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e-Book 2 Michel Marcelo de França SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 SEMÂNTICA LEXICAL E SEMÂNTICA ESTRUTURAL ������������������������������������������������� 5 Conceito de campo lexical ��������������������������������������������������� 7 A análise componencial (traços semânticos) �������������������� 9 A semântica relacional (sinonímia, hiponímia, antoní- mia, polissemia) ������������������������������������������������������������������ 11 A ANÁLISE ESTILÍSTICA, A LINGUÍSTICA E A GRAMÁTICA ��������������������14 O MÉTODO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA �������� 24 O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS E FRASES: SENTIDO DENOTATIVO E CONOTATIVO �����������������������������������������������30 PROCESSOS FIGURATIVOS: AS FIGURAS DE ESTILO ������������������������������������36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������43 3 INTRODUÇÃO Neste e-book estudaremos a estilística e os seus aspectos semânticos� Iniciaremos por conhecer as bases da semântica lexical enquanto vertente da semântica estrutural de abordagem represen- tacional� Posteriormente, adentraremos o conceito de campo lexical, passando pelo modelo de aná- lise semântica componencial e pelas relações de sentidos estabelecidas entre as palavras, como: sinonímia, hiponímia, antonímia e polissemia� Em seguida, você conhecerá aspectos da análise estilística em relação à Linguística e à gramática� Na ocasião, você estudará algumas correntes da trajetória evolutiva da estilística, seus principais teóricos e definições. Adiante você terá a aplicação teórica dos pressupostos da estilística na constru- ção de um método de análise� Estudaremos ainda os significados das palavras e frases quanto ao seu caráter denotativo e conotativo. Por fim, fare- mos um estudo sobre os processos figurativos e sobre as figuras de estilo, também denominadas como figuras de linguagem, a partir de suas quatro categorias: figuras de palavras ou semânticas, de sintaxe ou construção, de pensamento e as de som ou harmonia� Ao longo desse percurso você entenderá como os estudos semânticos contribuem para o desenvolvimento dos estudos estilísticos e vice-versa� Entenderá como a composição do 4 estilo transcende os aspectos individuais da lín- gua e adentram a linguagem por meio do material linguístico contido na própria língua� 55 SEMÂNTICA LEXICAL E SEMÂNTICA ESTRUTURAL Nos estudos semânticos não há apenas um único campo tampouco uma única abordagem investigativa� Não bastassem as divisões, ainda nos deparamos com algumas subdivisões� Dentre elas, é preciso conhecer as áreas denominadas como semântica formal e semântica representacional, a fim de que se possa evoluir para a lexical e compreender a sua relação com a semântica estrutural� A semântica formal e/ou referencial tem em seu conjunto investigativo a relação entre as palavras e as sentenças de uma língua� Aplica-se a noções do mundo sobre o qual se fala, portanto está relacio- nada ao “mundo público”, valendo-se de elementos não linguísticos, tais como valores de verdade, atribuindo ao significado caráter informacional que referencia o que se fala (CANÇADO, 2012). Enquanto a semântica representacional trata do significado cognitivo, ou seja, aquele sobre a qual se estabelece a relação entre a língua e os componentes mentais (significado/significante) capazes de representar (codificando e decodifi- cando) o conhecimento semântico do falante de um determinado idioma� 66 Em 1957, Hjelmslev funda a semântica estrutural com o objetivo de desenvolver uma investigação imanente, sem categorias de significado fundamen- tadas em qualquer classificação extralinguística. A semântica contrastiva possui como objeto de investigação o léxico, baseada nos moldes analí- ticos e discricionários da fonologia e da sintaxe. A construção de sentido se limita à análise do léxico, desconsiderando os elementos extralinguísticos como unidades de sentido� Assim, a frase é entendida como uma segmentação lógica e o período como uma fisiologia emocional. A dicotomia saussuriana sobre os eixos paradig- mático e sintagmático contribui para a relação entre as escolhas lexicais e a organização lógica constituída na construção do sentido durante a operacionalização do sistema linguístico� A semântica lexical é uma abordagem represen- tacional. Ou seja, em seu escopo de estudo está a relação entre língua e representação mental, desconsiderando o mundo público. Ocupa-se espe- cificamente do sentido das palavras resultante da junção entre propriedades linguísticas e o sentido dos itens lexicais (CANÇADO, 2012). Como adepta da abordagem representacional, a semântica lexical propõe uma análise teórica dis- cricionária dos sentidos dos itens lexicais como 77 representações mentais da língua, denominado por Chomsky como uma capacidade mental individual e interna dos falantes, permitindo a eles que possam produzir e entender diferentes sentenças e suas línguas nativas. Assim, pode-se definir a semântica lexical como o estudo dos sentidos das palavras de categoria lexical por meio de uma abordagem representacional (CANÇADO, 2012, p. 16). A semântica lexical comporta diferentes tipos de fenômenos e abordagens que se subdividem em dois campos de estudo. O primeiro se ocupa do sentido das palavras e da relação entre esses sentidos. O segundo busca determinar quais pro- priedades semânticas impactam a organização sintática das sentenças� Segundo Cançado (2012, p.17), o primeiro campo de estudo que pode ser chamado de semântica lexical foi fundado por volta de 1930 a 1960, a partir da Linguística estruturalista, orientado pelo trabalho de Ferdinand de Saussure� Frente à variedade de proposições teóricas e métodos descritivos oriundos dessa concepção estrutural, há três pontos que as distinguem: CONCEITO DE CAMPO LEXICAL O conceito de campo lexical ou campo semântico é empregado na descrição de um grupo de palavras que compactuam alguma relação de sentido entre 88 si, dentro de um mesmo domínio� São palavras que orbitam o mesmo espaço discursivo em torno de um polo significativo dado por uma relação de contiguidade e associação� Figura 1: Campo semântico� COMPUTADOR LIVROS PROFESSOR AULAS INTERVALOLABORATÓRIO ESCOLA ESTUDAR ALUNOS Fonte: Elaboração própria� Note que a constelação de palavras em torno da palavra “Escola” estabelece com ela uma relação de sentido dada por associação e contiguidade� Na escola há professor, alunos, livros; escola está associada à ideia de estudar, de aulas etc� Dentro da semântica cognitiva, a concepção de campo lexical assume outra face, dada por uma abordagem denominada como “semântica de frames”, na qual as palavras são analisadas como conectoras de frames (estruturas). Isso significa que a busca pelo sentido das palavras implica o acesso a estruturas do conhecimento humano 99 relacionadas à sua experiência de vida� Tomando como exemplo a palavra “escola”, para que seja constituída uma constelação semântica em torno dela, pressupõe-se que o falante tenha acesso ao conhecimento que possui estocado em sua me- mória, a fim de que possa estabelecer as relações de sentido� Em síntese, as palavras de um mesmo campo semântico se relacionam aos mesmos frames ou a semelhantes (CANÇADO, 2012). A ANÁLISE COMPONENCIAL (TRAÇOS SEMÂNTICOS) Um segundo tipo de estudo dentro da semântica lexical trata da análise composicional� Embora desfocada enquanto abordagem teórica, ainda é empregada por pesquisadores de inúmeras áreas da Linguística� À guisa de exemplo, sua aplicação se propõe à análise e atribuição de restrições selecionais verbais, proposta nos estudos de Chomsky (1965), que apresenta sua proposta de sintaxe gerativista� Note que as palavras menino e menina podem ser analisadas componencialmente por meio de seus traços semânticos.Observe a figura a seguir: 1010 Figura 2: Restrição selecional do verbo “engravidar”� A MENINO + animado + adulto + bonito + humano + masculino A menina engravidou� B MENINA + animado + adulto + bonito + humano - masculino B O menino engravidou�A Fonte: Adaptado de Cançado (2012, p. 19). Observe que esses traços semânticos podem ser empregados para determinar restrições selecionais dos verbos� No exemplo, o verbo “engravidar” pos- sui restrição selecional de (-masculino), fazendo com que a sentença (B) seja válida, ao passo que a sentença (A) seja considerada anômala. Tal como a gramática gerativa, a semântica cogni- tiva também faz uso dos traços semânticos para conceituar as categorias. O fato de que os elemen- tos devem possuir o mesmo grupo de traços gera muitas críticas a essa abordagem de classificações estanques, fundada em entidades nas quais os elementos são mais prototípicos, mais centrais, e mais periféricos, ou seja, menos centrais. Isso faz com que as categorias sejam estruturadas de forma gradual, a partir de seus traços semânticos e não de forma representacional. 1111 A SEMÂNTICA RELACIONAL (SINONÍMIA, HIPONÍMIA, ANTONÍMIA, POLISSEMIA) O terceiro ponto da semântica lexical de base estruturalista trata das relações de sentidos esta- belecidas entre as palavras� Essas relações exis- tem de vários tipos, como: sinonímia, hiponímia, antonímia, polissemia� Tabela 1: Tipos de relações lexicais� Sinonímia Miriam comeu correndo o doce que achara� o sentido das palavras em destaque é correspondente Ricardo jamais comia de- pressa à mesa, apenas em seu quarto� Hiponímia Nada exalava melhor que o aroma das rosas no jardim à tarde� o sentido das palavras em des- taque estabelece uma relação de contiguidade� O campo é das flores, não dos homens� Antonímia Seu custo mensal era baixo em vista de seus extraordi- nários ganhos� o sentido das palavras em des- taque estabelece uma relação de oposição� A alta no preço dos alimen- tos aumentava a sensação de miséria em que vivia� Polissemia A letra da canção de Michel França é sempre intrigante� o sentido das palavras em destaque apre- senta significados distintos, apesar de dentro de um mesmo campo semântico� Sua letra como um desenho contornava o papel com leveza e sutileza� Fonte: Elaboração própria� 1212 Em linhas gerais, essas relações são essenciais para a produção das conexões sintáticas entre termos e sentenças� A trama argumentativa pode ser tecida por meio de encadeamento de relações de sinonímia e antonímia� Exemplo: y O moço alto agarrou o rapaz baixo� Um bravo outro calmo� Ambos tomados pela loucura� Nota-se no exemplo que entre moço/rapaz, um/ outro há uma relação de hiponímia, ao passo que entre alto/baixo, bravo/calmo estabelece-se uma relação de antonímia� Vejamos mais um exemplo: y Roberto abraçou a mulher = acarreta / para- fraseia = Roberto abraçou a moça� y Cibele trabalhou na fábrica = acarreta / para- fraseia = Cibele trabalhou na indústria� Esse tipo de construção sintática também está a serviço do desenvolvimento de bancos de dados, como Wordnet (acesse: http:/wordnet.princeton. edu/)� E, assim, estudamos a semântica lexical, uma abor- dagem de vertente estruturalista que se ocupa da busca pelo sentido das palavras e a relação entre esses sentidos na composição das sentenças� http:/wordnet.princeton.edu/ http:/wordnet.princeton.edu/ 1313 Entre seus enfoques, estão o estudo dos campos lexicais, a análise componencial e a semântica relacional� Cabe registrar que algumas dessas análises também se aplicam a outros campos da Linguística como a semântica cognitiva, a gramá- tica gerativa e a linguística de corpus� 14 A ANÁLISE ESTILÍSTICA, A LINGUÍSTICA E A GRAMÁTICA A Estilística contemporânea tem o conteúdo da expressão associada ao desenvolvimento da Lin- guística moderna, estabelecendo relações entre língua, pensamento e locutor� Nesse espectro está o estudo das figuras de linguagem, formas de construção textual e seus aspectos fonéticos, sintáticos e semânticos; os gêneros e as intenções dos falantes. Por isso, para entender a derivação e as relações da Estilística contemporânea com a Linguística, desde Saussure, a Linguística apoia-se nas relações entre forma e conteúdo das expres- sões, com base na dicotomia do signo linguístico, significante (forma da expressão) e significado (conteúdo da expressão). Esse princípio faz da língua um acervo dessas relações, nas quais re- pousam as linguagens como objeto dinâmico do uso dos signos e da língua por parte dos falantes. O estudo da relação entre texto e estilo no uso da língua concentra-se na investigação dos processos de expressividade da linguagem e no uso elegante e estilístico das palavras, considerando as imprecisões e o subjetivismo responsáveis por caracterizar os ele- mentos afetivos de produção de sentido no discurso. 15 O conceito de estilo – a priori o objeto da Estilística – é de grande complexidade� Pesquisadores divergem sobre sua concepção, gerando inúmeras definições e explicações sobre o fenômeno. No conceito de Matoso Câmara, estilo é a linguagem que transcende do plano intelectivo para originar a emoção e a vontade, é a de- finição de uma personalidade em termos linguísticos (CÂMARA, 1978, p�13)� Desde sua fundação em 1902, por Charles Bally, a Estilística se ocupa de estudar a língua enquanto expressão linguística, verificando o aparato expres- sivo da língua, em sua totalidade, distanciando-se do estudo dos estilos individuais, e assim afas- tando-se da literatura� A antiga Retórica dá lugar à Estilística, abandonando os preceitos do uso da língua fundamentado em regras gramaticais frias como modelo de expressividade, uma vez que a língua é uma expressão do homem, e como tal deve evoluir com ele e com os seus costumes, hábitos, ideias e usos� Uma alteração conceitual de linguagem e de estilo eclode desse novo cenário� Em curso, duas gran- des escolas dos estudos estilísticos denominadas “descritiva” e “idealista” concorrem entre si no tra- tamento do texto� A tradição apresenta a Estilística como ciência e arte de bem escrever, falar e dizer, FIQUE ATENTO 16 de acordo com a língua padrão� Todavia, ao longo da história linguística, observam-se diferentes acepções à expressão Estilística que, a partir de Saussure e seus discípulos, revestem-se de novas considerações que convergem para um modelo de análise da línguas, estilo e usos na geração de efeito de sentido. Os estudos de Charles Bally concentram-se nos aspectos afetivos da língua falada, no material de que se servem os usuários, no qual reside sua espontaneidade, contudo em observância às regras da gramaticalização, conforme previsto no sistema expressivo descrito e legitimado pela Estilística� Assim, concebe a linguagem sob duas faces: a intelectiva ou lógica e a afetiva, analisando os efeitos da afetividade, a fim de observar de que forma a impessoalidade linguística se transforma na produção da fala. Também propôs uma dis- tinção entre o conteúdo linguístico e o conteúdo estilístico, para demonstrar as múltiplas possibi- lidades de se investigarem as diversas maneiras da expressão verbal� Desse modo, a partir da perspectiva saussuriana, podemos afirmar que Bally dedica-se aos estudos da langue, voltando-se para o sistema expressivo da língua, distanciando-se, portanto, do estudo da parole, ou seja, do uso individual da língua com o qual a literatura se preocupava� Essa postura aju- 17 da a evidenciar os efeitos de significativos pelos quais são manifestados os sentimentos (prazer, admiração, aprovação, gírias, linguagem do traba- lho, poética etc�)� A Estilística estuda os fatos da expressão da linguagem, a partir do seu conteúdo afetivo, isto é, a expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e a ação dos fatos da linguagem sobre a sensibilidade (COELHO; ARAÚJO, 2016, p. 26). Ainda na perspectiva saussurianaem relação à langue, a Estilística assume uma concepção de es- tudo da língua enquanto sistema de expressividade, evidenciando a língua como representação mental da realidade, a fim de expressar a subjetividade dos usuários, segundo pontua Câmara (1978, p.10): “A língua, no conceito saussuriano, se deduz apenas da função representativa, pois compreende a estrutura, o esquema, o padrão ou a pauta que rege, em termos linguísticos, a nossa representação do mundo exterior e interior� Resulta de um trabalho de intuição infrarracional, mas de caráter intelectivo, que justamente a gramática se propõe a trazer para o plano da consciência, pondo-lhe em evidência os sistemas de sons, de formas, de significações e de REFLITA 18 ordenação de elementos, ou sejam – o fônico, o mórfico, o semântico e o sintático.” Por se tratar de universo vasto, os estudos esti- lísticos não possuem procedimentos teóricos e metodológicos únicos para estabelecer parâme- tros à análise linguístico-expressiva dos textos� Os fatos estilísticos são observados mediante as manifestações próprias da estrutura da língua. Assim, fundamentados em Coelho e Araújo (2016), enumeramos as teorias e as definições de cada escola estilística, para compreensão didática e desenvolvimento de metodologias de análise estilística� Tabela 2: Trajetória Estilística� CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES Descritiva Bally Ma- rouzeau Cressot A Estilística investiga a expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e a ação dos fatos de linguagem sobre a sensibilidade em três campos de aplicação: a) a linguagem em geral (os universais estilísticos); b) uma dada língua (a Estilística da langue) e c) o sistema expressivo de um indivíduo isolado (a Estilística da parole)� 19 CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES Idealista Leo Spitzer Dámaso Alonso Amado Alonso Devoto José Luis Martín Helmut Hatzfeld A Estilística é a reflexão, de cunho psicologista, sobre os desvios da linguagem em relação ao uso co- mum; uma emoção, uma alteração do estado psíquico normal, provoca um afastamento do uso linguístico normal; um desvio da linguagem usual é, pois, indício de um estado de espírito não habitual. O estilo do escritor – a sua maneira individual de expressar-se – reflete o seu mundo interior, a sua vivência� Estrutural Rifaterre Samuel Levin Dolezel A Estilística é o estudo exclusivo da mensagem, negando a pertinên- cia estilística do sistema (o que se pode considerar uma posição radical contestável). O estilo é fato resultante da forma da mensagem e repousa sobre uma dupla série de procedimentos: uns decorrentes de uma convergência (paralelismo, co- locação de elementos linguísticos equivalentes – fônicos e semânti- cos – em posições equivalentes), e outros decorrentes dum contraste de signos [...]. O estudo do estilo só pode ser definido em função do lei- tor, sendo destituída de pertinência estilística toda referência ao autor. 20 CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES Gerativa Ohmann As análises estilísticas que se fun- damentam na teoria gerativo-trans- formacional optam por um enfoque desviacionista. O ponto de partida é a constatação de que, na literatura em geral e na poesia em particular, é muito comum a ocorrência de frases tidas como agramaticais ou inaceitáveis para o falante. A explicação deste fenômeno subjaz no fato de que a linguagem literária viola o sistema de regras sintáticas e semânticas que constituem a gramática padrão� E, assim, o obje- to da Estilística gerativa não seria outro senão o de definir as regras de uma gramática da literatura� Retórica Dubois O esquema proposto por Dubois parte da distinção, concebida por Hjelmslev, entre os planos da expressão e do conteúdo� No plano da expressão, distingue os metaplasmos das metataxes; no do conteúdo, os metassememas dos metalogismos [���]� Mas, seja como for, a Retórica passa a ser redefini- da como um conjunto de desvios (metáboles) que modificam o nível de redundância da língua, o que se torna perceptível em virtude de uma marca� E a análise de tais altera- ções, que incidem em qualquer aspecto da língua, constitui um campo fértil para a descoberta dos fatos de estilo. 21 CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES Poética Jakobson Cohen Delas Filliolet O estudo linguístico da função poética deve ultrapassar os limites da poesia e, por outro lado, a análise linguística da poesia não pode circunscrever-se à função poética. Não é difícil perceber que os recursos existentes nas mensa- gens literárias aparecem também na linguagem da publicidade ou em qualquer manifestação linguística em que, de uma forma ou de outra, o usuário exerça um domínio sobre a língua quando a emprega para fins expressivos. Semiótica Blanchard Os métodos linguísticos devem ultrapassar o domínio da frase para dar conta dos mecanismos estrutu- radores do discurso, surgiu também uma tendência para ampliar os limites da poética, passando a obra literária a ser vista dentro de uma configuração muito mais abran- gente. A Estilística reformulada semioticamente é concebida como uma disciplina cujo escopo englo- baria todos os temas relacionados às linguagens enquanto sistema de signos� 22 CORRENTES TEÓRICOS DEFINIÇÕES Estatística Guiraud Monteiro Roche É pela frequência das palavras ou de qualquer elemento que o escritor age sobre o leitor, sendo o estilo resultante de um desvio que se de- fine quantitativamente em relação a uma norma� Surge daí uma hipóte- se bastante sedutora que se liga à questão das palavras-tema e das palavras-chave� As primeiras são as mais empregadas num determi- nado corpus; as outras são aquelas cuja ocorrência se caracteriza como um desvio [...]. O uso mais ou menos generalizado de uma expressão é que cria e condiciona o seu valor estilístico� Fonte: Baseado em Coelho & Araújo (2016, p. 34). O quadro nos mostra que há limites tênues entre os campos de investigação da Estilística� Toda- via é possível notar o espaço dado à produção, à recepção do estilo e à situação social de uso da língua quanto à veiculação dos significados determinantes na concepção estilística e na for- ma como os métodos e processos analíticos são desenvolvidos. O estilo como desvio da norma gramatical à individualização da personalidade é marca da subjetividade e da pluralidade da capa- cidade expressiva dos diferentes falantes de uma mesma língua, conforme observa Coelho e Araújo: “Em Saussure, a língua é concebida com uniformi-dade e a competência gramatical gerativa pode-se 23 expressar pelo conhecimento de um falante-ouvinte apurado. Os traços estilísticos se revelam na va- riação linguística, no fato de o sujeito explorar os recursos expressivos, utilizando-se da diversidade de códigos� Estabelecer os papéis de uso da língua, a partir do esquema estrutural e situação social do usuário e perceber a diversidade na apresentação discursiva do falante. A distinção de um falante para outro se confirma por meio das diferenças entre a ordem estrutural das frases e a utilização da linguagem� Temos, assim, a língua exteriorizada na potencialidade expressiva e plural (2016, p. 36).” Assim, a Estilística se revela imprescindível à compreensão da expressividade e aos efeitos de sentidos por ela desencadeados, tornando a língua um objeto de estudo não apenas intrigante, mas sim essencial� Nela está o material que nos permite representar os mais variados sentimentos e intenções� Sobretudo, lá reside o acervo que possibilita a cada indivíduo descrever, expressar e interpretar a realidade à luz de concepção de mundo individual e partilhada� 2424 O MÉTODO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA Conforme já estudamos, não há uma única forma de se abordar o texto sob uma concepção estilís- tica, entretanto, ao tratarmos da questão do mé- todo de análise estilística, especificamente, para o português do Brasil, evidenciar os trabalhos de Joaquim Matoso Câmara Jr. é condição sine qua non paraos estudos da área. O professor foi um dos pioneiros nas pesquisas estilísticas em nosso país� A obra Contribuição à Estilística Portuguesa é uma edição revista e ampliada de sua tese de livre docência em língua portuguesa elaborada no ano de 1952 na antiga Faculdade Nacional de Filologia da Universidade do Brasil. O livro está dividido em duas partes: a primeira reúne uma síntese das principais vertentes da estilística na primeira metade do século 20. A segunda parte apresenta análises estilísticas considerando os aspectos fônicos, léxicos e sintáticos da língua portuguesa� Segundo Coelho e Araújo (2016), na obra de Câmara Jr. as possibilidades expressivas estão alicerçadas na concepção estilística das três fun- ções da linguagem de Karl Bühler: representação (linguagem intelectiva), expressão (expressão ou manifestação psíquica) e apelo (linguagem afetiva 2525 de Bally)� Portanto, concentra-se em apresentar a Estilística como estudo da língua enquanto sistema de expressividade, com destaque ao caráter da língua como representação mental da realidade, às utilizações por parte dos falantes e à finalidade de expressar a subjetividade dos usuários� Vejamos um exemplo de aplicação da teoria na prática da construção de um percurso metodológico de análise estilística com base nos pressupostos apresentados sobre as três funções da linguagem. Homem na estrada Um homem na estrada recomeça sua vida Sua finalidade a sua liberdade Que foi perdida, subtraída E quer provar a si mesmo que realmente mudou Que se recuperou e quer viver em paz Não olhar para trás Dizer ao crime: nunca mais! Pois sua infância não foi um mar de rosas, não Na FEBEM, lembranças dolorosas, então Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim Muitos morreram sim, sonhando alto assim Me digam quem é feliz Quem não se desespera vendo Nascer seu filho no berço da miséria 2626 Um lugar onde só tinham como atração O bar, e o candomblé pra se tomar a benção Esse é o palco da história que por mim será contada Um homem na estrada [...] (Carlinhos Brown; Racionais MC, 1993)� A letra da canção apresenta alguns elementos semânticos que revelam as características sociais do enunciador com vistas aos seus enunciatários� Expressões como “liberdade subtraída”, “viver em paz”, “não olhar para trás”, “dizer ao crime nunca mais” explicitam a condição marginalizada em que vive “o homem na estrada” a quem o enunciador se refere. O conjunto fonético de “paz, trás e mais” promove a trama argumentativa sonora em forma de rima� É possível ainda extrair desses conjuntos lexicais em seu contexto sintagmático que “paz, trás e mais” exercem função de advérbio de modo (paz), lugar (trás) e intensidade (mais), revelando o desejo de se distanciar dessa realidade em razão de todo sofrimento que essa condição vivida neste lugar (FEBEM) lhe traz� Em outro trecho, “me digam quem é feliz”, “quem não se desespera vendo”, “nascer seu filho no berço da miséria”, novamente nos deparamos com o recurso estilístico da rima estabelecendo uma relação de sentido entre “desespera e misé- ria” por meio de assonâncias. O uso do pronome obliquo “me” no início de frase contraria a norma 2727 culta da linguagem, todavia promove um efeito de proximidade e dá ênfase à indagação proposta pelo enunciador� “Filho e berço” estabelecem entre si uma relação de sentido de campo semântico por hiperonímia: filho, berço, mamadeira, fralda; no qual o enun- ciador expressa sua indignação, sua dor, seu sofrimento pela miséria que priva seu filho de um futuro decente e que lhe impõe o mesmo destino de muitos outros: “sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim. Muitos morreram sim, sonhando alto assim”. Percebe-se que “sim e assim”, além de estabele- cerem uma relação de sentido por proximidade fonética, ainda em suas funções morfossintáticas, corroboram a ideia de certeza do enunciador de como as coisas são para aqueles que sonham alto, aqueles que sonham em mudar a sua realidade com os poucos recursos de que dispõem� Isso expressa, em parte, a descrença do enunciador de que algo pode vir a melhorar, declarando a sua certeza de como é o fim de quem vive em um lugar onde a “infância não é um mar de rosas”, em que a diversão está no “bar, e o candomblé pra se tomar a benção”, representando o primeiro um espaço de embriaguez como consolo à mente e o outro um lugar de magia e conexão com os ancestrais que 2828 foram escravizados e que ali oferecem estímulos de força e esperança ao coração e ao espírito. Após essa análise semântica e estilística dos enunciados que compõem a letra dessa canção, é possível perceber como os recursos empregados na arquitetura poética permitem acessar a visão mental que o enunciador possui sobre a realidade de sua vida e dos demais que convivem em situ- ação de igualdade� Isso nos leva a pensar conforme Boaventura e Freitas (2014), que afirmam que as noções de estilo e de literariedade guardam, naturalmente, similaridades� Pois, a forma como o enunciador narra os fatos de sua história retrata a realidade das favelas e demais comunidades carentes do Brasil, em sua maioria habitada por pretos e pardos, como faz a lente de uma câmera, quase que de forma literal. Não obstante, revela que o estilo, nesse caso, não é uma opção, mas sim a melhor maneira de registrar a realidade mental individual e coletiva da vida na periferia, desassistida pelo Estado e pelo poder público, onde se destacam os sentimentos de desolamento, miséria, desprezo e desespero� Tais conjecturas estilísticas produzem o efeito pretendido na medida em que expressam a dor e o pedido de socorro do enunciador, levando o enunciatário à reflexão sobre o seu papel enquanto 2929 cidadão que ignora a vida na favela, sem contribuir socialmente para dirimir essas injustiças sociais que tanto sofrimento provocam ao seu semelhante. Crianças inocentes que já nascem com a certeza de um destino e que passam a vida lutando para mudá-lo. Essa é a expressão da falta de esperan- ça, ou não? Somente a capacidade expressiva do texto poderá auxiliá-lo a responder essa questão� Assista ao vídeo “As figuras de linguagem nas compo- sições musicais de língua portuguesa: compreensão e produção de textos” para conhecer um pouco mais a respeito desses recursos� Disponível em: https://www2. jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf� SAIBA MAIS https://www2.jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf https://www2.jf.jus.br/pergamumweb/vinculos/000038/00003859.pdf 30 O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS E FRASES: SENTIDO DENOTATIVO E CONOTATIVO Conforme já estudamos, os signos linguísticos, essências constitutivas das palavras, são com- postos por um significante (imagem acústica) e um significado (conceito). Contudo, é sabido que um mesmo vocábulo ou léxico pode se aplicar a situações iguais e produzir diferentes sentidos e acepções. Isso quer dizer que o significado é rela- tivamente estável, haja vista que um mesmo signo linguístico pode assumir outras representações para além da que está legitimada conceitualmente� Isso ocorre em razão das relações que as palavras podem estabelecer entre si em razão de um novo arranjo sintático, deslocamento morfológico ou mesmo em virtude da aproximação com outros fonemas que possam gerar sons diferentes do habitual. Sobre esses fenômenos de mudança de significado repousam os estudos sobre sentido denotativo e conotativo� A denotação é concebida como a função represen- tativa da linguagem em que a palavra está revestida do seu sentido original, ou seja, quando representa o seu sentido próprio, ou mesmo aquele em cuja 31 acepção é a primeira registrada em seu processo de catalogação sobre o seu uso� Já a conotação caracteriza-se pela possibilidade de expansão de significado de uma determinada palavra em razão do seu uso em contexto não habitual, produzindo um novo sentido para além de sua acepção original, a depender de sua rela-ção com outras palavras da frase para revelar seu real sentido dentro de uma determinada estrutura sintagmática� Ainda sobre a conotação, é importante destacar que essa não se dá ao sabor do falante e de forma individual, ou seja, não se trata de uma criação particular de um falante, mas sim do composto plurissignificativo da palavra, cujo significado só pode ser obtido com precisão quando empregada em um determinado contexto� Portanto, pode-se dizer que a significação total de uma palavra comporta uma representação denotativa e outra conotativa, o que revela o caráter polissêmico das palavras� Vamos a um exemplo: y (a) O meu gato comeu o peixe do aquário� A dúvida é: como ele conseguiu alcançar? y (b) O gato do José apareceu na casa da vizinha. Ela ficou enamorada dele. 32 Em (a) a palavra “gato” representa o seu sentido primeiro, ou seja, animal doméstico, felino. Con- forme seu registro no dicionário. O contexto frasal nos permite esse entendimento quando nos dá mais informação como o verbo “comeu” e o seu respectivo complemento “o peixe”� Dado o acervo de representações que nós possuímos sobre um gato e um peixe� Agora, observe em (b), ao lermos apenas a primeira oração, ainda temos a impressão de que a palavra gato está associada à representação de um ani- mal, que é posse de um homem chamado José. Entretanto, ao completarmos a leitura da segunda oração, notamos que não se trata de uma relação de posse entre José e o gato, mas sim de uma analogia, ou seja, José é tão belo e formoso que se compara à beleza e ao charme de um felino. A saber, as conotações por analogia são aquelas em que há uma semelhança entre o sentido que dela se depreende e o sentido dito denotativo, ou seja, o gato é um animal bonito e charmoso, por analogia se digo que José é um gato estou dizendo que ele possui os predicativos e atributos do felino. Na realidade, todos os sentidos possíveis de uma palavra fazem parte de sua função representativa da linguagem� Toda palavra é essencialmente polissêmica, isto é, constitui-se de um conjunto 33 de plurissignificações, umas efetivas e outras em potencial, que estão condicionadas a um deter- minado contexto para existirem� Esses contextos emanam da experiência comunicativa partilhada, do contrário não há produção de sentido� Vamos a outro exemplo: y Viviane é a cabeça da equipe de atendimento� As conotações por analogia são aquelas em que há uma semelhança entre o sentido que dela se depreende e o sentido dito denotativo, como se pode verificar no exemplo anterior. Em cabeça, a conotação “líder, chefe ou membro principal do grupo” assemelha-se à denotação “parte superior do corpo dos animais bípedes� De acordo com Botelho (2003), as conotações por contiguidade ou extensão são aquelas na qual a semelhança é de menor evidência, havendo apenas uma aproximação do seu sentido com o sentido denotativo ou por ser concebida a partir da extensão lógica de sentidos, como se verifica em “avistei da janela do ônibus o cachorro que me roubou”� A conotação em “cachorro” como “indivíduo veloz, traiçoeiro, vagabundo, larápio” se depreende a partir da extensão do sentido de “animal” que sugere aquela agilidade e esperteza, característicos de um assaltante� 34 No plano da denotação e da sinonímia, é impor- tante frisar que não existem palavras totalmente sinônimas. Cada palavra possui um significado denotativo singular, podendo conter alguns elemen- tos significativos de outras palavras. Motivo pelo qual alguns vocábulos apresentam significados semelhantes aos de outros, podendo ser usados em um mesmo contexto, em detrimento um do outro� Vamos a exemplos: y A paz que invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz (Gilberto Gil)� y A calma que entrou no meu coração, de repente me completou de paz� Nota-se que o que ocorre nessas frases é uma si- nonímia, ou seja, situação em que há semelhança semântica entre vocábulos ou estruturas sintáticas, pois nesse contexto os elementos de significação podem ser substituídos por elementos comuns, sem que haja perda no processo significativo. Em síntese, esses e outros exemplos são apenas uma parte de uma gama de possibilidades na qual as palavras podem ser submetidas a transposições do sentido denotativo para o conotativo� Nesse sentido, precisamos ter em mente que o sucesso desse processo está condicionado ao acervo cultural dos usuários da linguagem, que devem partilhar 35 os componentes significativos dos signos, a fim de que possam expandir sua significação. Existem outras formas de produção de efeito de sentido muito comuns em nossa língua, como é o caso do uso dos diminutivos e aumentativos para expressar diferentes sentimentos e intenções� SAIBA MAIS 3636 PROCESSOS FIGURATIVOS: AS FIGURAS DE ESTILO Segundo Botelho (2003), a Estilística semântica estuda a significação ocasional e expressiva das formas gramaticais do léxico, buscando descrever o seu caráter polissêmico. É uma forma de estudo morfossemântico, que se baseia na relação deno- tação-conotação, investigada como um fenômeno da Estilística Morfológica, fazendo da linguagem figurada o único objeto de investigação da Estilís- tica semântica� Conforme já estudamos, toda e qualquer palavra é polissêmica� Assim, para além de seu sentido denotativo, está previsto no sistema sígnico o seu sentido conotativo, possibilitando a produção de enunciados com componente significativo mani- festo por meio do que denominamos como figura de linguagem� A metáfora é considerada a rainha das figuras de linguagem, visto que toda e qualquer linguagem figurada dá-se a partir dela. De acordo com Botelho (2003), “a metáfora consiste na substituição de uma expressão por outra, cuja tonalidade afetiva se torna mais acentuada em virtude da sua trans- ferência para um âmbito de significação que não lhe é particular”� 3737 A metáfora é um recurso estilístico de grande qualidade, uma vez que possui por excelência a função expressiva de destacar certos aspectos de um determinado vocábulo que não seria capaz de se expressar por si mesmo� Essa importância dada à metáfora como força criadora da linguagem humana é reconhecida desde a era aristotélica, podendo ser encontrada como artifício expressivo na poesia a exercer uma função polissêmica e de sinonímia, sendo também elemento enriquecedor de vocabulário e em tantas outras situações, na linguagem em geral� As figuras de linguagem são formas de expressão que fogem à obviedade da linguagem comum ou denotativa� Elas acrescentam ao texto um signi- ficado para além do sentido literal das palavras, permitindo a plurissignificação do enunciado e dando vazão a novos sentidos� Estilisticamente, denotam as características de produção de um determinado autor quanto ao seu lugar de estilo dentro de um gênero discursivo� 3838 Tabela 3: Figuras de linguagem� Pala- vras ou semân- tica Sintaxe ou cons- trução Pensa- mento Som ou Harmo- nia Anto- nomá- sia/ Perífra- se substi- tuição de um termo por outro que o carac- terize� Anaco- luto falta de cone- xão sin- tática entre o início de uma frase e a sequên- cia de ideias� Antítese opo- sição entre pala- vras, expres- sões ou ideias� Alitera- ção repeti- ção de conso- antes ou sílabas� Cata- crese em- prego inade- quado de um termo devido à perda de seu sentido original� Anáfo- ra, repeti- ção de uma ou mais pala- vras no início dos versos ou ora- ções� Após- trofe inter- rupção da frase para interpe- lar ou invocar� Asso- nância repeti- ção de vogais� Com- para- ção relação de compa- ração entre dois ou mais termos, separa- dos por conjun- ção� Elipse oculta- ção de palavra ou expres- são na estru- tura do enun- ciado� Eufe- mismo pala- vras ou expres- sões agra- dáveis para ame- nizar a decla- ração� Ono- mato- peia palavra cuja sono- ridade está asso- ciada à coisa repre- senta-da� Metá- fora compa- ração implíci- ta entre dois ou mais termos� Hipér- bato inver- são da ordem direta dos ele- mentos de uma oração ou período� Grada- ção sequ- ência de ideias� Paro- nomá- sia pala- vras pa- recidas, mas com grafia, som e signi- ficado distin- tos� 3939 Pala- vras ou semân- tica Sintaxe ou cons- trução Pensa- mento Som ou Harmo- nia Meto- nímia substi- tuição de um termo por outro equiva- lente� Pleo- nasmo uso de termo dispen- sável para enfa- tizar deter- minada ideia� Ironia suge- rir o contrá- rio do que se afirma. Sines- tesia combi- nação de dois ou mais senti- dos do corpo huma- no� Polis- síndeto repeti- ção da con- junção “e”� Hipér- bole exage- ro na decla- ração� Silepse concor- dância ideoló- gica� Litotes afir- mação realiza- da pela nega- ção do contrá- rio� Zeugma omis- são de um termo men- cio- nado ante- rior- mente� Para- doxo antíte- se que expres- sa uma contra- dição� Proso- popeia perso- nifica- ção� Fonte: Elaboração própria� 4040 Em síntese, as figuras de linguagem são recursos utilizados para tornar mais expressivo o que se pretende dizer ou ampliar o significado de uma palavra, suprir a falta de um termo adequado, criar significados diferentes ou aumentar a expressividade de determinadas ideias� Além de serem recursos de expressão, tornam o conteúdo mais elegante, imprimindo-lhe estilo e identidade� 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo de nossa jornada de estudos sobre a Estilística e os seus aspectos semânticos apren- demos as bases da semântica lexical enquanto vertente da semântica estrutural de abordagem representacional� Estudamos o conceito de campo lexical, a fim de compreender o processo de análi- se semântica componencial e os mecanismos de relações entre as palavras� Aprendemos também sobre os aspectos da análise estilística em relação à linguística e à gramática, na qual visitamos algu- mas das principais escolas ao longo da trajetória evolutiva da Estilística, seus principais teóricos e definições. Apresentamos a aplicação teórica dos pressupos- tos da Estilística na construção de um método de análise. Estudamos os significados das palavras e frases quanto ao seu caráter denotativo e conotativo. Por fim, realizamos um breve estudo dos processos figurativos e das figuras de estilo, também denomi- nadas como figuras de linguagem, apresentando uma síntese de suas quatro categorias: figuras de palavras ou semânticas, de sintaxe ou construção, de pensamento e as de som ou harmonia� Ao longo desse percurso você aprendeu como os estudos semânticos contribuíram para o desenvolvimento dos estudos estilísticos e vice-versa� 42 Por fim, você pôde conhecer um pouco mais como a composição do estilo transcende os aspectos individuais da língua e adentram a linguagem por meio do material linguístico contido na própria lín- gua na construção da expressividade e na geração e produção dos efeitos de sentido. 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