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e-Book 2
Michel Marcelo de França
SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA
Sumário
INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3
SEMÂNTICA LEXICAL E SEMÂNTICA 
ESTRUTURAL ������������������������������������������������� 5
Conceito de campo lexical ��������������������������������������������������� 7
A análise componencial (traços semânticos) �������������������� 9
A semântica relacional (sinonímia, hiponímia, antoní-
mia, polissemia) ������������������������������������������������������������������ 11
A ANÁLISE ESTILÍSTICA, A 
LINGUÍSTICA E A GRAMÁTICA ��������������������14
O MÉTODO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA �������� 24
O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS E 
FRASES: SENTIDO DENOTATIVO E 
CONOTATIVO �����������������������������������������������30
PROCESSOS FIGURATIVOS: AS 
FIGURAS DE ESTILO ������������������������������������36
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & 
CONSULTADAS ��������������������������������������������43
3
INTRODUÇÃO
Neste e-book estudaremos a estilística e os seus 
aspectos semânticos� Iniciaremos por conhecer 
as bases da semântica lexical enquanto vertente 
da semântica estrutural de abordagem represen-
tacional� Posteriormente, adentraremos o conceito 
de campo lexical, passando pelo modelo de aná-
lise semântica componencial e pelas relações de 
sentidos estabelecidas entre as palavras, como: 
sinonímia, hiponímia, antonímia e polissemia� 
Em seguida, você conhecerá aspectos da análise 
estilística em relação à Linguística e à gramática� 
Na ocasião, você estudará algumas correntes da 
trajetória evolutiva da estilística, seus principais 
teóricos e definições. Adiante você terá a aplicação 
teórica dos pressupostos da estilística na constru-
ção de um método de análise� Estudaremos ainda 
os significados das palavras e frases quanto ao 
seu caráter denotativo e conotativo. Por fim, fare-
mos um estudo sobre os processos figurativos e 
sobre as figuras de estilo, também denominadas 
como figuras de linguagem, a partir de suas quatro 
categorias: figuras de palavras ou semânticas, de 
sintaxe ou construção, de pensamento e as de 
som ou harmonia� Ao longo desse percurso você 
entenderá como os estudos semânticos contribuem 
para o desenvolvimento dos estudos estilísticos 
e vice-versa� Entenderá como a composição do 
4
estilo transcende os aspectos individuais da lín-
gua e adentram a linguagem por meio do material 
linguístico contido na própria língua�
55
SEMÂNTICA LEXICAL E 
SEMÂNTICA ESTRUTURAL
Nos estudos semânticos não há apenas um único 
campo tampouco uma única abordagem investigativa� 
Não bastassem as divisões, ainda nos deparamos 
com algumas subdivisões� Dentre elas, é preciso 
conhecer as áreas denominadas como semântica 
formal e semântica representacional, a fim de que 
se possa evoluir para a lexical e compreender a 
sua relação com a semântica estrutural�
A semântica formal e/ou referencial tem em seu 
conjunto investigativo a relação entre as palavras e 
as sentenças de uma língua� Aplica-se a noções do 
mundo sobre o qual se fala, portanto está relacio-
nada ao “mundo público”, valendo-se de elementos 
não linguísticos, tais como valores de verdade, 
atribuindo ao significado caráter informacional 
que referencia o que se fala (CANÇADO, 2012).
Enquanto a semântica representacional trata 
do significado cognitivo, ou seja, aquele sobre a 
qual se estabelece a relação entre a língua e os 
componentes mentais (significado/significante) 
capazes de representar (codificando e decodifi-
cando) o conhecimento semântico do falante de 
um determinado idioma�
66
Em 1957, Hjelmslev funda a semântica estrutural 
com o objetivo de desenvolver uma investigação 
imanente, sem categorias de significado fundamen-
tadas em qualquer classificação extralinguística. 
A semântica contrastiva possui como objeto de 
investigação o léxico, baseada nos moldes analí-
ticos e discricionários da fonologia e da sintaxe. A 
construção de sentido se limita à análise do léxico, 
desconsiderando os elementos extralinguísticos 
como unidades de sentido�
Assim, a frase é entendida como uma segmentação 
lógica e o período como uma fisiologia emocional. 
A dicotomia saussuriana sobre os eixos paradig-
mático e sintagmático contribui para a relação 
entre as escolhas lexicais e a organização lógica 
constituída na construção do sentido durante a 
operacionalização do sistema linguístico�
A semântica lexical é uma abordagem represen-
tacional. Ou seja, em seu escopo de estudo está 
a relação entre língua e representação mental, 
desconsiderando o mundo público. Ocupa-se espe-
cificamente do sentido das palavras resultante da 
junção entre propriedades linguísticas e o sentido 
dos itens lexicais (CANÇADO, 2012).
Como adepta da abordagem representacional, a 
semântica lexical propõe uma análise teórica dis-
cricionária dos sentidos dos itens lexicais como 
77
representações mentais da língua, denominado por 
Chomsky como uma capacidade mental individual e 
interna dos falantes, permitindo a eles que possam 
produzir e entender diferentes sentenças e suas 
línguas nativas. Assim, pode-se definir a semântica 
lexical como o estudo dos sentidos das palavras 
de categoria lexical por meio de uma abordagem 
representacional (CANÇADO, 2012, p. 16).
A semântica lexical comporta diferentes tipos 
de fenômenos e abordagens que se subdividem 
em dois campos de estudo. O primeiro se ocupa 
do sentido das palavras e da relação entre esses 
sentidos. O segundo busca determinar quais pro-
priedades semânticas impactam a organização 
sintática das sentenças�
Segundo Cançado (2012, p.17), o primeiro campo 
de estudo que pode ser chamado de semântica 
lexical foi fundado por volta de 1930 a 1960, a 
partir da Linguística estruturalista, orientado 
pelo trabalho de Ferdinand de Saussure� Frente 
à variedade de proposições teóricas e métodos 
descritivos oriundos dessa concepção estrutural, 
há três pontos que as distinguem:
CONCEITO DE CAMPO LEXICAL
O conceito de campo lexical ou campo semântico é 
empregado na descrição de um grupo de palavras 
que compactuam alguma relação de sentido entre 
88
si, dentro de um mesmo domínio� São palavras 
que orbitam o mesmo espaço discursivo em torno 
de um polo significativo dado por uma relação de 
contiguidade e associação�
Figura 1: Campo semântico�
COMPUTADOR
LIVROS PROFESSOR
AULAS
INTERVALOLABORATÓRIO
ESCOLA
ESTUDAR
ALUNOS
Fonte: Elaboração própria�
Note que a constelação de palavras em torno da 
palavra “Escola” estabelece com ela uma relação 
de sentido dada por associação e contiguidade� 
Na escola há professor, alunos, livros; escola está 
associada à ideia de estudar, de aulas etc�
Dentro da semântica cognitiva, a concepção de 
campo lexical assume outra face, dada por uma 
abordagem denominada como “semântica de 
frames”, na qual as palavras são analisadas como 
conectoras de frames (estruturas). Isso significa 
que a busca pelo sentido das palavras implica o 
acesso a estruturas do conhecimento humano 
99
relacionadas à sua experiência de vida� Tomando 
como exemplo a palavra “escola”, para que seja 
constituída uma constelação semântica em torno 
dela, pressupõe-se que o falante tenha acesso ao 
conhecimento que possui estocado em sua me-
mória, a fim de que possa estabelecer as relações 
de sentido� Em síntese, as palavras de um mesmo 
campo semântico se relacionam aos mesmos 
frames ou a semelhantes (CANÇADO, 2012).
A ANÁLISE COMPONENCIAL 
(TRAÇOS SEMÂNTICOS)
Um segundo tipo de estudo dentro da semântica 
lexical trata da análise composicional� Embora 
desfocada enquanto abordagem teórica, ainda é 
empregada por pesquisadores de inúmeras áreas 
da Linguística� À guisa de exemplo, sua aplicação 
se propõe à análise e atribuição de restrições 
selecionais verbais, proposta nos estudos de 
Chomsky (1965), que apresenta sua proposta de 
sintaxe gerativista� Note que as palavras menino e 
menina podem ser analisadas componencialmente 
por meio de seus traços semânticos.Observe a 
figura a seguir:
1010
Figura 2: Restrição selecional do verbo “engravidar”�
A MENINO
+ animado
+ adulto
+ bonito
+ humano
+ masculino
A menina engravidou�
B MENINA
+ animado
+ adulto
+ bonito
+ humano
- masculino
B
O menino engravidou�A
Fonte: Adaptado de Cançado (2012, p. 19).
Observe que esses traços semânticos podem ser 
empregados para determinar restrições selecionais 
dos verbos� No exemplo, o verbo “engravidar” pos-
sui restrição selecional de (-masculino), fazendo 
com que a sentença (B) seja válida, ao passo que 
a sentença (A) seja considerada anômala.
Tal como a gramática gerativa, a semântica cogni-
tiva também faz uso dos traços semânticos para 
conceituar as categorias. O fato de que os elemen-
tos devem possuir o mesmo grupo de traços gera 
muitas críticas a essa abordagem de classificações 
estanques, fundada em entidades nas quais os 
elementos são mais prototípicos, mais centrais, 
e mais periféricos, ou seja, menos centrais. Isso 
faz com que as categorias sejam estruturadas de 
forma gradual, a partir de seus traços semânticos 
e não de forma representacional.
1111
A SEMÂNTICA RELACIONAL 
(SINONÍMIA, HIPONÍMIA, 
ANTONÍMIA, POLISSEMIA)
O terceiro ponto da semântica lexical de base 
estruturalista trata das relações de sentidos esta-
belecidas entre as palavras� Essas relações exis-
tem de vários tipos, como: sinonímia, hiponímia, 
antonímia, polissemia�
Tabela 1: Tipos de relações lexicais�
Sinonímia Miriam comeu correndo o 
doce que achara�
o sentido das 
palavras em 
destaque é 
correspondente
Ricardo jamais comia de-
pressa à mesa, apenas em 
seu quarto�
Hiponímia Nada exalava melhor que o 
aroma das rosas no jardim 
à tarde�
o sentido das 
palavras em des-
taque estabelece 
uma relação de 
contiguidade�
O campo é das flores, não 
dos homens�
Antonímia Seu custo mensal era baixo 
em vista de seus extraordi-
nários ganhos�
o sentido das 
palavras em des-
taque estabelece 
uma relação de 
oposição�
A alta no preço dos alimen-
tos aumentava a sensação 
de miséria em que vivia�
Polissemia A letra da canção de Michel 
França é sempre intrigante�
o sentido das 
palavras em 
destaque apre-
senta significados 
distintos, apesar 
de dentro de um 
mesmo campo 
semântico�
Sua letra como um desenho 
contornava o papel com 
leveza e sutileza�
Fonte: Elaboração própria�
1212
Em linhas gerais, essas relações são essenciais 
para a produção das conexões sintáticas entre 
termos e sentenças� A trama argumentativa pode 
ser tecida por meio de encadeamento de relações 
de sinonímia e antonímia� Exemplo:
 y O moço alto agarrou o rapaz baixo� Um bravo 
outro calmo� Ambos tomados pela loucura�
Nota-se no exemplo que entre moço/rapaz, um/
outro há uma relação de hiponímia, ao passo que 
entre alto/baixo, bravo/calmo estabelece-se uma 
relação de antonímia� Vejamos mais um exemplo:
 y Roberto abraçou a mulher = acarreta / para-
fraseia = Roberto abraçou a moça�
 y Cibele trabalhou na fábrica = acarreta / para-
fraseia = Cibele trabalhou na indústria�
Esse tipo de construção sintática também está a 
serviço do desenvolvimento de bancos de dados, 
como Wordnet (acesse: http:/wordnet.princeton.
edu/)�
E, assim, estudamos a semântica lexical, uma abor-
dagem de vertente estruturalista que se ocupa da 
busca pelo sentido das palavras e a relação entre 
esses sentidos na composição das sentenças� 
http:/wordnet.princeton.edu/
http:/wordnet.princeton.edu/
1313
Entre seus enfoques, estão o estudo dos campos 
lexicais, a análise componencial e a semântica 
relacional� Cabe registrar que algumas dessas 
análises também se aplicam a outros campos da 
Linguística como a semântica cognitiva, a gramá-
tica gerativa e a linguística de corpus�
14
A ANÁLISE ESTILÍSTICA, 
A LINGUÍSTICA E A 
GRAMÁTICA
A Estilística contemporânea tem o conteúdo da 
expressão associada ao desenvolvimento da Lin-
guística moderna, estabelecendo relações entre 
língua, pensamento e locutor� Nesse espectro 
está o estudo das figuras de linguagem, formas 
de construção textual e seus aspectos fonéticos, 
sintáticos e semânticos; os gêneros e as intenções 
dos falantes. Por isso, para entender a derivação 
e as relações da Estilística contemporânea com a 
Linguística, desde Saussure, a Linguística apoia-se 
nas relações entre forma e conteúdo das expres-
sões, com base na dicotomia do signo linguístico, 
significante (forma da expressão) e significado 
(conteúdo da expressão). Esse princípio faz da 
língua um acervo dessas relações, nas quais re-
pousam as linguagens como objeto dinâmico do 
uso dos signos e da língua por parte dos falantes.
O estudo da relação entre texto e estilo no uso da 
língua concentra-se na investigação dos processos 
de expressividade da linguagem e no uso elegante e 
estilístico das palavras, considerando as imprecisões 
e o subjetivismo responsáveis por caracterizar os ele-
mentos afetivos de produção de sentido no discurso.
15
O conceito de estilo – a priori o objeto da Estilística – 
é de grande complexidade� Pesquisadores divergem 
sobre sua concepção, gerando inúmeras definições e 
explicações sobre o fenômeno. No conceito de Matoso 
Câmara, estilo é a linguagem que transcende do plano 
intelectivo para originar a emoção e a vontade, é a de-
finição de uma personalidade em termos linguísticos 
(CÂMARA, 1978, p�13)�
Desde sua fundação em 1902, por Charles Bally, a 
Estilística se ocupa de estudar a língua enquanto 
expressão linguística, verificando o aparato expres-
sivo da língua, em sua totalidade, distanciando-se 
do estudo dos estilos individuais, e assim afas-
tando-se da literatura� A antiga Retórica dá lugar 
à Estilística, abandonando os preceitos do uso da 
língua fundamentado em regras gramaticais frias 
como modelo de expressividade, uma vez que a 
língua é uma expressão do homem, e como tal 
deve evoluir com ele e com os seus costumes, 
hábitos, ideias e usos�
Uma alteração conceitual de linguagem e de estilo 
eclode desse novo cenário� Em curso, duas gran-
des escolas dos estudos estilísticos denominadas 
“descritiva” e “idealista” concorrem entre si no tra-
tamento do texto� A tradição apresenta a Estilística 
como ciência e arte de bem escrever, falar e dizer, 
FIQUE ATENTO
16
de acordo com a língua padrão� Todavia, ao longo 
da história linguística, observam-se diferentes 
acepções à expressão Estilística que, a partir de 
Saussure e seus discípulos, revestem-se de novas 
considerações que convergem para um modelo 
de análise da línguas, estilo e usos na geração de 
efeito de sentido.
Os estudos de Charles Bally concentram-se nos 
aspectos afetivos da língua falada, no material 
de que se servem os usuários, no qual reside 
sua espontaneidade, contudo em observância às 
regras da gramaticalização, conforme previsto 
no sistema expressivo descrito e legitimado pela 
Estilística� Assim, concebe a linguagem sob duas 
faces: a intelectiva ou lógica e a afetiva, analisando 
os efeitos da afetividade, a fim de observar de que 
forma a impessoalidade linguística se transforma 
na produção da fala. Também propôs uma dis-
tinção entre o conteúdo linguístico e o conteúdo 
estilístico, para demonstrar as múltiplas possibi-
lidades de se investigarem as diversas maneiras 
da expressão verbal�
Desse modo, a partir da perspectiva saussuriana, 
podemos afirmar que Bally dedica-se aos estudos 
da langue, voltando-se para o sistema expressivo 
da língua, distanciando-se, portanto, do estudo da 
parole, ou seja, do uso individual da língua com o 
qual a literatura se preocupava� Essa postura aju-
17
da a evidenciar os efeitos de significativos pelos 
quais são manifestados os sentimentos (prazer, 
admiração, aprovação, gírias, linguagem do traba-
lho, poética etc�)�
A Estilística estuda os fatos da expressão da linguagem, 
a partir do seu conteúdo afetivo, isto é, a expressão dos 
fatos da sensibilidade pela linguagem e a ação dos fatos 
da linguagem sobre a sensibilidade (COELHO; ARAÚJO, 
2016, p. 26).
Ainda na perspectiva saussurianaem relação à 
langue, a Estilística assume uma concepção de es-
tudo da língua enquanto sistema de expressividade, 
evidenciando a língua como representação mental 
da realidade, a fim de expressar a subjetividade dos 
usuários, segundo pontua Câmara (1978, p.10):
“A língua, no conceito saussuriano, se deduz apenas da função representativa, pois compreende a 
estrutura, o esquema, o padrão ou a pauta que rege, 
em termos linguísticos, a nossa representação do 
mundo exterior e interior� Resulta de um trabalho de 
intuição infrarracional, mas de caráter intelectivo, 
que justamente a gramática se propõe a trazer para 
o plano da consciência, pondo-lhe em evidência os 
sistemas de sons, de formas, de significações e de 
REFLITA
18
ordenação de elementos, ou sejam – o fônico, o 
mórfico, o semântico e o sintático.”
Por se tratar de universo vasto, os estudos esti-
lísticos não possuem procedimentos teóricos e 
metodológicos únicos para estabelecer parâme-
tros à análise linguístico-expressiva dos textos� 
Os fatos estilísticos são observados mediante as 
manifestações próprias da estrutura da língua. 
Assim, fundamentados em Coelho e Araújo (2016), 
enumeramos as teorias e as definições de cada 
escola estilística, para compreensão didática e 
desenvolvimento de metodologias de análise 
estilística�
Tabela 2: Trajetória Estilística�
CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES
Descritiva Bally Ma-
rouzeau 
Cressot
A Estilística investiga a expressão 
dos fatos da sensibilidade pela 
linguagem e a ação dos fatos de 
linguagem sobre a sensibilidade 
em três campos de aplicação: a) a 
linguagem em geral (os universais 
estilísticos); b) uma dada língua (a 
Estilística da langue) e c) o sistema 
expressivo de um indivíduo isolado 
(a Estilística da parole)�
19
CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES
Idealista Leo 
Spitzer 
Dámaso 
Alonso 
Amado 
Alonso 
Devoto 
José Luis 
Martín 
Helmut 
Hatzfeld
A Estilística é a reflexão, de cunho 
psicologista, sobre os desvios da 
linguagem em relação ao uso co-
mum; uma emoção, uma alteração 
do estado psíquico normal, provoca 
um afastamento do uso linguístico 
normal; um desvio da linguagem 
usual é, pois, indício de um estado 
de espírito não habitual. O estilo do 
escritor – a sua maneira individual 
de expressar-se – reflete o seu 
mundo interior, a sua vivência�
Estrutural Rifaterre
Samuel 
Levin 
Dolezel
A Estilística é o estudo exclusivo 
da mensagem, negando a pertinên-
cia estilística do sistema (o que 
se pode considerar uma posição 
radical contestável). O estilo é fato 
resultante da forma da mensagem 
e repousa sobre uma dupla série de 
procedimentos: uns decorrentes de 
uma convergência (paralelismo, co-
locação de elementos linguísticos 
equivalentes – fônicos e semânti-
cos – em posições equivalentes), e 
outros decorrentes dum contraste 
de signos [...]. O estudo do estilo só 
pode ser definido em função do lei-
tor, sendo destituída de pertinência 
estilística toda referência ao autor.
20
CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES
Gerativa Ohmann As análises estilísticas que se fun-
damentam na teoria gerativo-trans-
formacional optam por um enfoque 
desviacionista. O ponto de partida é 
a constatação de que, na literatura 
em geral e na poesia em particular, 
é muito comum a ocorrência de 
frases tidas como agramaticais 
ou inaceitáveis para o falante. A 
explicação deste fenômeno subjaz 
no fato de que a linguagem literária 
viola o sistema de regras sintáticas 
e semânticas que constituem a 
gramática padrão� E, assim, o obje-
to da Estilística gerativa não seria 
outro senão o de definir as regras 
de uma gramática da literatura�
Retórica Dubois O esquema proposto por Dubois 
parte da distinção, concebida 
por Hjelmslev, entre os planos 
da expressão e do conteúdo� No 
plano da expressão, distingue os 
metaplasmos das metataxes; no do 
conteúdo, os metassememas dos 
metalogismos [���]� Mas, seja como 
for, a Retórica passa a ser redefini-
da como um conjunto de desvios 
(metáboles) que modificam o nível 
de redundância da língua, o que se 
torna perceptível em virtude de uma 
marca� E a análise de tais altera-
ções, que incidem em qualquer 
aspecto da língua, constitui um 
campo fértil para a descoberta dos 
fatos de estilo.
21
CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES
Poética Jakobson
Cohen 
Delas 
Filliolet
O estudo linguístico da função 
poética deve ultrapassar os limites 
da poesia e, por outro lado, a 
análise linguística da poesia não 
pode circunscrever-se à função 
poética. Não é difícil perceber que 
os recursos existentes nas mensa-
gens literárias aparecem também 
na linguagem da publicidade ou em 
qualquer manifestação linguística 
em que, de uma forma ou de outra, 
o usuário exerça um domínio sobre 
a língua quando a emprega para 
fins expressivos.
Semiótica Blanchard Os métodos linguísticos devem 
ultrapassar o domínio da frase para 
dar conta dos mecanismos estrutu-
radores do discurso, surgiu também 
uma tendência para ampliar os 
limites da poética, passando a obra 
literária a ser vista dentro de uma 
configuração muito mais abran-
gente. A Estilística reformulada 
semioticamente é concebida como 
uma disciplina cujo escopo englo-
baria todos os temas relacionados 
às linguagens enquanto sistema de 
signos�
22
CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES
Estatística Guiraud
Monteiro
Roche
É pela frequência das palavras ou 
de qualquer elemento que o escritor 
age sobre o leitor, sendo o estilo 
resultante de um desvio que se de-
fine quantitativamente em relação a 
uma norma� Surge daí uma hipóte-
se bastante sedutora que se liga à 
questão das palavras-tema e das 
palavras-chave� As primeiras são 
as mais empregadas num determi-
nado corpus; as outras são aquelas 
cuja ocorrência se caracteriza 
como um desvio [...]. O uso mais 
ou menos generalizado de uma 
expressão é que cria e condiciona o 
seu valor estilístico�
Fonte: Baseado em Coelho & Araújo (2016, p. 34).
O quadro nos mostra que há limites tênues entre 
os campos de investigação da Estilística� Toda-
via é possível notar o espaço dado à produção, 
à recepção do estilo e à situação social de uso 
da língua quanto à veiculação dos significados 
determinantes na concepção estilística e na for-
ma como os métodos e processos analíticos são 
desenvolvidos. O estilo como desvio da norma 
gramatical à individualização da personalidade é 
marca da subjetividade e da pluralidade da capa-
cidade expressiva dos diferentes falantes de uma 
mesma língua, conforme observa Coelho e Araújo:
“Em Saussure, a língua é concebida com uniformi-dade e a competência gramatical gerativa pode-se 
23
expressar pelo conhecimento de um falante-ouvinte 
apurado. Os traços estilísticos se revelam na va-
riação linguística, no fato de o sujeito explorar os 
recursos expressivos, utilizando-se da diversidade 
de códigos� Estabelecer os papéis de uso da língua, 
a partir do esquema estrutural e situação social do 
usuário e perceber a diversidade na apresentação 
discursiva do falante. A distinção de um falante 
para outro se confirma por meio das diferenças 
entre a ordem estrutural das frases e a utilização da 
linguagem� Temos, assim, a língua exteriorizada na 
potencialidade expressiva e plural (2016, p. 36).”
Assim, a Estilística se revela imprescindível à 
compreensão da expressividade e aos efeitos 
de sentidos por ela desencadeados, tornando a 
língua um objeto de estudo não apenas intrigante, 
mas sim essencial� Nela está o material que nos 
permite representar os mais variados sentimentos 
e intenções� Sobretudo, lá reside o acervo que 
possibilita a cada indivíduo descrever, expressar 
e interpretar a realidade à luz de concepção de 
mundo individual e partilhada�
2424
O MÉTODO DE ANÁLISE 
ESTILÍSTICA
Conforme já estudamos, não há uma única forma 
de se abordar o texto sob uma concepção estilís-
tica, entretanto, ao tratarmos da questão do mé-
todo de análise estilística, especificamente, para 
o português do Brasil, evidenciar os trabalhos de 
Joaquim Matoso Câmara Jr. é condição sine qua 
non paraos estudos da área. O professor foi um 
dos pioneiros nas pesquisas estilísticas em nosso 
país� A obra Contribuição à Estilística Portuguesa 
é uma edição revista e ampliada de sua tese de 
livre docência em língua portuguesa elaborada 
no ano de 1952 na antiga Faculdade Nacional de 
Filologia da Universidade do Brasil. O livro está 
dividido em duas partes: a primeira reúne uma 
síntese das principais vertentes da estilística na 
primeira metade do século 20. A segunda parte 
apresenta análises estilísticas considerando os 
aspectos fônicos, léxicos e sintáticos da língua 
portuguesa�
Segundo Coelho e Araújo (2016), na obra de 
Câmara Jr. as possibilidades expressivas estão 
alicerçadas na concepção estilística das três fun-
ções da linguagem de Karl Bühler: representação 
(linguagem intelectiva), expressão (expressão ou 
manifestação psíquica) e apelo (linguagem afetiva 
2525
de Bally)� Portanto, concentra-se em apresentar a 
Estilística como estudo da língua enquanto sistema 
de expressividade, com destaque ao caráter da 
língua como representação mental da realidade, 
às utilizações por parte dos falantes e à finalidade 
de expressar a subjetividade dos usuários�
Vejamos um exemplo de aplicação da teoria na 
prática da construção de um percurso metodológico 
de análise estilística com base nos pressupostos 
apresentados sobre as três funções da linguagem.
Homem na estrada
Um homem na estrada recomeça sua vida
Sua finalidade a sua liberdade
Que foi perdida, subtraída
E quer provar a si mesmo que realmente mudou
Que se recuperou e quer viver em paz
Não olhar para trás
Dizer ao crime: nunca mais!
Pois sua infância não foi um mar de rosas, não
Na FEBEM, lembranças dolorosas, então
Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim
Muitos morreram sim, sonhando alto assim
Me digam quem é feliz
Quem não se desespera vendo
Nascer seu filho no berço da miséria
2626
Um lugar onde só tinham como atração
O bar, e o candomblé pra se tomar a benção
Esse é o palco da história que por mim será contada
Um homem na estrada [...] (Carlinhos Brown; Racionais 
MC, 1993)�
A letra da canção apresenta alguns elementos 
semânticos que revelam as características sociais 
do enunciador com vistas aos seus enunciatários� 
Expressões como “liberdade subtraída”, “viver em 
paz”, “não olhar para trás”, “dizer ao crime nunca 
mais” explicitam a condição marginalizada em que 
vive “o homem na estrada” a quem o enunciador 
se refere. O conjunto fonético de “paz, trás e mais” 
promove a trama argumentativa sonora em forma 
de rima� É possível ainda extrair desses conjuntos 
lexicais em seu contexto sintagmático que “paz, 
trás e mais” exercem função de advérbio de modo 
(paz), lugar (trás) e intensidade (mais), revelando o 
desejo de se distanciar dessa realidade em razão 
de todo sofrimento que essa condição vivida neste 
lugar (FEBEM) lhe traz�
Em outro trecho, “me digam quem é feliz”, “quem 
não se desespera vendo”, “nascer seu filho no 
berço da miséria”, novamente nos deparamos 
com o recurso estilístico da rima estabelecendo 
uma relação de sentido entre “desespera e misé-
ria” por meio de assonâncias. O uso do pronome 
obliquo “me” no início de frase contraria a norma 
2727
culta da linguagem, todavia promove um efeito de 
proximidade e dá ênfase à indagação proposta 
pelo enunciador�
“Filho e berço” estabelecem entre si uma relação 
de sentido de campo semântico por hiperonímia: 
filho, berço, mamadeira, fralda; no qual o enun-
ciador expressa sua indignação, sua dor, seu 
sofrimento pela miséria que priva seu filho de um 
futuro decente e que lhe impõe o mesmo destino 
de muitos outros: “sim, ganhar dinheiro, ficar rico, 
enfim. Muitos morreram sim, sonhando alto assim”.
Percebe-se que “sim e assim”, além de estabele-
cerem uma relação de sentido por proximidade 
fonética, ainda em suas funções morfossintáticas, 
corroboram a ideia de certeza do enunciador de 
como as coisas são para aqueles que sonham alto, 
aqueles que sonham em mudar a sua realidade 
com os poucos recursos de que dispõem�
Isso expressa, em parte, a descrença do enunciador 
de que algo pode vir a melhorar, declarando a sua 
certeza de como é o fim de quem vive em um lugar 
onde a “infância não é um mar de rosas”, em que a 
diversão está no “bar, e o candomblé pra se tomar 
a benção”, representando o primeiro um espaço de 
embriaguez como consolo à mente e o outro um 
lugar de magia e conexão com os ancestrais que 
2828
foram escravizados e que ali oferecem estímulos 
de força e esperança ao coração e ao espírito.
Após essa análise semântica e estilística dos 
enunciados que compõem a letra dessa canção, é 
possível perceber como os recursos empregados 
na arquitetura poética permitem acessar a visão 
mental que o enunciador possui sobre a realidade 
de sua vida e dos demais que convivem em situ-
ação de igualdade�
Isso nos leva a pensar conforme Boaventura e Freitas 
(2014), que afirmam que as noções de estilo e de 
literariedade guardam, naturalmente, similaridades� 
Pois, a forma como o enunciador narra os fatos 
de sua história retrata a realidade das favelas e 
demais comunidades carentes do Brasil, em sua 
maioria habitada por pretos e pardos, como faz a 
lente de uma câmera, quase que de forma literal.
Não obstante, revela que o estilo, nesse caso, 
não é uma opção, mas sim a melhor maneira de 
registrar a realidade mental individual e coletiva da 
vida na periferia, desassistida pelo Estado e pelo 
poder público, onde se destacam os sentimentos 
de desolamento, miséria, desprezo e desespero�
Tais conjecturas estilísticas produzem o efeito 
pretendido na medida em que expressam a dor 
e o pedido de socorro do enunciador, levando o 
enunciatário à reflexão sobre o seu papel enquanto 
2929
cidadão que ignora a vida na favela, sem contribuir 
socialmente para dirimir essas injustiças sociais 
que tanto sofrimento provocam ao seu semelhante. 
Crianças inocentes que já nascem com a certeza 
de um destino e que passam a vida lutando para 
mudá-lo. Essa é a expressão da falta de esperan-
ça, ou não? Somente a capacidade expressiva do 
texto poderá auxiliá-lo a responder essa questão�
Assista ao vídeo “As figuras de linguagem nas compo-
sições musicais de língua portuguesa: compreensão e 
produção de textos” para conhecer um pouco mais a 
respeito desses recursos� Disponível em: https://www2.
jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf�
SAIBA MAIS
https://www2.jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf
https://www2.jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf
30
O SIGNIFICADO DAS 
PALAVRAS E FRASES: 
SENTIDO DENOTATIVO E 
CONOTATIVO
Conforme já estudamos, os signos linguísticos, 
essências constitutivas das palavras, são com-
postos por um significante (imagem acústica) e 
um significado (conceito). Contudo, é sabido que 
um mesmo vocábulo ou léxico pode se aplicar a 
situações iguais e produzir diferentes sentidos e 
acepções. Isso quer dizer que o significado é rela-
tivamente estável, haja vista que um mesmo signo 
linguístico pode assumir outras representações 
para além da que está legitimada conceitualmente� 
Isso ocorre em razão das relações que as palavras 
podem estabelecer entre si em razão de um novo 
arranjo sintático, deslocamento morfológico ou 
mesmo em virtude da aproximação com outros 
fonemas que possam gerar sons diferentes do 
habitual. Sobre esses fenômenos de mudança de 
significado repousam os estudos sobre sentido 
denotativo e conotativo�
A denotação é concebida como a função represen-
tativa da linguagem em que a palavra está revestida 
do seu sentido original, ou seja, quando representa 
o seu sentido próprio, ou mesmo aquele em cuja 
31
acepção é a primeira registrada em seu processo 
de catalogação sobre o seu uso�
Já a conotação caracteriza-se pela possibilidade 
de expansão de significado de uma determinada 
palavra em razão do seu uso em contexto não 
habitual, produzindo um novo sentido para além 
de sua acepção original, a depender de sua rela-ção com outras palavras da frase para revelar seu 
real sentido dentro de uma determinada estrutura 
sintagmática�
Ainda sobre a conotação, é importante destacar 
que essa não se dá ao sabor do falante e de forma 
individual, ou seja, não se trata de uma criação 
particular de um falante, mas sim do composto 
plurissignificativo da palavra, cujo significado só 
pode ser obtido com precisão quando empregada em 
um determinado contexto� Portanto, pode-se dizer 
que a significação total de uma palavra comporta 
uma representação denotativa e outra conotativa, 
o que revela o caráter polissêmico das palavras�
Vamos a um exemplo:
 y (a) O meu gato comeu o peixe do aquário� A 
dúvida é: como ele conseguiu alcançar?
 y (b) O gato do José apareceu na casa da vizinha. 
Ela ficou enamorada dele.
32
Em (a) a palavra “gato” representa o seu sentido 
primeiro, ou seja, animal doméstico, felino. Con-
forme seu registro no dicionário. O contexto frasal 
nos permite esse entendimento quando nos dá 
mais informação como o verbo “comeu” e o seu 
respectivo complemento “o peixe”� Dado o acervo 
de representações que nós possuímos sobre um 
gato e um peixe�
Agora, observe em (b), ao lermos apenas a primeira 
oração, ainda temos a impressão de que a palavra 
gato está associada à representação de um ani-
mal, que é posse de um homem chamado José. 
Entretanto, ao completarmos a leitura da segunda 
oração, notamos que não se trata de uma relação 
de posse entre José e o gato, mas sim de uma 
analogia, ou seja, José é tão belo e formoso que 
se compara à beleza e ao charme de um felino.
A saber, as conotações por analogia são aquelas 
em que há uma semelhança entre o sentido que 
dela se depreende e o sentido dito denotativo, ou 
seja, o gato é um animal bonito e charmoso, por 
analogia se digo que José é um gato estou dizendo 
que ele possui os predicativos e atributos do felino.
Na realidade, todos os sentidos possíveis de uma 
palavra fazem parte de sua função representativa 
da linguagem� Toda palavra é essencialmente 
polissêmica, isto é, constitui-se de um conjunto 
33
de plurissignificações, umas efetivas e outras em 
potencial, que estão condicionadas a um deter-
minado contexto para existirem� Esses contextos 
emanam da experiência comunicativa partilhada, 
do contrário não há produção de sentido�
Vamos a outro exemplo:
 y Viviane é a cabeça da equipe de atendimento�
As conotações por analogia são aquelas em que 
há uma semelhança entre o sentido que dela se 
depreende e o sentido dito denotativo, como se 
pode verificar no exemplo anterior. Em cabeça, a 
conotação “líder, chefe ou membro principal do 
grupo” assemelha-se à denotação “parte superior 
do corpo dos animais bípedes�
De acordo com Botelho (2003), as conotações 
por contiguidade ou extensão são aquelas na 
qual a semelhança é de menor evidência, havendo 
apenas uma aproximação do seu sentido com o 
sentido denotativo ou por ser concebida a partir 
da extensão lógica de sentidos, como se verifica 
em “avistei da janela do ônibus o cachorro que 
me roubou”� A conotação em “cachorro” como 
“indivíduo veloz, traiçoeiro, vagabundo, larápio” 
se depreende a partir da extensão do sentido de 
“animal” que sugere aquela agilidade e esperteza, 
característicos de um assaltante�
34
No plano da denotação e da sinonímia, é impor-
tante frisar que não existem palavras totalmente 
sinônimas. Cada palavra possui um significado 
denotativo singular, podendo conter alguns elemen-
tos significativos de outras palavras. Motivo pelo 
qual alguns vocábulos apresentam significados 
semelhantes aos de outros, podendo ser usados em 
um mesmo contexto, em detrimento um do outro�
Vamos a exemplos:
 y A paz que invadiu o meu coração, de repente 
me encheu de paz (Gilberto Gil)�
 y A calma que entrou no meu coração, de repente 
me completou de paz�
Nota-se que o que ocorre nessas frases é uma si-
nonímia, ou seja, situação em que há semelhança 
semântica entre vocábulos ou estruturas sintáticas, 
pois nesse contexto os elementos de significação 
podem ser substituídos por elementos comuns, 
sem que haja perda no processo significativo.
Em síntese, esses e outros exemplos são apenas 
uma parte de uma gama de possibilidades na qual 
as palavras podem ser submetidas a transposições 
do sentido denotativo para o conotativo� Nesse 
sentido, precisamos ter em mente que o sucesso 
desse processo está condicionado ao acervo cultural 
dos usuários da linguagem, que devem partilhar 
35
os componentes significativos dos signos, a fim 
de que possam expandir sua significação.
Existem outras formas de produção de efeito de sentido 
muito comuns em nossa língua, como é o caso do uso 
dos diminutivos e aumentativos para expressar diferentes 
sentimentos e intenções�
SAIBA MAIS
3636
PROCESSOS FIGURATIVOS: 
AS FIGURAS DE ESTILO
Segundo Botelho (2003), a Estilística semântica 
estuda a significação ocasional e expressiva das 
formas gramaticais do léxico, buscando descrever 
o seu caráter polissêmico. É uma forma de estudo 
morfossemântico, que se baseia na relação deno-
tação-conotação, investigada como um fenômeno 
da Estilística Morfológica, fazendo da linguagem 
figurada o único objeto de investigação da Estilís-
tica semântica�
Conforme já estudamos, toda e qualquer palavra 
é polissêmica� Assim, para além de seu sentido 
denotativo, está previsto no sistema sígnico o seu 
sentido conotativo, possibilitando a produção de 
enunciados com componente significativo mani-
festo por meio do que denominamos como figura 
de linguagem�
A metáfora é considerada a rainha das figuras de 
linguagem, visto que toda e qualquer linguagem 
figurada dá-se a partir dela. De acordo com Botelho 
(2003), “a metáfora consiste na substituição de 
uma expressão por outra, cuja tonalidade afetiva 
se torna mais acentuada em virtude da sua trans-
ferência para um âmbito de significação que não 
lhe é particular”�
3737
A metáfora é um recurso estilístico de grande 
qualidade, uma vez que possui por excelência a 
função expressiva de destacar certos aspectos 
de um determinado vocábulo que não seria capaz 
de se expressar por si mesmo� Essa importância 
dada à metáfora como força criadora da linguagem 
humana é reconhecida desde a era aristotélica, 
podendo ser encontrada como artifício expressivo 
na poesia a exercer uma função polissêmica e de 
sinonímia, sendo também elemento enriquecedor 
de vocabulário e em tantas outras situações, na 
linguagem em geral�
As figuras de linguagem são formas de expressão 
que fogem à obviedade da linguagem comum ou 
denotativa� Elas acrescentam ao texto um signi-
ficado para além do sentido literal das palavras, 
permitindo a plurissignificação do enunciado e 
dando vazão a novos sentidos� Estilisticamente, 
denotam as características de produção de um 
determinado autor quanto ao seu lugar de estilo 
dentro de um gênero discursivo�
3838
Tabela 3: Figuras de linguagem�
Pala-
vras ou 
semân-
tica
Sintaxe 
ou 
cons-
trução
Pensa-
mento
Som ou 
Harmo-
nia
Anto-
nomá-
sia/ 
Perífra-
se
substi-
tuição 
de um 
termo 
por 
outro 
que o 
carac-
terize�
Anaco-
luto
falta de 
cone-
xão sin-
tática 
entre o 
início 
de uma 
frase 
e a 
sequên-
cia de 
ideias�
Antítese opo-
sição 
entre 
pala-
vras, 
expres-
sões ou 
ideias�
Alitera-
ção
repeti-
ção de 
conso-
antes 
ou 
sílabas�
Cata-
crese
em-
prego 
inade-
quado 
de um 
termo 
devido 
à perda 
de seu 
sentido 
original�
Anáfo-
ra,
repeti-
ção de 
uma ou 
mais 
pala-
vras no 
início 
dos 
versos 
ou ora-
ções�
Após-
trofe
inter-
rupção 
da 
frase 
para 
interpe-
lar ou 
invocar�
Asso-
nância
repeti-
ção de 
vogais�
Com-
para-
ção
relação 
de 
compa-
ração 
entre 
dois ou 
mais 
termos, 
separa-
dos por 
conjun-
ção�
Elipse oculta-
ção de 
palavra 
ou 
expres-
são na 
estru-
tura do 
enun-
ciado�
Eufe-
mismo
pala-
vras ou 
expres-
sões 
agra-
dáveis 
para 
ame-
nizar a 
decla-
ração�
Ono-
mato-
peia
palavra 
cuja 
sono-
ridade 
está 
asso-
ciada 
à coisa 
repre-
senta-da�
Metá-
fora
compa-
ração 
implíci-
ta entre 
dois ou 
mais 
termos�
Hipér-
bato
inver-
são da 
ordem 
direta 
dos ele-
mentos 
de uma 
oração 
ou 
período�
Grada-
ção
sequ-
ência 
de 
ideias�
Paro-
nomá-
sia
pala-
vras pa-
recidas, 
mas 
com 
grafia, 
som e 
signi-
ficado 
distin-
tos�
3939
Pala-
vras ou 
semân-
tica
Sintaxe 
ou 
cons-
trução
Pensa-
mento
Som ou 
Harmo-
nia
Meto-
nímia
substi-
tuição 
de um 
termo 
por 
outro 
equiva-
lente�
Pleo-
nasmo
uso de 
termo 
dispen-
sável 
para 
enfa-
tizar 
deter-
minada 
ideia�
Ironia suge-
rir o 
contrá-
rio do 
que se 
afirma.
Sines-
tesia
combi-
nação 
de dois 
ou 
mais 
senti-
dos do 
corpo 
huma-
no�
Polis-
síndeto
repeti-
ção da 
con-
junção 
“e”�
Hipér-
bole
exage-
ro na 
decla-
ração�
Silepse concor-
dância 
ideoló-
gica�
Litotes afir-
mação 
realiza-
da pela 
nega-
ção do 
contrá-
rio�
Zeugma omis-
são 
de um 
termo 
men-
cio-
nado 
ante-
rior-
mente�
Para-
doxo
antíte-
se que 
expres-
sa uma 
contra-
dição�
Proso-
popeia
perso-
nifica-
ção�
Fonte: Elaboração própria�
4040
Em síntese, as figuras de linguagem são recursos 
utilizados para tornar mais expressivo o que se 
pretende dizer ou ampliar o significado de uma 
palavra, suprir a falta de um termo adequado, criar 
significados diferentes ou aumentar a expressividade 
de determinadas ideias� Além de serem recursos 
de expressão, tornam o conteúdo mais elegante, 
imprimindo-lhe estilo e identidade�
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo de nossa jornada de estudos sobre a 
Estilística e os seus aspectos semânticos apren-
demos as bases da semântica lexical enquanto 
vertente da semântica estrutural de abordagem 
representacional� Estudamos o conceito de campo 
lexical, a fim de compreender o processo de análi-
se semântica componencial e os mecanismos de 
relações entre as palavras� Aprendemos também 
sobre os aspectos da análise estilística em relação 
à linguística e à gramática, na qual visitamos algu-
mas das principais escolas ao longo da trajetória 
evolutiva da Estilística, seus principais teóricos e 
definições.
Apresentamos a aplicação teórica dos pressupos-
tos da Estilística na construção de um método de 
análise. Estudamos os significados das palavras e 
frases quanto ao seu caráter denotativo e conotativo. 
Por fim, realizamos um breve estudo dos processos 
figurativos e das figuras de estilo, também denomi-
nadas como figuras de linguagem, apresentando 
uma síntese de suas quatro categorias: figuras de 
palavras ou semânticas, de sintaxe ou construção, 
de pensamento e as de som ou harmonia� Ao longo 
desse percurso você aprendeu como os estudos 
semânticos contribuíram para o desenvolvimento 
dos estudos estilísticos e vice-versa�
42
Por fim, você pôde conhecer um pouco mais como 
a composição do estilo transcende os aspectos 
individuais da língua e adentram a linguagem por 
meio do material linguístico contido na própria lín-
gua na construção da expressividade e na geração 
e produção dos efeitos de sentido.
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Assis: língua, estilo e temas� São Paulo: Editora 
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COELHO, F. A.; ARAUJO, L. D. Análise de textos e 
estilo: por uma leitura desacostumada na teoria 
e na prática� Caderno Seminal Digital, a. 22, n. 
26, v. 1, jul-dez 2016.
MARCUSCHI, L� A� Produção Textual, Análise de 
Gêneros e Compreensão� São Paulo: Parábola 
Editorial. 2008. [Biblioteca Virtual].
PERISSÉ, G� A arte da palavra: como criar um 
estilo pessoal na comunicação escrita� Barueri: 
Manole, 2002. [Biblioteca Virtual].
PERISSÉ, G� Ler, pensar e escrever� São Paulo: 
Arte&Ciência, 1996� [Minha Biblioteca]�
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	Introdução
	Semântica lexical e semântica estrutural
	Conceito de campo lexical
	A análise componencial (traços semânticos)
	A semântica relacional (sinonímia, hiponímia, antonímia, polissemia)
	A análise estilística, a Linguística e a gramática
	O método de análise estilística
	O significado das palavras e frases: sentido denotativo e conotativo
	Processos figurativos: as figuras de estilo
	Considerações finais
	Referências Bibliográficas & Consultadas