Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V – Gastro 1 Distúrbio motor primário mais comum do esô- fago. Acomete com maior frequência pacientes de 25-60 anos de idade. Caracteriza-se por: o Déficit de relaxamento fisiológico do EEI du- rante a deglutição; o Graus variados de hipertonia do EEI; o Substituição total da peristalse normal do corpo esofagiano por contrações anormais. Primária – Acalasia idiopática Secundária – Acalasia Chagásica (ocorre na fase crônica da doença de Chagas) Doenças infiltrativas, como a sarcoidose e a amiloidose, e o próprio câncer de esôfago, po- dem causar um quadro semelhante à acalasia (pseudoacalasia). Degeneração de neurônios inibitórios do plexo de Auerbach presente na parede esofagiana (destruição dos corpos celulares) – responsável pela coordenação motora do esôfago. Perda de interneurônios secretores de NO e, em casos avançados, perda de neurônios coli- nérgicos. Protozoário Trypanosoma cruzi pode invadir os plexo de Meissner e Aurbarch → disfunção e posterior morte neuronal. Idiopática: predominantemente pré-ganglionar com hipersensibilidade do EEI à gastrina, o que favorece ao pressão basal. Chagásica: ocorre hipersensibilidade à gastrina com menor pressão basal em relação à idiopá- tica. Tríade clássica: disfagia, regurgitação e perda de peso. Disfagia: Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V – Gastro 2 o Principal sintoma da acalasia; o Ocorre tanto para sólidos quanto para líqui- dos; o Surge insidiosamente; Regurgitação: o Hipertonia do EEI → retenção de alimento não digerido não esôfago; o "A regurgitação de material alimentar não di- gerido misturado com saliva ocorre em 1/3 dos pacientes e pode resultar em crises de tosse e broncoespasmo – geralmente quando o paciente se deita – ou mesmo em episódios repetidos de PMN e abscesso pulmonar, bem como na formação de bronquiectasias, todos em função das broncoaspirações". Perda de peso: o Lenta e insidiosa; o Consequência da dificuldade de trânsito do alimento até chegar ao fim da digestão; o Nos casos de perda ponderal importante e aguda → suspeita de câncer. A maioria dos pacientes em estágios avança- dos desenvolve halitose. Outros sintomas: soluços, sialorreia (presença do alimento no esôfago provoca salivação – hipertrofia das glândulas salivares), engasgo pós-prandial e tosse noturna. "Pacientes com acalasia comem devagar, be- bem grandes quantidades de água para em- purrar o alimento para o estômago e podem até contorcer o corpo (torcendo a parte supe- rior do tronco, elevando o queixo e estenden- do o pescoço), para ajudar o alimento a "des- cer". Conforme mais água é deglutida, o peso da coluna líquida do esôfago aumenta, assim como a sensação de plenitude retroesternal, até que o EEI seja forçado a abrir-se e um alívio repentino seja sentido à medida que o esôfago esvazia". Esfíncter fechado + peristalse reduzida + esô- fago cheio de alimento retido → surgimento de megaesôfago. Odinofagia não é um sintoma característico, mas pode ocorrer principalmente nos estágios iniciais da doença. Dor torácica (cólica esofagiana): relatada por alguns pacientes, e resulta de contrações vigo- rosas que tentam "vencer" o EEI ("acalasia vi- gorosa"). Observado nas fases iniciais da acala- sia, quando a contratilidade do corpo esofagi- ano ainda não foi completamente perdida. À medida que a doença progride, a cólica esofa- giana deixa de ser observada. Lesão pré-maligna (carcinoma escamoso – tipo histológico mais comum). Mecanismo etiopa- togênico – irritação da mucosa promovida pelo material estagnado no corpo do esôfago → induz a formação de áreas de metaplasia e posterior neoplasia. Quando suspeitar? Quando houver disfagia e perda de peso ao longo de meses ou anos, as- sociados à regurgitação e tosse crônica (espe- cialmente noturna). Radiografia de tórax: o Ausência da bolha gástrica; o Massa mediastinica tubular ao lado da aorta; o Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta (material estagnado no esôfago). Esofagografia baritada: o Achados: Dilatação do corpo esofágico (megaesôfa- go); Imagem de estreitamento em “bico de pás- saro” na topografia do EEI; Atraso no esvaziamento esofagiano; Presença de contrações esofagianas não pe- ristálticas. o Classificação da doença em estágios (classifi- cação de Rezende-Mascarenhas, criada para estadiar o megaesôfago chagásico). Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V – Gastro 3 Esofagomanometria: o Padrão-ouro; o Essencial quando os exames radiográficos são normais ou inconclusivos; o Achados: Não relaxamento do EEI em resposta à de- glutição; Graus variados de hipertonia do EEI; Aperistalse (ou ausência de contrações efi- cazes). **a presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalasia. Esofagomanometria de alta resolução: o Exame mais sensível e específico; o Capaz de analisar pequenas alterações seg- mentares e de produzir mais dados em me- nores intervalos de tempo. o A acalasia pode ser visualizada de 3 formas diferentes dependendo do grau de pressuri- zação esofagiana: clássica, com compressão esofágica (pressurização substancial) e espás- tica. o Classificação de Chicago 3.0. IRP (Integrated Relaxation Pressure): integral de pressão de relaxamento. "Nova" maneira de avaliar a pressão de relaxamento ao nível do EEI. Avalia a pressão média de relaxa- mento durante os 4s de maior relaxamento do EEI e durante um período de 10s após a deglutição. Consideramos relaxamento normal, compatível com acalasia um IRP > 15 mmHg; Pressurização no corpo esofágico: grau de pressurização decorrente da contração eso- fágica durante a deglutição; DCI (Distal Contractile Integral): integral de contração distal. Avalia a amplitude (mmHg) x duração (segundos) x comprimento (cm) da contração do esôfago distal, que excede os 20 mmHg de pressão normal ao nível do EEI. EDA: o Confirma a dilatação do corpo esofágico e exclui possível obstrução mecânica como causa da disfagia. o Esofagite irritativa (mas não de refluxo) pode ser detectada. o Em todos os pacientes com suspeita de aca- lasia, deve-se fazer biópsia do esôfago distal e da cárdia, para que se possa excluir com segurança alguma condição maligna. Como a acalasia chagásica acomete indivíduos na fase crônica da doença, o diagnóstico deve ser sorológico: ELISA (método de escolha), ou a clássica reação de Machado-Guerreiro. Paliativo. Objetivo: promover o relaxamento do EEI. Medicamentoso: o Nitrato SL 5mg, 2-3x/dia, 10-30min antes das refeições; BCC (nifedipina VO 10-20mg, 6/6h). Reduz a pressão do EEI. Indicados para paciente com sintomas leves a moderados. Efeitos adversos: hipotensão, cefaleia. o Inibidores da fosfodiesterase (sildenafil – vi- agra) Reduz a pressão do EEI; Não deve ser associado a nitrato → risco de hipotensão arterial importante. o Toxina botulínica 80-100 UI: Injeção intramural e circunferencial por via endoscópica; Inibe os neurônios parassimpáticos; Indicações: idosos/comorbidades, falhas de tratamento cirúrgico e dilatação. Lourdes Laryssa Melo da Costa Lôbo – Turma 09 UPE Garanhuns – Prática Médica V – Gastro 4 Vantagens: fácil execução, barata, resposta sintomática em 1 mês. Desvantagens: eficácia limitada a curto pra- zo, necessidade de repetição, durabilidade breve (3-6 meses), dificulta abordagem ci- rurgia posterior (aderência). Métodos intervencionistas: o Ditalatação endoscópica pneumática: Com os dilatadores de Mosher, de Browne- McHardy e, mais recentemente, o balãode Rigiýex; Tratamento definitivo – alívio dos sintomas; Empregado nos casos não avançados, grau I e II. Complicações: perfuração esofágica (2-6%); recidiva dos sintomas (50%); refluxo gastro- esofágico por dilatação exagerada (2%). Novas dilatações podem ser realizadas nas recidivas. Após a 3ª dilatação há uma queda muito grande na eficácia do procedimento. o Cirurgia: Casos refratários ou recidivantes – acalasia tipos I, II e II, adolescentes e adultos jovens; Miotomia de Heller, esofagomiotomia ou esofagocardiomiotomia: secção das cama- das longitudinal e circular da musculatura li- sa do esôfago distal; Reduz o tônus do EEI e pode ser feita por via laparoscópica (vídeo ou robótica). Sucesso terapêutico em 70-90% dos casos, com chance bem menor de recidiva quando comparada à dilatação pneumática endos- cópica. Realização de fundoplicatura parcial anteri- or (Thal ou Dor), para evitar DRGE, muito comum após a esofagomiotomia quando existe megaesôfago ou hipoperistalse eso- fágica associada. Megaesôfago grau IV (dilatação na esofa- gografia > 10cm): tratado mais frequente- mente através da ressecção trans-hiatal do esôfago, com transposição gástrica. Pacientes submetidos à esofagomiotomia sem melhora significativa dos sintomas também são candidatos à esofagectomia. Além da esofagectomia aliviar os sintomas da acalasia, a ressecção esofágica também elimina o risco de carcinoma. o POEM (PerOral Endoscopic Myotomy): Realizado por EDA; Pequena incisão na mucosa esofágica (na parte superior do órgão), seguida da intro- dução de um instrumento que disseca a submucosa até chegar ao EEI, onde então é feita a secção das fibras musculares circun- ferenciais "por dentro" da parede do órgão; Menos invasivo, com taxa de sucesso entre 80-90% 4 passos: 1- Incisão na mucosa para acesso ao espaço submucoso; 2- Criação de um túnel submucoso; 3- Miotomia; 4- Fecha- mento da mucosa. A incisão é feita antes da JEG e se estende até a região da cárdia. A extensão da tunelização depende do tipo de acalasia definido pela classificação de Chicago. Para os tipos I e II, um túnel de cerca de 6-8 cm deve ser criado. Já para a acalasia grau III, as miotomias devem ser mais longas e a tunelização varia de acordo com cada caso. A miotomia é realizada e deve se estender até 2 cm após a cárdia. Após a miotomia, fechamos a incisão muco- sa com o auxílio de endoclips. Outro aspecto importante é que, no POEM, não realizamos nenhum procedimento an- tirrefluxo, por isso existe um risco aumenta- do de DRGE grave após o procedimento. ZARTEKA, S.; EISIG, J. N. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação. 2ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. JAMESON, J. L. et al. Medicina interna de Harrison. 20ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
Compartilhar