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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
GeoGrafia Cultural 
e da reliGião
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S192g
Sampaio, Débora Vanessa Régis Ferreira
Geografia cultural e da religião. / Débora Vanessa Régis Ferreira 
Sampaio; Jefferson Rodrigues de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
250 p.; il.
ISBN 978-65-5663-234-6
ISBN Digital 978-65-5663-235-3
1. Fenômenos geográficos culturais. - Brasil. I. Oliveira, Jefferson 
Rodrigues de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 900
apresentação
Caros alunos, este livro reúne uma série de discussões textuais 
referentes à compreensão da geografia cultural discutida amplamente nas 
academias, principalmente após o processo de renovação, que fomentou os 
debates mais recentes desse significativo subcampo da ciência geográfica.
 
As Unidades 1, 2 e 3 têm, como objetivo, proporcionar uma base 
formativa sólida que auxilie a interpretar os fenômenos geográficos culturais 
que ocorrem no espaço e, sobretudo, poder encontrar referências científicas 
que possam amparar suas futuras pesquisas. Os assuntos discutidos 
encontram-se tangenciados frente à conceituação e ao entendimento de 
pensadores, desde os séculos passados ao contemporâneo, como geógrafos, 
antropólogos e sociólogos.
Esses capítulos abordarão, especificamente, as diferentes 
transformações na geografia, através de um breve histórico ou resgate da 
história do pensamento geográfico. Desde as interpretações clássicas e seus 
fundamentos da base inicial, buscaremos compreender as relações entre 
cultura, espaço e algumas das diferentes dimensões de análise e estudo, 
assim, poderemos verificar como a geografia e sua dimensão espacial estão 
em toda parte.
Nessas circunstâncias, apresentamos a importância da cultura para 
os estudos, como esta veio a ser percebida, analisada e incorporada aos 
estudos culturais da geografia através das disciplinas Geografia Cultural e 
Geografia da Religião.
Sugerimos, a você, enquanto graduando e futuro profissional da 
geografia, aprofundar seus conhecimentos a partir desse estudo, envolvendo 
leitura, reflexões e discussões sobre o campo da geografia cultural. Apesar 
de estar sendo difundida no Brasil desde o começo da década de 1990, 
ainda precisa ser explorada e amplamente estudada, tendo em vista seu 
aspecto dinâmico, popular e diverso, mediante a heterogeneidade da cultura 
brasileira.
Honrosamente, convidamos você para, a partir do material didático, 
aprender e compreender um pouco mais sobre o subcampo que ultrapassou 
a marca centenária. Essa jornada, baseada entre homem, espaço e cultura, 
parece longa, mas ainda possui muito a ser desvendada, depende, inclusive, 
de você, futuro geógrafo da geografia cultural. Desejamos bons estudos!
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 1
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO 
DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ....................................................... 3 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA .............................................................................. 5
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ............................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: CULTURA 
E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA ........ 29
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA ..................................................... 31
4 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO 
GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA CULTURA ................................................. 39
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E RENOVAÇÃO................... 42
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 49
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL 
NO BRASIL:UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, 
“NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO ......................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51
2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS PRIMEIRAS INCURSÕES .... 52
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO NO BRASIL ........................ 55
4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980 ......................................................... 57
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA GEOGRAFIA 
CULTURAL ........................................................................................................................................ 59
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL .................................................. 61
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 63
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 70
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO 
PARA A CONTEMPORANEIDADE .................................................................... 73
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO 
CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................................... 75 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA PARTE? .................................. 76
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A UMA GEOGRAFIA 
UNIVERSITÁRIA ......................................................................................................................... 87
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA BREVE 
COMPREENSÃO .............................................................................................................................. 93
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 100
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL....................................................................................... 101
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS ......................................................................... 102
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES APONTAMENTOS ................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 124
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO 
DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO .................................................. 127 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE: 
COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................... 128
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA POPULAR 
E IMAGEM ........................................................................................................................................ 143
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ................................ 146
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 156
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 160
UNIDADE 3 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA .................... 161
TÓPICO 1 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA ........................ 163 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 163
2 DISCUSSÕES ................................................................................................................................... 167
3 RELIGIÃO E SUA ESPACIALIDADE: REPETIÇÃO DA HIEROFANIA INICIAL .......... 173
4 CATEGORIAS DE ANÁLISE: SAGRADO E PROFANO ........................................................ 174
4.1 AS DIMENSÕES DE ANÁLISE ................................................................................................ 176
5 HIERÓPOLIS OU CIDADES-SANTUÁRIO ............................................................................. 178
6 O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS PEREGRINAÇÕES ............................................................ 186
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 190
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 193
TÓPICO 2 — O SAGRADO E A CIDADE: OLHARES SIMBÓLICOS RELIGIOSOS ........ 195
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 195
2 A CIDADE: TRANSFORMAÇÕES E PROCESSOS ................................................................. 197
2.1 A HISTÓRIA DA CIDADE: AS VERSÕES E OS OLHARES ................................................ 201
3 O SAGRADO E O URBANO: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO? ......................................... 204
4 O FOGO SAGRADO, O COLETIVO E AS PRIMEIRAS CIDADES ................................... 207
5 O SAGRADO E O URBANO: GÊNESE E FUNÇÃO DAS CIDADES .................................. 210
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 213
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 215
TÓPICO 3 — NOVAS DINÂMICAS DO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E 
HIPERMODERNIDADE .......................................................................................... 217 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217
2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA ON-LINE: NOVAS ESTRATÉGIAS 
DE DIFUSÃO A PARTIR DAS MÍDIAS..................................................................................... 221
3 TV, RÁDIO E INTERNET: O PODER DAS MÍDIAS NA DIFUSÃO DA FÉ ...................... 225
4 A RELIGIÃO E AS NOVAS INTERFACES DO SAGRADO NAS ERAS 2.0 E 3.0: 
AS PEREGRINAÇÕES ON-LINE ................................................................................................. 227
5 O SAGRADO E O PROFANO NA ERA HIPERMODERNA .................................................. 230
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 235
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 237
1
UNIDADE 1 — 
UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA 
HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, 
CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	a	relação	da	geografia	com	as	ciências	sociais,	principalmente	
com	 as	 áreas	 da	 antropologia	 e	 sociologia,	 a	 partir	 das	 nuanças	 e	
atualizações	 do	 conceito	 de	 cultura,	 o	 qual	 fundamenta	 os	 estudos	 da	
geografia	cultural;
•	 compreender	a	geografia	cultural	enquanto	subcampo	da	ciência	geográfica,	
dedicada	 ao	 estudo	 das	 relações	 do	 ser	 humano	 (fenômenos	 espaciais),	
manifestações	culturais,	ou	seja,	das	dimensões	espaciais	da	cultura;
•	 discutir,	 a	partir	do	 estado	da	 arte,	 o	processo	da	gênese	da	geografia	
cultural	e	o	desenvolvimento	da	sua	dinâmica	de	renovação;
•	 analisar	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil,	 suas	 influências,	
interfaces	e	heterogeneidade	do	campo	brasileiro.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	No	 decorrer	 da	 unidade	 você	
encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	 AS	INTERFACES	DA	APLICABILIDADE	DA	CULTURA	NO	
ÂMBITO	DO	DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
TÓPICO	2	–		UMA	REFERÊNCIA	AOS	PERÍODOS	DE	
DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	CULTURAL
TÓPICO	3	–	 A	CENTRALIDADE	DA	ABORDAGEM	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL	NO	BRASIL:	UM	CAMINHAR	PARALELO	
ENTRE	A	ORIGEM,	“NEGLIGÊNCIA”	E	DINAMISMO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
AS INTERFACES DA APLICABILIDADE 
DA CULTURA NO ÂMBITO DO 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
Sejam	bem-vindos!	A	partir	de	agora,	vocês	estão	convidados	a	navegar	
em	 um	 mar	 de	 conhecimento	 que,	 por	 muito	 tempo,	 foi	 negligenciado	 pela	
comunidade	acadêmica	geográfica:	a	geografia	cultural,	um	campo	da	geografia	
humana	que	se	firmou	cientificamente	e	temporalmente.	Supera	mais	de	100	anos	
de	história	do	pensamento	geográfico,	 tendo,	como	focos,	as	análises	baseadas	
entre	homem,	espaço	e	cultura.
Neste	 tópico,	 são	 desenvolvidas,	 além	 da	 introdução,	 as	 temáticas	 “a	
cultura:	uma	percepção	dinâmica”	e	“o	 interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	
geograficidade	da	geografia	cultural”.	Ainda,	há	o	resumo	referente	ao	tópico	e	
as	atividades,	auxiliando	o	processo	de	aprendizagem.
 
Quando	trouxemos	“a	cultura:	uma	percepção	dinâmica”,	tivemos,	como	
princípio,	 apresentar,	 de	 maneira	 breve,	 porém	 contextualizada	 e	 embasada,	
os	 processos	 evolutivos	 sobre	 a	 definição	 do	 termo	 cultura,	 respeitando	 cada	
momento,	 acontecimentos	 em	 escalas	 mundiais	 e	 influência	 epistemológica.	
O	 assunto	 discutido	 encontra-se	 tangenciado	 frente	 à	 conceituação	 e	 ao	
entendimento	de	pensadores	desde	os	séculos	passados	ao	mais	atual.	É	possível	
encontrar	geógrafos,	antropólogos	e	sociólogos:	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	
Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	e	Stuart	Hall.
 
Passamos	da	definição	determinista	de	cultura	inspirada	no	darwinismo	
evolucionista,	as	abordagens	sobre	o	particularismo	histórico	de	Boas,	a	 teoria 
supraorgânica	de	Kroeber,	a	teoria	interpretativista	apontada	por	Geertz	e,	por	
fim,	o	multiculturalismo	compreendido	por	Hall.
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
4
Caros estudantes, o conteúdo possui extensa literatura. Como meio auxiliar, a 
biblioteca virtual possui o livro do antropólogo Roque de Barros Laraia, intitulado Cultura: 
um conceito antropológico. 
 No título, o autor consegue expor um histórico sobre a histórica definição e conceito 
de cultura, as influências sobre a formação social por meio da cultura e a dinamicidade e 
diversidade da cultura entre os homens. Considera-se uma literatura clássica auxiliar, cujo 
objetivo é, de maneira acessível e introdutória, esclarecer o estudo sobre cultura.
DICAS
Trazemos,	 com	 clareza,	 que	 a	 compreensão	 conceitual	 sobre	 cultura	
passou	por	transformações	ao	longo	do	tempo,	perpassando	caminhos,	perdendo	
e	ganhando	estruturas,	não	indicando	graus	de	inferioridade	ou	superioridade	
quanto	 às	 abordagens,	 mas	 uma	 construção	 de	 conhecimentos	 baseados	 em	
possibilidades	 distintas,	 tendo,	 por	 exemplo,	 a	 aproximação	 da	 geografia	
entre	 alguns	 campos	 da	 humanidade,	 cujo	 resultado	 rende	 uma	 produção	
interdisciplinar	rica,	valorizando	a	dinâmica	espaço-temporal.
 
O	segundo	tema,	“o	interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	
da	geografia	cultural”,	vem	sincronizar	com	o	conteúdo	estudado	anteriormente,	
retomando	 os	 pontos	 de	 contato	 entre	 a	 ciência	 geográfica	 e	 a	 cultura.	 São	
apresentadas	 narrativas	 geográficas	 que	 sustentam	 cientificamente	 a	 geografia	
cultural	e	seu	interesse	pela	espacialidade,	este	compreendido	pela	formação	de	
território,	poder,	territorialidade,	lugar,	espaços	e	paisagens.	
Seguimos	 tratando	 das	 novas	 possibilidades	 de	 interpretar	 as	 relações	
socioespaciais	a	partir	da	importância	da	cultura	na	geografia,	desconstruindo	as	
barreiras	anteriormente	formadas	na	macroesfera	da	disciplina.	A	temática	afirma	
que	 os	 fenômenos	 geográficos	 também	 carregam	 traços	 culturais	 que	 podem	
ser	desvendados	pela	geografia	 cultural.	Embora	essa	discussão	possa	parecer	
retrógrada	e	aparentemente	resolvida,	acredite,	ainda	é	recorrente.	Especulações	
circulam	 indagando	 sobre	 a	 originalidade	 do	 ramo	 e	 se	 ele,	 efetivamente,	 faz	
parte	dos	estudos	da	ciência	geográfica.	
Por	fim,	são	apresentadas	e	discutidas	nove	estruturas	culturais	da	ciência	
geográfica:	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações;	
A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados;	A	cultura	
existe	através	dos	 indivíduos	que	a	 recebem	e	a	modificam,	eles	 se	 constroem	
como	 indivíduos	no	processo;	O	processo	da	 construção	da	 cultura	 também	é	
um	processo	social;	A	construção	do	 indivíduo	como	ser	 social	 se	 traduz	pelo	
nascimento	de	sentidos	de	identidade;	A	construção	da	sociedade	pela	cultura;	A	
construção	do	espaço	pela	cultura;	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores	e	
Cultura	e	ideologias	comunitárias.	Bons	estudos!	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
5
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA 
Certamente,	enquanto	indivíduos,	estudantes	e	futuros	profissionais	da	
ciência	geográfica,	vocês	já	ouviram	ou	fizeram	alusão	ao	termo	“cultura”,	certo?	
Assim,	independentemente	das	circunstâncias,	experiências	pessoais	ou	regionais,	
optamos	por	percorrer	os	 caminhos	existentes	da	 (re)construção,	 elencando	as	
possibilidades	do	emprego	conceitual	da	cultura	no	âmbito	acadêmico,	cujo	foco	
ampara	a	geografia	cultural.
Então,	 primeiramente,	 para	 promover	 essa	 apresentação,	Corrêa	 (2009)	
contribui	afirmando	que,	a	cultura,	enquanto	vocábulo,	possui	uma	diversidade	
de	colocações	e	significados,	desde	o	senso	comum,	o	qual	não	deve	ganhar	força	
na	aprendizagem	em	questão,	até	nas	discussões	conceituais,	que	adentram	as	
matrizes	acadêmicas	nas	ciências	sociais.
 
No	momento	 inicial	da	 leitura,	 façamos	uma	proposta,	 cujo	objetivo	 indica	
uma	compreensão	histórica	dos	fatos,	realidade	acadêmica	e	período	da	construção	
conceitual	do	termo	cultura.	Realize	uma	retrospectiva,	mediante	seu	conhecimento,	
quanto	à	gênesis	da	ciência	geográfica	e	seus	desafios	epistemológicos.	Seria	possível?	
Caso	contrário,	apresentaremos	um	contexto	inicial.
 
As	 concepçõesepistemológicas	no	meio	 científico,	 antes	do	 Século	XX,	
predominavam	 sob	 o	 aspecto	 positivista	 e,	 posteriormente,	 neopositivista.	
Majoritariamente,	os	geógrafos	mantinham	alicerces	naturalistas	nas	pesquisas.	
As	análises	sobre	o	ambiente,	sociedade	e	cultura	eram,	basicamente,	explicadas	
mediante	as	leis	naturais.	
Caros alunos, atenham-se à palavra epistemologia com uma certa dose 
de atenção, porque ela tem estado, com frequência, no ambiente acadêmico, nas aulas 
ministradas, livros, e outros meios de busca, mas o seu uso excessivo ou mal alocado, 
por vezes, distorce seu conceito essencial. A palavra “epistemologia” tem origem no grego, 
equivale à episteme + logos = conhecimento científico, explicação, discurso, opinião. Essa 
sentença, criada no Século XX, teve o objetivo de superar a perspectiva unívoca e homogênea 
da concepção da filosofia da ciência encontrada na linha positivista. Ainda, tratar, de maneira 
crítica, construtiva e democrática, o conhecimento científico, como apresenta Gomes 
(2009, p. 14): “[...] discutir criticamente as formas de construir um pensamento científico 
não quer dizer se transformar, em um tribunal, para julgar a sua conformidade ou não 
em relação a um modelo único e ideal, ao contrário”. Esse entendimento conclui que não 
existe uma fórmula determinante para fazer ciência, principalmente, a geográfica, pois cada 
fenômeno demonstra uma singularidade e dinâmica.
ATENCAO
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
6
Seguindo	 na	 perspectiva	 predominante	 de	 análise	 epistemológica,	
encontramos	a	definição	antropológica	de	cultura	que,	não	obstante	da	realidade	
conceitual	 da	 geografia,	 também	 foi	 compreendida	 sob	 o	 ponto	 de	 vista	 das	
dinâmicas	 naturais	 e	 do	 princípio	 empirista	 e	 sistemático.	 Contudo,	 como	
todo	 texto	possui	um	contexto,	 traremos	alguns	precedentes	que	auxiliaram	o	
descortinar	 da	 definição	 inicial	 da	 cultura	 cujas	 influências	 pairaram	 sobre	 o	
desenvolvimento	da	geografia	cultural.	
 
Entre	 o	 Século	 XVIII	 e	 XIX,	 duas	 palavras	 foram	 polarizadas	 entre	
germânicos	e	franceses.	Seccionados	como	os	antecedentes	históricos	do	conceito	
de	 cultura,	 os	 termos	 Kultur	 e	 Civilization	 intuíam	 considerações	 primárias:	
o	 primeiro	 refletia	 sob	 as	 convicções	 espirituais	 de	 um	 grupo	 de	 indivíduos	
denominado	de	comunidade	e,	o	segundo,	sobre	as	conquistas	de	ordem	material	
de	um	povo.	Com	o	intuito	de	unificar	as	duas	convicções	em	torno	da	cultura,	
Edward	Burnett	Tylor,	nos	anos	de	1871,	apresentou	a	culture,	vocabulário	inglês	
que	sistematizava	oficialmente	a	primeira	definição	da	cultura.
FIGURA 1 – SÍNTESE DA PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE CULTURA
FONTE: O autor
Culture
Kultur
Civilization
Configura-se	que	a	criação	das	primeiras	nomenclaturas	dadas	por	países	
da	Europa	Ocidental,	para	interpretar	o	complexo	social,	sinalizou	que	havia	uma	
inquietação	 pelo	 estudo	 da	 sociedade,	 ou	 melhor,	 pelas	 interfaces	 de	 arranjos	
condizentes	 com	 formação	 social.	 Os	 temas	 de	 maiores	 proporções	 de	 estudos,	
na	primeira	metade	do	Século	XIX,	estavam	relacionados	à	etnografia	dos	grupos	
humanos,	suas	técnicas,	obras,	além	das	línguas,	crenças	e	tradições	(CLAVAL,	2011).
A	 compilação	 efetuada	 por	 Tylor trouxe,	 com	 imponência,	 a	 voz	 que	
definiu	a	cultura	dentre	os	estudos	da	antropologia,	porém,	história	apontou	que	
não	foi	a	única.	As	discussões	no	universo	conceitual	têm	uma	longa	jornada,	esta	
que	antecedeu	e	procedeu	a	interpretação	de	culture.	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
7
Edward Burnett Tylor
 Abreviadamente conhecido como Tylor (1832 -1917). Um britânico, antropólogo, 
cujas atividades foram relacionadas à escola do evolucionismo social. Foi considerado o pai 
do conceito moderno de cultura.
NOTA
Tylor	trouxe,	como	capacidade	interpretativa,	a	causa	e	regularidade	para	
cultura,	afirmando	que	ela	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo,	não	
nasce	com	características	culturais	próprias,	mas	a	cultura	passa	a	ser	concebida	
de	todas	as	coisas	que	são	adquiridas	por	meio	da	aprendizagem	na	sociedade.	
Como	exemplos,	símbolos,	práticas,	técnicas	e	tantos	outros	que	formam	ciclos	de	
práticas	que	desenvolvem	a	cultura	(CLAVAL,	2011).
Sobre	a	 compreensão	de	 cultura,	Wagner	e	Mikesell	 (2011)	 introduzem	
a	temática	sinalizando	que,	em	pessoas	cujas	vivências	são	em	grupos,	torna-se	
comum	apresentar	tendências	de	comportamentos	semelhantes,	como	o	pensar	e	
o	agir.	Tais	atributos	são	justificados	pela	rotina	de	vida	e	por	referências	únicas	
de	 condiscípulos	 e	mestres.	Compartilham	e	difundem,	 em	um	mesmo	nicho,	
suas	 relações	de	 trabalhos,	 conversas,	 observações,	 aprendizagem,	 significado,	
rituais	 e	 recordações	 do	 passado	 igualmente	 vivenciado,	 ou	 seja,	 a	 definição	
Tyloriana	de	cultura	acreditou	que	“[...]	o	meio	ambiente	podia	determiná-la	ou	
influenciá-la”	(CLAVAL,	2011,	p.	6),	argumento	que	caracterizou	uma	associação	
com	o	determinismo	geográfico.
Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 destacam	 que,	 naquele	 século,	 a	 noção	 de	
cultura	 se	 abstinha	 de	 estudar	 o	 ser	 enquanto	 indivíduo	 único,	 segundo	
características	 particulares.	 Contudo,	 havia	 destaque	 no	 estudo	 de	 grupos	 de	
pessoas	que	prontamente	estivessem	tomado	posse	de	áreas	espaciais	amplas	e	
bem	demarcadas,	além	daquelas	que	já	fossem	estabelecidas	em	suas	crenças	e	
comportamentos,	pois	essas	poderiam	identificar	ou	distinguir	entre	comunidades	
evolutivas.
Tylor	abriu	mão	do	relativismo	cultural	e	desconheceu	os	vários	caminhos	
da	cultura.	A	definição	de	cultura,	inspirada	no	darwinismo	evolucionista	que,	
a	 princípio,	 fundamentou	 e	 representou	 para	 muitos	 estudiosos	 das	 ciências	
humanas,	entre	eles	etnólogos,	antropólogos	e	geógrafos,	outrora	foi	considerada	
simplista,	pois	 congregava	um	termo,	uma	concepção	seccionada	sobre	 toda	a	
diversidade	 e	 complexidade	das	 relações	humanas.	A	 exemplo	da	 abordagem	
unilinear	realizada	como	método	de	análise	entre	civilizações	e	tribos	selvagens.	
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
8
A	abordagem	unilinear	 foi	um	método	de	análise	que,	sugestivamente,	
media	 os	 pares	 (seres	 humanos)	 de	 continentes	 diversos,	 segundo	uma	 régua	
de	estágios	evolutivos.	A	regra	evidenciava	que,	historicamente,	uma	sociedade	
passava	por	três	fases:	a	primeira,	de	selvageria,	a	segunda,	de	barbarismo,	até	
chegar	ao	ultimo	grau,	a	civilização.	Sugestivamente,	povos	eram	dimensionados	
e	expostos	a	uma	supervalorização	e	subestimação.	Foram	sinalizadas,	mediante	
a	 unilinearidade,	 as	 diferenças	 latentes	 entre	 as	 tribos	 indígenas	 brasileiras	 e	
civilizações	da	Europa.
Franz Uri Boas (1858-1942)
 O criador da escola cultural americana nasceu na cidade alemã de Westfália, mas 
projetou sua carreira nos Estados Unidos desde 1886. Apesar de ter estudado nas áreas da 
física e da geografia com o professor Ratzel, foi na antropologia que se descobriu quando 
fez uma expedição geográfica até a ilha Baffinland – Canadá. Uma experiência com os 
esquimós o tornou o antropólogo da era moderna.
NOTA
Longe	de	uma	conceituação	acabada,	um	outro	capítulo	sobre	a	história	da	
evolução	do	conceito	de	cultura	foi	formado,	dessa	vez,	com	Franz	Boas,	no	circuito	da	
antropologia,	entre	os	anos	de	1920-1930	do	Século	XX	(CLAVAL,	2011).	
Franz	 Boas	 ficou	 conhecido	 por	 se	 contrapor	 ao	método	 evolucionista	
unilinear	e	ser	contra	a	teoria	do	determinismo	geográfico	quando	propagada	pela	
capacidade	generalizadora,	referindo-se	à	normatização	da	influência	geográfica	
acerca	dos	fundamentos	culturais	de	um	povo.
O	 determinismo	 geográfico	 considera	 que	 as	 diferenças	 do	 ambiente	
físico	 condicionam	 a	 diversidade	 cultural.	 São	 explicaçõesexistentes	 desde	
a	 Antiguidade,	 das	 formuladas	 por	 Pollio,	 Ibn	 Khaldun,	 Bodin	 e	 outros.	 Na	
virada	do	Século	XIX	para	o	XX,	teorias	foram	popularizadas	e	vigorosamente	
estudadas	 por	 geógrafos.	 A	 publicação	 de	 obras	 contribuiu	 para	 a	 expansão	
do	determinismo	geográfico.	Para	a	análise,	 foram	utilizados	dois	parâmetros,	
a	 latitude	e	os	centros	de	civilização,	tomando,	como	verdade	absoluta,	que	as	
regiões	dependiam	do	clima	como	um	condicionante	para	o	progresso.
Ele	se	diferenciou	por	erguer	a	bandeira	da	‘diversidade	cultural’,	inclusive,	
entre	 entes	 de	 uma	mesma	 região,	 difundindo	 que	 existia	 um	 particularismo	
histórico.	 Boas,	 enquanto	 antropólogo,	 questionou	 explicações	 da	 sociedade	 e	
cultura	por	meio	único	de	leis	evolucionistas,	direcionando	uma	crítica	a	modos	
limitados	dos	métodos	comparativos.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
9
De	maneira	 explicativa,	 a	 partir	 de	 uma	 abordagem	multilinear,	 Boas	
sugeriu	 a	 antropologia	 abdicar	 do	 método	 simples	 da	 comparação	 e	 fazer	
análises	culturais	dos	povos/regiões	mediante	dois	caminhos:	primeiro,	partindo	
do	pressuposto	de	que	 todo	povo	ou	 região	possui	uma	história,	para	melhor	
compreensão	 da	 realidade,	 tornava-se	 importante	 fazer	 uma	 reconstrução	
histórica;	o	segundo,	de	caráter	complementar,	pois	traçava	um	comparativo	da	
relação	social	entre	povos	distintos,	segundo	leis	semelhantes.
 
Como	formador	cultural	de	inúmeros	antropólogos,	Franz	Boas	foi	uma	
grande	referência	para	o	antropólogo	Alfred	Kroeber,	um	nome	que	cresceu	na	
sociedade	acadêmica	frente	à	teoria supraorgânica	(CORRÊA,	2009).
Kroeber	elaborou	uma	perspectiva	da	cultura	segundo	a	gênese	da	vida	
humana.	Para	ele,	o	processo	de	desenvolvimento	do	homem	começa	pelo	nível	
inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	que	se	sobrepõe	aos	demais	
níveis	(CORRÊA,	2009).
 
No	 decorrer	 dos	 primeiros	 vinte	 e	 cinco	 anos	 do	 Século	 XX,	 o	
desenvolvimento	 de	 outro	 ciclo	 na	 reelaboração	 do	 conceito	 de	 cultura	 foi	
formado.	 Agora,	 os	 aspectos	 biológicos/naturais,	 dados	 em	 hegemonia	 nas	
análises	anteriores,	foram	interrompidos	em	virtude	do	novo	valor	empregado	
à	 cultura.	A	 “[...]	 cultura	 era	 vista	 como	uma	 entidade	 acima	do	homem,	não	
redutível	 às	 ações	 do	 indivíduo	 e,	 misteriosamente,	 contemplando	 as	 leis	
próprias”	(DUNCAN,	2011,	p.	64).
 
Conforme	Duncan	(2011),	os	principais	holistas	transcendentais,	criadores	
da	teoria	que	elevou	a	cultura	a	um	patamar	de	superioridade	naquele	período,	
foram	os	antropólogos	Alfred	Kroeber	e	Robert	Lowie.	Logo	adiante,	Leslie	White	
pôde	prosseguir	com	a	tese	neoevolucionista.
 
Kroeber	 redirecionou	 a	 antropologia	 americana,	 de	 um	 determinismo	
geográfico	na	perspectiva	da	cultura,	para	um	determinismo	puramente	cultural.	
Para	 a	 teoria	 supraorgânica,	 os	 valores	 funcionavam	 como	 código,	 este	 que	
controlava	as	mentes	humanas	e,	por	conseguinte,	suas	atividades	desenvolvidas.	
Os	 indivíduos	 passaram	 a	 ser	 reconhecidos	 como	 simples	 coadjuvantes	 da	
suprema	 cultura,	 apenas	 com	a	 função	de	porta-voz,	 levando-a	por	diferentes	
regiões	e	períodos	(DUNCAN,	2011).
Para	Kroeber,	a	realidade,	a	natureza	do	desenvolvimento	humano	tinha	
um	formato	estabelecido	por	ordem	de	prioridades,	um	cenário	no	qual	a	cultura	
pairava	sob	os	demais	seguimentos,	representados	em	níveis	hierárquicos,	livres	
de	explicações	associativas	entre	si	(DUNCAN,	2011).
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
10
FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO DA REALIDADE APRESENTADA POR KROEBER
FONTE: O autor
Cultural/Social
Psicológico/Biofísico
Orgânico
Inorgânico
A	criação	e	a	veneração	pela	cultura,	como	uma	entidade	autônoma,	não	
tinham	 apenas	 um	 sentido	 conceitual,	mas	 objetivos	 internos	 da	 antropologia	
enquanto	ciência.	Assim,	“[...]	ao	elevar	a	cultura	a	um	nível	superior,	o	antropólogo	
não	 tinha	 mais	 necessidade	 dos	 indivíduos	 e,	 portanto,	 não	 precisavam	 dos	
processos	psicológicos”	(DUNCAN,	2011,	p.	67).	Trava-se	de	discutir	a	cultura	
sem,	 necessariamente,	 interligar	 explicações	 com	 os	 fundamentos	 ou	 níveis.	
Sendo	protegida	dos	demais	aspectos,	tornava-se	um	meio	autêntico	de	pesquisa	
da	antropologia.
 
Para	além	daquele	fato,	a	visão	do	holismo	transcendental	massificou	pontos	
fundamentais	para	o	período	na	antropologia	e,	por	conseguinte,	influenciou	outras	
ciências	que	utilizavam	as	bases	conceituais.	É	possível	que,	nesta	parte	do	 texto,	
você	 esteja	 se	 perguntando:	 o	 que	 seria	 o	 holismo	 transcendental?	 Discutimos,	
anteriormente,	que,	para	Kroeber	e	demais	antropólogos,	os	 indivíduos	com	suas	
aparentes	 atividades	 assumiram	 um	 papel	 de	 meros	 agentes	 passivos	 frente	 a	
ordens	de	algo	superior.	“Os	holistas	acreditam	que	eventos	de	larga	escala,	como	o	
declínio	de	nações,	são	autônomos	e	amplamente	independentes	dos	indivíduos	que	
participam”	(DUNCAN,	2011,	p.	66).
Caros	alunos,	a	definição	de	cultura,	realizada	por	Tylor	e	tantos	outros	
antropólogos,	passou	por	críticas	a	partir	da	perspectiva	de	Geertz	(2008,	p.	3).	Ele	
expõe	que	“[...]	todavia,	esse	padrão	se	confirma	no	caso	do	conceito	de	cultura,	
em	 torno	do	 qual	 surgiu	 todo	 o	 estudo	de	 antropologia	 e	 cujo	 âmbito	 tem	 se	
preocupado	cada	vez	mais	em	limitar,	especificar,	enforcar	e	conter”.
Segundo	 Claval	 (2011),	 após	 os	 anos	 1940-1970,	 a	 perspectiva	 que	
compreendia	a	cultura	como	algo	não	redutível	ao	ser,	apesar	de	haver	ampla	
influência,	 passou	 a	 ser	 substituída,	 pois	 as	 relações	 mundiais	 passavam	 por	
mudanças,	motivo	que	influenciou	a	ciência	a	redirecionar	olhares	para	além	da	
materialidade	da	vida,	técnicas	produtivas.
 
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
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Para	a	ciência,	não	bastava	apenas	apresentar	os	efeitos	que	os	fenômenos	
culturais	causavam	na	sociedade.	Era	preciso	atribuir,	ao	indivíduo,	o	real	valor	
da	 sua	 visão	 de	 autóctone,	 explicar	 mais	 que	 a	 permanência	 das	 estruturas,	
compreendendo	suas	evoluções	e	história	(CLAVAL,	2011).
 
Considera-se	 que	 os	 antropólogos	 da	 América	 do	 Norte,	 após	 1970,	
apresentaram	 mais	 fortemente	 outro	 rumo	 conceitual	 de	 cultura,	 concepções	
epistemológicas	 cuja	 abordagem	 trilhava	 as	 dimensões	 simbólicas	 (CLAVAL,	
2011).
 
Para	 entender	 a	 cultura,	 Geertz	 (2008)	 fez	 algumas	 análises	 sobre	 o	
processo	de	evolução	biológica	do	homem,	refutando	a	 teoria	do	ponto	crítico	
(ao	entendimento	de	que	a	cultura	apareceu	abruptamente)	e,	fundamentando-
se	na	paleontologia	e	arqueologia,	 criou	algumas	hipóteses,	 entendendo	que	a	
cultura	 vem	 de	 um	 processo	 anterior	 ao	 desenvolvimento	 orgânico,	 a	 passos	
ininterruptos,	porém	lentos.	Na	sua	teoria,	o	homem	foi	um	produto	da	cultura,	
mas	logo	tornou-se	também	um	produtor,	acumulando	e	a	desenvolvendo	dentro	
de	um	processo	complexo.
Geertz	(2008)	menciona	que,	no	período	da	efervescência	do	Iluminismo,	
uma	 máxima	 foi	 dita	 por	 Whitehead	 para	 as	 ciências	 naturais,	 foi	 assumida	
pelas	 ciência	 sociais	 como	 um	 ideal	 científico	 autorizando	 noções	 simplistas	
para	 a	 compreensão	 da	 cultura.	 Segundo	 o	 ditado	 “confie,	 desconfiando”	 da	
simplicidade,	para	Geertz,	o	estudo	do	homem	estava	intrinsicamente	ligado	à	
cultura,	logo,	em	tons	de	crítica,	ele	propôs	que	autor	da	máxima	buscasse	afirmar	
o	 contrário	 para	 as	 ciências	 sociais:	 “[...]	 procure	 a	 complexidade	 e	 ordene-a”	
(GEERTZ,	2008,	p.	25).
A	perspectiva	 iluminista	do	homem	era,	naturalmente,	a	de	que	ele	
constituía	uma	só	peça	com	a	natureza	e	partilhava	da	uniformidade	
geral	 de	 composição	 que	 a	 ciência	 natural	 havia	 descoberto	 sob	 o	
incitamento	de	Bacon	e	a	orientaçãode	Newton.	Resumindo,	há	uma	
natureza	 humana	 tão	 regularmente	 organizada,	 tão	 perfeitamente	
invariante	 e	 tão	 maravilhosamente	 simples	 como	 o	 universo	 de	
Newton.	Algumas	de	suas	leis	talvez	sejam	diferentes,	mas	existem leis.	
Parte	da	sua	 imutabilidade	talvez	seja	obscurecida	pelas	armadilhas	
da	moda	local,	mas	ela	é imutável	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
Geertz	 buscou	 significar	 o	 homem	 mediante	 a	 definição	 de	 cultura.	
Absteve-se	da	idealização	da	clássica	ciência	antropológica,	que	foi	responsável	
por	 criar	 um	 modelo	 ideal	 de	 homem,	 mas	 o	 fato	 desenvolvido	 evidencia	 a	
diversidade	cultural	em	contraponto	a	uma	unicidade	da	espécie	humana.
Geertz	(2008)	demonstra	que	a	cultura,	no	sentido	amplo,	não	se	limita,	
não	 determina,	 ela	 circula,	 é	 livre,	 democrática,	 pode	 ser	 partilhada	 entre	 as	
pessoas.	O	ser	independente	de	faixa	etária	sempre	estará	pronto	para	vivenciar	
limitadamente	uma	parte	da	cultura,	pois	compreendê-la	em	suas	várias	dimensões	
e	plenitude	seria	como	correr	 junto	à	persistente	dinâmica	de	significados	dos	
elementos	culturais.
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
12
Numa	perspectiva	demonstrativa,	as	dimensões	simbólicas	se	aplicavam	
às	diversas	práticas	 sociais	 e	 suas	 interligações,	 ao	 contrário	dos	processos	de	
generalização	e	segmentação	de	análises,	como	propõe	Geertz	(2008,	p.	21):
Olhar	as	dimensões	simbólicas	da	ação	social	-	arte,	religião,	ideologia,	
ciência,	lei,	moralidade,	senso	comum	-	não	é	afastar-se	dos	dilemas	
existenciais	da	vida	em	favor	de	algum	domínio	empírico	de	formas	
não	 emocionalizadas.	 É	 mergulhar	 no	 meio.	 A	 vocação	 essencial	
da	 antropologia	 interpretativa	 não	 é	 responder	 às	 questões	 mais	
profundas,	mas	colocar,	à	disposição,	as	respostas	que	outros	deram	
-	apascentando	outros	carneiros	em	outros	vales	–	e,	assim,	incluir	no	
registro	de	consultas	sobre	o	que	o	homem	falou.
A	 antropologia	 interpretativa	 identificada	 na	 essência	 dos	 estudos	 de	
Geertz	buscava	neutralizar	qualquer	significado	fixo	para	teorizar	a	cultura,	e	sua	
pesquisa	não	se	limitou	às	respostas	prontas	e	acabadas	como	receitas	herdadas.	
O	princípio	do	estudo	apresentava	os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	
dinâmicas	com	as	dimensões	simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
Cliford Geertz 
 Ingressou como discente do curso de Antropologia na Universidade de Harvard - 
Departamento de Relações Sociais. Posteriormente, como docente, ensinou por dez anos 
no Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago, em Princeton. No Instituto 
de Estudos Avançados, percorreu uma longa trajetória enquanto professor. Entre inúmeros 
ensaios, elaborou o livro A interpretação das Culturas, no ano de 1973. Como antropólogo, 
interessou-se em redefinir dinamicamente o conceito de cultura, mas trabalhou também 
nas áreas de desenvolvimento econômico, organização social, história comparativa e 
história da ecologia cultural.
NOTA
Outras	 correntes	 fizeram	 parte	 do	 processo	 evolutivo	 dos	 estudos	 de	
cultura,	 e	uma	é	 explicada	pelo	 ambiente	 econômico	 concebido	 também	pelas	
guerras.	“[...]	A	cultura	torna-se	um	instrumento	de	dominação.	É	usado	pelas	
classes	mais	altas	para	impor,	às	classes	mais	baixas,	comportamentos	conforme	
seus	interesses”	(CLAVAL,	2011,	p.	8).
 
A	 inserção	 do	 marxismo	 como	 modo	 explicativo	 através	 da	 corrente	
teórica	do	materialismo	histórico	e	dialético	para	a	cultura	influenciou	estudiosos	
como	Gramsci	e	Raymond	Williams.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
13
No	período	dos	anos	setenta,	embasamentos	na	área	da	sociologia,	com	
Stuart	 Hall,	 também	 trouxeram	 compreensões	 sobre	 os	 estudos	 culturais.	 Ele	
dinamizou	seu	trabalho	intelectual,	e	seu	objetivo	não	era	se	apropriar	de	ideias	
como	 devoto,	 nem	 retalhar	 pontos	 inconsistentes	 frente	 seu	 posicionamento.	
Além	dele:
 
Deglutiu	 Marx,	 Gramsci,	 Bakhtin.	 Saboreou	 Louis	 Althusser,	
Raymond	 Williams,	 Richard	 Hoggort,	 Fredric	 Jameson,	 Richard	
Rorty,	 Jacques	 Derrida,	 Michel	 Foucault,	 E.	 P.	 Thompson,	 Gayatri	
Spivak,	Paul	Gilroy,	com	algo	de	Ien	Ang,	Cornel	West,	Homi	Bhabha,	
Michele	Wallace,	 Judith	 Butler,	 David	Morley,	 assim	 como	 ingeriu	
Doris	Lessing,	Barthes	Weber,	Durkheim	e	Hegel	(SOVIK,	2003,	p.	10).
 
Apesar	de	descordar	de	alguns	pontos	 relativos	à	 teoria	de	Marx,	Hall	
foi	atraído	pelos	atributos	do	estudo	referente	à	 teoria	do	capital/classe	 social,	
de	 poder/exploração,	 e	 da	 produção	 de	 conhecimento	 crítico.	 Ainda,	 em	
Gramsci,	pôde	absorver	o	estudo	de	raça	e	etnia	para	compreensão	da	realidade	
contemporânea	e	o	multiculturalismo	(SOVIK,	2003).
Hall	contribuiu	com	os	paradigmas	da	teoria	da	cultura,	interessado	em	
pensar	sobre	o	social	e	simbólico	 longe	do	reducionismo.	“[...]	Ele	persistiu	no	
estudo	relação	entre	os	meios	de	comunicação	e	a	cultura,	o	lugar	da	história	no	
estudo	da	cultura	contemporânea,	a	sua	epistemologia	ou,	ainda,	a	maneira	pela	
qual	lê	questões	das	etnias	dominantes	e	de	gênero”	(SOVIK,	2003,	p.	14).
Stuart Hall (1932)
 Sua origem jamaicana auxiliou a escolha por dois motivos de estudo: 
preocupações étnicas e anticoloniais. Enquanto intelectual da sociologia, repensou 
a cultura frente à globalização. Entre os anos de 1958-1961, atuou na revista New Left 
Review, propondo temáticas sobre compreensão das classes sociais, movimentos sociais 
e política, desarmamento nuclear e questões raciais britânicas. Em 1964, na universidade 
de Birmingham, foi um dos fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies. Em 
1979, foi transferido para a Open University, onde institucionalizou os estudos culturais 
britânicos e, em períodos posteriores, pôde constatar o crescimento dessas pesquisas por 
diferentes partes do mundo.
NOTA
Cremos	que,	durante	a	primeira	leitura	acerca	da	cultura	enquanto	diretriz	
de	pesquisa	 acadêmica,	 você	percebeu	uma	 sutil	 linha	do	 tempo.	Ela	 teve,	 como	
propósito,	evidenciar	algumas	das	inúmeras	dinâmicas	na	evolução	da	definição	de	
cultura.	É	certo	que	não	tocamos	na	totalidade	do	estudo,	tendo	em	vista	que	não	é	
nosso	objetivo	central,	mas	apresentamos	diferentes	períodos,	concepções	do	termo,	
além	de	uma	apresentação	teórica	epistemológica	ligada	à	cultura.
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
14
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A 
GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL
Propomos,	nesta	 fase,	que	haja	uma	reflexão	sobre	a	geograficidade	da	
geografia	cultural.	Para	 isso,	motivamos	você	a	 responder	breves	perguntas:	É	
possível	tornar	geográfico	um	fenômeno	que	envolve	dimensões	religiosas?	Como	
compreender	os	territórios	além	das	delimitações	físicas?	Existem	aproximações	
entre	estudos	de	 identidade	e	geografia?	Certamente,	ao	 longo	do	processo	de	
conhecimento,	outros	inúmeros	questionamentos	serão	realizados,	possibilidades	
de	temáticas	pesquisadas,	mas	atenção	quanto	à	espacialização	do	fenômeno.
 
Gomes	(2009,	p.	27)	generosamente	esclarece	que	“há,	contudo,	sempre	
uma	análise	geográfica	quando	o	 centro	de	nossa	questão	 é	 a	ordem	espacial,	
pouco	 importando	 o	 tipo	 de	 fenômeno	 [...]”.	 A	 geografia	 cultural	 possui	
seus	 fundamentos	 amparados	 na	 ciência	 geográfica	 e	 essa	 unidade	 pode	 ser	
demonstrada	a	partir	da	absorção	intelectual	nas	bases	geográficas.
A	geografia	cultural	está	associada	a	experiências	que	os	homens	têm	
da	terra,	da	natureza	e	do	ambiente.	Estuda	a	maneira	pela	qual	eles	
modelam	para	responder	às	necessidades,	seus	gostos	e	suas	aspirações,	
e	procura	compreender	a	maneira	como	eles	aprendem	a	se	definir,	a	
construir	sua	identidade	e	a	se	realizar	(CLAVAL,	1997,	p.	89).
FIGURA 3 – RELAÇÃO VISUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CULTURAFONTE: O autor
Geografia
Geografia	
Cultural
Base	de	estudo	para	o	subcampo	
da	Geografia	Cultural.
Interesses da disciplina Geografia Cultural
•	 Relação	Homem	-	Espaço;
•	 Dimensões	simbólicas;	
•	 Experiência	humana	dos	sentidos	e	percepções;
•	 Estudo	da	diversidade	-	integrantes	da	sociedade.
Como	é	oriunda	da	ciência	geográfica,	é	natural	que	o	alicerce	da	geografia	
cultural	seja	correspondente.	Tais	 fundamentos	 foram	reconhecidos	por	Claval	
(2011),	quando	apresentou	um	balanço	desses	elos	mostrando	o	que	vinculam.	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
15
“[...]	A	geografia	que	estuda	os	grupos	humanos	se	detém	nos	discursos	
e	 nas	 representações,	 uma	 vez	 que	 estas	 últimas	 traduzem	 maneiras	 de	
padronização”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
A	geograficidade	é	uma	nomenclatura	referida	por	Dardel,	que	propõe	
a	 busca	 pela	 decodificação	 do	 espaço	 através	 do	 que	 se	 sente	 ou	 reconhece	 a	
partir	das	distintas	formas	atribuídas	ao	meio.	Há	categorias:	os	espaços,	lugar,	
paisagens,	 naturais	 ou	 artificiais,	 além	 da	 identidade	 e	 territorialidade.	 São	
estruturas	e	modo	pelo	qual	o	ser	humano	pode	desenvolver	suas	habilidades	e	
seu	enraizamento	existencial.
A	seguir,	apresentaremos	nove	pontos	sobre	os	quais	a	geografia	cultural	
se	baseou	para	desenvolver	suas	análises	e	narrativas.
QUADRO 1 – CONCEPÇÕES ABORDADAS PELA GEOGRAFIA CULTURAL
Relação de aspectos comuns entre Geografia e a Geografia Cultural
I-	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações
II-	A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados
III-	A	cultura	existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam.	Eles	se	constroem	
como	indivíduos	no	processo
IV-	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social
V-	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	de	
identidade
VI-	A	construção	da	sociedade	pela	cultura
VII-	A	construção	do	espaço	pela	cultura
VIII-	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores
IX-	Cultura	e	ideologias	comunitárias
FONTE: Adaptado de Claval (2011, p. 16 -19)
Percebe-se	 que,	 dentro	 da	 abordagem,	 o	 homem	 se	 destaca.	 Tal	 fato	
caracteriza	 a	 geografia	 cultural	 moderna	 e	 na	 perspectiva	 que	 discutiremos	
pontualmente	os	conteúdos	apresentados.
O	 primeiro	 ponto,	 “o	 conhecimento	 do	 mundo	 sempre	 se	 faz	 através	
das	 representações”,	 indica	 que	 o	 ser	 humano,	 a	 princípio,	 não	 adquire	 um	
conhecimento	instantâneo	sobre	os	fatos	e	realidades	da	terra,	pois	são	distintos,	
a	exemplo	das	estruturas	de	organização	espacial	e	 lugares,	mas	o	processo	se	
inicia	de	maneira	básica,	com	os	sentidos	e	as	sensações	liberadas	aos	primeiros	
contatos	do	indivíduo	com	o	mundo.
Claval	 (1997)	 afirma	 que	 o	 homem	 interpreta	 o	 mundo	 por	 meio	 dos	
sentidos	 inerentes	a	ele.	Com	a	visão,	observa-se	as	 formas,	audição,	 ruídos	e,	
com	olfato,	aromas.	“[...]	O	homem	age,	primeiramente,	em	função	das	indicações	
que	ele	recebe	dos	sentidos”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
16
Outra	afirmativa	do	autor	supracitado	se	refere	à	sensação,	garantindo	que	
esta,	apesar	de	refletir	a	realidade,	apenas	torna-se	segura	quando	assume	uma	
condição	estável,	ou	seja,	quando,	junto	com	a	sensação,	exista	uma	percepção.
A	percepção	é	um	importante	elemento	da	dinâmica	das	representações	
sociais,	pois	significa	o	movimento	de	um	sujeito	situado	na	relação	
com	o	concreto	em	construção.	A	apreensão	que	o	sujeito	faz	a	partir	
dos	 referenciais	 faz	 concluir	 que	 a	 racionalidade	 não	 está	 imune	 à	
ideologia	(BOMFIM,	2012,	p.	15).
Para	Claval	(1997),	o	contexto	das	representações	se	pauta	em	processos	
que	ocorrem	entre	indivíduos,	relacionando,	por	exemplo,	a	educação	na	troca	de	
experiências	e	a	construção	da	realidade	e	reinterpretação.	A	estruturação	da	fase	
ocorre	no	domínio	do	cognitivo,	primeiramente	com	as	sensações	adquiridas	e,	
depois,	com	a	idealização	da	imagem	constituída.
De	 acordo	 com	 o	 que	 está	 sendo	 desenvolvido	 e	 relacionado	 às	
representações,	poderíamos	questionar	qual	a	finalidade.	Claval	(1997)	sintetiza	
que	as	 representações	 são	como	 tramas,	um	conjunto	de	fios	entrelaçados	que	
contribuem	 para	 que	 o	 indivíduo	 assimile	 a	 realidade,	 destacando	 aspectos	
sociais,	 geográficos	 e	 metafísicos.	 Por	 fim,	 essas	 representações	 subsidiam	 a	
criação	de	valores,	alimentando	a	formação	de	ordens	regulamentadoras.
Certamente,	 a	 discussão	 ganha	 rumos	 discordantes	 também,	 pois	 a	
realidade	 pode	 não	 ser	 refletida	 fielmente,	 mas	 individualizada	 através	 da	
percepção.	 “[...]	 Os	 homens	 não	 agem	 em	 função	 do	 real,	 mas	 em	 razão	 da	
imagem”	(CLAVAL,	1997,	p.	94).
 
Se	 o	 indivíduo	 for	 capaz	de	 captar,	 questionar,	 perceber	 os	 ambientes,	
buscando	entender	como	funciona	a	criação	das	representações	e,	também,	sua	
capacidade	 de	 interferência	 em	 escalas	 macro	 ou	micro,	 inevitavelmente,	 sua	
intenção	se	alinha	às	dimensões	da	geografia	cultural.
As	 representações	 são	 percebidas	 eficazmente	 na	 geografia	 cultural	
enquanto	 ciência	por	 volta	da	década	de	 1980	para	 1990.	 Primeiramente,	 com	
as	 representações	 mentais	 de	 imagens	 relacionadas	 ao	 meio	 ambiente,	 como	
os	alpes,	neve,	comunidades	locais	ou	turísticas.	Posteriormente,	outro	aspecto	
passou	 a	 ser	 levado	 em	 consideração,	 o	 do	 meio	 social	 e	 os	 discursos,	 ou	 o	
poder	da	utilização	da	língua	relacionado	à	construção	da	realidade	geográfica	
(CLAVAL,	2011).
O	segundo	ponto	descrito	no	quadro,	“a	cultura	é	construída	a	partir	de	
elementos	transmitidos	ou	inventados”,	destitui	a	ideia	de	que	a	cultura	é	inata	e	
nasce	com	o	homem.	As	culturas	são	aprendidas	e	assimiladas	por	um	processo	de	
transmissão,	representadas	pelo	agrupamento	de	práticas,	conhecimentos,	atitudes	
e	 crenças.	 Dois	 fatores	 são	 importantes	 para	 compreender	 os	 conhecimentos	 e	
práticas:	a	natureza	e	o	conteúdo	da	cultura	portada	por	cada	sujeito.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
17
A	transmissão	pela	língua	nativa,	gestos,	escrita	e	mídias	modernas	são	
meios	de	difusão	da	cultura,	mas,	para	a	geografia	cultural,	os	lugares	onde	ocorre	
essa	difusão	 se	destacam,	estrategicamente,	 tanto	na	 formação	do	 ser	humano	
quanto	na	elaboração	da	cultura,	pois	“os	 lugares	e	 suas	paisagens	servem	de	
suporte	a	uma	parte	das	mensagens	transmitidas”	(CLAVAL,	2011,	p.	16).
Para	Claval	(1997,	p.	94),	“a	informação	que	constitui	a	cultura	concerne	
o	 ambiente	 natural	 no	 qual	 vive	 o	 homem,	 a	maneira	 de	 produzir	 alimentos,	
energia	e	matéria-prima,	assim	como	as	formas	de	construir	instrumentos	e	de	
empregá-los	para	criar	ambientes	artificiais”.
No	 terceiro	 ponto,	 é	 perceptível	 que	 a	 geografia	 cultural	 apresente	 o	
sujeito	 com	 destaque	 em	 relação	 ao	 processo	 de	 absorção	 e	 modificação	 da	
cultura,	 indicando,	 também,	uma	mudança	na	dimensão	 individual	 do	 ser	 ao	
longo	da	vida.
 
O	processo	pode	ser	tomado,	inicialmente,	a	partir	da	fase	infantil,	período	
de	 conhecimento	 prático,	 habilidades,	 competências,	 base	 para	 uma	 estrutura	
interna	segundo	noções,	preferências	e	crenças.	Posteriormente,	na	adolescência,	
segundo	um	processo	de	interiorização	e	reconstrução	que	prossegue	absorvendo	
novos	 conhecimentos,	 técnicas	 e	 valores	 que	 vão	 se	 transformando	 nas	 fases	
vindouras,	ou	seja,	todo	o	processo	não	finda	em	uma	faixa	etária.
 
Apesar	do	ciclo	de	transformações	ser	constante	em	todas	as	fases,	é,	na	
vida	adulta,	que	o	sujeito	entende	os	processos	de	institucionalização	indicados	
pelas	regras	e	valores	desenvolvidos	pela	sociedade.
Contextualizando, é possível que você, enquanto estudante, já tenha instalado 
um aplicativoem seu smartphone. Quando a tarefa é realizada, observe que ele vem 
pronto e pode ser colocado de forma idêntica em qualquer outro aparelho. São meios 
engessados, não pensam por si, já nós, seres humanos, temos a capacidade de controle, 
somos agentes de um processo de transformação em cada etapa, temos a escolha de 
seguir ou não adiante. As mudanças são constantes, diárias. Em segundos, opiniões são 
desfeitas e refeitas. 
 As culturas também não são como um programa fixo, definido, mas são 
heterogêneas, principalmente entre os entes da sociedade, em seus processos de 
construção. Imagine o Brasil, onde as regiões possuem suas particularidades entre 
cultura, fauna, flora, paisagens, e todas as dinâmicas espaciais, incluindo grupos sociais 
que carregam identidade própria. Certamente, a partir de um processo de recebimento de 
cultura que todo e qualquer indivíduo se desenvolve.
NOTA
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
18
	 “O	processo	da	 construção	da	 cultura	 também	é	um	processo	 social”.	
Para	 a	 compreensão	 do	 tópico,	 Claval	 (2011)	 inicia	 apresentando	 o	 indivíduo	
como	um	resultado	de	um	processo	social,	tendo	em	vista	a	influência	coletiva	
que	 ele	 experimenta.	 Desde	 atitudes,	 costumes,	 representações	 e	 valores,	 foi	
argumentado	que,	dentro	de	cada	processo	social,	a	transmissão	torna-se	a	etapa	
mais	significativa.	É	a	partir	dela	que	o	sujeito	se	torna	um	ser	social,	diferente	ou	
semelhante	a	outros.	“O	processo	é	tão	fundamental	quanto	o	processo	de	divisão	
da	sociedade	em	profissões,	em	estatutos,	em	classes	ou	conforme	as	riquezas”	
(CLAVAL,	2011,	p.	17).
Neste	momento,	vamos	observar	o	seu	entendimento	da	afirmativa:	“A	
construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	dos	sentidos	
de	identidade”.
A	 grande	 maioria	 dos	 brasileiros	 porta	 documentos,	 e	 um	 deles	 é	 a	
identidade.	É	caracterizada	por	conter	informações	básicas	de	quem	você	é,	sua	
origem,	descendência,	 sobrenome,	o	 local	de	nascimento,	quesitos	que	podem	
dizer	 algo	 ao	 seu	 respeito,	 não	 o	 bastante	 quando	 se	 refere	 à	 construção	 da	
individualidade	e	às	diferenças.	Ao	longo	da	vida,	de	forma	individual,	o	sujeito	
busca	 formar	 uma	 identidade,	 e	 as	 pessoas,	 coletivamente,	 buscam	 perpetuar	
uma	identidade	já	estabelecida.
 
Sobre	o	sentido	da	identidade,	Claval	(2011)	afirma	que	é	uma	experiência	
individual,	e	está	relacionada	com	os	convívios	familiar	e	social.	A	identidade,	
em	 caso	 de	 confissão	 de	 fé	 ou	 concretude	 de	 uma	 nação,	 advém	de	 conjunto	
aplicado	à	construção	do	 intelecto	e	ao	ensino	sistemático.	Um	outro	ponto	se	
refere	à	imparcialidade	entre	a	ligação	de	um	dado	território	com	uma	identidade	
anteriormente	 assumida.	 A	 partir	 do	 advento	 das	 mídias	 modernas,	 outras	
perspectivas	 foram	 analisadas,	 houve	 uma	 intervenção	 quanto	 às	 posições	
hegemônicas	e	novos	conceitos	foram	gerados	e	associados.
A partir de uma experiência pessoal, é possível entender o sentido da 
identidade na formação do ser social. Eu, sou professor, por exemplo, sou natural da cidade 
de Campina Grande, localizada no estado da Paraíba, região do Nordeste brasileiro, mas 
hoje escrevo de uma cidade situada na Região Sul, conhecida por ter sido uma colônia 
alemã, Blumenau. 
 
 Com os blumenauenses, revivi as raízes culturais germânicas a partir de festas 
típicas, do uso da língua alemã entre as famílias, na culinária, nas construções e edificações, 
apesar de brasileiros, assim como eu, outros habitantes da cidade, se distinguirem de mim 
e das minhas heranças culturais. Essas relações formam grupos com uma identidade local 
e demais com suas referências culturais diferentes.
NOTA
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
19
As	 identidades	 se	 associam	ao	 espaço:	 elas	 se	 baseiam	nas	 lembranças	
divididas,	 nos	 lugares	 visitados	 por	 todos,	 nos	monumentos	 que	 refrescam	 a	
memória	dos	grandes	momentos	do	passado,	nos	símbolos	gravados	nas	pedras	
das	esculturas	ou	nas	inscrições	(CLAVAL,	1997).
O	sexto	tópico	explica	que,	assim	como	a	sociedade,	a	partir	da	cultura,	
interfere	na	formação	do	indivíduo,	a	sociedade	também	é	resultado	das	práticas	
culturais:
 
A	análise	parte	do	calendário	de	cada	um,	de	sua	agenda,	dos	papéis	
diversos	 que	 ele	 tem	 no	 tempo,	 da	 proximidade	 com	 aqueles	 que	
têm	o	mesmo	papel.	O	processo	gera	uma	consciência	de	pertencer	
a	 uma	 comunidade	 compartilhada,	 a	 uma	 mesma	 classe,	 quando	
os	 indivíduos	 que	 efetuam	 as	 mesmas	 atividades	 se	 comunicam	
facilmente	e	têm	uma	ideia	clara	da	semelhança	de	seus	problemas	e	
interesses.	Ao	mesmo	tempo,	a	participação	dos	 indivíduos	em	face	
de	relações	institucionalizadas	explica	a	divisão	do	trabalho	social	e	o	
funcionamento	dos	grupos	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
A	geografia	cultural	deve,	como	prioridade,	apresentar	a	construção	do	
espaço	pelo	prisma	da	 cultura.	Claval	 (1997;	 2011)	 fez	uma	 retrospectiva	para	
compreendermos.
 
A	princípio,	o	homem	fez	uso	do	espaço	de	maneira	que	contemplasse	
suas	necessidades	de	alimentação,	retirando	da	natureza,	da	segurança	e	proteção	
em	relação	aos	eventos	naturais	e	àqueles	oriundos	do	meio	social.	De	maneira	
esclarecedora,	 o	 autor	 expõe	 que	 a	 organização	 do	 espaço	 desenvolvida	 pelo	
homem	nem	sempre	apontou	por	efeitos	nocivos,	mas,	em	sua	maioria,	exaltou-
se	pela	representatividade	da	conquista	e	domínio	do	meio.
Para	Claval	(2011),	a	organização	espacial	é	resultado	de	percepção	de	que	
o	homem	tem,	do	espaço,	uma	força	de	atuação	coletiva,	desenvolvendo	técnicas,	
modelos	e	sua	socialização	para	construir.
 
No	 âmbito	 da	 organização	 espacial,	 é	 inerente	 focalizar	 no	 item	 da	
socialização	do	 espaço.	É,	por	meio	do	desempenho	de	diversos	 seguimentos,	
que	há	a	 composição	da	 sociedade,	desde	a	dimensão	 individual,	 coletiva,	 até	
organizações	institucionalizadas	que	são	empregadas	as	condições	de	direito	de	
uso	da	terra,	de	práticas	estratégicas	de	atividades	produtivas	ou	de	lazer.
A	influência	na	construção	do	espaço	está	na	interiorização,	na	atuação	do	
homem	desde	o	momento	em	que	se	criou	ou	idealizou	representações	acerca	da	
realidade.	Esses	elementos	representam	os	seus	anseios,	desejos	e	valores.
A	 socialização	 do	 espaço	 não	 distribui	 os	 direitos	 de	 uso	 ou	 de	
propriedade	 do	 espaço	 duma	 maneira	 igualitária.	 Os	 poderosos	 e	
ricos	 têm	muitas	mais	possibilidades.	Eles	utilizam	para	escolher	as	
ótimas	 localizações,	os	 lugares,	os	nada	agradáveis,	e	para	 impor	as	
formas	de	utilização	da	terra	e	da	construção	de	edifícios.	A	qualidade	
de	suas	escolhas	confere	um	estatuto	mais	alto	e	legitima	a	sua	posição	
social	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
20
Ainda	na	perspectiva	mencionada,	Claval	 (2011)	propõe	refletir	sobre	a	
direta	participação	ou	luta	das	classes	menos	favorecidas	na	construção	espacial,	
além	da	 apropriação	 social	 do	 espaço.	 Independentemente	 dos	 atos	 reais	 que	
agreguem	atenção	para	 os	 grupos,	 eles,	 por	diversas	vezes,	 são	 colocados	nas	
zonas	de	 invisibilidade	da	 sociedade.	Para	 facilitar	 o	 entendimento	 sobre	 essa	
realidade:	 vocês	 consegue	 lembrar	 de	 algum	 ato	 ou	 protesto	 de	 entidades	
ou	 parcelas	 da	 população	 realizado	 em	 espaços	 públicos?	 Pois	 bem,	 atos	 são	
caracterizados	pela	busca	da	visibilidade	com	a	apropriação	social	dos	espaços.
 
O	ponto	oitavo	busca	apresentar	uma	compreensão	de	como	surgiram	os	
sistemas	de	crenças	e	de	valores.	A	princípio,	cada	ser	possui	uma	capacidade	
interpretativa,	mental	e	de	experiências	únicas	com	o	espaço.	Quando	somadas	
essas	 realidades	 complexas	 que	 os	 indivíduos	 produzem	 e	 materializam,	 são	
formalizadas	 as	 ordens	 normativas,as	 quais	 representam	 individualmente	 e	
coletivamente.
Esses	 alhures	 oferecem	 a	 visão	 de	 outros	 mundos.	 Servem	 de	
modelo	 para	 orientar	 a	 ação	 dos	 homens.	As	 perspectivas	 abertas	
são	a	 fonte	dos	sistemas	de	crenças,	religiões	ou	 ideologias,	dando	
uma	dimensão	normativa	à	vida	social,	dirigindo	a	ação	humana	e	
conduzindo	 a	 construção	dum	 futuro	melhor,	 neste	mundo	 ou	no	
outro	(CLAVAL,	2011,	p.	19).
 
Pode	 ser	 confirmado	 que	 os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	 valores	 somente	
são	possíveis	quando	entendidos	a	partir	de	normas	criadas,	das	relações	entre	
grupos	sociais	e	da	socialização	dos	espaços	(CLAVAL,	2011).	Com	essa	interação,	
é	possível	difundir	que	fundamentos	concretos	e	abstratos	se	conectam	em	prol	
de	uma	organização	funcional.
 
O	aspecto	sobre	cultura	e	ideologia	comunitária,	no	ponto	nove,	retrata	
a	 noção	 da	 cultura	 a	 partir	 de	 uma	 sequência	 mencionada	 anteriormente	 no	
ponto	dois.	A	cultura	se	caracteriza	por	ser	um	conjunto	de	processos	transmitida	
pelos	e	entre	os	homens,	os	quais	produzem	e	reproduzem	comportamentos	não	
congênitos,	ou	seja	não	se	encontram	no	DNA	dos	seres	humanos.
FIGURA 4 – AFIRMATIVAS SOBRE A CULTURA
A cultura não é
Fixa	ou	imóvel
Intangível	ou	imcompreensível
A cultura é
Múltipla,	formada	por	vários	elementos
Evolui	contínuamente
FONTE: Adaptado de Claval (2011)
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
21
A	cultura	desenvolve	outra	face	quando	utilizada	em	grupos	comunitários.	
Identidades	são	construídas	e	certas	dimensões	apresentam	aspectos	normativos,	
aqueles	que	regulamentam,	propõem	padrões	e	regras	por	indivíduos	que	vivem	
determinados	 espaços,	 territórios	 ou	 sociedades.	 As	 ideologias	 comunitárias	
entram	na	discussão	para	justificar	a	dimensão	ideológica	que	se	forma	através	
da	cultura.	Como	exemplo,	há	uma	comunidade	cristã	da	fé	reformada.	Ela	se	
une	em	prol	do	compartilhamento	de	uma	visão	cristocêntrica,	carregando	regras	
de	fé,	condutas,	valores.
 
Apesar	do	exemplo	mencionado,	vale	 lembrar	que	existem	grupos	que	
constroem	uma	identidade	para	realizar	práticas	de	fundamentalismo	religioso,	
utilizando	 a	 fé	 para	 impor	 violentamente	 suas	 crenças,	 causando	 conflitos	 de	
intolerância	religiosa	em	escala	local	e,	até	mesmo,	internacional.
 
O	Tópico	 1	 introduz	 etapas	 evolutivas	 do	 entendimento	 sobre	 cultura,	
culminando	no	Tópico	2,	com	o	interesse	da	dimensão	espacial	da	cultura	pela	
geografia	cultural	em	sua	perspectiva	moderna.	Ao	desenvolver	do	estudo,	longas	
trajetórias	 serão	 explicadas	 nas	 seções	 seguintes.	 Realizamos,	 até	 o	 presente	
momento,	uma	breve	apresentação	da	descendência,	originalidade	e	pertencimento	
da	geografia	cultural,	seu	elo	com	a	ciência	geográfica,	e	aproximações	com	as	
ciências	sociais	afins,	o	que	demonstra	sua	interdisciplinaridade	e	importância	na	
produção	de	estudos	de	ordem	espaciais.
22
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Existe	 uma	 reflexão	 interdisciplinar	 na	 geografia	 cultural	 em	 torno	 da	
construção	conceitual	da	definição	de	cultura.	Foi	tangenciada	por	geógrafos,	
antropólogos	e	sociólogos,	como	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	Boas,	Alfred	
Kroeber,	 Cliford	 Geertz	 e	 Stuart	 Hall.	 Profissionais	 que	 produziram,	 em	
séculos,	e	com	influências	filosóficas	distintas.
•	 A	concepção	filosófica	tyloriana	definiu	que	o	meio	ambiente	podia	determinar	
e	gerar	influências	à	cultura,	segundo	o	princípio	de	determinismo	geográfico	
e	a	concepção	unilinear.
•	 Boas	foi	um	geógrafo	e	antropólogo	que	se	diferenciou	por	utilizar	o	discurso	
multilinear	 para	 conceituação	 da	 cultura.	Amparando-se	 no	 particularismo	
histórico,	 ele	 afastou-se	 de	 uma	 perspectiva	 de	 comparação	 metodológica,	
segundo	as	leis	evolucionistas,	para	buscar	explicações	culturais.	Boas	partiu	
do	princípio	de	que	todo	povo	ou	região	possui	uma	história	singular	e,	por	
esse	motivo,	sua	história	deveria	ser	reconstruída.
•	 Kroeber	foi	responsável	pela	teoria	cultural	supraorgânica	que,	posteriormente,	
foi	assimilada	e	adotada	por	Sauer.	A	definição	sobre	a	cultura	se	vinculava	
e	 reproduzia	 uma	 estrutura	 da	 gênese	 da	 vida	 humana	 na	 perspectiva	
evolucionista,	iniciando	pelo	nível	inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	
cultural,	cuja	dimensão	se	posiciona	acima	do	homem,	além	dos	demais	níveis.
 
•	 Na	teoria	interpretativista,	a	cultura	passou	a	ser	interpretada	como	sistemas	
simbólicos	 (linguagem,	 arte,	 mito	 ritual),	 desenvolvida,	 sobretudo,	 pelo	
estadunidense	 Clifford	 Geertz,	 um	 dos	 maiores	 nomes	 da	 antropologia	 do	
Século	XX.
 
•	 Outro	nome	importante	que	rompeu	com	o	antigo	paradigma	sobre	uma	cultura	
pronta	e	 engessada	 foi	o	 sociólogo	Stuar	Hall.	Ele	propôs	aliar	 as	 temáticas	
sociais	com	as	simbólicas	para,	então,	compreender	a	cultura.	Em	seus	estudos,	
trata,	por	exemplo,	das	relações	entre	cultura	e	meios	de	comunicação,	história	
e	cultura,	etnias,	gênero	e	outros	temas.
•	 A	geografia	cultural	é	definida	como	um	subcampo	da	geografia,	e	os	objetivos	
de	análise	da	disciplina	seguem	através	da	ordem	espacial	da	cultura,	ou	seja,	
as	 dimensões	 simbólicas	 do	 espaço,	 os	 sentidos	 e	 percepções	 do	 homem,	 a	
diversidade	de	contextos	espaciais	etc.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
•	 A	geografia	cultural	 foi	 substanciada	pelas	 cíclicas	 revisões	na	 conceituação	
da	cultura,	como	a	abdicação	do	entendimento	supraorgânico	da	cultura.	Há	
a	possibilidade	de	assimilar	a	cultura	através	de	coisas	comuns	do	dia	a	dia	
familiar,	no	ambiente	de	convívio	social,	linguagens,	habilidades	referentes	a	
classes	ou	minorias	sociais.
•	 A	base	da	geograficidade	da	geografia	cultural	advém	de	Dardel,	historiador	e	
geógrafo	que	preocupou-se	em	compreender	o	seu	meio,	independentemente	de	
ser	natural	ou	artificial,	mas,	em	sua	forma	mais	ampla,	envolvendo	sentimento	
nas	relações	dos	espaços,	com	paisagens,	territorialidade,	identidade	etc.
24
1	 Com	relação	à	abordagem	de	Tylor	em	1871	sobre	a	cultura,	marque	com	
(V)	as	proposições	verdadeiras	e	com	(F)	as	falsas:
(			)	Tylor,	em	1817,	propôs	uma	concepção	complexa	sobre	cultura:	“a	cultura	
era	absorvida	mediante	o	relativismo	cultural;	tudo	era	inato	do	homem”.
(			)	Para	Tylor,	a	cultura	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo.	Este	
não	nasce	 com	 características	 culturais	próprias,	mas	 a	 cultura	passa	 a	
ser	 concebida	 por	meio	 da	 aprendizagem	 na	 sociedade,	 a	 exemplo	 da	
linguagem,	símbolos,	práticas,	técnicas,	leis	etc.
(			)	Os	 geógrafos	 apoiaram	 a	 concepção	 tyloriana	 da	 cultura	 mediante	 o	
determinismo	geográfico	representado	na	estrutura	conceitual.
(			)	Tylor	 se	 abdicou	 do	 relativismo	 cultural,	 mas	 fez	 uso	 da	 abordagem	
unilinear,	método	que	comparava,	em	níveis	equivalentes,	todos	os	seres	
humanos	 de	 cada	 sociedade,	 ou	 seja,	 as	 mais	 diversas	 sociedades	 se	
tornaram	reféns	de	um	único	modelo	evolutivo.	Assim,	foi	entendendo	
que	todas	as	sociedades	seguiam	um	único	processo	composto	por	 três	
fases	evolutivas:	de	selvageria,	barbarismo	e,	por	fim,	a	conquista	de	um	
modelo	civilizatório.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(			)	 F-	V	–	V	-	V.
b)	(			)	 V	–	V	–	V	-	V.
c)	(			)	 F	–	F	–	V	-	V.
d)	(			)	 V	–	F	–	F	-	F.
2	 Sobre	 a	 percepção	 de	 Franz	 Boas	 nos	 estudos	 de	 análises	 culturais,	 é	
CORRETO	dizer	que:
a)	 (			)	Para	compreender	a	cultura,	é	necessária	a	 reconstrução	histórica	de	
cada	povo	e	região,	identificando	o	particularismo/singularidade	dos	
mais	diversos	grupos	humanos	e	suas	realidades.		
b)	(			)	Boas	 utilizava	 as	 abordagens	 unilineares	 para	 valorizar	 o	 discurso	
evolucionista	do	Século	XIX.
c)	 (			)	Boas	 se	 contrapôs	 ao	 método	 evolucionista	 unilinear	 e	 à	 teoria	 do	
determinismo	geográfico.
d)	(			)	As	opções	a	e	c	estão	corretas.
 
AUTOATIVIDADE
25
3	 Sobre	a	teoria	cultural	supraorgânica,	assinalea	alternativa	CORRETA:
 
a)	(			)	Ela	 é	 considerada	 uma	 entidade	 superior,	 controladora	 de	mentes	 e	
atividades	humanas.
b)	(			)	Democrática	e	dinâmica,	vistos	os	acontecimentos	referentes	ao	Século	XX.
c)	 (			)	A	cultura	assimila	as	dimensões	simbólicas	aplicadas	aos	processos	sociais.	
d)	(			)	Mudança	em	sua	conceituação,	passando	a	ser	compreendida	a	partir	
da	sociedade	de	classes.
4	 Quem	foi	o	autor	da	antropologia	que	teve,	como	foco,	neutralizar	qualquer	
significado	fixo	para	teorizar	a	cultura?	Ainda,	não	se	limitou	às	respostas	
prontas	e	acabadas	como	receitas	herdadas,	mas,	em	seu	estudo,	apresentava	
os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	dimensões	
simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
a)	 (			)	Stuart	Hall.
b)	(			)	Franz	Boas.
c)	 (			)	Clifford	Geertz.
d)	(			)	Edward	Tylor.
5	 Sobre	as	influências	teoóricas	marxistas,	o	sociólogo	Stuart	Hall	concordou	
com	alguns	pontos,	EXCETO:
a)	(			)	A	 falta	 de	 interesse	 da	 teoria	 marxista	 pelos	 assuntos	 referentes	 à	
cultura	e	suas	perspectivas	simbólicas.
b)	(			)	Atributos	do	estudo	referente	à	teoria	do	capital/classe	social,	de	poder/
exploração.
c)	 (			)	Movimentos	sociais	e	política.
d)	(			)	Desarmamento	nuclear	e	questões	raciais	britânicas.
6	 De	 acordo	 com	 o	 Quadro	 1,	 escolha	 um	 título	 e	 apresente	 uma	 breve	
descrição	reflexiva.
26
27
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA 
CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Caros	 alunos,	 chegamos	 ao	 Tópico	 2.	 Nesta	 fase	 de	 estudos,	 vamos	
ancorar	na	leitura	e	refletir	sobre	uma	breve	apresentação	da	longa	história	do	
pensamento	geográfico	e	suas	contribuições	para	a	formação	e	estabelecimento	
da	geografia	cultural.
O	Tópico	2	tem,	como	objetivo,	responder	algumas	questões	referentes	ao	
nascimento,	ao	percurso	e	conceito.	Como	a	cultura	foi	abordada	pela	geografia?	
Quem	a	 influenciou?	Em	qual	período?	Quais	 as	 compreensões	adotadas	pela	
geografia	cultural?
 
Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidas,	 além	 desta	 introdução,	 os	 assuntos	
centrais,	os	quais	se	dividem	em:	Geografia	Cultural	-	Fase	I,	Geografia	Cultural	
-	Fase	II,	Geografia	Cultural	-	Fase	III	e	suas	sessões.
A	 Fase	 I,	 na	 sessão	 “As	 primeiras	 aproximações	 cultura	 e	 geografia:	 a	
contribuição	das	escolas	alemã	e	francesa”,	traz	o	período	que	data	o	início	das	
menções	sobre	a	geografia	cultural	com	o	processo	de	introdução	do	campo.	Neste	
momento,	 pode-se	 dizer	 que	 a	 geografia	 enquanto	 disciplina-mãe	 apresentou	
flashes	 a	 partir	 dos	 quais	 indicou	 aberturas	 para	 aplicação	de	 abordagens	 em	
direção	ao	futuro	da	geografia	cultural.
	A	 partir	 do	 desenvolvimento	 geográfico	 das	 escolas	 alemã	 e	 francesa	
de	 Ratzel	 e	 Vidal	 de	 La	 Blache,	 respectivamente,	 uma	 narrativa	 objetiva	 a	
compreensão	 sobre	 a	 inclusão	 da	 cultura	 na	 ciência	 geográfica.	 A	 análise	 se	
delineia	 formalmente	a	partir	da	obra	Antropogeografia,	da	noção	de	gênero	de	
vida,	da	base	darwiniana	e	outra	lamarckiana,	da	seleção	das	espécies	e	adaptação	
das	espécies	ao	ambiente.	Esses	vetores	contribuíram,	principalmente,	para	tratar	
de	uma	embrionária	geografia	cultural,	segundo	o	alicerce	científico	naturalista.
A	sessão	Os estudos de Carl Sauer e sua importância	traz	um	histórico	sobre	
parte	da	biografia	do	precursor	da	geografia	cultural,	Carl	Sauer,	compreendendo	
suas	escolhas	teóricas	durante	a	vida	de	estudante,	professor	e	pesquisador	do	
campo	cultural	da	ciência	geográfica	norte-americana.
28
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Apresentamos	a	expressividade	e	 importância	que	as	obras	de	Sauer,	a	
partir	do	Século	XX,	trouxeram	para	a	comunidade	acadêmica,	além	da	formação	
de	discípulos	na	área,	forçando	a	geografia	cultural	a	assimilar	e	a	assumir	sua	
identidade,	 favorecendo	 a	 abertura	 de	 um	 novo	 ciclo.	 A	 primeira	 renovação	
ocorreu	nos	Estados	Unidos,	mais	precisamente	na	escola	de	Berkeley,	onde	o	
processo	de	teorização	historicista	e	a	utilização	da	supraorgânica	substantivaram	
a	geografia	cultural,	disseminando-a	para	inúmeras	universidades	mundo.
A	morfologia	 da	 paisagem	 representou	 o	 carro-chefe	 de	 seus	 escritos,	
pois	reverenciou	a	impressão	do	homem	(um	autômato)	na	superfície	terrestre	
através	da	cultura	(a	entidade	independente	de	leis	próprias),	ao	invés	da	posição	
determinista	do	meio	ambiente.	Fica	evidente	que	a	geografia	cultural	de	Saeur	
contemplou	tendências	do	historicismo.
 
Dando	continuidade	ao	processo	de	fixação	da	geografia	cultural,	chegamos	
a	um	momento	de	desaceleração,	a	Fase	II,	“Transformações	no	campo	geográfico	
e	o	hiato	nos	estudos	da	cultura”.	Sumarizamos,	em	uma	abordagem	amostral	que	
ocorreu	entre	os	anos	de	1950	a	1970,	tempo	em	que	existiram	muitas	tentativas	
de	direcionar	e	redirecionar	a	geografia,	incluindo,	consequentemente,	o	domínio	
da	geografia	cultural.	Uma	das	 linhas	epistemológicas	em	destaque	refere-se	à	
teórico-quantitativa,	 alinhada	 ao	neopositivismo	 e	 suas	 referências	 estatísticas.	
Inicialmente,	a	associação	da	geografia	ao	método	de	análise	matemático	tratou	
de	 silenciar	 algumas	 tendências,	 incluindo	 a	 sauariana,	 tecendo	 críticas	 por	
afirmar	que	ela	se	ocupava	com	comunidades	tradicionais,	ao	invés	de	utilizar	a	
visão	pragmática	em	suas	pesquisas.
 
Parte	 do	 período	 representou	 dois	 estágios:	 a	 perca	 de	 pujança	 da	
geografia	 cultural	 e	 a	 transição	 para	 a	 renovação	 com	 incursão	 das	 novas	
perspectivas	críticas	do	materialismo	histórico	dialético,	dando	início	à	terceira	
fase:	“Imaterialidade	e	Renovação”.
O	 movimento	 da	 geografia	 de	 1970	 e	 pós-1980	 reflete	 a	 inquietação	
científica	 pela	 explosão	 de	 conhecimento	 proposto	 para	 a	 disciplina.	Houve	 a	
reflexão	 da	 ausência	 da	 versão	 crítica	 balizada	 pelo	 materialismo	 histórico	 e	
dialético,	cujo	foco	estava,	principalmente,	nas	condições	econômicas	e	sociais	do	
povo.	Logo,	a	corrente	enxergou	a	necessidade	de	romper	com	o	neopositivismo		e	
gerar	conteúdo	no	campo	cultural	da	geografia,	reafirmando	as	dinâmicas	sociais	
referentes	às	esferas	de	gênero	e	etnicidade,	por	exemplo.	No	entanto,	sabe-se	que	a	
filosofia	não	compreendeu	a	corrente	idealista,	assumindo	incompatibilidade	nas	
visões	filosóficas,	cujo	resultado	volta-se	à	negligência	das	dinâmicas	imateriais	
do	campo	cultural.
O	movimento	de	renovação,	a	virada	cultural,	além	de	tantos	atributos,	
vieram	para	corrigir	algumas	brechas	que,	ao	longo	da	história	do	pensamento	
geográfico,	foram	abertas,	e	uma	delas	referiu-se	ao	silenciamento	das	concepções	
subjetivas.	Houve	 a	 ressurreição	da	 ordem	 fenomenológica,	 além	das	 análises	
voltadas	ao	mundo	vivido,	a	valorização	da	cultura	e	experiências	humanas	junto	
ao	meio.		
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
29
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS 
APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR 
A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA
A	 geografia	 cultural	 denota-se	 como	 um	 subcampo	 expressivo	 da	
ciência	 geográfica,	 mas	 a	 abordagem	 cultural	 passou	 por	 ciclos	 evolutivos	
e	 complementares.	 Tais	 dinâmicas	 aconteceram	 sincronicamente	 com	 uma	
engrenagem	de	dimensões	maiores	da	disciplina,	relacionadas	à	busca	de	método	
e	doutrina,	além	do	seu	objeto	de	estudo.
 
Anteriormente	 ao	 processo	 da	 utilização	 da	 cultura	 nas	 análises	
geográficas,	 o	método	 racional,	 naturalista	 imperou	 no	 Século	 XVIII,	 além	do	
crescimento	 e	 influência	 da	 física	 newtoniana.	 Observações,	 experiências	 e	
cálculos	matemáticos	nascem	a	partir	de	conhecimentos	voltados	para	análises	
de	estrutura	e	minerais	das	rochas,	plantas	e	animais.	Assim,	a	ciência	geográfica	
cria	uma	espécie	de	fosso,	separando-o	dos	aspectos	sociais	e	culturais	(CLAVAL,	
2010).
 
O	ponto	 de	 vista,	 aos	 poucos,foi	 sendo	minado	 pelos	 acontecimentos	
dos	 demais	 fenômenos	 geográficos	 da	 contemporaneidade,	 gerando	 um	 certo	
desconforto	na	 comunidade	 acadêmica	 e	 limitando	o	 campo	de	pesquisa	que,	
futuramente,	 buscou	 uma	 renovação.	 Os	 processos	 evolutivos	 foram	 sendo	
observados	timidamente.
 
Os	aspectos	racionais	também	se	aplicaram	às	análises	humanas	e	sociais,	
já	que,	no	fim	do	Século	XVIII,	questionamentos	surgiram,	porém,	a	perspectiva	
utilizou	bases	utilitárias,	observando	o	homem	sob	vistas	dos	interesses	materiais	
(CLAVAL,	2010).
Na	perspectiva	de	Sauer	(2011),	é	evidente,	ao	decorrer	da	evolução	da	
ciência,	 que	 a	 geografia	 se	 responsabilizou	por	uma	 subdivisão	dos	 interesses	
geográficos	 entre	 os	 grupos	 da	 geografia	 humana	 e	 cultural,	 limitando	 o	
particularismo	 e	 objetivações.	Apesar	 de	 ambas	 se	 desenvolverem	 no	mesmo	
período,	cada	uma	surgiu	com	um	ponto	de	partida.
Sendo	 a	 geografia	 cultural	 disseminada	 entre	 duas	 vertentes,	 certos	
números	 de	 geógrafos	 compreendiam	 ela	 como	 um	 subcampo	 da	 geografia	
humana,	“[...]	uma	outra	formulação	da	geografia	humana”	e,	para	outros,	ela	
surgiu	 com	a	perspectiva	do	 estudo	da	 cultura	material	 dos	 grupos	 humanos	
(CLAVAL,	2011,	p.	5).
Todavia,	compreende-se	que,	na	passagem	do	Século	XIX	para	o	Século	
XX,	 na	 Europa,	 surgiam	 as	 bases	 da	 dimensão	 cultural,	 marcadas	 por	 uma	
aguçada	 curiosidade	 científica	 e	 pela	 diversidade	 das	 sociedades	 desde	 suas	
línguas,	técnicas,	obras	e	princípios	morais	(CLAVAL,	2011).	A	geografia	buscava,	
na	 cultura	 material	 e	 na	 análise	 entre	 gêneros	 de	 vida	 e	 paisagens	 rústicas,	
conteúdos	básicos	para	o	seu	desenvolvimento	(CLAVAL,	2002).
 
30
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Naquele	 século,	 grande	 parte	 dos	 geógrafos	 comungava	 do	 alicerce	
científico	naturalista,	o	qual	deu	apoio	ao	princípio	de	que	o	ambiente,	mediante	
suas	leis,	explicava	a	sociedade	e,	por	conseguinte,	a	cultura.	A	partir	da	realidade,	
empreendeu-se	 uma	 inclinação	 por	 uma	 geografia	 de	 conteúdos	 regidos	 pela	
ação	da	natureza,	com	objeção	negativa	ao	que	estivesse	à	parte	da	concepção	
científica.	 Suas	 premissas	 negavam	 o	 estudo	 das	 dimensões	 psicológicas	 ou	
mentais	da	cultura,	mas	aprovavam	o	desenvolvimento	disciplinar	sob	a	ótica	do	
evolucionismo	(CLAVAL	2002).
 
Com	 o	 olhar	 contemporâneo,	 compreende-se	 que	 era	 compartilhado	 o	
uso	da	cultura	em	seu	aspecto	reducionista,	fomentado	pelos	ditames	de	alguns	
representantes	 da	 disseminação	 doutrinária.	 Quando	 a	 geografia	 tornou-se	
livre	do	“fundamentalismo”	religioso,	 imposto	por	uma	sociedade	 teocêntrica,	
automaticamente,	 foi	 fisgada	 por	 uma	 doutrina	 de	 afirmações	 racionais	
formuladas	 por	 uma	 elite	 pensante,	 obscurecendo,	 por	 décadas,	 conteúdos	
de	ordens	 imaterial	 e	 subjetiva,	 em	 função	da	 formulação	dos	dados	objetivos	
originários	da	ordem	física.
No	 contexto	 da	 geografia	 ratzeliana	 alicerçada	 por	Humboldt	 e	 Ritter,	
foi	 realizada	 a	 primeira	 incursão	 de	 cultura	 na	 geografia,	 porém,	 a	 novidade	
remete	ao	entendimento	evolucionista	darwiniano	que	influenciou	diretamente	
o	desenvolvimento	da	geografia	humana/cultural.	Foi,	 sob	o	elo	homem	e	 seu	
ambiente,	evidenciado	por	Friedrich	Ratzel,	em	1882,	que	se	discutiu	a	expressão	
cultura. Apesar	da	ênfase	ambientalista	e	de	afirmações	áridas	na	produção,	o	
alemão	também	se	propôs	a	discutir	uma	geografia	humana	que	também	pôde	
ser	 considerada	 cultural	 a	modos	 da	 época.	Os	 estudos	 eram	voltados	 para	 a	
mobilidade	 populacional,	 condições	 de	 assentamento	 humano	 e	 difusão	 da	
cultura,	todavia,	geógrafos	ocidentais	disseminaram,	em	maior	proporção,	a	faceta	
ambientalista	de	suas	obras,	visto	que	a	atmosfera	preponderante	doutrinaria	a	
partir	do	positivismo	(SAUER,	2011).
Numa	 espécie	 de	 cenário	 investigativo	 em	 busca	 de	 conhecimento,	
a	 geografia	 humana	 de	 Vidal	 de	 la	 Blache	 transpareceu	 pontos	 de	 contatos	
semelhantes	frente	à	geografia	de	Ratzel,	em	relação	ao	uso	de	referências	básicas	
de	pesquisas.	A	exemplo	de	Ritter	e	as	adversidades	do	evolucionismo,	La	Blache	
optou	 pela	 perspectiva	 lamarckiana	 de	 adaptação	 das	 espécies	 ao	 invés	 do	
proposto	por	Darwin	quanto	à	seleção	das	espécies	(CLAVAL,	2010).
 
A	 perspectiva	 de	 adaptação	 das	 espécies	 explicava	 o	 lugar,	 ou	 seja,	 a	
combinação	 da	 adaptação	 dos	 grupos	 humanos	 ocasionava	 a	 apreciação	 do	
gênero	de	vida,	o	qual	podia	ser	visto	através	da	paisagem.
 
Imersa	no	movimento,	a	geografia	francesa	vidaliana	aderiu	ativamente	
aos	resultados	pautados	na	ecologia,	assunto	relativamente	distante	da	geografia	
cultural.	Contudo,	através	do	conceito	de	gênero	de	vida	que	foram	descobertos	
novos	rumos	da	geografia	clássica	 (CLAVAL,	2011).	A	partir	de	então,	 iniciou-
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
31
se	uma	sutil	abordagem	cultural,	cujo	foco	limitava-se	às	técnicas	e	hábitos	dos	
grupos	humanos.	Nas	interações	analisadas	entre	o	homem	e	o	meio	ambiente,	
eram	 percebidas	 atividades	 de	 subsistência,	 como	 preparo	 do	 solo,	 cultivo,	
colheita	de	alimentos,	caça,	pesca,	criação	de	animais	e	a	produção	de	utensílios,	
como	ferramentas.
Na	visão	vidaliana,	mesmo	não	sendo	expressamente	declarados,	existiram	
momentos	em	que	o	discurso	direcionou	para	fatores	culturais,	como	os	aspectos	
da	religião,	contudo,	a	análise	mais	sensível	centrou-se	estritamente	nas	edificações	
estruturais	de	igrejas,	expondo	templos	e	mesquitas	(CLAVAL,	2011).
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA 
O	conhecimento	e	a	compreensão	da	fase	Sauariana	na	geografia	cultural	
ocasionam	a	recuperação	das	bases	que	firmaram	a	disciplina.	Adentrar	no	perfil	
histórico	 é	 necessário,	 pois	 descortinaremos	 a	 evolução	 da	 geografia	 cultural.	
Iniciaremos	propondo	 responder,	 principalmente,	 duas	 perguntas,	 a	 primeira:	
Quem	 foi	Carl	Ortwin	 Sauer?	 Toda	 história	 pessoal	 de	Carl	 Sauer	 sugere	 um	
caminho	explicativo	sobre	suas	escolhas	enquanto	geógrafo.	A	segunda	pergunta:	
Qual	foi	a	importância	de	seus	estudos	para	a	geografia	cultural?	Essa	explicará	
as	 conexões	 realizadas	 por	 ele	 em	 virtude	 da	 construção	 do	 ramo	 da	 ciência	
geográfica.
Em	1889,	nos	Estados	Unidos	da	América,	em	Wisconsin,	Carl	Ortwin	Sauer	
nasceu.	 Embora	 sua	 nacionalidade	 seja	 estadunidense,	 suas	 origens	 familiares	
permaneciam	firmadas	na	Europa	central,	mais	precisamente	em	Wurtemburg,	
na	Alemanha.	O	então	pequeno	Sauer,	desde	a	infância,	apresentava	um	perfil	
intrépido,	 de	 natureza	 curiosa,	 pelo	 estímulo	 dos	 seus	 ambientes	 familiar	 e	
educacional,	ressaltando	que	parte	do	seu	período	escolar	foi	em	um	internato	
alemão	(GADE,	2011;	MOREIRA,	2008).
Em	 busca	 de	 conhecimento,	 Sauer	 matriculou-se	 na	 universidade	 de	
Northwestern,	no	curso	de	Geologia,	porém,	num	intervalo	de	um	ano,	ingressou	
na	universidade	de	Chicago,	 transferindo-se	para	o	curso	de	Geografia,	criado	
em	1903,	por	seu	professor	orientador,	o	geólogo	Rollin	Salisbury,	pessoa	quem	
inspirou	Sauer	para	além	da	graduação,	pela	metodologia	utilizada,	pautada	na	
base	filosófica	socrática.
 
Sua	 pesquisa	 de	 doutorado	 apresentou	 a	 face	 dos	 grupos	 étnicos	
irlandeses,	escoceses	e	os	alemães	que	migraram	para	Missouri.	A	tese	destacava	
que	eram	os	dois	grupos	mais	importantes	que	ocuparam	parte	das	montanhas	
de	Ozark.	Na	pesquisa,	Sauer	 localizou	esses	povos	e	descreveu	seu	modo	de	
vida.	Ele	concluiu	que	a	comunidade	dos	irlandeses	(escoceses)	apresentava	um	
estilo	de	vida	simples,	fincava	raízes	nas	encostas	do	planalto	e	concordava	em	
32
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ter	uma	vida	simples,	com	recursos	restritos.O	comportamento	era	distinto	do	
praticado	pelos	alemães,	por	exemplo,	que	se	instalaram	nas	várzeas	dos	vales,	
locais	de	grandes	terrenos	com	capacidade	para	criação	de	animais	e	práticas	de	
cultivo	da	terra.
	“[...]	Os	alemães	desenvolveram	uma	vida	mais	civilizada,	manifestada	
pelas	casas	bem	construídas,	uma	dieta	ampla	e	variada,	e	escolas	para	que	os	
filhos	pudessem	ler	e	escrever”	(GADE,	2011,	p.	24).
Alcançado	o	nível	de	doutor	em	1915,	Sauer	conquistou	novos	espaços	
para	realizar	pesquisas	e	disseminar	práticas	metodológicas	variadas	na	geografia	
cultural.	Sauer	apresentava	características	próprias	de	fazer	ciência,	como	itens	
relacionados	 à	 curiosidade,	 intelectualidade,	 ao	 historicismo	 aprofundado,	 às	
formas,	às	relações	com	as	funções	intuitivamente	evidenciadas	e	uma	filosofia	a	
despeito	de	si	próprio,	a	cultura	como	entidade	supraorgânica.	Foram	alguns	dos	
modelos	 das	 perspectivas	 analisadas	 pelos	 geógrafos	 sauarianos	Daniel	Gade,	
Speth,	May,	Entrikin,	Penn	e	Lukermann	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2011).
Considerada	uma	teoria	utilizada	de	maneira	implícita	nas	construções	de	
conhecimentos,	o	historicismo,	para	Speth	(2011),	teve	os	primeiros	contatos	com	
o	geógrafo	a	partir	das	obras	dos	representantes	da	matriz	teórica,	os	filósofos	
alemães	Johann	G.	Herder	e	Goethe.	A	apresentação	se	deu	por	intermédio	da	
proximidade	de	Sauer	com	a	origem	germânica,	em	suas	visitas	a	uma	entidade	
que	 produzia	 rodas	 de	 debates,	 discussões	 e	 estudos	 aprofundados	 sobre	
ideologias	historicistas	firmadas	pelos	filósofos.
Goethe foi um escritor clássico do Século XVIII, conhecido por sua dedicação 
em disseminar o movimento cultural do romantismo. Herder, por construir um papel 
importante nas ciências humanas. Quando fundamentou o conceito de cultura, contribuiu 
para interpretação de textos filosóficos do romantismo. Contrário às teorias filosóficas 
francesas proeminentes, teceu a teoria do desenvolvimento histórico mediante a base de 
cultura nacional, que se justificava pelo período de unificação territorial que a Alemanha 
passava (PEDROSA, 2015).
NOTA
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
33
FIGURA 5 – BASE FILOSÓFICA DO HISTORICISMO
HISTORICISMO
O	idealismo	concede,	ao	mundo,	a	vontade	e	o	desejo.	
É	a	esfera	da	liberdade,	das	ideias,	do	espírito.
Identificado	como	um	movimento	para	resguardar	valores	
espirituais	desgastados		pelo	cientificismo	mecaniscista;
Fundamentado	em	um	espírito	transcendental;
Possui	uma	visão	subjetiva	da	realidade,	descobrindo,	na	
humanidade,	uma	vontade	independente	da	natureza;
Oriundo	do	Idealismo
FONTE: Adaptado de Speth (2011)
Um	novo	momento	surge	com	a	geografia	cultural	norte-americana	em	
1923,	quando	a	Universidade	da	Califórnia,	 campus	de	Berkeley,	 recebeu	Carl	
Ortwin	Sauer,	um	professor	transferido	da	Universidade	de	Michigan,	em	Ann	
Arbor,	que	 tinha	o	objetivo	de	dedicar-se	e	desenvolver	sua	carreira	enquanto	
geógrafo	 até	 o	 fim	 da	 vida,	 em	 1957.	 Ele	 se	 dispôs	 a	 apresentar	 um	 formato	
particular	 para	 pesquisar	 a	 ciência	 geográfica	 e,	 vista	 sua	 projeção,	 por	 ser	
um	exemplo	de	profissional	erudito	que	se	negou	a	 replicar	e	a	 reproduzir	as	
abordagens	recorrentes,	foi	eleito	honrosamente	o	geógrafo	norte-americano	de	
maior	importância	do	Século	XX	(GADE,	2011;	MOREIRA,	2008).
Segundo	 Corrêa	 e	 Rosendahl	 (2011),	 a	 escola	 de	 Berkeley	 teve	 papel	
fundamental	 para	 a	 geografia	 cultural,	 pois	 representou	 o	 primeiro	 start	 no	
desenvolvimento	e	disseminação	de	conteúdo	intelectual.
Berkeley é uma cidade da periferia da Califórnia, onde a geografia cultural 
começou a florescer. A importância da escola introduziu, ao campo universitário, uma 
importância como polo difusor dos estudos culturais na geografia, a famosa Escola 
Saueriana ou Escola de Berkeley.
NOTA
34
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
De	acordo	com	Duncan	(2011),	a	atuação	de	Sauer	em	Berkeley,	entre	as	
décadas	de	1920	e	1930,	proporcionou	sua	aproximação	com	os	maiores	nomes	
da	antropologia	cultural	americana	da	época,	Alfred	Kroeber	e	Lowie,	além	da	
aplicação	da	perspectiva	 cultural	 do	 superorgânico	 que,	 a	 princípio,	 dominou	
não	apenas	a	antropologia,	mas	a	geografia	cultural.
 
Tornando-se	o	principal	fomentador	do	campo	de	pesquisa,	o	professor	e	
fundador	da	escola	Berkeley	introduziu	as	intervenções	iniciais	para	os	estudos	da	
geografia	cultural,	privilegiando	a	paisagem	cultural,	além	das	outras	temáticas.
 
Dos	anos	de	1926	em	diante,	o	professor	embarcou	em	uma	aventura	de	
descobertas	e	pesquisas	pelo	mundo.	A	primeira	parada	foi	no	norte	do	México,	
local	 onde	 percebeu,	 através	 da	 paisagem,	 vestígios	 de	 uma	 sociedade	 pré-
industrial	ainda	com	evidências,	marcas	que	o	levaram	a	descobrir	o	passado	por	
meio	do	presente	tempo	(GADE,	2011).
Para	 que	 vocês	 tenham	 acesso	 à	 realidade	 de	 vida	 daquela	 sociedade,	
Cunha	e	Ávila	(2019,	p.	11)	discorrem	acerca	dos	acontecimentos	na	corrente	da	
década	de	1920:	 
É	importante	ressaltar	que	a	indústria	de	mineração	petrolífera	ainda	
estava	em	seus	estágios	iniciais	de	desenvolvimento	de	suas	técnicas	
de	 operação,	 e	 que	 nem	 sempre	 a	 concessão	 de	 uma	 licença	 para	
perfurar	um	posso	se	 traduzia	em	sucesso	comercial.	Na	década	de	
1920,	a	República	Mexicana	haveria	de	se	tornar	a	maior	exportadora	
mundial	de	petróleo	e	a	segunda	maior	produtora.	Em	1921,	de	cada	
cinco	barris	de	petróleo	produzidos	no	mundo,	um	era	mexicano.	
Entusiasmado,	Sauer	não	parou	e,	assim,	viajou	por	todo	o	país	do	México,	
América	Central	e	Antilhas,	com	o	objetivo	de	investigar	os	aspectos	da	geografia	
histórico-regional	 (GADE,	2011).	Segundo	Speth	 (2011),	Sauer	 tinha	uma	visão	
disciplinar	baseada	no	historicismo	com	incursões	atuais.	Por	meio	da	geografia	
americana	desenvolvida	por	ele,	alguns	dogmas	deterministas	foram	excluídos,	
proporcionando,	ao	pensamento	geográfico,	o	 foco	no	homem	enquanto	ser,	 e	
agente	modificador	da	natureza	e	da	cultura.
 
A	 visão	 historiográfica	 de	 Sauer	 também	 carregou	 a	 influência	 do	
departamento	de	história	de	Berkeley,	através	do	professor	historiógrafo	Herbert	
Bolton	e	seus	estudos	e	transcritos	documentais	sobre	a	história	do	México	e	do	
Sudoeste	Norte-Americano.
 
A	 trajetória	 do	 geógrafo	 Sauer	 é	 vasta,	 resultou	 em	 relevantes	 obras,	
muitas	das	quais	os	brasileiros	desconhecem,	pois	ainda	não	foram	traduzidas	
para	a	língua	portuguesa.	Os	assuntos	permearam	o	mapeamento	do	uso	da	terra,	
a	domesticação	das	plantas	e	animais,	geografia	histórica	do	México,	Antilhas	e	
Estados	Unidos	da	América,	e	o	importante	texto	sobre	a	origem	e	a	dispersão	da	
agricultura	no	mundo	inteiro	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2011).
 
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
35
A	partir	 de	 1940,	 ele	 reuniu	 informações	 com	 base	 em	 observações	
pessoais,	fontes	históricas	e	restos	arqueológicos	para	sintetizar	uma	
longa	discussão	sobre	as	plantas	do	novo	mundo	(1950,	1952).	Por	mais	
desatualizada	 que	 seja	 agora,	 aquela	 obra	 representava	 a	 primeira	
apresentação	da	história	cultural	das	plantas	cultivadas	originárias	da	
América	Latina	em	sua	diversidade	(GADE,	2011,	p.	25-26).
A	 abordagem	 colocou	 em	 destaque	 a	 impressão	 humana	 na	 Terra,	
rompendo	o	enfoque	preponderante	do	determinismo	do	meio	ambiente	(GADE,	
2011).	No	caso,	não	ficou	apenas	na	afirmação	recorrente	de	que	o	ambiente	era	o	
meio	influenciador	do	homem.	A	cultura	do	homem,	de	certa	forma,	exercia	seu	
poder	de	transformação	sobre	o	meio	e	comprimiu,	em	seus	estudos,	tendências	
estéticas	e	filosóficas,	empíricas	e	éticas	do	historicismo	(SPETH,	2011).	
Assim	como	toda	teoria	possui	características	próprias,	o	historicismo	não	
fugiu	à	regra:
•	 Descrição,	comparação,	indução,	generalização	sintética.
•	 Subjetividade,relativismo	metodológico.
•	 Liberdade,	contingência.
•	 Ênfase	no	passado.
•	 Importância	da	mudança,	sucessão	de	fatos.
•	 Crença	na	diversidade	e	na	importância	do	único	fim	em	si	mesmo.
•	 Tradicionalismo,	moralismo.
•	 Contemplação,	apreciação	estética.
•	 Compreensão.	
A	morfologia	 da	 paisagem	 apresentada	 por	 Sauer	 não	 estava	 puramente	
vinculada	ao	aspecto	orgânico,	mas	sob	a	influência	da	cultura.	“A	cultura	é	o	agente;	
a	área	natural,	o	meio;	e	a	paisagem	cultural,	o	resultado”	(SAUER,	2012,	p.	69).
 
Contribuindo	para	o	raciocínio	de	Sauer	sobre	cultura,	os	seus	discípulos	
Philip	Wagner	e	Marvin	Mikesell	(2011,	p.	27)	apresentaram	que:
 
Os	 aspectos	 da	 Terra,	 em	 particular	 aqueles	 produzidos	 ou	
modificados	pela	ação	humana,	são	de	grande	significado.	O	estudo	
desses	aspectos	geográficos	resultantes	da	ação	do	homem	considera	
as	diferenças	entre	as	comunidades	humanas	que	criam	ou	criaram	e	
se	refere	aos	modos	especiais	de	vida.	
Em	 outras	 palavras,	 a	 cultura	 torna-se	 um	 código	 a	 ser	 decodificado.	
Seguindo	 o	 preceito	 de	 cultura,	 áreas	 foram	 rotuladas	 mediante	 os	 atributos	
identificados	pelas	comunidades	humanas.
 
Baseado	 nas	 discussões,	 o	 período	 precedeu	 o	 processo	 de	 revisão	 e	
renovação	 dos	 conceitos	 de	 cultura	 utilizados	 pelos	 geógrafos.	 Analisando	
temporalmente	a	trajetória	da	geografia	cultural,	que	ultrapassa	os	100	anos	de	
história	do	pensamento	geográfico,	Corrêa	e	Rosendahl	 (2012)	desmembraram	
36
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
a	 geografia	 cultural	 em	 duas	 vertentes	 essenciais:	 primeiramente,	 a	 geografia	
cultural	 sauariana,	 estruturada	 no	 historicismo,	 que	 enfatizava	 a	 diversidade	
cultural,	buscando	a	compreensão	do	presente	tempo	sob	o	aspecto	de	valorização	
do	passado.
 
Wagner	e	Mikesell	sintetizam	que,	ao	analisar	os	aspectos	da	superfície	da	
terra,	torna-se	possível	compreender	a	geografia	cultural,	pois	a	ligação	entre	os	
aspectos	ambientais	e	da	ação	humana	apresenta	os	aspectos	geográficos	criados	
ou	mantidos	pelos	povos.
 
A	 cultura	 foi	 dimensionada	 dentro	 de	 uma	 base	 geográfica	 quando	
compartilhada	e	difundida	entre	pessoas	que	ocupam	uma	área	e	cultura	comum	
ou	por	territórios	diversos,	por	meio	dos	agentes,	objetos	e	ideias	que	percorrem.
A	 atribuição	 de	 significados	 inerentes	 à	 cultura	 orienta	 a	 ação	
(quer	 vista	 como	 símbolos	 ou	 utilitária)	 e	 resulta,	 desse	modo,	 em	
expressão	 concreta,	 como	 sistemas	 de	 crenças,	 instituições	 sociais	
e	 bens	materiais.	Portanto,	 o	 caráter	dos	 elementos	da	 cultura	deve	
ser	 amplamente	 inferido	 da	 base	 de	 características	 significativas	 da	
comunicação	 e	 simbolização	 –	de	 fórmulas	 verbais	 a	 trajes	 e	 gestos	
(WAGNER;	MIKESELL,	2011,	p.	29).
A	área	cultural	apresentada	desperta	uma	característica	de	uniformidade	
relativa	comparada	a	outras	áreas,	ou	seja,	apesar	de	muitas	áreas	se	apresentarem	
numa	mesma	continuidade	geográfica	e	a	língua	ser	semelhante,	não	significava	
que	as	uniformidades	eram	absolutas,	mas	relativas.
Segundo	 Sauer	 (2011),	 para	 o	 geógrafo	 da	 área	 cultural,	 é	 importante	
considerar,	de	maneira	única,	as	representações,	símbolos,	personificações,	todos	
conjuntos	culturais	que	possam	remeter	ou	retratar	qualquer	expressão	quanto	
ao	aproveitamento	do	homem	na	Terra.
 
Uma	das	 funções	do	geógrafo	consiste,	primeiramente,	em	representar,	
geograficamente,	 com	 mapas,	 a	 forma	 como	 estão	 organizados	 os	 vestígios	
deixados	pelas	culturas.	Em	seguida,	vários	elementos	são	unidos	para,	assim,	
formar	associações	genéticas.	O	processo	inicia	com	uma	minuciosa	descrição	que	
data	sua	origem,	e	logo	se	dissocia	em	sínteses,	formando	sistemas	comparativos	
de	áreas	culturais	(SAUER,	2011).
 
Conforme	asseguram	os	geógrafos	Wagner	e	Mikesell	(2011,	p.	32):
A	 similaridade	 cultural	 relativa	 aparece	 em	diferentes	 graus,	 desde	
a	 identidade	virtual	de	 atitudes	 e	 aptidões	num	pequeno	 território,	
até	 semelhanças	 gerais	 ou	 ampla	 disseminação	 de	 características	
individuais	ou	elementos	de	cultura	em	grandes	áreas.
 
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
37
Como	continuidade	da	linha	de	pesquisa,	e	sobre	a	ótica	da	classificação,	
descrição	e	distinção,	outro	 item	aparece	 como	parte	da	 compreensão	cultural	
da	geografia,	as	paisagens	culturais,	que	poderiam	ser	identificadas	tanto	pelos	
aspectos	 ambientais	 como	 pelas	 transformações	 realizadas	 pelos	 indivíduos.	
“[...]	Para	o	geógrafo,	a	área	cultural	também	é	sempre	uma	‘paisagem	cultural’”	
(WAGNER;	MIKESELL,	2011,	p.	35).
As	paisagens	culturais	aqui	estudadas,	têm,	como	propósito,	mostrar	as	
diferenças	através	do	modo	de	comportamento	do	 indivíduo	sob	o	mérito	das	
culturas.	A	investigação	também	perpassa	as	circunstâncias	de	alterações	naturais	
por	vias	humanas.
Já	a	história	da	cultura	prevê,	com	o	nome	enfatiza,	buscar,	no	passado,	o	
descobrimento	da	gênese.	É	preciso	elencar	as	características	históricas	possíveis	
das	 áreas	 culturais	 e,	 consequentemente,	 das	 paisagens,	 assim,	 as	 descobertas	
surgem	por	meio	de	questionamentos	referentes	ao	passado.	Em	algum	momento,	
você	já	se	perguntou	sobre	a	história	da	sua	região	ou	cidade?	O	que,	por	ventura,	
pôde	 ter	 acontecido?	 Quais	 eventos,	 por	 meio	 dos	 caminhos	 e	 descaminhos	
evidenciados	pelos	indivíduos	e	suas	culturas?	Eram	tais	questionamentos	que	
moveram	a	história	da	cultura.
 
Por	meio	de	documentos,	topônimos	ou	outras	evidências	linguísticas,	
os	 investigadores	podem	descobrir	 sequências	na	ocupação	de	uma	
área	por	diferentes	grupos	e	podem	conectar	esses	grupos	a	pessoas	
em	 outras	 áreas,	 apresentando	 características	 similares	 (WAGNER;	
MIKESELL,	2011,	p.	35).
Topônimos são referentes à toponímia. A nomenclatura refere-se a uma 
relevante marca cultural que pode ser expressa pela apropriação espacial, por aqueles 
distintos grupos culturais. A nomeação de elementos encontrados na cidade ou no campo, 
desde ruas a marcos fronteiriços naturais, como rios.
NOTA
Uma	outra	questão	analisada	na	geografia	de	Sauer	era	a	ecologia	cultural.	
Envolve	 apreciar	 alguns	 processos	 de	 correlação	 vinculados	 à	 manipulação	
humana	sobre	o	meio	ambiente,	identificando	suas	interferências	no	quesito	bem-
estar	de	maneiras	macro	e	micro,	tanto	das	comunidades,	como	da	humanidade	
em	geral.
 
De	 acordo	 com	 Wagner	 e	 Mikesell	 (2011),	 as	 propostas	 apresentadas	
enveredaram	a	disciplina	por	cinco	ramificações	de	estudo:	cultura,	área	cultural,	
paisagem	cultural,	história	da	cultura	e	ecologia	cultural.
38
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
FIGURA 6 – BASE DE ESTUDO DA GEOGRAFIA DA ESCOLA DE BERKELEY
Cultura: 
Classifica	seres	humanos	e	áreas	ocupadas	pelos	grupos.
Área Cultural: 
Região/território	habitado	em	qualquer	período	determinado,	por	
comunidades	humanas	e	caracterizado	por	culturas	específicas.
Paisagem Cultural:
Tem	uma	função	de	descrição	sistemática,	e	apresenta	uma	base	para	
classificação	regional,	possibilitando	uma	reflexão	sobre	a	responsabilidade	
do	indivíduo	frente	às	alterações	geográficas,	desvendando	alguns	aspectos	
culturais	de	cultura	de	comunidades	culturais.
História da Cultura:
Na	reconstrução	da	sucessão	local	e	regional	de	culturas	e	da	história	das	
origens	e	dispersões	culturais,	adotam-se	muitos	dos	mesmos	indicadores	
considerados	na	definição	de	áreas	culturais	contemporanêas.	
Ecologia Cultural: 
Compara	dados	observáveis,	examina	diferentes	condições	da	paisagem.	
Com	o	intuito	investigativo,	visa	descobrir	quais	elementos	da	paisagem	
podem	ser	vinculados	a	práticas	recorrentes.
G
EO
G
R
A
FI
A
 C
U
LT
U
R
A
L
Apesar	de	componentes	comuns,	como	as	relações	entre	homem	e	meio	
ambiente	 earticulações	 regionais	 e	 paisagens,	 o	 período	 de	 formulação	 da	
geografia	 clássica	 também	 foi	 marcado	 por	 distintas	 intervenções	 geográficas	
estabelecidas	mediantes	 escolas	 formadas	 em	 países	 como	 França,	 com	 Vidal	
de	la	Blache,	Alemanha,	com	Ratzel,	e	Estados	Unidos,	com	Carl	Sauer,	porém,	
o	 último,	 apresentou	 outra	 capacidade	de	 análise	 para	 as	 paisagens	 culturais,	
baseada	 nas	 formas	 físicas	 e	 materiais.	 Contudo,	 além	 da	 perspectiva,	 foram	
trabalhadas	as	combinações	ecológicas	de	seres	vivos,	a	materialização	de	práticas	
humanas,	compreendendo	tanto	as	aptidões	desenvolvidas	como	o	conhecimento	
(CLAVAL,	2010).
FONTE: Adaptado de Wagner e Mikesell (2011)
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
39
Para uma melhor profundidade desses estudos sauerianos da Escola de 
Berkeley, os geógrafos Roberto Lobato Corrêa e Zeny Rosendahl, no ano de 2011, pela 
editora EdUERJ, lançaram o vigésimo volume da coleção Geografia Cultural, com o título 
Sobre Carl Sauer. O livro é de total interesse para os geógrafos que possuem interesse 
em conhecer um pouco mais do desenvolvimento do processo dos estudos culturais 
na geografia, principalmente através da obra apresentada. Carl Sauer, com um estudo 
multidisciplinar, aprofundava-se em outras leituras das ciências humanas, como na 
antropologia, sociologia e história, evidenciando e descortinando suas diferentes análises 
sobre o campo cultural.
DICAS
4 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES 
NO CAMPO GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA 
CULTURA
No	campo	da	geografia	e,	por	conseguinte,	no	ramo	cultural	da	geografia,	
alguns	períodos	foram	marcados	por	apresentar	suas	singularidades.	Destacamos	
que,	 apesar	 de	 dimensioná-los,	 não	 trataremos	 como	 períodos	 severamente	
medidos,	 limitados	 em	 inícios	 e	 términos	 absolutos,	 porque	 se	 interpõem,	 se	
cruzam.	Em	muitos	casos,	os	períodos	se	iniciam	anteriormente,	como	fase	inicial	
de	pesquisa,	mas	eclodem	ou	se	tornam	mais	conhecidas	posteriormente.	No	caso	
da	fase	dois	da	geografia	cultural,	assim	como	as	demais,	refletem,	basicamente,	
as	 conceituações	 sobre	 cultura,	método	 de	 pesquisa,	 linha	 epistemológica	 e	 a	
busca	por	um	objeto	de	estudo	autêntico	da	ciência	geográfica.
 
Segundo	Moreira	(2008),	no	período	da	geografia	clássica,	eram	comuns	os	
embates	 sobre	 os	 posicionamentos	 conceituais	 entre	 as	 principais	 escolas,	 alemã	
e	 francesa,	 pois	 refletiam	 a	 busca	 por	 um	 eixo	 central	 da	 disciplina.	 Dentro	 da	
efervescência,	o	destaque	dava-se	para	o	paradoxo	entre	a	crítica	e	o	prestígio,	pois,	
ao	mesmo	tempo	em	que	a	geografia	se	difundia	e	ganhava	prestígio,	por	outro	lado,	
as	críticas	repercutiam	e	ganhavam	espaço	entre	geógrafos	do	mundo	inteiro.
Na	 fase	 anterior,	 até	meados	 de	 1940,	 a	 geografia	 cultural	 iniciou	 um	
processo	de	desenvolvimento	com	a	geografia	humana,	havendo	uma	significativa	
ascensão	nos	estudos,	porém,	entrou	na	década	de	1950	com	sua	força	reduzida.	
O	 lapso	 ecoou	nos	 anos	 seguintes	de	 1960	 e	 1970,	 pela	perca	de	 interesse	nas	
pesquisas	das	dimensões	materiais	da	cultura,	além	das	transformações	ocorridas	
na	sociedade	e	suas	relações	entre	o	homem	e	meio.	Outro	aspecto	influenciador	
foram	 as	 análises	 provenientes	 de	 técnicas	 quantitativas	 e,	 por	 conseguinte,	
a	 crítica,	 representada	pela	 forma	de	 se	 fazer	 geografia,	 tendo	 em	vista	 que	 a	
linha	 teórica	 e	 práticas	 esbarravam	numa	 realidade	parcial,	 não	 apresentando	
resultados	semelhantes	à	realidade.
 
40
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Aproximadamente,	 na	 década	 de	 1950,	 o	 pensamento	 geográfico	
dominante	entre	o	meio	acadêmico	era	denominado	por:	geografia	quantitativa,	
pragmática	 ou	nova	 geografia.	Originou	 algumas	novas	percepções	de	 teorias	
regidas	sobre	uma	base	estatística.	Com	características	marcantes,	ela	se	destacou	
por	enfatizar,	como	premissas	básicas,	as	seguintes	percepções:
•	 Priorizar	as	investigações	e	seus	resultados	de	modo	objetivo,	rápido	e	exato	
com	o	uso	da	matemática	e	lógica	como	meio	de	linguagem.
•	 O	empírico,	o	ato	de	pesquisar	usando	a	experiência	tornou-se	prioridade	no	
âmbito	do	conhecimento.
•	 A	 apropriação	 de	 técnicas	 matemáticas	 e	 estatísticas	 era	 fundamental	 para	
investigação;
•	 Recomendava-se	 que,	 na	 esfera	 científica,	 houvesse	 uma	 unanimidade	 na	
linguagem	entre	todas	as	ciências.
•	 Em	virtude	do	uso	de	técnicas	com	conjuntos	de	normas	e	procedimentos,	era	
exigida	exatidão	quanto	à	aplicação	de	métodos	científicos.
•	 A	utilização	de	um	parâmetro	único	entre	ciências	sociais	e	naturais.
A	corrente	pragmática,	além	de	outros	interesses,	teve,	para	a	geografia	
e	o	Estado,	a	finalidade	de	sinalizar	um	forte	pactuado	de	poder,	pois	os	dados	
geográficos	 poderiam	 ser	 utilizados	 e	 manipulados	 estatisticamente	 como	
instrumentos	de	informação	nacional.
De	forma	explicativa,	a	geografia	clássica	apresentou	limites	e	imperfeições	
na	sua	construção,	esta	que	repercutiu	na	apropriação	e	efetivo	uso	da	metodologia	
centralizadora	de	resultados,	gerando	um	sentimento	de	desencanto	e	aflorando	
após	o	período	da	segunda	guerra	entre	os	geógrafos.	Além	do	senso,	ocorrências,	
como	as	gradativas	independências	política,	econômica	e	cultural,	instalavam-se	
em	parte	das	colônias.	Ainda,	outra	questão	diagnosticada	 foram	os	evidentes	
abismos	 de	 desigualdade	 que	 se	 formaram	 entre	 os	 países	 industrializados	 e	
aqueles	que	não	eram.
Essa	sensação	de	pouca	consistência	teórica	e	influxos	internos	produziu	
obstinação	 em	 buscar	 um	 instrumento	metodológico	 para	 explicar	 os	 novos	
processos	 e	 interrogações	 ocorrentes.	 A	 situação,	 a	 princípio,	 estremeceu	
o	 caminhar	 da	 subdisciplina,	 tanto	 na	 Europa	 quanto	 nos	 Estados	 Unidos,	
e	 as	 repreensões	 críticas	 metodológicas	 permeavam	 desde	 a	 linha	 teórico-
quantitativa	ao	materialismo	histórico	e	dialético.	Conforme	Claval	(1999,	p.	48),	
“[...]	a	geografia	cultural	entrou	em	declínio	porque	desapareceu	a	pertinência	
dos	 fatos	de	cultura	para	explicar	a	diversidade	das	distribuições	humanas”,	
tendo	 em	 vista	 que	 as	 explicações	 via	 cultura	 se	 apoiavam	 na	 concepção	
transcendental	da	entidade	supraorgânica	e	pelo	enquadramento	dos	estudos	
do	determinismo	cultural.
 
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
41
Percorrendo	 as	 fases	 de	 evolução	 e	 retração	 da	 geografia	 cultural,	
ancoramos	 a	 leitura	no	fim	da	década	de	 1960	 e	na	primeira	metade	de	 1970,	
tempo	 em	 que	 a	 nova	 geografia	 obscureceu	 a	 presença	 da	 geografia	 cultural,	
tornando	incipientes	suas	explicações	por	meio	da	cultura,	vistas	as	mudanças	e	
modernizações	que	a	sociedade	enfrentava.	“[...]	A	preferência	mudou	dos	estudos	
sobre	paisagens	culturais,	habitat	rural,	sistemas	agrícolas	e	difusão	cultural	para	
estudos	sobre	lógicas	locacionais	e	estudos	urbanos”	(CORRÊA,	2009,	p.	2).
Fadada	a	um	espaço	com	pouca	representatividade,	a	geografia	cultural	
ficou	subjugada	aos	apontamentos	da	grande	disciplina,	diga-se	de	passagem	já	
fragmentada,	em	setores	da	geografia	física	e	humana.	A	perspectiva	quantitativa	
proposta	 se	 alinhava	 à	 análise	 com	 uma	 base	 do	 neopositivismo	 lógico,	 em	
que	 a	 ciência	 geográfica	 incorporou,	 em	 seus	 estudos,	 análises	matemáticas,	 e	
apontou,	com	“exatidão”,	os	resultados	de	uma	geografia	cultural	e	humanizada.	
Novamente,	houve	um	choque	entre	o	que	se	definia	como	teoria	e	realidade.
 
Então,	 ficou	 dividido	 entre	 a	 euforia	 da	 difusão	 da	 ciência	 geográfica	
e	 a	 crítica,	 esta	 que	 gerou	 certa	 instabilidade	 entre	 a	 unidade	 dos	 geógrafos.	
É	 importante	 ressaltar	que	a	“crise”	 se	deu	num	contexto	em	que	a	 sociedade	
moderna	adentrava	a	 fase	 inicial	da	ousada	e	 forte	 industrialização,momento	
em	que	 o	 Estado	 se	 fazia	 presente	 em	 relação	 à	 reformulação	 e	 planejamento	
dos	espaços	urbanos,	nas	mudanças	da	economia	e	avanço	do	capitalismo	em	
dimensão	 mundial.	 Tais	 características	 semelhantes	 foram	 recorrentes	 em	
diversas	sociedades,	pois	refletiram	o	momento	pós-guerra	(MOREIRA,	2008).
Inserida	 dentro	 do	 contexto,	 a	 geografia	 percebeu	 que	 estava	 lutando	
com	 as	 estratégias	 erradas	 e	 que	 os	 problemas	 contextuais	 que	 assolavam	 a	
discussão	entre	meio	–	homem	eram	mais	profundos	e	possuíam	outras	diretrizes	
e	 perspectivas	 de	 análise.	 Diante	 de	 enigmas	 e	 outros	 possíveis	 parâmetros	
epistemológicos,	 a	 geografia	 desacelerou	 e	 propôs	 os	 objetivos	 de	 repensar	 e	
questionar	os	padrões	orientados	até	aquele	momento	(CLAVAL,	2010).	
Cotada	ao	desaparecimento,	a	geografia	cultural	ressurge	reformulada	no	
fim	da	década	de	1970	a	1980,	a	partir	um	novo	ciclo,	a	“virada	cultural”.	Ela	cria	
uma	 transição	de	 renovação	 evidenciada	por	 uma	 crítica	 às	 escolas	 Sauariana	
e	 Vidaliana	 e	maior	 valorização	 à	 cultura	 enquanto	meio	 de	 compreensão	 do	
mundo.
42
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E 
RENOVAÇÃO
Estabeleceu-se	que	o	marco	de	renovação	da	geografia	cultural	ocorreu	
após	a	década	de	1970	e	1980,	num	contexto	epistemológico	pós-positivista,	em	
que	 os	 estudos	 culturais	 estavam	 aliados	 a	 uma	 compreensão	mais	 ampla	 de	
mundo.
 
Holzer	 (2012)	 esclarece	 que	 mesmo	 que	 a	 geografia	 cultural	 estivesse	
retraída	pela	ascensão	da	geografia	quantitativa	e	pelo	aparecimento	da	geografia	
comportamental,	geógrafos	das	linhas	cultural	e	humanística	buscaram	restaurar	
e	recolocar	a	geografia	que	estava	sendo	esquecida.	Primeiramente	com	David	
Lowenthal	e,	posteriormente,	com	Yi-Fu	Tuan,	ambos	com	o	método	filosófico	de	
investigação	alternativo,	longe	do	descritivo.
 
A	discussão	proposta	por	Lowenthal	desviava-se	do	eixo	então	dominante,	
o	 da	 procura	 de	metodologias	 que	 se	 adequassem	 aos	modelos	matemáticos,	
remetendo-se	para	a	fundamentação	de	uma	teoria	de	conhecimento	geográfico.	
Seu	ponto	de	partida	era	a	“geosofia”,	com	base	em	um	projeto	de	ciência	que	
abarcasse	os	vários	modelos	de	observação,	o	consciente	e	o	inconsciente,	o	objetivo	
e	o	subjetivo,	o	fortuito	e	o	deliberado,	o	literal	e	o	esquemático	(HOLZER,	2012).
 
Na	perspectiva	de	Tuan,	a	geografia	deveria	aderir	aos	novos	paradigmas,	
favorecendo	os	estudos	das	vivências	que	se	projetam	de	um	lugar	particular,	a	
exemplo	do	lar,	para	as	paisagens	mais	globais,	de	uma	paisagem	humanizada	
para	outra	mais	primitiva	(HOLZER,	2012).	Sobre	as	experiências	dos	lugares,	a	
particularidade	de	 sentimentos,	vistas	 suas	experiências	de	viagens	 (CLAVAL,	
2011).	Essas	afirmações	conceituais	criadas	por	esses	e	outros	autores	imbuíram	
todo	o	movimento	vindouro	da	geografia	cultural.
 
Segundo	Claval	(2011),	aderir	novos	horizontes	partia	da	necessidade	de	
uma	melhor	compreensão	da	escola	francesa,	seus	desígnios,	além	das	alterações	
realizadas	nas	orientações	humanista	e	radical	das	geografias	inglesa	e	americana.
O	processo	de	despertar	para	uma	nova	dimensão	cultural	na	geografia	
passou	 a	 ser	 evidenciado	 após	 a	 prefixação	 de	 alguns	 princípios.	 O	 primeiro	
é	 evidenciado	 quando	 o	 conceito	 de	 cultura	 foi	 retomado	 dentro	 da	 linha	 da	
geografia	cultural,	opondo-se	às	concepções	antropológicas	criadas	por	Edward	
Tylor,	no	ano	de	1871	(CLAVAL,	2011;	CORRÊA,	2011).	Posteriormente,	a	crítica	
aos	discípulos	que faziam	uso	da	definição	de	cultura	autônoma	e	abrangente	
desenvolvida	pelo	antropólogo	Alfred	Kroeber	(DUNCAN,	2011).
 
[...]	 A	 década	 de	 1970	 foi,	 em	 realidade,	 uma	 arena	 de	 embates	
epistemológicos,	 teóricos	 e	 metodológicos.	 Emerge	 uma	 geografia	
crítica	e	diferentes	subcampos	que,	nos	anos	80,	 iriam	confluir,	em	
parte,	 para	 gerar	 a	 denominada	 geografia	 cultural	 renovada.	 A	
década	de	1980	vê	configurar-se	a	nova	versão	da	geografia	cultural	
(CORRÊA,	2009,	p.	2).	
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
43
Ainda	em	1980,	os	debates	de	ordem	epistemológica	 foram	estendidos,	
apesar	 das	mudanças	 já	 ocorridas	 no	 domínio	 anglófono.	Diferentemente	 das	
propostas	dos	anos	anteriores,	em	1950	e	1960,	a	geografia	não	se	apropriou	dos	
métodos	científicos	voltados	para	natureza	nem	para	vida,	mas	apresentou,	como	
resultado,	incessantes	questionamentos	sobre	o	que	se	entende	pelo	progresso,	
desenvolvimento,	 influência	e	 reconhecimento.	O	conjunto	de	 fatores	orientou	
as	ciências	para	as	conhecidas	“viradas”,	iniciando	com	a	“linguística”,	“virada	
espacial”	e,	por	fim,	na	geografia,	a	“virada	cultural”	(CLAVAL,	2014).
Muitas	das	concepções	preestabelecidas	estavam	sendo	desmistificadas,	
avaliadas	 e	 reinterpretadas.	 Algumas	 se	 referiam	 exatamente	 aos	 conceitos	
abrangentes	 de	 cultura,	 paisagem	 cultural,	 objetivos	 e	 método	 de	 análise	 de	
pesquisa.	 Romper	 com	 a	 antiga	 interpretação	 da	 paisagem	 cultural	 torna-se	
um	exemplo,	pois	compreendia	que	a	cultura	 tomava	o	 lugar	da	centralidade,	
passando	 a	 se	 manifestar	 como	 o	 agente	 transformador	 da	 paisagem	 natural	
(CORRÊA,	2014).
 
Buscando	 uma	 conotação	 significativa,	 as	 críticas	 revelaram	 ser	 contra	
a	percepção	cultural	apresentada	como	uma	entidade	superior	ao	homem.	Não	
bastava	 entender	 “[...]	 a	 cultura	 como	 entidade	 abstrata,	 supraorgânica,	 sem	
agentes	 sociais	 concretos,	 sendo	 gerado	 um	 quadro	 harmonioso:	 a	 paisagem	
cultural	 [...]”	 (CORRÊA,	 2014,	 p.	 41),	 pois	 o	 significado	 da	 paisagem	 também	
possui	realidades	simbólicas,	de	explicações	visíveis	das	manifestações	na	esfera	
terrestre.
 
O	 contraponto	 dos	 estudos	 focados	 no	 conceito	 de	 cultura	 surge,	
efetivamente,	na	década	de	1970.	Com	uma	nova	interpretação	para	a	temática,	a	
geografia	inglesa	eleva	o	nome	de	Denis	Cosgrove,	o	qual	se	propôs	a	trabalhar	e	a	
trilhar	uma	perspectiva	marxista,	cuja	escolha	ocorreu	por	influências	acadêmicas.
O	 conceito	 de	 cultura	 tinha,	 para	 Cosgrove,	 outras	 raízes	 e	
configurações.	Com	base	 em	Cassirer,	 no	Centre	 for	Contemporary	
Cultural	 Studies	 da	 Universidade	 de	 Birmingham,	 dirigido	 na	
década	de	1970	por	Stuart	Hall,	de	Raymond	Williams,	professor	na	
Universidade	de	Oxford,	e	na	antropologia	interpretativa	de	Clifford	
Geertz,	 cultura	 era	 entendida	 como	 os	 significados	 elaborados	 e	
reelaborados	pelos	diferentes	grupos	 sociais	 a	 respeito	das	diversas	
esferas	da	vida	(CORRÊA,	2014,	p.	40).
Baseados	em	suas	convicções	científicas,	Cosgrove	e	Peter	Jackson	fazem	
uma	conceituação	para	a	insurgência	da	geografia	cultural:
Uma	 possível	 definição	 dessa	 “nova”	 geografia	 cultural	 seria:	
contemporânea	e	histórica	(mas	sempre	contextualizada	e	apoiada	na	
teoria);	 social	 e	 espacial	 (mas	não	 reduzida	 a	 aspectos	da	paisagem	
definidos	 de	 forma	 restrita);	 urbana	 e	 rural;	 atenta	 à	 natureza	
contingente	 da	 cultura,	 às	 ideologias	 dominantes	 e	 às	 formas	 de	
resistência.	Para	essa	“nova”	geografia,	a	cultura	não	é	uma	categoria	
residual,	 mas	 o	 meio	 pelo	 qual	 a	 mudança	 social	 é	 experienciada,	
contestada	e	construída	(COSGROVE;	JACKSON,	2011,	p.	136).
44
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Como	autor	âncora	da	antropologia,	que	contribuiu	para	a	geografia	no	
momento	de	ebulição	científica,	em	relação	ao	conceito	de	cultura,	Geertz	pôde	
reforçar	 o	 entendimento	 da	 diversidade	 cultural	 e	 acrescentar	 a	 possibilidade	
de	 elencar	diversas	maneiras	que	obscureçam	o	 sentido	 conceitual	da	 cultura.	
Todavia,	 alertou	 que	 tal	 ato	 ocasiona	 uma	 simplificação,	 empobrecendo	 a	
concepção	de	estudo.Imaginar	que	a	cultura	é	uma	realidade	“supraorgânica”	autocontida,	
com	forças	e	propósitos	em	si	mesma,	isto	é,	reificá-la.	Outra	é	alegar	
que	ela	consiste	no	padrão	bruto	de	acontecimentos	comportamentais	
que,	 de	 fato,	 observamos	 ocorrer	 em	 uma	 ou	 outra	 comunidade	
identificável	(GEERTZ,	2008,	p.	8).
No	caso,	os	significados	da	cultura	e	da	análise	das	paisagens	passaram	
a	ser	reconduzidos	nas	explicações	geográficas.	A	princípio,	tudo	era	esclarecido	
por	 meio	 da	 cultura	 material,	 porém,	 cresceu	 a	 importância	 de	 explicação	
segundo	as	mudanças	que	ocorriam	na	sociedade,	a	exemplo	do	enraizamento	do	
capitalismo	e	todos	seus	resultados	impressos	no	organismo	social.	A	abordagem	
contemporânea	firma-se	na	ideia	de	que	o	homem	é	um	agente	ativo	e	a	cultura	
não	 está	 à	 parte	 do	 indivíduo,	 mas	 intrinsecamente	 relacionada	 a	 ele,	 desde	
costumes	a	princípios.	A	cultura	deve	ser	analisada	como	parte	das	construções	
sociais.	 Cosgrove	 e	 Jackson	 (2011,	 p.	 142)	 afirmam	 que	 “[...]	 as	 culturas	 são	
contestadas	politicamente.	A	visão	unitária	de	cultura	dá	lugar	à	pluralidade	de	
culturas,	cada	uma	com	suas	especificidades	de	tempo	e	lugar”.
 
A	partir	do	olhar,	Corrêa	(2011,	p.	170)	expõe	que	“[...]	a	diversidade	cultural	
não	pode	ser	restrita	às	convencionais	diferenças	raciais,	étnicas,	linguísticas	ou	
religiosas”.	 Para	Geertz	 (2008),	 quando	 o	 conceito	 de	 cultura	 delineia	 formas,	
torna-se	limitado,	pois	age	especificando,	sufocando	e	representando	uma	análise	
não	esclarecedora,	apontando	que	não	é	adequado	elaborar	uma	“Teoria	Geral	de	
Interpretação	Cultural”,	tendo	em	vista	que:
[...]	O	homem	é	um	animal	amarrado	a	teias	de	significados	que	ele	
mesmo	 teceu,	 assume	 a	 cultura	 como	 sendo	 teias	 e	 a	 sua	 análise.	
Portant,o	não	como	uma	ciência	experimental	em	busca	de	leis,	mas	
como	uma	ciência	 interpretativa	à	procura	do	significado	(GEERTZ,	
2008,	p.	4).
Cada	grupo	social	produz	cultura,	e	essa	são	várias,	e	podem	ser	recriadas,	
heterogêneas	e	variantes.
 
Na	 geografia,	 em	 uma	 escala	 gradual	 de	 correntes,	 entende-se	 que	 a	
diretriz	do	pensamento	clássico	progressista	não	foi	capaz	de	sanar	ou	explicar	
as	dúvidas	recorrentes	do	século	XIX	e	XX.	Ao	longo	da	busca	por	um	rumo,	a	
geografia	 foi	 apresentada	à	 corrente	do	pensamento	 radical	 crítico,	 situando	a	
ciência	nas	realidades	econômica,	social	e	política.
 
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
45
Essa	 conversa,	 da	 geografia	 cultura	 com	 a	 matriz	 crítica,	 apesar	 de	
importante,	 por	 vezes,	 desvalorizou	 temas	 complementares,	 a	 exemplo	 de	
concepções	religiosas	na	geografia,	sob	a	influência	dos	materialismos	histórico	
e	dialético.	Ainda,	a	retórica	nas	lutas	de	classes	entre	proletariado	e	burgueses,	
processo	produtivo,	ou	seja,	em	todo	universo	da	produção	capitalista.
 
A	 reflexão	 teórica	 marxista	 foi	 aplicada	 aos	 problemas	 sociais	 e	
aos	 de	 ação	 política	 de	 transformação	 da	 sociedade	 em	 direção	 ao	
socialismo.	 O	 procedimento	 rigorosamente	 materialista	 de	 análise	
em	busca	de	novas	forças	que	realmente	moviam	a	sociedade	levou	
os	geógrafos	críticos	a	marginalizarem	as	questões	religiosas	de	seus	
estudos.	Em	realidade,	o	materialismo	histórico	e	dialético	é	ateu,	isto	
é,	 diferentemente	 de	 considerar	 a	 existência	 de	 Deus	 uma	 questão	
científica,	como	no	positivismo,	admite	plenamente,	com	base	na	visão	
materialista,	a	inexistência	de	Deus	(ROSENDAHL,	1996,	p.	22).
Nos	embalos	das	diversas	possibilidades	de	pesquisa,	a	temática	emudecida	
na	geografia	tradicional	e	avivada	na	virada	cultural	foi	a	sacrorreligiosa.	Apesar	
de	ecoar	antes	da	renovação	ou	evolução	da	geografia	de	1980,	por	décadas,	foi	
ignorada	e,	quando	estudada,	colocada	sob	a	ótica	do	visível,	palpável	e	objetivo.
Toda	a	movimentação	colaborou	para	que	o	espaço	de	discussões	ficasse	
aberto	 para	 o	 surgimento	 de	 novas	 intervenções	 epistemológicas.	A	 proposta	
estava	 em	 dispor	 as	 diferentes	 possibilidades	 de	 análise,	 descapsulando	 as	
práticas	remanescentes,	que	determinavam	alguns	resultados	e	métodos	únicos	
como	verdades	absolutas.
Essas	 reflexões	 acerca	 do	 quadro	 epistemológico	 permitiram	 dar	
abertura	 para	 a	 subjetividade	 humana	 no	 campo	 das	 pesquisas	 nas	 ciências	
sociais,	potencializando	o	processo	da	virada	cultural.	A	ressurreição	da	ordem	
fenomenológica	 reencontra	 ideologias	 ligadas	às	 experiências	dos	homens	nos	
meios	social	e	ambiental,	compreendendo	a	significação	no	sentido	dado	às	vidas	
e	à	diversidade	(CLAVAL,	2011).
[...]	A	corrente	nova	parece	virar	as	costas	à	atualidade:	volta-se	para	
as	 lembranças	de	 infância	e	à	maneira	como	modela	a	sensibilidade	
das	pessoas.	Fala-se	daquilo	que	dá	charme	às	paisagens,	descobre-se	
a	festa,	o	espetáculo	(CLAVAL,	2011,	p.	221).
O	novo	momento	da	geografia	trouxe	novas	perspectivas	e	paradigmas	
de	análise,	dando,	ao	indivíduo,	a	possibilidade	de	se	apresentar	a	partir	da	sua	
história	 de	 vida,	 contemplando	 a	 percepção	 que	 tem	 do	mundo	 por	meio	 da	
construção	que	faz	do	lugar	onde	produz	suas	relações,	envolvendo,	inclusive,	
suas	convicções	religiosas	(ROSENDAHL,	1996).
 
Compreende-se	que,	no	novo	ciclo,	a	dimensão	subjetiva	não	se	sobrepôs	
às	análises	de	cultura	material,	mas	construiu	uma	dinâmica	aberta,	valorizando	
tanto	uma	quanto	a	outra,	mediante	o	uso	optativo	nas	pesquisas.
 
46
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Outro	 quesito	 preservado	 é	 a	 cerne	 conceitual	 da	 geografia:	 território,	
lugar,	região,	paisagem	e	espaço.	A	partir	destes	que	outros	temas	surgem.	São	
como	uma	 trama,	 que	 cruzam	 segundo	 as	 perspectivas	 simbólicas	 e	 tecem	 as	
variantes	 pertencentes	 aos	 conhecimentos	 geográfico	 e	 cultural.	 Questões	 são	
levantadas,	como	identidade	territorial,	imaginário	espacial,	formas	simbólicas,	
literatura	e	música,	religião	etc.
Corrêa	 e	 Rosendahl	 (2012)	 consideram	 a	 geografia	 cultural	 um	
conhecimento	heterotópico,	pois	tem	a	capacidade	de	se	enraizar	por	diferentes	
horizontes	a	partir	de	uma	base,	sendo	que	nenhuma	dessas	zonas	de	ramificação,	
por	mais	plural	que	seja,	pode	se	sentir	superior,	já	que	a	diversidade	caracteriza	
uma	cultura	aberta,	sujeita	a	uma	amplitude	no	campo	de	investigação.
A	 seguir,	 apresentaremos	 um	 resumo	 reflexivo	 de	 três	 concepções	 de	
cultura	utilizadas	ao	longo	das	três	fases	da	geografia	cultural.	
QUADRO 2 – CONCEPÇÕES DE CULTURA
FONTE: Adaptado de Claval (2002)
Classificação de três concepções culturais
Primeira 
Concepção
CULTURA
• Conjunto	de	práticas,	conhecimentos	e	valores.
• Cada	indivíduo	recebe	e	se	adapta	a	situações	evolutivas.
• Aparece,	ao	mesmo	tempo,	como	uma	realidade	 individual	 (resultante	da	
experiência	de	cada	pessoa)	e	social	(resultante	de	processos	de	comunicação).
• Não	é	uma	realidade	homogênea.
• Compõe	muitas	variações.
Segunda 
Concepção
• Apresentada	como	um	conjunto	de	princípios,	regras,	normas	e	valores	que	
deveriam	determinar	as	escolhas	dos	indivíduos	e	orientar	a	ação.
• Define-se	como	imutável.
• É	útil	para	compreender	a	componente	normativa	dos	comportamentos.
• As	regras	são	interpretadas	para	justificar	e	motivar	as	escolhas	diversas.
Terceira 
Concepção
• Apresentada	como	um	conjunto	de	atitudes	e	costumes	que	dão,	ao	grupo	
social,	a	sua	unidade.
• Tem	um	papel	importante	na	construção	das	identidades	coletivas.
Caro	 aluno,	 a	 compreensão	 de	 cultura	 ultrapassa	 níveis	 de	 realidades	
diferentes,	 não	 podendo	 ser	 considerado	 um	 aspecto	 banal	 de	 ser	 analisado.	
A	 cultura	 pode	 ser	 considerada	 um	 meio	 para	 interpretar	 formações	 sociais	
complexas,	 grupos	 identitários,	 classes	 sociais	 com	 alguns	 seguimentos	 das	
ciências,	como	antropologia,	sociologia,	história,	religião	e	geografia,	porém,	nesta	
últimaé	importante	percebê-la	enquanto	fenômeno	dentro	da	ordem	espacial.	A	
reflexão	sobre	o	aparato	discursivo	propõe	apresentar	seus	avanços,	levando	em	
consideração	a	epistemologia,	espaço	dos	acontecimentos	e	experiência	de	cada	
autor	no	desenvolvimento	de	teorias	e	interpretações	sobre	a	cultura.
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
47
Sobre a perspectiva de estudo da geografia cultural, indicamos o vídeo Relação 
da geografia com a cultura, desenvolvido pelo Observatório do Desenvolvimento Regional 
(ObservaDR). A conversa foi realizada com o Dr. Rogério Haesbaert da Costa, a partir do uso 
das categorias geográficas território, paisagem e lugar e suas conexões interpretativas. O 
vídeo possui, aproximadamente, 11 min de duração, e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube, no endereço https://www.youtube.com/watch?v=P5N2x78YZYk.
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Na	 virada	 do	 Século	 XIX	 para	 Século	 XX,	 algumas	mudanças	 ocorriam	 no	
cenário	 científico.	A	 geografia,	 enquanto	 ciência,	 abriu	 espaço	mesmo	 que,	
timidamente,	para	o	desenvolvimento	de	um	subcampo	diferente	de	todos,	o	
da	geografia	cultural.	É	a	área	que	se	interessou	pelas	dimensões	espaciais	da	
cultura,	elevando	temas	referentes	ao	gênero	de	vida	e	paisagem	cultural.	As	
escolas	geográficas	dominantes,	no	primeiro	momento,	atendiam	aos	interesses	
vidalianos	e	ratzelianos.
 
•	 Por	 volta	 de	 1925,	 nos	 Estados	 Unidos,	 na	 escola	 de	 Berkeley,	 a	 geografia	
cultural	 apresenta	 uma	 força	 anteriormente	 não	 experienciada.	 Com	 Carl	
Sauer,	o	subcampo	foi	difundido,	motivo	pelo	qual	construiu	uma	identidade	
própria,	firmada	nas	sociedades	tradicionais,	no	historicismo	e	na	antropologia	
de	Kroeber	e	demais	autores	da	teoria	supraorgânica.
 
•	 A	 geografia	 cultural	 passou	 por	 um	 período	 de	 inexpressividade,	 que	 se	
iniciou	 na	 década	 de	 1950,	 estendendo-se	 ao	 fim	dos	 anos	 1970.	As	 críticas	
advieram	das	correntes	predominantes	e	da	versão	dos	materialismos	histórico	
e	dialético.	Uns	julgavam	pela	geografia	cultural	não	conter	uma	análise	fiel	ao	
teor	pragmático,	e	outros	por	não	se	preocupar	com	as	causas	sociais	e	grupos	
dominantes	através	do	capitalismo,	por	exemplo.
•	 O	processo	de	democratização	do	estudo	da	geografia	cultural	foi	fomentado	
desde	a	virada	dos	séculos	1970	para	1980,	firmando	em	1990,	quando	as	críticas	
cresceram	 e	 novos	 contextos	 teóricos	 sobre	 a	 valorização	 cultural	 surgiram.	
Pode	ser	considerado	um	processo	de	evolução	complementar,	respeitando	as	
discussões	em	sua	diversidade.
•	 Fizeram	parte	 do	movimento	 de	 renovação:	 a	 tradição	 contida	 nos	 estudos	
de	 Sauer,	 as	 incursões	da	 escola	 francesa	de	Vidal	 de	La	Blache,	 a	 corrente	
filosófica	 fenomenológica,	 de	 significação	 e	 experiências,	 o	 materialismo	
histórico	representado	por	uma	cultura	dominante	e	alternativa	de	sociedades	
de	classes	e,	por	fim,	a	concordância	com	as	ciências	humanas	antropologia,	
sociologia,	das	religiões	e	outras,	que	foram	fundamentais	para	o	fortalecimento	
do	subcampo	da	geografia	cultural.
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1	 O	 nascimento	 da	 geografia	 cultural	 ocorreu	 no	 fim	 do	 Século	 XIX,	
coincidindo	com:
a)	(			)	O	nascimento	da	geografia	econômica.
b)	(			)	O	nascimento	da	geografia	física.
c)	 (			)	O	nascimento	da	geografia	humana.
d)	(			)	O	nascimento	da	geografia	da	religião.
2	 Sobre	os	estudos	de	Carl	Sauer,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	Suas	 teorias	 foram	 amparadas	 na	 antropologia	 de	 Franz	 Boas	 do	
supraorgânico,	em	que	a	cultura	foi	considerada	uma	entidade	acima	
do	homem.
b)	(			)	Foi	 a	 partir	 de	 1925,	 em	 Berkeley,	 que	 a	 geografia	 cultural	 ganhou	 
identidade,	segundo	as	bases	do	historicismo	e	sua	valorização	do	presente.	
c)	 (			)	O	historicismo	amparado	no	idealismo	e	a	visão	de	cultura	supraorgânica	
de	Kroeber	conduziram	os	estudos	de	Carl	Sauer.	
d)	(			)	Os	discípulos	de	Sauer,	em	1962,	privilegiaram	o	estudo	de	cinco	temas	
na	escola	de	Berkeley:	cultura,	paisagem	cultural,	história	da	cultura,	
cultura	dominante	e	ecologia	cultural.	
3	 Quais	as	duas	principais	correntes	do	pensamento	geográfico	que	fizeram	
crítica	à	escola	de	Berkeley?
a)	(			)	Teorético	–	quantitativa	e	fenomenologia.	
b)	(			)	Historicismo	e	materialismo	histórico	dialético.
c)	 (			)	Teorético	–	quantitativa	e	historicismo.
d)	(			)	Teorético	–	quantitativa	e	materialismo	histórico	dialético.
4	 Sobre	a	renovação	da	geografia	cultural,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	A	década	de	1980	representou	uma	fase	obscura	na	geografia	cultural,	
prevalecendo	o	determinismo	cultural	e	o	senso	comum.
b)	(			)	A	 década	 de	 1980	 representou	 uma	 democratização	 dos	 estudos	
culturais	 na	 geografia,	 a	 espacialização	 da	 cultura,	 a	 valorização	
das	 perspectivas	material	 e	 não	material,	 o	 objetivo	 e	 subjetivo	 e	 as	
experiências	expressamente	vividas	e	planejadas.					
c)	 (			)	O	período	de	 renovação	da	 cultura,	 apesar	 de	 ser	 valorizado	 com	a	
eclosão	 da	 “virada	 cultural”,	 não	 foi	 satisfatório,	 pois	 o	 conceito	 de	
cultura	não	pôde	ser	redefinido,	permanecendo	com	perspectiva	única	
do	supraorgânico.	
d)	(			)	A	 renovação	 remonta	um	marco	na	geografia	 segundo	o	amparo	na	
base	estruturalista,	em	que	os	estudos	culturais	estavam	aliados	a	uma	
compreensão	mais	ampla	de	mundo.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA 
GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM 
CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, 
“NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
1 INTRODUÇÃO
Caro	 acadêmico,	 até	 o	 presente	 momento,	 trouxemos,	 nos	 tópicos	
anteriores,	 uma	 contextualização	 importante	 sobre	 os	 parâmetros	 em	 que	
a	 geografia	 cultural	 se	 posicionou.	 Aparentemente	 localizadas	 em	 esferas	
longínquas,	as	grandes	escolas	do	pensamento	geográfico,	a	exemplo	da	França,	
Alemanha	e	Estados	Unidos	da	América,	 tocaram,	 literalmente,	a	geografia	no	
Brasil,	sim,	algumas	influências	mais	fervorosas,	outras	menos,	mas	assim	que	se	
fortaleceu	o	campo	cultural.
É	 chegada	 a	 hora	 de	 vocês	 conhecerem	 o	 perfil	 e	 incursões	 culturais	
geográficas	no	Brasil	entre	as	décadas	de	1930	e	posteriores,	seus	desdobramentos,	
alguns	pesquisadores,	além	de	analogias.
 
Identificamos	que	o	 campo	de	 estudo	no	Brasil	 constitui	uma	 resposta	
do	processo	de	difusão	realizado	a	partir	de	eventos	de	proporções	maiores.	Os	
atos	realizados	 formaram	a	 inserção	salutar,	visto	que,	a	partir	do	Século	XIX,	
o	 prisma	 sobre	 a	 geografia	 cultural	 ganhou	 um	 perfil	 caleidoscópico.	A	 cada	
giro	ou	 fenômenos	no	espaço,	uma	nova	abordagem	se	 formava	sobre	cultura	
na	geografia.	O	processor	de	formas	e	funções	diferenciadas	foi	mudando	até	o	
formato	que	temos	na	década	de	2000	na,	então,	geografia	cultural	brasileira.
 
A	 proposta	 congregou,	 nas	 temáticas,	 o	 cunho	 explicativo	 sobre	 a	
história	e	desenvolvimento	da	geografia	cultural	no	e	do	Brasil.	A	princípio,	com	
“Geografia	cultural	no	Brasil:	uma	prévia	das	primeiras	incursões”,	“A	produção	
acadêmica	da	geografia	cultural”,	“Geografia	cultural:	um	campo	negligenciado	
no	Brasil”,	“O	florescer	dos	estudos	culturais	pós-1980”,	“Principais	difusores:	a	
expansão	e	o	interesse	da	geografia	cultural”	e,	por	fim,	“A	produção	acadêmica	
da	geografia	cultural”.	
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UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS 
PRIMEIRAS INCURSÕES
Iniciamos	 fazendo	 uma	 abordagem	 geral	 da	 condição	 da	 geografia	 do	
Brasil	 enquanto	grande	disciplina	 entre	os	 anos	de	 1930	 a	 1970.	É	 certo	que	 a	
busca	por	uma	compreensão	mais	abrangente	se	traduz	em	explicações	futuras	
sobre	o	campo	da	geografia	cultural.	
Antes	da	geografia	ser	estudada	academicamente	no	país,	o	conhecimento	
geográfico	 se	 fazia	presente	a	partirde	 formas	 comunicadoras,	 a	 exemplo	das	
letras	 com	 a	 literaturas	 e	 imagens	 com	 a	 linguagem	 visual.	 Eram	 realizadas	
descrições,	 classificações	 que	 traduziam	 as	 paisagens,	 além	 das	 distribuições	
locacionais,	 porém,	 com	 uma	 percepção	 europeia	marcada,	 inicialmente,	 pela	
herança	colonialista	portuguesa	(MOREIRA,	2008).
 
Moreira	(2008,	p.	30)	afirma	que	“a	geografia	brasileira	já	nasce	clássica”.	
A	máxima	vem	explicar	que	o	desenvolvimento	da	ciência	geográfica	brasileira	
se	deve	a	um	movimento	sinalizado	pela	ciência	em	âmbito	das	grandes	escolas	
geográficas	já	existentes	no	mundo,	cujas	referências	influenciaram	diretamente	
o	crescimento.
 
Oportunamente,	 no	 Século	 XX,	 inúmeros	 trabalhos	 geográficos	 foram	
produzidos.	Apesar	 de	 obedecer	 às	 regras	 vigentes	 dos	modelos	 descritivos	 e	
estatísticos,	 tal	 ato	 se	 transformou	em	estratégia	para	 fomentar	 a	geografia	no	
Brasil.	Com	o	apadrinhamento	estrangeiro,	foi	natural	que,	de	maneira	inicial,	a	
geografia	no	Brasil	tivesse	sua	essência	marcada	por	princípios	e	interpretações	de	
ordens	francesa,	alemã	e	norte-americana.	As	influências	enriqueceram	a	ciência	
e,	mais	tarde,	o	diálogo	se	deu	de	maneira	mais	equilibrada,	frente	às	construções	
de	 conhecimento	 geográfico	 próprio	 do	 Brasil,	 proporcionando	 a	 construção	
identitária	de	uma	geografia	brasileira	realizada	por	sua	gente	(CLAVAL,	2012).
 
No	ano	de	1934,	a	geografia	no	Brasil	ganha	o	primeiro	capítulo:	torna-
se	 acadêmica	 na	 Universidade	 de	 São	 Paulo	 (USP).	 Naquele	 ano,	 foi	 criado	
o	departamento	de	geografia	e	o	de	história.	Mais	adiante,	em	1936,	no	Rio	de	
Janeiro,	o	segundo	curso	de	geografia	 foi	criado,	na	antiga	universidade	UDF,	
atual	Universidade	Federal	do	Rio	de	Janeiro	-	UFRJ	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	
2005;	MOREIRA,	2008).
 
Geógrafos	 como	 Miguel	 Delgado	 de	 Carvalho,	 Everardo	 Backheuser,	
Pierre	Monbeig	e	Pierre	Deffontaines	se	destacaram	por	auxiliar	na	implantação	
dos	cursos,	associação	dos	geógrafos	do	Brasil,	congressos	de	geografia,	conselho	
nacional	de	geografia	e	órgãos	como	o	Instituto	Brasileiro	de	Geografia	e	Estatística	
(IBGE).
 
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
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Delgado	 de	 Carvalho	 foi	 um	 dos	 grandes	 nomes	 do	 Século	 XX	 na	
geografia	 brasileira.	 Foi	 ele	 quem	 introduziu	 o	 sentido	 de	 uma	 geografia	
moderna	no	país.	Com	uma	formação	acadêmica	francesa,	Carvalho	mergulhou	
nas	bases	vidalianas	que	estavam	em	voga	no	começo	daquele	século,	trazendo	
a	origem	da	escola	francesa	para	lapidar	os	primeiros	cursos	e	instituições	de	
geografia	no	Brasil.	O	tema	relativo	às	ordens	físicas	sobre	a	primeira	proposta	
de	divisão	regional	do	Brasil,	setentrional,	meridional,	norte	oriental,	oriental,	
central/ocidental,	 subsidiou	as	posteriores	divisões	 regionais	 elaboradas	pelo	
IBGE	(MORREIRA,	2008).
FIGURA 7 – PRIMEIRA DIVISÃO REGIONAL EM 1913 POR DELGADO DE CARVALHO
FONTE: Costa e Farias (2009, p. 6)
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UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Everardo	Backheuser	também	foi	um	dos	representantes	contemporâneos	
no	 desenvolvimento	 da	 geografia	 brasileira.	 Ele	 traça	 adaptações	 da	
antropogeografia	 ratzeliana	 com	 elementos	 conceituais	 franceses,	 segundo	
Brunhes	 e	Vallaux.	Com	uma	pluralidade	e	diversidade	de	 temas,	Backheuser	
hora	 perpassa	 pela	 geologia,	 geomorfologia,	 e	 outrora	 na	 geopolítica.	 Como	
possibilidade,	 em	 1944,	 ele	 apresenta	 uma	 combinação	 da	 geografia	 com	 a	
religião,	“a	religião	em	antropogeografia”	(MOREIRA,	2008).
 
Tanto	 Monbeig	 quanto	 Deffontaines	 foram	 discípulos	 de	 Vidal	 de	 La	
Blache,	fonte	que	direcionou	teoricamente	a	geografia	brasileira,	as	primeiras	e	as	
gerações	posteriores,	consequentemente.	O	papel	de	ambos	se	cruzou	mediante	
as	responsabilidades	acadêmicas	assumidas,	primeiramente,	com	a	USP	e,	depois,	
com	 a	 UFRJ.	 Em	 um	 comparativo,	Moreira	 (2008)	 singulariza	Monbeig	 como	
um	produtor	de	trabalhos	clássicos	focado	na	geografia	agrária,	na	base	físico-
territorial,	 caracterizando	 a	 atomização	 em	 campos	 setoriais,	 ou	 seja,	 estudos	
fracionados.	Deffontaines,	 como	um	produtor	de	geografia	 integrada,	baseado	
na	 geografia	 humana	 do	 Brasil.	 O	 homem,	 meio	 descrito	 por	 ele,	 tinha	 uma	
comunicação	intrínseca,	pois	partilhava	de	uma	leitura	dos	aspectos	humanos	e	
do	meio	natural.
Para	 Claval	 (2012),	 Deffontaines	 teve	 um	 papel	 fundamental	 na	
construção	 da	 geografia	 cultural,	 principalmente	 por	 suas	 reflexões	 acerca	 da	
criação	de	cidades	brasileiras.	Ele	percebeu	que	os	grandes	latifundiários,	em	sua	
maioria,	edificavam	um	templo	que	atendesse	a	necessidades	da	população.	Em	
torno	da	 criação	da	 igreja,	passava	a	 existir	uma	dinâmica	espacial	 envolvida,	
que	 modificava	 os	 arredores.	 Um	 grupo	 de	 pessoas	 passava	 a	 se	 deslocar	
semanalmente	para	participar,	por	horas,	das	atividades	religiosas	desenvolvidas.	
Em	outros	casos,	havia	a	permanência	de	pessoas	naquele	espaço	durante	todo	
o	fim	de	semana,	nas	chamadas	casas	secundárias,	aquelas	construídas	para	uso	
excepcional,	no	caso,	para	o	compromisso	religioso.
Durante	a	caminhada	profissional,	Pierre	Deffontaines	ressaltou	algumas	
pesquisas	 que	 apontam	 para	 uma	 geografia	 cultural	 francesa	 sobre	 folclore	
e	 etnografia	 rural.	Os	 recortes	 espaciais	 contemplam	suas	vivências	pessoais	 e	
manifestações	visíveis	da	cultura	referente	aos	países	e	regiões	nos	quais	residiu:	
no	Sudoeste	 e	Leste	da	França,	Europa	Central,	Quebec,	Catalunha	e	o	Brasil,	
num	período	curto	antes	da	segunda	guerra	(CLAVAL,	2012).
Suas	obras,	para	as	geografias	humana	e	cultural,	O homem e a serra,	O 
homem e a floresta,	O homem e o inverno no Canadá,	O homem e a vinha,	O homem 
e o arado,	O homem e as plantas cultivadas,	 substantivaram	geógrafos	brasileiros,	
dos	quais	destacou-se	Alberto	Ribeiro	Lamego	Jr.	Ele	escreveu,	nas	décadas	de	
1940	e	1950,	obras	em	estruturas	semelhantes	às	de	Deffontaines,	mas	com	o	teor	
conteudístico	brasileiro:	O homem e o brejo	(1946),	O homem e a restinga	(1946),	O 
homem e a Guanabara	(1948)	e	O homem e a montanha	(1950).
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
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Como	a	mais	 importante	matriz	geográfica	do	Brasil,	 a	 escola	 francesa	
se	 preocupava	 em	 apresentar,	 em	 suas	 pesquisas,	 os	 estudos	 regionais.	 De	
forma	alegórica,	a	cultura	aparecia	em	uma	ação	conjunta	entre	elementos	para	
fornecimento	de	uma	identidade	regional.
 
Tratando-se	 da	 influência	 da	 escola	 sauariana	 nos	 estudos	 geográficos	
brasileiros,	 pode-se	 dizer	 que,	 apesar	 de	 ter	 sido	 implantado	 pelo	 professor	
Hilgard	Sternberg	na	Universidade	do	Brasil	 até	meados	de	 1960,	 o	 resultado	
foi	insatisfatório,	pois	não	houve	uma	adesão	frente	à	linha	teórica	holística	de	
Berkeley.	 Da	 década	 de	 1970	 até	 1980,	 a	 geografia	 brasileira	 era	 dividida	 em	
três	linhas:	tradução	francesa,	visão	teorético-quantitativa	e	a	referenciada	pelo	
materialismo	histórico	e	dialético	(CLAVAL,	2012).
Significativamente,	 a	 geografia	 cresceu,	pesquisadores	 surgiram,	mas	o	
campo	 da	 geografia	 cultural	 permanecia	 marginalizado.	 Independentemente	
das	particularidades,	dinamismo	e	heterogeneidade	cultural	existentes	no	Brasil,	
até	o	fim	da	década	de	1980,	inúmeros	geógrafos	desconheciam	o	subcampo	de	
conhecimento	pertencente	à	ordem	geográfica.	
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO 
NO BRASIL
Uma	 modesta	 perspectiva	 de	 crescimento	 quanto	 ao	 estudo	 cultural	
geográfico	pôde	ser	evidenciada	na	passagem	da	década	de	1970	para	1980.	O	
período	mostrou	as	ebulições	científicas,	o	princípio	de	decadência	das	orientações	
quantitativas	e	a	ascensão	de	uma	geografiaradical	ou	crítica.
 
Contudo,	algumas	obras	pós	1980,	a	exemplo	de	dicionários	da	geografia	
humana-cultural,	foram	escritas	com	o	intuito	de	reafirmar	a	geografia	cultural	
como	 ciência	 descritiva,	 com	 definições	 estabelecidas	 e	 conceitos	 existentes,	
uma	geografia	norte-americana	de	ramo	sistemático	da	geografia	humana	com	
análises	morfológicas	em	sua	essência.
Apesar	 da	 efervescência	 iniciada	 em	 anos	 anteriores,	 inclusive	 com	 a	
virada	linguística,	não	mudou	bruscamente	a	realidade	do	ramo	da	geografia.	A	
abordagem	cultural	ocorria	esparsamente	em	pequenos	grupos.
A	passagem	da	década	de	1970	no	Brasil	pouco	impactou	os	movimentos	
culturais	na	geografia,	pois	a	influência	da	geografia	clássica	francesa	prevaleceu,	
principalmente	 nas	 produções	 acadêmicas.	Com	os	 trabalhos	de	 conclusão	de	
curso,	geralmente,	permeavam	temáticas	de	interesse	regionais	e	locais,	deixando	
adormecido	o	aspecto	cultural	na	maioria	das	pesquisas.
 
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UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Segundo	Claval	(2012),	os	geógrafos	brasileiros	estavam	fadados	às	práticas	
recorrentes	 e	 entusiasmados	para	 experimentar	 outras	 epistemologias	 e	 temas	
voltados	para	atualidade	da	época,	como	a	dinâmica	e	conceituação	do	espaço.	
Então,	introduzida,	pela	literatura	do	geógrafo	Pierre	George,	a	compreensão	do	
movimento	da	geografia	ativa	ou	crítica,	além	da	base	marxista,	com	vistas	para	
a	geografia	das	populações	mundiais.
 
No	período,	o	Brasil	estava	sob	a	governança	militar,	motivo	que	favoreceu	
a	busca	pelo	afastamento	do	regime	socialista	e	a	implantação	do	experimento	
comunista	 no	 país.	 O	 regime	 militar	 investiu	 nas	 incursões	 quantitativas	
difundidas	 pelos	 Estados	 Unidos,	 com	 a	 justificativa:	 a	 aproximação	 com	 o	
pragmatismo	desvincularia	o	país	do	progressismo	encontrado	na	Europa.
Em	virtude	da	tomada	e	declínio	militar,	o	contexto	geográfico	também	
absorveu	 as	 mudanças.	 No	 fim	 da	 era	 militar,	 inúmeras	 hipóteses	 foram	
contestadas	 e	 a	 verdades	 absolutas	 dadas	 como	 incertas,	 primeiramente,	 em	
relação	à	geografia	regional	instituída	pela	escola	francesa	e,	posteriormente,	com	
a	geografia	quantitativa	norte-americana,	com	duas	correntes	que	influenciaram	
o	desenvolvimento	da	geografia	no	Brasil.
Em	 1970,	 como	 protagonista,	 a	 geografia	 crítica	 ou	 radical	 se	 instala	
principalmente	com	a	difusão	de	pensamentos	materializados	por	Milton	Santos.	
Ele	representou	o	start	da	renovação	da	disciplina	no	país,	abordando	temáticas	
anteriormente	sem	esclarecimentos	geográficos.	Ainda,	foi	a	fundo	nos	processos	
de	urbanização,	 globalização,	 países	 subdesenvolvidos.	Um	pesquisador	 ativo	
desde	que	deixou	um	legado	importante	para	a	geografia.
 
O	retrato	da	geografia	cultural	de	1950	a	meados	de	1980,	no	Brasil,	era	de	
esquecimento	ou	desprezo	quanto	à	renovação.	Apesar	do	processo	ter	iniciado	
na	Europa,	não	foi	suficiente	para	conquistar	de	imediato	as	cátedras	brasileiras.	
Empecilhos	e	interesses	contra	a	efervescência	permearam	até	a	condição	política,	
pois	o	sentido	científico	oficial	eram	aqueles	baseados	na	geografia	lógica.
 
As	conquistas	da	virada	cultural	no	Brasil	são	introduzidas	segundo	práticas	
disciplinares	de	uma	geografia	que	renasce	com	a	aplicação	de	 representações	
espaciais	mentais,	com	os	“mapas	mentais”,	de	origem	interdisciplinar,	voltados	
para	 a	 psicologia,	 cartografia	 e	 geografia,	 seguindo	 os	 autores	 Jean	 Piaget,	
Bárbara	Petchenik	e	o	humanista	Yi	–	Fu	Tuan,	grandes	representantes	na	escala	
de	conhecimento.
 
A	assimilação	humanística	se	deu	a	partir	da	professora	Lívia	de	Oliveira,	
na	passagem	de	1960	para	1970.	Como	precursora	de	uma	geografia	humanística	
no	 Brasil,	 Oliveira	 apontou	 para	 a	 possibilidade	 de	 estudar	 os	 fenômenos	
imateriais	 com	 os	 de	 ordem	 material.	 Ela	 também	 trouxe,	 para	 a	 geografia,	
associações	 didáticas	 baseadas	 nas	 leituras	 afetiva	 e	 cognitiva	 piagetiana.	 Em	
parceria	 com	 Lucy	Marion	 C.	 P.	M.,	 em	 1975,	 desenvolveu	 trabalhos	 sobre	 a	
percepção	geográfica	de	adolescentes	a	partir	de	noções	topológicas	e	euclidianas	
na	construção	de	mapas	iniciais.		
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
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4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980
A	 reinterpretação	 cultural	 dirigiu	 parte	 das	 mudanças	 na	 geografia	
cultural.	Tem-se	a	impressão	de	se	tornar	mais	coerente	e	participativa	nas	leituras	
geográficas.	 Métodos	 alternativos,	 como	 traduções	 de	 materiais	 acadêmicos,	
influenciaram	positivamente,	como	o	caso	do	 livro	Topofilia	 (topo=	 lugar,	filia=	
gostar	de),	de	Yi-fu	Tuan.
O	geógrafo	tornou-se	o	precursor	de	um	pensamento	humanista	voltado	
para	as	dimensões	sensoriais	e	afetivas	na	geografia.	A	paisagem,	por	exemplo,	
torna-se	mais	do	que	a	conceituação	“até	onde	nossos	olhos	possam	ver”.	Com	a	
nova	dimensão,	é	possível	utilizar	todos	os	sentidos	humanos.
	Tuan	realizou	novas	associações	com	incursões	fenomenológicas,	criando	
uma	geografia	sob	a	compreensão	do	homem	e	suas	realidades	e,	num	sentido	
interdisciplinar,	 aproximou-se	 das	 ‘convicções’	 do	 Eric	 Dardel	 (1900-1968),	
historiador,	com	formação	semelhante	à	dos	geógrafos	na	França.
 
Claval	(2011,	p.	157)	aponta	que	L’homme et la terre	“[...]	foi	escrito	em	uma	
linguagem	magnífica,	clara,	musical”.
Claval	 (2011)	 afirma	 que,	 principalmente,	 na	 obra,	 Dardel	 propôs	
comunicar	alguns	novos	aspectos	possíveis	na	geografia	a	partir	da	apropriação	
dos	sentidos	dados	para	si	(homens)	em	relação	às	vivências	na	superfície	terrestre:
1)	Investigar	mais	intensamente	sobre	o	sentido	da	existência	humana	no	globo	
terrestre.
2)	Reconhecer	as	convicções	religiosas.
3)	Os	mitos	como	abordagem	na	geografia.
4)	Dimensões	 sobrenaturais,	 relativas	 ao	 que	 se	 torna	 indissociável	 ou	
transcendente.
O	período	 em	que	 aconteciam	as	 transformações	 ideológicas	no	Brasil,	
a	 partir	 de	 autores	 como	 Lívia	 de	 Oliveira,	 refletiu	 os	 processos	 de	 “cultural	
turn”,	 com	as	desconstruções	 conceituais	anteriormente	postas	 como	verdades	
absolutas	e	enrijecidas	pelos	métodos	científicos.
 
A	virada	cultural	chegou	para	dar	continuidade	à	crítica	dos	fundamentos	
dos	povos	ocidentais,	difundindo	técnicas	de	desconstrução	e	destacando	teses	
sobre	os	preconceitos	europeu,	oriental	e	o	desenvolvimento	após	o	colonialismo	
(CLAVAL,	2011).
Claval	(2011,	p.	11)	denomina	o	período	pré-virada	cultural	a	partir	de	um	
contexto	sem	interconexão	dentro	da	própria	ciência	geográfica:
58
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
A	disciplina	 aprecia,	 como	 um	 conjunto	 de	 disciplinas:	 a	 geografia	
econômica,	 geografia	 política,	 geografia	 social,	 geografia	 urbana,	
geografia	rural,	geografia	cultural	etc.	As	fronteiras	entre	disciplinas	
eram	fortes	e	rígidas.	As	fronteiras	entre	a	geografia,	as	outras	ciências	
sociais	 (salvo	 história)	 e	 as	 humanidades	 eram	 ainda	 mais	 altas	 e	
rígidas.
 
Quando	a	virada	cultural	surge,	tem	o	propósito	de	não	permitir	fronteiras	
no	interior	da	geografia,	nem	a	relação	dela	com	os	demais	campos	científicos.	
A	 finalidade	 é	 enxergar	 a	 cultura	 não	 apenas	 nas	 entrelinhas,	mas	 em	 níveis	
anteriormente	desconhecidos,	naqueles	que	revelam	poder,	crença	e	cotidiano,	
por	exemplo.
Não	existe	uma	fronteira	rígida	entre	a	geografia	cultural	e	a	geografia	
econômica:	 a	 oferta	 e	 a	 procura	 nunca	 são	 categorias	 econômicas	
puras.	A	oferta	vem	de	empresas,	que	têm	culturas	próprias;	a	procura	
não	 se	 exprime	 em	 categorias	 abstratas.	 No	 Brasil,	 a	 procura	 de	
alimentos	é	uma	procura	de	feijões	pretos,	de	farinha,	de	carne	de	sol,	
ou	camarões;	na	França,	é	uma	procura	de	pão,	vinho,	de	batatas,	defígado	gordo	(CLAVAL,	2011,	p.	11).			
A	virada	cultural	ocorrida	no	Brasil,	em	meados	de	1990,	descreveu	um	
movimento	 de	 dimensões	 compactas,	mas	 com	 uma	 preocupação	 evidente:	 o	
zelo	pela	solidez	das	bases	teóricas.	O	ato	de	traduzir,	para	a	língua	portuguesa,	
textos	clássicos,	materiais	teóricos	de	diversos	autores	e	em	diferentes	períodos	
de	evolução	geográfica	funcionou	como	estratégia,	livrando	a	geografia	cultural	
de	um	possível	caminho	com	superficialidade	e	efemeridade.	A	absorção	cultural	
na	geografia	não	poderia	se	tornar	um	mero	modismo	que,	a	curto	prazo,	fosse	
substituída	por	outros	ventos	de	doutrinas.
 
A	partir	de	então,	iniciou-se	o	processo	de	plantação	acerca	do	interesse	
cultural	 e,	 a	 comunidade	de	geógrafos	no	Brasil,	 aos	poucos,	 se	deu	 conta	da	
diversidade	e	das	características	ricas,	enérgicas	e	vivas	da	cultura	presente	no	
território	e	povo	brasileiro.
 
A	cultura	é	comum,	existe	em	todos	os	lugares	e	se	manifesta	rotineiramente	
no	espaço	e	tempo.	No	caso	do	Brasil,	é	possível	que	ela	tenha	dimensões	maiores,	
por	apresentar	características	distintas	entre	as	complexas	e	diferentes	regiões.
 
Ao	chegar	em	1990,	a	geografia	cultural	passa	a	romper	com	aquela	fase	
de	nulidade	e	silenciamento	do	ramo.	Um	novo	ciclo	se	inicia,	abrindo	portas	para	
um	processo	de	expansão	que	significa	muito	mais	pela	qualidade	da	pesquisa	de	
uma	geografia	brasileira.
 
Houve	uma	adesão	de	um	novo	público,	conforme	diagnosticaram	Corrêa	
e	Rosendahl	(2005).	Apontam	que	os	congressos	rendiam	números	cada	vez	mais	
expressivos,	entre	2000	a	3000	geógrafos	originários	do	Brasil,	Europa	e	América	
do	Norte.	Eram	estudantes	e	profissionais,	além	de	simpatizantes	de	áreas	afins,	
todos	interessados	em	estimular	a	importância	pela	dimensão	cultural	do	espaço.
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
59
Após	a	década,	o	bloco	de	estudos	culturais	que	surgiu	abordou	“[...]	a	
natureza	 da	 experiência	 religiosa	 e,	 particularmente,	 as	 formas	 que	 assumem	
no	espaço”,	ou	seja,	uma	nova	perspectiva	que	se	distinguiu	daquela	em	que	a	
paisagem	refletia,	materialmente,	o	impacto	da	religião	(ROSENDAHL,	2003).
A	 geografia	 cultural,	 apesar	 de	 uma	 essência	 tradicional	 firmada	 nos	
estudos	vidalianos	e,	posteriormente,	sauariana,	somou	possibilidades	com	a	nova	
versão	da	dimensão	espacial	da	cultura,	além	das	significações	democratizadas.
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA 
GEOGRAFIA CULTURAL 
Sobre	 a	 expansão	do	 estudo	da	 geografia	 cultural,	Corrêa	 e	Rosendahl	
(2005)	 afirmam	 que	 o	 esforço	 em	 estimular	 a	 área	 cultural	 no	 Brasil	 vem	 de	
várias	frentes,	a	princípio,	da	heterogeneidade	cultural	do	país,	da	vitalidade,	da	
criatividade	dos	geógrafos	brasileiros	e,	por	fim,	das	relações	entre	profissionais	
estadunidenses	e	europeus	que	incentivaram	o	estudo.
 
[...]	Surgem	periódicos	especializados,	como	o	Géographie	et	Cultures,	
na	França,	criado	por	Paul	Claval,	em	1992,	e	o	Ecumene,	na	Inglaterra	
e	 nos	 Estados	 Unidos,	 em	 1994,	 posteriormente	 redenominado	 de	
Cultural	 Geographies.	 Ambos	 se	 juntam	 ao	 Journal	 of	 Cultural	
Geography,	criado	nos	Estados	Unidos.	A	criação	posterior	do	Social	
and	Cultural	Geography	ampliou	as	possibilidades	de	publicação	de	
textos	relacionados	à	geografia	cultural	(CORRÊA,	2009,	p.	2).
O	 fim	 do	 Século	 XX	 e	 início	 do	 Século	 XXI,	 no	 Brasil,	 mostraram	 ser	
períodos	 significativos	 por	 alguns	 motivos,	 como	 a	 seguridade	 da	 virada	
cultural.	 Em	 1990,	 núcleos	 de	 pesquisa,	 a	 exemplo	 do	 Núcleo	 de	 Estudos	 e	
Pesquisas	sobre	Espaço	e	Cultura	(NEPEC),	do	Núcleo	Paranaense	de	Pesquisa	
em	Religião	 (NUPPER),	Núcleo	Estudo	em	Espaços	 e	Representações	 (NEER),	
revistas,	congressos	e	encontros,	ganharam	notoriedade	e	expressividade	com	a	
disseminação	dos	aspectos	culturais	da	geografia.
 
Nos	 dias	 atuais,	 já	 se	 sabe	 que	 houve	 mais	 disseminação	 de	 núcleos	
de	 estudos	 culturais.	 Nos	 primórdios	 de	 1993,	 o	 primeiro	 deles	 e	 de	 maior	
expressividade	nacional	foi	criado	em	novembro	daquele	ano,	e	coordenado	pela	
professora	doutora	Zeny	Rosendahl	e	Roberto	Lobato	Corrêa,	no	Departamento	
de	Geografia	da	Universidade	Estadual	do	Rio	de	Janeiro.	A	fonte	de	inspiração	
para	a	introdução	pioneira	do	“Espaço	e	Cultura”	no	Brasil	originou-se	de	uma	
unidade	semelhante	criada	por	Claval	em	Paris,	em	1980.
Certamente,	você	deve	estar	se	perguntado:	Do	que	se	trata	o	NEPEC?	
Corrêa	e	Rosendahl	(2005,	p.	99)	respondem	que	“[...]	trata-se	de	um	pequeno,	
porém,	 ativo	 centro	 de	 produção	 e	 difusão	 no	 Brasil	 da	 geografia	 cultural.	
Suas	 pesquisas	 têm	 três	 direções:	 relações	 entre	 espaço	 e	 religião,	 espaço	 e	
60
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
simbolismo	e	cultura	popular.	A	ênfase	fixou-se	na	primeira	das	três	temáticas”,	
porque	Zeny	estava	concluindo	a	 tese	de	doutorado,	 cujo	 tema	 foi	acerca	do	
centro	de	peregrinação	do	Porto	das	Caixas,	na	Baixada	Fluminense.	Os	dois	
outros	eixos	passavam	a	ser	sustentados	pelo	interesse	do	professor	geógrafo	
Roberto	Lobato	Corrêa,	meios	auxiliares	para	o	entendimento	da	ação	humana	
(ROSENDAHL,	2003).
De	 acordo	 com	 Rosendahl	 (2010),	 os	 anos	 1990	 se	 constituíram	 como	
divisores	de	águas,	marcados	por	algumas	investidas	na	produção	bibliográfica	
e	ousadas	propostas	de	estudo:	religião	como	uma	construção	cultural,	paisagem	
cultural,	espaços	públicos,	literatura	e	música,	percepção	e	significado,	cinema,	
espaço	 de	 festas	 populares,	 território,	 imaginário	 espacial,	 imagens,	 história	
e	 biografia,	 grupos	 étnicos,	 gênero	 e	 sexualidade	 e	 identidade	 territorial	
(ROSENDAHL,	 2010).	 Todas	 essas	 temáticas	 se	 fortaleceram	 ao	 decorrer	 do	
desenvolvimento	da	pesquisa	da	geografia	cultural	frente	aos	anos	2000.
 
A	 disseminação	 ocorre	 por	 várias	 frentes.	 A	 primeira	 delas	 refere-se	
ao	periódico	 espaço	 e	 cultura	 criado	desde	 1995.	Geógrafos,	 colaboradores	do	
núcleo,	 como	demais	 geógrafos	 com	 interesse	 em	 apresentar	 os	 resultados	 de	
suas	 pesquisas.	Outro	 instrumento	 lançado	 em	 1996	 foram	 as	 séries	 de	 livros	
“Geografia	e	Cultura”,	o	simpósio	internacional	sobre	espaço	e	cultura,	NEPEC	
textos	etc.
 
O	segundo	núcleo	foi	fundado	pelo	professor	Sylvio	Fausto	Gil	Filho,	em	
2003,	na	Universidade	Federal	do	Paraná.	O	NUPPER	surge	como	um	grupo	de	
investigação	científica	baseado	nas	humanidades,	incluindo	a	geografia	cultural.	
São	 analisados	 fenômenos	 religiosos	 frente	 ao	 dualismo	 da	 singularidade e 
pluralismo.
 
O	NUPPER	iniciou	com	o	objetivo	central	de	disseminar	a	tendência	de	
crescimento	sobre	as	pesquisas	referentes	à	religião,	religiosidade	e	instituições	
religiosas.	 Por	 meio	 de	 publicações	 de	 artigos	 na	 plataforma	 digital,	 e	 com	
o	 fomento	 dos	 eventos	 de	 maior	 e	 menor	 proporção,	 como	 os	 congressos,	
encontros	e	seminários,	há	facilitação	do	processo	de	conhecimento	sobre	parte	
do	 ramo	 cultural.	 Inúmeros	 pesquisadores	 e	 estudiosos	 apresentam,	 discutem	
cientificamente	temáticas	sobre	novas	metodologias,	técnicas	ou	outras	formas	de	
comunicação	envolvendo	diversos	temas.
 
O	 NEER	 foi	 gestado	 a	 partir	 do	 movimento	 da	 “virada	 cultural”,	 na	
década	de	 1990,	 sendo	 concebido	 somente	no	dia	 19	de	 outubro	de	 2004.	 Seu	
pleito	maior	 se	 caracteriza	 pela	 institucionalização	 da	 abordagem	 cultural	 da	
geografia	praticada	no	Brasil.	Para	conquistar	seus	objetivos,	o	NEER	tornou-se	
um	núcleo	 articulador,	 agregando	 conhecimento	a	partir	de	projetos	 e	grupos	
de	pesquisas	nas	“universidades	periféricas”	(Salvador,	Porto	Alegre,	Curitiba	e	
Porto	Velho),	ecoando	a	voz	daqueles	cursos	que,	por	vezes,	tiveram	uma	pequena	
representatividade,	por	não	estarem	nos	grandescentros,	como	São	Paulo	e	Rio	
de	Janeiro	(CLAVAL,	2012).
 
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
61
	 Reflexo	 de	 um	 processo	 evolutivo,	 o	 núcleo	 cresceu	 em	 números,	
dinâmica	 e	 qualidade.	 Em	 2019,	 são	 vinte	 instituições	 nacionais	 de	 ensino	
superior	que	cobrem	todas	as	regiões	do	país	e,	colaborativamente,	produzem	
conhecimento	 nas	 áreas	 de	 nova	 geografia	 cultural,	 geografia	 humanista,	
estudos	de	percepção	e	cognição	em	geografia,	geografia	das	representações	e	
ensino	de	geografia	no	Brasil.
O	 resultado	 dessas	 ações	 vem	 representar	 o	 êxito,	 a	 boa	 aceitação	 da	
abordagem	cultural	na	década	de	2000,	constituindo	outros	centros	e	pesquisadores	
responsáveis	pela	difusão	da	disciplina,	além	do	NEPEC,	NUPPER	e	NEER.		
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL
A	 produção	 acadêmica,	 na	 área	 da	 geografia	 cultural,	 iniciou-se,	
pioneiramente,	desde	os	anos	de	1972,	com	a	pesquisa	da	vanguarda	no	âmbito	
geográfico	religioso:	“Pequenos	centros	paulistas	de	função	religiosa”,	por	Maria	
Cecília	França,	apresentada	para	título	de	doutoramento	na	USP.	Com	um	tema	
inédito	 nas	 cátedras	 brasileiras,	 França	 foi	 influenciada	 pela	 perspectiva	 do	
impacto	religioso	sobre	a	paisagem	nas	cidades	de	Iguape,	Bom	Jesus	dos	Perdões	
e	Pirapora	do	Bom	Jesus.
 
Contudo,	 a	partir	de	 1990,	 seu	 crescimento	 se	deu	de	 forma	 criativa,	 e	
temas	como	paisagem	cultural,	percepção	e	significados,	religião	como	construção	
cultural,	 espaço	 geográfico	 e	 literatura,	 cinema,	 espaço	 de	 festas	 populares,	
território,	 imaginário	e	identidade	passaram	a	fazer	parte	da	diversa	produção	
acadêmica	no	e	do	Brasil	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2005).
 
Zeny	 Rosendahl	 é	 um	 dos	 grandes	 nomes	 que,	 com	 Roberto	 Lobato	
Azevedo	Corrêa,	 contribuiu	 para	 o	 desenvolvimento	 da	 produção	 cultural	 na	
geografia.
São	 gerados	 conceitos	 e	 princípios	 dentro	 do	 campo	 da	 geografia	 da	
religião.	 O	 primeiro	 é	 do	 espaço	 sagrado,	 explicado	 pela	 inter-relação	 entre	
ponto	fixo	e	entorno.	Com	outros	conceitos	geográficos,	é	lançada	a	concepção	de	
espaço	profano.	Os	demais	temas	propostos	foram:	fé,	espaço,	tempo-difusão	e	
área	de	abrangência;	os	centros	de	convergência	e	irradiação	religiosa;	território	e	
territorialidade;	e	lugar	sagrado,	vivência,	percepção	e	simbolismo.
Destaca-se	que	a	análise	do	estudo	sobre	espaço	e	religião	traz	a	concepção	
ontológica	do	filósofo	das	religiões,	historiador	e	sociólogo	Mircea	Eliade,	o	qual	
trouxe,	para	a	geografia	da	religião,	a	compreensão	e	a	distinção	conceitual	sobre	
o	sagrado	e	o	profano.
62
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
A	geografia	da	religião,	como	um	campo	da	geografia	cultural,	passa	a	ser	
interpretada	segundo	processos	dinâmicos	que	ocorrem	entre	os	grupos	sociais	
em	espaços	diversos.	Portanto,	seu	estudo	representa	inúmeras	possibilidades	de	
enxergar	as	influências	religiosas	no	espaço.
 
Na	geografia	da	religião	brasileira,	também	se	destaca	um	grande	nome,	
o	 do	 professor	 Sylvio	 Fausto	 Gil	 Filho,	 com	 diversas	 publicações.	 Em	 obras,	
são	 explicados	 conceitos	 de	 poder,	 representações	 e	 o	 sagrado.	 Na	 geografia,	
espaços	de	representações	e	da	territorialidade	do	sagrado.	À	luz	da	teoria,	foram	
colocadas	três	realidades	religiosas	diferentes:	o	estudo	do	cristianismo	católico	
romano,	do	islã	shi’i e	da	peregrinação	bahá’í, nas	cidades	de	Haifa	e	Akká.
Shi’i refere-se à frase “seguidores de Ali”. É um termo corriqueiramente escrito 
como xiita na língua portuguesa, referindo-se àquele grupo que tem, como crença, uma 
sucessão espiritual e temporal do profeta, o qual segue uma linhagem de descendentes 
mediante o genro do profeta Ali (GIL, 2012).
 A fé bahá’í refere-se à religião que teve origem em 1844, na antiga Pérsia, onde 
se localiza, atualmente, o Irã. Seu fundador foi Mírzá Husayn ‘Ali Nurí. Após sua trajetória, 
a fé bahá’í destinou-se a defender uma mensagem da unidade mundial. A destinação 
da peregrinação para Akká tem correspondência com a história da religião. O lugar é 
considerado uma Terra Santa para os devotos (GIL, 2012).
NOTA
Esses	são	os	principais	nomes	de	influência	e	pesquisa	atuantes	na	área	
da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil,	 a	 qual	 abrange	 temas	 culturais	 para	 além	 da	
religião.	Assim,	teoria	e	conhecimento	vêm	sendo	disseminados,	fomentando	o	
despertar	das	novas	possibilidades	de	compreender	o	espaço,	além	do	acréscimo	
da	 produtividade	 acadêmica	 segundo	 o	 olhar	 heterogêneo	 das	 temáticas	
encontradas	pelos	geógrafos	brasileiros.
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
63
LEITURA COMPLEMENTAR
A GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL
Roberto	Lobato	Corrêa
Zeny	Rosendahl	
Negligência e gênese da Geografia Cultural
A	geografia	brasileira	de	cunho	acadêmico	nasce	em	1934,	com	a	criação	
do	 departamento	 de	 geografia	 (e	 história)	 na	Universidade	 de	 São	 Paulo.	 Em	
1936,	aparece	na	cidade	do	Rio	de	Janeiro	o	segundo	curso,	na	atual	Universidade	
Federal	do	Rio	de	Janeiro.	Atualmente,	há	mais	de	150	cursos	de	geografia,	dos	
quais	 25	 oferecem	 cursos	 em	 nível	 de	 mestrado.	 Rapidamente,	 o	 número	 de	
cursos	oferecendo	o	nível	de	doutorado	aumenta,	ultrapassando	meia	dezena.
A	despeito	do	elevado	número	de	cursos	de	geografia,	a	grande	maioria	
dedicados	 quase	 que,	 exclusivamente,	 à	 formação	 de	 professores	 do	 ensino	
secundário,	 e	 a	 despeito	 da	 heterogeneidade	 cultural	 do	 Brasil,	 a	 geografia	
cultural	foi,	até	ao	fim	da	década	de	1980,	negligenciada,	mesmo	desconhecida	
pelos	geógrafos	brasileiros.	Aspectos	da	cultura,	no	entanto,	eram	tratados	nos	
estudos	regionais,	mas	não	eram	priorizados,	nem	se	tinha	a	consciência	de	que	a	
cultura,	em	suas	múltiplas	manifestações,	poderia	ser	tema	central	nas	pesquisas.
A	 escola	 francesa	 de	 geografia,	 a	mais	 importante	matriz	 da	 geografia	
brasileira,	priorizava	os	estudos	regionais	e	a	cultura	se	constituía	em	mais	um	
elemento	 da	 complexa	 combinação	 de	 elementos	 que	 forneciam	 a	 identidade	
regional.	A	geografia	saueriana,	a	despeito	dos	esforços	do	geógrafo	brasileiro	
Hilgard	Sternberg,	professor	no	Rio	de	Janeiro	até	meados	da	década	de	1960,	
depois	transferindo-se	para	Berkeley,	não	repercutiu	no	país.	Durante	as	décadas	
de	1970	e	1980,	a	geografia	brasileira	dividia-se	em	três	linhas,	de	acordo	com	a	
tradição	francesa,	segundo	a	visão	teorético-quantitativa	e	de	acordo,	após	1980,	
com	a	perspectiva	crítica,	calcada	no	materialismo	histórico	e	dialético.
A	 heterogeneidade	 cultural	 do	 Brasil,	 assim	 como	 o	 seu	dinamismo,	 a	
escala	 dos	 praticantes	 da	 geografia	 (os	 congressos	 de	 geografia	 reúnem	 entre	
2,000	e	3,000	pessoas)	e	as	inúmeras	redes	estabelecidas	com	geógrafos	europeus	
e	 norte-americanos	 contribuíram	 para	 que	 fosse	 despertado	 o	 interesse	 pela	
dimensão	 cultural	do	espaço.	Afinal,	parafraseando	Denis	Cosgrove,	 a	 cultura	
está	em	toda	parte,	manifestando-se	no	espaço	e	no	tempo,	especialmente	se	o	
espaço	for	amplo,	diversificado	e	mutável,	como	é	o	Brasil.
A	geografia	cultural	está	implantada	no	Brasil.	Como	tal,	entende-se	aquelas	
geografias	 de	 matriz	 saueriana,	 influenciada	 pela	 denominada	 nova	 geografia	
cultural	 e	 pelo	 approche culturel	 de	 Claval.	A	 sua	 implantação	 gerou	 polêmicas	
64
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
pois,	afinal,	o	que	é	visto	como	novo	pode	desafiar	o	establishment	geográfico.	No	
entanto,	os	adeptos	da	geografia	cultural	brasileira	são,	por	definição,	adeptos	de	
uma	heterotopia	geográfica,	sem	a	ascendência	de	nenhum	grupo.
A expansão da Geografia Cultural: o NEPECEm	1993,	foi	criado,	no	Departamento	de	Geografia	da	UERJ	(Universidade	
do	Estado	do	Rio	de	 Janeiro),	o	NEPEC	(Núcleo	de	Estudos	e	Pesquisas	sobre	
Espaço	 e	 Cultura).	 Criado	 e	 coordenado	 por	 Zeny	 Rosendahl,	 trata-se	 de	 um	
pequeno,	 porém	 ativo	 centro	 de	 produção	 e	 difusão	 no	 Brasil	 da	 geografia	
cultural.	Suas	pesquisas	direcionar-se-iam	em	três	direções:	relações	entre	espaço	
e	religião,	espaço	e	simbolismo	e	cultura	popular.	A	ênfase,	contudo,	fixou-se	na	
primeira	das	três	temáticas.
Em	1995,	foi	lançado,	pelo	NEPEC,	o	periódico	Espaço	e	Cultura,	com	dois	
números	por	ano.	Em	seu	Conselho	Consultivo	fazem	parte,	entre	outros,	Marvin	
Mikesell,	 Denis	 Cosgrove,	 Paul	 Claval,	 representantes,	 respectivamente,	 da	
perspectiva	saueriana,	da	denominada	nova	geografia	cultural	e	da	visão	francesa	
em	geografia	cultural.	O	teólogo	Leonardo	Boff	(Teologia	da	Libertação)	também	
é	membro	do	Conselho.	No	fim	de	2003,	quinze	números	foram	publicados.
Em	1996,	aparece	a	série	de	livros	intitulada	Geografia	Cultural,	que	tem	
uma	difusão	mais	ampla	do	que	o	periódico.	Trabalhos	completos	de	um	geógrafo	
brasileiro	e	coletâneas	de	importantes	textos	publicados	originalmente	em	outra	
língua	são	publicados	na	coleção	que	já	possui	dez	livros	publicados.
Três	 simpósios	 de	 âmbito	 nacional	 foram	 realizados,	 em	 1998,	 2000	
e	 2002,	 cada	um	 16-20	 “papers”	 e	 participação	de	 120-200	 pessoas,	 estudantes,	
pesquisadores	e	professores	universitários.
Em	2003,	dez	anos	de	existência,	o	NEPEC	lança	outra	publicação,	NEPEC	
TEXTOS,	 de	 produção	 artesanal	 e	 destinada	 à	 divulgação	 de	 suas	 próprias	
pesquisas,	 as	 quais	 estão	 fortemente	 focalizadas	 nas	 relações	 entre	 espaço	 e	
religião.
Contudo,	é	preciso	ressaltar	e	existência	de	outros	focos	autônomos,	nos	
quais	a	geografia	cultural	constitui-se	em	prática	por	parte	de	alguns	geógrafos.	
São	universidades	públicas	que	têm	um	programa	de	pós-graduação	em	geografia,	
entre	elas	as	de	Goiânia,	Fortaleza,	Uberlândia	e	outras	universidades	na	cidade	
do	Rio	de	Janeiro.	A	produção	desses	focos	é	significativa	e	serão	comentados,	
mais	adiante,	os	livros	de	Almeida	e	Ratts,	Haesbaert	e	Monteiro.
A	 expansão	 da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil	 fez	 com	 que,	 em	 2003,	
a	 International	 Geographical	 Union	 (IGU)	 organizasse,	 por	 intermédio	 do	
Working Group of Cultural Approach in Geography,	presidido	por	Paul	Claval,	uma	
Conferência	Regional	sobre	a	Dimensão	Histórica	da	Cultura.	Realizada	na	cidade	
do	Rio	de	Janeiro,	reuniu	cerca	de	100	“papers”,	60	de	brasileiros.
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
65
As traduções como estratégia de difusão
Os	 organizadores	 do	 periódico	 Espaço	 e	 Cultura	 e	 da	 série	 de	 livros	
intitulada	Geografia	Cultural	têm	tido,	como	uma	de	suas	preocupações,	contribuir	
para	estabelecer	uma	sólida	base	teórica	na	geografia	cultural	brasileira.	O	cultural 
turn	 que,	no	Brasil,	 ocorreu,	 ainda	que	de	modo	 restrito,	 a	partir	do	 início	da	
década	de	1990,	poderia	correr	o	risco	de	uma	apropriação	superficial	e	efêmera,	
transformando-se	em	moda	a	ser	substituída	em	breve	por	outra.	A	apropriação	
superficial	e	efêmera	 já	ocorrera	na	geografia	brasileira,	primeiramente,	 com	a	
denominada	geografia	 teorético-quantitativa,	por	volta	de	1970	e,	 em	segundo	
lugar,	 com	 a	 geografia	 radical,	 de	matriz	marxista,	 por	 volta	 de	 1980.	 Com	 a	
geografia	humanista,	a	difusão	e	adoção	foram	mais	efêmeras	e	limitadas	ainda,	
e	os	seus	poucos	adeptos	foram	incorporados	à	geografia	cultural	na	década	de	
1990.	A	tradução,	para	a	língua	portuguesa,	de	textos	clássicos,	que	representam	
posições	teóricas	nitidamente	identificáveis,	e	de	debates	no	âmbito	da	geografia	
cultural,	foi	uma	solução	encontrada.	Solução	condizente	com	as	necessidades	e	
vicissitudes	da	geografia	brasileira.
Dos	textos	traduzidos	e	publicados,	citam-se	os	de	Carl	Sauer	(1998,	2000a,	
2000b),	 incluindo	 o	 clássico	The Morphology of Landscape,	 de	 1925.	A	 geografia	
cultural	 da	 Escola	 de	 Berkeley	 está	 ainda	 representada	 com	 a	 introdução	 de	
Readings in Cultural Geography,	 de	 Wagner	 e	 Mikesell	 (2000).	 A	 denominada	
nova	 geografia	 cultural,	 por	 sua	 vez,	 está	 presente	 com	 textos	 referentes	 às	
críticas	à	Escola	de	Berkeley,	como	Duncan	(2002)	e	Cosgrove	(1997).	Cosgrove	
e	Jackson	(2000),	Cosgrove	(1998,	2000)	e	Duncan	(2000)	apresentam	os	aspectos	
fundamentais	da	geografia	 cultural	 renovada.	Meinig	 (2002)	 foi	 incorporado	à	
língua	portuguesa	pelo	seu	texto	sobre	as	dez	versões	de	uma	mesma	paisagem.
A	contribuição	a	uma	perspectiva	marxista	da	geografia	cultural	levou	à	
tradução	do	texto	de	Williams	(2002)	sobre	base	e	superestrutura,	assim	como	ao	
polêmico	artigo	de	Mitchell	(1999),	seguido	das	réplicas	de	Cosgrove,	Duncans	e	
Jackson	e	da	tréplica	do	próprio	Mitchell.
 
A	 geografia	 francesa,	 de	 forte	 influência	 na	 geografia	 brasileira,	 teve	
traduzidos,	entre	outros,	textos	de	Sorre	(2002),	sobre	os	“genres	de	vie”,	Gallais	
(2002),	a	respeito	do	“espace	vécu”	nos	países	tropicais,	de	Bonnemaison	(2002),	
sobre	o	conceito	de	território,	assim	como	pequenos	textos	extraídos	do	debate,	
publicado	em	1981,	na	revista	L’Espace	Géographique.	Paul	Claval,	fundador	do	
periódico	Géographie	et	Cultures,	tem	exercido	forte	e	fértil	influência	na	geografia	
cultural	brasileira.	Além	de	seu	Géographie Culturelle,	traduzido	e	publicado	pela	
EDUSC	(CLAVAL,	1999b),	há,	em	língua	portuguesa,	uma	avaliação	da	geografia	
cultural	 brasileira	 (CLAVAL,	 1999a)	 e	 dois	 outros	 textos	 sobre	 a	 natureza	 da	
geografia	cultural	(CLAVAL,	2002)	e	sobre	a	contribuição	da	geografia	francesa	à	
geografia	cultural	(CLAVAL,	2003).
Os	textos	indicados	estão,	sobretudo,	na	série	de	livros	Geografia	Cultural	
(CORRÊA;	ROSENDAHL,	1998,	2000a,	2000b,	2002	e	2003).	
66
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
A produção brasileira: uma seleção
Parcialmente	 influenciada	 pelas	 traduções,	 mas	 dotada	 de	 forte	
criatividade,	a	produção	brasileira,	em	geografia	cultural,	tem	crescido	muito	a	
partir	da	década	de	1990.	Paisagem	cultural,	percepção	e	 significados,	 religião	
como	uma	construção	cultural,	espaço	geográfico	e	literatura,	cinema	e	espaço	de	
festas	populares,	tanto	o	carnaval	do	Rio	de	Janeiro	como	festas	de	origem	rural,	
território,	imaginário	e	identidade	são	alguns	dos	temas	abordados	e	publicados	
(ROSENDAHL;	CORRÊA,	1999,	2001a,	2001b,	2001c).
Pela	 importância	 que	 apresentam,	 foram	 destacados	 os	 textos	 sobre	
religião	e	espaço	de	Rosendahl	(1996,	1997,	1999),	de	Haesbaert	(1997),	Monteiro	
(2002)	e	Almeida	e	Ratts	(2003).
Espaço	e	religião	têm,	em	Rosendahl,	grande	ênfase.	A	partir	das	ideias	
de	 Mircea	 Eliade,	 o	 sagrado	 e	 o	 profano	 têm	 sido	 vistos	 numa	 perspectiva	
geográfica.	A	autora	propõe,	inicialmente	(ROSENDAHL,	1996),	os	temas	(a)	fé,	
espaço	e	tempo:	difusão	e	área	de	abrangência;	(b)	os	centros	da	convergência	e	
irradiação;	(c)	religião,	território	e	territorialidade;	e	(d)	espaço	e	lugar	sagrado:	
percepção,	vivência	e	simbolismo.	Esses	temas	foram,	posteriormente,	ampliados	
e	 agrupados	 em	 três	 dimensões	 de	 análise,	 econômica,	 política	 e	 do	 lugar	
(ROSENDAHL,	2003).	As	hierópolis	têm	sido	também	um	foco	de	interesse	da	
autora	(ROSENDAHL,	1999),	que	analisou	centros	de	peregrinação	na	periferia	
da	metrópole	 do	 Rio	 de	 Janeiro,	 no	Nordeste	 e	 na	 região	 Centro-Oeste.	 Seus	
interesses	estendem-se	a	centros	religiosos	latino-americanos	e	europeus.
A	contribuição	de	Haesbaert	(1997)	situa-se	nas	confluências	da	geografia	
cultural	e	geografia	regional.	Ao	Oeste	do	Estado	da	Bahia,	analisa	e	interpreta	as	
profundas	transformações	regionais	envolvendo	mudanças	econômicas,	sociais,	
políticas	 e	 culturais,	 coma	 substituição	 da	 cultura	 tradicional	 do	 Nordeste,	
associada	à	pecuária	extensiva,	por	uma	cultura	moderna,	de	imigrantes	oriundos	
do	Sul	do	Brasil	e	associada	à	agricultura	especulativa	da	soja.	A	paisagem	cultural	
é	transformada	radicalmente.
 
Espaço	geográfico	e	 literatura	constitui-se	em	tema	que,	nos	últimos	30	
anos,	 tem	atraído	o	 crescente	 interesse	dos	geógrafos.	Douglas	Pocock	e	Marc	
Brossseau,	por	exemplo,	têm	grandes	contribuições	a	respeito.	No	Brasil,	onde	o	
interesse	pela	temática	tem	as	origens	no	começo	dos	anos	90,	destaca-se	o	livro	
de	Monteiro	(2002),	O mapa e a trama.	Geógrafo	oriundo	da	climatologia,	área	na	
qual	tornou-se	um	expoente,	interessou-se,	recentemente,	pela	geografia	cultural,	
particularmente,	pelas	relações	entre	espaço	e	literatura.
Em	 seu	 livro,	 romances	 de	 seis	 consagrados	 autores	 brasileiros	 são	
geograficamente	interpretados.	Três	–	Machado	de	Assis,	Aluísio	Azevedo	e	Lima	
Barreto	–	retratam,	cada	um	a	seu	modo,	a	cidade	do	Rio	de	Janeiro	do	Século	
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
67
XIX,	quando	a	cidade	passa	por	grandes	transformações	socioespaciais.	Os	três	
outros	autores	–	Graça	Aranha,	Graciliano	Ramos	e	Guimarães	Rosa	–,	do	Século	
XX,	retratam	o	mundo	rural,	a	colonização	alemã	no	estado	do	Espírito	Santo,	
o	drama	da	seca	no	Sertão	do	Nordeste	e	a	vida	na	região	do	cerrado	em	Minas	
Gerais.
 O mapa e a trama	representa	um	esforço	ampliado	e	sistemático	de	fortalecer	
a	 geografia	 cultural	 por	meio	 da	 interpretação	 geográfica	 de	 textos	 literários.	
Artigos,	 dissertações	 de	mestrado	 e	 teses	 de	 doutorado	 também	 contribuíram	
para	 o	 avanço	da	geografia	 cultural,	mas	 ainda	há	muito	 a	 ser	 feito.	Afinal,	 a	
heterogeneidade	cultural	do	Brasil	suscitou,	de	um	lado,	uma	rica	literatura	de	
cunho	urbano	e	regional	e,	de	outro,	uma	rica	produção	geográfica.	O	diálogo	
entre	ambos,	como	sugere	Brosseau	(1996),	está	apenas	iniciado	no	Brasil.
 
Geografia	e	Leitura	Culturais,	coletânea	organizada	por	Almeida	e	Ratts	
(2003),	 constitui-se	em	outra	significativa	expressão	da	produção	brasileira	em	
geografia	cultural.	Reúne	doze	textos	de	geógrafos,	dos	quais	dez	são	brasileiros.	
O	conjunto	de	 textos	revela	uma	visão	ampla	do	que	se	entende	por	cultura	e	
geografia	cultural.	A	influência	francesa,	cuja	matriz	reside	na	Escola	Vidaliana	
e	 é	mantida	 graças	 à	 forte	 e	 fértil	 influência	 de	 Paul	 Claval,	 está	 presente	 na	
maior	parte	dos	textos.	A	influência	da	Escola	de	Berkeley	e	da	denominada	nova	
geografia	cultural	é	praticamente	nula,	refletindo,	sem	dúvida,	a	matriz	francesa	
na	 formação	 dos	 geógrafos	 brasileiros,	 iniciada	 com	 a	 criação	 do	 primeiro	
departamento	de	geografia	(e	história)	em	1934,	na	Universidade	de	São	Paulo.	
Os	textos	incluem	uma	variedade	de	temas,	paisagem	cultural,	percepção	
e	 imaginário,	 os	 territórios	 indígena	 e	 de	 ex-escravos	 (quilombos),	 sistema	de	
cidades,	 cemitérios,	 festa	 popular	 e	 cartografia	 cultural.	Agricultores,	 ciganos,	
índios	e	citadinos	de	diferentes	classes	sociais	são	os	atores	sociais	que	os	textos	
abordam.	O	presente,	por	sua	vez,	entendido	como	uma	seção	atual	do	tempo,	
dotado	de	longa	espessura,	é	privilegiado	nos	textos	da	coletânea	organizada	por	
Almeida	e	Ratts.	A	região	Nordeste,	em	cujas	universidades	leciona	grande	parte	
dos	autores,	é	o	foco	principal	de	interesse.	Regiões	como	a	Amazônica	e	o	Sul	
estão	ausentes	da	coletânea.
 
Apesar	 de	 muitos	 dos	 doze	 artigos	 não	 revelarem	 uma	 explícita	 base	
teórica,	caracterizando-se	como	descrições	ou	interpretações	superficiais,	trata-se	
de	um	grande	esforço	que	representa	um	grande	passo	no	processo	de	construção	
de	uma	sólida	e	rica	geografia	cultural	brasileira.
	Os	geógrafos	brasileiros	 iniciaram	apreciação	da	obra	de	expoentes	da	
geografia	cultural	e	humanista.	Sauer,	Schluter,	Tuan,	Dardel	e	Berque	já	foram	
apreciados	(ROSENDAHL;	CORRÊA,	2001a).
68
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
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CHAMADA
Perspectivas para a pesquisa
Com	uma	superfície	de	8,5	milhões	de	km2 e	uma	população	superior	a	170	
milhões	de	habitantes,	a	geografia	cultural	tem	muito	mais	a	fazer.	Especialmente	
porque	 rápidos	 e	 intensos	 processos	 de	 transformações	 econômica,	 social	 e	
cultural	alteram	a	distribuição	espacial	da	população,	valores,	hábitos	e	crenças,	a	
paisagem	cultural	e	os	significados	atribuídos	à	natureza	e	às	formas	socialmente	
produzidas.	Ainda,	há	áreas	para	povoamento.	País	industrializado	e	urbanizado,	
com	 moderna	 atividade	 agropecuária	 e	 áreas	 de	 fronteira	 de	 povoamento,	 o	
Brasil	oferece	contrastes	que	incluem	desde	a	região	metropolitana	de	São	Paulo,	
com	18	milhões	de	habitantes,	até	selvagens	vales	da	bacia	amazônica,	áreas	de	
colonização	 alemã	 e	 áreas	 de	 decadentes	 plantações	 canavieiras.	Ainda,	 áreas	
com	fortes	conflitos	pela	terra.
As	 perspectivas	 para	 a	 pesquisa	 em	 geografia	 cultural	 são	 imensas.	
Admite-se	que	pesquisas	empíricas	em	um	contexto	policultural	como	o	Brasil	
podem	alimentar	novos	conceitos	e	ampliar	a	base	teórica	da	geografia	cultural.	
Hipotetiza-se,	a	partir	da	produção	brasileira	em	geografia	cultural,	que	conceitos	
como	 regiões	 culturais	 emergentes,	 regiões	 culturais	 residuais,	 paisagem	
poligenética	 e	 simulacros	 espaços-temporais	 (disneyfi	 cation)	 possam	 ser	
enriquecidos	a	partir	do	Brasil,	país	de	contrastes	culturais	e	de	forte	dinamismo	
espacial.
FONTE: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. A geografia cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro, 2005.
69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Por	 traz	 dos	 resultados	 de	 uma	 geografia	 cultural	 sólida	 no	 Brasil,	 houve	
um	processo	 de	 formação	 da	 subdisciplina	 que	 iniciou	 academicamente	 no	
decorrer	da	década	de	1930,	com	a	criação	de	órgãos	e	cursos	de	geografia.	A	
influência	francesa	predominou	com	perspectivas	regionais	de	Deffontaines	e	
demais	geógrafos.	Quanto	à	introdução	cultural	na	geografia,	esta	restringiu-
se	 a	 aparições	 sutis	 como	 partes	 dos	 estudos	 regionais,	 evidenciadas	 pelas	
construções	de	templos	de	igrejas	e	manifestações	culturais	visíveis.
•	 A	geografia	cultural	passou	por	algumas	fases	em	âmbito	global	e	no	Brasil.	
Uma	 reflete	 a	 negligência	 pelo	 interesse	 da	 dimensão	 cultural	 encontrado	
no	espaço,	principalmente	pelos	modos	vidaliano,	o	 teorético	quantitativo	e	
o	 materialismo	 histórico	 e	 dialético.	 Todos	 apontavam	 secundariamente	 os	
aspectos	culturais,	 embora	o	período	de	1980	 fosse	 favorável	em	virtude	da	
alta	 renovação	cultural	ocorrida	na	Europa.	No	Brasil,	 ainda	havia	 retração,	
não	sendo	aceitas,	de	imediato,	as	perspectivas	da	virada	cultural.
•	 A	 virada	 cultural	 tornou-se	 efetiva	 no	 Brasil	 em	 1990,	 período	 em	 que	 se	
desenvolveu	 uma	 efetiva	 preocupação	 pela	 dimensão	 cultural	 do	 espaço.	
Houvre	busca	de	conhecimento	evidenciada	por	traduções	de	textos	clássicos	
para	 língua	portuguesa,	além	do	cuidado	com	as	bases	 teóricas	escritas	por	
autores	diversos	e	com	diferentes	linhas	de	pensamentos.
 
•	 Quando	tratamos	das	pesquisas	de	ordem	cultural	na	geografia,	ao	invés	de	
excluir,	 trata-se	 de	 agregar,	 além	de	 repensar	 conceitos,	modelos	 teóricos	 e	
crenças.	Torna-se	um	ato	de	 reflexão	o	 estudo	da	espacialização	da	 cultura.	
A	exemplo	da	paisagem,	ela	torna-se	além	de	um	reflexo	social	do	passado/
presente,	 são	 adicionados	 o	 sentimento,	 a	 emoção	 entre	 o	 observador	 e	 a	
paisagem.
•	 No	Brasil,	os	estudos	de	geografia	cultural	tomaram	forma	com	a	criaçãode	
núcleos	de	pesquisas,	a	exemplo	do	NEPEC,	NEER	e	NUPPER.	Eles	tiveram	
um	papel	 fundamental,	 incentivaram	a	 comunidade	de	 geógrafos	 por	meio	
da	diversidade	e	com	características	ricas	e	enérgicas	da	cultura	presente	no	
território	e	povo.
70
1	 Analisamos	que,	desde	a	formação	da	geografia	acadêmica	na	década	de	
1930,	até	meados	de	1980,	a	geografia	cultural	foi	negligenciada	por	vários	
motivos.	Assim,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	A	geografia,	no	Brasil,	por	ter	influência	francesa,	atribuiu	os	aspectos	
culturais	 aos	 estudos	 regionais.	A	 associação	 aprisionou	 e	 limitou	 a	
consciência	de	cultura	e	sua	manifestação	no	espaço.
b)	(			)	A	 escola	 francesa	de	geografia	 constituiu	uma	matriz	 importante	na	
geografia	brasileira.	Ela	se	caracterizou	pela	priorização	da	cultura	nos	
estudos	regionais.	
c)	 (			)	A	geografia	cultural	brasileira,	assegurada	pelas	 influências	suariana	
e	 vidaliana,	motivou	 a	 prática	 reprimida	 dos	 estudos	 de	 cultura	 na	
geografia.
d)	(			)	Os	geógrafos	brasileiros	defendiam	a	perspectiva	da	geografia	cultural	
como	subdisciplina	da	geografia.				
2	 O	 Brasil	 possui	 uma	 extensão	 territorial	 acima	 dos	 8,5	 milhões	 de	
quilômetros	quadrados,	número	que	o	eleva	à	categoria	de	quinto	maior	país	
em	dimensões	territoriais	da	terra.	Além	disso,	a	estimativa	populacional,	
para	2019,	segundo	o	IBGE,	ultrapassa	a	casa	dos	210	milhões	de	habitantes	
entre	 estados	 e	 municípios.	 Assim,	 compreendemos	 a	 combinação	 de	
fatores	dimensionados	em	números,	como	aqueles	de	origem	qualitativa,	
que	produzem	efeitos	dinâmicos	na	sociedade,	que	podem	ser	observados	
pela	 espacialização	da	 cultura	na	geografia	 cultural.	Corrêa	 e	Rosendahl	
(2005,	p.	101)	afirmaram	que	a	geografia	cultural	tem	uma	missão	ampla,	
direcionada	pela	força	dinâmica	das	“transformações	econômicas,	sociais	
e	 culturais.	 Estas	 alteram	 a	 distribuição	 espacial	 da	 população,	 valores,	
hábitos	 e	 crenças,	 a	 paisagem	 cultural	 e	 os	 significados	 atribuídos	 à	
natureza	e	às	formas	socialmente	produzidas”.	A	partir	das	informações,	
o	que	querem	dizer	Correia	e	Rosendahl	 (2005)	 sobre	as	perspectivas	de	
estudo	no	âmbito	da	geografia	cultural?
FONTE: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. A geografia cultural no Brasil. Rio de Janeiro: 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005. p. 97-102. 
a)	(			)	O	estudo	da	geografia	cultural	encontra-se	saturado,	pois	seu	campo	
de	atuação	já	compreendeu	todo	universo	policultural	do	Brasil.
b)	(			)	A	geografia	cultural	possui	um	perfil	de	pesquisa	dinâmico.	Assuntos	
de	 interesse	 são	 paisagem	 cultural,	 espaço	 geográfico	 e	 literatura,	
religião,	território,	identidade,	exceto	festas	populares.
c)	 (			)	As	perspectivas	para	a	pesquisa	no	âmbito	da	geografia	cultural	 são	
inúmeras,	visto	o	amplo	campo	de	pesquisa,	além	de	o	Brasil	possuir	
fortes	contrastes	culturais	e	intensa	dinâmica	espacial.	
d)	(			)	Nenhuma	das	alternativas	está	correta.	
AUTOATIVIDADE
71
3	 O	período	da	construção	da	geografia	cultural	no	Brasil	foi	marcado	por	uma	
escala	temporal	e,	a	partir	de	1990,	a	dimensão	espacial	da	cultura	passou	
por	um	processo	de	 expansão,	 ou	 seja,	 de	um	 relativo	desconhecimento	
do	subcampo	ao	conhecimento	e	aceitação.	De	acordo	com	a	afirmativa,	é	
correto	afirmar	que:
a)	 (			)	Ao	chegar	na	década	de	1990,	a	geografia	cultural,	apesar	de	ter	crescido	
em	pesquisa	e	prática,	aos	poucos,	a	subcampo,	sofreu	um	processo	de	
estagnação.	
b)	(			)	A	década	de	1990	corresponde	a	um	processo	de	renovação	e	efetivação	
da	geografia	 cultural	 brasileira.	A	preocupação	 estava	 em	 receber	 as	
influências	 da	 virada	 cultural	 e	 aderir	 a	 análises	 fenomenológicas,	
vislumbrando	as	dimensões	afetivas	e	sensoriais.			
c)	 (			)	A	década	de	1990	representou	um	divisor	de	águas	para	a	geografia	
cultural.	Com	a	virada	cultural	aceita,	novos	materiais	foram	traduzidos	
para	 língua	 portuguesa,	 alguns	 núcleos	 de	 pesquisa	 cultural	 foram	
abertos,	periódicos	criados,	eventos	da	área	disseminados	e	estratégias	
vieram	a	favorecer	a	expansão	da	geografia	cultural.	
d)	(			)	Todas	as	alternativas	estão	corretas.
72
73
UNIDADE 2 — 
ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO 
FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA 
A CONTEMPORANEIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	 o	 conhecimento	 geográfico	 como	 meio	 introdutório	 à	
elevação	 sistematizada	 da	 geografia,	 percebendo	 as	 influências	 de	
elementos	 culturais	 no	 seu	 desenvolvimento,	 e,	 como	meio	 extensivo,	
entender	os	rumos	tomados	pela	geografia	cultural	em	meio	às	escolas	e	
matrizes	epistemológicas	do	pensamento	geográfico;	
•	 conhecer	algumas	das	contribuições	propostas	pelo	francês	Paul	Claval,	
que	geraram	o	desenvolvimento	da	geografia	cultural	de	maneira	ampla	
e	democrática;
•	 discutir	algumas	reflexões	a	respeito	da	concepção	das	formas	simbólicas	
espaciais,	 desde	 a	 conceituação	 aos	 exemplos	 de	 dispersões	 ou	
materialização	na	superfície	terrestre	e	paisagens;
•	 relacionar	os	aspectos	conceituais	da	paisagem,	 identidade,	 território	e	
territorialidade,			como	fenômenos	de	ordem	da	geografia	cultural;
•	 compreender	 os	 estudos	 da	 geografia	 cultural	 segundo	 as	 dimensões:	
música,	 literatura	 e	 imagem,	 como	 representantes	 da	 categoria	 das	
expressões	culturais;
•	 apresentar	algumas	possibilidades	de	 introduzir	 reflexões	da	geografia	
cultural	 na	matéria	 escolar	 da	 geografia,	 como	 a	 extensão	de	 assuntos	
vistos	no	âmbito	universitário	para	o	entendimento	e	discussões	em	sala	
de	aula,	à	luz	da	Base	Nacional	Comum	Curricular.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	 unidade	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	APROFUNDAMENTO	DAS	PERSPECTIVAS	E	APLICAÇÕES	
DO	CONHECIMENTO	GEOGRÁFICO	FRENTE	À	
INTERPRETAÇÃO	DA	GEOGRAFIA	CULTURAL
TÓPICO	2	–	APOIOS,	DINAMISMO	E	RESISTÊNCIA	DA	COMPOSIÇÃO	
DA	GEOGRAFIA	CULTURAL
TÓPICO	3	–	POSSIBILIDADES	DE	ESTUDO	A	PARTIR	DA	
COMPREENSÃO	DAS	DIMENSÕES	CULTURAIS	DO	
ESPAÇO
74
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
75
UNIDADE 2
TÓPICO 1 — 
APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS 
E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO 
GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	 seja	 bem-vindo	 à	 Unidade	 2.	 A	 partir	 deste	 momento,	
convidamos	você	a	aprofundarem	os	seus	conhecimentos	a	respeito	da	disciplina	
da	 geografia,	 a	Geografia	Cultural.	A	proposta	 permite	 que	 cada	um	 entenda	
que	a	cronologia	dos	fatos	representados	pela	dimensão	tempo	–	espaço	não	se	
passou	 rapidamente,	 como	vem	 sendo	 contada	 em	parágrafos	 curtos,	mas	 ela	
cruza	séculos	até	o	presente	momento.	A	geografia	absorveu,	verdadeiramente,	
cada	transformação	social,	cultural,	econômica,	natural,	compreensões	objetivas,	
subjetivas,	 materiais	 e	 imateriais,	 até	 se	 elevar	 à	 categoria	 de	 ciência,	 mesmo	
quando	se	tornou	um	conhecimento	sistematizado.	A	inquietação	por	métodos	
e	novas	possibilidades	de	pesquisa	fez	ela	se	arriscar	e	meandrar	por	discussões	
diversas	e	heterotópicas.
Neste	tópico,	serão	desenvolvidos,	além	da	introdução	às	temáticas,	três	
assuntos	 complementares:	geografia:	o	 conhecimento	que	está	em	 toda	parte?;	
notas:	 do	 nascimento	 da	 geografia	 escolar	 a	 uma	 geografia	 universitária;	 os	
primeiros	estudos	contemporâneos	da	geografia	cultural:	uma	breve	compreensão.	
Ao	 fim	das	 leituras,	 serão	 introduzidos,	 de	maneira	 complementar,	 o	 resumo	
referente	ao	tópico	e	as	autoatividades.
A	temática	“geografia:	o	conhecimento	que	está	em	toda	parte?”	buscou,	
através	 de	 um	 diálogo,	 compreender,	 em	 períodos	 anteriores,	 a	 formação	 da	
sistematização	da	ciência	geográfica	e	sua	relação	e	alinhamentocom	assuntos	
encontrados	 nos	 estudos	 da	 geografia	 cultural.	Alguns	materiais	 dispensam	 a	
história	dos	desenvolvimentos	humano	e	espacial,	por	entenderem	que	assuntos	
que	vieram	antes	da	ciência	não	fazem	parte	dela,	porém,	enquanto	geógrafos	da	
ordem	cultural,	a	abordagem	de	outrora	possui	significado	e	contribuições	para	
a	compreensão	dos	processos.
 
As	 “notas:	 do	 nascimento	 da	 geografia	 escolar	 a	 uma	 geografia	
universitária”	 propõem	 ser	 a	 continuidade,	 prolongando	 as	 discussões	 acerca	
do	processo	da	escolarização	e	a	introdução	da	disciplina	da	geografia	em	anos	
iniciais	de	escolas	europeias,	até	chegarmos	à	evolução	discursiva	da	geografia	
enquanto	conhecimento	sistematizado.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
76
Por	fim,	abordaremos	as	discussões	dos	rumos	que	a	geografia	cultural	
tomou,	 segundo	 as	 escolas	 estadunidense,	 inglesa	 e	 francesa,	 e	 matrizes	
epistemológicas	 de	 pesquisas	 disseminadas,	 a	 exemplo	 dos	 materialismos	
histórico	 e	 dialético,	 fenomenologia	 e	 a	 hermenêutica.	 Nomes	 como	 Denis	
Cosgrove,	Petter	Jakcson,	Yi	–	Fu	Tuan,	Armand	Frémont,	Augustin	Berque,	Pierre	
Raison,	Joël	Bonnemaison,	Robert	Pitte,	Debarbieux	e	Michel	Lussault	nortearam	
a	discussão	contemporânea	da	geografia	cultural.
Caro acadêmico, a palavra heterotopia (aglutinação de hetero = outro + topia = 
espaço) é um conceito da geografia humana, elaborado pelo filósofo Michel Foucault, que 
descreve lugares e espaços que funcionam em condições não hegemônicas. Foucault usa 
o termo heterotopia para descrever espaços que têm múltiplas camadas de significação ou 
de relações a outros lugares, cuja complexidade não pode ser vista imediatamente.
FONTE: FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8. 
ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
NOTA
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA 
PARTE?
Acadêmico,	se	voltarmos	ao	entendimento	do	caminho	que	a	geografia	
fez	enquanto	ciência,	vamos	nos	deparar	com	uma	longa,	antiga	e	ativa	trajetória	
que	se	fez	e	refez,	tornando,	sempre	possível,	optar	entre	as	clássicas	ou	atuais	
linhas	de	pesquisa.	As	novidades	ou	novas	respostas	às	discussões	antigas	são	
intrínsecas,	 pois	 a	 sua	dinâmica	propicia	novas	 interpretações	 aos	 fenômenos,	
mesmo	àqueles	de	outrora	existentes.	As	 relações	 socioespaciais	não	 são	fixas,	
elas	 estão	 sempre	 em	movimento.	As	 paisagens,	 as	 distribuições	 espaciais,	 as	
relações	interculturais,	todas	variam,	as	regras	mudam,	e,	por	vezes,	tornam-se	
exceções.	É,	dentro	desse	processo,	que	a	geografia	pode	ser	percebida	e	analisada,	
independente,	nas	dimensões	coletivas	ou	individuais.
Então,	 é	 viável	 dizer,	 metaforicamente,	 que	 a	 geografia	 pode	 ser	
encontrada	nos	quatro	 cantos	da	Terra?	Em	 tempos	pretéritos?	 Sim,	 com	 isso,	
levamos	em	consideração	não	apenas	os	quesitos	naturais,	aqueles	estabelecidos	
pela	 geografia	 física,	 mas	 a	 humanização,	 na	 prática	 da	 expressão	 “quatro	
cantos	da	Terra”.	Generosamente,	a	 interpretação	da	geografia	cultural	propõe	
a	compreensão	de	que	a	relação	homem	e	espaço	demonstra	uma	versatilidade	
conteudística.
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
77
A expressão “quatro quantos da Terra” pode ser considerada uma metáfora. 
Esse sentido figurado se reporta à orientação geográfica dos principais pontos cardeais, 
norte, sul, leste e oeste, e não à forma geométrica, a exemplo do quadrado equivalente à 
formação das medidas do ângulo reto.
NOTA
FIGURA 1 – ROSA DOS VENTOS
FONTE: O autor
A	geografia	é	uma	ciência	que	pode	ser	analisada	por	prismas	diferentes,	
mas	sempre	atenuando	as	relações	com	o	espaço	e	as	dinâmicas	da	sociedade.	
Embora	 muitos	 não	 saibam,	 o	 conhecimento	 da	 geografia	 se	 inicia	 com	 a	
apreensão,	 experiência	 e	 descoberta,	 através	 do	 senso	 comum.	 Possivelmente,	
esse	 conhecimento	 geográfico	 acompanha	 o	 homem	 desde	 a	 sua	 existência,	
atravessando	séculos,	até	o	estabelecimento	como	ciência.
 
Esta	parte	busca	 trazer	 tais	 informações,	visando	estabelecer	uma	linha	
cronológica	de	 fatos,	portanto,	será	notório	o	resgate	histórico	da	dinâmica	do	
conhecimento	geográfico.	Possivelmente,	vocês	também	perceberão	trechos	que	
sinalizarão	as	forças	espiritual	e	religiosa	na	formação	da	sociedade	e	construção	
dos	seus	espaços.
 
Na	sua	interpretação,	Lencioni	(2003)	indica	que,	antes	do	conhecimento	
sistematizado	elevado	à	categoria	científica,	o	homem	obteve	o	conhecimento	da	
geografia	por	meio	de	conexões	com	o	espaço,	gerando,	então,	a	 interpretação	
de	mundo	desde	as	civilizações	passadas,	ou	seja,	essas	perspectivas	podem	ser	
apontadas.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
78
FIGURA 2 – PLACA DA CONCEITUAÇÃO
FONTE: Adaptado de Lencioni (2003)
Uma	se	refere	à	era	pré-histórica	do	pensamento	geográfico,	permeando	
a	linha	da	curiosidade	e	as	experiências	coletivas	despretensiosas,	sem	vínculo	
científico	 comprovado	 por	 meio	 de	 métodos.	 Esse	 primeiro	 contato	 com	 os	
elementos	geográficos	se	torna	intrínseco	à	vivência	humana,	cujo	ciclo	remete	à	
produção	de	interpretações	socioespaciais	expressas.
 
Uma	 segunda	 perspectiva	 reflete	 o	 lema	 característico	 da	 ciência,	 que	
gera	 o	 aprofundamento	 do	 conhecimento	 de	 algo	 ou	 algum	 fenômeno.	 Para	
tal	 proposta,	 existem	meios	 que	 levam	 à	 sapiência	 de	 determinados	 assuntos,	
geralmente,	com	a	organização	sistematizada	do	conteúdo.	Embarcando	com	a	
proposta	de	se	tornar	ciência	com	respectiva	autonomia,	a	geografia	se	apresentou	
como	conhecimento	científico,	aproximadamente,	no	fim	do	século	XIX.
 
Apesar	 de	 considerarmos,	 atualmente,	 que	 o	 saber	 geográfico	 evoluiu	
em	 relação	 a	 épocas	 passadas,	 admitimos,	 claramente,	 que	 os	 conhecimentos	
dos	aspectos	geográficos	às	 luzes	cartográficas	registraram	o	modo	de	vida	de	
inúmeras	comunidades.
 
Quando	tratamos	dos	povos	pré-históricos,	ressaltamos	que	a	sabedoria	
dos	deslocamentos	não	obteve	registros	a	partir	da	escrita,	para	validação	científica	
da	precisão,	mas,	com	uma	característica	rudimentar	e	inteligente,	a	comunicação	
ocorreu	por	meio	das	inscrições	rupestres,	e	passou	a	ser	uma	aliada	estratégica	
para	povos	se	desenvolverem.	Esses	desenhos	descritivos	eram	projetados	nas	
rochas	por	meio	de	pinturas,	ou	entalhados/esculpidos,	com	os	próprios	artefatos	
rochosos.
 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
79
Todo	esse	perfil	de	conhecimento	 teve,	 como	objetivo,	a	 capacidade	de	
compreensão	da	terra	a	partir	de	uma	visão	de	mundo	particular,	por	meio	da	
autoidentificação	dos	povos,	da	catalogação	das	espécies	selvagens,	caça	e	coleta,	
das	constelações,	eventos	naturais	de	dimensões	astronômicas,	primeiras	noções	
de	 representação	 cartográfica,	 todos	 encontrados	nas	 inscrições	 rupestres,	 que	
tiveram	início	com	os	povos	pré-históricos,	auxiliando-os	a	catalogarem	territórios,	
rotas	e	localizações.	Por	motivos	migratórios,	tudo	isso	se	fazia	necessário.
 
Como	meio	auxiliar,	trouxemos	algumas	imagens,	entre	inúmeros	acervos,	
que	 representam	 a	 evolução	 da	 percepção	 do	 homem	 a	 respeito	 do	 espaço.	
Destacamos	 as	 figuras	 referentes	 à	 caverna	 de	Altamira,	 na	 Espanha,	 o	mapa 
remanecente da região de Gar	–	Sur,	e	uma	das	figuras	das	pedras	itaquatiara	do	
Ingá,	localizado	na	Paraíba.
Esses	desenhos	são	datados	da	era	paleolítica,	e	se	distribuem	nas	rochas	
em	formas	abstratas,	animais	e	outros	seres	míticos.
FIGURA 3 – ARTE RUPESTRE EM ALTAMIRA – ESPANHA
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/d0/41/e6/d041e6b2b19c8875740372447a6ca1be.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
O	exposto	a	seguir	é	uma	pequena	representação	geográfica,	em	argila,	do	
espaçode	Gar	–	Sur,	um	dos	mapas	mais	antigos	referentes	à	vivência	dos	grupos	
primitivos	que	habitavam	a	Mesopotâmia.	São	encontrados	pontos	de	referência	
naturais,	a	exemplo	da	cadeia	montanhosa	e	do	rio	Eufrades.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
80
FIGURA 4 – MAPA REMANESCENTE DA REGIÃO DE GAR - SUR
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-0WF8aZDAdvY/VOM4bJVYuKI/
AAAAAAAAADQ/9Y07QInb6P8/s1600/2.jpg>. Acesso em: 4 set. 2020.
A	 seguir,	 um	 monumento	 arqueológico	 com	 inscrições	 rupestres	
localizado	no	estado	da	Paraíba,	mais	precisamente,	na	cidade	de	Ingá,	onde	as	
figuras	expostas	nas	rochas	gnaisse	são	compreensíveis	constelações,	como	a	de	
Órion,	animais,	representações	humanas	etc.
FIGURA 5 – PEDRA ITAQUATIARA DO INGÁ – PARAÍBA
FONTE: <https://www.destinoparaiba.pb.gov.br/wp-content/uploads/2019/08/agreste-
N00000181-Itacoatiara-Ing%C3%A1-PB-www.caciomurilo.com_.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020. 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
81
Com	 todo	 esse	 aparato	 icnográfico,	 pode-se	 entender	 que	 o	 senso	 de	
representação	 do	 espaço	 geográfico,	 assim	 como	 uma	 prévia	 organização	
espacial,	estabeleceu-se	desde	períodos	passados.	Entende-se,	também,	como	o	
desenvolvimento	da	 ciência	 cartográfica	 e	da	geografia	 se	 tornou	 instrumento	
de	análise	para	fenômenos	naturais	que	ocorrem	no	espaço,	além	das	interações	
socioculturais	compreendidas	nas	mesmas	zonas	espaciais.
O	 livro	 Espaço e religião: uma abordagem geográfica	 (1996),	 de	 Zeny	
Rosendahl,	 possui	um	 tópico	 a	 respeito	da	 origem	das	 cidades	 e	do	papel	do	
sagrado.	Permeando	duas	linhas	de	abordagem,	a	primeira	com	o	papel	ativo	da	
religião	e,	o	segundo,	com	os	aspectos	técnicos	e	econômicos	do	nascimento	da	
vida	e	 a	 estrutura	urbana,	Rosendahl	 (1996)	discute,	principalmente,	 a	 relação	
dos	 antigos	 santuários	 paleolíticos	 como	 forma	 de	 evolução.	 Como	 tudo	 isso	
existiu?	Segundo	a	criação	e	desenvolvimento	das	cidades	à	luz	da	religião,	tais	
insinuações	não	partem	apenas	da	autora,	mas	de	um	elenco	de	profissionais,	
pesquisadores,	como	Eliade,	Coulanges,	Mumford,	Tuan	etc.
 
Para	a	geografia	da	religião,	a	era	paleolítica	estava	além	das	inscrições	
rupestres	e	 localizações	espaciais,	pois	as	 cavernas	eram	compreendidas	como	
santuários,	os	homens	as	reconheciam	a	partir	de	um	significado,	cada	gruta	se	
referenciava,	 também,	pelo	 elo	 sobrenatural,	divino	 e	místico.	Em	virtude	das	
práticas	 de	 fé,	 esse	 lugar	 ou	 lugares	 atraíam	 homens	 e	 famílias	 inteiras	 para	
praticar	e	compartilhar	as	experiências	vividas	pelo	viés	espiritual.
As	cavernas,	por	exemplo,	não	representavam	apenas	abrigo	e	lugar	
de	expressão	artística.	Exerciam,	também,	um	poder	de	atração	para	
homens	 vindos	 de	 muito	 longe,	 atraídos	 pelo	 estímulo	 espiritual,	
para	compartilhar	as	mesmas	práticas	mágicas	ou	crenças	religiosas	
(ROSENDAHL,	1996,	p.	40).
 
A	evolução	e	a	percepção	da	ciência,	da	geografia	cultural	e	da	religião	
estiveram	ligadas,	intrinsicamente,	à	evolução	das	sociedades	humana	e	urbana,	
assim	como	foi	exposto	desde	a	era	paleolítica.	“As	famílias	viviam	em	seu	próprio	
lar,	 possuíam	 seu	 próprio	 deus,	 seu	 próprio	 oratório,	 seu	 próprio	 cemitério,	
falando	 a	 mesma	 língua	 e	 participando	 de	 um	 modo	 de	 vida	 semelhante”	
(ROSENDALH,	1996,	p.	40-41).	Essa	afirmativa	não	quer	dizer	que	os	paleolíticos	
eram	urbanizados,	mas	foram	semeadores	desse	modo	de	vida.
Quando	os	povos	são	retratados,	fica	evidenciado	que,	apesar	deles	serem	
singulares,	tendo	em	vista	que,	individualmente,	eles	se	apresentavam	cada	um	
com	seus	hábitos,	costumes	e	cultura,	entende-se	que	tal	formação	demonstra	o	
início	de	uma	futura	vida	urbana	que	pode	se	tornar	real	a	partir	do	momento	em	
que	comunidades	ou	povos	específicos	passam	a	não	hostilizar,	mas	a	respeitar	
culturas	diversas,	incluindo,	principalmente,	a	união	e	reverência	a	deuses.	No	
caso,	é	perceptível	a	importância	dada	ao	universo	religioso	frente	à	criação	das	
primeiras	cidades.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
82
Prosseguindo,	 a	 respeito	 do	 sagrado,	 Rosendahl	 (1996)	 expõe	 que	 a	
força	do	desenvolvimento	das	comunidades,	no	período	neolítico,	não	anulou	a	
presença	do	sagrado	na	paisagem,	pois	os	santuários	tribais,	pirâmides	e	centro	
cerimonial	 continuaram	a	 existir,	 com	um	adendo,	 que	 agregou,	 ao	 seu	 então	
valor,	o	sentido	de	elementos	de	referência	cultural.
A	 tendência	 do	 tema	 religião	 continua	 com	 o	 desenvolvimento	
socioespacial.	Ela	passou	a	ser	interpretada,	com	frequência,	com	o	surgimento	
de	cidades	e	suas	autoridades	outorgadas:	“a	cidade	foi	erguida	pela	vontade	de	
Deus,	e	o	‘sacerdote-rei’	era	o	símbolo	do	todo	poderoso,	era	um	ser	semidivino,	
um	intermediário	entre	o	céu	e	a	terra.	O	cocriador	do	cosmo”	(ROSENDAHL,	
1996,	p.	42).
Concordamos	 que	 esse	 processo	 de	 desenvolvimento	 socioespacial	
comungou	 com	 a	 evolução	 da	 ciência	 geográfica.	 Segundo	 Sodré	 (1982),	 a	
geografia	apresenta	uma	história	anterior	a	muitas	outras	ciências,	podendo	ser	
considerada	a	mais	antiga,	tendo	em	vista	que	suas	evidências	históricas	advêm	
de	tempos	de	outrora.
Porém,	desde	o	início,	esse	conhecimento	se	apresenta	dividido	entre	
duas	tendências	oposta	ou	complementares.	De	um	lado,	os	geômetras	
e	 os	 astrônomos;	 do	 outro,	 os	 políticos,	 que,	 sensíveis	 aos	 aspectos	
do	quadro	natural,	das	produções,	dos	povos,	e	dos	seus	costumes,	
refletem	 a	 respeito	 das	 relações	 entre	 os	 diferentes	 territórios	 e	 as	
várias	 sociedades	 humanas.	 Os	 périplos,	 as	 conquistas,	 os	 contatos	
com	 o	mundo	 bárbaro	 vão,	 paulatinamente,	 alargando	 o	 horizonte	
geográfico	(PEREIRA,	1999,	p.	83).
Em	uma	linha	cronológica,	pode-se	perceber	que	a	evolução	organizada	
dos	 conhecimentos	 e	 técnicas	 contribuiu	 para	 a	 aprendizagem	 dos	 elementos	
geográficos,	 que	 acompanharam	 a	 rotina	 dos	 povos	 e,	 principalmente,	 para	 o	
desenvolvimento	da	futura	ciência	geográfica.
 
O	 período	 da	 antiguidade	 clássica	 foi	 representado,	 sobretudo,	 pela	
Grécia	antiga.	Foi	ela	que,	praticamente,	embalou	o	nascimento	da	civilização	do	
ocidente,	com	a	preconização	e	o	fortalecimento	das	ciências,	principalmente,	a	
filosofia,	considerada	a	mãe	do	conhecimento	científico,	do	saber	racionalizado,	
das	artes	e	da	estética	expressa	pela	percepção	humana	(IBGE,	2020).	Como	afirma	
Martonne	 (1953),	 outros	 povos	 e	 civilizações	 experimentaram	o	 conhecimento	
geográfico,	mas	os	gregos	tiveram	uma	participação	decisiva	na	base	da	construção	
e	sistematização	da	geografia	enquanto	ciência.
 
Algumas	personalidades	se	destacaram	pela	busca	de	comprovações	de	
métodos	que	se	aproximassem	da	representação	terrestre.	Como	precursor,	tem-
se	o	filósofo,	geógrafo	e	matemático	Eratóstenes,	nascido	em	276	a.C.,	na	cidade	
de	Cirene,	colônia	da	Grécia.	Foi,	no	século	III	a.C.,	que	ele	apresentou	a	primeira	
classificação	da	palavra	geografia	como	o	estudo	da	descrição	da	Terra,	e	a	definiu	
como:	Geo	=	Terra	|	Grafia	=	Descrição.
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
83
FIGURA 6 – GEÓGRAFO ERATÓSTENES DE CIRENE
FONTE: <https://blog.kakaocdn.net/dn/T008G/btqEq72pwnC/o1LqkzZhc8LPk6JIvaxiE0/img.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020. 
No	 século	 VI	 a.C.,	 na	 Grécia,	 Anaximandro	 de	 Mileto	 desenvolve	 o	
primeiro	esboço	do	“mundo”,	chamado	de	carta	(PEREIRA,	1999).	As	necessidades	
de	 conquistas	 além-mar	de	 navegações	 e	missões	militares,	 no	 século	VI	 a.C.,	
geraram,	mais	 tarde,	 o	 fortalecimento	 das	 ciências,	 por	meio	 da	 compreensão	
de	métodos	na	astronomia,	matemática	e,	principalmente,	através	do	campo	de	
estudo	da	cosmografia	e	sua	compreensão	descritiva	do	universo.O	alinhamento	
dessas	 áreas	 explorou	meios	 que	 reproduzissem	 a	 superfície	 terrestre.	Ainda,	
foram	responsáveis	pelo	cálculo	da	circunferência	da	Terra,	pelo	primeiro	atlas	
universal,	coordenadas	de	latitude	e	longitude,	e	projeções	cônicas	(IBGE,	2020).
No	período	da	antiguidade	clássica,	foram	iniciados	os	estudos	dos	assuntos	
relacionados	 à	 geografia.	 Estes	 possuíam	 um	 caráter	 de	 descobrimento,	 pois	
pouco	se	sabia	da	superfície	terrestre	e	do	universo.	Então,	o	conhecimento	ligado	
ao	planeta	Terra	e	os	elementos	naturais,	em	relação	aos	aspectos	dimensionais,	
como	o	 formato,	 tamanho,	extensão,	proporções	entre	 superfícies	 cobertas	por	
águas	e	demais	frações,	descrição	dos	povos,	lugarejos	e	reproduções	das	zonas	
costeiras,	 foram	 surgindo,	 assim	 como	 as	 pesquisas,	 na	 área	da	 astronomia,	 a	
respeito	do	universo,	órbita,	estrelas	etc.	(CARVALHO,	2006).
O	mundo	clássico	apresentou	seu	grau	de	relevância	com	as	descobertas	
da	geografia	através	de	pensadores,	como	Tales	de	Mileto,	Pitágoras,	Aristóteles,	
Erastóstenes	de	Cirene,	Claúdio	Ptolomeu,	Estrabão,	Hiparco,	Heródoto	etc.	Eles	
substantivaram	 o	 conhecimento	 da	 época	 e,	 consequentemente,	 influenciaram	
os	demais	períodos,	porém,	ainda	se	tinha	uma	longa	jornada	de	descobertas	a	
respeito	do	planeta	Terra	e	do	universo,	além	de	alguns	métodos	serem	julgados	
como	pouco	precisos,	por	representarem	a	linha	empírica	ou	factual.
A	fase	de	transição	da	Idade	Antiga	ou	Clássica	para	a	Idade	Média,	e,	
depois,	para	a	Idade	Moderna	renascentista,	foi	marcada	pela	forte	influência	da	
religião	sobre	a	produção,	conquistas	da	ciência	e	derrocada	do	império	romano,	
além	da	tomada	de	Constantinopla	pelos	turcos.	Acadêmico,	o	que	isso	significa	
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
84
para	 a	 geografia?	 Podemos	 afirmar	 que	 significa,	 a	 princípio,	 a	 maneira	 de	
representação	ou	de	mapeamento	de	continentes	através	da	influência	da	religião	
na	 construção	 socioespacial,	 da	 paisagem,	 além	 do	 que	 se	 refere	 à	 conquista	
territorial.
Tem-se,	 por	 exemplo,	 o	mapa	 “Die	 Ganze	Welt	 In	 Einem	 Kleberbat”	
T-	 0,	 conhecido	 por	 sua	 semelhança	 com	 o	 trevo	 ou	 cruz.	 Foi	 uma	 versão	
representativa	criada	por	Isodoro,	o	bispo	de	Sevilha,	que,	a	partir	da	sua	visão	
religiosa	 e	 simbólica	de	mundo,	 transferiu,	 para	 a	 representação	 gráfica,	 um	
modelo	 com	 tais	 características.	O	 sacerdote	 apresentou,	 em	primeiro	plano,	
os	três	continentes,	a	Europa,	Ásia	e	África,	e,	ao	centro,	a	cidade	símbolo	do	
cristianismo,	Jerusalém;	secundariamente,	a	América,	a	grande	área	geográfica	
considerada	 pouco	 habitada.	 A	 interpretação	 religiosa	 afirmou	 que,	 após	
o	 grande	 dilúvio,	 Noé	 e	 seus	 descendentes	 realizaram	 a	 divisão	 das	 áreas	
geográficas	habitáveis	(IBGE,	2020).
FIGURA 7 – DIE GANZE WELT IN EINEM KLEBERBAT
FONTE: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/historia/hist_cart_6.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
A	unicidade	do	 Império	Romano	permaneceu	até	meados	de	 395	d.C.,	
quando	 o	 imperador	Constantino	 se	 estabeleceu	 na	 capital	 Bizâncio.	A	priori,	
deu-se	a	partir	do	ato	de	renomear	a	cidade,	caracterizando-a,	identitariamente,	
segundo	 o	 poder	 exercido	 por	 grupos	 do	 oriente	 sobre	 aquele	 território.	
Constantinopla,	assim	chamada	pelo	então	comando,	apresentou-se,	na	história,	
por	sofrer	as	insistentes	invasões.	A	tomada	daquele	território,	por	povos	diversos,	
justificou-se	pela	sua	importância	territorial,	sua	localização	favorável	e	riquezas	
adquiridas,	que	fizeram	dela	a	cidade	mais	desenvolvida	da	época.
 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
85
A	posição	geográfica	da	rebatizada	Constantinopla,	ligando	o	Ocidente	
e	 o	 Oriente,	 as	 suas	 defesas	 naturais	 (Bósforo,	 mar	 de	 Mármara,	
Corno	de	Ouro)	e	a	sua	privilegiada	articulação	com	as	grandes	rotas	
comerciais	 terrestres	 e	 marítimas	 (Europa-Ásia	 e	 mar	 Negro-mar	
Egeu)	justificam,	plenamente,	a	escolha	do	primeiro	imperador	cristão	
(MONTEIRO,	2016,	p.	18).
Após	a	queda	do	Império	Romano,	os	graus	de	formação	dos	novos	Estados	
estavam	 se	 estabelecendo,	 já	 fazendo	 sentido	 uma	 reorganização	 territorial,	
inclusive,	 com	a	 tomada	de	Constantinopla	pelo	 Império	Turco	Otomano,	por	
exemplo,	a	paisagem	transmitiu	mudanças,	como	o	nome	da	cidade,	a	religião	
oficial,	 transformações	 de	 elementos	 simbólicos	 da	 paisagem,	 transição	 de	
catedrais	para	mesquitas	etc.	Istambul	ficou	conhecida	e	se	tornou,	oficialmente,	
a	capital	do	império	otomano.
A	Era	Moderna	assume	conflitos	e	transições,	desde	a	derrocada	do	Império	
Bizantino,	pelos	 turcos,	até	a	 crise	do	sistema	 feudal.	Ainda,	há	a	 sucessão	do	
modelo	econômico	feudal	para	o	capitalismo,	a	Revolução	Francesa,	o	Iluminismo,	
a	ascensão	da	burguesia,	os	fenômenos	modernos	do	Renascentismo,	as	reformas	
protestantes,	a	configuração	do	Estado	absolutista	e	a	expansão	ultramarina.
O	período	de	descobrimentos	e	conquistas	(do	século	XV-XVIII)	adentrou	
na	 Era	 do	 Iluminismo.	 As	 grandes	 navegações	 contavam	 com	 registros	 de	
descrições,	 orientações	 geográficas,	 distâncias,	 desenhos,	 tudo	 para	 clarificar	
o	desconhecido.	 	Antes,	como	ferramentas	das	elites,	os	mapas	passaram	a	ser	
disseminados	em	línguas	diferentes	do	latim,	a	fim	de	possibilitar	o	conhecimento.	
Primeiramente,	 com	 Ortelius,	 criador	 do	 mapa	 “Theatrum	 Orbis	 Terrarum”,	
depois,	 no	 ano	 de	 1569,	 o	mapa	 convencionado	 por	Mercator	 “Americae	 Sive	
Novi	Orbis”	(IBGE,	2020).
O	 que	 se	 pode	 entender,	 parcialmente,	 do	 século	 das	 luzes,	 foi	 sua	
democratização	 em	 relação	 ao	 acesso	 ao	 conhecimento.	 O	 ideal	 iluminista,	
assentado	 na	 crença	 do	 poder	 e	 da	 razão	 humana,	 é	 que	 passa	 a	 defender	 a	
ampliação	da	formação	cultural	para	todos,	como	forma	capaz	de	transformar	o	
homem	e,	por	meio	dele,	a	sociedade	(PEREIRA,	1999).
Anteriormente,	 na	 sociedade	 antiga,	 os	 privilegiados	 faziam	 parte	 da	
alta	cúpula	conhecida	como	a	nobreza	e	clero.	Eles	justificavam	sua	boa	vida	e	
benefícios	sociais	alcançados,	incluindo	o	do	letramento,	em	Deus	e	nos	direitos	
“concedidos”	 por	 Ele	 através	 da	 igreja.	 Após	 o	 movimento	 revolucionário	
iluminista,	“[...]	pode-se	dizer	que	a	maioridade	se	alcança	pela	capacidade	do	
homem	 de	 se	 tornar	 autônomo,	 senhor	 de	 si	 pela	 razão.	A	 antiga	 sociedade,	
formada	 por	 senhores	 e	 servos,	 deve	 ser	 substituída	 por	 uma	 sociedade	mais	
justa,	mais	igualitária”,	reflete	Pereira	(1999,	p.	21),	a	respeito	dos	ensinamentos	
deixados	por	Kant,	em	1783.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
86
Para	quem	desconhece	a	geografia	de	Kant	na	Era	das	Luzes,	vale	ressaltar	
que	ele	assume	um	papel	preponderante,	pois	realizou	o	entendimento	de	uma	
geografia	física	que	valorizava	para	além	das	rochas,	valorizava	os	seres	vivos,	
incluindo	o	homem.	Ele	criou	uma	forma	de	enxergar	o	planeta	Terra	em	uma	
maior	 dimensão,	 vislumbrando	 as	 relações	 constantes	 entre	 seres	 humanos	 e	
natureza.	Os	seus	ensinamentos	foram	influenciados	pelas	reflexões	dos	geógrafos	
anteriores: Eratóstenes,	Ptolomeu,	Estrabão	e	Varenius.	Os	estudos	da	terra	foram	
realizados	pelas	experiências	de	campo	que	ele	tomava	dos	relatos	vivenciados	
por	 Foster	 e	 Humboltd.	 Essa	 trajetória	 provocou	 o	 desenvolvimento	 da	 obra	
kantiana,	um	material	 com	uma	 identidade	original,	 para	 a	 fase	da	geografia,	
próxima	à	sistematização	científica.
Com relação à participação de Kant nos estudos geográficos, sugerimos uma 
seleção de quatro vídeos: Kant e a Geografia I/Pensamentos Geográficos, e, de forma 
complementar, Kant e a Geografia II/Influências Geográficas. O terceiro: Kant e a Geografia 
III/A Geografia de Kant, e, por fim, a quarta entrevista, intituladade Kant e a Geografia IV/
Implicações na Atualidade.
 Todo o material diz respeito a edições do Canal Descomplicando, com o professor 
Douglas Sathler – UFVJM e o entrevistado, o professor Oswaldo Bueno Amorim Filho, da 
PUCMINAS.
O vídeo 1 possui, aproximadamente, 7’:33’’ de duração e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=yHZLfX5teac.
O vídeo 2 possui, aproximadamente, 5’:22’’ de duração e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=Q0Lw1N9NY_k. 
O vídeo 3 possui, aproximadamente, 12’:10’’ de duração e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=ws_yfuCXm8U.
O vídeo 4 possui, aproximadamente, 9’:15’’ de duração e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=9k3WnYvSxFo.
DICAS
A	compreensão,	no	tempo	do	iluminismo,	estava	para	desatar	os	homens	
dos	 dogmas	 e	 intolerâncias.	 Ela	 não	 estava,	 diretamente,	 contra	 a	 religião,	
mas	 contra	 os	 privilégios	 escondidos	 por	 trás	 dela.	 A	 Era	 do	 Discernimento	
antropocêntrico,	do	direito	ao	conhecimento	concedido	amplamente	a	todos	os	
homens,	foi	iniciada	na	França,	em	1782,	com	o	ato	da	Revolução	Francesa,	depois,	
com	o	Marquês	de	Condorcet,	e,	em	1948,	com	a	Declaração	Universal	dos	Direitos	
Humanos,	tornando-se	um	dever,	do	Estado,	fornecer,	sem	exceção,	o	direito	ao	
conhecimento.	Leia-se	educação	pública	para	todos	de	forma	obrigatória	e	laica	
(PEREIRA,	1999).
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
87
Em	 um	 estudo	mais	 aprofundado,	 Pereira	 (1999)	 aborda	 como	 se	 deu	
o	nascimento	da	geografia	com	o	ensino.	Alerta	que	a	prática	de	educar	todos,	
sem	exclusão,	iniciou	pelos	germânicos	e	demais	países,	onde	houve	a	reforma	
protestante.	O	objetivo	da	educação	pública	religiosa	estendeu	o	conhecimento	
e	 proporcionou,	 aos	 fiéis	 cristãos,	 a	 alfabetização,	 com	 a	 leitura	 das	 sagradas	
escrituras,	 a	“Bíblia”,	para	o	 livre	esclarecimento	da	 salvação	da	alma.	Porém,	
aponta,	 também,	 que	 a	 possibilidade	 de	 um	 ensino	 baseado	 na	 liberdade	 e	
laicidade	se	iniciou	a	partir	das	conquistas	da	Revolução	Francesa.		
O que foi a Reforma Protestante? Um movimento do século XVI liderado por 
Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, na Alemanha, com os intuitos de esclarecer 
e romper com práticas da Igreja Católica Apostólica Romana, acerca do comércio de 
indulgências. Lutero fixou 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Tal ato 
provocou uma revolução religiosa, na qual muitos países, governos e religiosos apoiaram 
o feito, fazendo parte a Inglaterra, Suíça, França, Escandinávia, Hungria e países bálticos. 
Contudo, foram feitos atos repreensivos, como o movimento da contrarreforma e a divisão 
entre católicos romanos e os reformados protestantes.
NOTA
Alguns	 fatos	 históricos	mundiais	 estão	 no	 texto,	mas	 parecem	 fora	 do	
contexto,	será	que	você	pensou	dessa	forma?	Visto	todo	esse	ciclo,	pedimos	para	
que	não	se	percam,	pois	podemos	realizar	um	link	desses	fatos	contextualizados	
com	a	geografia	enquanto	ciência.	
É	possível	que	você	lembre	da	placa	de	conceituação,	certo?!	Esta	contém	
uma	divisão	entre	o	conhecimento	a	respeito	dos	saberes	da	geografia	e	a	geografia	
enquanto	ciência	sistematizada.	Pois	bem,	até	o	presente	momento,	 trouxemos	
fatos	e	argumentos	que,	juntos,	encaminham-se	para	uma	compreensão	anterior	
ao	nascimento	da	ciência	geográfica.	
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR 
A UMA GEOGRAFIA UNIVERSITÁRIA 
Temos,	 como	 objetivo,	 prolongar	 a	 discussão	 acerca	 do	 processo	 da	
escolarização	 e	 a	 introdução	 da	 disciplina	 da	 geografia	 nos	 anos	 iniciais	 das	
escolas	europeias,	principalmente,	entre	Alemanha	e	França.	Apesar	do	assunto	já	
ter	sido	levemente	pontuado,	propomos	uma	evolução	discursiva,	até	chegarmos	
à	geografia	enquanto	conhecimento	sistematizado.
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
88
A	pergunta	que	não	quer	calar	é:	onde,	de	fato,	a	escola	e	o	processo	de	
escolarização	se	encontram	com	a	geografia?	É,	exatamente,	no	período	do	século	
XIX	que	ambos	 são	oficializados:	 “as	 interligações	entre	a	 escola	e	a	geografia	
se	situam	no	contexto	do	século	passado,	em	que	diferentes	interesses	políticos,	
econômicos	e	sociais	estão	em	jogo”	(PEREIRA,	1999,	p.	29).
O	 século	 XIX	 se	 destacou	 pelo	 ideal	 da	 Revolução	 Francesa	 para	 a	
constituição	das	mudanças	políticas	e	sociais,	além	da	revolução	inglesa,	que	se	
traduz	na	emblemática	transformação	econômica	representada	pelo	capitalismo	
e	as	criações	técnicas	e	científicas.
A	escola	e	a	escolarização	se	firmam	ao	longo	do	século	XIX,	no	mesmo	
momento	em	que	se	dá	a	consolidação	do	Estado	e	do	capitalismo,	sob	
a	hegemonia	da	burguesia.	Detentora	do	poder	político,	ela	percebe	
que	 sua	dominação	pode	 ser	mantida	não	apenas	 através	do	poder	
repressivo,	mas	 também	da	disseminação	de	 seus	 valores	 de	 classe	
apresentados	como	universais	(PEREIRA,	1999,	p.	26-27).
 
Tendo	uma	França	unificada	 e	 uma	 Inglaterra,	 também,	 com	 ideais	 de	
nação	 bem	 formados,	 ambos	 os	 países	 priorizaram	 a	 utilização	 da	 geografia	
para	viabilizar	a	permanência	da	burguesia	no	poder	e	a	distinção	de	classes	em	
detrimento	do	crescimento	do	capitalismo.
 
Em	um	primeiro	momento,	a	geografia	francesa	apontou	para	um	norte	
específico,	 o	 que	 custou	 demandas	 e	 reformulações	 mais	 tarde,	 no	 entanto,	
a	 França,	 por	 ser	 considerada	 uma	 nação	 bem	 estruturada,	 sem	 necessidade	
de	unificação	 territorial,	 optou	por	 seguir	 com	a	geografia	 como	assistente	da	
história,	que	era	uma	disciplina	de	maior	vulto.
Já	a	Alemanha	esbarra	em	uma	realidade	diferente,	começando	pela	alta	
sociedade	então	estabelecida,	a	aristocracia	rural	e	a	não	unificação	territorial	em	
pleno	século	XIX.	
Segundo	Pereira	 (1999,	p.	98-99),	“no	 início	do	século	XIX,	a	Alemanha	
ainda	 não	 havia	 se	 constituído	 como	 uma	 nação,	 ainda	 era	 como	 um	 Estado	
nacional.	 Ela	 se	 acha	 dividida	 em	 números	 de	 feudos	 (principados,	 ducados,	
reinos,	 terras	 eclesiásticas,	 cidades	 livres),	 unidos,	 apenas,	 por	 alguns	 traços	
culturais	comuns”.
A	escola	alemã	entra	como	um	instrumento	de	construção	da	unificação	
nacional,	 propiciando	 a	 propagação	 das	 ideologias	 patrióticas	 e	 nacionalistas,	
e,	como	parte	do	currículo	escolar,	as	disciplinas	de	geografia,	história	e	língua	
nacional	 auxiliaram	 no	 processo.	 Basicamente,	 a	 classe	 favorecida	 buscou	 a	
perpetuação	da	hegemonia	e,	com	o	poder	do	capital,	viabilizou-se	a	consolidação	
do	Estado.	O	papel	da	geografia	se	estende	pela	apresentação	do	território	a	ser	
delimitado	em	limites	e	fronteiras	frente	ao	capital,	cultura	e	língua.
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
89
O	esforço	comum	para	edificar	essa	nacionalidade	e	criar	uma	identidade	
coesa	teve,	como	base,	a	anulação	das	diferenças:
A	divisão	social	precisa	ser	ocultada	para	que	se	crie	uma	comunhão	
entre	 os	 que	 nascem	 num	 mesmo	 lugar,	 falam	 a	 mesma	 língua	 e	
respeitam	as	mesmas	tradições.	A	língua	encarna	a	possibilidade	de	
uma	 unidade	 cultural,	 unidade	 intricadamente	 ligada	 a	 um	 tempo	
(história)	e	a	um	espaço	(geografia)	(PEREIRA,	1999,	p.	27-28).
Nas	linhas	e	entre	linhas,	falava-se	em	domínio	territorial,	ou	seja,	numa	
geopolítica	estratégica	dentro	dessa	geografia	escolar	nada	amistosa.	A	geografia,	
enquanto	disciplina	escolar,	tinha	uma	missão	objetiva.	Com	uma	análise	mais	
distante,	é	possível	perceber	que	esse	estudo	nasce	com	um	intuito	da	criação	do	
Estado,	para	fortalecê-lo.	“A	geografia	analisa	o	físico,	mas	o	estudo	do	físico,	em	
si	mesmo,	nãotem	sentido.	Ele	só	terá	ser	for	considerado	como	dominado	pelo	
homem	e	ligado	à	ideia	de	um	espaço	em	que	exerce	uma	determinada	cidadania”	
(PEREIRA,	1999,	p.	39).
 
O	 desenvolvimento	 da	 disciplina	 geográfica,	 além	 do	 pioneirismo	 na	
formação	 de	 geógrafos,	 pode	 se	 justificar	 pelo	 desenvolvimento	 e	 nascimento	
retardatário	do	Estado	alemão.	Há	uma	corrida	contra	o	tempo,	a	fim	de	encontrar	
meios	concretos	para	unificar	e	tornar	a	Alemanha	uma	grande	nação.
A	 geografia	 dos	 professores	 tomou	 corpo	 intimamente	 relacionado	
ao	 esforço	da	 escolarização	desenvolvido	pela	Alemanha	durante	 o	
século	XIX	e,	ligada	a	esse	desenvolvimento	da	geografia	nos	ensinos	
primário	e	secundário,	cresce,	também,	a	produção	editorial	de	caráter	
geográfico	e	cartográfico	(PEREIRA,	1999,	p.	41).
Acadêmico,	lembre-se	de	que	os	primeiros	assuntos	dos	conhecimentos	
geográficos	 chegaram	 no	 momento	 em	 que	 os	 homens	 atentaram	 para	 as	
necessidades	de	descrever	e	se	localizar	no	espaço	geográfico.	
Príncipes,	 comandantes	 de	 guerra/embarcações	 e	 influentes	 do	 Estado	
maior	previram	o	desenvolvimento	de	cartas	e	futuros	mapas	geográficos	para	se	
beneficiar	com	tais	informações	privilegiadas.
Estrategicamente,	 no	 século	 XIX,	 um	 processo	 inverso	 acontece:	 o	
conhecimento	 centralizado	 dos	 elementos	 geográficos	 deixa	 de	 ser	 elitizado	
e	passa	a	ser	descentralizado.	A	geografia	se	 torna	propagada	entre	crianças	e	
jovens,	e	esse	jogo	dialético,	ao	longo	da	criação	da	ciência	geográfica,	tornou-se	
meio	de	conquista	e	poder,	como	veremos	nos	parágrafos	a	seguir.
 
Segundo	 Pereira	 (1999),	 as	motivações,	 para	 a	 organização	 do	 sistema	
escolar	alemão,	também	podem	ter	encontrado	suas	raízes	na	expansão	territorial	
dos	franceses,	com	Napoleão	Bonaparte,	vista	a	unicidade	da	nação	francesa	em	
relação	à	fragilidade	dos	estados	germânicos.
 
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
90
Para	 a	 autora	 supracitada,	 o	 governo	 alemão,	 intuitivamente,	 atentou	
para	 a	 elevação	 de	 esforços	 na	 educação	 e	 elevação	 da	 formação	 de	 jovens,	
uma	 preparação	 dupla:	 mental/intelectual	 e	 física.	 Como	 diversas	 matérias	
apresentadas,	a	geografia	se	destacava	pelo	estudo	dos	continentes	da	Alemanha	
e	estados	prussianos,	além	da	geografia	comercial	e	das	relações	internacionais.	Já	
a	preparação	física	do	jovem,	incluída	no	currículo,	estava	baseada	nos	modelos	
gregos,	 como	 se	 exercitar	 ao	 ar	 livre.	 Consequentemente,	 todo	 esse	 apoio	
vislumbrou	respostas	futuras.
Como	os	alemães	conseguiram	os	resultados	positivos	frente	à	elevação	
categórica	da	geografia	escolar	para	o	auge	científico?	Com	base	nos	estudos	de	
Pereira	(1999),	foram	através	de	uma	série	de	medidas,	que	se	iniciou	no	século	
XVIII.
Medidas
•	 No	ano	de	1763,	o	ensino	primário	foi	instituído	como	obrigatório	para	o	sexo	
masculino.
•	 No	século	XIX,	no	ano	de	1839,	apenas	seriam	empregadas	crianças	a	partir	dos	
nove	anos	que,	minimamente,	tivessem	três	anos	concluídos	de	estudo.
•	 O	 ano	 de	 1860	 foi	 marcado	 pela	 escolarização	 obrigatória	 para	 todos	 os	
prussianos	dos	seis	aos	quinze	anos.
 
Respostas
 
•	 Desenvolvimento	da	geografia	universitária.
•	 Elevação	exponencial	do	número	de	docentes.
•	 Queda	das	taxas	de	analfabetismo.
•	 Presença	da	disciplina	de	geografia	em	toda	ampla	rede	de	ensino,	nos	níveis	
fundamentais	e	médio	(referentes	aos	dias	atuais).
•	 Em	1870,	a	Alemanha	vence	a	França	na	guerra	franco-prussiana,	tendo,	como	
álibi,	o	ensino	da	austeridade,	objetividade	e	reconhecimento	espacial.
•	 Superioridade	do	modelo	de	ensino	alemão.
 
Chegamos	ao	ponto	crucial,	o	início	da	história	do	pensamento	geográfico	
quando	se	centralizam	as	duas	escolas	principais:	a	francesa	e	a	alemã.	É	possível	
que	vocês	tenham	em	mente	o	desenrolar	dessa	perspectiva	da	geografia,	mas,	de	
todo	modo,	propomos	um	breve	resgate,	um	resumo	epistemológico.
 
Até	 a	 concretização	 e	 formulação	das	 vertentes	 humanística	 e	 cultural,	
a	busca	por	um	objeto	de	análise	e	método	de	pesquisa	na	geografia	percorreu	
décadas	e	entrou	em	séculos,	portanto,	apresentaremos	o	 início	dos	pontos	de	
partida	da	escola	alemã	e,	posteriormente,	da	francesa,	contudo,	não	será	objetivo,	
aqui,	aprofundar	tais	acontecimentos.
 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
91
O	exposto	a	seguir	apresentará	três	geógrafos	representantes	do	primeiro	
ciclo	científico	da	geografia	alemã:	Kant,	Alexander	Von	Humboldt	e	Karl	Ritter.	
Eles	trabalharam	pela	concretude	geográfica	nos	âmbitos	acadêmico	e	pedagógico.	
O	primeiro,	no	período	do	século	XVIII,	e,	os	outros	dois,	foram	contemporâneos	
do	seguinte	século.
FIGURA 8 – GEOGRAFIA ALEMÃ - KANT, ALEXANDER VON HUMBOLDT E KARL RITTER
Kant
O	primeiro	professor	a	
ensinar	geografia	física	
nos	anos	1756-1796	
na	Universidade	de	
Königsberg
Humboldt (1769-1859)
Prussia.
Naturalista/Comparativo.
Geográfo	explorador.
Dominio	natural:	composições	
geológica	e	mineralógica.
Fundador	da	geografia	
moderna.
Perfil	de	natureza	científica.
Alto	escalão	do	Estado	alemão.
Participante	dos	processos	
de	unificação	alemã	e	
desenvolvimento	capitalista.
Karl Ritter (1779-1859)
Saxônia	alemã.
Idealista/Histórico.
Geógrafo	de	gabinete.
Dominio	das	ciências	humanas:	
filosofia	e	história.
Fundador	da	geografia	
moderna.
Perfil	de	natureza	pedagógica.
Alto	escalão	do	Estado	alemão.
Participante	dos	processos	
de	unificação	alemã	e	
desenvolvimento	capitalista.
FONTE: Adaptado de Pereira (1999)
Como	um	quebra-cabeça,	que	possui	inúmeras	peças	e	precisa	ser	montado,	
a	geografia	do	final	do	século	XVIII	sinalizava	para	uma	possível	ação	conjunta	
que	unisse	os	vários	elementos,	que	se	alinhasse	ao	campo	de	conhecimento	para	
a	sistematização.	Muitos	dos	elementos	estudados	pela	geografia	também	eram	
objetos	de	análise	de	outras	ciências,	situação	que	gerou	a	 intencionalidade	de	
personalizá-la	como	o	ato	da	descrição	da	superfície	terrestre	(SODRÉ,	1982).
 
Diante	de	uma	 longa	busca	por	um	objeto	de	 análise,	 e	 com	a	 terra	 já	
dimensionada,	a	pergunta	seria:	o	que	será	da	geografia	enquanto	ciência,	já	que	
foram	concluídas	as	tarefas	de	conhecer	e	descrever	a	superfície	da	Terra?	Então,	
surge	a	necessidade	de	saber	o	que	existe	em	cada	lugar	da	Terra,	passando	a	se	
preocupar	 com	os	 assuntos	da	diferenciação	dos	 espaços,	 além	das	 interações	
entre	o	homem	e	o	meio	(FERREIRA;	SIMÕES,	1994).	
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
92
Apesar	de	eles	serem	considerados	os	fundadores	da	ciência	geográfica,	
manterem	certa	proximidade,	e	trabalharem	na	mesma	linha	de	frente,	Humboltd	
e	Ritter	apresentaram	dicotomias	entre	si:
Humboldt	 era	 um	 grande	 naturalista	 e	 explorador.	 Seus	 escritos	
são	resumos	de	viagens,	anotações	resultantes	da	observação	direta.	
Além	da	estrutura	descritiva,	há	uma	intenção	deliberada	de	verificar	
as	 relações	 de	 interdependência	 entre	 os	 fenômenos	 e	 as	 leis	 que	
determinam	a	distribuição	 espacial.	A	um	 certo	 privilegiamento	do	
enfoque	 natural,	 associa-se	 a	 utilização	 do	método	 comparativo.	A	
geografia,	para	ele,	aparece	como	uma	disciplina	sintética	que,	através	
da	 articulação	 entre	 os	 diversos	 elementos,	 busca	 a	 causalidade	
existente	na	natureza	(PEREIRA,	1999,	p.	125).
Humboldt	 apresentou,	 claramente,	 nas	 suas	 pesquisas,	 dois	 princípios	
para	a	geografia,	os	quais	a	diferenciavam	das	demais	ciências.	O	primeiro	é	o	
da	causalidade,	ou	seja,	um	único	 fato	não	era	o	bastante	para	 fazer	a	 relação	
de	causa	e	consequência,	era	apenas	um	fato	 isolado.	O	segundo	é	o	princípio	
da	geografia	geral,	cujo	objetivo	está	em	assegurar	que	nada	no	globo	terrestre	
pode	ser	analisado	ou	visto	de	maneira	independente	do	todo.	Essa	integração	
proporcionaum	conhecimento	rico	e	denso.	
Para fortalecer a aprendizagem, sugerimos um curto vídeo acerca do naturalista, 
diplomata e geógrafo Alexander Von Humboldt. O pequeno documentário aborda quem foi 
o cientista Alexander Von Humboltd, além dos seus importantes relatos de expedições pela 
América Latina e suas perspectivas de pesquisas no século XIX: https://www.dw.com/pt-br/
alexander-von-humboldt-o- pesquisador-que-redescobriu-a-américa-latina/av-36680466.
DICAS
Com	 um	 perfil	 de	 conhecimento	 pedagógico	 e	 normativo,	 Ritter	
complementou	o	meio	geográfico,	segundo	suas	experiências	enquanto	professor	
da	Universidade	de	Berlim,	com	uma	geografia	comparada.
 
Ritter,	 ao	 contrário,	 opta	 pelo	 enfoque	 histórico,	 e	 vê	 o	 espaço	
terrestre	 como	 o	 teatro	 da	 história,	 considerando	 que	 a	 maior	
harmonia	entre	o	homem	e	a	natureza	se	produz	nos	momentos	de	
maior	 desenvolvimento	 cultural.	 Ritter	 é,	 sobretudo,	 um	 geógrafo	
de	gabinete	que	produz	suas	obras	a	partir	da	 leitura	de	uma	vasta	
literatura	geográfica	(PEREIRA,	1999,	p.	125).	
O	 saxônico	 apresenta	 uma	 geografia	 baseada	 em	 relações	 entre	 dois	
universos	anteriormente	separados:	o	ambiente	natural	e	o	homem.	Basicamente,	
Ritter	descreveu	lugares	e	sua	interação	entre	o	físico	e	a	apropriação	humana,	e	cada	
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
93
área	descrita	possuía	sua	singularidade,	pois	apenas	nela	ocorriam	combinações	
de	 fenômenos	 únicos.	 O	 empenho	 pela	 compreensão	 do	 desenvolvimento	
humano,	atrelado	à	relação	do	homem	e	meio	ambiente,	fortalece	a	discussão	da	
totalidade	implantada	na	sua	obra.
Humboldt	 e	Ritter	 chegaram,	 juntos,	 à	 compreensão	 científica	da	visão	
geográfica	pela	totalidade,	visando	romper	com	a	implantação	dualista,	mesmo	
que	 seus	 meios	 de	 pesquisas	 fossem	 distintos.	A	 representação	 da	 igualdade	
colocou	 o	 universo	 físico,	 referente	 à	 geografia	 geral,	 e	 o	 outro,	 representante	
da	 geografia	 regional,	 como	duplamente	 essenciais.	A	união	marcou	o	fim	da	
perseguição	pela	divisão	da	antiguidade	clássica,	mas	datou	um	novo	momento	
para	 a	 separação	 e	 submissão	 entre	 geografia	 humana	 e	 física.	 Tal	 marco	 foi	
referenciado	pelo	positivismo.
 
A	partir	de	 então,	 a	geografia	ganhou	um	novo	 capítulo,	baseado,	não	
apenas,	no	saber	superficial,	mas	na	perspectiva	sistematizada	da	ciência.	Pode-
se	dizer	que	chegou	a	era	da	geografia	moderna.	Com	novas	participações,	o	fim	
do	século	XIX	apresenta	o	geógrafo	alemão	Friedrich	Ratzel	e	o	francês	Paul	Vidal	
de	La	Blache,	dois	novos	nomes	que	se	destacaram	na	elaboração	da	geografia	
científica	dos	séculos	XIX	e	XX.
 
Em	 linhas	gerais,	 trouxemos	uma	exposição	breve	de	 fatos	de	outrora.	
Certamente,	a	partir	de	agora,	você	pode	fazer	a	ligação	entre	as	Unidades	1	e	
2,	 quando	 abordamos,	 introdutoriamente,	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 e	 as	
influências	das	escolas	alemã	e	francesa.
 
Acadêmico,	 a	 partir	 de	 agora,	 iremos	para	 um	novo	 ciclo	 científico	da	
geografia	contemporânea.
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA 
CULTURAL: UMA BREVE COMPREENSÃO 
A	 princípio,	 gostaríamos	 de	 perguntar:	 o	 que	 significa	 a	 palavra	
contemporâneo?	 Você	 saberia	 explicar	 dentro	 do	 contexto	 geográfico?	 Sim,	
vamos	 construir	 o	 raciocínio	 a	partir	do	ponto	de	vista	da	 idade	 e	do	mundo	
contemporâneo.	A	idade	contemporânea	reflete	a	passagem	do	século	XVIII,	da	
idade	moderna	para	o	século	atual,	XXI,	que	se	refere	à	idade	contemporânea.
O	 mundo	 contemporâneo	 não	 marginaliza	 a	 discussão	 a	 respeito	 do	
tempo,	ao	contrário,	um	complementa	o	outro.	Podemos	dizer	que	existe	uma	
relação	 alinhada	 de	 tempo,	 sociedade	 e	 espaço	 na	 configuração	 dos	 estudos	
contemporâneos	da	geografia	em	questão.	
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
94
O	percurso	 dessas	 transformações	 espaciais	 atravessou	 séculos,	 e	 cada	
uma	marcou	 as	 relações	 socioespaciais	 de	 forma	 contínua	 e	 complementar.	A	
princípio,	 tivemos	uma	 forte	 revolução	política	 e	 social	 e,	 posteriormente,	 um	
impacto	com	a	revolução	econômica,	trocando	em	miúdos.	
A	 primeira	 discursou	 acerca	 da	 igualdade,	 divisões	 de	 terras,	 com	 a	
aplicação	da	reforma	agrária	e	a	liberdade	governativa;	a	segunda	se	baseou	nas	
transformações	econômicas	e	comerciais	em	virtude	das	revoluções	industriais,	
com	um	ritmo	de	produção	acelerado.	O	mundo	capitalista	analisou	suas	criações	
e	inovações	e	aprofundou	as	divisões	de	classes.	Toda	essa	formatação	do	mundo	
influenciou,	diretamente,	com	o	desenvolver	das	geografias.
No	artigo	New directions in cultural geography,	em	português	Novos rumos 
da geografia cultural,	publicado,	originalmente,	nos	anos	de	1987,	e	traduzido	por	
Márcia	Trigueiro,	em	2011,	Denis	E.	Cosgrove	e	Petter	Jackson	reafirmam	que	as	
diversas	perspectivas	das	análises	da	geografia	cultural	passaram	a	ser	renovadas.
Como	já	apresentado,	havia	um	contexto	de	renovação	e	inquietação	da	
ciência	geográfica	no	fim	de	1960	e	início	de	1970,	pelas	tantas	possibilidades	e	
novas	perspectivas	em	relação	às	matrizes	epistemológicas,	principalmente,	com	a	
inclusão	dos	materialismos	histórico	e	dialético	no	âmbito	das	academias	inglesas	
(CORRÊA,	 2011).	 Segundo	 Cosgrove	 e	 Jackson	 (2011,	 p.	 135),	 “os	 progressos	
da	geografia	cultural	radical	 foram	focalizados	numa	edição	recente	da	revista	
Antípode”.
Como	 outras	 matrizes	 epistemológicas	 antagônicas	 aos	 materialismos	
histórico	e	dialético	se	desenvolviam	colateralmente,	a	exemplo	da	fenomenologia	
e	da	hermenêutica,	uma	se	dedicou	à	geografia	humanística,	com	o	Yi-Fu	Tuan,	
e,	 a	 outra,	 mais	 fortemente	 à	 nova	 geografia	 cultural,	 mas	 não	 se	 nega	 que,	
basicamente,	essa	tríade	inspirou	a	nova	geografia	cultural	(CORRÊA,	2011).
O	processo	de	renovação,	de	maneira	incisiva,	iniciou	na	escola	sauariana,	
nos	Estados	Unidos,	com	a	crítica	de	Duncan	diante	da	perspectiva	da	visão	da	
cultura	supraorgânica	de	Sauer	e	seus	discípulos.
Na	 Inglaterra,	 Peter	 Jackson,	 no	 ano	 de	 1980,	 tentava	 um	 elo	 entre	 a	
geografia	cultural	e	a	geografia	social,	com	base	e	método	da	antropologia	social	
(COSGROVE,	 2011),	 portanto,	 foi	 criada,	 semelhantemente	 à	 geografia	 norte-
americana,	a	geografia	cultural	inglesa	(CORRÊA,	2011).
Segundo	 Cosgrove	 (2011),	 nas	 produções	 da	 geografia	 cultura	 radical,	
inicialmente,	 foi	 trabalhada	 a	 perspectiva	 teórica,	 com	 produções	 literárias	
culturais,	 política	 relacionada	 ao	 lugar,	 culturas	 dominantes	 e	 subordinadas,	
especificidades	 e	 tensões	 culturais	 demonstradas	 nas	 paisagens	 políticas	 e	
próprias	daquele	lugar	(vernacular).
 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
95
Essa	 geografia	 cultural	 inglesa	 foi	 profundamente	 influenciada	 pelas	
ideias	desenvolvidas	no	Entre	for	Contemporary	Cultural	Studies,	da	
Universidade	de	Birmingham,	liderado	por	Stuart	Hall.	Foi	influenciada,	
também,	 por	 Raymond	 Williams,	 professor	 em	 Oxford.	 Williams	
critica	 a	 visão	 de	 cultura	 como	 superestrutura,	 admitindo-a	 como,	
simultaneamente,	 reflexo,	meio	 e	 condição.	Por	outro	 lado,	distingue	
as	culturas	dominante,	residual	e	emergente,	resgatando,	ainda,	a	ideia	
gramsciana	da	hegemonia	cultural	(CORRÊA,	2011,	p.	8).
Partiu-se	do	princípio	de	que	essa	“nova	geografia”	foi	formada	por	uma	
alquimia	 de	 combinações	 distintas,	 então,	 pode-se	 reconhecer	 o	 “[...]	 legado	
saueriano,	 a	 contribuição	 da	 tradição	 inglesa	 da	 geografia	 social,	 assim	 como	
os	aportes	da	fenomenologia,	hermenêutica,	materialismos	histórico	e	dialético,	
ciências	sociais,	como	a	antropologia	interpretativa,	linguística,	história	da	arte	e	
a	semiótica”	(CORRÊA,	2011,	p.	8).
 
Percebe-seque	 o	 caminho	 rumo	 ao	 futuro	 são	 os	 olhares	 diversos	 que	
contribuem	 e	 ampliam	 conhecimentos	 frente	 às	 discussões	 com	 outras	 áreas,	
para	que	o	debate	seja	enriquecido.	A	geografia	cultural	 tende	a	buscar,	desde	
1980,	a	democratização	dos	debates	entre	perspectivas	da	 linha	sauariana,	não	
sauarianas	e	dos	representantes	da	“nova”	geografia	cultural.
Caso você tenha interesse em conhecer, um pouco mais, a respeito da 
geografia cultural, indicamos o artigo Não existe aquilo que chamamos de cultura: para 
uma reconceitualização para a ideia de cultura para a geografia, de Don Mitchell. Acesse: 
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/7074/5009.
 A segunda leitura congrega quatro artigos compostos por Peter Jackson, Denis 
Cosgrove, James Duncan e Nancy Duncan. 
1 – A ideia de cultura: uma resposta a Don Mitchell.
2 – Ideias e cultura: uma resposta a Don Mitchell.
3 – Reconceitualizando a ideia de cultura em geografia: uma resposta a Don Mitchell.
4 – Explicação em geografia cultural: uma resposta a Cosgrove, Jackson e aos Duncans. 
Acesse: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/7075/5010.
DICAS
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
96
Frente	a	essa	inquietação,	a	geografia	francesa	também	buscou	encontrar	
um	caminho	rumo	à	nova	perspectiva	da	geografia	cultural.	
De	 acordo	 com	 Claval	 (2011),	 esse	 momento	 foi	 separado	 em	 duas	
etapas:	primeiramente,	deu-se	a	fase	do	conhecimento,	com	um	caráter	curioso	e	
principiante	de	descobertas	acerca	das	novas	possibilidades	dessa	nova	geografia;	
depois,	houve	a	utilização	da	compreensão	da	geografia	cultural	para	transformar	
a	perspectiva	até	então	estabelecida	pela	geografia	humana	em	detrimento	das	
ciências	naturais.
As	 possibilidades	 de	 descobertas	 pelos	 geógrafos	 franceses	 pairaram	
os	 domínios	 estabelecidos	 pela	 cultura	 que,	 de	 fato,	 fazia	 frente	 com	 um	
entendimento	da	geografia	humana,	ou	seja,	a	geografia	humana	discutindo	fatos	
relacionados	à	cultura,	a	exemplo	da	cultura	como	espaço	vivido,	a	função	dos	
sentidos	e	corpo	na	geografia	cultural,	as	dimensões	das	representações,	imagens	
mentais	e	discurso	como	abordagem	cultural	na	geografia.
A	 crítica	 estabelecida	 por	 Armand	 Frémont,	 contra	 as	 análises	
neopositivistas	 atenuadas	 nos	 anos	 “entas”,	 contribui	 para	 formalizar	 o	 novo	
momento	em	que	a	geografia	renascia.	Ele	afirmou	que	não	era	possível	analisar	
as	singularidades	das	paisagens,	nem	dos	habitantes,	a	partir	de	uma	narrativa	
sintética	ou	natural,	mas	“a	geografia	tinha	que	falar	das	formas,	das	cores,	dos	
cheiros,	dos	sons,	dos	ruídos”	(CLAVAL,	2011,	p.	158).
 
O	modo	Frémont	de	fazer	geografia	pelos	olhos	da	cultura,	como	espaço	
vivido,	 contagiou	 seus	 pares	 franceses,	 que,	 por	 sua	 vez,	 descobriram,	 em	
pesquisas,	que	parte	da	sociedade	não	conseguia	expressar	suas	identidades	sem	
se	relacionar	com	o	espaço	vivido,	onde	reside	e	constrói	suas	vidas.	Dentre	os	
estudiosos,	há	Jean	Pierre	Raison,	que	identificou	a	sociedade	do	espaço	vivido	
como	“sociedade	geográfica”;	 Joël	Bonnemaison,	que,	a	partir	da	sua	pesquisa	
na	ilha	de	Vanuantu,	localizada	ao	norte	do	território	francês,	apontou	para	uma	
geografia	 concebida	 e	 vivenciada	 por	 essa	 população;	 Augustin	 Berque,	 um	
exemplo	de	pesquisador	e	geógrafo	que	trabalhou	para	compreender	o	espaço	
vivido	dos	japoneses	e	a	sociedade	oriental,	com	a	obra	“Vivre	L	espace	au	Japon”;	
e	Robert	Pitter,	com	uma	temática	até	então	pouco	discutida,	porém	curiosa,	a	
respeito	dos	espaços	da	morte	e	dos	mortos	(CLAVAL,	2011).
 
Um	 dos	 principais	 gatilhos	 para	 a	 compreensão	 de	 outras	 dimensões	
estudadas	pela	geografia	humana,	de	cunho	cultural,	foi,	sem	dúvida,	o	estudo	
dos	espaços	vividos,	além	de	outras	possibilidades	de	análise,	a	exemplo	do	papel	
dos	“sentidos”	e	do	“corpo”.	
Apesar	de	interessante,	a	geografia	de	gênero	foi	um	dos	assuntos	pouco	
explorados,	no	entanto,	os	estudos	dos	sentidos,	na	geografia,	reinventaram-se	
em	tantas	outras	versões,	como	a	geografia	dos	sons,	dos	cheiros	e,	inclusive,	dos	
gostos	(CLAVAL,	2011).
 
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À 
INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
97
Caro	 acadêmico,	 seria	 possível	 você	 compreender,	 a	 partir	 de	 fatos	
pessoais,	algumas	dessas	dimensões	estudadas	pela	geografia?	Existem	estímulos	
que	 lhe	 aproximarão	 dos	 aspectos	 subjetivos	 da	 análise	 da	 geografia	 cultural.	
Imaginamos	que,	em	algum	momento	da	sua	vida,	lugares	ou	paisagens	trazem,	
à	memória,	sensações,	cheiros,	sabores	e	o	enraizamento	cultural	que	te	faz,	em	
instantes,	conectar-se,	sensorialmente,	a	uma	experiência	vivida.
Na	 geografia	 francesa,	 dentre	 todos	 os	 sentidos,	 o	 mais	 aplicado	 às	
análises	culturais	foi	a	visão.	O	tema	em	questão,	a	paisagem,	anteriormente,	era	
lidada	 como	 funcionalista	 ou	 arqueológica,	 e,	 a	 partir	 das	 novas	perspectivas,	
uma	dimensão	objetiva	e	subjetiva,	o	olhar	e	a	 relação	entre	a	paisagem	como	
marcas	da	cultura	e	a	paisagem	como	matriz	da	cultura	foram	assinalados	como	
via	de	mão	dupla	na	década	de	1990,	por	Augustin	Berque.	A	obra	Lá médiance 
compreendeu	 as	 relações	homem/meio	 ambiente,	 segundo	o	 entendimento	da	
influência	recíproca,	(CLAVAL,	2011).
 
Para	a	compreensão	da	natureza	da	geografia	humana,	Berque	produziu	
o L’ ecumène,	 e	 entende-se	 que	 “[...]	 o	 ecumène	 está	 presente	 na	 mente	 dos	
indivíduos,	e	as	paisagens	são	marcadas	pelos	sonhos	e	planos	dos	indivíduos:	
as	 pessoas	 necessitam	 ancorar	 as	 suas	 identidades	 na	 realidade	 circundante”	
(CLAVAL,	2011,	p.	162).
Outros	domínios	foram	as	representações,	imagens	mentais	e	discursos.	
Um	exemplo	de	estudo	foi	conduzido	por	Debarbieux.	Com	relação	a	algumas	
representações	mentais,	teve,	como	objetivo,	analisar	áreas	naturais	frias,	com	a	
imagem	dos	alpes,	neve,	população	local	e	turistas,	além	de	nomes	estabelecidos	
para	 alguns	 maciços	 montanhosos.	 Michel	 Lussault,	 por	 exemplo,	 analisou	
discursos	políticos,	com	o	poder	de	persuasão	para	 investimentos	econômicos,	
relacionados	à	implantação	da	indústria	e	serviços.		
98
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Existe	uma	diferença	entre	o	conhecimento	geográfico	e	a	ciência	geográfica.	
Segundo	uma	linha	cronológica	ou	temporal	estipulada	desde	a	pré-história	
até	 parte	 da	 Idade	 Moderna,	 o	 conhecimento	 geográfico	 foi	 alinhado	 à	
transformação	que	ocorria	com	a	sociedade,	a	princípio,	com	as	breves	noções	
e	 conexões	 que	 o	 homem	 sem	 vínculo	 científico	 tinha	 com	 o	 espaço	 e	 os	
elementos	geográficos	via	curiosidade	e	experiências	despretensiosas.
•	 Uma	conexão	entre	elementos	da	ordem	cultural	era	muito	comum,	a	exemplo	
da	influência	religiosa	na	formação	social	e	do	conhecimento.	Existia,	sempre,	
uma	relação	muito	forte	em	torno	da	relação	homem,	espaço	e	religião,	o	que	
contribuía	para	a	formação	do	conhecimento,	embora,	ainda,	não	tenha	caráter	
científico.	A	princípio,	 as	 cavernas	 eram	 compreendidas	 como	 santuários;	 a	
formação	da	localização	espacial	através	dos	primeiros	mapas,	a	exemplo	do	
T-0;	o	mapa	que	priorizou	Jerusalém	numa	posição	central,	e	com	um	desenho	
semelhante	à	cruz,	símbolo	cristão;	e,	até	mesmo,	as	escolhas	de	autoridades	que	
regiam	a	sociedade,	pois	elas	tinham	que	apresentar	uma	premissa	religiosa,	
que	pode	ser	compreendida	culturalmente.
•	 Um	 novo	 momento	 surge	 com	 a	 Idade	 Moderna	 e	 todos	 os	 movimentos	
insurgentes,	 a	 exemplo	 do	 iluminismo,	 quando	 ouve	 a	 democratização	 do	
conhecimento	com	os	novos	preceitos	econômicos	e	políticos	que	constituíram	
esse	período.	Um	nome	que	se	destacou	para	a	geografia	foi	o	de	Kant.	Sua	
trajetória	provocou	o	desenvolvimento	de	um	material	com	uma	identidade	
original	para	a	fase	da	geografia	próxima	à	sistematização	científica.
•	 Oensino	da	geografia	e	a	ciência	geográfica	nasceram,	a	princípio,	no	século	
XIX.	A	 sistematização	ocorreu	 entre	 as	duas	principais	 escolas,	 a	 francesa	 e	
alemã,	 em	 contextos	 diferenciados,	 porém,	 ambas	 contribuíram	 para	 as	
“novas”	perspectivas	da	geografia.	
 
•	 Os	novos	rumos	da	geografia	cultural	não	negaram	as	contribuições	da	escola	
sauariana	e	da	geografia	social.	Contudo,	foi	reconduzida	e	inspirada	a	partir	
do	desenvolvimento	de	matrizes	epistemológicas	referentes	aos	materialismos	
histórico	 e	 dialético,	 fenomenologia	 e	 hermenêutica,	 além	 das	 ciências	
colaboradoras,	a	exemplo	da	antropologia.
RESUMO DO TÓPICO 1
99
•	 A	 renovação	 da	 geografia	 ocorreu,	 intensamente,	 nos	 Estados	 Unidos,	 por	
críticas	 realizadas	 à	 escola	 sauariana	 e	 ao	 conceito	 do	 supraorgânico,	 por	
James	S.	Duncan,	em	1980.	Na	Inglaterra,	um	elo	foi	proposto	entre	a	geografia	
cultural	e	a	social,	por	Peter	Jackson.	Com	relação	às	primeiras	temáticas	da	
geografia	cultural	radical	(referentes	aos	materialismos	histórico	e	dialético),	
trabalhou-se	com	a	perspectiva	de	produzir	materiais	culturais	e	políticos	para	
explicar	categorias	da	geografia.	
•	 A	 geografia	 francesa	 também	 se	 atentou	 aos	 novos	 rumos,	 e	 se	 dedicou	 a	
trabalhar	em	busca	de	uma	base	cultural	para	a	geografia	humana,	a	exemplo	do	
estudo	do	espaço	vivido,	além	das	funções	dos	sentidos	e	corpo,	as	dimensões	
das	representações,	imagens	mentais	e	discursos	e	outros	domínios.	Destacamos	
Armand	Frémont,	Jean	–	Pierre	Raison,	Joël	Bonnemaison,	Augustin	Berque,	
Jean	–	Robert	Pitte	e	Bernard	Debarbieux.
100
1	 Os	 elementos	 e	 fenômenos	 geográficos	 são	 encontrados	 na	 superfície	
terrestre	 desde	 épocas	 pré-históricas,	 portanto,	 naquele	 momento,	 eles	
podiam	ser	considerados	conhecimento	geográfico	ou	ciência	geográfica?	
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	O	 	 homem	 obteve	 os	 primeiros	 conhecimentos	 da	 geografia	 por	
meio	de	 conexões	 com	o	 espaço,	gerando	a	 interpretação	de	mundo	
desde	as	civilizações	passadas,	porém,	esses	aspectos	geográficos	não	
eram	regidos	por	métodos	e	procedimentos	científicos,	mas	por	fatos	
superficiais,	ou	seja,	não	científicos.
b)	(			)	A	sistematização	da	geografia	não	tem	vínculo	com	o	“conhecimento	
geográfico”,	pois	são	definidos	em	tempos	distintos.	
c)	 (			)	O	homem	obteve	os	primeiros	conhecimentos	da	geografia	por	meio	
de	conexões	com	o	espaço,	gerando	a	interpretação	de	mundo	desde	
as	 civilizações	 passadas,	 portanto,	 tais	 aspectos	 vivenciados	 são	 de	
origem	científica.
d)	(			)	Tanto	o	conhecimento	geográfico	quanto	a	ciência	geográfica	podem	
ser	considerados	iguais,	pois	um	complementa	o	outro.
2	 A	 geografia,	 enquanto	 ciência,	 apresentou	 resistência	 ao	 tratar	 dos	
fenômenos	geográficos	com	base	cultural,	com	algumas	exceções.	Essa	falta	
foi	parcialmente	sanada	no	momento	de	renovação,	quando	novas	matrizes	
epistemológicas,	 teóricas	e	metodológicas	vieram	a	 ser	discutidas.	Quais	
dessas	filosofias	podem	ser	elencadas?
a)	(			)	Fenomenologia,	hermenêutica,	materialismos	histórico	e	dialético.
b)	(			)	Positivismo,	materialismos	histórico	e	dialético	e	fenomenologia.
c)	 (			)	Neopositivismo,	positivismo	e	estruturalismo.
d)	(			)	Teorético,	quantitativa,	fenomenologia	e	historicismo.	
3	 Com	relação	aos	autores	contemporâneos,	qual	foi	referência	por	criticar	a	
geografia	sauariana	no	ano	de	1980?
a)	(			)	Roberto	Lobato	Corrêa,	pois	Sauer	adotou	uma	política	antiurbana.
b)	(			)	Marvin	 W.	 Mikesell,	 pois,	 apesar	 de	 discípulo	 de	 Sauer,	 eles	 não	
concordavam	com	a	teoria											supraorgânica.
c)	 (			)	Yi-Fu	 Tuan,	 pois,	 enquanto	 representante	 da	 perspectiva	 radical,	
realizou	 uma	 crítica	 fundamentada	 nos	 materialismos	 histórico	 e	
dialético,	 indicando	 que	 a	 teoria	 supraorgânica	 não	 legitimava	 a	
geografia	cultural.
d)	(			)	James	Duncan,	pois	realizou	uma	crítica	severa	a	respeito	da	geografia	
cultural	sauariana	e	sua	visão	de	cultura	com	entidade	supraorgânica,	
pois	não	considerava	a	cultura	como	autônoma,	acima	da	sociedade	e	
detentora	dos	poderes	explicativos.
AUTOATIVIDADE
101
UNIDADE 2
TÓPICO 2 — 
APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA 
COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	 esta	 fase	 compreende	 uma	 singela	 parte	 do	 processo	 de	
renovação	 da	 geografia	 cultural,	 que	 se	 distribuiu	 em	 pesquisas	 bases	 com	
nomes	 de	 referência	 para	 a	 ciência,	 ressignificação	 de	 conceitos,	 persistência	
e	desafios	para	 a	produção	do	 conhecimento,	na	 área	da	geografia,	para	 além	
das	influências	econômicas,	políticas	e	relações	de	classe	sociais.	Esse	momento	
sinaliza	as	novas	dimensões	dos	estudos	a	respeito	da	evolução	das	discussões	
e	narrativas	ancoradas	no	espaço	frente	às	dinâmicas	culturais.	A	interpretação	
dimensiona	a	cultura,	espaço	e	tempo,	mediante	suas	ocorrências	nos	caráteres	
material	e	imaterial.
Seja	bem-vindo	ao	Tópico	2	da	Unidade	2!	A	partir	de	agora,	convidamos	
você	 a	 aprofundar	 os	 estudos.	 Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidos,	 além	 da	
introdução	às	temáticas,	dois	assuntos	complementares:	Paul	Claval	e	os	estudos	
culturais	e	formas	simbólicas	espaciais.	Ao	fim	das	leituras,	serão	introduzidos	o	
resumo	referente	ao	tópico	e	as	autoatividades.
Introduziremos	 as	 contribuições	 do	 autor	 francês	 Paul	 Claval	 e	 seu	
dinamismo	 na	 geografia	 cultural	 a	 respeito	 da	 relação	 do	 homem	 x	 espaço	 e	
cultura.	 A	 proposta	 de	 apresentar	 o	 geógrafo	 como	 referência	 está	 pelo	 seu	
papel	de	destaque	na	atualidade,	que,	de	maneira	generosa,	busca	interpretar	a	
história	ou	natureza	das	relações	sociais	e	culturais.	Claval	apresenta,	com	muita	
destreza,	simplicidade	e	leveza,	desde	os	temas	acirrados	do	pensamento	histórico	
geográfico	aos	temas	vivenciados,	diariamente,	por	geógrafos	e	não	geógrafos,	
mas,	que	outrora,	foram	impedidos	de	ser	chamados	de	trabalhos	científicos.	Ele,	
a	partir	de	uma	base	 teórica	 interdisciplinar,	 sai	do	óbvio	 e	objetivo	 e	propõe	
significar	os	conceitos	por	hora	enrijecidos,	propondo	discussões	das	expressões	
culturais,	espaços	e	grupos	sociais.
 
Ainda,	haverá	a	discussão	de	um	assunto	pertinente	às	novas	concepções	
da	geografia	cultural	após	1970:	as	formas	simbólicas	e	suas	espacialidades.	Essa	
relação	opta	por	um	caminho	crítico,	humano	e	simbólico,	material	e	imaterial,	a	
respeito	das	perspectivas	tradicionais	da	geografia.
102
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Confiamos	a	introdução	do	estudo	em	questão	ao	autor	Roberto	Lobato	
Corrêa,	geógrafo	brasileiro	que	trabalha	com	as	áreas	da	geografia	urbana	e	da	
geografia	cultural,	ou	seja,	os	estudos	urbanos	no	âmbito	da	geografia	cultural	
renovada.	A	partir	da	exposição	de	Corrêa,	traremos	alguns	exemplos	de	alguns	dos	
assuntos	relacionados	às	formas	simbólicas	espaciais	construídas	pela	sociedade,	
além	da	dinâmica	da	vida	mediante	o	poder,	simbolismo/memorialização,	tempo	
(passado,	presente	 e	 futuro),	 forças	 opostas	 entre	 concordâncias,	 contradições,	
diferenças,	igualdade,	celebração	e	altercação.		
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS
O	século	XX	foi	marcado	por	inúmeros	acontecimentos,	principalmente,	
nos	âmbitos	tecnológico	e	científico,	os	quais,	juntos,	favoreceram	a	cientificidade	
da	geografia.	Claramente,	a	ótica	de	ler	o	espaço	deixou	de	ser	uma	via	única,	
mas	tornou-se	democrática	e	dinâmica,	ao	final	da	segunda	metade	do	século	XX	
(assunto	que	pode	ser	compreendido	na	Unidade	1).	Para	tal	evolução	na	ciência	
geográfica,	nomes	conhecidos	entre	os	acadêmicos	da	geografia	representaram	
esse	quadro	de	mudanças,	sendo,	um	deles,	o	francês	Paul	Claval.
Nascido	 no	 ano	 de	 1932,	 na	 comuna	 de	Meudon,	 um	dos	 vilarejos	 da	
Idade	Medieval,	 considerada	a	menor	e	mais	antiga	subdivisão	administrativa	
da	França,	Claval	partiu	vinte	e	três		anos	mais	tarde,	no	ano	de	1955,	e	iniciou	
seus	primeirospassos	da	sua	longa	jornada	na	geografia,	primeiramente,	como	
professor	 em	 escolas	 secundárias	 (1955-1960),	 depois,	 como	 conferencista	 e	
professor	 da	 Universidade	 de	 Besançon	 (FRA),	 professor	 na	 Universidade	 de	
Paris	XIII	–	Nord,	conquistando,	enfim,	a	vaga	de	catedrático,	na	Universidade	
de	Paris	IV	–	Sorbonne	(1973-1998),	e	Emérito,	em	1998.
 
Com	 uma	 característica	 versátil,	 ele	 não	 se	 apegou	 a	 um	 fenômeno	
específico,	mas	 permitiu,	 na	 sua	 vida	 acadêmica,	 gostar	 de	 aprender,	 ser	 um	
observador	entusiasmado	em	descobrir	o	novo,	motivo	pelo	qual	percorreu	os	
cinco	continentes	até	então	definidos.	Tal	ato	o	aproximou	dos	exímios	geógrafos	
anteriores	a	ele,	pois	sua	percepção	dos	continentes,	países	e	capitais	do	mundo	
o	gabaritou	para	desenvolver	ricas	produções	nas	geografias	cultural,	regional,	
econômica	e	epistemologia	da	geografia.	Com	um	trato	singular,	suas	observações	
aglutinaram	 traços	da	 escola	 francesa,	 além	do	movimento	de	 renovação,	 que	
cercou	transformações	para	a	compreensão	das	categorias	da	geografia.
Pode-se	dizer	que	Claval	foi	um	dos	precursores	da	renovação	geográfica	
do	século	XX.	Da	França	para	o	mundo,	o	catedrático	fomentou,	nas	suas	obras,	
a	 criação	 dos	 ramos	 da	 geografia	 e	 gerou	 a	 importância	 dos	 outros	 campos	
geográficos	outrora	menosprezados,	motivo	que	o	tornou	um	referencial	para	a	
academia.	
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
103
As	 suas	 obras,	 para	 além	 das	 fronteiras	 francesas,	 foram	 reconhecidas	
e	 traduzidas	 para	 inúmeros	 idiomas.	 Temos,	 por	 exemplo,	 o	Espaço e poder,	 a	
Geografia cultural,	os	Princípios de geografia social,	a	Geografia econômica e A lógica 
das cidades.	Ao	todo,	Claval	publicou	40	livros	e	uma	média	acima	dos	700	artigos	
científicos.
Marcante	na	sua	trajetória,	Claval	conquista	reconhecimentos	e	prêmios	
internacionais.	Assim,	listaremos	alguns	títulos	encontrados	no	seu	currículo:	em	
1992,	tornou-se	fundador	da	revista	Géographie	et	cultures,	doutor	honoris	causa	
das	Universidades	de	Genebra	(1980),	Trieste	(1997),	Trento	(1998),	Buenos	Aires	
(1999),	Tsukuba	(1999),	Roma	(2001)	e	Montreal	(2008).	No	ano	de	1996,	recebeu	
o	prêmio	internacional	Vautrin	Lud,	e,	em	2004,	o	prêmio	de	prestígio	da	União	
Geográfica	Internacional	(IGU)	–	Lauréat	d'honneur.
O que significa o prêmio Vautrin Lud?
 Criado pelo festival internacional de geografia em Saint-Dié-des-Vosges. Para os 
geógrafos, o Vautrin Lud é um prêmio notável, consagrado como o “Nobel da Geografia”. Ele 
foi um meio que a comunidade científica encontrou para reconhecer geógrafos autores de 
contribuições significativas para a ciência da geografia, já que o prêmio Nobel não abrange 
essa categoria científica. No ano de 2020, o prêmio completa 29 anos de existência, e vem 
sendo um canal de propagação de nomes internacionais. 
 Anualmente, desde 1991, aqueles que fazem a diferença com suas obras e meio 
de pesquisa são selecionados, e, assim como toda seleção, existe um tramite a ser seguido, 
com o Vautrin Lud não é diferente. Em etapa eliminatória, 240 profissionais da geografia 
escolhem alguns nomes para ser levados ao júri final, que é composto por cinco geógrafos 
de distintas nacionalidades, e, a partir das análises minuciosas das obras é que sairá o 
geógrafo coroado do ano. No Brasil, apenas Milton Santos teve esse reconhecimento, 
datado no ano de 1994.
 Por traz da escolha da cidade e do nome do prêmio, existem algumas curiosidades 
e simbolismos para a geografia. Foi, na pequena Saint-Dié-des-Vosges, nordeste da França, 
que a “América” teve seu nome consagrado por Martin Waldseemüller, o criador do mapa 
mundi, em 1507 (o primeiro mapa que apresentou o mundo em quatro partes: a Europa, 
a América do Sul, a América do Norte e a América), diferente do mapa da Figura 7. Essa 
nomenclatura, curiosamente, teve, como influência, o nome do navegador e cartógrafo 
“Américo Vespúcio”, aquele que afirmou ter primeiro encontrado o continente da América 
nas suas navegações.
 Vautrin Lud foi um cônego, líder religioso e estudioso da cosmografia. Ele dirigia 
uma equipe dos trabalhos referentes aos mapas e, a partir da conciliação das informações 
das expedições marítimas, elaborava representações dos continentes. Uma das imagens 
mais esperadas e emblemática foi o mapa do novo mundo, que teve, como parceiro, o 
integrante acadêmico Martin Waldseemüller.
NOTA
104
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Prêmio IGU – Lauréat d'honneur
 O prêmio Lauréat d'honneur é oferecido pela união geográfica internacional desde 
1976, e destina-se a um público que se destaca com pesquisas, obras emblemáticas ou 
com trabalhos prestados à união geográfica internacional, no campo da geografia ou meio 
ambiente. Para mais informações, acesse: https://igu-online.org/about-us/roll-of-honour/.
DICAS
Na	geografia	brasileira,	Claval	tem	genuína	contribuição,	principalmente,	
quanto	à	inclusão	dos	estudos	da	geografia	cultural.	Segundo	Almeida	e	Arrais	
(2013),	os	 elos	 formados	por	Claval	provêm	da	 sua	primeira	visita	ao	país,	no	
ano	de	1986,	e,	posteriormente,	quando	um	dos	seus	livros	foi	traduzido	para	a	
língua	portuguesa,	em	1999,	motivo	pelo	qual	houve	uma	aproximação	entre	os	
acadêmicos	brasileiros	e	o	francês	estudioso	da	geografia	cultural.	Em	parceria	
com	 Kozel	 e	 Sousa,	 em	 2007,	 Claval	 participou	 de	 uma	 expedição	 chamada	
“Amazônica”,	 pois	 se	 distribuiu	 nos	 territórios	 de	 Roraima	 e	 Amazonas.	 O	
objetivo	era	percorrer	cidades,	comunidades	ribeirinhas	com	pouca	terra	e	muito	
água.	 Referimo-nos	 aos	 rios,	 para	 pesquisar	 as	 manifestações	 culturais	 dos	
lugares	visitados,	 como	a	 festa	do	boi-bumbá,	 os	povos	 ribeirinhos,	 lançando,	
como	 resultado,	 a	 interpretação	do	 sujeito	 a	partir	da	 sua	história,	vivências	 e	
percepções	do	lugar	(KOZEL;	SOUSA,	2013).
 
Claval	(2012)	discorre	a	respeito	das	influências	das	escolas	do	pensamento	
geográfico	na	geografia	brasileira	e	toda	sua	história.	Ainda,	aborda	a	seara	das	
diversidades	 étnica	 e	 religiosa	 da	 cultura	 brasileira,	 apresentando	 conteúdos	
riquíssimos	pesquisados.	Claval	entende	que	o	país	é	uma	fonte	abundante	para	
os	geógrafos	da	geografia	cultural.	Os	assuntos	podem	e	são	explorados	a	partir	
das	raízes	ameríndias	da	cultura	nacional,	extensivos	aos	hábitos	e	modo	de	vida	
dos	sujeitos	(atividades	agrícolas,	formas	alimentares).	Ainda,	há	influências	da	
cultura	 africana	 pelo	 sincretismo	 religioso	 das	 religiões	 afro-brasileiras,	 como	
a	 umbanda	 e	 o	 candomblé,	 assim	 como	 os	 neoafricanos,	 caracterizados	 pelas	
comunidades	quilombolas.	Outro	perfil	trazido	pela		colonização	europeia,	que	
também	 pode	 ser	 tema,	 são	 os	 cristãos	 novos	 “marranos”,	 ciganos	 que	 estão	
distribuídos	pelo	território	nacional	e	trazem	seus	hábitos,	costumes	e	fé.	Uma	
outra	 perspectiva	 são	 as	 abordagens	 que	 versam	 a	 respeito	 das	 contradições	
sociais	e	as	ingerências	provocadas.
A	população	brasileira	 está	 cada	vez	mais	urbanizada.	A	abordagem	
cultural	se	 interessa	pelas	diversas	 formas	de	segregação	das	cidades	
brasileiras,	por	suas	favelas	e	seus	condomínios	fechados.	Os	problemas	
que	 assolam	 as	 cidades,	 a	 prostituição,	 a	 criminalidade,	 o	 tráfico	 de	
drogas	são	objetos	de	pesquisas	sérias	(CLAVAL,	2012,	p.	19).
 
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
105
Em	uma	conferência,	Claval	discorreu	a	respeito	da	contribuição	francesa	
ao	 desenvolvimento	 da	 abordagem	 cultural	 na	 geografia,	 e,	 como	 parte	 da	
discussão,	ele	se	declarou	que	faz	parte	de	uma	classe	de	geógrafos	que	entende	
que	todos	os	fatos	geográficos	também	possuem	uma	origem	cultural,	e	que	boa	
parte	dos	geógrafos	franceses	investe	em	reconstruir	a	geografia	humana	sobre	as	
bases	da	cultura	(CLAVAL,	2011).	
 
Na	geografia	francesa,	Claval	tambémpossui	uma	extensa	contribuição,	
trazendo	os	ensinamentos	de	geógrafos,	como	Vidal	de	La	Blache	(1845-1918)	e	
seus	herdeiros	vidalianos,	Albert	Demangeon	(1872-1940),	Jean	Gottmann	(1917-
1995),	 Jean	 Brunhes	 (1869-1930),	 Pierre	 Deffontaines	 (1894-1978),	 Roger	 Dion	
(1896-1981),	Xavier	de	Planhol	(1926-2016)	e	Eric	Dardel	(1900-1968).	Ainda,	há	
outros	 autores,	 como	 referências	 da	 nova	 fase	 da	 geografia	 cultural:	Armand	
Frémont,	 Jean	Pierre	Raison,	 Joël	 Bonnemaison,	Augustin	Berque,	 Jean	Robert	
Pitte,	Bernard	Debarbieux,	Antoine	Bailly,	Vincent	Berdoulay,	Michel	Lussault	e	
outros	que	não	foram	mencionados.
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES 
APONTAMENTOS
Temos,	como	objetivo,	apontar	determinadas	reflexões	acerca	das	formas	
simbólicas	no	campo	da	dimensão	do	espaço,	as	quais	são	muito	presentes	no	
estudo	da	geografia	cultural	da	segunda	metade	de	1970.	Cuidadosamente,	são	
introduzidos,	 com	 criticidade,	 os	moldes	 de	 análises	 tradicionais,	 as	máximas	
filosóficas	referentes	ao	marxismo,	humanidades	e	significados.
Para	a	discussão	das	formas	simbólicas	e	espaciais,	tratamos	de	convidar,	
ao	 texto,	 o	 geógrafo	 Roberto	 Lobato	 Corrêa,	 autor	 brasileiro	 que	mais	 traduz	
conceitos	 e	 estudos	da	 temática.	Nas	 suas	 leituras,	 é	 possível	 enxergar	 que	 as	
formas	simbólicas	espaciais	podem	ser	materiais,	imateriais	e	podem	aparecer	em	
diferentes	domínios.	É	possível	que	alguns,	ou	todos	vocês,	conheçam	shopping	
centers,	 templos,	 monumentos,	 parques	 temáticos,	 procissões	 e	 paradas,	
cemitérios,	 palácios	 etc.	 Todas	 essas	 esferas	 em	 discussão	 são	 passíveis	 de	 se	
tornarem	um	meio	de	pesquisa	na	geografia	cultural,	cuja	finalidade	representa	
a	análise	entre	as	relações	das	formas	simbólicas,	identidade	e	a	variável	tempo,	
com	a	reinterpretação	do	passado	e	as	vistas	das	novas	possibilidades	do	futuro.
 
O	grande	teórico	cultural,	sociólogo	e	estudioso	da	identidade,	Stuart	Hall	
(2006),	 afirma	 que,	 em	um	grupo	 cultural,	 as	 trocas	 podem	 ser	 tão	 intensas	 e	
complexas	entre	os	entes	que	as	comunidades	passam	a	ser	capazes	de	produzir	e	
difundir	significados	dos	elementos	materiais	ou	não.	A	partir	deles	que	existirão	
as	representações	da	realidade,	que,	consequentemente,	projetam-se	nas	formas	
simbólicas.	Assim,	fica	 entendido	que	 as	 formas	 simbólicas,	 automaticamente,	
são	as	representantes	da	realidade.
106
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Segundo	Corrêa	(2007),	as	formas	simbólicas,	materiais	e	não	materiais,	
formam	 signos,	 e	 estes,	 por	 sua	 vez,	 passam	 por	 um	 processo	 de	 criação,	 a	
partir	 da	 conexão	 entre	 formas,	 significantes,	 conceitos	 e	 significados.	 Então,	
pode-se	entender	que	essas	relações	ou	conexões	são	homônimas,	apresentam,	
aparentemente,	uma	mesma	estrutura	para	a	elaboração	dos	significados,	porém,	
são	de	livres	interpretações,	pois	são	diversas,	tendo	em	vista	as	possibilidades	e	
variabilidade	de	significados	pelos	diferentes	grupos	culturais.
Na	contramão	de	um	pensamento	generalizado,	baseado	na	hegemonia	
cultural,	 a	 polivocalidade	 (pluralidade	 e	 liberdade	 dos	 significados)	 adentrou	
no	 campo	geográfico,	 fortalecendo-se	 com	uma	gama	de	novas	possibilidades	
de	analisar	os	espaços	que	 foram	rotulados	como	 lugares	marginalizados,	não	
hegemônicos	e	de	alteridades.	As	formas	simbólicas	se	tratam	de	um	alargamento	
do	 espectro	 da	 ciência	 geográfica,	 o	 que	 dá	 voz	 aos	 diversos	 significados,	
sujeitos,	 tempos	 e	 espacialidades.	 “A	 geografia	 cultural	 se	 beneficiou	 com	
aportes	do	marxismo,	da	fenomenologia,	da	hermenêutica,	das	ciências	sociais	
e	humanidades,	como	a	crítica	 literária	e	a	 linguística,	e	das	ciências	naturais”	
(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2012,	p.	90).
 
Propomos	apresentar	a	construção	da	espacialidade,	pela	ação	humana,	
como	um	reflexo	simbólico	não	apenas	pela	perspectiva	econômica,	mas	associado,	
ou	seja,	o	simbolismo	e	o	econômico	juntos,	com	suas	cargas	de	influências	com	
as	dimensões	espaciais.
A	 corrente	 que	 caracteriza	 a	 essência	 da	 interpretação	 do	 signo,	 na	
perspectiva	de	Corrêa,	é	a	construcionista.	Hall	(2006)	denomina	como	sendo	uma	
corrente	 em	 que	 os	 significados	 são	 criados/construídos	 segundo	 o	 raciocínio	
de	 comunidades	e	pessoas	que	 significam	e	 interpretam	as	 formas	 simbólicas.	
Todavia,	 nessa	 via	 de	 mão	 dupla,	 é	 possível	 que	 não	 haja	 a	 unicidade	 de	
significado,	mas	interpretações	diversas	que,	apesar	do	valor	adquirido,	venham	
gerar	instabilidade	de	significados	por	essa	pluralidade.
 
Existe	uma	relação	muito	direta	entre	as	formas	simbólicas	com	o	espaço,	
pois	 essa	 conexão	 transforma	 as	 formas	 simbólicas	 em	 formas	 simbólicas	
espaciais,	a	partir	do	momento	em	que	os	fixos	e	fluxos	são	incluídos	no	processo	
de	compreensão.	Assim,	todo	o	conjunto	passa	a	fazer	sentido.
Relembrando fixos e fluxos em poucas linhas: os fixos possuem formas, são 
elementos fixados na materialidade, em algum lugar e espaço (localização), como algumas 
construções civis, usinas, prédios, casas e imóveis em geral. Os fluxos são caracterizados 
pela imaterialidade, fluidez e dinamicidade (itinerários); eles vivificam os fixos, e podem ser 
entendidos por serem rotas de produtos, serviços, informações e culturas.
NOTA
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
107
São	 considerados	 correntes	 de	 formas	 simbólicas	 espaciais	 “palácios,	
templos,	 cemitérios,	 memoriais,	 obeliscos,	 estátuas,	 monumentos	 em	 geral,	
shopping	 centers,	 nomes	 de	 logradouros	 públicos,	 cidades	 e	 elementos	 da	
natureza,	procissões,	desfiles,	paradas	etc.”	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
 
No	 parágrafo	 anterior,	 com	 Corrêa	 (2007),	 foram	 apresentadas,	
nominalmente,	 algumas	 formas	 simbólicas	 espaciais,	 portanto,	 para	 não	 fique	
no	 campo	 imaginário,	 trouxemos,	 através	 de	 imagens	 capturadas	 da	 internet,	
uma	pequena,	diante	do	vasto	campo	de	estudo.	Propomos	que	vocês	façam	um	
exercício	para	compreensão	visual,	e	entendam,	a	partir	de	alguns	exemplos,	do	
que	se	tratam	as	formas	simbólicas	espaciais,	que	estão	distribuídas	em	territórios	
nacionais	 e	 em	 internacionais.	 Certamente,	 a	 partir	 dessa	 experiência,	 você	
analisará	a	sua	cidade,	e	também	identificará	algum	ponto	com	formas	simbólicas	
espaciais.
A	 primeira	 figura	 é	 o	 palácio	 de	 Buckingham,	 localizado	 em	Londres.	
Ele	 foi	 erguido	 pelo	 duque	 Buckingham,	 mas	 se	 tornou	 residência	 oficial	 da	
monarquia	 britânica	 em	 meados	 dos	 anos	 1763,	 quando	 comprado	 pelo	 Rei	
George	III.	Apesar	do	palácio	ser	fortificado	por	ferro,	bronze	forjado,	ao	longo	
das	guerras,	esse	complexo	sofreu	ataques	e	bombardeios,	fomentando	reformas	
e	melhorias	arquitetônicas.	O	palácio	se	tornou	o	símbolo	da	pujança	da	nobreza	
do	Reino	Unido,	atrai	desde	a	população	britânica	a	turistas	de	todo	o	mundo.	
Esse	lugar	possui	uma	atmosfera	de	significados.
FIGURA 9 – PALÁCIO DE BUCKINGHAM – LONDRES
FONTE: <https://cdn.civitatis.com/reino-unido/londres/galeria/palacio-buckingham-cambio-
guardia.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
A	basílica	de	São	Pedro,	localizada	no	Vaticano	e	sua	construção	suntuosa,	
trata-se	do	maior	complexo	religioso	referente	ao	catolicismo,	constituindo	uma	
unidade	política	e	espacial.	De	acordo	com	Rosendahl	(2003),	o	sagrado	dispõe	de	
uma	gestão	hierárquica.	No	caso	do	Vaticano,	ele	representa	uma	sede	oficial	e	se	
caracteriza	por	ser	um	território	religioso	administrativo.
108
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Segundo	Corrêa	(2005,	p.	12),	“as	instituições	religiosas,	por	outro	lado,	
ao	 construírem	 seus	 templos	 e	 outras	 formas	 simbólicas,	materializam	o	 local	
do	 culto	 e	 exibem	o	 poder	 da	 instituição	 ao	 comunicar	 a	mensagem	 religiosa	
proclamada,	que	une	e	identifica	a	comunidade	dos	seus	fiéis”.
FIGURA 10– BASÍLICA DE SÃO PEDRO – VATICANO
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcRJ827IYsnRfhJnfZfkHq
UVpSK2SDJV3Z-i4A&usqp=CAU>. Acesso em: 2 set. 2020.
Com	 relação	 aos	 monumentos	 que	 vêm	 a	 ser	 apresentados:	 o	 Cristo	
Redentor	 e	 o	 do	Dr.	 Blumenau.	 Cada	 um	possui	 um	 significado	 particular:	 o	
primeiro	 reflete,	nacional	 e	 internacionalmente,	 o	 símbolo	do	Rio	de	 Janeiro	 e	
a	 identidade	 católica	da	população	 brasileira,	 estimada	 como	o	país	 de	maior	
número	 de	 católicos	 do	 mundo.	 Em	 proporção	 menor,	 tem-se	 o	 monumento	
e	mausoléu	 de	Hermann	 Bruno	Otto	 Blumenau,	 fundador	 da	 colônia	 e,	 hoje,	
cidade	de	Santa	Catarina,	localizada	no	Vale	do	Itajaí,	que	leva	o	seu	sobrenome,	
Blumenau.	Esse	 lugar	 foi	edificado	com	o	objetivo	de	homenagear	o	 fundador	
da	cidade,	e,	para	manter	a	conexão	com	a	população,	a	fundação	da	cultura	da	
cidade,	regularmente,	abre	espaço	para	exposições	das	artes.
FIGURA 11 – MONUMENTO DO CRISTO REDENTOR – RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/CEhLqt9WIAA5GCF.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
109
FIGURA 12 – MONUMENTO E MAUSOLÉU DR. BLUMENAU – BLUMENAU
FONTE: <https://mapio.net/images-p/19401243.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
Os	 nomes	 dos	 lugares	 podem	 significar,	 além	 da	 linguística	 e	 da	
base	 etimológica,	 aspectos	 geográficos,	 históricos,	 sociais,	 econômicos	 e	
antropoculturais.	 Um	 exemplo	 foi	 a	 renomeação	 das	 ruas	 em	 Paris,	 Lisboa	
e	 no	 Brasil,	 com	 o	 nome	 da	 então	 vereadora	 assassinada	Marielle	 Franco.	 O	
acontecimento	 ganhou	 força	 política,	 por	 ela	 ser	 representante	 das	 classes	
minoritárias	enquanto	mulher.
FIGURA 13 – NOME DO LOGRADOURO MARIELLE FRANCO - RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://www.culturamix.com/wp-content/uploads/2020/06/Rua-Marielle-Franco.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
Os	cemitérios	também	faz	parte	de	uma	temática	estudada	pela	geografia	
cultural.	Esses	lugares	podem	falar	muito	dos	acontecimentos	históricos,	como	
veremos	 adiante.	 Em	 alguns	 casos,	 cemitérios	 podem	 explicar	 as	 relações	 das	
classe	sociais,	mas,	no	caso	do	cemitério	judeu	em	Praga,	no	bairro	de	Josefov,	
em	particular,	a	religião,	identidade	cultural,	tradição	e	seus	simbolismos	são	as	
marcas	fortes	a	serem	discutidas,	além	dos	temas	relacionados	ao	antissemitismo,	
e	os	pogroms,	considerados	os	atos	violentos	contra	os	judeus.
110
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
FIGURA 14 – ANTIGO CEMITÉRIO JUDAICO DE PRAGA
FONTE: <https://mundovastomundo.com.br/wp-content/uploads/2018/12/Cemit%C3%A9rio-
judaico2-e1545506694980.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020. 
O	exposto	a	seguir	representará	o	movimento	da	Marcha	para	Jesus,	na	
cidade	de	São	Paulo,	lugar	onde	nasceu	a	primeira	MPJ	no	Brasil.	Esse	movimento	
denota	a	força	da	religião	evangélica	de	ocupar	espaços	públicos,	difundindo-se,	
espacialmente,	com	atos	populares	religiosos	e	ideais	políticos,	visando	fortalecer,	
promover	sua	identidade	religiosa.	Essa	ocupação	funcional	dos	espaços	públicos	
por	grupos	sociais	pode	se	caracterizar	como	forma	simbólica.
FIGURA 15 – MARCHA PARA JESUS – SÃO PAULO
FONTE: <https://noticias.r7.com/fotos/marcha-para-jesus-leva-milhares-de-fieis-as-ruas-de-sao-
-paulo-veja-fotos-20062019#!/foto/1>. Acesso em: 4 set. 2020.
A	 procissão	 do	 Círio	 de	 Nazaré	 pode	 render	 análises	 dos	 muitos	
aspectos	para	a	geografia	cultural.	Segundo	Rosendahl	 (2003),	a	marca	do	ano	
de	1800	representou	o	fechamento	de	três	séculos	de	conquista	das	colônias	e	dos	
processos	de	missões	 e	 evangelização	do	 catolicismo.	Esse	poder,	 vinculado	 à	
religião,	disseminou-se	por	nove	unidade	territoriais	do	Brasil,	e	uma	dessas	foi	
Belém,	região	norte	do	país.	A	paroquia	de	Nossa	Senhora	de	Nazaré	foi	criada	
em	1861,	 e	 todas	as	assimilações	de	milagres	designadas	à	 santa	 contribuíram	
para	o	crescimento	dos	devotos,	por	conseguinte,	da	procissão,	tornando	aquele	
espaço	uma	área	de	grande	influência	política	e	religiosa,	pois	o	catolicismo,	face	
aos	festejos,	utiliza-se	dos	espaços	e	vias	públicas	para	expor	sua	fé	e	afirmar	a	
sua	identidade	religiosa.
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
111
FIGURA 16 – PROCISSÃO DO CÍRIO DE NAZARÉ – BELÉM DO PARÁ
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/EXdVkDwXsAIXwlF.jpg:large>. Acesso em: 2 set. 2020.
Acadêmico,	 para	 as	 todas	 as	 formas	 simbólicas,	 existem	 políticas	 que	
as	regem,	a	exemplo	da	política locacional e de escala.	Segundo	Corrêa	(2007),	
a política locacional	 se	 divide	 em	 localização	 absoluta,	 localização	 relativa	 e	
localização	relacional,	e	a	política de escala	em	dimensão	absoluta	e	dimensão	
relacional.	
•	 Absoluta
É	 possível	 que,	 do	 ponto	 de	 vista	 histórico,	 você	 se	 lembre	 de	 algum	
lugar	da	 sua	 cidade	que	 tenha	uma	história	marcante,	 lembrou?	Certo,	 então,	
a	localização	absoluta	pode	partir	desse	princípio	ou,	simplesmente,	a	partir	da	
criação	de	um	 significado	para	uma	 localização	 absoluta	 qualquer,	 quando	 se	
deseja	transformá-la	em	um	local	de	destaque.
 
“Uma	 forma	 simbólica	 tem	 uma	 localização	 absoluta,	 um	 sítio	 onde	
ocorreu	um	dado	evento	considerado	significativo	ou	que	se	deseja	transformar	
em	um	local	de	celebração,	contestação	ou	memorialização,	por	apresentar	um	
potencial	positivo	para	esse	fim”	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
Alguns	exemplos	das	formas	simbólicas	são	evidenciados	em	literaturas	
anteriores	 aos	 anos	 2000,	 e	 podem	 ser	 datados	 desde	 o	 século	 XIX.	 Cidades	
americanas	e	europeias	são	exemplos	da	criação	de	monumentos	de	grande	porte,	
como	estátuas,	memoriais	e	templos.	O	intuito	vai	além	da	aparência	estética,	mas	
contém	um	conteúdo	político,	econômico,	social.
Corrêa	 (2005)	 apresenta	 alguns	 exemplos	 de	 formas	 simbólicas	 de	
dimensões	maiores	 que,	 quando	 construídas	 com	 o	 intuito	 de	 permanecerem	
na	 memória,	 geraram	 conflitos	 ou	 contestação,	 como	 a	 estátua	 erguida	 em	
Londres,	do	Sir	Arthur	“Bomber”,	marechal	da	real	força	aérea	que	comandou	
o	 bombardeio	 de	 cidades	 alemãs.	 Outra	 manifestação	 foi	 da	 manutenção	 do	
112
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
monumento	do	exército	vermelho,	em	Budapeste.	Outros	exemplos	citados	por	
Corrêa	(2005),	dotado	de	conotação	política	e	de	identidade,	foram	a	construção	
das	basílicas	católicas	Sacré	Coeur	de	Montmartre	 (França)	e	a	Catedral	Cristo	
Salvador	(Rússia).
Além	 da	 identificação	 de	 grandes	 formas	 simbólicas	 e	 seus	 contextos	
históricos	 ancorados	 a	 guerras	 e	 eventos	 mundiais,	 outras	 formas	 simbólicas	
menores	foram	inspiradas	e,	consequentemente,	construídas.	Com	essa	ideologia,	
acreditamos	que	seja	possível	reduzir	esse	espectro	de	acordo	com	a	realidade	
individual.	Vamos	ao	exemplo:	na	cidade	de	Campina	Grande-PB,	às	margens	
do	açude	velho	(reservatório	hídrico	urbanizado	que,	hoje,	é	um	ponto	turístico	
na	cidade	paraibana),	foi	inaugurado	o	monumento	chamado	“Os	Pioneiros	da	
Borborema”,	em	1964.	Representa	a	materialização,	memorialização	e	homenagem	
a	três	figuras	importantes	dos	processos	de	criação	e	crescimento	da	cidade:	os	
nativos,	representados	pelo	índio,	como	símbolo	da	resistência	e	luta;	a	colhedora	
de	algodão,	figura	 feminina	que	 representou	a	 força	 com	a	economia	do	ouro	
branco,	quando	o	município	se	tornou	o	segundo	maior	exportador	de	fibra	no	
mundo;	e	o	terceiro	personifica	o	homem	colaborador	comercial,	caracterizado	
pelo	 tropeiro,	 aquele	 que	 conduziu	 tropas	 de	 Equus asinus,	 popularmente	
conhecido	 como	 “burro”.	 Todos	 transportavam	 cargas	 de	 algodão	 e	 cereais	
(milho,	arroz,	feijão)	do	litoral	ao	sertão	do	estado.
FIGURA 17 – OS PIONEIROS DA BORBOREMA – CAMPINA GRANDE
FONTE: <https://www.paraibacriativa.com.br/artista/os-pioneiros-da-borborema/>.Acesso em: 4 set. 2020.
Outro	aspecto	 curioso	 foi	 a	 localização	escolhida,	 em	posição	nascente,	
para	que	todos	que	olhem	vejam	o	brilhar	do	sol	no	monumento,	uma	mensagem	
sutil,	quanto	às	perspectivas	de	progresso	e	esperança	em	relação	ao	futuro.	Além	
disso,	como	fator	real,	esse	perímetro	circundou	a	história	da	criação	da	cidade,	
um	eixo	de	relações	econômicas,	comerciais,	religiosas,	de	rota	geográfica	e	de	
todo	início	do	grande	processo	de	urbanização.
 
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
113
Outro	exemplo	pode	ser	o	Riacho	do	Ipiranga	–	São	Paulo,	local	que	detém	
um	significado	do	dia	da	Independência	do	Brasil,	em	7	de	setembro	de	1822.	O	
fato	foi	narrado	em	uma	cena	iconográfica,	pelo	artista	plástico	Pedro	Américo,	
em	sua	obra	de	arte	“Independência	ou	Morte”,	de	1888,	sessenta	e	seis	anos	após	
o	ocorrido.
 
	A	construção	da	imagem,	a	distribuição	dos	personagens	na	tela	e	suas	
posturas	apontam	para	a	elevação	de	D.	Pedro	I	ao	status	de	herói	nacional	e	à	
ideia	de	construção	da	identidade	e	do	patriotismo	por	meio	do	passado	glorioso	
e	suas	representações	épicas	(ITAMARATY,	2020).
FIGURA 18 – INDEPENDÊNCIA OU MORTE – O GRITO DO IPIRANGA
FONTE: <https://culturanerdegeek.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Independence_of_
Brazil_1888.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
O	hino	nacional	também	apresenta	o	Riacho	Ipiranga	como	uma	referência	
física	geográfica,	um	espaço	absoluto	para	o	ato	de	“separação”	entre	a	colônia	e	
os	colonizadores.	Conta-se	que	a	submissão	do	Brasil	foi	finalmente	findada	com	
a	declaração	da	independência,	por	Dom	Pedro	I,	ao	império	português,	naquele	
ponto.
Ouviram	 do	 Ipiranga	 às	 margens	 plácidas	 de	 um	 povo	 heroico	 o	
brado	retumbante,	e	o	sol	da	liberdade,	em	raios	fúlgidos	brilhou	no	
céu	da	pátria	nesse	instante,	se	o	penhor	dessa	igualdade	conseguimos	
conquistar	com	braço	forte,	em	teu	seio,	ó	liberdade,	desafia	o	nosso	
peito	a	própria	morte	[...]	(JOAQUIM;	SILVA,	1922,	s.p.).
Em	virtude	da	importância	da	identidade	histórica	do	país,	na	Avenida	
Nazaré,	 no	 bairro	 Ipiranga,	 em	 São	 Paulo,	 no	 final	 de	 1980,	 foi	 criado	 um	
complexo	 ou	 sítio,	 considerado	 patrimônio	 histórico	 cultural:	 o	 conjunto	 do	
Ipiranga	abrange	uma	área	de	161,3	mil	m2.	Foram	agregados	o	museu	paulista,	a	
casa	do	grito,	o	monumento	à	independência	e	o	parque	da	independência,	todos	
espaços	identificados	e	georreferenciados.
114
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Para conhecer um pouco mais do complexo do Ipiranga, podemos indicar 
um vídeo, “Marco da Independência, Rio Ipiranga nasce na Zona Sul de São Paulo”. Em 1’ e 
30’’, você, brevemente, viajará para esse ponto turístico brasileiro, e conhecerá um pouco 
mais de uma página contada acerca da independência do país: https://www.youtube.com/
watch?v=A8xmNlKxVJY.
DICAS
Tivemos	dois	recortes	espaciais,	um	de	ordem	local	e,	o	outro,	de	ordem	
nacional.
•	 Relativa
A	localização	relativa	se	vincula	a	dois	fatores:	visibilidade	e,	principalmente,	
acessibilidade.	Tomando	os	exemplos,	de	nada	adiantaria	se	os	dois	locais	citados	
(tropeiro	e	Riacho	do	Ipiranga)	não	fossem	visíveis	e,	especialmente,	acessíveis.	
Trocando	por	miúdos,	pode-se	dizer	que	se	não	fossem	acessíveis,	as	pessoas	não	
poderiam	nem	alcançar	 aquele	 ponto,	muito	menos	 visualizar	 aquelas	 formas	
simbólicas.	A	seguir,	será	possível	notar	que	o	posicionamento	do	monumento	
foi	erguido	em	um	percurso	de	fácil	acesso	e	de	grande	visibilidade,	numa	área	
que	se	tornou	ponto	turístico	e	rota	de	passagem	de	viajantes	etc.
 
As	 formas	 simbólicas,	por	outro	 lado,	 têm	uma	 localização	 relativa,	
associada	à	visibilidade,	mas,	sobretudo,	à	acessibilidade,	face	a	toda	
a	 cidade	 ou	 espaço	 regional	 ou	 nacional.	 Essa	 acessibilidade	 é	 um	
dos	meios	mais	 importantes	para	que	 as	 formas	 simbólicas	possam	
transmitir	as	mensagens	que	delas	se	esperam	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
FIGURA 19 – LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO OS PIONEIROS DA BORBOREMA
FONTE: O autor
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
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•	 Relacional
Segundo	Corrêa	(2007,	p.	9),	“são	localizadas	em	relação	a	outras	formas	
simbólicas	que	denotam	interesses	divergentes:	as	localizações	delas	enfatizam	
um	conjunto	de	valores	que	é	referenciado	a	um	dado	espaço,	o	qual	se	opõe	ao	
outro	espaço”.
Vamos	entendendo	o	conceito,	primeiramente,	pelo	significado	da	palavra	
em	um	dos	gêneros.	A	palavra	relacional	diz	que	há	relação	ou	que	envolve	um	
tipo	de	relação,	ou	seja,	tudo	que	é	relacional	pode	gerar	algum	tipo	de	relação,	ou	
tem	algum	ponto	de	contato.	Quando	trazemos	para	a	área	das	formas	simbólicas	
espaciais,	entendemos	que	os	 locais	se	expressam,	individualmente,	pelas	suas	
diferenças	em	termos	de	significado	e	intenções,	mas	compartilham	uma	função	
genérica	entre	si,	que	é	de	se	comunicar.
 
Vamos	 ao	 Rio	 de	 Janeiro,	 e	 tomamos	 dois	 casos:	 o	 monumento	 do	
Cristo	Redentor	 (1931)	 e	o	Museu	do	Amanhã	 (2015).	É	 capaz	que	você	 tenha	
conhecimento	da	imagem	do	Cristo.	Considera-se	um	símbolo	religioso	marcante	
onde	 pessoas	 pagam	 suas	 promessas,	 fazem	 preces,	 batizam	 filhos,	 inclusive,	
realizam	 cerimônia	 religiosa	de	 casamento	 aos	pés	do	Cristo.	Além	da	 chama	
religiosa,	 existem	 aquelas	 pessoas	 que	 visitam	 para	 conhecer	 e	 desfrutar	 da	
paisagem.	Com	o	peso	simbólico	representativo	dessa	imagem,	o	Rio	de	Janeiro,	
década	 após	 década,	 adquiriu	 fama	 nacional	 e	 internacional.	 Já	 o	 Museu	 do	
Amanhã	nasceu	de	uma	revitalização	da	zona	portuária.	Como	construção	mais	
recente,	o	objetivo	indica	outras	perspectivas,	principalmente,	a	de	apresentar	a	
ciência	para	a	comunidade	visitante,	com	intuito	provocativo:	as	exposições	do	
museu	geram	reflexão	de	quem	somos?	onde	estamos?	de	onde	viemos?	para	onde	
vamos?	como	desejamos	chegar	ao	futuro?	qual	cenário	de	futuro	pretendemos	
encontrar?	 É	 possível	 perceber	 um	 apelo	 voltado	 ao	 antropocêntrico,	 no	 qual	
se	eleva	a	categoria	do	homem	ao	centro	das	discussões	a	respeito	do	mundo.	
Portanto,	ambos	foram	construídos,	criados	para	vestir	uma	identidade,	porém,	
apresentam	finalidades	distintas.
FIGURA 20 – MUSEU DO AMANHÃ – RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://i1.wp.com/becodaspalavras.com/wp-content/uploads/2018/09/museu-do-
amanha.jpg?fit=1280%2C720&ssl=1>. Acesso em: 2 set. 2020. 
116
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Propomos que vocês conheçam as perspectivas do Museu do Amanhã. Assim, 
no vídeo a seguir, o curador Luiz Oliveira explica o porquê de um Museu do Amanhã: 
https://www.youtube.com/watch?time_continue=17&v=fbIRDSzZbrQ&feature=emb_logo.
DICAS
Os	dimensionamentos	atribuídos,	neste	momento,	são	aqueles	garantidos	
pela	escala,	que	pode	se	dividir	em	absoluta	ou	relacional.	A	escala,	no	âmbito	
abrangente	 da	 geografia,	 apresenta-se	 como	 um	 instrumento	 de	 medida,	 no	
caso	de	extensão	territorial,	de	área,	a	partir	de	recortes	espaciais,	propriedades	
urbanas/rurais.	No	domínio	local,	no	regional,	podem	ser	identificados	estados,	
e,	no	nacional	e	no	global,	os	países,	por	exemplo.
O	absoluto,	 segundo	Corrêa	 (2007,	p.	 9),	 “[...]	 diz	 respeito	 ao	 fato	de	 a	
forma	simbólica	apresentar	uma	certa	dimensão	física,	expressa	em	área,	volume	
e	altura,	a	qual	se	associa	à	magnitude	do	evento	ou	personagem	a	ser	celebrado,	
contestado	ou	memorializado,	e	aos	recursos	disponíveis”.
Enquanto	 a	 dimensão	 relacional	 das	 formas	 simbólicas	 propõe	 uma	
análise	comparativa	entre	uma	e	demais	formas	simbólicas,	consequentemente,	
essa	comparação	abarca	as	dimensões	físicas	grandiosas	e	todas	outras	possíveis	
características,	de	anfitrião	de	eventos,	representante	de	uma	identidade	criada	
ou	posicionado	como	frente	de	dissensão	e	conflitos	(CORRÊA,	2007).
 
Por	 trás	da	perspectiva	 física,	as	 formas	simbólicas	espaciaisabrangem	
outras	 conotações	 que,	 na	 maioria	 das	 vezes,	 são	 originadas	 a	 partir	 das	
transformações	da	sociedade	associadas	às	interferências	de	ordem	política/social.
	Para	Corrêa	(2007),	na	interpretação	das	formas	simbólicas,	é	agregada	a	
dimensão	espacial,	além	dos	significados	políticos,	de	identidade,	da	reconstrução	
do	passado	e	o	anúncio	do	futuro.
 
O	significado	político	 tem	uma	 importante	presença	na	 construção	das	
formas	simbólicas	espaciais,	pois	agregam	o	que	Rowntree	e	Conley	(1980	apud 
CORRÊA,	2007,	p.	10)	chamam	de	“mecanismos	regulatórios	de	informações	que	
controlam	significado”.	Ou	seja,	os	grupos	políticos	criam	funções	com	o	intuito	
claro	de	regular,	no	sentido	de	regulamentar	os	meios	simbólicos	espaciais	por	
meio	de	regras,	leis	e	orientações	que	dirijam,	com	significância,	o	valor	simbólico	
dado	pelos	seus	criadores.
Para	 contextualizar,	 Corrêa	 (2007)	 elege	 alguns	 exemplos	 de	 estudos	
clássicos	 apresentados	 em	 seis	 pontos	 que,	 geralmente,	 são	 identificados	 nas	
formas	 simbólicas	 espaciais	 e	 significado	político.	Traremos	 essas	 informações	
reunidas	a	seguir.
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
117
QUADRO 1 – FUNÇÕES POLÍTICAS ACERCA DAS FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS
FONTE: Adaptado de Corrêa (2007)
Algumas funções políticas das formas simbólicas espaciais
Estabelece	a	prorrogativa	do	tempo,	enaltece	o	
passado,	porém,	reforça	concepções	pertinentes	
do	presente	em	detrimento	do	futuro.
Unificação	 dos	 valores	 de	 um	 dado	 grupo	
específico	sem	respeitar	as	particularidades	dos	
demais	(relação	de	poder).
Recria	 o	 passado,	 concedendo	 significados	
recentes.	As	 tradições	 conferidas	 a	um	 lugar	
podem	 ser	 uma	mera	 criação	 humana	 para	
apresentar	 uma	 verdade,	 que	muitos	 vão	
comprar	como	sendo	absoluta.
A	 segmentação	da	 sociedade	 em	grupos,	 os	
quais	afirmam	e	reafirmam	as	suas	identidades	
(religioso,	étnico,	racial	ou	social).
Construir	lugares	de	reminiscência,	aqueles	que	
sempre	 são	 guardados	 nas	 lembranças,	 pois	
vêm	definir	e	conservar	a	coesão	social	por	meio	
do	passado	compartilhado	 (NORA,	1989	apud 
CORRÊA,	2007)
Insinuações	do	tempo	futuro	(a	linha	tênue	entre	
a	 constância	de	 estar	 e	 a	 frenética	marcha	do	
seguir)	em	algum	momento	do	tempo	presente,	
e	anunciação	dos	fatores	favoráveis.
A	partir	do	momento	em	que	foram	apresentados	os	significados	políticos,	
é	 possível	 que	 os	 demais	 assuntos	 associados	 às	 formas	 simbólicas	 espaciais	
transitem	 livremente	 pelo	 quadro	 de	 referência,	 como	 as	 formas	 simbólicas	
espaciais	e	identidade,	formas	simbólicas	espaciais	e	reconstrução	do	passado	e	
formas	simbólicas	espaciais	e	o	anúncio	do	futuro.
Com	relação	à	identidade	e	geossímbolos,	Corrêa	(2007)	buscou	as	devidas	
correlações	entre	as	formas	simbólicas	espaciais	e	o	elemento	da	“identidade”.
A	primeira	ocorrência	 identifica	que	as	formas	simbólicas	espaciais	vão	
dando	sentido	ao	andamento,	desenvolvimento	e	permanência	das	identidades.	
Significa	 dizer	 que	 a	 característica	 do	 que	 é	 idêntico	 ou	 semelhante	 entre	 os	
mais	diversos	grupos	(religioso,	étnico,	racial)	e	espaços	(lugares,	geossímbolos,	
toponímia)	é	alimentada	pela	criação	das	formas.
 
Para	Corrêa	(2007,	p.	11),	“toponímia	constitui	uma	forma	simbólica	que	
identifica	 um	 logradouro	 público,	 bairro,	 cidade,	 país	 ou	 forma	 da	 natureza,	
atribuindo	um	significado	que	pode	valorizar	ou	estigmatizar	o	próprio	objeto”.
Acadêmico,	não	será	tão	difícil	você	perceber,	em	uma	escala	micro,	no	seu	
estado,	município,	ruas	comerciais	ou	residenciais,	as	influências	da	toponímia.	
Ainda,	pode	ser	visto,	em	escalas	macro,	nas	 realidades	 internacionais,	que	os	
lugares	passam	a	ser	renomeados	em	virtude	de	decisões	políticas,	identitárias,	
influenciadas	pela	relação	de	poder	territorial	e	outros	fatores.
A	relação	da	toponímia	no	Brasil	se	deu	por	meio	dos	modos	de	ocupação	
territorial,	desde	o	período	da	colonização.	Só	puderam	ser	compreendidos	pela	
união	do	entendimento	da	geografia	e	ciências,	como	história	e	arqueologia.	A	
combinação	propiciou	o	desenvolvimento	do	estudo.
 
118
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
A	 toponímia,	 enquanto	 formas	 simbólicas	 com	 conotação	 político-
territorial	 e	 identitária,	 foi	 um	dos	meios	 pelos	 quais	 a	Companhia	
Geral	do	Grão-Pará	e	Maranhão,	entre	1755	e	1778,	estabeleceu	marcas	
do	 domínio	 português	 na	Amazônia.	As	 antigas	 aldeias	 indígenas,	
transformadas	em	aldeias	missiónarias,	tiveram	seus	nomes	indígenas	
alterados,	 exibindo	 nomes	 de	 povoações	 portuguesas:	 Alenquer,	
Almeirim,	 Barcelos,	 Borba,	 Breves,	 Ega,	 Faro,	 Óbidos,	 Ourém,	
Santarém	e	Soure	etc.	(CORRÊA,	2007,	p.	11).
 
Como	 exemplo,	 traremos	 a	 história	 contada	 pela	 prefeitura	 da	 cidade	
paraense	 a	 respeito	da	origem	do	nome	de	Santarém.	A	 lenda	 tem	origem	na	
Europa,	 em	 Escalabis,	 cidade	 portuguesa.	 Segundo	 a	 história	 reproduzida,	 as	
afirmações	colaboram	com	o	entendimento	das	formas	simbólicas	espaciais,	além	
da	identidade	do	lugar,	conforme	o	relato	a	seguir.
Em	uma	cidade	portuguesa,	uma	jovem	virgem,	chamada	Irene,	educada	
no	 convento,	despertou	a	paixão	de	um	 jovem	fidalgo,	porém	sem	pretensões	
amorosas,	 a	 moça	 o	 desprezou,	 o	 que	 gerou	 uma	 trágica	 morte.	 Telbaldo	 a	
matou	e	arremessou	aquele	corpo	às	correntezas	do	rio	Tejo,	chegando	à	praia	de	
Escalabis,	porém,	anjos	a	retiraram	das	águas,	e,	com	misericórdia,	construíram	
uma	lápide	de	mármore,	e	guardaram	o	corpo	da	religiosa.	
O	fato	é	que	tal	criação	do	lugar	e	da	história	se	tornou	tradição,	e	a	cidade	
passou	a	 ser	 reconhecida	por	Mártir	 Irene.	O	número	expressivo	de	visitantes	
projetou	Escalabis	como	a	cidade	da	Santa,	o	que	veio	se	confirmar	com	o	novo	
batismo.	A	cidade	foi	rebatizada	pelos	portugueses	de	Sant”	Irene.	Sua	locução	
original	lusófona	sofreu	alterações	até	se	tornar	Santarém,	assim,	permaneceu	até	
os	dias	de	hoje.
A	ligação	da	nomenclatura	da	cidade	paraense	adveio	através	de	Mendonça	
Furtado	 (que	 foi	 governador	 geral	 do	 Estado	 do	 Grão-Pará	 e	Maranhão),	 em	
referência	à	cidade	de	Santarém,	em	Portugal,	em	1758,	quando	ele	renomeou	a	
Aldeia	dos	Tapajós	para	Santarém.	A	aldeia	passava	à	categoria	de	vila.
Outros	 elementos	 que	 devem	 ser	 rememorados,	 frente	 às	 formas	
simbólicas	espaciais	e	identidades,	são	os	espaços	novos	do	geossímbolos.	Para	
Bonnemaison	(2012,	p.	292),	“um	geossímbolo	pode	ser	definido	como	um	lugar,	
um	itinerário,	uma	extensão	que,	por	razões	religiosas,	políticas	ou	culturais,	aos	
olhos	de	certas	pessoas	e	grupos	étnicos,	assume	uma	dimensão	simbólica	que	
fortalece	a	sua	identidade”.
 
Existem	 lugares	 que	 apresentam	 valores	 simbólicos	 tão	 fortes	 que	 se	
enquadram	 na	 categoria	 de	 geossímbolos,	 principalmente,	 no	 Brasil,	 um	 país	
diverso	 em	 religião,	 festas	 e	 grupos	 étnicos.	 São	 “representados	 por	 pontos	
fixos,	 como	 construções,	 caminhos,	 formas	 do	 relevo,	 rios,	 árvores,	 estradas	 e	
itinerários	 reconhecidos,	 traçando,	na	 superfície,	uma	 semiografia	 engendrada	
por	símbolos,	figuras	e	sistemas	espaciais”	(BONNEMAISON,	2012,	p.	105).
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
119
Para	preservar	a	 sua	memória,	 tem-se,	 como	exemplo,	de	geossímbolo,	
além	do	Cristo	Redentor,	do	Santuário	Nacional	de	Nossa	Senhora	Aparecida	e	
outros,	a	procissão	católica	da	Nossa	Senhora	de	Nazaré,	ou	o	Círio	de	Nazaré.	
Com	 sentido	 religioso	 de	 ordem	 cristã,	 possui	 o	 objetivo	 de	 devoção,	 certo?!	
Contudo,	 além	 do	 perfil	 religioso,	 esse	 ato	 também	passa	 a	 ser	 um	 objeto	 de	
análise	da	geografia	cultural,	um	geossímbolo,	pois	compõe	elementos	suficientes.	
Descritivamente,	a	arquidiocese	de	Belém,	baseada	no	Círio	de	Nazaré,	apresenta	
o	caminho/itinerário	a	ser	percorrido	pelos	romeiros,discriminando	pontos	fixos,	
caminhos,	itinerários,	rios	e	outros	elementos	de	grande	identidade	cultural:
Para	 o	povo	 cristão,	 se	 os	 locais	 consagrados	 a	Deus,	 como	 igrejas	 e	
capelas,	apresentam-se	como	especiais	por	si	mesmos,	mais	especiais,	
ainda,	são	os	que	apresentam	a	característica	de	terem	sido	escolhidos	
por	 Ele	 para	 a	 realização	 de	 acontecimentos	 importantes,	 como	 os	
locais	sagrados	da	Terra	Santa,	os	das	aparições	de	Nossa	Senhora	ou	
de	manifestações	prodigiosas,	como	é	o	caso	do	achado	da	imagem	de	
Nossa	 Senhora	de	Nazaré	 em	Belém,	que	 colocou	 esse	 lugar	 em	um	
patamar	 importante,	 que	 exige	 especial	 consagração	 por	 conta	 dos	
acontecimentos.	Em	1861,	foi	criada	a	Paróquia	Nossa	Senhora	de	Nazaré 
[...].	Em	1908,	chegou,	ao	Pará,	o	padre	Luiz	Zóia,	que	considerou	matriz	
acanhada	e	sem	estilo	[...].	Era	necessário	erguer	um	novo	templo	[...].	
Sua	proposta	foi	erguer	uma	réplica	reduzida	da	Basílica	de	São	Paulo	
entre	muros,	 de	 Roma	 [...].	 Praticamente,	 todo	 o	 templo	 foi	 erguido	
com	 partes	 pré-moldadas	 por	 diversas	 empresas	 da	 França,	 Itália	 e,	
também,	 do	 Brasil	 [...].	 Foram	 trazidas	 milimetricamente	 nos	 seus	
lugares,	fazendo	parte	dos	elementos	que	compõem	o	Círio	de	Nazaré.	
A	Basílica	integra	o	conjunto	da	declaração	da	festa	como	patrimônio	
cultural	imaterial	da	humanidade	pela	Organização	das	Nações	Unidas	
(Unesco),	em	2013	(COLENY,	2020	apud	DUBOIS,	1953,	s.p.).
Torna-se	possível	absorver,	claramente,	o	entendimento	de	Corrêa	(2007),	
quando	ele	explica	que	os	geossímbolos	aparecem	em	meio	ao	espaço	de	formas	
simbólicas	 culturais.	Os	 intuitos	 são	 reconhecer	 e	 trazer,	de	 forma	aparente,	 a	
identidade	 de	 um	 grupo	 ou	 comunidade,	 associada	 a	 uma	 dada	 paisagem.	
A	 constituição	 desse	 percurso	 e	 a	 paisagem	 do	 Círio	 de	Nazaré	 “apresentam	
geossímbolos	fixos,	que,	por	serem	dotados	de	significados	identitários,	fortalecem	
a	identidade	cultural	dos	grupos”	(CORRÊA,	2008,	p.	12).
Os	exemplos	mencionados	acerca	dos	geossímbolos	produzem	uma	forte	
identidade	nacional	voltada	para	a	Igreja	Católica	Apostólica	Romana	no	Brasil.	
Consequentemente,	surge	a	retórica	de	fortalecimento	e	poder	dessa	instituição.
Associadas	à	criação	da	identidade	dos	espaços	através	dos	geossímbolos,	
as	 formas	 simbólicas	 espaciais	 e	 a	 reconstrução	 do	 passado	 refletem,	
intrinsecamente,	as	possibilidades	de	criar	e	recriar	um	passado	de	acordo	com	as	
necessidades	da	identidade,	quer	seja	ela	social,	de	lugar,	de	outros	elementos.	“O	
passado	pode	ser	visto	como	um	texto	incompleto,	cuja	leitura	permite,	mais	do	
que	o	presente,	interpretações	diversas,	possibilitando	reconstruções	adequadas	
às	vicissitudes	de	cada	momento	e	de	cada	grupo	social”	(CORRÊA,	2007,	p.	15).
120
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Você	 saberia	 identificar	 ou	 interpretar	 as	 reconstruções	 do	 passado	
no	espaço?	Segundo	Corrêa	(2007,	p.	15),	“as	 interpretações	do	passado	e	suas	
reconstruções	podem	ser	expressas	de	diversos	modos,	como	as	formas	simbólicas	
espaciais	como	estátuas,	memoriais	e	prédios”.	Não	é	difícil	encontrar,	nas	mais	
diversas	 realidades,	 a	 reconstrução	 do	 passado.	 Andando	 pela	 cidade,	 basta	
explorar,	ser	observador	e	buscar	identificar,	na	história,	as	alterações	ocorridas	
no	espaço.	Corrêa	(2007)	apresenta	exemplos	no	seu	texto,	como	o	palácio	de	Neue	
Wache.	Contudo,	dentro	da	sua	realidade,	é	possível	encontrar	essas	alterações	
ou	reconstrução	do	passado	percebendo	sua	cidade,	estado	ou	país	de	origem.	
Às	vezes,	 os	 significados	não	 são	 tão	 intensos	quanto	o	de	Neue	Wache,	mas,	
certamente,	há	um	valor	singular.
A	 fachada	 e	 o	 interior	 de	 um	 prédio	 podem	 ser	 remodelados,	
alterando-se	 a	 sua	 iconografia	 de	 acordo	 com	 a	 intenção	 de	 quem	
pretende	reciclar	significados	do	passado,	“apagando”	a	iconografia,	
cuja	intenção	era	gerar	outra	interpretação.	Mais	que	uma	estátua	ou	
um	memorial,	 um	 prédio	 apresenta	 uma	 flexibilidade	 que	 permite	
uma	 refuncionalização	 simbólica.	Um	prédio	pode,	 assim,	 tornar-se	
um	meio	útil	para	uma	política	de	significados	(CORRÊA,	2007,	p.	15).
Mais	uma	vez,	reduziremos	o	espectro	do	entendimento	a	partir	de	um	
exemplo	local,	na	cidade	de	Campina	Grande-PB.	Através	dos	olhares	dissertativos	
de	 Queiroz	 (2010)	 e	 Rossi	 (2010),	 trazemos	 a	 acelerada	 expansão,	 além	 de	
transformações	 arquitetônicas	 dessa	 cidade	 no	 século	 XX,	mais	 precisamente,	
entre	1930	e	1940,	além	dos	seus	desdobramentos.
Precisamente,	no	ano	de	1936,	o	então	prefeito	Vergniaud	Wanderley	deu	
início	 às	 reformas	 nas	 estruturas	 do	 centro	 urbanístico	 tradicional,	 amparado	
pelas	leis	sanitarista	e	urbanística.	“Pouquíssimos	prédios	ecléticos	sobreviveram	
a	esse	choque	de	ordem	que,	em	menos	de	15	anos,	muda	totalmente	a	feição	da	
cidade”	(ROSSI,	2010,	p.	30).
Campina	 Grande,	 na	 época,	 passava	 por	 um	 profundo	 processo	
reformador	de	coisas	e	pessoas,	em	consonância	com	todos	os	esforços	
para	anexar	o	Brasil	à	rede	do	capitalismo	internacional,	para	torná-lo	
civilizado,	urbano,	industrial	e	moderno.	O	lema	higienizar,	circular	e	
embelezar	guiou	intervenções	da	estrutura	física	do	município,	com	o	
intuito	de	distanciá-lo	do	aspecto	colonial	que	dominava	a	cena	urbana	
até	as	primeiras	décadas	do	século	XX	(QUEIROZ,	2010,	p.	35-36).
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
121
FIGURA 21 – CROQUI DA RUA MACIEL PINHEIRO EM ART DÉCO/ BIBLIOTECA MUNICIPAL E 
SOBRADOS COMERCIAIS
FONTE: Rossi (2010, p. 30)
Em	Campina	Grande,	as	“formas	escalonadas,	aerodinâmicas	e	os	baixos	
e	altos	relevos	de	figuras	geométricas	na	fachada	foram	o	comum	da	produção,	
associado	 a,	 praticamente,	 todos	 os	 programas	 arquitetônicos	 da	 época,	 das	
igrejas	aos	cabarés”	(QUEIROZ,	2010,	p.	36).
No	ano	de	2014,	foi	realizada	uma	exposição	da	artista	plástica	Margarete	
Aurélio	Colaço	Agra,	na	Secretaria	de	Cultura	de	Campina	Grande,	com	o	intuito	
de	apresentar	as	 transformações	arquitetônicas	que	a	cidade	havia	passado.	O	
exposto	a	seguir	representará	o	auge	das	construções	modernas	nas	áreas	centrais	
da	cidade	paraibana.	Do	lado	esquerdo,	tem-se	a	casa	noturna	“Casino	Eldorado”,	
e,	ao	lado	direito,	o	residencial	“Abdallah”,	edifício	considerado	de	alto	padrão	
da	época,	um	projeto	que	trouxe,	no	seu	conceito	de	criação,	uma	praça	privativa	
na	cobertura,	com	direito	à	iluminação	noturna,	bancos	e	uma	espécie	de	coreto.
FIGURA 22 – CAMPINA GRANDE ART DÉCO - PINTURA DO CASINO ELDORADO E 
RESIDENCIAL ABDALLAH
FONTE: O autor
122
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Segundo	 Queiroz	 (2010),	 a	 representação	 arquitetônica	 em	 art	 déco	
decorou	 prédios	 e	 fachadas	 em	 Campina	 Grande	 e	 em	 outras	 cidades	 do	
Brasil,	 com	um	 intuito	de	 apresentar	 a	 chegada	da	modernidade,	 civilidade	 e	
prosperidade	econômica	municipal.
Portanto,	 com	 a	 política	 de	 fomento	 pelas	 autoridades	 políticas	 e	
econômicas	(senhores	do	algodão),	a	construção	e	a	reformulação	das	fachadas	
da	cidade	paraibana	agregaram	um	número	expressivo	de	imóveis,	atendendo	
às	 características	 da	 modernidade.	 Em	 contrapartida,	 houve	 a	 perda	 de	 uma	
parcela	significativa	da	sua	história,	estabelecida	nos	séculos	XVIII	e	XIX,	com	as	
demolições	das	estruturas	físicas.
O vídeo a seguir, realizado pelo canal de televisão Itararé, exibido no programa 
“Diversidade”, apresenta Campina Grande Art Déco. É uma breve explicação do estilo 
arquitetônico. Em linhas gerais, contempla algumas perguntas, a exemplo de onde surgiu, 
quais as referências de influência, o que a substantivou e a sua relação com a cidade 
paraibana: https://www.youtube.com/watch?v=3QM60bdP6GM.
DICAS
Esse	complexo	arquitetônico,	visto	em	uma	cidade	do	interior	da	Paraíba,	
transmite	informações	históricas	das	influênciaspolíticas	e	econômicas,	nacionais	
e	internacionais,	a	partir	de	uma	leitura	material	ou	física	do	espaço.	De	acordo	
com	 o	 assunto	 exposto,	 podemos	 compreender	 que	 os	 escopos	 de	 percepção	
acerca	das	reconstruções	do	passado,	por	meio	das	formas	simbólicas,	podem	ser	
encontrados	próximos	da	realidade	e	experiência	de	vida.
A	partir	desse	novo	parágrafo,	traremos	as	formas	simbólicas	espaciais	e	
o	anúncio	do	futuro.	Segundo	Corrêa	(2007,	p.	14),	“o	futuro	é,	assim,	marcado	
por	uma	tensão	entre	permanência	e	mudança.	As	formas	simbólicas	espaciais	
constituem	 um	 importante	 veículo	 por	meio	 do	 qual	 o	 futuro	 pode	 ter	 a	 sua	
concepção	comunicada,	aprovada	ou	contestada”.
 
Para	uma	melhor	compreensão,	Corrêa	(2007)	elege	exemplos	de	estudos	
clássicos,	e	um	deles	é	de	André	Breton,	que	discute,	amplamente,	o	anúncio	de	
futuro	a	partir	da	Feira	Mundial	de	Paris,	em	1937.
 
“A	Feira	Universal	de	Paris,	realizada	dois	anos	antes	da	Segunda	Guerra	
Mundial,	anunciava	dois	aspectos	cruciais	do	capitalismo	da	década	de	1930:	o	
começo	da	 expansão	da	publicidade	 e	do	 consumo	de	massa	 e	 a	devastadora	
guerra”	 (CORRÊA,	 2007,	 p.	 15).	A	 feira	 tinha	 uma	 característica	 peculiar,	 que	
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
123
rendeu	exposições	das	grandes	atualidades	industriais	da	época,	portanto,	aquele	
lugar	reverenciava	as	últimas	novidades	e,	assim,	apontou	o	caminho	que	estava	
seguindo	o	 futuro.	Certamente,	 a	 chave	para	a	 compreensão	era	que	as	 ideias	
e	 a	 materialização	 do	 futuro	 ocorreram	 naquele	 espaço	 designado	 de	 formas	
simbólicas	espaciais.
 
Outro	aspecto	importante	da	feira	foi,	sem	dúvida,	o	sentido	político	que	
ela	compartilhou.	Colocava,	frente	a	frente,	“as	formas	simbólicas	associadas	à	
Alemanha	nazista,	à	Itália	fascista,	à	Espanha	republicana	e	à	União	Soviética”	
(CORRÊA,	2005,	p.	15).
 
Trouxemos	 uma	 pequena	 parcela	 de	 um	 vasto	 campo	 de	 estudo.	 As	
formas	 simbólicas	 espaciais	 atuam	 na	 superfície	 terrestre	 em	 escalas	 micro	 e	
macro.	Intencionalmente,	elas	colaboram,	deixando,	aparentes,	as	representações	
edificadas	por	grupos	da	sociedade.	Ainda,	apresentam	as	diversas	identidades	
da	 dinâmica	 sociedade-cultura-espaço-tempo,	 ou	 seja,	 apresentam	 o	 presente,	
o	 passado	 e	 o	 futuro,	 o	 que	Corrêa	 (2007,	 p.	 15)	 chama	de	 “as	 diferenças	 e	 a	
igualdade	e	o	poder,	a	celebração	e	a	contestação	e	a	memorialização”.
124
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 O	 francês	 Paul	 Claval	 se	 tornou	 um	 dos	 grandes	 geógrafos	 precursores	 da	
renovação	geográfica	do	século	XX.	Ele	fomentou,	nas	suas	obras,	a	criação	de	
ramos	da	geografia,	como	a	importância	de	outros	campos	geográficos	outrora	
menosprezados.	Sua	percepção	dos	continentes,	países	e	capitais	do	mundo	o	
gabaritou	para	desenvolver	ricas	produções	nas	geografias	cultural,	regional,	
econômica	e	epistemologia	da	geografia.
•	 Claval	denomina	que	todos	os	fatos	geográficos	também	possuem	uma	origem	
cultural,	 e	 que	 boa	 parte	 dos	 geógrafos	 franceses	 investe	 em	 reconstruir	 a	
geografia	humana	a	partir	das	bases	da	cultura.
 
•	 Na	geografia	brasileira,	Claval	tem	uma	contribuição,	principalmente,	para	a	
inclusão	dos	estudos	da	geografia	cultural.	Ele	propõe	uma	fortificação	dessa	
área,	 mediante	 os	 conteúdos	 das	 diversidades	 étnica	 e	 religiosa	 da	 cultura	
brasileira.	Ele	referencia	as	raízes	ameríndias	na	cultura	nacional,	as	influências	
da	cultura	africana	e	neoafricanos,	a	colonização	europeia,	ciganos,	inúmeros	
representantes	de	grupos	com	hábitos,	costumes	e	fé,	algumas	das	consoantes	
que	podem	ser	expressas	e	analisadas	no	espaço.
 
•	 As	formas	simbólicas	espaciais	ocorrem	por	toda	superfície	terrestre,	não	apenas	
através	 de	 uma	 perspectiva	 econômica,	 mas	 também	 por	 um	 simbolismo.	
Podem	ser	materiais	e	imateriais,	e,	através	da	identidade,	reconectam-se	com	
o	passado,	reconstruindo.	Com	os	nortes	do	futuro,	buscam	a	permanência	ou	
as	transformações.
 
•	 As	 formas	 simbólicas	 são	 consideradas	 representantes	 da	 realidade.	 Elas	
passam	por	um	processo	de	criação	e,	a	partir	disso,	os	grupos	sociais/culturais	
semelhantes	 imputam	 seus	 significados.	Em	virtude	da	descontinuidade	do	
pensamento	entre	grupos	culturais,	as	formas	simbólicas	também	ficam	sujeitas	
a	interpretações	variadas,	pelos	diferentes	significados	designados.
•	 São	 exemplos	 de	 formas	 simbólicas	 espaciais	 identificados	 por	 localização	
e	 itinerários:	 palácios,	 templos,	 cemitérios,	 memoriais,	 obeliscos,	 estátuas,	
monumentos	 em	 geral,	 shoppings	 centers,	 nomes	 de	 logradouros	 públicos,	
cidades	e	elementos	da	natureza,	procissões,	desfiles,	paradas	etc.
•	 Para	todas	as	formas	simbólicas	espaciais,	existem	políticas	que	as	regem,	como	
a	política	locacional,	que	compreende	localização	absoluta,	localização	relativa	
e	 localização	 relacional,	 e	 a	 política	 de	 escala,	 que	 se	 divide	 em	 dimensão	
absoluta	e	dimensão	relacional.
125
1	 Paul	Claval,	autor	 francês,	 congregou	e	apresentou,	no	artigo	A geografia 
cultural no Brasil	(2012),	alguns	assuntos	que	fornecem,	à	geografia	cultural	
do	Brasil,	estudos-base	da	diversidade	étnica,	tradições	religiosas	da	cultura	
brasileira.	A	partir	do	enunciado,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	Desses	temas	são	incluídos	gênero,	a	introdução	do	conceito	de	cultura	
supraorgânico	e	toponímia.
b)	(			)	Raízes	ameríndias,	as	influências	da	cultura	africana	e	os	neoafricanos,	
a	 colonização	 europeia	 e	 inúmeros	 representantes	 dos	 grupos	 com	
hábitos,	costumes	e	fé.
c)	 (			)	Raízes	ameríndias,	as	 influências	da	cultura	norte-americana,	 inglesa	
e	neoafricanos,	a	colonização	europeia	e	inúmeros	representantes	dos	
grupos	com	hábitos,	costumes	e	fé.
d)	(			)	Desses	temas,	são	incluídos	gênero,	a	introdução	do	conceito	de	cultura	
supraorgânico,	toponímia	e	identidade.
2	 Para	todas	as	formas	simbólicas	espaciais,	existem	políticas	que	as	regem,	
como	a	política	locacional,	que	compreende	localização	absoluta,	localização	
relativa	 e	 localização	 relacional,	 e	 a	 política	de	 escala,	 que	 se	divide	 em	
dimensão	absoluta	 e	dimensão	 relacional.	Essa	estrutura	 se	 encontra	 em	
Corrêa	(2007).	Assim,	relacione:
1-	Localização	absoluta.
2-	Localização	relativa.
3-	Localização	relacional.
4-	Dimensão	absoluta.	
5-	Dimensão	relacional.
(			)	Está	associada	à	visibilidade,	mas,	especialmente,	à	acessibilidade,	pois	
o	 acesso	 facilitado	 permite	 que	 as	 formas	 simbólicas	 transmitam	 as	
mensagens	que	elas	se	propõem,	na	cidade	ou	espaço	regional	ou	nacional.
(			)	Considera-se	que	uma	forma	simbólica	possui	uma	localização	absoluta,	
ou	seja,	um	lugar	onde	 tenha	acontecido	um	evento	 importante	ou	um	
local	que	deva	se	tornar	um	importante	meio	de	celebração,	contestação	
ou	memorialização,	por	apresentar	um	potencial	positivo.
(			)	Esta	se	localiza	em	relação	a	uma	outra,	mas	possui	interesses	opostos.	
(			)	Quando	 as	 formas	 simbólicas	 apresentam	 uma	 característica	 física	
demonstrada	em	área,	volume	e	altura,	as	quais	se	associam	à	magnitude	
do	evento	ou	personagem	a	ser	celebrado,	contestado	ou	memorializado,	
e	aos	recursos	disponíveis.
(			)	Compreende	 uma	 análise	 comparativa	 entre	 uma	 e	 demais	 formas	
simbólicas,	as	dimensões	físicas	e	todas	as	outras	características,	anfitrião	
de	eventos,	representante	de	uma	identidade	criada	ou	frente	de	dissensão	
e	conflitos.	
AUTOATIVIDADE
126
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(			)	1	-	2	-	3	-	4	-	5.
b)	(			)	2	-	1	-	3	-	4	-	5.
c)	 (			)	2	-	1	-	3	-	5	-	4.
d)	(			)	1	-	2	-	3	-	5	-	4.
 
3	 De	acordo	com	a	abordagem	cultural	de	Bonnemaison,	como	é	definido	um	
geossímbolo?
127
UNIDADE 2
TÓPICO 3 — 
POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA 
COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS 
DO ESPAÇO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	 chegamos	 ao	 fim	 da	 Unidade	 2.Temos,	 como	 objetivo	
principal,	trazer	o	conhecimento	de	alguns	temas	que	enobrecem	e	evidenciam	a	
riqueza	da	interpretação	cultural	da	geografia.	Como	um	subcampo,	a	geografia	
cultural	 se	 apresenta	 calcada	 na	 tradição	 do	 século	 XIX,	 porém,	 com	 novas	
feições	adquiridas	no	final	do	século	XX,	mudanças	aparentes	e	importantes	que	
incluem	novos	temas,	além	das	novas	dimensões	que	não	se	limitam	a	estudar	a	
materialidade	cultural,	mas	a	imaterialidade.
 
Questões,	 como	 paisagem	 cultural,	 continuam	 assumindo	 uma	 grande	
responsabilidade	 nos	 estudos,	 mas	 a	 inserção	 de	 representações	 fílmicas	 e	
imagem,	 música	 e	 literatura,	 e	 tantos	 outros	 temas,	 passou	 a	 ser	 objeto	 de	
interesse	dos	geógrafos	culturais.	Ainda	sobre	esse	novo	caminho	da	geografia	
cultural,	 espaços	 podem	 se	 tornar	 um	 território,	 principalmente,	 quando	 são	
públicos;	 temas,	 como	 toponímia	 e	 associações	 identitárias;	 e	 festa,	 gênero	 e	
religião,	 indicando	interferências	econômicas,	políticas	de	um	dado	lugar,	com	
a	legitimação	da	linha	de	possibilidades.	Consideramos	como	temas	populares,	
possíveis	e	reais,	tendo	em	vista	que	cada	indivíduo	vivencia,	em	algum	espaço,	
combinações	que	tornam	esses	fenômenos	um	alvo	da	pesquisa	geográfica.
 
Neste	 tópico,	 serão	desenvolvidas,	 além	desta	 introdução,	 as	 temáticas	
paisagem	cultural,	território,	territorialidade	e	identidade:	compostos	na	geografia	
cultural;	dimensão	espacial:	literatura,	música	popular	e	imagem;	e	introdução	da	
geografia	cultural	em	sala	de	aula.	Ainda,	resumos	individualizados	referentes	ao	
tópico,	e,	ao	fim,	autoatividades,	visando	auxiliar	o	processo	de	aprendizagem.
 
Apresentaremos	 conceitos	 que	 são	 bases	 da	 geografia,	 direcionados	
para	 a	 aplicação	 no	 âmbito	 da	 geografia	 cultural;	 novas	 possibilidades	 de	
pesquisa,	segundo	algumas	expressões	culturais	que	podem	ser	comprovadas	e	
dimensionadas	no	espaço	geográfico	mediante	um	contexto	das	relações	tempo-
espaço;	 por	 fim,	 as	 possibilidades	 de	 temas	 culturais	 na	 educação	 básica	 com	
amparo	da	Base	Nacional	Comum	Curricular.
Apresentaremos	os	 fenômenos	geográficos	segundo	a	natureza	cultural	
que	 eles	 carregam,	 com	 a	 finalidade	 de	 complementar	 a	 interpretação	 um	do	
outro.	Bons	estudos!	
128
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E 
IDENTIDADE: COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL
A	função	de	trazer	algumas	dimensões	estudadas	da	geografia	permite	que	
você,	enquanto	aluno,	pesquisador	e	futuro	professor	da	ciência	geográfica,	possa	
identificar	possibilidades	mensuráveis	de	estudo,	a	materialização	e	combinações	
dos	 elementos:	 paisagem	 cultural,	 identidade,	 território	 e	 territorialidade	 se	
tornam	fenômenos	de	ordem	da	geografia	cultural,	quando	distribuídos,	ocupam	
e	manifestam	suas	devidas	porções	no	espaço.
 
O	 espaço,	 paisagem,	 cultura,	 identidade,	 território	 e	 territorialidade	
possuem	conceitos	distintos,	porém,	um	não	nega	o	outro,	ao	contrário,	dialogam	
perfeitamente	 entre	 si,	 basicamente,	 um	 é	 complementar	 ao	 entendimento	 do	
outro.
 
Em	uma	breve	compreensão,	iniciamos	pela	base	da	geografia,	o	espaço.	
Entende-se	que	o	espaço	se	forma	através	de	processos	dinâmicos	de	construção	
e	 reconstrução,	 por	 meio	 de	 ações	 humanas,	 segundo	 uma	 substituição	 de	
elementos	naturais	por	aqueles	criados	pelo	homem,	tornando-os	artificiais,	ou	
seja,	vive-se	um	ciclo	dinâmico	de	transformação	das	formas	naturais	e	artificiais	
do	espaço	 (SANTOS,	2006).	“[...]	A	sociedade	evolui	no	 tempo	e	no	espaço.	O	
espaço	é	o	resultado	dessa	associação	que	se	desfaz	e	se	renova	continuamente,	
entre	uma	sociedade	em	movimento	permanente	e	uma	paisagem	em	evolução	
permanente”	 (SANTOS,	1979,	p.	42).	É	 importante	entendermos	que	 toda	essa	
formação	e	 transformações	do	espaço	se	 refletem	nas	paisagens,	por	meio	das	
formas,	função,	estrutura	e	processo.	São	fundamentais	as	análises	espaciais	por	
meio	dessas	categorias	e	descrições	expostas	a	seguir.
FIGURA 23 – CATEGORIAS E DESCRIÇÕES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
FONTE: Adaptado de Corrêa (2009)
Forma
Materializa-se	no	visível.
Exemplos:	Shopping,	
Casas,	Praças.
Estrutura- sociedade
Sustentáculos	das	formas.
Exemplo:	Econômico,
Social,	Cultural,
Politico.
Função
Aplica	a	função	das	formas
Exemplo:	Trabalho,	
Residência,	Lazer.
Processo
Ações	de	dinamicidade	
e	transformação	sobre	a	
estrutura.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
129
Corrêa	(2009,	p.	1)	elabora	uma	análise	das	quatro	categorias	compreendidas	
por	Santos	(1997):
Milton	Santos	define,	brevemente,	as	quatro	categorias,	considerando,	
como	 estrutura,	 a	 própria	 sociedade,	 com	 suas	 características	
econômicas,	sociais,	políticas	e	culturais.	Processo	é	considerado	como	
o	 conjunto	de	mecanismos	e	 ações	 a	partir	dos	quais	 a	 estrutura	 se	
movimenta,	 alterando	 as	 suas	 características.	 Função,	 por	 sua	 vez,	
diz	respeito	às	atividades	da	sociedade,	redefinidas	a	cada	momento,	
que	permitem	a	existência	e	reprodução	social.	Forma,	finalmente,	é	
definida	como	as	criações	humanas,	materiais	ou	não,	por	meio	das	
quais	as	diversas	atividades	se	realizam	[...].	A	forma	se	manifesta	em	
várias	escalas,	tendo	uma	localização	e	um	arranjo	espacial.	Trata-se,	
sem	dúvida,	da	forma	espacial.
O	espaço	geográfico	se	torna	a	base	dos	acontecimentos,	congregando	os	
indivíduos	e,	por	conseguinte,	as	paisagens	natural	e	artificial	(SANTOS,	1988).	
A	paisagem,	como	pode	ser	conceituada?	Adiante,	apresentaremos	essa	resposta,	
mas	desde	já	salientamos	que	são	dois	conceitos	distintos,	mas	complementares,	
principalmente,	quando	postos	para	analisar	as	efervescências	e	transformações	
sociais.
Segundo	 Corrêa	 (2011),	 no	 continente	 Europeu,	 e	 depois	 nos	 Estados	
Unidos,	 que	 se	 iniciaram	 as	 pesquisas	 a	 respeito	 da	 paisagem.	 Datam-se,	
aproximadamente,	 da	 década	 de	 1940,	 quando	 foram	detectadas	 as	 primeiras	
reflexões	teóricas	dos	estudos	empíricos.	“A	paisagem	cultural	se	constitui,	desde	
o	final	do	século	XIX,	quando	da	institucionalização	da	geografia	como	disciplina	
acadêmica,	em	um	dos	seus	mais	importantes	conceitos”	(CORRÊA,	2011,	p.	14).
Os	 autores	 que	 trouxeram,	 para	 a	 geografia	 cultural,	 a	 definição	 de	
paisagem	cultural,	 no	Brasil,	 foram	Zeny	Rosendahl	 e	Roberto	Lobato	Corrêa,	
através	de	 transcrições	 e	 seleções	 bibliográficas	de	 autores	 que	publicaram	ao	
longo	do	século	XX.	A	obra	Paisagem, tempo e cultura,	de	1998,	torna-se	um	exemplo	
de	 trabalho	 que	 conglomera	 a	 evolução,	 adaptação	 ou	moldagem	do	 conceito	
de	paisagem	cultural	mediante	as	 transformações	 socioespaciais	 em	 intervalos	
temporais	diferentes.	O	norte	principal	da	apresentação	dos	textos	é,	sem	dúvida,	
a	 conceituação	 de	 paisagem.	 A	 distribuição	 da	 obra	 percorre	 escritos	 desde	
1925	a	1989.	São	divididos	em	quatro	capítulos	e	cinco	autores.	Possivelmente,	
vocês	 conhecem,	parcialmente,	 o	primeiro	 autor	da	Unidade	1,	Carl	O.	 Sauer.	
Como	todos	sabem,	 foi	a	partir	desse	momento	que	a	geografia	cultural	passa	
a	tomar	forma.	Só	então,	no	final	de	1940,	que	Fians	Bobek	e	Josef	Schmithúsen,	
ambos	representantes	da	escola	alemã,	apresentam	A paisagem e o sistema lógico da 
geografia,	frente	a	uma	relação	homem	e	natureza,	uma	perspectiva	da	paisagem	
cultural	baseada	na	descrição	e	observação,	porém,	a	obra	não	se	 restringiu	a,	
apenas,	essa	discussão,	deu-se	conta	de	uma	inter-relação	maior	entre	os	homens	
distribuídos	 em	 sociedade	 e	 os	 fenômenos	 espaciais-temporais,	 contribuindo	
para	a	formação	da	paisagem	cultural.	Ainda,	Paisagem – marca, paisagem matriz: 
elementos de uma problemática para uma geografia cultural,	de	Augustin	Berque.	Em	
130
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE1984,	o	geógrafo	francês	e	orientalista	interpretou	que	a	paisagem	representa	um	
sentido	maior	quando	ela	manifesta	as	relações	da	sociedade,	espaço	e	natureza.	
Indica	que	a	paisagem	reflete	os	movimentos	que	a	sociedade	produz,	inclusive,	
os	traços	culturais,	e	a	paisagem	é	o	lugar-matriz	onde	essas	transformações	são	
geradas	mediante	as	ações,	percepções	e	concepções.	Esse	é	um	estudo	orientado	
pela	 geografia	 humanista	 e	 com	 raízes	 fenomenológicas.	 A	 última	 produção	
bibliográfica	foi	realizada	por	Denis	Cosgrove,	em	1989,	com	característica	crítica	
dos	 materialismos	 histórico	 e	 dialético	 e	 o	 simbolismo.	 Cosgrove	 iniciou	 sua	
percepção	para	dar	respostas	às	reflexões	de	ordem	interrogativa,	a	respeito	das	
interferências	das	análises	quantitativas	com	o	 texto.	A	geografia	está	em	toda	
parte:	cultura	e	simbolismo	nas	paisagens	humanas,	ou	seja,	a	tríade	paisagem,	
cultura	 e	 simbolismo	 rege	 o	 pensamento	 do	 autor,	 explicando	 as	 paisagens	
geográficas	 a	 partir	 das	 culturas	 dominantes	 e	 aquelas	 versões	 e	 variações	 de	
paisagens	alternativas,	como	as	residuais,	emergentes	e	excluídas.	Tais	explicações	
seguem	com	Corrêa	(1995)	em	compreensões	futuras.
 
A	 contribuição	 para	 o	 estudo	 da	 paisagem	 não	 surge	 para	 informar	
uma	 abordagem	 geográfica	 específica	 entre	 o	 certo	 e	 errado,	 mas	 para	 abrir	
possibilidade,	 mostrando	 que,	 dentro	 de	 uma	 complexidade	 da	 temática	
paisagem,	existem	correntes	que	propõem	suportes	clássicos	e	meios	alternativos,	
mas	 científicos,	 que	 buscam	 contemplar,	 mais	 profundamente,	 apontamentos	
multidisciplinares.
Na	ciência	geográfica,	e	em	inúmeras	áreas,	a	noção	de	paisagem	é	objeto	
de	análise,	porém,	é	importante	lembrar	que	as	aplicações	de	uso	e	interpretação	
são	diferentes,	 portanto,	 não	podemos	debitar	um	valor	unitário	da	paisagem	
para	 as	 artes,	 incluindo	 a	 fotografia	 e	 as	músicas,	 nem	para	 as	 ciências,	 como	
arquitetura,	urbanismo,	geografia,	turismo	e	biologia,	pois	cada	um	possui	sua	
percepção	e	seu	nível	científico.
 
Se,	 por	 acaso,	 você	 apresentar	 dúvida	 do	 significado	 da	 palavra	
“paisagem”,	e	procurar	um	dicionário	comum	da	língua	portuguesa	para	auxiliar,	
possivelmente,	 características	 de	 ordem	 natural	 vão	 se	 sobrepor.	 Segundo	 o	
dicionário	 online	 de	 português,	 a	 paisagem	 significa	 “a	 extensão	 do	 território	
que	 o	 olhar	 alcança	 num	 lance”.	 Também	 quer	 dizer	 “vista”	 ou	 conjunto	 de	
componentes	naturais,	ou	não”;	“natureza,	tipo	ou	característica	de	um	espaço	
geográfico:	paisagem	repleta	de	montanha”,	ainda,	outro	significado	imputado	
paira	a	partir	da	expressão	artística	referente	a	pinturas,	desenhos,	fotografias	e	
gravuras”.
 
Segundo	Domingues	(2001),	numa	esfera	não	geográfica,	a	utilização	da	
palavra	paisagem	faz	parte	do	vocabulário	comum,	e	o	seu	sentido	se	aproxima	de	
duas	perspectivas:	uma	naturalista	e,	a	outra,	culturalista.	A	primeira	fazer	alusão	
a	elementos	de	referenciação	e,	a	segunda,	ao	estilo	literário.	Maximiano	(2004,	
p.	84)	se	aprofunda	ainda	mais,	quando	afirma	que	as	inscrições	rupestres	“são	
os	registros	mais	antigos	que	se	conhece	da	observação	humana	da	paisagem”.
 
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
131
Para	 Alves	 (2001),	 a	 aplicação	 da	 nomenclatura	 paisagem	 é	 datada	
do	 século	 XVIII,	 com	 as	 expressões	 artísticas	 conforme	 expressa	 o	 dicionário	
supracitado.	A	utilização	do	termo	expressava,	a	princípio,	obras	representadas	
pela	pintura	artística	de	cenários	naturais,	ou	relatos	de	viajantes,	a	exemplo	de	
Von	Humboldt,	o	geógrafo	que	realizava	expedições	com	o	intuito	de	descrever	
as	características	naturais	dos	continentes	encontrados.
Em	 seu	 desenvolvimento,	 na	 ciência	 geográfica,	 no	 século	 XIX,	 o	 conceito	
de	paisagem	passa,	ao	longo	do	tempo,	por	adequações,	frente	aos	posicionamentos	
das	escolas	predominantes	 (Alemanha,	França,	Estados	Unidos).	Seus	métodos	são	
seguidos	pelos	respectivos	pesquisadores,	considerados	as	vozes	do	século	XIX,	como	
Humboldt,	Ritter,	Ratzel	e	Vidal	de	la	Blache.	Ainda,	outros	do	século	XX,	como	Hettner,	
Siegfried	Passarge	e	Otto	Schlüter	(Passarge	e	Schlüter	buscavam	a	compreensão	de	
quanto	aos	meios	que	tornavam	a	paisagem	hierarquizada	e	como	ocorria	a	mudança	
da	paisagem	natural	para	 cultural).	 Sauer,	 o	 geógrafo	da	morfologia	da	paisagem,	
estudou	a	temática	relacionada	a	paisagens	agrárias	(CORRÊA,	1995).
Com	naturalidade,	 o	 conceito	de	paisagem	adquiriu	uma	 característica	
polissêmica,	migrando	entre	a	realidade	do	que	a	vista	enxergava	para	o	modo	
como	a	vista	percebia	a	realidade	(SALGUEIRO,	2001).
	Ainda,	o	autor	supracitado	afirma	que,	quase	numa	totalidade	absoluta,	
a	 academia	 geográfica	 se	 dedicava	 a	 estudar	 a	 paisagem	 segundo	 métodos	
descritivos	da	virtude	de	catalogar	as	formas	físicas	naturais	da	superfície	terrestre.	
Contudo,	 era	 preciso	 buscar	 compreensões	 reais,	 introduzindo	 as	 atividades	
humanas,	a	princípio,	como	gatilhos,	e,	depois,	como	fontes	fundamentais	para	a	
transformação	paisagística.
A	 escola	 germânica,	 as	 compreensões	 enrijecidas,	 a	 escola	 francesa	 e	 o	
posicionamento	 mais	 fluido	 e	 dinâmico	 convergiram	 para	 o	 entendimento	
da	 paisagem	 por	 meio	 da	 materialidade	 estratificada	 no	 espaço	 mediante	 as	
atividades	 antrópicas.	 Nas	 bases	 filosóficas	 neopositivista	 e	 materialista,	 foi	
proposto	 redirecionar	 a	 abordagem	 da	 paisagem	 para	 dentro	 das	 conotações	
da	 região,	 ou	 seja,	 surgiram	conceitos	 congêneres,	dois	 em	um,	porém,	 com	a	
importante	ressalva:	seus	nortes	filosóficos	são	distintos,	um	faz	algumas	sinapses	
frente	ao	sistema	econômico	capitalista,	enxergando	a	paisagem	ou	região	como	
produto	 territorial	do	 capital	 e,	 o	 outro,	 realiza	 abstrações,	 isola	um	elemento	
ou	 aspecto	 natural	 contido	 naquela	 paisagem	 ou	 região	 e	 aplica	 um	método	
quantitativo	para	tentar	obter	explicações.	A	busca,	para	além	da	compreensão	
visual	da	paisagem,	gerou	observações	de	outros	métodos	(SALGUEIRO,	2001).
 
A	partir	de	1970,	com	a	humanização	da	ciência	geográfica,	tornavam-se	
possíveis	novas	possibilidades	para	estudar	a	paisagem,	porém,	não	elegeram,	
de	 forma	 unificada,	 a	 conceituação	 de	 paisagem,	 mas	 trouxeram	 reflexos	
paradigmáticos	diversos,	como	a	supressão	do	estudo	da	paisagem	a	partir	das	
perspectivas	positivistas	e	neopositivistas,	a	catalogação	de	apoio	a	discussões	a	
respeito	da	visão	simbólica	da	paisagem	e	a	ampliação	do	conceito	denotativo	
pela	geografia	física,	segundo	elementos	humanos	e	civilizatórios.
 
132
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
A	 paisagem	 não	 é	 objeto	 autônomo	 em	 si,	 face	 do	 qual	 o	 sujeito	
poderia	se	situar	em	uma	relação	de	exterioridade.	Ela	se	revela	numa	
experiência	em	que	o	sujeito	e	objeto	são	 inseparáveis,	não	somente	
porque	o	objeto	espacial	é	constituído	pelo	sujeito,	mas	também	porque	
o	 sujeito,	 por	 sua	 vez,	 aí	 se	 acha	 envolvido	 pelo	 espaço	 (COLLOT,	
1990,	p.	22).
No	início	da	discussão	do	assunto,	foi	proposto	não	apresentar	uma	fórmula	
mágica	 para	 a	 noção	 de	 paisagem,	 pois	 ela	 não	 é	 limitável.	 Respeitosamente,	
existem	pesquisadores	que,	ainda,	nos	dias	atuais,	conseguem	realizar	um	link	
com	 a	 perspectiva	 naturalista	 do	 século	 XIX,	 entre	 a	 paisagem	 e	 a	 ecologia,	
sinalizando	uma	conexão	com	a	interpretação	do	lado	físico	da	geografia.	
Outros	 descobriram	 a	 dinâmica	 humana	 da	 paisagem,	 vislumbrando	
análises de pontos sensíveis	da	percepção	e	experiência	de	vida	do	sujeito,	além	
do	eixo	de	atribuições	críticas	e	culturais,	o	qual	introduz	o	conceito	de	paisagem	
e	o	peso	dos	aspectos	econômicos	e	fenômenos	culturais.
Embora	a	paisagem	tenha	uma	conotação	física,	a	validade	das	relações	
sociais	e	culturais	interfere,	com	seus	signos	e	significados	subjetivos,incluindo	
o	afetivo.	“A	paisagem	não	se	refere	à	essência,	ao	que	é	visto,	mas	representa	a	
inserção	do	homem	no	mundo,	a	manifestação	do	seu	ser,	base	do	seu	ser	social”	
(DARDEL,	1990,	p.	54).
O	entendimento	da	paisagem	permeia	todos	os	campos	sensoriais	do	ser	
humano,	desde	a	visão	ao	tato.	A	proposta	está,	de	fato,	em	experienciar	o	lugar,	
numa	relação	de	afeto,	emoção	e,	até	mesmo,	paixão.	“O	mundo	percebido	pelos	
olhos	é	mais	abstrato	do	que	o	conhecido	por	nós,	por	meio	dos	outros	sentidos”	
(TUAN,	2012,	p.	28).
Ele	propõe	que	você,	 enquanto	 ser	humano,	permita-se	 relacionar	 com	
o	meio	 utilizando	 aspectos	 despercebidos,	 os	 subjetivos.	 Entende-se	 que	 estes	
se	 caracterizam	 por	 todas	 as	 suas	 sensações,	 sentimentos	 e	 ideias,	 por	 um	
determinado	lugar	e	sua	paisagem.	
Os	sentidos	do	olfato	e	do	tato	são	educados	mentalmente?	Tendemos	
a	negligenciar	o	poder	cognitivo	desses	sentidos.	No	entanto,	o	verbo	
francês	 savoir	 (‘saber’)	 está	 intimamente	 relacionado	 com	 o	 inglês	
savor.	O	 paladar,	 o	 olfato	 e	 o	 tato	 podem	 atingir	 um	 extraordinário	
refinamento.	 Eles	 discriminam,	 em	 meio	 à	 riqueza	 de	 sensações,	 e	
articulam	os	mundos	gustativo,	olfativo	e	textural	(TUAN,	1983,	p.	11).
Imagine	um	ambiente	físico	que	esteja	no	seu	universo	e	no	imaginário	social.	
Pois	bem,	ele	representa	exatamente	aquilo	que	se	encontra	no	seu	imaginário	e	em	
todos	 os	 imaginários	 coletivos?	 Possivelmente,	 não!	 Você	 saberia	 explicar?	 Sim,	
isso	mesmo,	cada	indivíduo	possui	uma	interpretação	de	mundo	variada	mediante	
a	 subjetividade	 individual.	Dentro	 das	 relações	 de	 proximidades	 (individuais	 ou	
coletivas),	existem,	ao	menos,	três	campos	que	chamamos	de	flutuantes:	paisagem,	
memória	e	cultura.	São	variáveis	importantes,	porém,	condicionantes,	que	decidem	a	
respeito	das	relações	e	percepções	entre	o	homem	e	o	espaço.	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
133
Existem	as	dinamicidades	temporal,	social	(coletiva	e	individual),	cultural	
e	 histórica,	 que	 interferem	 diretamente	 nas	 percepções	 dos	 grupos	 culturais.	
Segundo	 Tuan	 (2012,	 p.	 139),	 “o	 prazer	 visual	 da	 natureza	 varia	 em	 tipo	 e	
intensidade,	podendo	ser	um	pouco	mais	do	que	a	aceitação	de	uma	convenção	
social”.
Essa	 importante	 abordagem	 realizada	 é	 a	 apresentação	 dos	 grupos	
culturais	 diferentes	 (indígenas,	 indonésios,	 chineses),	 de	 como	 eles	 ocupam	 e	
compreendem	o	espaço	em	diferentes	situações.	Como	resposta,	tem-se	que	cada	
grupo	apresentou	seus	costumes,	sua	identidade,	que	se	distanciava	das	culturas	
homogeneizadoras,	indicando	uma	sensação	de	pertencimento,	superioridade	e	
manutenção	da	cultura.
Milton	 Santos	 possui,	 na	 obra	Metamorfoses do espaço habitado,	 questões	
que	ratificam	a	conceituação	e	apreensão	da	paisagem	ensinada	por	Tuan.	Em	
uma	das	 suas	 exposições,	 apresentou	 a	 perspectiva	de	utilização	dos	 sentidos	
para	ler	a	paisagem.	Santos	(1997,	p.	61)	afirma	que	“tudo	aquilo	que	nós	vemos,	
o	que	nossa	visão	alcança,	é	a	paisagem	[...].	Não	é	formada	apenas	de	volumes,	
mas	também	de	cores,	movimentos,	odores,	sons	etc.”.
 
Semelhantemente,	mais	uma	vez,	Santos	(1997,	p.	62)	aplica	a	percepção	
de	 paisagem	 como	 um	meio	 seletivo	 captado	 pelos	 sentidos,	 pelas	 diferentes	
sociedades,	sujeitos	e	cultura.	
A	dimensão	da	paisagem	é	a	dimensão	da	percepção,	o	que	chega	aos	
sentidos.	Por	isso,	o	aparelho	cognitivo	tem	importância	crucial	nessa	
apreensão,	pelo	fato	de	que	toda	nossa	educação,	formal	ou	informal,	
é	 feita	 de	 forma	 seletiva,	 pessoas	 diferentes	 apresentam	 diferentes	
versões	do	mesmo	fato	[...].	Se	a	realidade	é	apenas	uma,	cada	pessoa	
a	vê	de	 forma	diferenciada.	Dessa	 forma,	 a	visão,	pelo	homem,	das	
coisas	materiais,	é	sempre	deformada	[...].
Caso você se interesse pela temática, indicamos a leitura do livro Topofilia: um 
estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Uma das principais obras do 
autor Yi-fu Tuan, publicada, originalmente, em 1974, e traduzida para a língua portuguesa 
pela Dra Lívia de Oliveira, em 1980. Essa é uma referência atemporal para os geógrafos. 
Ainda, em uma entrevista a respeito da Serra da Mantiqueira, a geógrafa Lívia explica 
alguns dos conceitos, como topofilia, topofobia, topocídio e topo reabilitação, conteúdos 
encontrados no livro de Yi-Fu Tuan. Tal conteúdo pode ser encontrado em: http://g1.globo.
com/economia/agronegocios/noticia/2015/09/globo-rural-apresenta-formacao-da-serra-
da-mantiqueira-desde-o-inicio.html.
DICAS
134
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Segundo	Meininig	(2002),	a	paisagem	possui	possibilidades	inesgotáveis	
para	ser	interpretada.	O	autor	tem,	como	objetivo,	apresentar	uma	diversidade	de	
propostas	e	significados	da	paisagem.	Ele	percorre	sua	análise	segundo	as	cenas	
nomeadas	por:	paisagem	como	natureza,	paisagem	como	habitat,	paisagem	como	
artefato,	 paisagem	 como	 sistema,	 paisagem	 como	 problema,	 paisagem	 como	
riqueza,	 paisagem	 como	 ideologia,	 paisagem	 como	 história,	 paisagem	 como	
lugar	e	paisagem	como	estética.
Diante	das	nuances	da	perspectiva	da	paisagem,	Corrêa	(1995)	se	dedica	
a	explicar	a	paisagem	cultural.	No	momento,	chama	atenção	para	a	compreensão	
dessa	paisagem.	Segundo	Corrêa	(1995,	p.	4),	“trata-se	de	paisagem	cultural	um	
conjunto	de	 formas	materiais	dispostas	 e	 articuladas	 entre	 si	no	 espaço,	 como	
campos,	cercas	vivas,	os	caminhos,	a	casa,	a	igreja	etc.,	com	seus	estilos	e	cores	
resultantes	da	ação	transformadora	do	homem	sobre	a	natureza”.
Retomando	uma	breve	discussão,	ele	coloca	algumas	disposições	iniciais	
para	 os	 estudos	 da	 paisagem	 cultural	 sob	 aspectos	 simbólicos	 e	 funcionais,	 a	
exemplo	da	análise	do	cemitério,	temática	outrora	despercebida.
 
Ele	mapeia,	 descritivamente,	 boa	 parte	 da	 estruturação	 dos	 cemitérios	
brasileiros	 nas	 ruas	 principais,	 adjacentes	 e	 periferias,	 relacionando	 com	 a	
formação	de	centros	urbanos	e	a	realidade	capitalista	da	sociedade	em	classes,	
com	seus	privilégios	ou	desfavorecimentos.
 
A	paisagem	dos	cemitérios	das	grandes	cidades	brasileiras	é	exemplar.	
Na	frente,	juntos	à	rua	ou	à	praça,	estão	os	túmulos	das	pessoas	ricas	e	
de	prestígio,	de	mármore	ou	granito,	e	ornamentados	com	imponentes	
símbolos.	 Em	 torno,	 como	 que	 formando	 um	 semicírculo,	 estão	 os	
túmulos	 dos	 indivíduos	 de	 classe	 média,	 mais	 simples	 e	 baratos,	
porém,	 duradouros.	 Na	 periferia	 do	 cemitério,	 de	 acessibilidade	
mais	difícil,	estão	enterrados,	sem	nenhum	jazigo,	os	indivíduos	das	
camadas	 populares.	 Essa	 paisagem	 é,	 simultaneamente,	 funcional	 e	
simbólica,	 reproduzindo	 o	 status	 social	 que	 os	 indivíduos	 tiveram	
em	 vida,	 assim	 como	 a	 localização	 residencial	 no	 espaço	 urbano	
(CORRÊA,	1995,	p.	5).
Segundo	 a	 análise	 realizada	 por	 Corrêa	 (1995),	 as	 paisagens	 culturais	
podem	 ser	 encontradas	 em	 lugares	 onde	 não	 existem	 tantas	 buscas	 por	
compressão.	Ele	trouxe	uma	realidade	de	muitos	cemitérios	brasileiros.
Indagamos	 você	 frente	 à	 análise	 realizada:	 é	 possível	 que	 o	 conceito	
arquitetônico	das	construções	fúnebres,	em	2020,	tenha	mudado?	Sim,	é	possível,	
mas	continua	sendo	um	campo	de	paisagem	cultural	que	 indica	mudanças	no	
universo	social.	Implacavelmente,	cemitérios	luxuosos	passam	a	ser	construídos	
por	 diversas	 regiões,	 e	 apresentam	uma	 narrativa	 oposta	 daquela	 que	muitos	
anos	 sustentavam,	 começando	 pela	 desconstrução	 da	 identidade	 sóbria	 para	
dar	 espaço	 à	 narrativa	 de	 que	 o	 cemitério	 é	 um	 lugar	 de	 paz	 ou,	 até	mesmo,	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
135
de	 lindas	 histórias.	 Essa	 tendência	 começa	 pelos	 nomes:	 em	 um	 determinado	
período,	 apenas	 aos	 nomes	 dos	 cemitérios	 era	 acrescentado	 o	 país,	 cidade	 ou	
o	bairrodo	qual	fazia	parte.	Também	apareciam	nomes	relacionados	a	alguma	
figura	 sagrada,	 mas,	 na	 atualidade,	 ganham	 outros	 nomes,	 como	 bosque	 da	
esperança,	 campo	santo	parque	da	paz,	parque	da	colina,	além	de	serviços	de	
velório	(salas	de	velórios	com	salas	de	repouso,	banheiro	privativo,	floricultura,	
cafeteria,	 lanchonete)	e	missas,	cultos	ou,	até	mesmo,	palestras	ecumênicas,	no	
dia	de	finados.
Possivelmente,	 adentrássemos	 nessa	 discussão,	 encontraríamos	 uma	
relação	 de	 classe	 um	 pouco	 mais	 aprofundada.	 Se,	 antes,	 o	 que	 separava	 o	
indivíduo	 pobre	 do	 rico	 eram	 as	 ruas	 dentro	 de	 um	 mesmo	 cemitério,	 hoje,	
podemos	 compreender	 complexos	 funerários	 que	 excluem,	 definitivamente,	
classes	sociais	menos	favorecidas.
 
Em	concordância,	Cosgrove	e	 Jackson	 (2011)	 e	Corrêa	 (2011)	 entendem	
que	 a	 paisagem	 advém	 de	 uma	 forma	 de	 enxergar	 ou	 ver,	 formas	 ou	 cenas	
ajustadas	 em	 processos	 de	 transformações	 e	 diferenças	 econômicas,	 sociais,	
políticas,	 culturais,	 incluindo	 tradições,	 credos	 e	 moral.	 “A	 paisagem	 urbana	
permite	múltiplas	 leituras	a	partir	de	diversos	 contextos	históricos	e	 culturais,	
envolvendo	diferenças	sociais,	poder,	crenças	e	valores”	(CORRÊA,	2011,	p.	179).
Um	dos	 grandes	 nomes	 da	 geografia,	Cosgrove,	 trabalhou	 em	prol	 da	
união	do	marxismo	e	da	geografia	cultural.	Era	preciso	obter	uma	pesquisa	com	
resultados	reais	em	virtude	das	relações	entre	o	homem	e	o	espaço,	utilizando	
os	 materialismos	 histórico	 e	 dialético	 e	 as	 realidades	 sensorial	 e	 simbólica.	
A	 perspectiva	 da	 paisagem	 tem,	 como	 objetivo,	 analisar	 relações	 objetivas	 e	
subjetivas	frente	à	organização	social,	modo	de	produção	e	ocupação	do	espaço.	
Para	Cosgrove	(2011,	p.	103),	“os	seres	humanos	experienciam	e	transformam	o	
mundo	natural	em	mundo	humano,	através	do	seu	engajamento	direto	enquanto	
seres	pensantes,	com	suas	realidades	sensorial	e	material”.
A	 produção	 e	 reprodução	 da	 vida	 material	 são,	 necessariamente,	
uma	arte	 coletiva,	mediada	na	 consciência	 e	 sustentada	através	de	
códigos	 de	 comunicação.	 Essa	 última	 é	 produção	 simbólica.	 Tais	
códigos	 incluem	 não	 apenas	 a	 linguagem	 em	 seu	 sentido	 formal,	
mas	 também	 o	 gesto,	 o	 vestuário,	 as	 condutas	 pessoal	 e	 social,	 a	
música,	a	pintura,	a	dança,	o	ritual,	as	cerimônias	e	as	construções	
(COSGROVE,	2011,	p.	103).
Segundo	 Santos	 (1997a),	 geógrafo	 que	 segue	 uma	 linha	 crítica,	 a	
paisagem	carrega	pontos	que	a	designam	como	artefatos	e	sistemas.	Por	ser	uma	
produção	humana	associada	a	elementos	 invisíveis	que	se	 interligam,	 também	
pode	sustentar	a	riqueza,	por	motivar	crenças	e	ideias	com	o	intuito	de	formar	
ideologias.
136
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
A	paisagem	nada	tem	de	fixo,	de	imóvel.	Cada	vez	que	a	sociedade	
passa	por	um	processo	de	mudança,	a	economia,	as	relações	sociais	
e	 políticas	 também	 mudam,	 em	 ritmos	 e	 intensidades	 variados.	 A	
mesma	 coisa	 acontece	 em	 relação	 ao	 espaço	 e	 à	 paisagem,	 que	 se	
transformam	 para	 se	 adaptar	 às	 novas	 necessidades	 da	 sociedade	
(SANTOS,	1997a,	p.	37).
Entende-se	 que	 a	 paisagem	 possui	 um	 caráter	 cultural	 diretamente	
relacionado	a	ela.	Afeta,	diretamente,	a	transmissão	da	verdade	passada	por	meio	
dos	grupos,	símbolos,	identidades	culturais	e	linguagens.
 
Corrêa	 (1995)	 apresenta	 o	 estudo	 das	 paisagens	 culturais.	 Em	 uma	
perspectiva	 crítica	 dos	 materialismos	 histórico	 e	 dialético,	 ele	 identifica	 duas	
grandes	categorias	de	paisagens:	a	primeira	se	refere	às	paisagens	dominantes,	
elencando	 as	 características	 de	 imposição	 e	 maior	 visibilidade	 das	 classes	 de	
poder;	a	segunda	reflete	as	paisagens	alternativas	que,	contrariamente,	possuem	
uma	linha	de	 ínfima	visibilidade	e	poder,	e	são	desenvolvidas	por	grupos	não	
dominantes.
Continuando	 as	 identificações	 da	 paisagem,	 são	 desenvolvidas	 as	
perspectivas	 ou	 tipos:	 (a)	 paisagens	 residuais,	 (b)	 paisagens	 emergentes;	 e	 (c)	
paisagens	excluídas.	Para	cada,	existe	uma	explicação,	assim,	começaremos	pela	
(a):	 as	 paisagens	 residuais	 são	 aquelas	 que	 existem,	 porém,	 possuem	 poucas	
expressões,	 como	as	 áreas	 rurais	 e	de	 alguns	pontos	 encontrados	nas	 grandes	
cidades;	 (b)	 paisagens	 emergentes	 estão	 diretamente	 ligadas	 aos	 lugares	 que	
precisam	transmitir	um	recado	de	um	grupo	que	emerge	de	uma	sociedade	de	
classes,	porém,	sua	característica	é	a	transitoriedade,	assim,	foi	dado	o	exemplo	
das	 comunidades	 hippies	 de	 1960	 nos	 Estados	Unidos	 da	América,	 além	 dos	
acampamentos	do	Movimento	dos	Trabalhadores	Rurais	Sem	Terra	(MST);	por	
fim,	 (c)	 as	paisagens	 excluídas,	pois,	 assim	 como	o	próprio	nome	afirma,	 esse	
tipo	 de	 paisagem	 compreende	 grupos	 que	 sofrem	 exclusão,	 referidos	 como	
minorias,	 como	ciganos,	 religiosos	e	 raciais.	As	minorias,	apesar	de	possuírem	
traços	históricos	e	culturais	fortes	e	resistentes,	contendo	símbolo	e	significado,	
são	diminuídas	pela	cultura	dominante,	com	a	consequência	da	invisibilidade.
Os	aspectos	da	cultura	são	considerados	interpretativos,	por	apresentarem	
variáveis	 mutáveis	 entre	 as	 experiências	 subjetivas	 dos	 indivíduos	 quanto	 às	
leituras	dos	elementos	da	paisagem.	
Na	prática,	entende-se	que,	em	uma	gama	de	grupos	sociais,	possivelmente,	
todos	 apresentam	 características	 que	 os	 diferem	 dos	 outros,	 como	 atividades	
particulares,	linguagens,	formações	culturais	etc.
Como	 base	 estruturante	 da	 pesquisa,	 foram	 buscadas,	 nos	 conceitos	
geográficos	 de	 território	 e	 territorialidade,	 suas	 aplicabilidades	 no	 campo	 da	
geografia	cultural.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
137
A	 terminologia	 territorium	 tem	 suas	 bases	 no	 latim	 clássico,	mas	 o	uso	
conceitual	 da	 palavra	 tem	 um	 histórico	 mais	 moderno,	 referente	 à	 geografia	
tradicional,	que,	erroneamente,	algumas	vezes,	foi	atrelada,	apenas,	a	concepções	
de	 uso	 delimitado	 para	 uma	 vertente	 política.	 O	 território	 subsistia	 à	 luz	 do	
material,	 visível,	 tangível	 ou	 palpável,	 passando	 a	 ser	 entendido	 como	 um	
perímetro	controlado	por	alguma	representatividade	social.	
Haesbaert	 (2010)	 e	 Souza	 (2015)	 afirmam	 que,	 mesmo	 havendo	 um	
norteamento	 político	 do	 território,	 suas	 discussões	 geram	um	 ciclo	 vicioso	 da	
simplificação,	 caso	não	 se	 recorra	 a	uma	 compreensão	mais	 abrangente,	 como	
as	 dimensões	 simbólicas.	 Tomamos,	 como	 exemplo,	 o	 caso	 de	 um	 dos	 mais	
tradicionalistas,	 Friedrich	 Ratzel,	 que	 tratou,	 em	 um	 dos	 seus	 estudos	 mais	
recentes,	 da	 correlação	 entre	 os	 vínculos	 de	 aproximação	 do	 indivíduo	 e	 do	
solo	 (unidade	 conceitual	 que	 outrora	 era	 apenas	 tratada	 enquanto	 sinônimo	
de	 território),	 por	 meio	 de	 questões	 religiosas,	 espiritualizadas	 e	 psicológicas	
(HAESBAERT,	2010).
 
Souza	(2015)	aponta	que	a	definição	de	território	se	conecta,	muitas	vezes,	
às	relações	de	poder,	tornando,	consequentemente,	um	discurso	aproximado	da	
dimensão	política.	Tal	fato,	todavia,	não	é	capaz	de	tornar	ilegítima	a	concepção	
de	 território	 sob	 a	 ótica	 cultural,	 uma	 vez	 que	 as	 relações	 simbólicas,	 as	 teias	
de	significados	e	as	identidades	são	vertentes	e	meios	para	tratar	e	conceituar	o	
território.
Após	 apresentar	 uma	 primeira	 vertente	 do	 território,	 Souza	 (1995,	 p.	
87)	 expõe	uma	 segunda	 aproximação	 conceitual,	 dizendo	que	 “territórios	 são,	
no	 fundo,	 antes	 relações	 sociais	 projetadas	 no	 espaço	 que	 espaços	 concretos”,	
indicando	que	a	base	concreta	se	minimiza	a	“substratos	materiais”,	ocorrendo	as	
intensas	relações	de	territorialidade.
Apesar	das	práticas	reducionistas	circundarem	o	campo	geográfico	como	
hábito	durante	séculos,	Souza	(2015,	p.	56)	alerta	para	uma	adequação	quanto	à	
interligação	dos	modos	de	compreensãoconceitual:
As	 razões	 e	 motivações	 para	 conquistar	 ou	 defender	 um	 território	
podem	 ser	 fortemente	 ou	 primariamente	 de	 cunho	 cultural	 ou	
econômico;	 é	 óbvio	 que	 não	 são,	 sempre,	 de	 ordem	 “estritamente”	
política.	 Aliás,	 a	 própria	 separação	 entre	 político,	 cultural	 e	
econômico,	da	maneira	como	amiúde	é	feita,	tem	muito	de	cartesiana.	
Artificialmente,	 é	preocupada	em	separar	aquilo	que	é	distinguível,	
mas	não	propriamente	separável.	
Para	 Souza	 (1995,	 p.	 81),	 os	 territórios	 podem	 surgir	 em	 gradientes	
maiores	e	menores,	entre	os	extremos	dos	países	às	ruas.	Podem	ser	construídos	
e	descontruídos,	contudo,	sempre	imbuídos	pela	dimensão	temporal:	“territórios	
podem	ter	um	caráter	permanente,	mas	também	podem	ter	experiência	periódica,	
cíclica”.
 
138
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Segundo	 Haesbaert	 (1999;	 2010),	 o	 conceito	 pode	 ultrapassar	 a	
interpretação	 constante	 de	 dominação,	 alcançando	 a	 consciência	 de	 que	 a	
perspectiva	simbólica	aponta	para	o	espaço-território	como	um	canalizador	da	
produção	das	identidades,	dadas	as	interações	por	grupos	sociais.
 
Em	 concordância	 com	 a	 temática,	 Santos	 (2000,	 p.	 96)	 afirma	 que	 o	
território,	antes	de	ser	um	recorte	apenas	material,	 representa	uma	 identidade	
simbólica,	uma	vinculação	entre	as	relações	pessoais	e	o	material:
O	território	não	é	apenas	o	resultado	da	superposição	de	um	conjunto	
de	sistemas	naturais	e	um	conjunto	de	sistemas	de	coisas	criadas	pelo	
homem.	O	território	é	o	chão	e	mais	população,	isto	é,	uma	identidade,	
o	fato	e	o	sentimento	de	pertencer	àquilo	que	nos	pertence.	O	território	
é	a	base	do	trabalho,	da	residência,	das	trocas	materiais	e	espirituais	
e	da	vida.	Quando	se	fala	de	território,	deve-se,	logo,	entender	que	se	
está	falando	de	território	usado,	utilizado	por	uma	dada	população.
Em	 conformidade,	 Raffestin	 (1993)	 salienta	 que	 o	 território	 é	 o	 local	
onde	se	firmam	e	acontecem	as	relações	de	poder,	por	meio	das	ações	dos	atores	
da	sociedade.	Para	Foucault	 (1979),	o	poder	está	 inserido	em	todas	as	relações	
humanas	e,	principalmente,	dentro	do	escopo	religioso.
Sob	o	 olhar	da	 geografia	 cultural,	 discutir	 território	 é	 se	 apropriar	dos	
espaços	 imaterial	 e	 material	 substanciados	 das	 dimensões	 simbólicas	 em	 que	
identidades	são	afirmadas	e	reafirmadas.
Rosendahl	(2002,	p.	59)	menciona	que	os	“espaços	apropriados,	efetiva	ou	
afetivamente,	são	denominados	territórios”,	sendo,	as	territorialidades,	parte	das	
relações	estabelecidas	por	grupos	e	agentes	sociais	no	escopo	espacial.
 
Conforme	 Fernandes	 (2015,	 p.	 208),	 existem	 ordens	 de	 categorização	
de	 territórios	 diferentes,	 além	 da	 construção	 de	 um	 território	 imaterial	 que	
solidifica	 a	 reprodução	material,	 	 “relacionado	 com	 o	 controle,	 o	 domínio	 do	
processo	 de	 construção	 do	 conhecimento	 e	 suas	 interpretações”.	 Inseridas	 no	
contexto,	encontram-se,	ao	menos,	cinco	variáveis:	a	teoria,	o	conceito,	o	método,	
a	metodologia	e	a	ideologia.	
Toda	perspectiva	que	venha	determinar,	parcialmente	ou	completamente,	
uma	informação,	visando	nortear,	persuadir	e/ou	induzir.	Deve	haver	a	intenção	
de	cooptar	o	indivíduo,	a	princípio,	a	um	território	imaterial.
Com	 a	 perspectiva	 de	 território,	 outra	 categoria	 se	 torna	 parceira	 das	
discussões	 da	 geografia,	 a	 territorialização.	 De	 acordo	 com	 Haesbaert	 (2007),	
a	 territorialidade,	 além	 de	 incorporar	 uma	 dimensão	 mais	 política,	 amplia-
se,	 também,	 nas	 discussões	 das	 relações	 econômicas	 e	 culturais,	 pois	 está	
intrinsecamente	ligada	ao	modo	como	as	pessoas	se	relacionam	com	a	terra,	em	
forma	de	organização	espacial	e	como	o	significado	é	dado	ao	lugar.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
139
Segundo	Haesbaert	(2007,	p.	26):
[...]	Devemos,	primeiramente,	distinguir	os	territórios	de	acordo	com	
aqueles	 que	 os	 constroem,	 sejam	 eles	 indivíduos,	 grupos	 sociais/
culturais,	o	Estado,	empresas,	instituições,	como	igreja	etc.	Os	objetivos	
do	controle	social,	através	da	sua	territorialização,	variam	conforme	a	
sua	sociedade	ou	cultura,	o	grupo	e,	muitas	vezes,	o	próprio	indivíduo.
Rosendahl	(2002,	p.	59)	considera	que	a	territorialidade	se	apresenta	como	
uma	condição	estratégica	e	influente	no	“controle	de	coisas	e	pessoas,	ampliando,	
muitas	 vezes,	 o	 domínio	 sobre	 espaços	 que	 a	 religião	 se	 estrutura	 enquanto	
instituição,	criando	territórios	seus”.
Conforme	Rosendahl	(2002),	a	territorialidade	pode	ser	fortalecida	pelas	
experiências	religiosas	coletivas	ou	individuais	que	os	grupos	podem	manter	em	
um	lugar	considerado	sagrado	ou	nos	itinerários,	que	constituem	o	território.
A	territorialidade,	enquanto	conceito,	pode	ser	identificada	como	um	
componente	de	poder	que	vai	além	do	objetivo	de	apenas	manter	a	
ordem	num	 território.	 Ela	pode	 ser	 entendida	 como	uma	 estratégia	
para	 criar	 e	manter	grande	parte	do	 contexto	geográfico	através	do	
qual	 se	 pode	 experimentar	 o	 mundo,	 dotando-o	 de	 significado.	
A	 territorialidade	 pode	 ter	 uma	 dimensão	 imaterial,	 no	 sentido	
ontológico	 de	 que,	 enquanto	 imagem	 ou	 símbolo	 de	 um	 território,	
existe	e	pode	se	inserir	como	uma	estratégia	político-cultural,	mesmo	
que	o	território	ao	qual	se	refira	não	esteja	concretamente	manifestado	
(VANDERLINDE,	2012,	p.	11).
Introdutoriamente,	 a	 perspectiva	 da	 geografia	 da	 religião,	 segundo	
Rosendahl	 (1996,	p.	59),	é	“uma	organização	complexa,	 como	a	 Igreja	Católica	
Romana,	que	desenvolveu	exemplos	notáveis	do	uso	da	territorialidade	religiosa	
em	 diferentes	 espaços,	 durante	 o	 longo	 tempo	 de	 história”,	 tendo	 em	 vista	 a	
representação	de	uma	ordem	e	um	poder	que	paira	além	da	esfera	religiosa.
Na	 geografia	 da	 religião,	 é	 possível	 destacar	 grandes	 produções	 que	
atuaram	na	perspectiva	da	confluência	entre	território,	territorialidade	e	religião.	
Assim,	apresentamos	Sack	e	Sopher	como	autores.	As	duas	possuem	semelhanças,	
no	sentido	de	que	a	Igreja	controla	muitos	tipos	de	territórios,	mas,	principalmente,	
dois	grandes	tipos:	os	lugares	sagrados	e	a	estrutura	administrativa	ou	episcopal.	
Essa	estrutura	é,	 também,	uma	 forma	de	administrar	uma	 instituição	que	 tem	
poderes	políticos	e	econômicos.	
As	obras	desses	autores	são	precursoras	para	emergir	a	tríade	território,	
territorialidade	e	religião	na	realidade	da	estrutura	administrativa,	principalmente,	
da	Igreja	Católica	Romana.	As	dioceses	eram	territórios	de	propósitos	múltiplos,	
sendo,	a	religião,	apenas	mais	uma	das	suas	funções	(ROSENDAHL,	1996).
 
140
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Rosendahl	(1996)	diz	que	os	estudos	de	Sack	apontam	que	a	Igreja	Católica	
Romana	possui	duas	características	principais:	uma	se	refere	às	questões	tangíveis,	
como	as	 imponentes	estruturações	físicas,	hierarquia	eclesiástica,	propriedades	
de	terras	e	a	ampla	membresia;	a	outra	é	a	representação	intangível,	referente	às	
ordens	espiritual,	religiosa	e	aos	princípios	desenvolvidos.
 
Sopher	 (1967),	 conforme	 citado	 por	 Rosendahl	 (2002),	 destaca	 que	 o	
sistema	microgeográfico	da	religião,	por	meio	do	qual	são	fornecidos	modelos	de	
interação	entre	os	sistemas	religiosos,	traça	que	a	territorialidade	pode	ser	advinda	
de	 três	 tipos	 comportamentais:	 por	 coexistência	 pacífica,	 por	 instabilidade	 e	
competição	e	por	intolerância	e	exclusão.
	Os	comportamentos	analisados	devem	deixar	de	ser	atribuídos,	apenas,	à	
esfera	conceitual	religiosa,	pois	tais	atitudes	podem	não	ser	fruto	dela.	“Algumas	
vezes,	 esses	 comportamentos	 são	 produtos	 de	 longa	 experiência	 histórica	 que	
subsiste	à	tradição	das	comunidades	envolvidas,	mesmo	quando	a	fé	e	a	prática	
religiosa	 estejam	 diminuindo”	 (ROSENDAHL,	 2002,	 p.	 207).	 Essas	 práticas	
comportamentaismais	exclusivistas,	de	acordo	com	a	autora,	são	características	
de	religiões	antigas	que	buscam	reivindicar	posse	de	únicas	verdades	religiosas,	
cujos	resultados	são,	em	alguns	casos,	reações	hostis	entre	adeptos	de	sistemas	
religiosos	antagônicos.
 
Em	estudos	mais	recentes,	entretanto,	ainda	numa	vertente	do	cristianismo,	
a	respeito	do	estabelecimento	da	relação	entre	território,	territorialidade	e	religião,	
Machado	(1992	apud	ROSENDAHL,	1996,	p.	63)	declara	que,	após	o	advento	do	
pentecostalismo,	diferentemente	da	Igreja	Católica,	“a	territorialidade	é	informal	
e	 fugaz,	não	se	 limitando	a	uma	estrutura	territorial	 formal	e	perene,	expressa	
pelas	paróquias	e	dioceses	católicas,	que	são	delimitadas	e	permanentes”.
 
Em	conformidade,	no	âmbito	da	geografia	 cultural,	Dias	 (2016)	 analisa	
as	estratégias	de	difusão	espacial	do	protestantismo,	através	do	estudo	de	caso	
da	Igreja	Projeto	Vida	Nova,	no	Rio	de	Janeiro.	Nesse	estudo,	foram	elencadas	
algumas	estratégias	que	levam	esse	grupo	a	crescer,	em	quantidades	de	templos,	
nacional	e	internacionalmente.	
Destaca-se	 a	 periodicidade	 da	 ocupação	 dos	 espaços	 públicos,	 no	
período	do	carnaval,	para	aplicação	da	ação	evangelizadora,	que	gera	práticas	
de	territorialização	pelo	grupo	neopentecostal.	Numa	linha	semelhante,	porém,	
guardando	a	singularidade	da	temática,	Sampaio	(2018)	trata	da	compreensão	dos	
processos	que	influenciam	as	(re)construções	identitárias	frente	ao	fenômeno	dos	
eventos	religiosos	na	cidade	de	Campina	Grande,	Paraíba,	no	período	momesco	
de	2017.
A	composição	material	dos	territórios	organizados	pelas	igrejas	evangélicas	
vem	 crescendo,	mas	 se	 diferenciando	dos	 formatos	 estabelecidos	 pelas	 igrejas	
católicas.	Por	exemplo,	o	campo	territorial	católico	se	estrutura	dentro	de	uma	
hierarquia	rígida,	perene,	enquanto	as	igrejas	evangélicas	apresentam	diferentes	
partições,	não	pactuando	com	a	uma	mesma	composição	territorial	formal.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
141
Com	uma	visão	geográfica,	Rosendahl	 (2003)	 ressalta	que	os	geógrafos	
devem	 desvendar	 as	 territorialidades	 visíveis	 e	 invisíveis,	 no	 caso	 específico	
dos	diferentes	grupos	religiosos.	Pode-se	observar,	nessa	afirmação,	dois	pontos	
importantes	que	devem	ser	levados	em	consideração	quando	se	pretende	analisar	
alguma	 problemática	 sob	 a	 ótica	 da	 geografia	 da	 religião:	 os	 territórios	 e	 as	
territorialidades	religiosas,	sobretudo,	nos	dias	atuais.	
Com	relação	ao	primeiro	ponto,	devemos	focar	no	espaço	em	si	e	em	como	
a	 religião	 é	 capaz	de	unir	 ou	 separar	um	povo	 e,	 ao	mesmo	 tempo,	delimitar	
um	território.	Já	com	relação	ao	segundo	ponto,	deve-se	considerar	as	múltiplas	
faces	 religiosas	 existentes	na	 sociedade	 e	qual	 a	 capacidade	que	 elas	possuem	
de	interferir	em	porções	espaciais	por	meio	de	ações	estratégicas	de	dominação,	
tendo	em	vista	que	a	religião	é	um	dos	fatores	 influenciadores	do	processo	de	
territorialidade,	vistos	o	protecionismo	e	a	manutenção	da	identidade	dos	grupos	
religiosos.
A	 temática	 da	 geografia	 cultural,	 referente	 à	 geografia	 da	 religião,	
apresenta-se,	 nesse	 primeiro	 instante,	 pontualmente,	 tendo	 em	 vista	 que	 a	
Unidade	3	 aborda,	 com	mais	detalhes,	 os	 assuntos	 relacionados	 aos	 caminhos	
que	esse	campo	percorreu	e	até	onde	ele	pretende	chegar	como	uma	geografia	
possível,	 popular,	 referente	 às	 questões	 vivenciadas	 dia	 a	 dia	 por	 pessoas	 no	
espaço	considerado	geográfico.
 
A	compreensão	da	identidade	pode	invadir	vários	campos,	inclusive,	o	da	
geografia	cultural,	com	festas,	religião,	literatura,	música	e	tantas	outras	vertentes.	
Claval	 (1997)	 afirma	 que	 a	 cultura	 forma	 a	 identidade	 dos	membros	 de	 uma	
sociedade	através	de	um	esquema	de	acumulação	de	conhecimento,	estruturação	
das	informações,	significação	e	ressignificação	das	informações	ao	longo	da	vida.
 
Para	Claval	(1997,	p.	97),	a	cultura	tem	um	papel	substantivo	na	aquisição	
de	valores	identitários	individuais,	que	reflete	três	pilares	em	três	fases	distintas	
da	 vida:	 a	 infantil,	 a	 juvenil	 e	 a	 adulta.	 “O	 primeiro	 pilar	 trata	 de	 guiar	 a	
ação,	 escrevendo-a	 em	um	quadro	 normativo;	 o	 segundo	 trata	 de	 sublinhar	 a	
especificidade	 de	 tudo	 que	 é	 social,	 alcançando	 a	 dignidade	 e	 passando	 pelo	
procedimento	da	institucionalização;	e	o	terceiro	pilar	dá	um	sentido	à	vida	social”.	
Cada	pilar	se	estrutura	da	seguinte	forma:	primeiramente,	os	sujeitos	absorvem	
valores	 que	 os	 encaminham	 para	 um	 destino	 coletivo;	 posteriormente,	 com	
maturidade,	adquirem	uma	identidade;	logo,	conquistam	o	status	de	pertencer	a	
um	grupo.	Consequentemente,	projetam-se	para	as	demais	coletividades.
 
Aprofundando	 a	 discussão	 do	 assunto,	 Goffman	 (1988)	 conduz	 uma	
pauta	 das	 possibilidades	 do	 ser	 enquanto	 sujeito	 no	 sentido	 de	 atentar	 para	
as	 identidades	contidas	em	si.	Para	ele,	o	 ser	humano,	na	sua	essência,	possui	
dois	 tipos	de	 identidades:	 a	virtual	 e	 a	 real.	Na	primeira,	 são	 consideradas	 as	
qualidades	normais	e	aceitas	pelos	ditames	da	sociedade,	já	a	segunda	trata	da	
sua	realidade	enquanto	indivíduo,	baseado	nas	possibilidades	do	psíquico,	das	
naturezas	biológica	e	cultural,	rompendo	com	as	relações	da	identidade	virtual.
 
142
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Em	 contrapartida,	Hall	 (2006)	 apresenta	 três	 concepções	 de	 identidade	
para	o	indivíduo,	seguindo	a	nomenclatura	do	sujeito	do	iluminismo,	sociológico	
e	pós-moderno.	
A	 primeira	 se	 refere	 a	 uma	 pessoa	 com	 uma	 identidade	 centrada	 na	
autossuficiência	do	ser	desde	o	nascimento,	com	uma	existência	quase	intocada	
pelas	influências	externas;	a	segunda	já	traz	a	unificação	entre	o	mundo	interior	
do	 sujeito	 e	 a	 identidade	 adquirida	 fora;	 e,	 a	 terceira,	 retrata	 um	processo	 de	
mudança	na	 estrutura	 social	 e	 influências	 culturais,	 caracterizando-se	por	não	
dispor	de	uma	identidade	estável,	por	não	ser	definida	por	processos	biológicos,	
e	se	mostra	como	uma	construção	errante	de	si.
A	interpretação	para	a	afirmativa	tem,	como	base,	que	a	identidade	é	um	
processo	dinâmico,	cíclico,	reflexivo	e	contraditório,	uma	vez	que	se	estrutura	por	
meio	das	relações	interpessoais	e	interculturais	diariamente.
Hall	(2006)	aponta	que	os	atores	sociais	adotam	inúmeras	identidades,	de	
ordem	étnica,	religiosa,	política	ou,	até	mesmo,	de	gênero,	existindo,	dentro	de	
mim,	identidades	contraditórias,	levando-nos	a	diferentes	direções,	de	tal	modo	
que	nossas	identificações	estão	sendo	continuamente	deslocadas.	Se	o	indivíduo	
sentir	que	 tem	uma	 identidade	unificada	desde	o	nascimento	até	a	 sua	morte,	
é	porque	 foi	 construída	uma	cômoda	e	 confortadora	narrativa	de	 si.	O	 sujeito	
está,	 continuamente,	 nos	 processos	 de	 aquisição	 de	 informações,	 associação	 e	
mudança,	a	partir	do	que	constitui	como	identificações.
Como	 um	 alerta	 a	 respeito	 das	 construções	 identitária	 e	 dialética	 da	
cultura,	Claval	(1997,	p.	105)	afirma:
Como	fundamento	das	identidades,	a	cultura	reúne	os	homens	ou	os	
separa.	Quando	 as	 pessoas	 aderem	 às	mesmas	 crenças,	 dividem	os	
mesmos	valores	e	associam	sua	existência	a	objetivos	próximos.	Desde	
que	saem	do	grupo	no	qual	se	sentem	solidárias,	suas	atitudes	mudam:	
a	desconfiança	se	instala,	as	trocas	se	tornam	uma	fonte	ameaçada	na	
medida	em	que	elas	podem	questionar	a	estrutura	sob	a	qual	foram	
construídas	a	personalidade	dos	indivíduos	e	a	identidade	dos	grupos.
Ortiz	(1980)	aborda	a	pluralidade	de	identidades,	e	afirma	que	não	existe	
uma	identidade	autêntica,	porque	é	construída	por	diferentes	grupos	sociais	em	
diferentes	momentos	históricos.	Tratando-se	de	uma	base	da	construção	cultural	
latina,	Canclini	(2006)	conclui	que	é	híbrida,	pelo	processo	de	influência	que	foi	
recebido	 dos	 colonizadores	 europeus,	 escravos	 africanos	 e	 dos	 remanescentesindígenas.	Ou	seja,	 a	 formação	étnica	e	as	 representações	 culturais	 latinas	não	
podem	ser	adjetivadas	pela	pureza,	mas	pela	diversidade.
 
Com	a	fluidez	da	temática,	são	desenvolvidos	campos	da	geografia	cultural	
que	abrangem	uma	 infinidade	de	associações	 com	a	diversidade,	 tornando-se,	
cada	 vez	 mais	 interessante,	 discutir	 a	 respeito	 do	 território,	 territorialidade,	
identidade	 no	 contexto	 da	 geografia	 cultural	 da	 literatura,	 música,	 cinema,	
religião	etc.	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
143
Pode-se	 dizer	 que	 é	 desafiador,	mas	 necessário	 entender	 as	 dinâmicas	
espaciais	à	luz	do	poder	influenciador	da	geografia	cultural	na	organização	do	
espaço.	Apensar	de	ser	considerada	uma	abordagem	nova,	a	geografia	cultural	só	
veio	ser	discutida,	no	Brasil,	a	partir	de	1990.
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA 
POPULAR E IMAGEM
A	 partir	 deste	 momento,	 convidamos	 você	 a	 compreender	 os	 estudos	
da	geografia	cultural,	que	enquadra	as	dimensões:	música,	literatura	e	imagem.	
Como	 representantes	 da	 categoria	 expressões	 culturais,	 têm,	 como	 objetivo,	
disseminar	a	identidade	de	conhecimentos	de	bases	culturais	simbólicas	mediante	
manifestações	artísticas	no	espaço.
Segundo	 Corrêa	 (1998),	 a	 literatura	 e	 a	 música	 podem	 surgir	 em	
circunstâncias	 e	 contextos	 distintos,	 mas,	 por	 qualidades	 socioespaciais,	
disseminam-se	no	espaço	e	tempo,	na	maioria	das	vezes.	As	músicas	e	literaturas	
são	um	fio	condutor	que	comunica	através	de	letras,	de	sentimentos,	simbolismo,	
por	 meio	 da	 relação	 de	 identidade,	 pela	 sensação	 de	 pertencer	 a	 lugares	 e	
pela	 paisagem	 simbólica.	Ainda,	 são	 feitas	 denúncias	 socioespaciais,	 as	 quais	
distinguem	os	sujeitos	por	meio	das	suas	regiões.
 
Esse	 processo	 se	 configura	 como	 uma	 linguagem	 artística,	 longe	 da	
cientificidade	quantitativa,	porém,	possui	uma	natureza	pedagógica	que	auxilia	
com	 instrumentos	 culturais	 de	 reflexão	 acerca	 das	 relações	 homem-espaço-
tempo.	As	expressões	asseguram	uma	 linguagem	popular,	que	se	 faz	presente	
no	 cotidiano	 das	 pessoas.	 No	 caso	 da	 música,	 podem	 ser	 encontradas	 pelos	
aplicativos	 de	música,	 no	 convencional	 rádio	 ou	 televisão.	Ainda,	 nas	 igrejas,	
cinemas,	algo	completamente	inserido	na	sociedade.
Apesar	 de	 serem	 campos	 muito	 ricos	 e	 disseminados	 nos	 estudos	
contemporâneos,	 dentro	 da	 perspectiva	 da	 geografia	 escolar,	 geopolítica,	 e,	
especificamente,	da	geografia	cultural,	a	música	e	a	literatura	foram	desconsideradas	
por	décadas,	motivo	pelo	qual	deixaram	uma	lacuna	nas	pesquisas	geográficas	
brasileiras.	Enxergando	possibilidades,	cientistas	das	áreas	sociais	investiram	no	
campo	da	investigação	somente	a	partir	de	1990,	com	o	movimento	de	adesão	dos	
geógrafos	brasileiros	quanto	ao	uso	da	literatura	(CORRÊA,	1998).
De	forma	convidativa,	Corrêa	(1998)	ressalta	uma	vasta	literatura	brasileira	
correspondente	 ao	 estudo	 de	 interesse	 no	 espaço,	 paisagem,	 religião,	 lugar,	
território,	numa	rápida	série	de	nomes	específicos,	mas	altamente	gabaritada	da	
literatura	 nacional:	 Ferreira	 de	Castro,	Raquel	 de	Queiroz,	 José	 Lins	 do	Rego,	
Graciliano	 Ramos,	 Jorge	Amado,	 Guimarães	 Rosa,	 Mário	 Palmério,	 Bernardo	
Elis,	Machado	de	Assis,	Lima	Barreto	e	Érico	Veríssimo		são		alguns		dos		autores	
cujas	obras	têm	interesse	geográfico.
144
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Retrospectivamente,	 Corrêa	 (1995)	 registra	 a	 origem	 dos	 estudos	 à	 luz	
da	ciência	geográfica.	Assim	como	todo	movimento	de	renovação	da	geografia	
adveio	 do	 continente	 europeu	 e	 norte-americano,	 consequentemente,	 essas	
possibilidades	foram	geradas	em	vários	países,	como	Estados	Unidos,	Inglaterra	
e	 França,	 embora	 o	 Brasil	 tenha	 apresentado	 grande	 potencial	 cultural	 a	 ser	
desvendado.	 Os	 geógrafos	 do	 século	 XIX	 e	 XX	 analisaram	 incontáveis	 obras	
romancistas	com	o	 intuito	de	destilar	 temáticas	plurais	referentes	às	paisagens	
rurais,	 formação	do	 espaço	urbano,	 e	 questões	 sociais,	 políticas,	 econômicas	 e	
culturais	 ganharam	 espaço.	 “Dentre	 os	 romancistas,	 citam-se	 Thomas	 Hardy,	
Walter	Scott,	Marcel	Proust,	Jules	Verne,	Julian	Gracq,	William	Faulkner	e	John	
dos	 Passos.	Dante	 e	 Shakespeare	 foram,	 também,	 analisados	 pelos	 geógrafos”	
(CORRÊA,	1998,	p.	59).
Não	 apenas	 as	 literaturas	 representaram	 a	 força	 na	 perspectiva	 da	
geografia	 cultural	 naquele	 momento,	 mas	 as	 músicas	 também,	 através	 dos	
inúmeros	 gêneros,	 como	 a	 popular	música	 country,	 o	 rock,	 a	música	 cultural	
world	music	 e	o	 jazz.	Com	relação	aos	geógrafos	que	abriram	caminho	 frente	
à	 percepção	 da	 paisagem	 (geografia)	 e	 literatura,	 encontram-se	 os	 estudos	 de	
Meinig,	Pocock,	Salter,	Tuan,	e	as	obras	de	Simpson,	Housley	e	MaIlory,	a	partir	
de	uma	perspectiva,	e	as	de	Brosseau	e	Chevalier,	a	partir	de	outra.	A	princípio,	
eles	são	as	bases	para	o	estudo	para	 fundamentar	a	geografia	e	a	 literatura.	 Já	
no	campo	da	música	popular	e	geografia,	são	referências	“os	estudos	de	Nash	e	
aqueles	contidos	nas	coletâneas	organizadas	por	Carney,		assim	como	as	análises	
de	Kong”	(CORRÊA,	1998,	p.	59).
Caro acadêmico, caso você se interesse pela temática, indicamos a leitura 
do material Educação e música: diálogos, organizado por Alessandro Dozena: https://
repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/21381/1/Geografia%20e%20Música%20
%28livro%20digital%29.pdf.
 Uma segunda indicação é o artigo Geografia, literatura e música popular uma 
bibliografia, escrito por Roberto Lobato Corrêa. O que consideramos o mais rico desse 
texto, além das colocações rápidas, acertadas e oportunas do autor, são as bibliografias. 
Elas estão contidas como parte do artigo, a partir de uma vasta seleção da produção-base 
da literatura e música: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/
view/3583/2503.
DICAS
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
145
Igualmente,	as	temáticas	literárias	ou	musicais,	com	a	inserção	da	imagem	
em	análises	geográficas	como	expressão	artística,	chegaram	com	mais	fervor	do	
período	de	renovação	da	nova	geografia,	assim	explica	Gomes	(2008).
 
Certamente,	é	preciso	refletir	que	os	estudos	a	respeito	das	 imagens	na	
geografia	parecem	algo	comum,	pois	existem	relatos	de	que,	antes	de	se	tornar	
ciência,	 já	se	apresentavam	análises	através	do	campo	visual,	como	os	estudos	
das	 representações	 cartográficas,	 como	 exposto	 nas	 seções	 anteriores,	 porém,	
para	o	campo	da	geografia	cultural,	existem	algumas	diferenças	relacionadas	às	
perspectivas	de	análise	que	não	podem	ser	confundidas.	A	geografia	clássica	usa	a	
representação	cartográfica	para	se	localizar,	determinar	territórios	ou	observar	os	
horizontes	do	solo	numa	dinâmica	sintética.	O	outro	se	enquadra	na	perspectiva	
de	captura	das	diversas	expressões	culturais	que	ocorrem	nos	espaços,	por	meio	
de	cenas	filmadas	dinamicamente	ou	estaticamente	com	a	fotografia.	Assim,	são	
expostas	 as	 manifestações	 culturais	 de	 um	 grupo	 folclórico,	 religioso	 ou,	 até	
mesmo,	uma	paisagem	associada	pela	identidade	de	um	povo.	Entenda	que	uma	
perspectiva	não	nega	a	outra,	mas	se	complementam,	em	um	cenário	plural	de	
entendimento.
Sabe-se	que,	desde	o	início,	a	ciência	geográfica	indicou	que	adicionaria	
a	disciplina	às	representações,	os	mapas,	os	diários	de	viagens	de	geógrafos	com	
desenhos	da	fauna	e	flora	e	os	globos	terrestres.	Atualmente,	existem	os	aplicativos	
(APP),	como	o	Google	Earth,	Maps	e	outros,	que	fazem	você	entrar	em	cidades,	
bairros,	ruas,	parques	e,	virtualmente,	conhecê-los.
 
A	notoriedade	das	imagens	fez	Yi-Fu	Tuan	(1979),	em	um	dos	seus	escritos,	
comparar	o	estudo	médico	da	anatomia	e	a	ciência	geográfica.	O	princípio	subsiste	
em	que	ambas	necessitam	de	representaçõespara	serem	ensinadas:	a	primeira	
constrói	 conhecimento	 através	 do	 estudo	 do	 corpo	 humano	 e	 suas	 estruturas	
representadas	 pelo	 esqueleto,	 e,	 a	 segunda,	 por	 meio	 das	 representações	 das	
imagens,	por	meio	das	câmeras.
 
Com	uma	 abordagem	 interessante	 para	 a	 prática	 de	 ensino,	Moreira	 e	
Sene	(2000,	p.	15)	apresentam	que	as	imagens	são	mais	que	a	representação	de	um	
único	parâmetro	da	paisagem,	pois	elas	“podem	representar	a	paisagem	de	modos	
totalmente	diferentes,	porque	cada	um	tem	seu	ponto	de	vista,	destacando	uns	
aspectos	e	não	outros”.	Basicamente,	entende-se	que	o	registro	da	imagem,	muitas	
vezes,	serve	apenas	para	endossar	o	processo	de	construção	de	um	conhecimento	
literal,	no	caso	da	ciência	geográfica,	mas	é	importante	ressaltar	que	essa	imagem	
não	 precisa	 apenas	 ser	 afirmada	 a	 partir	 de	 um	 conhecimento	 enraizado	 ou	
estereotipado,	mas	é	importante	que	a	construção	do	conhecimento,	através	da	
imagem,	seja	livre,	e	se	preciso	for,	que	seja	reconstruída	ou	descontruída.
 
Para	 a	 compreensão	 do	 campo	 das	 imagens	 na	 geografia	 cultural,	
Rosendahl	(2010,	p.	2)	apresenta	e	indica	os	autores:	“Barbosa	e	Corrêa	A.	(2001);	
Costa,	M.	H.	(2002;	2005);	Daou	(2001);	Myaneki	(2008);	Novaes	(2008);	Santos,	A.	
(2008)”	como	base	para	o	desenvolvimento	das	pesquisas	na	área.
146
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Como indicação de leitura, apresentamos o artigo Outsiders na caatinga: 
representações cinematográficas do semiárido nordestino através do “olhar estrangeiro”, 
de Pedro P. P. M. Filho: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/
view/8468/6278.
DICAS
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE 
AULA
Acadêmico,	 o	 texto	 em	 questão	 tem,	 como	 objetivo,	 apresentar	 algumas	
possibilidades	 de	 introduzir,	 complementarmente,	 reflexões	 da	 geografia	 cultural	
à	matéria	 escolar	geografia.	Assim,	propomos	uma	extensão	de	 assuntos	vistos	no	
âmbito	universitário	para	a	aplicação	do	entendimento	e	discussões	em	sala	de	aula.
 
Como	propõe	a	missão	dada,	a	disciplina,	após	a	sua	renovação,	indica	
que	as	discussões	não	devem	ocorrer	apenas	na	esfera	acadêmica,	mas,	sobretudo,	
entre	os	professores	da	base	escolar	referente	ao	ensino	básico	(BRASIL,	1991).
Esse	fio	norteador	se	ampara	na	trajetória	da	formalização	do	ensino	da	
geografia	e	demais	disciplinas,	até	a	criação	da	Base	Nacional	Comum	Curricular	
(BNCC),	homologada	em	dezembro	de	2018.
O	que,	de	fato,	é	a	Base	Comum	Curricular?	Resume-se	a	um	documento	
que	 rege,	 normativamente,	 a	 educação	 do	 país,	 fruto	 de	 muita	 pesquisa	 e	
discussões	 entre	 a	 comunidade	 de	 gestores,	 professores	 e	 técnicos	 na	 área	
da	 educação.	 Essas	 normas	 apresentam	 uma	 combinação	 de	 aprendizagens	
essenciais	nas	etapas	escolares.
 
Qual	o	motivo	da	criação	da	Base	Nacional	Comum?	O	ensino	brasileiro	
precisava	encontrar	um	equilíbrio	da	qualidade	da	aprendizagem	entre	as	regiões	
e	 seus	municípios.	Assim,	 a	 base	 vem	 com	 esse	 caráter,	 o	 de	 estabelecer	 esse	
padrão	mínimo	de	desenvolvimento	do	ensino	e	aprendizagem.
 
A	 BNCC	 não	 surge	 do	 acaso,	 mas	 do	 alinhamento	 e	 afunilamento	 de	
diretrizes,	incluindo	as	Diretrizes	Curriculares	Nacionais	(DCNs)	e	os	Parâmetros	
Curriculares	 Nacionais	 (PCNs).	 O	 primeiro,	 com	 aspecto	 geral	 da	 educação,	
representando	 uma	 força	 de	 lei,	 já	 o	 segundo	 defende	 a	 aplicação	 dos	 temas	
transversais.
 A	BNCC	gera	o	aprimoramento	dos	objetos	de	aprendizagem	essenciais	
e	competências	por	ano,	ou	seja,	gradativamente,	durante	a	educação	básica,	o	
aluno	 se	 aprofunda	mediante	 as	unidades	 temáticas	 em	conceitos,	 conteúdo	e	
desenvolvendo	habilidades.	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
147
A	aplicação	da	técnica	se	apresenta,	no	currículo,	em	espiral,	dos	primeiros	
anos	aos	anos	finais.	Esse	modelo	funciona	da	seguinte	forma:	os	conteúdos,	nas	
primeiras	unidades,	passam	a	ser	aplicados	de	maneira	mais	ampla,	retornando	
nos	anos	vindouros	com	perspectivas	mais	instigantes,	integrativas	e	complexas.
As	 aprendizagens	 essenciais,	 dispostas	 na	 BNCC,	 e	 as	 competências	
gerais	 e	 por	 disciplinas	 também	 devem	 ser	 cobradas	 na	 educação	 básica	 nos	
níveis	 infantil,	 fundamental	 e	médio.	As	 competências	 apresentadas	 focam	na	
mobilização	de	conhecimentos,	 referindo-se	aos	conceitos	e	procedimentos.	As	
habilidades	se	referem	às	práticas	cognitivas	e	socioemocionais,	e	as	atitudes	e	
valores	se	enquadram	no	princípio	da	resolução	de	problemas	da	vida,	inserção	
cidadã	e	mundo	do	trabalho.
 
Ao	 todo,	 são	 elencadas	 dez	 competências	 gerais	 a	 serem	 trabalhadas	
em	todas	as	áreas	de	conhecimento	em	maior	ou	menor	grau.	Descritivamente,	
elas	 são	 reconhecidas	 como:	 conhecimento;	 pensamentos	 científico,	 crítico	 e	
criativo;	repertório	cultural;	comunicação;	cultura	digital;	 trabalho	e	projeto	de	
vida;	argumentação;	autoconhecimento	e	autocuidado;	empatia	e	cooperação;	e	
responsabilidade	e	cidadania.
 
Quanto	à	disciplina,	engloba	as	discussões	da	BNCC	inserida	em	uma	das	
cinco	grandes	áreas	da	educação	básica.
FIGURA 24 – ÁREA DE INSERÇÃO DA GEOGRAFIA, SEGUNDO A BNCC, 
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
Competência
Desenvolvimento	do	
raciocínio	articulado	
espacial	e	temporal.
Geografia	+	História
Grande	área
Ciências	Humanas
{
Para compreensão da Base Comum Curricular, o site http://basenacional 
comum.mec.gov.br/implementacao/pro-bncc/material-de-apoio disponibiliza material de 
apoio, que pode ser visto em um vídeo de 6’ 10’’ de duração.
DICAS
148
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
A	geografia,	com	o	seu	foco	principal	voltado	para	o	espaço	geográfico	e	a	
perspectiva	do	espaço	vivido,	ocupado	e	transformado	pelo	homem,	proporciona,	
no	ensinar	dessa	disciplina,	um	meio	para	apresentar	compreensões	do	mundo	
e	 sua	 dinâmica.	 Quando	 ela	 é	 combinada	 aos	 auxílios	 científicos	 plurais,	 sua	
discussão	e	aprendizagem	são	ampliadas,	tornando-a	mais	rica,	como	as	trocas	
de	informações	com	as	áreas	de	humanas,	como	história,	 literatura,	sociologia,	
artes,	antropologia	e	demais	campos,	como	a	matemática	e	ciências	biológicas,	
que,	organicamente,	ajudam	a	compreender	a	paisagem,	formação	e	organização	
de	arranjos	socioespaciais,	identidade	cultural	e	tantos	outros	temas.
A	BNCC	solicita	que	os	professores	desenvolvam,	 com	os	 alunos,	dois	
aspectos	importantes:	o	pensamento	espacial	e	o	raciocínio	geográfico.	
O	primeiro	permite	uma	abertura	da	geografia	com	outras	áreas,	porém,	
sem	que	a	geografia	perca	sua	identidade	espacial;	o	segundo	requer	o	exercício	
dos	princípios	do	 raciocínio	geográfico	 compreendidos	 em:	analogia,	 conexão,	
distribuição,	ordem,	localização,	diferenciação	e	extensão.
As	 competências	 gerais	 que	 mais	 se	 aproximam	 das	 discussões	 das	
ciências	humanas	são:	repertório	cultural,	cultura	digital,	comunicação,	trabalho	
e	 projeto	 de	 vida,	 argumentação,	 autoconhecimento	 e	 autocuidado,	 empatia	 e	
cooperação	e	responsabilidade	e	cidadania.
A	 organização	 da	 disciplina	 no	 ensino	 fundamental	 passou	 a	 ser	
estruturada	 por	 unidades	 temáticas,	 objetos	 de	 conhecimento	 e	 habilidades.	
Todos	 devem	 atender	 aos	 propósitos	 das	 cinco	 unidades,	 compostas	 por:	 o	
sujeito	e	seu	lugar	no	mundo,	conexões	e	escalas,	mundo	do	trabalho,	formas	de	
representação	e	pensamento	espacial	e	natureza,	ambiente	e	qualidade	de	vida.
Ainda,	 respeitando	 os	 diferentes	 patamares	 de	 complexidade	 por	
unidades	e	construindo	elos	de	diálogo,	a	BNCC	introduziu,	na	sua	essência,	os	
conceitos	que	 regem	a	geografia	 contemporânea,	passando	pelo	 entendimento	
do	espaço	geográfico	e	 suas	demandas	distintas,	 território,	 lugar,	 região,	meio	
ambiente	e	paisagem.
Fazendoum	contraponto,	é	possível	que	você	se	lembre	de	que	a	geografia	
cultural,	obrigatoriamente,	alinha-se	à	grande	disciplina,	mediante	o	seu	contexto	
de	análise	e	as	dimensões	que	contribuem	com	a	explicação	do	objeto	da	geografia,	
o	“espaço”,	além	das	categorias	“território,	lugar,	região	e	paisagem”.	Toda	essa	
dinâmica	pode	contribuir	para	a	abordagem	do	conteúdo	exigido.
Em	 uma	 perspectiva	 explicativa,	 traremos	 um	 quadro	 da	 estrutura	 da	
BNCC	 apontando,	 descritivamente,	 como	 se	 estruturam	 o	 primeiro	 e	 quarto	
ano	de	geografia	do	ensino	fundamental	em	suas	unidades	temáticas,	objetos	de	
conhecimento	e	habilidades.	O	intuito	é	apresentar	as	evoluções	e	aprofundamento	
do	objeto	da	geografia	e	suas	categorias	ao	longo	dos	avanços	anuais.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
149
QUADRO 2 – ESTRUTURA DE CONTEÚDO DO PRIMEIRO ANO DOS ANOS INICIAIS 
MEDIANTE A BNCC
Unidades 
temáticas
Objetos de 
conhecimento Habilidades
O	sujeito	e	o	seu	
lugar	no	mundo
O	modo	de	vida	
das crianças 
em	diferentes	
lugares
(EF01GE01)	Descrever	características	observadas	de	seus	
lugares	de	vivência	(moradia,	escola	etc.)	e	identificar	
semelhanças	e	diferenças	entre	esses	lugares.
(EF01GE02)	Identificar	semelhanças	e	diferenças	entre	
jogos	e	brincadeiras	de	diferentes	épocas	e	lugares.
Situações	de	
convívio	em	
diferentes	
lugares
(EF01GE03)	Identificar	e	relatar	semelhanças	e	diferenças	
de	usos	do	espaço	público	(praças,	parques)	para	o	lazer	e	
diferentes	manifestações.
(EF01GE04)	Discutir	e	elaborar,	coletivamente,	regras	de	
convívio	em	diferentes	espaços	(sala	de	aula,	escola	etc.).
Conexões	e	
escalas
Ciclos	naturais	
e a vida 
cotidiana
(EF01GE05)	Observar	e	descrever	ritmos	naturais	(dia	
e	noite,	variação	de	temperatura	e	umidade	etc.)	em	
diferentes	escalas	espaciais	e	temporais,	comparando	a	
sua	realidade	com	outras.
Mundo	do	
trabalho
Diferentes	tipos	
de	trabalho	
existentes	no	
seu	dia	a	dia
(EF01GE06)	Descrever	e	comparar	diferentes	tipos	de	
moradia	ou	objetos	de	uso	cotidiano	(brinquedos,	roupas,	
mobiliários),	considerando	técnicas	e	materiais	utilizados	
na	sua	produção.
(EF01GE07)	Descrever	atividades	de	trabalho	relacionadas	
com	o	dia	a	dia	da	sua	comunidade.
Formas	de	
representação 
e pensamento 
espacial
Pontos	de	
referência
(EF01GE08)	Criar	mapas	mentais	e	desenhos	com	base	
em	itinerários,	contos	literários,	histórias	inventadas	e	
brincadeiras.
(EF01GE09)	Elaborar	e	utilizar	mapas	simples	para	
localizar	elementos	do	local	de	vivência,	considerando	
referenciais	espaciais	(frente	e	atrás,	esquerda	e	direita,	
em	cima	e	embaixo,	dentro	e	fora)	e	tendo	o	corpo	como	
referência.
Natureza,	
ambientes	e	
qualidade	de	
vida
Condições	de	
vida	nos	lugares	
de	vivência
(EF01GE10)	Descrever	características	dos	seus	lugares	
de	vivência	relacionadas	aos	ritmos	da	natureza	(chuva,	
vento,	calor	etc.).
(EF01GE11)	Associar	mudanças	do	vestuário	e	hábitos	
alimentares	na	sua	comunidade	ao	longo	do	ano,	
decorrentes	da	variação	da	temperatura	e	umidade	no	
ambiente.
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
150
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Observando	 o	 quadro	 de	 compreensão	 de	 ensino	 e	 aprendizagem	 do	
primeiro	ano,	percebe-se	que	a	 formação	 intelectual	geográfica	se	 forma	sob	o	
ponto	de	vista	da	relação	da	criança	com	sua	vivência,	algo	voltado	ao	seu	contato	
com	o	entorno.
 
Nessa	fase,	é	fundamental	que	os	alunos	consigam	saber	e	responder	
algumas	questões	 a	 respeito	de	 si,	 das	pessoas	 e	dos	 objetos:	Onde	
se	 localiza?	 Por	 que	 se	 localiza?	 Como	 se	 distribui?	 Quais	 são	 as	
características	socioespaciais?	Essas	perguntas	mobilizam	as	crianças	
a	 pensarem	 a	 respeito	 da	 localização	 dos	 objetos	 e	 das	 pessoas	 no	
mundo,	permitindo	que	compreendam	seu	lugar	no	mundo	(BRASIL,	
2018,	p.	365).
Tornou-se	uma	proposta	voltada	para	o	despertar	das	primeiras	noções,	
direcionadas	a	partir	da	condução	entre	professor	e	aluno,	de	quatro	pontos	que	
se	 interligam	 e	 contemplam	 as	 seguintes	 perguntas:	 Onde?	 Por	 quê?	 Como?	
Quais?	Referenciadas,	a	primeira	dá	a	identificação	de	pertença,	a	segunda	reflete	
o	entendimento	da	localização,	a	terceira	conduz	o	indivíduo	a	partir	do	aspecto	
da	orientação,	e	a	quarta	traduz	a	relação	compreendida	no	espaço	referente	à	
organização	e	vivência	socioespacial.
 
Esses	primeiros	contatos	com	o	cronograma	de	conhecimento	geográfico	
geram	uma	predominância	do	ensino	para	a	alfabetização	cartográfica,	relação	
do	meio	natural	com	o	homem,	e	sua	manifestação	em	frentes	como	paisagem,	
território	 e	 lugar,	porém,	o	viés	humano	está	atrelado	às	discussões,	 e	precisa	
ser	delicadamente	discutido	na	composição	e	formação	cidadã	dos	alunos	pela	
relação	que	o	indivíduo	possui	com	o	espaço	em	que	ele	vive	e	constrói.
Partindo	 dos	 exemplos	 da	 unidade	 temática	 “O	 sujeito	 e	 o	 seu	 lugar	
no	mundo”,	podem	ser	vistas	percepções	 claras,	discutidas	à	 luz	da	geografia	
cultural.	Veja	habilidades	que	devem	ser	desenvolvidas	no	aluno:	“a	identificação,	
semelhança	e	diferença	do	uso	dos	espaços	públicos”,	uma	visão	amplamente	
pesquisada	 no	 âmbito	 cultural	 da	 geografia,	 apresentando	 grupos	 e	 suas	
relações	de	territorialidade	com	os	lugares;	e	“as	semelhanças	e	diferenças	entre	
jogos	 e	 brincadeiras	 de	 diferentes	 épocas	 e	 lugares”,	 apresentando,	 ao	 aluno,	
a	heterogeneidade	dos	povos,	 culturas	e	 lugares.	O	Brasil,	por	 exemplo,	 é	um	
país	 continental,	 dividido	por	 regiões	distintas	 em	 fauna,	 flora,	 colonização	 e,	
por	conseguinte,	a	distinção	cultural	reflete	no	modo	de	vida,	na	produção	da	
paisagem,	e,	inclusive,	no	desenvolvimento	das	brincadeiras.	A	partir	do	fomento	
dessas	 habilidades,	 inicia-se	 a	 valorização	 da	 cultura	 do	 outro,	 respeitando,	
democraticamente,	a	história	de	cada	povo,	as	pluralidades	étnica	e	cultural	em	
que	o	Brasil	se	apresenta.
O	quadro	a	seguir,	assim	como	o	anterior,	segue	um	padrão	das	unidades	
temáticas,	porém,	com	um	tom	de	aprofundamento,	podendo	ser	visto	nos	novos	
objetos	de	conhecimento	e	nas	habilidades	a	serem	desenvolvidas.
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
151
Abordando	 a	 Unidade	 1,	 “O	 sujeito	 e	 o	 seu	 lugar	 no	mundo”,	 com	 o	
objetivo	de	conhecimento	do	território	e	da	diversidade	cultural,	o	professor	tem,	
como	objetivo,	desenvolver	habilidades	no	campo	da	representatividade	cultural	
inserida	no	território.	Referente	à	unidade,	vamos	fazer	uma	breve	retrospectiva	
das	habilidades?
É	preciso	direcionar	o	foco	às	palavras	descrever	e	identificar.	Esses	verbos	
que	os	alunos	precisam	utilizar	para	iniciar	o	desenvolvimento	da	aprendizagem	
no	campo	da	geografia.	As	crianças,	 com	a	perspectiva	de	descobrir,	precisam	
fazer	 um	 exercício	 de	 reconhecimento,	 nesse	 caso,	 descrevendo,	 com	 riqueza	
de	 detalhes,	 o	 que	 compõe	 os	 lugares	 onde	 vivenciam.	 Depois,	 identificar	 as	
semelhanças	 e	 dessemelhanças	 entre	 o	 seu	 lugar	 de	 residência	 com	 os	 outros	
lugares	da	cidade,	como	a	vizinhança	da	escola.	Nesse	passo,	surge	o	“jogo	dos	
sete	 erros”,	 pois	 a	 criança	passa	 a	 reconhecer	 o	modo	de	vida	 e	 as	dinâmicas	
dessas	 vivências.	 A	 interpretação	 dos	 diversos	 lugares	 as	 encaminha	 para	 a	
compreensão	de	categorias	importantes	para	a	geografia.		
Convidamos, a quem se interessar, a saber da importância da brincadeira para 
alunos de séries iniciais. Leia o artigo chamado Os mais variados jeitos de brincar: https://
novaescola.org.br/conteudo/6926/os-mais-variados-jeitos-de-brincar.
 Para se inspirar em brincadeiras que possam ser aplicadas com os alunos, 
convidamos você a acompanhar uma playlist com diversas brincadeiras que identificam e 
diferenciam as cinco regiões do país: https://www.youtube.com/playlist?list=PLfarCWFbZ2 
YaduKWfvwtY80yshrgenjVB.
DICASNa	temática	do	quarto	ano,	o	conhecimento	geográfico	atravessa	as	barreiras	
do	 pertencimento	 e	 vivências,	 de	 forma	 respeitosa	 e	 pactual,	 vislumbrando	 um	
universo	maior,	agora,	também,	representado	por	regiões.	É	relevante	que	o	ensino	
ganhe	força	teórica	dos	conceitos	sistematizados,	como	paisagem,	região	e	território,	
para	que	o	espectro	da	disciplina	consiga	tomar	forma.
152
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
QUADRO 3 – ESTRUTURA DO CONTEÚDO DO QUARTO ANO DOS ANOS INICIAIS 
MEDIANTE A BNCC
Unidades 
temáticas
Objetos de 
conhecimento Habilidades
O	sujeito	e	o	
seu	lugar	no	
mundo
Território	e	
diversidade 
cultural
(EF04GE01)	Selecionar,	em	seus	lugares	de	vivência	e	em	
suas	histórias	familiares	e/ou	da
comunidade,	elementos	de	distintas	culturas	(indígenas,	
de	outras	regiões	do	país,	latino-americanas,	europeias,	
asiáticas	etc.),	valorizando	o	que	é	próprio	em	cada	uma	
delas	e	sua	contribuição	para	a	formação	das	culturas	local,	
regional	e	brasileira.
Processos	
migratórios	no	
Brasil
(EF04GE02)	Descrever	processos	migratórios	e	suas	
contribuições	para	a	formação	da	sociedade	brasileira.
Instâncias	do	
poder	público	
e canais de 
participação 
social
(EF04GE03)	Distinguir	funções	e	papéis	dos	órgãos	do	
poder	público	municipal	e	canais	de	participação	social	na	
gestão	do	município,	incluindo	a	Câmara	de	Vereadores	e	
Conselhos	Municipais.
Conexões	e	
escalas
Relação	campo	
e cidade
(EF04GE04)	Reconhecer	especificidades	e	analisar	a	
interdependência	do	campo	e	da	cidade,	considerando	
fluxos	econômicos,	de	informações,	de	ideias	e	de	pessoas.
Unidades	
político-
administrativas 
do	Brasil
(EF04GE05)	Distinguir	unidades	político-administrativas	
oficiais	nacionais	(Distrito,	Município,	Unidade	da	
Federação	e	grande	região),	suas	fronteiras	e	sua	hierarquia,	
localizando	seus	lugares	de	vivência.
Territórios	
étnico-culturais
(EF04GE06)	Identificar	e	descrever	territórios	étnico-
culturais	existentes	no	Brasil,	como	terras	indígenas	e	de	
comunidades	remanescentes	de	quilombos,	reconhecendo	a	
legitimidade	da	demarcação	desses	territórios.
Mundo	do	
trabalho
Trabalho	no	
campo e na 
cidade
(EF04GE07)	Comparar	as	características	do	trabalho	no	
campo	e	na	cidade.
Produção,	
circulação	e	
consumo
(EF04GE08)	Descrever	e	discutir	o	processo	de	produção	
(transformação	de	matérias-primas),	circulação	e	consumo	
de	diferentes	produtos.
Formas	de	
representação 
e pensamento 
espacial
Sistema	de	
orientação
(EF04GE09)	Utilizar	as	direções	cardeais	na	localização	
de	componentes	físicos	e	humanos	nas	paisagens	rurais	e	
urbanas.
Elementos 
constitutivos	
dos mapas
(EF04GE10)	Comparar	tipos	variados	de	mapas,	
identificando	suas	características,	elaboradores,	finalidades,	
diferenças	e	semelhanças.
Natureza,	
ambientes	e	
qualidade	de	
vida
Conservação	e	
degradação da 
natureza
(EF04GE11)	Identificar	as	características	das	paisagens	
naturais	e	antrópicas	(relevo,	cobertura	vegetal,	rios	
etc.)	no	ambiente	em	que	vive,	além	da	ação	humana	na	
conservação	ou	degradação	dessas	áreas.
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
153
Não	é	abandonando	o	conhecimento	prévio	desse	aluno,	mas	associados	
esses	 conhecimentos	 de	 maneira	 integrativa,	 para	 que	 ele	 consiga	 sair	 da	
alfabetização	geográfica	para	iniciar	as	interligações	e	análises	dos	fenômenos	e	
dinâmicas	(ambiental,	política,	econômica,	social).	É	preciso	partir	do	município	
onde	reside	para	outros	e,	assim,	englobar	uma	escala	de	entendimento	macro,	a	
exemplo	da	complexidade	do	seu	país	de	origem.
 
A	premissa	básica	é	possibilitar	que	os	alunos	absorvam	e	compreendam,	
a	partir	das	variáveis	espaço-tempo,	as	feições	referentes	aos	aspectos	naturais	e	
culturais	de	distintas	sociedades,	paisagens	e	lugares.
 
Enquanto	 professor,	 proponha	 o	 reconhecimento	 da	 diversidade	 nos	
âmbitos	social	e	 local,	pois	o	aluno,	consequentemente,	 identificará	o	universo	
dinâmico	 e	 heterogêneo	 que	 ele	 e	 outros	 atuam.	Neste	momento,	 a	 geografia	
cultural	pode	ser	uma	fonte	de	busca	e	um	meio	de	interpretação	das	relações	
da	 sociodiversidade,	 das	 culturas,	 das	 ações	 de	 territorialidades,	 formação	 de	
paisagens	e	demais	adendos,	compreendendo	os	povos	tradicionais:	índios,	afro-
brasileiros,	quilombolas,	ciganos	etc.
No	 momento,	 a	 manifestação	 da	 natureza,	 visualizada	 a	 partir	 da	
paisagem	local,	indica	uma	explicação	geral	das	trocas	entre	homem/sociedade	
e	 natureza.	Assim,	 podem	 ser	 identificadas	 interferências	 políticas,	 atividades	
econômicas,	tradições	culturais	e	tantos	outros	elementos	que	contribuem	para	
a	transformação	do	lugar	e,	consequentemente,	da	paisagem	da	qual	esse	aluno	
faz	parte.
	Embora	as	perspectivas	naturais	 sejam	 intensificadas	nas	unidades,	 as	
influências	 sociais	 também	 participam	 com	 as	 representações	materiais	 e	 não	
materiais,	como	a	arquitetura	dos	lugares,	dos	costumes	alimentares	e	das	técnicas	
implantadas	no	trabalho	e	no	lazer.	Esses	e	outros	aspectos	podem	ser	explorados	
e	trabalhados	em	sala	de	aula.
A	partir	de	uma	leitura	rápida	das	unidades,	percebe-se	a	possibilidade	
de	 introduzir	 temáticas	 viáveis	 ao	 viés	 cultural,	 e,	 como	meio	 propagador	 da	
aplicação	 da	 diversidade	 sociocultural,	 propomos,	 também,	 a	 introdução	 de	
competências	gerais.
O	repertório	cultural,	nas	ciências	humanas,	tem,	como	objetivo,	abordar	
as	 identidades	 que	 os	 alunos	 possuem	 enquanto	 brasileiros	 pertencentes	 das	
diversas	 regiões	 do	 país.	 Ainda,	 apresentar,	 a	 partir	 da	 divisão	 regional,	 o	
desenvolvimento	 das	 características	 culturais	 próprias,	 além	 do	 movimento	
de	 absorção	 cultural,	 quando	 também	 assimilam	 as	 influências	 em	maior	 ou	
menor	grau	das	outras	culturas.	Neste	instante,	a	geografia	visa	à	valorização	da	
diversidade	cultural.
 
154
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
Mediante	 a	 competência	 3,	 “repertórios	 culturais”,	 espera-se,	 pela	
estrutura	desenvolvida	pela	BNCC,	que	o	aluno	desenvolva	seis	pontos	diretos,	
representados	 pela	 fruição,	 expressão,	 investigação	 e	 identidade	 cultural,	
consciência	 multicultural,	 respeito	 à	 diversidade	 cultural	 e	 mediação	 da	
diversidade	cultural.
QUADRO 4 – META DE DESENVOLVIMENTO DO ALUNO ATÉ O TÉRMINO 
DO ENSINO FUNDAMENTAL
META	DE	DESENVOLVIMENTO	DOS	ALUNOS
Fruição
Vivenciar	 sua	 identidade,	 comunidade	 e	 cultura	 e	 demonstrar	
sentimento	de	pertencimento,	por	meio	de	 experiências	 artísticas	 e	
explorando	relações	entre	culturas,	sociedades	e	as	artes.
Expressão Expressar	sentimentos,	 ideias,	histórias	e	experiências	por	meio	das	artes.	Documentar,	compartilhar	e	analisar	obras	criativas.
Investigação e 
identidade cultural
Reconhecer	e	discutir	o	significado	de	eventos	e	manifestações	culturais	
e	da	influência	da	cultura	na	formação	dos	grupos	e	identidades.
Consciência 
multicultural
Desenvolver	senso	das	identidades	individual	e	cultural,	e	demonstrar	
curiosidade,	compreensão	e	respeito	com	diferentes	culturas	e	visões	
de	mundo.
Respeito à diversidade 
cultural
Experimentar	 diferentes	 vivências	 culturais	 e	 compreender	 a	
importância	de	valorizar	identidades,	tradições,	manifestações,	trocas	
e	colaborações	culturais	diversas.
Mediação da 
diversidade cultural
Reconhecer	os	desafios	e	benefícios	de	se	viver	e	trabalhar	em	sociedades	
culturalmente	diversas	e	explorar	novas	formas	de	reconciliar	valores	
e	perspectivas	culturais	diferentes	ao	abordar	desafios	em	comum.
FONTE: <https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/7/competencia-3-repertorio-cultural>. 
Acesso em: 26 ago. 2020.
Anteriores	à	validação	da	BNCC,	nos	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	
(PCNs),	 os	 temas	 transversais,	 através	do	 item	pluralidade	 cultural,	 firmavam	
relações	 estreitascom	 a	 geografia	 e	 suas	 abordagens	 conteudísticas,	 pois	
substantivavam	 a	 disciplina	 mediante	 projetos	 de	 interpretação	 humanista,	
compartilhando	visões	colaborativas	com	áreas	próximas.
Apesar	de	ter	sido	aglutinada	e	reformulada	pela	BNCC,	a	compreensão	
apresentada	pelos	PCNs	 continua	 sendo	uma	narrativa	 atualizada	 em	virtude	
dos	seus	objetivos	de	existência	em	relação	à	pluralidade	cultural:
 
Para	 viver	 democraticamente	 em	 uma	 sociedade	 plural,	 é	 preciso	
respeitar	 e	 valorizar	 as	 diversidades	 étnica	 e	 cultural.	 Por	 sua	
formação	histórica,	a	 sociedade	brasileira	é	marcada	pela	presença	
de	 diferentes	 etnias,	 grupos	 culturais,	 descendentes	 de	 imigrantes	
de	diversas	nacionalidades,	 religiões	 e	 línguas.	No	que	 se	 refere	 à	
composição	populacional,	as	regiões	brasileiras	apresentam	diferenças	
entre	si;	cada	região	é	marcada	por	características	culturais	próprias,	
assim	como	pela	convivência	interna	dos	grupos	diferenciados.	Essa	
diversidade	 etnocultural,	 frequentemente,	 é	 alvo	 de	 preconceito	 e	
discriminação,	atingindo	a	escola	e	se	reproduzindo	no	seu	interior.	A	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
155
desigualdade,	que	não	se	confunde	com	a	diversidade,	também	está	
presente	em	nosso	país	como	resultado	da	injustiça	social.	Ambas	as	
posturas	exigem	ações	efetivas	de	superação.	Nesse	sentido,	a	escola	
deve	ser	local	de	aprendizagem,	para	que	as	regras	do	espaço	público	
democrático	garantam	a	igualdade,	do	ponto	de	vista	da	cidadania,	
e,	ao	mesmo	tempo,	a	diversidade,	como	direito.	O	trabalho	com	a	
pluralidade	cultural	se	dá,	assim,	a	cada	instante,	propiciando	que	a	
escola	coopere	na	formação	e	consolidação	de	uma	cultura	da	paz,	
baseada	na	tolerância,	no	respeito	aos	direitos	humanos	universais	e	
cidadania	compartilhada	por	todos	os	brasileiros.	Esse	aprendizado	
exige,	 sobretudo,	a	vivência	de	princípios	democráticos	no	 interior	
de	 cada	 escola,	 no	 trabalho	 cotidiano	 de	 buscar	 a	 superação	 de	
qualquer	tipo	de	discriminação	e	exclusão	social,	valorizando	cada	
indivíduo	 e	 todos	 os	 grupos	 que	 compõem	 a	 sociedade	 brasileira	
(BRASIL,	1998a,	p.	69).
Vislumbrando	uma	análise	cultural,	seguimos	afirmando	que,	ao	passar	
das	 unidades	 e	 complexidades	 dos	 anos	 fundamentais	 para	 o	 ensino	 médio,	
alguns	temas	podem	ser	dimensionados	pelo	aspecto	da	geografia	cultural,	como	
a	formação	socioespacial	campo	e	cidade,	conteúdo	relacionado	a	monumentos	
(formas	simbólicas	espaciais),	os	museus	como	referência	histórica	na	 leitura	e	
compreensão	 das	 transformações	 do	 espaço,	 o	 dinamismo	 e	 diversidade	 dos	
conjuntos	 arquitetônicos	 urbanos	 de	 monumentos	 históricos,	 a	 evolução	 das	
formas	e	estruturas	urbanas,	temas	relacionados	às	festas	e	às	tradições	do	folclore	
brasileiro,	como	resistências	e	permanências	dos	traços	de	identidades	regionais.
Conteúdos	que	tratam	das	paisagens	e	diversidade	territorial	no	Brasil,	um	
assunto	que	desperta	a	interpretação	dos	vários	“brasis”,	a	partir	da	diversidade	
das	 regiões,	 além	 das	 suas	 singularidades,	 seus	 aspectos	 sociais,	 culturais	 e	
ambientais	refletidos	nas	passagens	da	sua	heterogeneidade.
156
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
As	 regiões	 brasileiras	 possuem	 identidades	 que	 podem	 ser	 estudadas	
por	espectros	maiores	e	mais	complexos	do	que	as	anteriores	divisões	territoriais	
administrativas.	 Em	 uma	 região,	 existem	 rede	 urbana,	 atividades	 agrícolas,	
manifestações	 culturais,	 enfim,	 tantos	 prismas	 que	 formam	 grandes	 teias	 de	
análises.
Um	exemplo	muito	 corriqueiro	 se	 refere	 ao	bioma	 caatinga.	Por	muito	
tempo,	 apenas	 se	 empregou,	 ao	 estudo	 da	 caatinga,	 um	 estereótipo	 formado	
a	 partir	 do	 conhecimento	 alheio	 ao	 lugar,	 ou	 a	 partir	 da	 perspectiva	 de	
desenvolvimento	 regional,	 tendo	 em	vista	 os	 aspectos	 políticos	 e	 econômicos,	
esquecendo-se	 de	 identificar	 toda	 historicidade	 e	 cultura	 regional,	 além	 da	
naturalidade	 da	 heterogeneidade,	 que	 deixa	 de	 qualificar,	 competitivamente,	
regiões/paisagens	 entre	 melhores	 ou	 piores,	 mas	 resgata	 e	 compreende	 as	
identidades	e	 suas	dissemelhanças,	que	 também	são	essenciais	ao	processo	de	
ensino	e	aprendizagem.
Por	exemplo,	algumas	das	grandes	produções	cinematográficas	brasileiras	
acerca	 da	 região	 nordeste,	 principalmente,	 no	 cenário	 do	 semiárido,	 onde	 se	
encontra	 o	 bioma	 da	 caatinga.	 Há,	 como	 objetivo,	 retratar	 uma	 narrativa	 do	
sofrimento,	seca,	fome,	desprezo,	pois	são	algumas	das	realidades,	mas	se	alargam	
como	 estereótipos	 únicos	 e	 gigantes,	 formados	 para	 retratar	 aquela	 região,	
as	paisagens	 e	 comunidades.	Então,	 vamos	 aos	questionamentos:	 como	 será	o	
semiárido	visto	pelo	olhar	dos	nordestinos?	Será	que	aquelas	paisagens	apenas	
expressam	sentimentos	negativos?	Será	que	a	população	representa	uma	figura	
tosca,	com	um	vocabulário	raso?	Portanto,	o	olhar	do	outro	acerca	da	região	nem	
sempre	contém	uma	característica	plural	ou	endêmica,	principalmente,	quando	
este	não	pertence	ao	lugar	ou	não	possui	vínculos	afetivos	a	ele.
 
Uma	paisagem	 árida,	 com	 rochas	 aparentes,	 além	do	 sol,	 seca	 e	 calor,	
transmite,	 dentre	 tantas	 sensações,	 um	 sentimento	 único	 de	 pertencimento,	
de	que	ser	um	 indivíduo	 forte	é	uma	decisão	da	vida,	 superar-se	mediante	as	
adversidades	naturais	e	sociais	se	torna	uma	obrigação,	e	não	uma	possibilidade	
de	escolha.	
Além	de	tudo,	existe	uma	questão	entre	os	sertanejos	nordestinos:	entre	
viver	e	sobreviver	se	escolhe,	sabiamente,	saber	viver	entre	a	fartura	ou	a	falta	
dela.
 
Como	exemplo	correspondente	ao	assunto,	uma	música	que	representa	
o	 olhar	próximo	 e	de	 experiência	 com	o	 lugar,	 de	um	 compositor	 nordestino,	
paraibano,	Ton	Oliveira,	que	apresenta	Paraíba Joia Rara	(2011),	uma	Paraíba	para	
além	da	escassez,	mas	repleta	de	encantos.	
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO
157
Engloba	 um	 sentido	 de	 identidade	 para	 os	 conterrâneos	 dessa	 terra,	
elegendo,	positivamente,	as	paisagens,	os	elementos	históricos,	personalidades	
da	 literatura	e	a	 cultura	 regional.	A	canção	 representa,	para	alguns,	o	hino	da	
Paraíba,	pela	importância	de	destacar	o	lado	positivo	do	estado.	Tal	música	foi	
elevada	à	categoria	de	patrimônio	imaterial	desde	2017.	
Aqui,	o	sol	nasce	primeiro	e	tão	desinibido,	e	a	lua	exibe	um	estrelado	
com	 tanta	 beleza	 que	 até	 o	 algodão	 se	 empolga	 e	 já	 vem	 colorindo	
exibições	 inexplicáveis	 da	 mãe-natureza.	 Aqui,	 até	 os	 dinossauros	
fizeram	morada	e	a	gente	pode,	ao	som	de	Jackson,	pandeirear,	ouvir	
a	voz	que,	na	bandeira,	ficou	estampada,	dar	frutos	que	o	tempo	e	a	
história	não	vão	apagar.	Eu	sou	da	Paraíba,	é	meu	esse	lugar,	a	cara	
desse	povo	tem	a	minha	cara,	encanto	da	beleza	que	me	faz	sonhar,	
lugar	tão	lindo	assim	pra	mim	é	joia	rara,	que	bom	estar	no	ponto	mais	
oriental	astrologicamente,	ser	um	ariano,	rimar	como	um	augusto	tão	
angelical,	eu	sou	muito	feliz,	eu	sou	paraibano	(OLIVEIRA,	2011,	s.p.).
Numa	 visão	 menos	 romantizada	 e	 mais	 politizada	 acerca	 da	 luta	 de	
classes	e	formação	do	proletariado,	Graciliano	Ramos,	em	Vidas secas,	escrita	em	
1938,	 aponta	 para	 a	 perspectiva	 do	materialismo	 histórico	 dialético.	Nas	 suas	
entrelinhas,	 numa	 relação	 de	 sofrimento	 em	meio	 ao	 histórico	 das	 condições	
naturais	de	seca	que	o	nordeste	vinha	enfrentando,	ele	discorre	a	 respeito	das	
relações	social	e	de	trabalho	injustas	em	que	os	personagens	viviam.	Realizou	uma	
forte	crítica	social	através	da	literatura,	frente	à	falta	de	escolarização,	indiferença	
política,	fome,	escassez	dos	recursos	hídricos	e	de	todos	os	recursos	básicos	da	
sobrevivência	humana.
	 A	 respeito	 da	 diversidade	 da	 população	 brasileira,	 tem-se,	 ainda,	 a

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