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UNIDADE 3 - MÉTODOS E TÉCNICAS DA PESQUISA PSICOLÓGICA ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS DE PESQUISA: PRÁTICA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. 1 Abordagens qualitativas e quantitativas de pesquisa Há basicamente três grandes abordagens que compõem o delineamento de uma pesquisa: qualitativa, quantitativa e mista (CRESWELL, 2007). Essas abordagens não podem ser consideradas como opostas entre si, mas sua escolha é crucial para que o pesquisador construa os métodos do seu estudo. 1.1 Métodos qualitativos, quantitativos e mistos de pesquisa Como visto anteriormente, os métodos quantitativos em psicologia foram fundamentais para a constituição desse saber como ciência. Atualmente, diversos métodos quantitativos têm sido utilizados na realização de pesquisas na área das ciências do comportamento. Creswell (2007, p. 26) define a pesquisa quantitativa como: um meio para testar teorias objetivas, examinando a relação entre as variáveis. Tais variáveis, por sua vez, podem ser medidas tipicamente por instrumentos, para que os dados numéricos possam ser analisados por procedimentos estatísticos. O relatório final escrito tem uma estrutura fixa, a qual consiste em introdução, literatura e teoria, métodos, resultados e discussão. Aqueles que se engajam nessa forma de investigação têm suposições sobre a testagem dedutiva das teorias, sobre a criação de proteções contra vieses, sobre o controle de explicações alternativas e sobre sua capacidade para generalizar e para replicar os achados. De igual importância, os métodos qualitativos gradualmente ganharam força e permitiram que a psicologia se aprofundasse em diversos fenômenos não alcançados em outros delineamentos. Para Creswell (2007, p. 26), em resumo, a pesquisa qualitativa: É um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano. O processo de pesquisa envolve as questões e os procedimentos que emergem, os dados tipicamente coletados no ambiente do participante, a análise dos dados indutivamente construída a partir das particularidades para os temas gerais e as interpretações feitas pelo pesquisador acerca do significado dos dados. O relatório final escrito tem uma estrutura flexível. Aqueles que se envolvem nessa forma de investigação apoiam uma maneira de encarar a pesquisa que honra um estilo indutivo, um foco no significado individual e na importância da interpretação da complexidade de uma situação. Assim como os métodos quantitativos descritos, os métodos aqui apresentados não são de domínio exclusivo da psicologia, sendo frequentemente adotados em outras áreas do conhecimento. Já os métodos mistos, por sua vez, são descritos por Creswell (2007, p. 7) como: abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das duas abordagens em um estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta e análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada. Essa combinação de métodos pode se apresentar de três formas, descritas no quadro abaixo: VER QUADRO NO AVA #PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas e quatro linhas, apresentando as estratégias de utilização de métodos mistos em pesquisa e suas respectivas definições. Clique para abrir a imagem no tamanho original Figura 2 - Metodologia de pesquisaFonte: one photo, Shutterstock, 2020 #PraCegoVer: A imagem mostra uma mesa de madeira, sobre ela há um computador, um celular, um tablet, um par de óculos, uma planta, cadernos e folhas de papel. Além disso, é possível ver as mãos de três pessoas, manuseando esses objetos. No centro da imagem, está escrita a palavra “Metodologia”. 2 Abordagens metodológicas em Psicologia Como visto, as abordagens qualitativa, quantitativa e mista podem basear o pesquisador em variados procedimentos metodológicos. A psicologia, sendo uma ciência com bases que variam das ciências naturais à filosofia, adota todas essas abordagens como orientação de pesquisa. A seguir, apresentaremos tipos de pesquisa dentre os mais adotados na área da psicologia. Apesar de algumas das abordagens apresentadas serem mais adotados em delineamentos quantitativos, e outras em delineamentos qualitativos, optou-se aqui por não enquadrar os tipos de pesquisa. É possível que o estudante identifique alguma pesquisa que não corresponde a tal enquadramento, o que é comum no cenário científico. Como Creswell (2007) afirma, mesmo conhecendo as suposições filosóficas que sustentam cada método, prefere-se dizer que uma pesquisa “tende a ser” qualitativa ou quantitativa, para com isso não ignorar possíveis influências distintas que o pesquisador possa ter tido ao realizar seu estudo. 2.1 Revisão de literatura A revisão de literatura é um método de pesquisa bibliográfica que utiliza como fonte materiais científicos como: teses, dissertações, artigos, resumos, anais, livros, dentre outros. Em cada revisão, o pesquisador optará por focar em aspectos de interesse desses materiais. Enquanto há estudos focados nos objetivos, há outros que têm como interesse central os métodos, enquanto outros analisam o texto integral. Tudo depende dos interesses do pesquisador e do projeto de pesquisa. Também é importante ressaltar que, enquanto alguns projetos se encerram na revisão de literatura, outros adotam a revisão como uma das etapas – geralmente inicial – da pesquisa. Destacam-se três tipos de revisão de literatura: a) Revisão de literatura narrativa Esse tipo de revisão não utiliza critérios rígidos de busca e seleção dos trabalhos que farão parte da análise. São muito adotadas em estudos teóricos e conceituais, nos quais o pesquisador avalia o material que tem à disposição, selecionando textos conforme observa necessidade, ou conforme recebe indicações. b) Revisão de literatura sistemática Esses estudos têm como finalidade testar hipóteses formuladas pelo pesquisador. Seleciona-se rigidamente materiais científicos com critérios precisos e passíveis de retestagem (qualquer pesquisador pode realizar o mesmo passo a passo de busca e chegará nos mesmos materiais). Busca-se analisar a qualidade metodológica e os resultados das pesquisas selecionadas. As revisões sistemáticas buscam responder a um objetivo claro de pesquisa. Por exemplo, o pesquisador pode buscar avaliar os resultados de uma técnica específica para intervenções em casos de autismo. Através de uma revisão sistemática, poderá selecionar trabalhos publicados em revistas pré-selecionadas em um período também pré-estabelecido. As pesquisas empíricas que forem localizadas são, então, avaliadas e o pesquisador terá – através da revisão sistemática – condições de identificar se de fato a estratégia tem apresentado resultados relevantes. c) Revisão de literatura integrativa Esses estudos têm como finalidade integrar pesquisas de diferentes abordagens metodológicas em uma revisão. Empregam também critérios de buscas bem definidos, como na revisão sistemática, porém não têm condições de testar hipóteses, já que podem agregar estudos teóricos e outras revisões em seu escopo de análise. Entretanto, são relevantes para aprofundamento do pesquisador sobre temas de interesse, especialmente em abordagens exploratórias. Por exemplo, o pesquisador pode adotar uma revisão de literatura integrativa para categorizar as práticas de profissionais de saúde no contexto da atenção básica. Através da revisão, o pesquisador terá acesso a diversos estudos sobre tais práticas, permitindo uma visão ampla sobre o tema de interesse. Assista aí 2.2 Pesquisa documental Diferente das revisões de literatura, a pesquisa documental é aquela que apresenta como dados materiaisque ainda não passaram por tratamento científico. O pesquisador pode recorrer, por exemplo, a: reportagens, prontuários, relatórios psicológicos, desenhos, cadernos pessoais, dentre outros materiais documentais. 2.3 Survey (pesquisa de levantamento) Um bom exemplo de pesquisa de levantamento são aquelas realizadas para prever resultados de eleições políticas. Escolhe-se uma parcela da população e os dados coletados servem de base para inferências gerais. De acordo com Creswell (2007, p. 178), “um projeto de levantamento apresenta uma descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou opiniões de uma população, estudando-se uma amostra dessa população”. Esses resultados permitem que o pesquisador faça generalizações sobre a população. As pesquisas de levantamento costumam valer-se de questionários fechados e escalas, o que permitem quantificar melhor as respostas. Utiliza-se com frequência escalas do tipo Likert, em especial, quando se busca traduzir para quantitativos dados originalmente qualitativos. Essas escalas se apresentam no formato de números sequenciais indicando um espectro de respostas, variando entre dois extremos definidos pelo pesquisador. Por exemplo: Pergunta 1: Acredito que a educação a distância tem grande potencial para a formação acadêmica: Clique para abrir a imagem no tamanho original Figura 3 - Escala tipo LikertFonte: Elaborado pelo autor, 2020 #PraCegoVer: A imagem mostra um exemplo de escala tipo Likert. Há uma linha horizontal, em uma de suas extremidades está a afirmação "Discordo Totalmente", na outra "Concordo totalmente". Entre a primeira afirmação e a segunda, há pontos numerado de 1 a 5. Além dos instrumentos, ao adotar esse método, deve-se atentar para o público respondente. Como desvantagem, muitas vezes, não se sabe se quem respondeu a pesquisa realmente fazia parte do público de interesse ou se foi sincero nas respostas fornecidas. Muitos estudos são feitos através do método survey por permitir facilmente a sistematização dos dados, além de geralmente serem menos custosos por demandarem menos recursos. Por muito tempo, perduraram pesquisas desse tipo por via de cartas, ligações telefônicas e entrevistas presenciais. Em tempos de internet, os formulários eletrônicos ajudam na construção de questionários e na tabulação dos dados obtidos. 2.4 Método Experimental De acordo com Creswell (p. 178) “a intenção básica de um projeto experimental é testar o impacto de um tratamento (ou de uma intervenção) sobre um resultado, controlando todos os outros fatores que possam influenciar esse resultado”. Esse tipo de pesquisa se vale da aleatoriedade e do controle rígido de variáveis. Busca-se, a partir de uma hipótese pré-determinada, conferir sua plausibilidade. Em linhas gerais, separa-se um grupo que não receberá a intervenção testada (grupo controle) de um ou mais grupos que receberão a intervenção. Após aplicada a intervenção, testa-se ambos os grupos e são medidos os índices de interesse em busca das diferenças. Na medicina, recorre-se à estratégia do duplo-cego, quando nem pesquisador e nem participantes da pesquisa sabem qual grupo recebeu a intervenção e qual grupo é o controle. Isso evita a existência de viés que pode influenciar nos resultados. Em psicologia, pesquisas de tipo duplo-cego são menos comuns. Em geral, os experimentos são realizados em ambiente laboratorial com o máximo de controles de variáveis. Se o pesquisador quer saber a influência de um estímulo sonoro (variável independente) no nível de estresse de um indivíduo (variável dependente), no laboratório há maior liberdade de controlar esse estímulo tanto quanto deseje, com menores chances de interferência. Entretanto, há estudos experimentais cuja natureza demanda sua aplicação em campo, circunstâncias mais próximas das reais. Com forte controle de variáveis, a abordagem experimental se pauta em análises estatísticas descritivas e inferenciais para expor as conclusões obtidas. 2.5 Método quase experimental A pesquisa quase experimental busca manter o mesmo controle de variáveis que a experimental. A principal diferença é a não utilização de critérios aleatórios para selecionar os participantes que sofrerão a intervenção. Pesquisas desse tipo eram as conduzidas por Skinner. O pesquisador selecionava um único animal por vez para testar as variáveis de interesse, não confiando em critérios aleatórios nessa escolha. 2.6 Método fenomenológico A fenomenologia é uma corrente filosófica que tem como percussores os teóricos Husserl e Heidegger (BORBA, 2010). Dentre outros aspectos, essa corrente ganhou destaque por propor um método que foi incorporado por diversas áreas nas ciências humanas e sociais, incluindo a psicologia. Sobre esse método, Creswell (2007, p. 38) afirma que a perspectiva fenomenológica é uma estratégia de investigação através da qual “o pesquisador identifica a ‘essência’ das experiências humanas relativas a um fenômeno, como descrito pelos participantes de um estudo. Nesse processo, o pesquisador ‘separa’ suas próprias experiências para entender as dos participantes do estudo”. Esse procedimento refere-se à chamada redução fenomenológica, na qual o pesquisador põe em suspenso todas as suas preconcepções sobre um fenômeno de modo a compreendê-lo sem sua interferência. Diferentemente dos métodos positivistas, nessa perspectiva, o pesquisador considera a experiência do participante como material interpretativo, mesmo que ela não corresponda a uma realidade material. O critério de verdade, portanto, se baseia naquilo que o participante manifesta como experiência. O método fenomenológico é adotado em pesquisas clínicas, por exemplo, de modo a compreender qual a perspectiva de um paciente em relação a uma experiência psicológica, como um sintoma. Nesse caso, a experiência relatada pelo paciente servirá de base para análise. 2.7 Método clínico Esse método parte da interpretação de dados provenientes de intervenções clínicas. Os estudos clínicos podem advir do aprofundamento teórico de práticas profissionais na área clínica, tendo como base intervenções já realizadas, ou podem ocorrer a partir da análise de casos presentes. Os estudos clássicos na área da psicanálise partiram desse método. O pesquisador pode ou não ser o ator da prática clínica. Com isso, esse método recebe críticas sobre a possível influência da aproximação entre participante e cientista nos resultados da análise. Por outro lado, alega-se que é essa interferência que enriquece e potencializa esse tipo de estudo. 3 Narrativa como recurso de pesquisa O discurso é um dos principais recursos que possibilitam a compreensão de representações e fenômenos psicológicos. Voltar-se ao estudo dos discursos permitiu grande avanço às pesquisas qualitativas. Na segunda metade do Século XX, os estudos sobre as narrativas, no campo da psicologia, ganharam destaque. As narrativas passaram a ser estudados como elementos do discurso conectados diretamente com o desenvolvimento humano, pois representam formas de construção mental da realidade e, com isso, orientam concepções e práticas humanas. Nesse contexto, Bruner (1991, 1987) propõe uma nova forma de abordar a psicologia em interface com a cultura, tendo destaque para a linguagem com um importante papel para o desenvolvimento humano. A linguagem é considerada uma ferramenta fundamental “no processamento do mundo, no planejamento e na ação humana” (CORREIA, 2003, p. 509). A narrativa, então, passa a ser objeto e método de estudo da linguagem, visto que “a narrativa possui características que a colocam em um lugar relevante na investigação da mente, tais como sequencialidade de eventos e envolvimento de estados mentais” (CORREIA, 2003, p. 509). A abordagem narrativista em psicologia considera que as interpretações de si são organizadas através de um viés narrativo. Surge, então, a concepção de selfnarrativo: Refere-se às narrativas e explicações que as pessoas desenvolvem sobre si mesmas, através da organização temporal de eventos pessoais, quando então estabelecem conexões entre eventos vividos, na tentativa de construção de uma história que as tornem inteligíveis a elas mesmas e aos outros (GUANES; JAPUR, 2003, p. 140). Bruner (1987) ressalta que a narrativa é a forma de representar a experiência vivida. De modo dialógico, as narrativas agem sobre a experiência na medida em que o indivíduo busca nelas as redes de significações que o orientam na prática social. Há, portanto, uma íntima relação entre a narrativa e a atividade humana. De acordo com Bruner (1991), as experiências, organizadas em formato de narrativas, funcionam sob uma lógica que transcende o empirismo e representam melhor o diálogo e a convenção entre o indivíduo e a cultura. Ao construir uma narrativa sobre suas experiências, o sujeito age em duas instâncias, interna e externa, estabelecendo conexões sobre suas ações no mundo e as representações mentais. Ao realizar uma narrativa, seja ela sobre si próprio, sobre o outro ou ficcional, o indivíduo apresenta sobre quais aspectos ancora seu posicionamento diante das situações narradas. Este processo aprofunda o indivíduo na construção de repertórios sociais (BAMBERG, 2012), guiando suas práticas e concepções. O ato de narrar é, ao mesmo tempo, uma atividade social e um recurso cognitivo. Desse modo, a pesquisa de abordagem narrativa representa um recurso importante para a psicologia. 3.1 Concepções de narrativa À primeira vista, o pesquisador pode associar a narrativa a um registro de um ou mais fatos passados. Ao lermos autobiografias, estamos diante de narrativas que – de fato – funcionam como registros estáticos de experiências anteriores. Bamberg (2012) nomeia esse tipo de narrativa como grandes histórias. Segue um trecho de uma grande história, retirado do livro “Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 78): Eu estava só, tinha acabado de chegar na cidade, não tinha muitos amigos e era uma realidade completamente diferente. Eu sempre soube que eu queria ficar com homens, só que eu parei ali com aquele terceiro carinha. Ele terminou comigo e meus pais não me aceitavam. Aí, no final de semana, eu ia para cidade dos meus pais e ficava naquele clima superchato. Note que o conteúdo é a maior relevância desse discurso. A narrativa, por esse viés, é compreendida como uma fotografia de eventos passados e sua análise segue esse perfil. Bamberg (2012) propõe um outro olhar para as narrativas. Para o autor, é preciso compreender a narrativa como uma prática, e não apenas como um registro do passado. A narrativa, portanto, é um ato e deve ser considerado como tal. Ao narrar, a pessoa adota mecanismos psicológicos que envolvem organizações cognitivas, escolhas, contradições, planejamentos, dentre outros recursos que são importantes para o pesquisador. O autor sugere que não olhemos apenas para a narrativa (conteúdo), mas para a narração (processo). Nessa compreensão, o autor sugere que encaremos como narrativas importantes não apenas os registros de grandes histórias. As narrativas cotidianas, que envolvem fatos, às vezes considerados menos importantes, são fundamentais para a pesquisa narrativa. Essas narrativas cotidianas são chamadas pelo autor de pequenas histórias. Essas narrativas são despertadas de modo mais espontâneo. Imagine você sendo participante de uma pesquisa narrativa cujo objetivo é compreender as relações entre trabalho e sofrimento psíquico. Em uma perspectiva com foco em grandes histórias, o pesquisador, no momento da entrevista, poderia disparar uma narrativa com a seguinte pergunta: Conte todas as experiências profissionais que você já teve e se recorda. Desse modo, você começaria a narrar eventos passados. A transcrição dessa narração seria o conteúdo de interesse ao pesquisador, pois ele estaria de posse do texto elaborado por você, como participante, e poderia tirar suas conclusões sobre seu objeto de estudo. Em uma perspectiva com foco em pequenas histórias, essas mesmas conclusões poderiam ser tirada, por exemplo, a partir de conversas corriqueiras gravadas em seu intervalo de trabalho; ou entre você e o carona do carro enquanto vai trabalhar; ou até em cenários cujo trabalho não é o foco, como durante um almoço com amigos. Essas conversas corriqueiras têm potencial de investigação para a pesquisa narrativa e, de acordo com Bamberg (2012), são fundamentais principalmente em estudos sobre identidade. 3.2 Relação entre método e objetivos na pesquisa narrativa Nas unidades anteriores, vimos a relação entre método de pesquisa e os objetivos propostos pelo pesquisador. Assim, ao elaborar uma pesquisa narrativa é importante considerar se esse método vai conseguir responder aos objetivos. Não há receita para esse procedimento, então cabe ao pesquisador refletir sobre a pertinência da narrativa como método. Alguns exemplos de objetivos possíveis de serem alcançados a partir de uma pesquisa narrativa são: Descrever as concepções de infância para professores da educação infantil na escola X. Analisar a construção da identidade em adolescentes de uma comunidade quilombola. Identificar experiências universitárias que geram impactos positivos na saúde mental de estudantes. Compreender as expectativas de profissionais de saúde quanto à alteração do modelo de gestão. Perceba que esses exemplos trazem objetivos alcançáveis através da pesquisa narrativa. Dificilmente, com esse método, seria possível “estimar estatisticamente”, ou “medir” fenômenos. Caso esses sejam os objetivos, muito possivelmente o pesquisador deverá adotar recursos complementares. Perceba que esses exemplos trazem objetivos alcançáveis através da pesquisa narrativa. Dificilmente, com esse método, seria possível “estimar estatisticamente”, ou “medir” fenômenos. Caso esses sejam os objetivos, muito possivelmente o pesquisador deverá adotar recursos complementares. 3.3 Entrevista narrativa Vimos que Bamberg (2012) sugere investigar as narrativas espontâneas do cotidiano. Entretanto, em situações de pesquisa, muitas vezes, a disponibilidade do participante, o formato do projeto e os recursos do pesquisador requerem que a narrativa seja elaborada em situações estimuladas. Há diversas maneiras de despertar uma narrativa. propondo diálogos grupais; apresentando atividades e dinâmicas aos participantes; solicitando que os participantes narrem a partir da apresentação de imagens ou fotografias; ou simplesmente solicitando uma narrativa. O principal recurso da pesquisa narrativa é a entrevista narrativa. Esse modelo de entrevista é proposto com a intenção de despertar no participante a narração de fatos reais ou fictícios, sendo contados pela primeira vez ou em forma de recontagem. A entrevista narrativa é uma “ferramenta não estruturada, visando a profundidade, de aspectos específicos, a partir das quais emergem histórias de vida, tanto do entrevistado como as entrecruzadas no contexto situacional” (MUYLAERT et al., 2014). Para engatilhar a entrevista narrativa, é importante que o entrevistador exponha ao participante o tema a ser trabalhado de modo que o motive a iniciar a narração. Esse estímulo parte da chamada questão disparadora. Ela deve ser formulada de modo a permitir que o participante narre conteúdos sobre o tema de interesse. Tomando como base os objetivos mencionados anteriormente, como exemplo, seguem exemplos de possíveis questões disparadoras: Relate, em sua trajetória, aspectos que lhe levaram a trabalhar com crianças. Descreva experiências nesta comunidade em que você se sentiu pertencentes de um grupo. Descreva sua trajetória universitária, desde o dia da matrícula até agora, pontuando momentos em que você sentiu bem-estar e momentosem que você sentiu mal-estar. Relembre experiências de trabalho no hospital que possivelmente impactaram na sua produtividade. Obviamente outras questões poderiam ser formuladas para atingirem os mesmos objetivos. A definição de uma questão disparadora é de suma importância, pois é ela que torna possível que o participante produza um material de análise com qualidade. 3.4 Como escrever a narrativa A pesquisa narrativa requer que haja a transcrição do texto narrado. Entretanto, apenas o texto escrito em formato padrão não é suficiente para a maioria das pesquisas, pois há elementos da narrativa que extrapolam o caráter textual. Alguns autores apresentam formas de escrever a narrativa de modo a evidenciar conteúdos como gestos, entonações, mudanças bruscas de tema, dentre outros. Marcuschi (2008) propõe a seguinte marcação: VER QUADRO NO AVA #PraCegoVer: A imagem mostra tabela de duas colunas e seis linhas, apresentando signos que podem ser utilizados na transcrição da narrativa e qual o significado que cada uma possui. 3.5 A análise da narrativa Lieblich et al. (1998) apresentam orientações acerca do processo de análise narrativa. Os autores pontuam que a pesquisa narrativa pode ocorrer a partir de duas dimensões. A primeira versa sobre o caráter holístico e/ou categorial. O caráter holístico exige do pesquisador que priorize o olhar da narrativa como um todo, para que, a partir da visão geral, seja possível identificar os aspectos relevantes para a pesquisa. O caráter categorial supõe que o pesquisador tome como material de análise fragmentos significativos da narrativa. Estes fragmentos são escolhidos pelo pesquisador e devem ser representativos e contemplativos diante do objetivo da pesquisa. Uma segunda dimensão apontada pelos autores é a possibilidade de a análise ser debruçada sobre a forma ou o conteúdo da narrativa. A forma refere-se à estrutura da narrativa e seus elementos textuais e não textuais. O conteúdo refere-se à significação daquilo que foi narrado. Portanto, é possível que as pesquisas narrativas adotem as seguintes configurações: 1) forma-holística, 2) forma-categorial, 3) conteúdo-holística, 4) e conteúdo-categorial. Esse recurso serve para orientar o pesquisador no processo de análise, porém outros métodos e outras formas de compreender a narrativa podem ser aplicados, como a análise de conteúdo, análise de discurso, dentre outros. 4 Pesquisa etnográfica em psicologia Creswell (2007, p. 38) define etnografia como uma estratégia de investigação em que o pesquisador estuda um grupo cultural intacto, em um cenário natural, durante um período de tempo prolongado, coletando principalmente dados observacionais e de entrevistas. O processo de pesquisa é flexível e se desenvolve, tipicamente, de maneira contextual em resposta às realidades vividas encontradas no ambiente de campo. Exemplo: um pesquisador utilizou o método etnográfico para compreender as práticas de cuidado da saúde em uma comunidade indígena. Inicialmente, planejava passar um mês na comunidade e dialogar com os principais curandeiros do local. Entretanto, ao fim da primeira semana, o pesquisador foi convocado por algumas moradoras para participar de um ritual de saúde o qual ele desconhecia, que era praticado apenas por mulheres e não faziam parte do seu roteiro inicial. Seguindo o método etnográfico, o profissional pode estender a abrangência do seu estudo e participar dessa nova situação, pois ela trará dados importantes para responder a sua questão inicial de pesquisa. Ressalta-se que a etnografia é um método de pesquisa que nasce com estudos antropológicos. Os antropólogos Boas e Malinowski popularizaram o método etnográfico, que – no final do século XIX e início do século XX – ia de encontro com modelos positivistas de ciência. Nesse método, o pesquisador torna-se parte da comunidade estudada, de modo a compreender ao máximo os costumes e símbolos compartilhados nesse contexto (CAPRARA; LANDIM, 2008). A observação participante e as pesquisas de campo são a marca do método etnográfico. Entrevistas também podem ser utilizadas como instrumentos durante a etnografia. Inicialmente, o principal recurso de registro de pesquisa foi o diário de campo. Nele, o pesquisador anota os fenômenos de interesse e suas impressões pessoais decorrentes da experiência de imersão na comunidade estudada. A observação participante é um recurso bastante utilizado em pesquisas na área da psicologia. Ela consiste em privilegiar como dado aquilo que o pesquisador observa no cenário de pesquisa, porém não limitando-o a um expectador passivo. A interação entre pesquisador e contexto de pesquisa é tratada como parte dos dados e é considerada nas análises realizadas. A abordagem etnográfica pode contribuir com o estudo de fenômenos grupais ou individuais em contexto grupal. Alguns exemplos de contextos que caberiam estudos etnográficos na área da psicologia são: -pesquisas em organizações; -pesquisas em escola; -pesquisas em comunidades tradicionais; -pesquisas em grupos familiares; -pesquisas em grupos religiosos; -pesquisas em espaços com aglomeração de pessoas, como praias e praças; -pesquisas em ambientes virtuais (netnografia); Assista aí A etnografia é bastante utilizada nas pesquisas em psicologia social, por permitir ao pesquisador uma visualização mais acurada das relações entre indivíduo e grupo social. Processos psicológicos podem ser observados em ato, o mais próximo o possível do contexto real, já que as situações acessadas pela etnografia em geral não são pré- projetadas para ocorrer. Para exemplificar, tomemos como base o estudo da violência na escola. Observe três exemplos de aplicação dentre os métodos descritos até agora e possíveis resultados acessados: Clique para abrir a imagem no tamanho original VER QUADRO NO AVA #PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de três colunas e quatro linhas, apresentando a aplicação de métodos para o estudo da violência na escola, o recurso que deverá ser utilizado e os possíveis dados que serão acessíveis através destes métodos. A etnografia tem, por essência, uma base de delineamento quantitativa. Perceba que a natureza dos dados produzidos através de cada método é distinta. Dessa forma, as formas de análise e as conclusões possíveis sobre o mesmo fenômeno também são distintas, embora dificilmente sejam contrastantes. Dessa forma, em uma pesquisa com triangulação metodológica na escola hipotética do exemplo anterior, possivelmente, os resultados da etnografia coadunariam com os resultados do levantamento e do experimento. Uma escola com altos índices numéricos de violência tenderia a permitir que um etnógrafo observasse mais episódios de violência. A principal diferença jaz na forma de interpretação dos resultados e nas conclusões possíveis diante destes. Triangulação é um procedimento adotado em pesquisa que visa a analisar diferentes facetas de um mesmo fenômeno. A triangulação metodológica refere-se à utilização de mais de um método de pesquisa de modo a coletar dados distintos que auxiliem o pesquisador na resposta ao seu problema de pesquisa. 4.1 Como realizar uma etnografia De acordo com Mattos (2011, p. 50), “a etnografia é um processo guiado preponderantemente pelo senso questionador do etnógrafo”. Não segue uma estrutura rígida de ação, pois a interação do pesquisador com o grupo pesquisado orientará o andamento da etnografia. Entretanto, segundo o autor, ao realizar uma etnografia, o pesquisador deve: 1) preocupar-se com uma análise holística ou dialética da cultura; 2) introduzir os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica e modificadora das estruturas sociais; 3) preocupar-se em revelar as relações e interações significativas de modo a desenvolver a reflexividade sobre a ação de pesquisar, tanto pelo pesquisador quanto pelo pesquisado. (MATTOS, 2011, p. 4).Uma pesquisa etnográfica segue, de forma geral, as seguintes etapas: A inserção na comunidade A pesquisa etnográfica inicia com a inserção do pesquisador na comunidade. Em alguns espaços, essa inserção necessitará de aprovação dos membros dessa comunidade. Essa aprovação reverbera em critérios éticos, mas também tem impactos metodológicos. Um psicólogo que busca estudar a construção do vínculo pós adoção não pode simplesmente adentrar o cotidiano de uma família que tenha passado por esse processo sem a permissão e aprovação do grupo. Mesmo em situações menos intimistas, como o estudo de práticas comunitárias em bairros, a presença do pesquisador pode não ser bem vista e o fenômeno de interesse da pesquisa pode ser ofuscado por uma reação adversa do grupo. Assim, é importante que haja diálogo prévio com os participantes antes de iniciar o processo. A coleta/produção dos dados O pesquisador que utiliza o método etnográfico deve estar preparado para executar a observação e descrição dos fenômenos pesquisados. É importante que se saiba até que ponto o fenômeno observado está ocorrendo de forma “pura” ou está sofrendo influência da presença do pesquisador. O diário de campo é uma ferramenta fundamental nesse processo, pois nele o pesquisador descreve e estabelece as primeiras formulações sobre o fenômeno pesquisado. Entrevistas podem ser adotadas de modo complementar. As entrevistas não-estruturadas ganham destaque nesse método, diante da sua flexibilidade de temas. Ademais, Mattos (2011) afirma que os instrumentos utilizados na etnografia podem variar, conforme o cenário de pesquisa demande. Análise dos dados Apesar de centrar-se na observação participante, a etnografia pressupõe que o pesquisador dê voz aos atores sociais parte da comunidade estudada. É importante centrar-se na comunidade e seus atores, não apenas nas interpretações do pesquisador. O pesquisador busca compreender qual o significado de certo fenômeno. Entretanto, vislumbra compreender qual o significado desse mesmo fenômeno na perspectiva do grupo estudado. A interação desses saberes enriquece as conclusões de uma pesquisa etnográfica. Mattos (2011) propõe a microanálise etnográfica, a qual exige do pesquisador um “detalhamento criterioso na descrição do comportamento através da transcrição linguística verbal e não-verbal de comportamento - olhares, pausas, tom de voz, detalhes da interação e o que isto significa” (p. 28). Devolutiva A pesquisa em psicologia, em geral, pressupõe uma devolutiva, informando quais as conclusões do pesquisador acerca do fenômeno estudado. Essa devolutiva deve ser compreensível para a comunidade estudada. Embora muitos estudiosos negligenciem esse momento, a apresentação das conclusões da pesquisa ao grupo participante relaciona-se com o compromisso ético do pesquisador. 5 Documentação e comunicação científica A escrita tem um propósito fundamental no avanço da ciência. Por um lado, através da escrita, os profissionais podem levar avanços científicos para a comunidade leiga, caracterizando uma importante função da divulgação científica. Por outro, ao escrever e divulgar resultados de pesquisa e outros textos científicos, o pesquisador difunde na academia o conhecimento produzido. Ao estar público, o conhecimento científico pode: a) auxiliar pesquisadores interessados em temas semelhantes; b) subsidiar políticas públicas e a construção de novas tecnologias dependentes do saber produzido; c) pôr à prova os resultados da pesquisa. Este último item corrobora as características da ciência debatidas anteriormente nessa disciplina. O conhecimento científico é passível de comprovação, ou refutação. Quando um pesquisador divulga seu trabalho, ele não só contribui com a área estudada, mas põe seus dados à disposição para reavaliação. Esse processo é fundamental para o avanço da ciência. 5.1 Formatos de documentação científica Historicamente, os livros foram os principais meios de registro científico. Sua popularização ganhou fôlego na idade moderna, principalmente após a invenção e difusão da imprensa. Até hoje, os livros acadêmicos possuem grande valia, principalmente pela menor limitação de formatos e número de páginas, o que permite que o pesquisador descreva de maneira mais completa seus achados. Com o avanço da tecnologia, a ampliação da ciência e as novas demandas do meio acadêmico, foram surgindo novos formatos que cumprem o dever de permitir a divulgação da ciência. A seguir, serão definidos os mais recorrentes formatos de documentação científica no cenário acadêmico atual. Artigo científico O artigo científico é o modelo de texto acadêmico atualmente preferido pela comunidade acadêmica. Ele substituiu, em grande parte, a publicação de livros, dado o seu caráter mais objetivo, que condiz com a agilidade na produção do conhecimento observada nos dias atuais (KOLLER et al., 2014). Os artigos científicos atendem a públicos interessados em pesquisa, buscando aprimorar-se na atividade profissional, buscando ferramentas para ensino ou simplesmente procurando informação. Koller et al. (2014) ressaltam que, apesar da expansão dos periódicos acadêmicos focados em artigos científicos ter ampliado a divulgação científica, a maior parte dos artigos submetidos para publicação são reprovados. Segundo as autoras, daqueles que são aceitos, 75 a 85% não apresentam relevância; cerca de 50% dos artigos publicados contêm erros estatísticos e pelo menos 50% nunca são consultados ou citados. Para evitar que tais situações ocorram, indo no sentido contrário da proposta da ciência, sugere-se algumas ações: 1- Selecionar bem a revista para a qual será encaminhado o trabalho; Deve-se considerar o escopo da revista, seu público e sua base de indexação. Os indexadores são plataformas que agregam periódicos acadêmicos, facilitando sua difusão. 2- Criar perfis em sites de divulgação científica, como o Google Adadêmico®, ResearchGate®, ORCID®, dentre outros; Nesses sites, o pesquisador atualiza constantemente suas publicações, participa de redes de pesquisadores e pode divulgar melhor seus trabalhos. 3- Escrever resumos e abstracts bem elaborados; Eles são a porta de entrada do artigo e devem conter todas as informações referentes ao trabalho. Ademais, Koller et al. (2014) sugerem que o autor se coloque no lugar do leitor ao escrever o resumo, buscando ser atrativo e informativo. As palavras-chave também são importantes e devem apontar os principais temas do estudo. 4- Prezar pela qualidade; Em última instância, a qualidade do trabalho é o que garante sua difusão. Estudos com pouca contribuição para a área e formato inadequado tendem a ficar esquecidos, mesmo que aceitos para publicação. É importante que o artigo descreva a pesquisa (ou a parte relevante de uma pesquisa) que o originou, explicitando os objetivos e a metodologia adotada e apresentando resultados. Os resultados devem ser discutidos pelo autor, demonstrando as interpretações deste sobre o fenômeno estudado. Ao finalizar o texto, é importante que o autor retome o objetivo, de modo a refletir se ele foi atingido ao longo da pesquisa, e revele possíveis contribuições para o campo, bem como sugestões para novos estudos. Os artigos científicos podem apresentar distintos formatos. Em linhas gerais, seu formato depende das pesquisas que foram realizadas para formulá-lo. A seguir, serão descritos os principais formatos de artigo científico. Artigos de revisão de literatura Já vimos, no primeiro tópico desta unidade, os critérios que compõem uma revisão de literatura. Artigos de revisão de literatura são “avaliações críticas de materiais que já foram publicados, considerando o progresso das pesquisas na temática abordada” (KOLLER et al., 2014, p.40). Identifica-se, com esse processo, lacunas, contradições e inconsistências na literatura analisada. Essa análisepode produzir conclusões que orientem os interessados no tema. Um artigo de revisão de literatura segue basicamente as seguintes etapas: VER QUADRO NO AVA #PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de três colunas e cinco linhas, apresentando as quatro etapas de um artigo de revisão de literatura com a descrição de cada etapa e a sugestão de como fazê-la. Assista aí Artigos de revisão teórica Artigos teóricos são aqueles cujo principal objetivo é discutir conceitos de uma teoria, ou confrontá-los entre teorias. O foco, portanto, são aspectos teóricos em essência. Os artigos de revisão teórica tendem a adotar menor quantidade de referências do que as demais revisões de literatura, e o pesquisador foca em materiais que darão substrato para a discussão a ser realizada. Espera-se que haja proximidade entre o pesquisador e o tema pesquisado na realização desse tipo de estudo. Artigos empíricos Artigos empíricos são aqueles decorrentes de pesquisas empíricas. Nas unidades anteriores, você aprendeu como planejar um projeto de pesquisa e, portanto, conhece as etapas de sua realização. No artigo empírico, supõe-se que haja uma transcrição da sistematização desse projeto, acrescido dos resultados e discussões oriundos da pesquisa. Embora as nomenclaturas possam variar, e as demandas do periódico possam sugerir alterações, os artigos empíricos em geral obedecem à seguinte estrutura: VER QUADRO NO AVA #PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de duas colunas e sete linhas, apresentando um breve glossário com itens necessários em artigos e seus respectivos significados. Resenhas críticas Diferente do artigo científico, as resenhas são textos que não provêm de pesquisa. Elas funcionam como guias para leitores, ao descrever uma obra selecionada através de um ponto de vista crítico. Resenhas costumam ser acatadas por periódicos quando referentes a obras recentes, de modo a apresentar a obra aos leitores. Na resenha, o autor analisa uma obra trazendo informações sobre quem a escreveu e quais os principais temas tratados no texto, tendo a possibilidade de concluir destacando seus pontos fracos ou fortes, o que pode culminar em indicação da obra para algum público específico. #PraCegoVer: A imagem mostra uma tabela de duas colunas e sete linhas, apresentando um breve glossário com itens necessários em artigos e seus respectivos significados. Resenhas críticas Diferente do artigo científico, as resenhas são textos que não provêm de pesquisa. Elas funcionam como guias para leitores, ao descrever uma obra selecionada através de um ponto de vista crítico. Resenhas costumam ser acatadas por periódicos quando referentes a obras recentes, de modo a apresentar a obra aos leitores. Na resenha, o autor analisa uma obra trazendo informações sobre quem a escreveu e quais os principais temas tratados no texto, tendo a possibilidade de concluir destacando seus pontos fracos ou fortes, o que pode culminar em indicação da obra para algum público específico. 5.2 Divulgação científica: poster e comunicação oral Reafirmando a necessidade de divulgação, a comunidade acadêmica organiza frequentemente espaços nos quais estudantes, profissionais e acadêmicos possam apresentar seus estudos e experiências para o público, permitindo debates e críticas diretamente ao autor. Congressos, encontros, jornadas, dentre outros modelos de eventos acadêmicos reservam espaços para essa finalidade. Em geral, os interessados podem apresentar seus trabalhos em formato de pôster acadêmico ou de comunicação oral. Os trabalhos apresentados compõem os anais do evento, um importante registro científico. Através da análise de anais de evento, é possível identificar quais temas têm preocupado a comunidade acadêmica e traçar um panorama sobre esse cenário. No Brasil, o sistema responsável por agregar toda a produção científica nacional é a Plataforma Lattes. A plataforma organiza os grupos de pesquisa e currículos de pesquisadores, permitindo a sistematização das produções de interesse acadêmico. Os pesquisadores são responsáveis por atualizarem seus currículos, auxiliando o alcance da plataforma e permitindo que o Estado tenha a dimensão aproximada da produção científica no país. 5.3 Plágio e autoplágio Plágio corresponde a “assinar ou apresentar como sua a obra de outrem, imitar o trabalho alheio” (KOLLER et al., 2014, p. 110). A mesma autora define plágio como: Plágio pode ser definido, então, como o uso de ideias (publicadas ou não) de outros sem a devida referência. Inclui o envio de projetos para editais de pesquisa e submissões de artigos completos somente com alteração do nome do autor. Isso pode acontecer, ainda, na tradução para outra língua e ser verificada em todos os estágios da pesquisa (projeto, coleta e análise de da- dos e publicação) (KOLLER et al., 2014, p. 112) Essa prática é considerada antiética devido à utilização da propriedade intelectual alheia e por ser contrária ao princípio da evolução científica (já que consiste em uma repetição apresentada como se fosse um saber novo). Sob esse último critério, merece destaque o autoplágio. Apesar de autoplágio não configurar uma tomada de conteúdo de outro autor sem autorização, a apresentação de uma ideia já publicada como se fosse original é considerada uma prática antiética no cenário científico. O uso de referências, existente em todas as normativas de padronização, evita que o autor cometa plágio na escrita acadêmica. É fundamental citar todos os autores que basearam a escrita do texto, apontando a origem da ideia (qual livro, artigo, ou outro material que consta a ideia original), incluindo sua paginação, quando a citação for literal. Atualmente, há softwares específicos que localizam plágio em textos, muitos deles de uso gratuito. Os softwares fazem uma busca na internet para localizar expressões, frases e até parágrafos iguais ou muito semelhantes ao do texto analisado. É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: conhecer os fundamentos das metodologias qualitativas, quantitativas e mistas; se aproximar de importantes procedimentos metodológicos adotados na psicologia; compreender a importância das narrativas como forma de acesso a conteúdos subjetivos; conhecer a etnografia e sua aplicabilidade na psicologia; debater sobre os principais formatos de documentação científica e os processos de divulgação. REFERÊNCIAS