvimento de capacidades na criança. Justifica-se, ainda, na perspectiva da sociedade ao permitir à criança adquirir uma compreensão científica dos fenómenos e acontecimentos que compõem o mundo físico e social de que faz parte (PEREIRA, 1992: n.p. apud COSTA 1999: n.p.). Segundo LIBÂNEO (1990: 55), é típico da Didática investigaros nexos e relações entre o acto de ensinar e o acto de aprender. Neste contexto, a Didáctica de Ciências Naturais permite compreender a actividade de mediação para promover um encontro formativo e educativo entre o aluno e a matéria de ensino, estabelecendo-se um vínculo entre a teoria de Ensino e a teoria de Conhecimento. 19 Resumo A Didáctica é a parte da Pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as directrizes da teoria pedagógica. A Didáctica de Ciências constitui-se como uma das ramificações da Didáctica que especifica as técnicas e métodos para a transmissão ou mediação dos conteúdos específicos das Ciências Naturais. A Didáctica de Ciências Naturais não pode ser vista de forma isolada, mas sim de forma integrada, considerando que ela se insere no grupo de ciências as quais é dependente e outras que dela dependem (veja a figura 1). A importância da Didáctica de Ciências Naturais insere-se na necessidade de viabilizar a leccionação das Ciências Naturais, permitindo compreender a actividade de mediação para promover um encontro formativo e educativo entre o aluno e a matéria de ensino. Auto-Avaliação 1. Explique por palavras suas o conceito de Didáctica de Ciências Naturais. 2. Mencione o objecto de estudo da Didáctica de Ciências Naturais. 3. Enquadre a Didáctica de Ciências Naturais nas Ciências Pedagógicas. 4. A Didáctica é a Ciência que ensina Ciências. Argumente. 20 Comentários 1. Para responder essa pergunta deve inicialmente ter em conta o conceito Didáctica e, em seguinda, fazer um enquadramento no contexo das Ciências Naturais. No final compare a sua resposta com a que se encontra na parte inicial desta lição. 2. Se tiver optado por responder que o objecto de estudo da Didáctica de Ciências Naturais é o saber e a transposição didáctica do conhecimento, o sistema do conhecimento científico das Ciências Naturais e os métodos de pesquisa bem como as estratégias metodológicas, está no caminho certo. 3. A Didáctica de Ciências Naturais insere-se dentro da Pedagogia, concretamente a Pedagogia do Ensino Escolar. 4. Para esta pergunta, deve explorar a sua capacidade de argumentar, sem se esquecer de entre outros aspectos, referir-se ao facto de ser através da Didáctica que as demais ciências são ensinadas, isto é, todo o conhecimento para ser aprendido, precisa de ser transformado e adequado didacticamente para o seu ensino. 21 Lição no 2: Conteúdos das Ciências Naturais Introdução Na lição anterior você aprendeu a definir a Didáctica de Ciências Naturais e a fazer o seu enquadramento e relacionamento com as outras ciências. Ora, agora vamos entender como seleccionar e combinar os conteúdos a leccionar. Nesse contexto, devemos estar sempre em alerta pelo facto de que os conteúdos científicos que representam as Ciências Naturais são de uma vasta variedade e complexidade, pelo que, caberá a si no futuro, como professor, definir de acordo com o programa de ensino o que dever ser ensinado e como deve ser ensinado. Objectivos Ao terminar esta lição você será capaz de: • Definir o conceito de conteúdo; • Classificar os conteúdos das Ciências Naturais; • Identificar os critérios de selecção dos conteúdos Tempo Tempo de Leitura: 45 minutos Terminologia Conteúdo, interdisciplinaridade, assimilação activa. 22 Conceito de Conteúdo e sua classificação Conceito de Conteúdo Conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida (MÜLLER, 2005: 14). Classificação dos Conteúdos Segundo MÜLLER (2005: 14), o conteúdo de Ciências Naturais pode ser classificado em duas categorias: conteúdo do programa de ensino e conteúdo de processo de aquisição. O conteúdo do programa de ensino é aquele que você encontra patente nos programas para as diversas classes, por exemplo a matéria nova e as orientações metodológicas. Entretanto, existe uma segunda categoria de conteúdos que, não estando necessariamente inscrito nos programas de ensino, eles influenciam a aprendizagem do aluno, através do seu contacto permanente, por exemplo, as imagens patentes no espaço público (cartazes, panfletos, placas, etc.), revistas, bem assim as informações que o aluno recebe no seu convívio do quotidiano através da aquisição emocional. Critérios de Selecção dos Conteúdos Quando se pretende seleccionar o conteúdo da matéria nova a ser objecto de leccionação é preciso ter em conta vários critérios de modo a adequar o conteúdo existente nos programas de ensino. 23 Actividade 1. Imagine que você tenha que planificar uma aula e tem consigo o programa de ensino e o manual do professor, como vai decidir que conteúdo deve incluir na sua aula? 2. Como vai avaliar a aplicabilidade do conteúdo ensinado? Feedback Em relação às actividades de reflexão acima colocadas, compare as suas reflexões com as que se seguem. Tendo em conta que o sujeito de aprendizagem é o aluno, logo, o primeiro elemento a ter em conta na selecção do conteúdo é o aluno. Este, torna-se crucial pois é o epicentro da actividade docente, por isso, todo o conteúdo seleccionado deve ter em conta inicialmente sua natureza, suas particularidades e anseios de forma a corresponder aos seus interesses, no âmbito do desenvolvimento da sua personalidade. Em segundo vamos ter em consideração a sociedade onde decorre a aprendizagem, tendo em consideração que o aluno não é um sujeito isolado, está inserido numa sociedade e a actividade docente deve igualmente centrar a sua actuação na satisfação presente e futura da sociedade onde o aluno está inserido. Por último, mas não menos importante, é necessário que os conteúdos seleccionados correspondam à disciplina que se está a leccionar, no caso particular, as Ciências Naturais, reflectindo o conjunto de conhecimento organizado desta ciência. Em relação a aplicabilidade do conteúdo, é necessário que depois da aula, você avalie se a matéria aprendida teria gerado mudanças de comportamento, atitudes e convicções nos alunos para o seu quotidiano. Certamente que o momento mais marcante desta avaliação será nas provas que você irá administrar aos alunos. 24 Em suma, um dos principais critérios para a selecção dos conteúdos é considerar o aluno, sociedade e disciplina científica. Esta relação pode ser representada da seguinte maneira: Fig. 2 – Critério de selecção dos conteúdos Entretanto, você pode usar um outro sistema de critérios, que nos remete analisar a: Utilidade: os conteúdos devem ter aplicação no quotidiano dos alunos; Validade: os conteúdos devem representar o conjunto de conhecimento organizado e actualizado; Significância: os conteúdos devem ter impacto na vida dos alunos; Flexibilidade: os conteúdos devem ser susceptíveis a renovação constante; Viabilidade: os conteúdos devem ser compatíveis com todos os recursos (tempo disponível e meios de ensino). 25 Procedimentos metodológicos para a formulação de conteúdos Para a formulação dos conteúdos, podemos considerar dois procedimentos metodológicos ou métodos: métodos dedutivo e indutivo. Método Indutivo De acordo com LAKATOS (1991: 47) este método consiste em partir de uma situação particular, para tirar uma conclusão, ou seja, parte-se do específico para o geral. Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partesexaminadas. Portanto, o objectivo dos argumentos é levar à conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. Esse processo ocorre em três etapas, nomeadamente, a observação dos objectos, fenómenos ou processos, em seguida descobrir a relação entre eles e finalmente generalizar a relação. Para as Ciências Naturais, podemos ter os seguintes exemplos: 26 Método Dedutivo De acordo com LAKATOS (1991: 56), este método caracteriza-se em partir de uma situação geral e genérica para uma situação particular. A dedução é o processo mental contrário à indução. Através da indução, não produzimos conhecimentos novos, porém explicitamos conhecimento que antes estava implícito. Exemplos: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Todo vertebrado possui vértebras. Ora, todos os macacos são vertebrados. Logo, todos macacos possuem vértebras. Princípios didácticos da estruturação dos conteúdos A estruturação dos conteúdos significa em outras palavras a selecção e a combinação destes. Deve-se sempre ter em conta que do vasto conteúdo existente na disciplina de Ciências Naturais podemos encontrar conteúdo importante e conteúdo essencial, tal como mostra o diagrama abaixo. 27 Fig. 3 – Hierarquia do conteúdo tendo em conta a sua relevância Na combinação dos conteúdos a leccionar, o professor deve ter em conta alguns princípios didácticos, tais como: Princípio de espiral; Princípio da interdisciplinaridade; Princípio da centralização do Homem; Princípio da situação; Princípio da ecologia; Princípio da aplicação; Princípio de consideração do empírico e teórico; Princípio de consideração dos aspectos históricos; Princípio da hierarquia da matéria viva. Cada princípio didáctico acima indicado apresenta suas características específicas. Veja em seguida a descrição de cada princípio didáctico na tabela que se segue: 28 Tabela 1: Princípios didácticos para a estruturação da matéria nova Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado) Princípios didácticos Características básicas Princípio de espiral Baseia-se no fundamento de que a criança não é um adulto em miniatura e nem uma tábua rasa. Por isso, a estruturação dos conteúdos deve sempre ter em conta os conhecimentos prévios dos alunos, as suas necessidades presentes e as necessidades futuras. No princípio de espiral deve-se ter em consideração a possibilidade de abordar o mesmo assunto ao longo de vários níveis de ensino com vários níveis de complexidade ou profundidade. Princípio da situação Tendo em conta este princípio, o professor deve estruturar os conteúdos, respeitando as vivências dos alunos, baseadas em situações quotidianas. Princípio da ecologia Os conteúdos devem ser estruturados tendo em conta os componentes individuais, sociais e ecológicos, isto é, deve-se respeitar a relação entre o Homem e o meio ambiente. Princípio da aplicação Os conteúdos devem ser estruturados tendo em conta a satisfação das necessidades dos alunos. Todo o processo de aprendizagem deve ter como consequência uma modificação no comportamento do educando, como resultado dos conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas. Neste âmbito, a aprendizagem ocorre tendo em conta o contexto do aluno. Princípio da centralização do Homem De acordo com este princípio, o professor deve ter em conta que o Homem está no centro das atenções de toda a actividade educativa. Princípio da interdisciplinarid ade A estruturação do conteúdo deve ter em conta as diversas áreas do saber que estão estritamente relacionadas com as Ciências Naturais, tendo em conta uma abordagem transversal dos diversos conteúdos. Princípio de consideração do empírico e teórico Segundo este princípio, o professor deve valorizar os conhecimentos dos alunos, adquiridos com a sua experiência, combinando-os e sistematizando-os em teorias e leis. Princípio de consideração dos aspectos históricos A história da ciência é um elemento importante e encorajador para os alunos, pois mostra que o conhecimento actualmente existente foi se acumulando ao longo de várias gerações e que os alunos participam activamente nessa acumulação. Princípio da hierarquia da matéria viva De acordo com este princípio, o professor deve sempre ter em consideração que os conteúdos devem ser aprendidos de forma hierárquica. 29 Resumo O conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida. O conteúdo pode ser classificado em duas categorias: conteúdo do programa de ensino e conteúdo de processo de aquisição. Um dos sistemas de critérios para a selecção do conteúdo da matéria nova considera: aluno, sociedade e disciplina específica. Um outro sistema de critérios para a selecção do conteúdo da matéria nova considera: Utilidade, Validade, Significância, Flexibilidade e Viabilidade. Para a estruturação dos conteúdos da matéria nova é necessário ter em conta os seguintes princípios didácticos: princípio de espiral, princípio da interdisciplinaridade, princípio da centralização do Homem, princípio da situação, princípio da ecologia, princípio da aplicação, princípio de consideração do empírico e teórico, princípio de consideração dos aspectos históricos e princípio da hierarquia da matéria viva. Auto-Avaliação 1. Defina o conceito de Conteúdo. 2. Classifique os conteúdos de Ciências Naturais. 3. Indique os critérios que devem ser considerados na selecção do conteúdo da matéria nova. 4. Explique a importância do princípio da interdisciplinaridade na estruturação dos conteúdos da matéria nova. 30 Comentários 1. Conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida. 2. O conteúdo pode ser classificado em conteúdo de introdução, matéria nova, consolidação, controle/avaliação e as orientações metodológicas constantes nos programas de ensino. 3. Existem dois critérios usados na selecção de conteúdos da matéria nova, que são: 1º sistema de critérios considera o aluno, a sociedade e a disciplina de Ciências Naturais. O 2º sistema de critérios considera que o conteúdo deve ter utilidade, validade significância e deve ser viável e flexível. 4. Segundo o princípio da interdisciplinaridade, para estruturar o conteúdo de Ciências Naturais o professor deve ter em conta as diversas áreas do saber que estão estritamente relacionadas com as Ciências Naturais, recorrendo a elas quando for necessário. A grande vantagem da aplicação deste princípio didáctico é de, além de poupar tempo, evitar uma aprendizagem de factos isolados. 31 Lição no 3: Objectivos Introdução No nosso dia-a-dia temos utilizado com certa frequência a palavra objectivo. Recorremos a ela para indicar a finalidade de uma acção, a meta de um percurso, entre outros aspectos. Na actividade docente, a reflexão sobre objectivos pode ser considerada um complemento à reflexão sobre as estratégias, pois é necessário analisar a realidade para se saber onde é que estávamos, onde estamos e para onde é que vamos. Nesta lição vamos aprender a definir os objectivos de uma aula, a partir dos objectivos e competências emanados no programa de ensino. Objectivos Ao terminar esta lição você será capaz de: Definir o conceito de objectivo; Classificar os objectivos, tendo em conta o critério de projecção e de nível de complexidade das operações a realizar pelo aluno; Descrever as características, propriedades e elementos dos objectivos; Formular objectivos para uma aula. Tempo Tempo de Leitura: 50 minutos Terminologia Objectivos, níveis, cognitividade, psicomotricidade, afectividade 32 Conceito de Objectivo e sua classificação Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou finalidades, em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados (MÜLLER, 2005: 11). No conceito em análise, é necessário ter em conta que no contexto da definição, traça-se de forma prévia (significado de objectivos pré-concebidos) uma série de propósitos educativos que de maneira estruturada serão alcançados de forma satisfatória (significado de objectivos concreto-operacionalizados). Classificação dos Objectivos Os objectivos podem ser classificados tendo em conta vários critérios. Para a Didáctica, existem dois critérios fundamentais: critério de projecção (taxonomia de Möller) e critério de níveis de complexidade de operações mentais a realizar pelo aluno (taxonomia de Bloom). Critério de Projecção Na classificação dos objectivos tendo em conta o critério de projecção, de acordo com a taxonomia de Möller, considera-se o seguinte: objectivos gerais, específicos e mais específicos. (MÜLLER, 2005: 11) Agora observe atentamente o esquema abaixo. 33 Fig. 4 – Classificação dos objectivos segundo o critério de projecção (Möller) Existe uma outra terminologia para esta taxonomia dos objectivos: os objectivos gerais também podem ser designados educacionais e os objectivos específicos e mais específicos também podem ser designados por objectivos instrucionais. No exercício da operacionalização dos objectivos, deve-se considerar que, de acordo com a sua hierarquia, os objectivos específicos subordinam-se aos objectivos gerais, isto é, consistem numa especificação dos objectivos gerais. Critério de nível de complexidade das operações a realizar pelo aluno Na classificação dos objectivos tendo em conta o critério de nível de complexidade das operações a realizar pelo aluno, de acordo com a taxonomia de Bloom (1956), considera-se o seguinte: nível cognitivo, nível psicomotor e nível afectivo. Tal como no critério anterior, podemos esquematizar este critério da seguinte forma: Projecção de unidades didácticas ou várias aulas Projecção de uma aula ou fases da aula Projecção de um ano ou vários anos Epecíficos Mais Específicos Gerais Objectivos podem ser Correspondem a Correspondem a Correspondem a Ex: Programa de ensino Ex: Plano analítico Ex: Plano de lição 34 Fig. 5 – Classificação dos objectivos segundo o critério dos níveis de complexidade das operações (Taxonomia de Bloom) O domínio cognitivo engloba os objectivos que implicam uma mobilização de conhecimentos e que incidem sobre o desenvolvimento das habilidades e capacidades mentais. O domínio psicomotor implica operações mentais de cognição e acção, isto é, a prontidão em responder às situações de aprendizagem e da vida com destreza, flexibilidade, rapidez e exactidão. O domínio afectivo compreende os objectivos que descrevem as modificações de interesse, as atitudes e os valores, assim como o progresso na capacidade de decisão e na capacidade de adaptação. Segundo FERRAZ e BELHOT (2010: 424), em relação ao domínio cognitivo, Bloom e seus colaboradores categorizaram o domínio cognitivo em seis estágios que representam diferentes níveis de complexidade de operações: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. Fig. 6 - Categorias do domínio cognitivo (FERRAZ e BELHOT, 2010: 424) Para a definição de objectivos do domínio cognitivo, existe um conjunto de verbos a usar em cada estágio, tal como se ilustra na tabela seguinte: Aptidões perceptivas Destrezas físicas Capacidades Habilidades Actividades semi- intelectuais Organização Exactidão Prontidão Valorização Interesse Atitudes, Convicções Valores, Sentimentos Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação Nível Psicomotor Nível Afectivo Nível Cognitivo Objectivos podem ser definidos no Referem-se a Referem-se a Referem-se a 35 Tabela 2 - Definição das diferentes categorias do domínio cognitivo Categoria Definição Verbos usados Conhecimento Habilidade de lembrar informações e conteúdos previamente abordados como factos, datas, palavras, teorias, métodos, classificações, lugares, regras, critérios, procedimentos, etc. Enumerar, definir, descrever, identificar, denominar, listar, nomear, combinar, realçar, apontar, relembrar, recordar, relacionar, reproduzir, solucionar, declarar, distinguir, rotular, memorizar, ordenar e reconhecer. Compreensão Habilidade de compreender e dar significado ao conteúdo. Essa habilidade pode ser demonstrada por meio da tradução do conteúdo compreendido para uma nova forma (oral, escrita, diagramas, etc.) ou contexto. Alterar, construir, converter, descodificar, defender, definir, descrever, distinguir, discriminar, estimar, explicar, ilustrar, generalizar, dar exemplos, inferir, reformular, prever, reescrever, resolver, resumir, classificar, discutir, identificar, interpretar, reconhecer, redefinir, situar, seleccionar e traduzir. Aplicação Habilidade de usar informações, métodos e conteúdos aprendidos em novas situações concretas. Isso pode incluir aplicações de regras, métodos, modelos, conceitos, princípios, leis e teorias. Aplicar, alterar, programar, demonstrar, desenvolver, descobrir, dramatizar, empregar, ilustrar, interpretar, manipular, modificar, operacionalizar, organizar, prever, preparar, produzir, relatar, resolver, transferir, usar, construir, esboçar, escolher, escrever, operar e praticar. Análise Habilidade de subdividir o conteúdo em partes menores com a finalidade de entender a estrutura final, incluindo a identificação das partes, análise de relacionamento entre a identificação das partes, análise de relacionamento entre as partes e reconhecimento dos princípios organizacionais envolvidos. Analisar, reduzir, classificar, comparar, contrastar, determinar, deduzir, distinguir, diferenciar, identificar, ilustrar, apontar, inferir, relacionar, seleccionar, separar, subdividir, calcular, discriminar, examinar, experimentar, testar, esquematizar e questionar. Síntese Habilidade de agregar e juntar partes com a finalidade de criar um novo todo ou ainda combinar partes não organizadas para formar um todo. Categorizar, combinar, compilar, compor, conceber, construir, criar, desenhar, elaborar, estabelecer, explicar, formular, generalizar, inventar, modificar, organizar, originar, planificar, propor, reorganizar, relacionar, rever, reescrever, resumir, sistematizar, escrever, montar, desenvolver, estruturar e projectar. Avaliação Habilidade de julgar o valor do material (proposta, pesquisa, projecto) para um propósito específico. Avaliar, averiguar, escolher, comparar, concluir, contrastar, criticar, decidir, defender, discriminar, explicar, interpretar, justificar, relatar, resolver, resumir, apoiar, validar, detectar, estimar, julgar e seleccionar. Segundo FERRAZ e BELHOT, 2010 (adaptado) 36 Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos Características e propriedades Os objectivos definidos para as aulas de Ciências Naturais devem ter em conta algumas características e propriedades a saber: pertinentes, compatíveis, alcançáveis, lógicos, inequívocos, concretos, observáveis, realizáveis, mensuráveis, relevantes, congruentes e observáveis. Estas características e propriedades visam reduzir ou eliminar as ambiguidades, se não, ora vejamos: (Tabela 3) Tabela 3 - Características e Propriedades dos objectivosCaracterística/ propriedade Significado Pertinentes Devem estar relacionados com o conteúdo. Compatíveis Devem estar de acordo com os pré-requisitos necessários para a sua materialização. Alcançáveis Devem ter um horizonte palpável e possível. Lógicos Devem apresentar os mesmos resultados, não devem apresentar contradições. Inequívocos Devem ser definidos com precisão indicando o que se pretende exactamente. Concretos Não devem apresentar ambiguidades. Observáveis Devem possibilitar o alcance do objecto pelo qual foram traçados. Realizáveis Devem estar relacionados com o ambiente real do aluno. Mensuráveis Devem ser possíveis de medir através de uma escala de avaliação do aluno. Relevantes Devem estar relacionados com os interesses reais do sujeito de aprendizagem. Congruentes O conteúdo não pode ser diferente dos objectivos. Equilibrados Deve haver um equilíbrio entre os âmbitos e níveis pelos quais foram traçados. Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado) 37 Elementos dos Objectivos Os objectivos apresentam os seguintes elementos: Sujeito, Actividade, Conteúdo, Contexto e Critério. Agora observe o esquema abaixo que ilustra as características dos elementos dos objectivos: Tabela 4 - Elementos dos objectivos Elementos Características Sujeito Quem vai practicar a acção: o aluno Actividade Designação do comportamento activo a executar pelo aluno Conteúdo Conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes correspondentes à actividade a desempenhar Contexto Indicação das condições importantes nas quais a actividade se deve reproduzir, por exemplo a circunstância requerida ou desejada Critério Expressão de um resultado positivo Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado) Formulação dos Objectivos Tendo em conta todos os elementos que foram descritos acima, para formularmos os objectivos de uma aula, devemos reflectir profundamente e actuarmos de acordo com os instrumentos recomendados. De seguida apresenta-se um exemplo onde você vai aprender a formulação de objectivos mais específicos nos níveis cognitivo, psicomotor e afectivo: Tema: Introdução ao estudo da Poluição (6ª classe - Unidade Temática: Poluição) Objectivos da aula Nível cognitivo Nível psicomotor Nível afectivo O aluno deve: Conhecer os agentes poluentes. O aluno deve ser capaz de: Classificar os tipos de poluição tendo em conta os agentes poluentes. O aluno deve: Dar o seu contributo para preservar o meio ambiente livre da poluição. 38 Resumo Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou finalidades, em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados; Os objectivos podem ser classificados tendo em conta vários critérios. Existem dois critérios fundamentais: critério de projecção (taxonomia de Möller) e critério de níveis de complexidade (taxonomia de Bloom). De acordo com a taxonomia de Möller consideram-se três níveis ou esferas de projecção: objectivos gerais, específicos e mais específicos. De acordo com a taxonomia de Bloom, consideram-se três níveis: cognitivo, psicomotor e afectivo. No nível cognitivo, os objectivos focam a aprendizagem de conhecimentos, desde a recordação e compreensão de algo estudado, aplicar, analisar e reorganizar a aprendizagem de um modo singular e criativo, reordenando o material ou combinando-o com ideias ou métodos anteriormente aprendidos. No nível psicomotor, os objectivos estão ligados à habilidade motora, manipulação de objectos ou acções que requerem coordenação neuromuscular. São, geralmente, relacionados à caligrafia, arte mecânica, manuseamento de aparelhos ou ferramentas como o microscópio, balanças, globos, etc. Em relação ao nível afectivo, os objectivos dão ênfase aos sentimentos, emoções, aceitação ou rejeição de algo. Objectivos devem ser: pertinentes, lógicos, observáveis, relevantes, compatíveis, realizáveis, inequívocos, congruentes, concretos, mensuráveis, equilibrados e alcançáveis. Para a formulação dos objectivos é necessário ter em conta fundamentalmente o sujeito, a actividade e o conteúdo, sendo que em algumas vezes, deve-se indicar o contexto e o critério. 39 Exercícios Tempo de Resolução: 35 minutos. 1. Defina o conceito de objectivo. 2. Classifique os objectivos segundo a taxonomia de Bloom. 3. “Os objectivos específicos subordinam-se aos objectivos gerais”. Argumente esta afirmação. 4. “Os objectivos devem ser mensuráveis”. Fundamente. 5. Mencione os elementos a ter em conta para formularmos objectivos para uma aula. 6. Indique na seguinte formulação os elementos dos objectivos. “O aluno deve classificar os tipos de flores tendo em conta o número de pétalas.” 7. Classifique os seguintes objectivos segundo a Taxonomia de Möller e de Bloom. Objectivo Taxonomia de Möller Taxonomia de Bloom No fim da aula, o aluno deve ser carpaz de desenhar uma flor completa. No fim da 9ª classe, o aluno deve ter interesse para o estudo das plantas. No fim da unidade “Metabolismo”, o aluno deve ter conhecimentos sobre os diferentes processos metabólicos. 40 Possíveis respostas 1. Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou finalidades em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados. 2. De acordo com a taxonomia de Bloom, os objectivos podem ser cognitivos, psicomotores e afectivos. 3. Os objectivos específicos subordinam-se aos objectivos gerais pois os objectivos específicos constituem a especificação dos gerais e o seu alcance constitui a materialização intermediária dos objectivos gerais. 4. O objectivos devem ser possíveis de medir através de uma escala de avaliação do aluno. 5. Os elementos dos objectivos são: aluno, actividade e conteúdo (em alguns casos, o critério). Critério 6. O aluno deve classificar os tipos de flores tendo em conta o número de pétalas. Sujeito Actividade Conteúdo 7. Objectivo Taxonomia de Möller Taxonomia de Bloom No fim da aula, o aluno deve ser carpaz de desenhar uma flor completa. Objectivo mais específico Objectivo no nível psicomotor No fim da 9 classe, o aluno deve ter interesse para o estudo das plantas. Objectivo geral Objectivo no nível afectivo No fim da unidade “Metabolismo”, o aluno deve ter conhecimentos sobre os diferentes processos metabólicos. Objectivo específico Objectivo no nível cognitivo 41 Actividade Actividade de GRUPO Tarefa: Formule objectivos de acordo com a taxonomia de Bloom para as aulas, com os seguintes temas: Pesca artesanal; Movimentos Respiratórios; Processo Digestivo no Homem; Características dos rios. Orientações: devem ser formados grupos de 4 a 6 pessoas para resolver a tarefa. O tempo para a resolução da mesma é de 30 minutos. Após a sua conclusão, comparem os verbos usados com os sugeridos na tabela 2 e avaliem as principais características e elementos dos objectivos na vossa formulação, usando as tabelas 3 e 4 da lição 3 desta unidade. No final dos trabalhos, o tutor geral ou de especialidade poderá fazer a avaliação do trabalho. Bibliografia Básica da Unidade 1 1. BLOOM, B. S, et al, Taxonomy of Educational Objectives: The Classification of Educational Objectives. Hand Book I and II. New York, David Mckay, 1956 2. FERRAZ, Ana Paula do Carmo Marcheti e BELHOT, RenatoVairo, Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objectivos instrucionais, Revista Gestão da Produção e Sistemas, São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010 3. LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A., MetodologiaCientífica, São Paulo, Editora Atlas S.A., 1991 4. LIBÂNEO, J. Didáctica, São Paulo, Cortez Editora, 1992 5. MÜLLER, Susann, Didáctica das Ciências Naturais, 1ª Edição, Maputo, Texto Editores, 2005 6. NIVAGARA, Daniel, Didáctica Geral, Maputo, Universidade Pedagógica, s.d.; 7. PILETTI, Claudino. Didáctica Geral, São Paulo, Editora Atica; 2004; 8. SOUSSAN, Georges, COMO ENSINAR AS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS?: Didática e Formação, Brasília, ©UNESCO, 2003. 42 Pág. 43 - 63 Conteúdos 2 U N ID A D E Unidade no 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das Ciências Naturais Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos Actividades cognitivas Função das Actividades Cognitivas Classificação das Actividades Cognitivas Lição no 2: Meios de Ensino Conceito e Função Geral de Meios Didácticos Conceito Meios Didácticos Função geral dos Meios Didácticos Funções específicas dos Meios Didácticos Factores para a escolha dos Meios Didácticos Classificação dos Meios Didácticos Importância dos Meios Didácticos Propostas de Temas para Investigação Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das Ciências Naturais 43 Unidade no 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das Ciências Naturais Introdução Bem vindo à segunda unidade do Módulo de Didáctica de Ciências Naturais. Certamente que você aprendeu bastante na primeira unidade e já se encontra em condições de embarcar para esta unidade. Nesta unidade iremos abordar os métodos, procedimentos e meios de ensino para as Ciências Naturais. Tendo aprendido na unidade anterior a definição dos objectivos e os critérios para seleccionar conteúdos de aprendizagem, já é chegado o tempo de aprender a seleccionar os métodos e os meios didácticos adequados para uma determinada aula. Esta unidade tem 2 lições. O tempo de leitura da unidade é de 80 minutos e o tempo de resolução das actividades é de 60 minutos. Objectivos Ao terminar esta unidade você será capaz de: Conhecer as actividades cognitivas do aluno; - Compreender a necessidade de usar os meios didácticos nas aulas de Ciências Naturais. 44 Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos Introdução Como professor, você deve ter sempre em mente que a melhor maneira de ajudar o seu aluno a aprender é dar-lhe uma actividade para exercer durante a aula. Para tal, deve sempre apostar num ensino que deve ser construtivista, para promover a mudança conceitual e facilitar a aprendizagem duradoura dos alunos. A preocupação actual do ensino de Ciências centra-se na qualidade acima da quantidade, o significado acima da memorização e a compreensão acima do conhecimento. As actividades cognitivas dos alunos são importantes para o desenvolvimento da personalidade do aluno e contribuem para a aprendizagem significativa. Objectivos Ao terminar esta lição você será capaz de: Definir o conceito de actividades cognitivas; Classificar as actividades cognitivas; Aplicar as actividades cognitivas na sala de aulas. Tempo Tempo de Leitura: 45 minutos Terminologia Observação, descrição, experimentação, fundamentação, classificação 45 Actividades cognitivas Função das Actividades Cognitivas As actividades cognitivas servem para a obtenção de conhecimentos, capacidades/habilidades e atitudes/convicções através dum comportamento activo do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem. Classificação das Actividades Cognitivas As actividades cognitivas dos alunos manifestam-se durante o processo de ensino-aprendizagem e servem para o desenvolvimento integral da personalidade do aluno. As actividades cognitivas decorrem no nível empírico e teórico. Por sua vez, as actividades empíricas são: actividade de observar e experimentar. As actividades teóricas são: actividade de classificar, actividade de explicar, actividade de fundamentar, actividade de definir. A actividade de descrever pode decorrer tanto no nível empírico como no nível teórico. Actividade Cognitiva de Observar Na actividade cognitiva de observar, o aluno verifica as propriedades e características dum objecto ou o decorrer dum fenómeno ou processo sem alterar o objecto, fenómeno ou processo (MÜLLER, 2005: 21). A actividade cognitiva de observar pode fazer parte de um método científico. Este método é o método de observação. De acordo com MÜLLER (2005: 21), o método de observação apresenta a seguinte estruturação: 1. Identificação do problema 2. Colocação da hipótese 3. Revisão da hipótese segundo o método de observação 3.1. Dedução das conclusões da hipótese 3.2. Observação (formulação da tarefa para a observação; planificação da realização da observação e preparação das bases técnico-materiais; realização da observação; registo dos resultados da observação) 3.3. Comparação dos resultados da observação com as conclusões da 46 hipótese 3.4. Revisão da veracidade da hipótese 4. Resposta ao problema Actividade cognitiva de Descrever De acordo com MÜLLER (2005: 20), na actividade cognitiva de descrever, os alunos devem indicar afirmações sobre as características de um objecto, fenómeno ou processo. Durante essa actividade, o aluno reflecte um conjunto de conhecimentos sistematizados acerca das propriedades do que se pretende descrever. Assim, a descrição apresenta a seguinte estrutura lógica: Fig. 7 –Estrutura da actividade cognitiva de descrever (adaptado de MÜLLER, 2005). Actividade cognitiva de Experimentar Na actividade cognitiva de experimentar, o aluno participa no desenrolar do processo ou fenómeno. Segundo MÜLLER (2005: 22), a actividade cognitiva de experimentar está directamente ligada com o método experimental. Este método apresenta a seguinte estruturação: 1. Identificação do problema 2. Colocação da hipótese 3. Revisão da hipótese segundo o método de experimentação 3.1. Dedução das conclusões da hipótese experimentalmente prováveis 3.2. Experimentação (formulação da tarefa para a observação; planificação da realização das actividades práticas e preparação das bases técnico-materiais; realização da experimentação ou da experiência; observação; registo dos resultados da experimentação ou da experiência) 47 3.3. Comparação dos resultados da observação com as conclusões da hipótese experimentalmente prováveis 3.4. Revisão da veracidade da hipótese 4. Resposta ao problema A actividade cognitiva de experimentar está directamente ligada à actividade de explicar. Actividade cognitiva de Explicar Na actividade cognitiva de Explicar, o aluno indica afirmações sobre o ‘’porquê’’ da existência das características de um objecto, fenómeno ou processo. Para isso, utilizam-se afirmações sobre leis ou afirmações condicionais. O resultado da actividade cognitiva de explicar é a explicação. Pode se incluir aqui a estrutura duma explicação: Explicans e Explicandum. De acordo com MÜLLER (2005: 20), para realizar a actividade cognitiva de explicar utiliza-se o seguinte procedimento: 1. Procurar conceitos ou afirmações que estão relacionados com o objecto, fenómeno ou processo observado e/ou descrito. 2. Indicar as condições/leis sobre as quais aparece o objecto, fenómeno ou processo. 3. Deduzir a partir dos passos 1 e 2 a explicação das características do objecto, fenómeno ou processo observado e/ou descrito. Actividade cognitiva de Fundamentar Na actividade cognitiva de Fundamentar, os alunos devem apresentar argumentos que justifiquem a veracidade ou falsidade duma tese. Nesta actividade cognitiva, os alunos devem combinar os seguintes elementos: 1. Tese: afirmação que os alunos devem fundamentar. 2. Argumentos: afirmação quefundamenta a tese. 3. Metodologia: modo de ordem de argumentos para conclusões a partir das quais se deduz a tese. O resultado da actividade de fundamentar é o fundamento que possui a seguinte estrutura lógica: 48 Fig. 8 –Estrutura da actividade cognitiva de Fundamentar (adaptado de MÜLLER, 2005) Ao fundamentar os alunos justificam a veracidade ou a falsidade de uma tese. Neste sentido, pode-se distinguir entre: Comprovar: Para fundamentar a verdade de afirmações, os alunos devem argumentar afirmações seguras. A tese resulta obrigatoriamente de argumentos. Refutar: Fundamentar a falsidade de uma tese. Actividade cognitiva de Classificar Na actividade cognitiva de Classificar, os alunos devem repartir ou dividir um conjunto (uma classe) de objectos, fenómenos ou processos em partes desta classe na base duma característica comum. De acordo com MÜLLER (2005: 22), o resultado da actividade cognitiva de classificar é um sistema de conceitos ou mapa de conceitos. No nível básico, por exemplo, a classificação dos seres vivos pode-se apresentar através de um mapa de seguinte configuração: Fig. 9 –Mapa de conceitos sobre os seres vivos Os sistemas de conceitos foram inicialmente desenvolvidos pelo investigador 49 Joseph Novak por volta 1970, nos Estados Unidos da América. São usados para representar e organizar um conjunto de conhecimentos. De acordo com MÜLLER (2005: 27), quando se estabelece um sistema de conceitos ou mapa de conceitos, é necessário que se tenha em conta os seguintes aspectos: 1. Um conceito precisa sempre de um outro; 2. Os conceitos devem ser comparáveis; 3. É necessário assegurar que haja uma comparação intra e interespecífica para identificar as características gerais e essenciais. Os conceitos adquirem significado quando se associam numa unidade semântica – a proposição, adquirindo significado quando unidos por palavras de enlace, como no exemplo que se segue, para a classificação dos seres vivos: Fig. 10 –Mapa de conceitos sobre os seres vivos As palavras de enlace servem para estabelecer a relação supra ou sub específica existente entre os diversos conceitos que constituem o sistema. No ensino básico o professor pode se deparar com um problema que, de certa forma, pode comprometer o sucesso da acção docente: o domínio dos símbolos universais de represetação de macho e fêmea. A aprendizagem é maioritariamente feita através de símbolos e signos que, quando combinados, ganham significado. Entretanto, quanto mais habilidoso for o aluno em descodificar os signos e símbolos, mais facilmente poderá aprender. Existem alunos que, embora conheçam o sistema alfabético e apresentem um domínio aceitável da leitura e escrita enfretam grandes dificuldades na interpretação da simbologia científica, para tal, o professor deve ser criativo e procurar mecanismos de tornar possível e fácil a compreensão dessa simbologia 50 para reduzir o excesso de texto na representação de um conhecimento. Resumo As actividades cognitivas servem para a obtenção de conhecimentos, capacidades/habilidades e atitudes/convicções, através dum comportamento activo do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem; Existem várias actividades cognitivas, dentre elas: observar, descrever, experimentar, fundamentar e classificar, que decorrem ou no nível empírico ou no nível teórico. Na actividade cognitiva de observar, o aluno verifica as propriedades e características dum objecto ou o decorrer dum fenómeno ou processo sem alterar o objecto, fenómeno ou processo; Na actividade cognitiva de descrever, os alunos têm de formular afirmações sobre as características de um objecto, fenómeno ou processo; Na actividade cognitiva de experimentar, o aluno, participa no seu desenrolar; Na actividade cognitiva de explicar, os alunos verificam o porquê da existência das propriedades e características dum objecto ou decorrer dum fenómeno ou processo. Na actividade cognitiva de fundamentar, os alunos devem apresentar argumentos que justifiquem a veracidade ou falsidade duma tese; Na actividade cognitiva de classificar, os alunos devem repartir ou dividir um conjunto (uma classe) de objectos, fenómenos ou processos em partes desta classe na base duma característica comum, formando um mapa de conceitos. Exercícios Tempo de Resolução: 35 minutos. 1. Defina o conceito de actividade cognitiva. 2. Classifique as actividades cognitivas. 3. Fundamente a seguinte afirmação: “As actividades cognitivas dos alunos são importantes para o desenvolvimento da personalidade do aluno e contribuem para a aprendizagem significativa”. 4. Descreva como se pode aplicar a actividade cognitiva de classificar para a sistematização dos conteúdos da matéria nova. 51 5. Usando a actividade cognitiva de classificar, desenvolva um mapa de conceitos, para o tema “Constituição do Solo”. Possíveis respostas 1. Actividade cognitiva é o meio pelo qual os alunos adquirem conhecimentos, capacidades e habilidades em Ciências Naturais, didacticamente estruturada. 2. As actividades cognitivas classificam-se em: empíricas e teóricas. Por sua vez, as teóricas podem ser: actividade de classificar, actividade de descrever, actividade de experimentar e actividade de fundamentar. As actividades de observar e experimentar decorrem no nível empírico. A actividade de descrever também pode decorrer no nível empírico. 3. É através das actividades cognitivas que os alunos adquirem os conceitos básicos e percebem processos e fenómenos complexos estudados nas Ciências Naturais. 4. A actividade cognitiva de classificar pode ser aplicada para sistematizar os conhecimentos dos alunos através de desenvolvimento de mapas de conceitos que estabelecem entre si significado de acordo com a relação existente. 5. Mapas de Conceitos: considerar outros mapas, desde que se respeite a super e subordinação dos conceitos. Exemplo de um mapa de conceitos para o tema ”Constituição do solo”. 52 Lição no 2: Meios de Ensino Introdução Com certeza você já entendeu que para a planificação de uma aula de Ciências Naturais existe um conjunto de regras que deve ser seguido. Para a efectivação de uma determinada aula sobre a abordagem de um objecto, fenómeno ou processo, nem sempre é possível levá-lo a sala de aulas, daí que você deve criar condições de representar esse objecto, fenómeno ou processo através de meios de ensino. Nesta lição vamos tratar dos meios de ensino em Ciências Naturais. Existe uma diversidade de meios para condução das aulas. A eficácia de cada meio para tratar um determinado conteúdo, depende da sua escolha consciente, associando todos os elementos importantes a ter em conta. Tempo de Leitura: 35 minutos Objectivos Ao terminar esta lição você será capaz de: Conhecer as funções dos meios didácticos; Identificar os factores para escolha dos meios didácticos; Classificar os meios didácticos tendo em conta o grau de abstração; Reconhecer a importância dos meios didácticos. Tempo Tempo de Leitura: 35 minutos Terminologia Meio didáctico, grau de abstração. 53 Conceito e Função Geral de Meios Didácticos Conceito Meios Didácticos Os meios didácticos, também designados meios de ensino ou recursos didácticos são todos os meios e recursos materiais e humanos utilizados pelo professor e pelos alunos para a organização e condução metódica do processo de ensino e aprendizagem. Você pode encontrar o aprofundamento deste conceito na unidade 5, lições 26 e 27 do Módulo de Didáctica Geral. Função geral dos Meios Didácticos Antes de escolher um determinado meio de ensino ou didáctico, é necessário reflectir sobre o seu papel. No geral,existem duas categorias de funções que os meios didácticos podem assumir, nomeadamente, a função geral e as funções específicas. Tendo em conta a sua finalidade geral, os meios didácticos são um instrumento para auxiliar o professor a alcançar os objectivos previamente traçados e contribuem para a redução do grau de abstração nos alunos. Funções específicas dos Meios Didácticos Os meios didácticos possuem seis funções específicas: motivação, efectivação, representação, informação, organização e consolidação (segundo MÜLLER, 2005: 33). Atente na figura abaixo: 54 Fig. 11 Funções específicas dos meios didácticos Como você pôde concluir na figura acima, as funções específicas dos meios didácticos permitem a sua escolha consciente, tendo em conta a natureza do conteúdo a transmitir. Portanto, se você pretende decidir por um ou outro meio didáctico, deve ter sempre em mente que as funções devem ser conjugadas com alguns factores que veremos a seguir. Factores para a escolha dos Meios Didácticos Para a escolha dos meios didácticos, existem vários factores a saber: tipo de aluno, nível de desenvolvimento do pensamento do aluno, o professor, conteúdo de ensino-aprendizagem, local de ensino, número de alunos, tempo disponível, objectivo de ensino-aprendizagem. De forma específica, você deve ter em conta que o tipo de aluno, quer seja tipo visual, tipo táctil, tipo auditivo ou abstrato idiomático, define o tipo de meio didáctico a usar para uma determinada aula. Entretanto, é necessário que haja um equilíbrio ou combinação da categoria de meios, assumindo que estes devem satisfazer a necessidade de cada aluno existente na turma. O nível de pensamento do aluno está associado à linguagem, na sua vertente de instrumento de suporte do pensamento. Desta forma, o desenvolvimento cognitivo do aluno está assente na sua capacidade de articular a linguagem para construção de novos conceitos. Meios Didácticos Representam a realidade objectiva que é objecto de estudo Estimulam o interesse e levam a participação dos alunos Facilitam o processo de compreensão e de aquisição de conhecimentos e capacidades/ habilidades, poupando tempo Possibilitam a aquisição duradoura dos conhecimentos e capacidades/ habilidades Transmitem um certo conteúdo científico através de modelo Ajudam a estruturar os processos de condução didáctica Significa que Significa que Significa que Significa que Significa que Significa que Representação Motivação Efectivação Consolidação Informação Organização Têm a função de: 55 O nível de pensamento do aluno pode ser aferido tendo em conta a sua idade, sendo: Pensamento situativo: desde o nascimento aos 5 anos; Pensamento empírico: entre os 4 a 12 anos de idade; Pensamento teórico: a partir da adolescência. Portanto, você deve ter em conta que na maior parte das vezes, o seu aluno do ensino básico se encontra no nível empírico logo, na escolha dos meios didácticos deve partir de algo que ele já teve contacto anterior no seu quotidiano. Os meios didácticos devem também responder ao comportamento e desempenho do professor, nesse caso, você também é um dos factores importantes para equilibrar os demais factores, de acordo com a sua criatividade, potencialidades e limitações na operação de alguns meios. Para as Ciências Naturais, o local da aula determina também a escolha de conteúdos, se por exemplo, a aula for dada dentro da sala de aulas, os meios devem corresponder a essa realidade mas, se esta for dada fora da sala, por exemplo, através de uma excursão, os meios se encontram de forma expressiva no local da excursão (pátio escolar, jardim zoológico, fábrica, praia, etc.) e você deverá prestar atenção na selecção dos meios de registo e manipulação dos objectos, fenómenos ou processos. Agora preste atenção na figura que ilustra de forma resumida os factores para a escolha dos meios didácticos: 56 Fonte: MÜLLER, 2005 Fig. 12 Factores para a escolha dos meios didácticos Actividade Agora que você já sabe quais são as funções dos meios didácticos e reflectiu também sobre os factores que influenciam na sua escolha, resolva as seguintes actividades: 1. Fundamente a necessidade de aplicação dos meios didácticos nas aulas de Ciências Naturais. 2. Imagine que você queira leccionar uma aula sobre os movimentos da terra. Como você pode decidir que meio usar para aula? 3. Assumindo as diversas funções dos meios didácticos, diga em que circunstâncias pode recorrer a eles para uma aula de controle e avaliação. 57 Possíveis Respostas Feedback 1. Com certeza que esta reflexão não pode deixar de trazer as questões de fundo relacionadas com as funções dos meios didácticos. Por isso, concordamos consigo quando levanta a questão da redução do grau de abstração como principal propósito do uso dos meios didácticos. Devido a complexidade dos fenómenos naturais estudados nas Ciências Naturais, para a efectivação da sua leccionação é necessário recorrer a mecenismos que simpliquem o processo de mediação do conhecimento. De uma ou de outra maneira, uma das incontornáveis funções dos meios didácticos é a de representação ou seja, sempre que não for possível levar o objecto, fenómeno ou processo à sala de aulas ou levar os alunos até ele (objecto, fenómeno ou processo) recorremos a uma representação do mesmo através de esquemas, fotografias, desenhos e símbolos. 2. Na segunda actividade de reflexão, você devia ter em conta, fundamentalmente, a função de representação dos meios didácticos pois, para leccionar os conteúdos relacionados com os movimentos da terra, você precisa demostrar ao aluno todos os aspectos, nomeadamente, o tipo de órbita que a terra executa, o referencial que se usa como marcador e as consequências dos movimentos. Ora, a maneira mais fácil de demostrar tudo isso é construindo um modelo tridimensional que representa o planeta terra fixo no seu eixo imaginário e a estrela central (sol) desempenhando a sua função de fonte de energia. 3. Concordamos plenamente consigo, os meios didácticos como as figuras, imagens e objectos tridimensionais sem a respectiva indicação dos elementos integrantes (legenda) podem ser usados para as provas escritas ou orais, de acordo com a sua função de consolidação. Classificação dos Meios Didácticos Segundo o critério de grau de abstração, os meios didácticos podem ser classificados como está indicado na figura abaixo. Na terminologia filosófica, a abstração é o processo de pensamento em que as ideias são distanciadas dos 58 objectos. A abstração usa a estratégia de simplificação, em que detalhes concretos são deixados ambíguos, vagos ou indefinidos. Fonte: MÜLLER, 2005 Fig. 13 Classificação dos meios didácticos segundo o critério de abstração. Como se pode observar na figura acima, os objectos reais têm um menor grau de abstração do que os objectos representativos, sendo que, a palavra escrita, por exemplo «planta» representa o maior grau de abstração, por isso não é acoselhável ser usado como único meio didáctico. Importância dos Meios Didácticos Infelizmente a maior parte do conteúdo que é transmitido ao aluno se encontra na forma de símbolos (palavra escrita ou falada) e representa o maior grau de abstração, contribuindo desta forma para o fracasso na compreensão de muitos fenómenos ou processos que se pretendem ensinar. É neste contexto que os meios didácticos, como por exemplo os modelos, assumem um protagonismo no processo de mediação dos conteúdos. Os meios didácticos são um instrumento importante para auxiliar o professor no tratamento de alguns conteúdos que, pela sua natureza seriam de difícil compreensão. Contribuem
Compartilhar