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UNIDADE 3 AVA MÉTODOS E TÉCNICAS DA PESQUISA PSICOLOGICA

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UNIDADE 3 - MÉTODOS E TÉCNICAS DA 
PESQUISA PSICOLÓGICA 
ABORDAGENS QUANTITATIVAS E 
QUALITATIVAS DE PESQUISA: PRÁTICA E 
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. 
 
1 Abordagens qualitativas e quantitativas de pesquisa 
 
Há basicamente três grandes abordagens que compõem o delineamento de uma 
pesquisa: qualitativa, quantitativa e mista (CRESWELL, 2007). Essas abordagens não 
podem ser consideradas como opostas entre si, mas sua escolha é crucial para que o 
pesquisador construa os métodos do seu estudo. 
 
1.1 Métodos qualitativos, quantitativos e mistos de pesquisa 
 
Como visto anteriormente, os métodos quantitativos em psicologia foram 
fundamentais para a constituição desse saber como ciência. Atualmente, diversos 
métodos quantitativos têm sido utilizados na realização de pesquisas na área das 
ciências do comportamento. Creswell (2007, p. 26) define a pesquisa quantitativa como: 
um meio para testar teorias objetivas, examinando a relação entre as variáveis. Tais 
variáveis, por sua vez, podem ser medidas tipicamente por instrumentos, para que os 
dados numéricos possam ser analisados por procedimentos estatísticos. O relatório final 
escrito tem uma estrutura fixa, a qual consiste em introdução, literatura e teoria, 
métodos, resultados e discussão. Aqueles que se engajam nessa forma de investigação 
têm suposições sobre a testagem dedutiva das teorias, sobre a criação de proteções 
contra vieses, sobre o controle de explicações alternativas e sobre sua capacidade para 
generalizar e para replicar os achados. 
De igual importância, os métodos qualitativos gradualmente ganharam força e 
permitiram que a psicologia se aprofundasse em diversos fenômenos não alcançados em 
outros delineamentos. Para Creswell (2007, p. 26), em resumo, a pesquisa qualitativa: 
É um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos 
atribuem a um problema social ou humano. O processo de pesquisa envolve as questões 
e os procedimentos que emergem, os dados tipicamente coletados no ambiente do 
participante, a análise dos dados indutivamente construída a partir das particularidades 
para os temas gerais e as interpretações feitas pelo pesquisador acerca do significado 
dos dados. O relatório final escrito tem uma estrutura flexível. Aqueles que se envolvem 
nessa forma de investigação apoiam uma maneira de encarar a pesquisa que honra um 
estilo indutivo, um foco no significado individual e na importância da interpretação da 
complexidade de uma situação. 
Assim como os métodos quantitativos descritos, os métodos aqui apresentados não 
são de domínio exclusivo da psicologia, sendo frequentemente adotados em outras 
áreas do conhecimento. 
 
Já os métodos mistos, por sua vez, são descritos por Creswell (2007, p. 7) como: 
abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. 
Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a 
mistura das duas abordagens em um estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta 
e análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens em 
conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a da pesquisa 
qualitativa ou quantitativa isolada. 
Essa combinação de métodos pode se apresentar de três formas, descritas no quadro 
abaixo: 
 
VER QUADRO NO AVA 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas e quatro linhas, 
apresentando as estratégias de utilização de métodos mistos em pesquisa e suas 
respectivas definições. 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 2 - Metodologia de pesquisaFonte: one photo, Shutterstock, 2020 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma mesa de madeira, sobre ela há um computador, 
um celular, um tablet, um par de óculos, uma planta, cadernos e folhas de papel. Além 
disso, é possível ver as mãos de três pessoas, manuseando esses objetos. No centro da 
imagem, está escrita a palavra “Metodologia”. 
 
2 Abordagens metodológicas em Psicologia 
 
Como visto, as abordagens qualitativa, quantitativa e mista podem basear o pesquisador 
em variados procedimentos metodológicos. A psicologia, sendo uma ciência com 
bases que variam das ciências naturais à filosofia, adota todas essas abordagens como 
orientação de pesquisa. A seguir, apresentaremos tipos de pesquisa dentre os mais 
adotados na área da psicologia. 
 
 
Apesar de algumas das abordagens apresentadas serem mais adotados em delineamentos 
quantitativos, e outras em delineamentos qualitativos, optou-se aqui por não enquadrar 
os tipos de pesquisa. É possível que o estudante identifique alguma pesquisa que não 
corresponde a tal enquadramento, o que é comum no cenário científico. Como Creswell 
(2007) afirma, mesmo conhecendo as suposições filosóficas que sustentam cada 
método, prefere-se dizer que uma pesquisa “tende a ser” qualitativa ou quantitativa, para 
com isso não ignorar possíveis influências distintas que o pesquisador possa ter tido ao 
realizar seu estudo. 
2.1 Revisão de literatura 
 
A revisão de literatura é um método de pesquisa bibliográfica que utiliza como fonte 
materiais científicos como: teses, dissertações, artigos, resumos, anais, livros, dentre 
outros. Em cada revisão, o pesquisador optará por focar em aspectos de interesse desses 
materiais. Enquanto há estudos focados nos objetivos, há outros que têm como 
interesse central os métodos, enquanto outros analisam o texto integral. Tudo depende 
dos interesses do pesquisador e do projeto de pesquisa. Também é importante ressaltar 
que, enquanto alguns projetos se encerram na revisão de literatura, outros adotam a 
revisão como uma das etapas – geralmente inicial – da pesquisa. 
 
Destacam-se três tipos de revisão de literatura: 
a) Revisão de literatura narrativa 
Esse tipo de revisão não utiliza critérios rígidos de busca e seleção dos trabalhos que 
farão parte da análise. São muito adotadas em estudos teóricos e conceituais, nos quais 
o pesquisador avalia o material que tem à disposição, selecionando textos conforme 
observa necessidade, ou conforme recebe indicações. 
 
b) Revisão de literatura sistemática 
Esses estudos têm como finalidade testar hipóteses formuladas pelo pesquisador. 
Seleciona-se rigidamente materiais científicos com critérios precisos e passíveis de 
retestagem (qualquer pesquisador pode realizar o mesmo passo a passo de busca e 
chegará nos mesmos materiais). Busca-se analisar a qualidade metodológica e os 
resultados das pesquisas selecionadas. As revisões sistemáticas buscam responder a um 
objetivo claro de pesquisa. 
Por exemplo, o pesquisador pode buscar avaliar os resultados de uma técnica específica 
para intervenções em casos de autismo. Através de uma revisão sistemática, poderá 
selecionar trabalhos publicados em revistas pré-selecionadas em um período também 
pré-estabelecido. As pesquisas empíricas que forem localizadas são, então, avaliadas e o 
pesquisador terá – através da revisão sistemática – condições de identificar se de fato a 
estratégia tem apresentado resultados relevantes. 
 
c) Revisão de literatura integrativa 
Esses estudos têm como finalidade integrar pesquisas de diferentes abordagens 
metodológicas em uma revisão. Empregam também critérios de buscas bem definidos, 
como na revisão sistemática, porém não têm condições de testar hipóteses, já que 
podem agregar estudos teóricos e outras revisões em seu escopo de análise. Entretanto, 
são relevantes para aprofundamento do pesquisador sobre temas de interesse, 
especialmente em abordagens exploratórias. 
Por exemplo, o pesquisador pode adotar uma revisão de literatura integrativa para 
categorizar as práticas de profissionais de saúde no contexto da atenção básica. Através 
da revisão, o pesquisador terá acesso a diversos estudos sobre tais práticas, permitindo 
uma visão ampla sobre o tema de interesse. 
 
Assista aí 
 
2.2 Pesquisa documental 
 
Diferente das revisões de literatura, a pesquisa documental é aquela que apresenta como 
dados materiaisque ainda não passaram por tratamento científico. O pesquisador 
pode recorrer, por exemplo, a: reportagens, prontuários, relatórios psicológicos, 
desenhos, cadernos pessoais, dentre outros materiais documentais. 
 
2.3 Survey (pesquisa de levantamento) 
 
Um bom exemplo de pesquisa de levantamento são aquelas realizadas para prever 
resultados de eleições políticas. Escolhe-se uma parcela da população e os dados 
coletados servem de base para inferências gerais. 
De acordo com Creswell (2007, p. 178), “um projeto de levantamento apresenta uma 
descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou opiniões de uma 
população, estudando-se uma amostra dessa população”. Esses resultados permitem que 
o pesquisador faça generalizações sobre a população. 
 
As pesquisas de levantamento costumam valer-se de questionários fechados e escalas, 
o que permitem quantificar melhor as respostas. Utiliza-se com frequência escalas 
do tipo Likert, em especial, quando se busca traduzir para quantitativos dados 
originalmente qualitativos. Essas escalas se apresentam no formato de números 
sequenciais indicando um espectro de respostas, variando entre dois extremos definidos 
pelo pesquisador. 
 
Por exemplo: 
Pergunta 1: Acredito que a educação a distância tem grande potencial para a formação 
acadêmica: 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 3 - Escala tipo LikertFonte: Elaborado pelo autor, 2020 
#PraCegoVer: A imagem mostra um exemplo de escala tipo Likert. Há uma linha 
horizontal, em uma de suas extremidades está a afirmação "Discordo Totalmente", na 
outra "Concordo totalmente". Entre a primeira afirmação e a segunda, há pontos 
numerado de 1 a 5. 
 
Além dos instrumentos, ao adotar esse método, deve-se atentar para o público 
respondente. Como desvantagem, muitas vezes, não se sabe se quem respondeu a 
pesquisa realmente fazia parte do público de interesse ou se foi sincero nas respostas 
fornecidas. 
 
Muitos estudos são feitos através do método survey por permitir facilmente 
a sistematização dos dados, além de geralmente serem menos custosos por 
demandarem menos recursos. Por muito tempo, perduraram pesquisas desse tipo por via 
de cartas, ligações telefônicas e entrevistas presenciais. Em tempos de internet, os 
formulários eletrônicos ajudam na construção de questionários e na tabulação dos dados 
obtidos. 
 
2.4 Método Experimental 
 
De acordo com Creswell (p. 178) “a intenção básica de um projeto experimental é testar 
o impacto de um tratamento (ou de uma intervenção) sobre um resultado, controlando 
todos os outros fatores que possam influenciar esse resultado”. Esse tipo de pesquisa se 
vale da aleatoriedade e do controle rígido de variáveis. Busca-se, a partir de uma 
hipótese pré-determinada, conferir sua plausibilidade. 
 
Em linhas gerais, separa-se um grupo que não receberá a intervenção testada (grupo 
controle) de um ou mais grupos que receberão a intervenção. Após aplicada a 
intervenção, testa-se ambos os grupos e são medidos os índices de interesse em busca 
das diferenças. 
 
Na medicina, recorre-se à estratégia do duplo-cego, quando nem pesquisador e nem 
participantes da pesquisa sabem qual grupo recebeu a intervenção e qual grupo é o 
controle. Isso evita a existência de viés que pode influenciar nos resultados. Em 
psicologia, pesquisas de tipo duplo-cego são menos comuns. 
 
Em geral, os experimentos são realizados em ambiente laboratorial com o máximo de 
controles de variáveis. Se o pesquisador quer saber a influência de um estímulo sonoro 
(variável independente) no nível de estresse de um indivíduo (variável dependente), no 
laboratório há maior liberdade de controlar esse estímulo tanto quanto deseje, com 
menores chances de interferência. Entretanto, há estudos experimentais cuja natureza 
demanda sua aplicação em campo, circunstâncias mais próximas das reais. Com forte 
controle de variáveis, a abordagem experimental se pauta em análises estatísticas 
descritivas e inferenciais para expor as conclusões obtidas. 
 
2.5 Método quase experimental 
 
A pesquisa quase experimental busca manter o mesmo controle de variáveis que a 
experimental. A principal diferença é a não utilização de critérios aleatórios para 
selecionar os participantes que sofrerão a intervenção. 
 
Pesquisas desse tipo eram as conduzidas por Skinner. O pesquisador selecionava um 
único animal por vez para testar as variáveis de interesse, não confiando em critérios 
aleatórios nessa escolha. 
 
2.6 Método fenomenológico 
 
A fenomenologia é uma corrente filosófica que tem como percussores os teóricos 
Husserl e Heidegger (BORBA, 2010). Dentre outros aspectos, essa corrente ganhou 
destaque por propor um método que foi incorporado por diversas áreas nas ciências 
humanas e sociais, incluindo a psicologia. 
 
Sobre esse método, Creswell (2007, p. 38) afirma que a perspectiva fenomenológica é 
uma estratégia de investigação através da qual “o pesquisador identifica a ‘essência’ das 
experiências humanas relativas a um fenômeno, como descrito pelos participantes de 
um estudo. Nesse processo, o pesquisador ‘separa’ suas próprias experiências para 
entender as dos participantes do estudo”. 
 
Esse procedimento refere-se à chamada redução fenomenológica, na qual o 
pesquisador põe em suspenso todas as suas preconcepções sobre um fenômeno de modo 
a compreendê-lo sem sua interferência. Diferentemente dos métodos positivistas, 
nessa perspectiva, o pesquisador considera a experiência do participante como material 
interpretativo, mesmo que ela não corresponda a uma realidade material. O critério de 
verdade, portanto, se baseia naquilo que o participante manifesta como experiência. 
 
O método fenomenológico é adotado em pesquisas clínicas, por exemplo, de modo a 
compreender qual a perspectiva de um paciente em relação a uma experiência 
psicológica, como um sintoma. Nesse caso, a experiência relatada pelo paciente servirá 
de base para análise. 
 
2.7 Método clínico 
 
Esse método parte da interpretação de dados provenientes de intervenções clínicas. 
Os estudos clínicos podem advir do aprofundamento teórico de práticas profissionais na 
área clínica, tendo como base intervenções já realizadas, ou podem ocorrer a partir 
da análise de casos presentes. 
 
Os estudos clássicos na área da psicanálise partiram desse método. O pesquisador pode 
ou não ser o ator da prática clínica. Com isso, esse método recebe críticas sobre a 
possível influência da aproximação entre participante e cientista nos resultados da 
análise. Por outro lado, alega-se que é essa interferência que enriquece e potencializa 
esse tipo de estudo. 
 
3 Narrativa como recurso de pesquisa 
 
O discurso é um dos principais recursos que possibilitam a compreensão de 
representações e fenômenos psicológicos. Voltar-se ao estudo dos discursos permitiu 
grande avanço às pesquisas qualitativas. Na segunda metade do Século XX, os estudos 
sobre as narrativas, no campo da psicologia, ganharam destaque. As narrativas passaram 
a ser estudados como elementos do discurso conectados diretamente com o 
desenvolvimento humano, pois representam formas de construção mental da 
realidade e, com isso, orientam concepções e práticas humanas. 
 
Nesse contexto, Bruner (1991, 1987) propõe uma nova forma de abordar a psicologia 
em interface com a cultura, tendo destaque para a linguagem com um importante 
papel para o desenvolvimento humano. A linguagem é considerada uma ferramenta 
fundamental “no processamento do mundo, no planejamento e na ação 
humana” (CORREIA, 2003, p. 509). 
 
A narrativa, então, passa a ser objeto e método de estudo da linguagem, visto que “a 
narrativa possui características que a colocam em um lugar relevante na investigação da 
mente, tais como sequencialidade de eventos e envolvimento de estados 
mentais” (CORREIA, 2003, p. 509). 
 
A abordagem narrativista em psicologia considera que as interpretações de si são 
organizadas através de um viés narrativo. Surge, então, a concepção de selfnarrativo: 
Refere-se às narrativas e explicações que as pessoas desenvolvem sobre si mesmas, 
através da organização temporal de eventos pessoais, quando então estabelecem 
conexões entre eventos vividos, na tentativa de construção de uma história que as 
tornem inteligíveis a elas mesmas e aos outros (GUANES; JAPUR, 2003, p. 140). 
Bruner (1987) ressalta que a narrativa é a forma de representar a experiência vivida. De 
modo dialógico, as narrativas agem sobre a experiência na medida em que o indivíduo 
busca nelas as redes de significações que o orientam na prática social. Há, portanto, 
uma íntima relação entre a narrativa e a atividade humana. 
 
De acordo com Bruner (1991), as experiências, organizadas em formato de 
narrativas, funcionam sob uma lógica que transcende o empirismo e representam 
melhor o diálogo e a convenção entre o indivíduo e a cultura. Ao construir uma 
narrativa sobre suas experiências, o sujeito age em duas instâncias, interna e externa, 
estabelecendo conexões sobre suas ações no mundo e as representações mentais. 
 
Ao realizar uma narrativa, seja ela sobre si próprio, sobre o outro ou ficcional, o 
indivíduo apresenta sobre quais aspectos ancora seu posicionamento diante das 
situações narradas. Este processo aprofunda o indivíduo na construção de 
repertórios sociais (BAMBERG, 2012), guiando suas práticas e concepções. O ato de 
narrar é, ao mesmo tempo, uma atividade social e um recurso cognitivo. Desse modo, 
a pesquisa de abordagem narrativa representa um recurso importante para a psicologia. 
 
3.1 Concepções de narrativa 
 
À primeira vista, o pesquisador pode associar a narrativa a um registro de um ou mais 
fatos passados. Ao lermos autobiografias, estamos diante de narrativas que – de fato – 
funcionam como registros estáticos de experiências anteriores. Bamberg (2012) nomeia 
esse tipo de narrativa como grandes histórias. Segue um trecho de uma grande história, 
retirado do livro “Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs” 
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 78): 
 
Eu estava só, tinha acabado de chegar na cidade, não tinha muitos amigos e era uma 
realidade completamente diferente. Eu sempre soube que eu queria ficar com homens, 
só que eu parei ali com aquele terceiro carinha. Ele terminou comigo e meus pais não 
me aceitavam. Aí, no final de semana, eu ia para cidade dos meus pais e ficava naquele 
clima superchato. 
Note que o conteúdo é a maior relevância desse discurso. A narrativa, por esse viés, é 
compreendida como uma fotografia de eventos passados e sua análise segue esse perfil. 
Bamberg (2012) propõe um outro olhar para as narrativas. Para o autor, é preciso 
compreender a narrativa como uma prática, e não apenas como um registro do passado. 
A narrativa, portanto, é um ato e deve ser considerado como tal. Ao narrar, a pessoa 
adota mecanismos psicológicos que envolvem organizações cognitivas, escolhas, 
contradições, planejamentos, dentre outros recursos que são importantes para o 
pesquisador. O autor sugere que não olhemos apenas para a narrativa (conteúdo), mas 
para a narração (processo). 
 
Nessa compreensão, o autor sugere que encaremos como narrativas importantes não 
apenas os registros de grandes histórias. As narrativas cotidianas, que envolvem fatos, 
às vezes considerados menos importantes, são fundamentais para a pesquisa narrativa. 
Essas narrativas cotidianas são chamadas pelo autor de pequenas histórias. 
 
Essas narrativas são despertadas de modo mais espontâneo. Imagine você sendo 
participante de uma pesquisa narrativa cujo objetivo é compreender as relações entre 
trabalho e sofrimento psíquico. Em uma perspectiva com foco em grandes histórias, o 
pesquisador, no momento da entrevista, poderia disparar uma narrativa com a seguinte 
pergunta: 
 
Conte todas as experiências profissionais que você já teve e se recorda. 
 
Desse modo, você começaria a narrar eventos passados. A transcrição dessa narração 
seria o conteúdo de interesse ao pesquisador, pois ele estaria de posse do texto 
elaborado por você, como participante, e poderia tirar suas conclusões sobre seu objeto 
de estudo. 
 
Em uma perspectiva com foco em pequenas histórias, essas mesmas conclusões 
poderiam ser tirada, por exemplo, a partir de conversas corriqueiras gravadas em seu 
intervalo de trabalho; ou entre você e o carona do carro enquanto vai trabalhar; ou até 
em cenários cujo trabalho não é o foco, como durante um almoço com amigos. Essas 
conversas corriqueiras têm potencial de investigação para a pesquisa narrativa e, de 
acordo com Bamberg (2012), são fundamentais principalmente em estudos sobre 
identidade. 
 
3.2 Relação entre método e objetivos na pesquisa narrativa 
 
Nas unidades anteriores, vimos a relação entre método de pesquisa e os objetivos 
propostos pelo pesquisador. Assim, ao elaborar uma pesquisa narrativa é 
importante considerar se esse método vai conseguir responder aos objetivos. Não há 
receita para esse procedimento, então cabe ao pesquisador refletir sobre a pertinência 
da narrativa como método. Alguns exemplos de objetivos possíveis de serem 
alcançados a partir de uma pesquisa narrativa são: 
 
Descrever as concepções de infância para professores da educação infantil na escola X. 
 Analisar a construção da identidade em adolescentes de uma comunidade quilombola. 
 Identificar experiências universitárias que geram impactos positivos na saúde mental de 
estudantes. 
 Compreender as expectativas de profissionais de saúde quanto à alteração do modelo de 
gestão. 
 
Perceba que esses exemplos trazem objetivos alcançáveis através da pesquisa narrativa. 
 
Dificilmente, com esse método, seria possível “estimar estatisticamente”, ou “medir” 
fenômenos. Caso esses sejam os objetivos, muito possivelmente o pesquisador deverá 
adotar recursos complementares. 
 
Perceba que esses exemplos trazem objetivos alcançáveis através da pesquisa narrativa. 
Dificilmente, com esse método, seria possível “estimar estatisticamente”, ou “medir” 
fenômenos. Caso esses sejam os objetivos, muito possivelmente o pesquisador deverá 
adotar recursos complementares. 
 
3.3 Entrevista narrativa 
 
Vimos que Bamberg (2012) sugere investigar as narrativas espontâneas do cotidiano. 
Entretanto, em situações de pesquisa, muitas vezes, a disponibilidade do participante, o 
formato do projeto e os recursos do pesquisador requerem que a narrativa seja elaborada 
em situações estimuladas. 
 
Há diversas maneiras de despertar uma narrativa. 
 
 propondo diálogos grupais; 
 apresentando atividades e dinâmicas aos participantes; 
 solicitando que os participantes narrem a partir da apresentação de imagens ou 
fotografias; 
 ou simplesmente solicitando uma narrativa. 
 
 
O principal recurso da pesquisa narrativa é a entrevista narrativa. Esse modelo de 
entrevista é proposto com a intenção de despertar no participante a narração de fatos 
reais ou fictícios, sendo contados pela primeira vez ou em forma de recontagem. A 
entrevista narrativa é uma “ferramenta não estruturada, visando a profundidade, de 
aspectos específicos, a partir das quais emergem histórias de vida, tanto do entrevistado 
como as entrecruzadas no contexto situacional” (MUYLAERT et al., 2014). 
 
Para engatilhar a entrevista narrativa, é importante que o entrevistador exponha ao 
participante o tema a ser trabalhado de modo que o motive a iniciar a narração. Esse 
estímulo parte da chamada questão disparadora. Ela deve ser formulada de modo a 
permitir que o participante narre conteúdos sobre o tema de interesse. Tomando como 
base os objetivos mencionados anteriormente, como exemplo, seguem exemplos de 
possíveis questões disparadoras: 
 
 Relate, em sua trajetória, aspectos que lhe levaram a trabalhar com crianças. 
 Descreva experiências nesta comunidade em que você se sentiu 
pertencentes de um grupo. 
 Descreva sua trajetória universitária, desde o dia da matrícula até agora, 
pontuando momentos em que você sentiu bem-estar e momentosem que 
você sentiu mal-estar. 
 Relembre experiências de trabalho no hospital que possivelmente 
 impactaram na sua produtividade. 
Obviamente outras questões poderiam ser formuladas para atingirem os mesmos 
objetivos. A definição de uma questão disparadora é de suma importância, pois é ela 
que torna possível que o participante produza um material de análise com qualidade. 
 
3.4 Como escrever a narrativa 
 
A pesquisa narrativa requer que haja a transcrição do texto narrado. Entretanto, 
apenas o texto escrito em formato padrão não é suficiente para a maioria das pesquisas, 
pois há elementos da narrativa que extrapolam o caráter textual. Alguns autores 
apresentam formas de escrever a narrativa de modo a evidenciar conteúdos como 
gestos, entonações, mudanças bruscas de tema, dentre outros. Marcuschi (2008) propõe 
a seguinte marcação: 
 
VER QUADRO NO AVA 
 
#PraCegoVer: A imagem mostra tabela de duas colunas e seis linhas, apresentando 
signos que podem ser utilizados na transcrição da narrativa e qual o significado que 
cada uma possui. 
 
3.5 A análise da narrativa 
 
Lieblich et al. (1998) apresentam orientações acerca do processo de análise narrativa. 
Os autores pontuam que a pesquisa narrativa pode ocorrer a partir de duas dimensões. A 
primeira versa sobre o caráter holístico e/ou categorial. O caráter holístico exige do 
pesquisador que priorize o olhar da narrativa como um todo, para que, a partir da 
visão geral, seja possível identificar os aspectos relevantes para a pesquisa. O caráter 
categorial supõe que o pesquisador tome como material de análise fragmentos 
significativos da narrativa. Estes fragmentos são escolhidos pelo pesquisador e devem 
ser representativos e contemplativos diante do objetivo da pesquisa. 
 
Uma segunda dimensão apontada pelos autores é a possibilidade de a análise ser 
debruçada sobre a forma ou o conteúdo da narrativa. A forma refere-se à estrutura da 
narrativa e seus elementos textuais e não textuais. O conteúdo refere-se à significação 
daquilo que foi narrado. 
 
Portanto, é possível que as pesquisas narrativas adotem as seguintes configurações: 
1) forma-holística, 
2) forma-categorial, 
3) conteúdo-holística, 
4) e conteúdo-categorial. 
 
Esse recurso serve para orientar o pesquisador no processo de análise, porém outros 
métodos e outras formas de compreender a narrativa podem ser aplicados, como a 
análise de conteúdo, análise de discurso, dentre outros. 
 
4 Pesquisa etnográfica em psicologia 
 
Creswell (2007, p. 38) define etnografia como uma estratégia de investigação em que o 
pesquisador estuda um grupo cultural intacto, em um cenário natural, durante um 
período de tempo prolongado, coletando principalmente dados observacionais e de 
entrevistas. O processo de pesquisa é flexível e se desenvolve, tipicamente, de 
maneira contextual em resposta às realidades vividas encontradas no ambiente de 
campo. 
 
Exemplo: um pesquisador utilizou o método etnográfico para compreender as práticas 
de cuidado da saúde em uma comunidade indígena. Inicialmente, planejava passar um 
mês na comunidade e dialogar com os principais curandeiros do local. Entretanto, ao 
fim da primeira semana, o pesquisador foi convocado por algumas moradoras para 
participar de um ritual de saúde o qual ele desconhecia, que era praticado apenas por 
mulheres e não faziam parte do seu roteiro inicial. Seguindo o método etnográfico, o 
profissional pode estender a abrangência do seu estudo e participar dessa nova situação, 
pois ela trará dados importantes para responder a sua questão inicial de pesquisa. 
 
Ressalta-se que a etnografia é um método de pesquisa que nasce com estudos 
antropológicos. Os antropólogos Boas e Malinowski popularizaram o método 
etnográfico, que – no final do século XIX e início do século XX – ia de encontro com 
modelos positivistas de ciência. Nesse método, o pesquisador torna-se parte da 
comunidade estudada, de modo a compreender ao máximo os costumes e símbolos 
compartilhados nesse contexto (CAPRARA; LANDIM, 2008). A observação 
participante e as pesquisas de campo são a marca do método 
etnográfico. Entrevistas também podem ser utilizadas como instrumentos durante a 
etnografia. Inicialmente, o principal recurso de registro de pesquisa foi o diário de 
campo. Nele, o pesquisador anota os fenômenos de interesse e suas impressões pessoais 
decorrentes da experiência de imersão na comunidade estudada. 
 
 
A observação participante é um recurso bastante utilizado em pesquisas na área da 
psicologia. Ela consiste em privilegiar como dado aquilo que o pesquisador observa no 
cenário de pesquisa, porém não limitando-o a um expectador passivo. A interação entre 
pesquisador e contexto de pesquisa é tratada como parte dos dados e é considerada nas 
análises realizadas. 
A abordagem etnográfica pode contribuir com o estudo de fenômenos grupais ou 
individuais em contexto grupal. Alguns exemplos de contextos que caberiam estudos 
etnográficos na área da psicologia são: 
 
-pesquisas em organizações; 
-pesquisas em escola; 
-pesquisas em comunidades tradicionais; 
-pesquisas em grupos familiares; 
-pesquisas em grupos religiosos; 
-pesquisas em espaços com aglomeração de pessoas, como praias e praças; 
-pesquisas em ambientes virtuais (netnografia); 
Assista aí 
 
A etnografia é bastante utilizada nas pesquisas em psicologia social, por permitir ao 
pesquisador uma visualização mais acurada das relações entre indivíduo e grupo social. 
Processos psicológicos podem ser observados em ato, o mais próximo o possível do 
contexto real, já que as situações acessadas pela etnografia em geral não são pré-
projetadas para ocorrer. Para exemplificar, tomemos como base o estudo da violência 
na escola. Observe três exemplos de aplicação dentre os métodos descritos até agora e 
possíveis resultados acessados: 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
 
VER QUADRO NO AVA 
 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de três colunas e quatro linhas, 
apresentando a aplicação de métodos para o estudo da violência na escola, o recurso que 
deverá ser utilizado e os possíveis dados que serão acessíveis através destes métodos. 
 
A etnografia tem, por essência, uma base de delineamento quantitativa. Perceba que a 
natureza dos dados produzidos através de cada método é distinta. Dessa forma, as 
formas de análise e as conclusões possíveis sobre o mesmo fenômeno também são 
distintas, embora dificilmente sejam contrastantes. 
 
Dessa forma, em uma pesquisa com triangulação metodológica na escola hipotética do 
exemplo anterior, possivelmente, os resultados da etnografia coadunariam com os 
resultados do levantamento e do experimento. Uma escola com altos índices numéricos 
de violência tenderia a permitir que um etnógrafo observasse mais episódios de 
violência. A principal diferença jaz na forma de interpretação dos resultados e nas 
conclusões possíveis diante destes. 
 
 
Triangulação é um procedimento adotado em pesquisa que visa a analisar diferentes 
facetas de um mesmo fenômeno. A triangulação metodológica refere-se à utilização de 
mais de um método de pesquisa de modo a coletar dados distintos que auxiliem o 
pesquisador na resposta ao seu problema de pesquisa. 
4.1 Como realizar uma etnografia 
 
De acordo com Mattos (2011, p. 50), “a etnografia é um processo guiado 
preponderantemente pelo senso questionador do etnógrafo”. Não segue uma estrutura 
rígida de ação, pois a interação do pesquisador com o grupo pesquisado orientará o 
andamento da etnografia. Entretanto, segundo o autor, ao realizar uma etnografia, o 
pesquisador deve: 
 
1) preocupar-se com uma análise holística ou dialética da cultura; 
2) introduzir os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica e modificadora 
das estruturas sociais; 
3) preocupar-se em revelar as relações e interações significativas de modo a desenvolver 
a reflexividade sobre a ação de pesquisar, tanto pelo pesquisador quanto pelo 
pesquisado. (MATTOS, 2011, p. 4).Uma pesquisa etnográfica segue, de forma geral, as seguintes etapas: 
 
 A inserção na comunidade 
A pesquisa etnográfica inicia com a inserção do pesquisador na comunidade. Em alguns 
espaços, essa inserção necessitará de aprovação dos membros dessa comunidade. Essa 
aprovação reverbera em critérios éticos, mas também tem impactos metodológicos. 
Um psicólogo que busca estudar a construção do vínculo pós adoção não pode 
simplesmente adentrar o cotidiano de uma família que tenha passado por esse processo 
sem a permissão e aprovação do grupo. Mesmo em situações menos intimistas, como o 
estudo de práticas comunitárias em bairros, a presença do pesquisador pode não ser bem 
vista e o fenômeno de interesse da pesquisa pode ser ofuscado por uma reação adversa 
do grupo. Assim, é importante que haja diálogo prévio com os participantes antes de 
iniciar o processo. 
 A coleta/produção dos dados 
O pesquisador que utiliza o método etnográfico deve estar preparado para executar 
a observação e descrição dos fenômenos pesquisados. É importante que se saiba até que 
ponto o fenômeno observado está ocorrendo de forma “pura” ou está sofrendo 
influência da presença do pesquisador. O diário de campo é uma ferramenta 
fundamental nesse processo, pois nele o pesquisador descreve e estabelece as primeiras 
formulações sobre o fenômeno pesquisado. Entrevistas podem ser adotadas de modo 
complementar. As entrevistas não-estruturadas ganham destaque nesse método, diante 
da sua flexibilidade de temas. 
Ademais, Mattos (2011) afirma que os instrumentos utilizados na etnografia podem 
variar, conforme o cenário de pesquisa demande. 
 Análise dos dados 
Apesar de centrar-se na observação participante, a etnografia pressupõe que o 
pesquisador dê voz aos atores sociais parte da comunidade estudada. É importante 
centrar-se na comunidade e seus atores, não apenas nas interpretações do pesquisador. O 
pesquisador busca compreender qual o significado de certo fenômeno. Entretanto, 
vislumbra compreender qual o significado desse mesmo fenômeno na perspectiva do 
grupo estudado. A interação desses saberes enriquece as conclusões de uma pesquisa 
etnográfica. 
Mattos (2011) propõe a microanálise etnográfica, a qual exige do pesquisador um 
“detalhamento criterioso na descrição do comportamento através da transcrição 
linguística verbal e não-verbal de comportamento - olhares, pausas, tom de voz, 
detalhes da interação e o que isto significa” (p. 28). 
 Devolutiva 
A pesquisa em psicologia, em geral, pressupõe uma devolutiva, informando quais as 
conclusões do pesquisador acerca do fenômeno estudado. Essa devolutiva deve 
ser compreensível para a comunidade estudada. Embora muitos estudiosos 
negligenciem esse momento, a apresentação das conclusões da pesquisa ao grupo 
participante relaciona-se com o compromisso ético do pesquisador. 
 
5 Documentação e comunicação científica 
 
A escrita tem um propósito fundamental no avanço da ciência. Por um lado, através da 
escrita, os profissionais podem levar avanços científicos para a comunidade leiga, 
caracterizando uma importante função da divulgação científica. Por outro, ao escrever e 
divulgar resultados de pesquisa e outros textos científicos, o pesquisador difunde na 
academia o conhecimento produzido. 
 
Ao estar público, o conhecimento científico pode: 
 
a) auxiliar pesquisadores interessados em temas semelhantes; 
b) subsidiar políticas públicas e a construção de novas tecnologias dependentes do 
saber produzido; 
c) pôr à prova os resultados da pesquisa. 
 
Este último item corrobora as características da ciência debatidas anteriormente nessa 
disciplina. O conhecimento científico é passível de comprovação, ou refutação. 
 
Quando um pesquisador divulga seu trabalho, ele não só contribui com a área estudada, 
mas põe seus dados à disposição para reavaliação. Esse processo é fundamental para o 
avanço da ciência. 
 
5.1 Formatos de documentação científica 
 
Historicamente, os livros foram os principais meios de registro científico. Sua 
popularização ganhou fôlego na idade moderna, principalmente após a invenção e 
difusão da imprensa. Até hoje, os livros acadêmicos possuem grande valia, 
principalmente pela menor limitação de formatos e número de páginas, o que permite 
que o pesquisador descreva de maneira mais completa seus achados. 
 
Com o avanço da tecnologia, a ampliação da ciência e as novas demandas do meio 
acadêmico, foram surgindo novos formatos que cumprem o dever de permitir a 
divulgação da ciência. A seguir, serão definidos os mais recorrentes formatos de 
documentação científica no cenário acadêmico atual. 
 Artigo científico 
 
O artigo científico é o modelo de texto acadêmico atualmente preferido pela 
comunidade acadêmica. Ele substituiu, em grande parte, a publicação de livros, dado o 
seu caráter mais objetivo, que condiz com a agilidade na produção do conhecimento 
observada nos dias atuais (KOLLER et al., 2014). Os artigos científicos atendem a 
públicos interessados em pesquisa, buscando aprimorar-se na atividade profissional, 
buscando ferramentas para ensino ou simplesmente procurando informação. 
 
Koller et al. (2014) ressaltam que, apesar da expansão dos periódicos acadêmicos 
focados em artigos científicos ter ampliado a divulgação científica, a maior parte dos 
artigos submetidos para publicação são reprovados. Segundo as autoras, daqueles que 
são aceitos, 75 a 85% não apresentam relevância; cerca de 50% dos artigos publicados 
contêm erros estatísticos e pelo menos 50% nunca são consultados ou citados. Para 
evitar que tais situações ocorram, indo no sentido contrário da proposta da ciência, 
sugere-se algumas ações: 
 
1- Selecionar bem a revista para a qual será encaminhado o trabalho; 
Deve-se considerar o escopo da revista, seu público e sua base de indexação. Os 
indexadores são plataformas que agregam periódicos acadêmicos, facilitando sua 
difusão. 
2- Criar perfis em sites de divulgação científica, como o Google Adadêmico®, 
ResearchGate®, ORCID®, dentre outros; 
Nesses sites, o pesquisador atualiza constantemente suas publicações, participa de redes 
de pesquisadores e pode divulgar melhor seus trabalhos. 
3- Escrever resumos e abstracts bem elaborados; 
Eles são a porta de entrada do artigo e devem conter todas as informações referentes ao 
trabalho. Ademais, Koller et al. (2014) sugerem que o autor se coloque no lugar do 
leitor ao escrever o resumo, buscando ser atrativo e informativo. As palavras-chave 
também são importantes e devem apontar os principais temas do estudo. 
4- Prezar pela qualidade; 
Em última instância, a qualidade do trabalho é o que garante sua difusão. Estudos com 
pouca contribuição para a área e formato inadequado tendem a ficar esquecidos, mesmo 
que aceitos para publicação. É importante que o artigo descreva a pesquisa (ou a parte 
relevante de uma pesquisa) que o originou, explicitando os objetivos e a metodologia 
adotada e apresentando resultados. Os resultados devem ser discutidos pelo autor, 
demonstrando as interpretações deste sobre o fenômeno estudado. Ao finalizar o texto, é 
importante que o autor retome o objetivo, de modo a refletir se ele foi atingido ao longo 
da pesquisa, e revele possíveis contribuições para o campo, bem como sugestões para 
novos estudos. 
 
Os artigos científicos podem apresentar distintos formatos. Em linhas gerais, seu 
formato depende das pesquisas que foram realizadas para formulá-lo. A seguir, serão 
descritos os principais formatos de artigo científico. 
 
 Artigos de revisão de literatura 
 
Já vimos, no primeiro tópico desta unidade, os critérios que compõem uma revisão de 
literatura. Artigos de revisão de literatura são “avaliações críticas de materiais que já 
foram publicados, considerando o progresso das pesquisas na temática abordada” 
(KOLLER et al., 2014, p.40). Identifica-se, com esse processo, lacunas, contradições e 
inconsistências na literatura analisada. Essa análisepode produzir conclusões que 
orientem os interessados no tema. 
 
Um artigo de revisão de literatura segue basicamente as seguintes etapas: 
 
VER QUADRO NO AVA 
 
 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de três colunas e cinco linhas, 
apresentando as quatro etapas de um artigo de revisão de literatura com a descrição de 
cada etapa e a sugestão de como fazê-la. 
 
Assista aí 
 
 Artigos de revisão teórica 
Artigos teóricos são aqueles cujo principal objetivo é discutir conceitos de uma 
teoria, ou confrontá-los entre teorias. O foco, portanto, são aspectos teóricos em 
essência. Os artigos de revisão teórica tendem a adotar menor quantidade de 
referências do que as demais revisões de literatura, e o pesquisador foca em 
materiais que darão substrato para a discussão a ser realizada. Espera-se que haja 
proximidade entre o pesquisador e o tema pesquisado na realização desse tipo de estudo. 
 
 Artigos empíricos 
Artigos empíricos são aqueles decorrentes de pesquisas empíricas. Nas unidades 
anteriores, você aprendeu como planejar um projeto de pesquisa e, portanto, conhece as 
etapas de sua realização. No artigo empírico, supõe-se que haja uma transcrição da 
sistematização desse projeto, acrescido dos resultados e discussões oriundos da 
pesquisa. 
 
Embora as nomenclaturas possam variar, e as demandas do periódico possam sugerir 
alterações, os artigos empíricos em geral obedecem à seguinte estrutura: 
 
 
VER QUADRO NO AVA 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de duas colunas e sete linhas, 
apresentando um breve glossário com itens necessários em artigos e seus respectivos 
significados. 
 
 Resenhas críticas 
Diferente do artigo científico, as resenhas são textos que não provêm de pesquisa. Elas 
funcionam como guias para leitores, ao descrever uma obra selecionada através de um 
ponto de vista crítico. Resenhas costumam ser acatadas por periódicos quando 
referentes a obras recentes, de modo a apresentar a obra aos leitores. Na resenha, o autor 
analisa uma obra trazendo informações sobre quem a escreveu e quais os principais 
temas tratados no texto, tendo a possibilidade de concluir destacando seus pontos fracos 
ou fortes, o que pode culminar em indicação da obra para algum público específico. 
 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de duas colunas e sete linhas, 
apresentando um breve glossário com itens necessários em artigos e seus respectivos 
significados. 
 
 Resenhas críticas 
Diferente do artigo científico, as resenhas são textos que não provêm de pesquisa. Elas 
funcionam como guias para leitores, ao descrever uma obra selecionada através de um 
ponto de vista crítico. Resenhas costumam ser acatadas por periódicos quando 
referentes a obras recentes, de modo a apresentar a obra aos leitores. Na resenha, o autor 
analisa uma obra trazendo informações sobre quem a escreveu e quais os principais 
temas tratados no texto, tendo a possibilidade de concluir destacando seus pontos fracos 
ou fortes, o que pode culminar em indicação da obra para algum público específico. 
 
5.2 Divulgação científica: poster e comunicação oral 
 
Reafirmando a necessidade de divulgação, a comunidade acadêmica organiza 
frequentemente espaços nos quais estudantes, profissionais e acadêmicos 
possam apresentar seus estudos e experiências para o público, permitindo debates e 
críticas diretamente ao autor. 
 
Congressos, encontros, jornadas, dentre outros modelos de eventos acadêmicos 
reservam espaços para essa finalidade. Em geral, os interessados podem apresentar seus 
trabalhos em formato de pôster acadêmico ou de comunicação oral. Os trabalhos 
apresentados compõem os anais do evento, um importante registro científico. Através 
da análise de anais de evento, é possível identificar quais temas têm preocupado a 
comunidade acadêmica e traçar um panorama sobre esse cenário. 
 
 
No Brasil, o sistema responsável por agregar toda a produção científica nacional é a 
Plataforma Lattes. A plataforma organiza os grupos de pesquisa e currículos de 
pesquisadores, permitindo a sistematização das produções de interesse acadêmico. Os 
pesquisadores são responsáveis por atualizarem seus currículos, auxiliando o alcance da 
plataforma e permitindo que o Estado tenha a dimensão aproximada da produção 
científica no país. 
 
5.3 Plágio e autoplágio 
 
Plágio corresponde a “assinar ou apresentar como sua a obra de outrem, imitar o 
trabalho alheio” (KOLLER et al., 2014, p. 110). A mesma autora define plágio como: 
Plágio pode ser definido, então, como o uso de ideias (publicadas ou não) de outros sem 
a devida referência. Inclui o envio de projetos para editais de pesquisa e submissões de 
artigos completos somente com alteração do nome do autor. Isso pode acontecer, ainda, 
na tradução para outra língua e ser verificada em todos os estágios da pesquisa (projeto, 
coleta e análise de da- dos e publicação) (KOLLER et al., 2014, p. 112) 
 
Essa prática é considerada antiética devido à utilização da propriedade intelectual alheia 
e por ser contrária ao princípio da evolução científica (já que consiste em 
uma repetição apresentada como se fosse um saber novo). 
Sob esse último critério, merece destaque o autoplágio. Apesar de autoplágio não 
configurar uma tomada de conteúdo de outro autor sem autorização, a apresentação de 
uma ideia já publicada como se fosse original é considerada uma prática antiética no 
cenário científico. 
 
O uso de referências, existente em todas as normativas de padronização, evita que o 
autor cometa plágio na escrita acadêmica. É fundamental citar todos os autores que 
basearam a escrita do texto, apontando a origem da ideia (qual livro, artigo, ou outro 
material que consta a ideia original), incluindo sua paginação, quando a citação for 
literal. 
 
 
Atualmente, há softwares específicos que localizam plágio em textos, muitos deles de 
uso gratuito. Os softwares fazem uma busca na internet para localizar expressões, frases 
e até parágrafos iguais ou muito semelhantes ao do texto analisado. 
É ISSO AÍ! 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
 conhecer os fundamentos das metodologias qualitativas, quantitativas e mistas; 
 se aproximar de importantes procedimentos metodológicos adotados na 
psicologia; 
 compreender a importância das narrativas como forma de acesso a conteúdos 
subjetivos; 
 conhecer a etnografia e sua aplicabilidade na psicologia; 
 debater sobre os principais formatos de documentação científica e os processos de 
divulgação. 
REFERÊNCIAS