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Indaial – 2020
GeoGrafia Cultural 
e da reliGião
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S192g
Sampaio, Débora Vanessa Régis Ferreira
Geografia cultural e da religião. / Débora Vanessa Régis Ferreira 
Sampaio; Jefferson Rodrigues de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
250 p.; il.
ISBN 978-65-5663-234-6
ISBN Digital 978-65-5663-235-3
1. Fenômenos geográficos culturais. - Brasil. I. Oliveira, Jefferson 
Rodrigues de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 900
apresentação
Caros alunos, este livro reúne uma série de discussões textuais 
referentes à compreensão da geografia cultural discutida amplamente nas 
academias, principalmente após o processo de renovação, que fomentou os 
debates mais recentes desse significativo subcampo da ciência geográfica.
 
As Unidades 1, 2 e 3 têm, como objetivo, proporcionar uma base 
formativa sólida que auxilie a interpretar os fenômenos geográficos culturais 
que ocorrem no espaço e, sobretudo, poder encontrar referências científicas 
que possam amparar suas futuras pesquisas. Os assuntos discutidos 
encontram-se tangenciados frente à conceituação e ao entendimento de 
pensadores, desde os séculos passados ao contemporâneo, como geógrafos, 
antropólogos e sociólogos.
Esses capítulos abordarão, especificamente, as diferentes 
transformações na geografia, através de um breve histórico ou resgate da 
história do pensamento geográfico. Desde as interpretações clássicas e seus 
fundamentos da base inicial, buscaremos compreender as relações entre 
cultura, espaço e algumas das diferentes dimensões de análise e estudo, 
assim, poderemos verificar como a geografia e sua dimensão espacial estão 
em toda parte.
Nessas circunstâncias, apresentamos a importância da cultura para 
os estudos, como esta veio a ser percebida, analisada e incorporada aos 
estudos culturais da geografia através das disciplinas Geografia Cultural e 
Geografia da Religião.
Sugerimos, a você, enquanto graduando e futuro profissional da 
geografia, aprofundar seus conhecimentos a partir desse estudo, envolvendo 
leitura, reflexões e discussões sobre o campo da geografia cultural. Apesar 
de estar sendo difundida no Brasil desde o começo da década de 1990, 
ainda precisa ser explorada e amplamente estudada, tendo em vista seu 
aspecto dinâmico, popular e diverso, mediante a heterogeneidade da cultura 
brasileira.
Honrosamente, convidamos você para, a partir do material didático, 
aprender e compreender um pouco mais sobre o subcampo que ultrapassou 
a marca centenária. Essa jornada, baseada entre homem, espaço e cultura, 
parece longa, mas ainda possui muito a ser desvendada, depende, inclusive, 
de você, futuro geógrafo da geografia cultural. Desejamos bons estudos!
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 1
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO 
DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ....................................................... 3 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA .............................................................................. 5
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ............................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: CULTURA 
E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA ........ 29
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA ..................................................... 31
4 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO 
GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA CULTURA ................................................. 39
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E RENOVAÇÃO................... 42
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 49
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL 
NO BRASIL:UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, 
“NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO ......................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51
2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS PRIMEIRAS INCURSÕES .... 52
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO NO BRASIL ........................ 55
4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980 ......................................................... 57
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA GEOGRAFIA 
CULTURAL ........................................................................................................................................ 59
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL .................................................. 61
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 63
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 70
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO 
PARA A CONTEMPORANEIDADE .................................................................... 73
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO 
CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................................... 75 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA PARTE? .................................. 76
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A UMA GEOGRAFIA 
UNIVERSITÁRIA ......................................................................................................................... 87
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA BREVE 
COMPREENSÃO .............................................................................................................................. 93
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 100
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL....................................................................................... 101
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS ......................................................................... 102
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES APONTAMENTOS ................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 124
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO 
DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO .................................................. 127 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE: 
COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................... 128
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA POPULAR 
E IMAGEM ........................................................................................................................................ 143
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ................................ 146
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 156
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 160
UNIDADE 3 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA .................... 161
TÓPICO 1 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA ........................ 163 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 163
2 DISCUSSÕES ................................................................................................................................... 167
3 RELIGIÃO E SUA ESPACIALIDADE: REPETIÇÃO DA HIEROFANIA INICIAL .......... 173
4 CATEGORIAS DE ANÁLISE: SAGRADO E PROFANO ........................................................ 174
4.1 AS DIMENSÕES DE ANÁLISE ................................................................................................ 176
5 HIERÓPOLIS OU CIDADES-SANTUÁRIO ............................................................................. 178
6 O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS PEREGRINAÇÕES ............................................................ 186
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 190
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 193
TÓPICO 2 — O SAGRADO E A CIDADE: OLHARES SIMBÓLICOS RELIGIOSOS ........ 195
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 195
2 A CIDADE: TRANSFORMAÇÕES E PROCESSOS ................................................................. 197
2.1 A HISTÓRIA DA CIDADE: AS VERSÕES E OS OLHARES ................................................ 201
3 O SAGRADO E O URBANO: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO? ......................................... 204
4 O FOGO SAGRADO, O COLETIVO E AS PRIMEIRAS CIDADES ................................... 207
5 O SAGRADO E O URBANO: GÊNESE E FUNÇÃO DAS CIDADES .................................. 210
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 213
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 215
TÓPICO 3 — NOVAS DINÂMICAS DO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E 
HIPERMODERNIDADE .......................................................................................... 217 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217
2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA ON-LINE: NOVAS ESTRATÉGIAS 
DE DIFUSÃO A PARTIR DAS MÍDIAS..................................................................................... 221
3 TV, RÁDIO E INTERNET: O PODER DAS MÍDIAS NA DIFUSÃO DA FÉ ...................... 225
4 A RELIGIÃO E AS NOVAS INTERFACES DO SAGRADO NAS ERAS 2.0 E 3.0: 
AS PEREGRINAÇÕES ON-LINE ................................................................................................. 227
5 O SAGRADO E O PROFANO NA ERA HIPERMODERNA .................................................. 230
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 235
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 237
1
UNIDADE 1 — 
UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA 
HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, 
CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	a	relação	da	geografia	com	as	ciências	sociais,	principalmente	
com	 as	 áreas	 da	 antropologia	 e	 sociologia,	 a	 partir	 das	 nuanças	 e	
atualizações	 do	 conceito	 de	 cultura,	 o	 qual	 fundamenta	 os	 estudos	 da	
geografia	cultural;
•	 compreender	a	geografia	cultural	enquanto	subcampo	da	ciência	geográfica,	
dedicada	 ao	 estudo	 das	 relações	 do	 ser	 humano	 (fenômenos	 espaciais),	
manifestações	culturais,	ou	seja,	das	dimensões	espaciais	da	cultura;
•	 discutir,	 a	partir	do	 estado	da	 arte,	 o	processo	da	gênese	da	geografia	
cultural	e	o	desenvolvimento	da	sua	dinâmica	de	renovação;
•	 analisar	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil,	 suas	 influências,	
interfaces	e	heterogeneidade	do	campo	brasileiro.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	No	 decorrer	 da	 unidade	 você	
encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	 AS	INTERFACES	DA	APLICABILIDADE	DA	CULTURA	NO	
ÂMBITO	DO	DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
TÓPICO	2	–		UMA	REFERÊNCIA	AOS	PERÍODOS	DE	
DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	CULTURAL
TÓPICO	3	–	 A	CENTRALIDADE	DA	ABORDAGEM	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL	NO	BRASIL:	UM	CAMINHAR	PARALELO	
ENTRE	A	ORIGEM,	“NEGLIGÊNCIA”	E	DINAMISMO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
AS INTERFACES DA APLICABILIDADE 
DA CULTURA NO ÂMBITO DO 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
Sejam	bem-vindos!	A	partir	de	agora,	vocês	estão	convidados	a	navegar	
em	 um	 mar	 de	 conhecimento	 que,	 por	 muito	 tempo,	 foi	 negligenciado	 pela	
comunidade	acadêmica	geográfica:	a	geografia	cultural,	um	campo	da	geografia	
humana	que	se	firmou	cientificamente	e	temporalmente.	Supera	mais	de	100	anos	
de	história	do	pensamento	geográfico,	 tendo,	como	focos,	as	análises	baseadas	
entre	homem,	espaço	e	cultura.
Neste	 tópico,	 são	 desenvolvidas,	 além	 da	 introdução,	 as	 temáticas	 “a	
cultura:	uma	percepção	dinâmica”	e	“o	 interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	
geograficidade	da	geografia	cultural”.	Ainda,	há	o	resumo	referente	ao	tópico	e	
as	atividades,	auxiliando	o	processo	de	aprendizagem.
 
Quando	trouxemos	“a	cultura:	uma	percepção	dinâmica”,	tivemos,	como	
princípio,	 apresentar,	 de	 maneira	 breve,	 porém	 contextualizada	 e	 embasada,	
os	 processos	 evolutivos	 sobre	 a	 definição	 do	 termo	 cultura,	 respeitando	 cada	
momento,	 acontecimentos	 em	 escalas	 mundiais	 e	 influência	 epistemológica.	
O	 assunto	 discutido	 encontra-se	 tangenciado	 frente	 à	 conceituação	 e	 ao	
entendimento	de	pensadores	desde	os	séculos	passados	ao	mais	atual.	É	possível	
encontrar	geógrafos,	antropólogos	e	sociólogos:	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	
Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	e	Stuart	Hall.
 
Passamos	da	definição	determinista	de	cultura	inspirada	no	darwinismo	
evolucionista,	as	abordagens	sobre	o	particularismo	histórico	de	Boas,	a	 teoria 
supraorgânica	de	Kroeber,	a	teoria	interpretativista	apontada	por	Geertz	e,	por	
fim,	o	multiculturalismo	compreendido	por	Hall.
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
4
Caros estudantes, o conteúdo possui extensa literatura. Como meio auxiliar, a 
biblioteca virtual possui o livro do antropólogo Roque de Barros Laraia, intitulado Cultura: 
um conceito antropológico. 
 No título, o autor consegue expor um histórico sobre a histórica definição e conceito 
de cultura, as influências sobre a formação social por meio da cultura e a dinamicidade e 
diversidade da cultura entre os homens. Considera-se uma literatura clássica auxiliar, cujo 
objetivo é, de maneira acessível e introdutória, esclarecer o estudo sobre cultura.
DICAS
Trazemos,	 com	 clareza,	 que	 a	 compreensão	 conceitual	 sobre	 cultura	
passou	por	transformações	ao	longo	do	tempo,	perpassando	caminhos,	perdendo	
e	ganhando	estruturas,	não	indicando	graus	de	inferioridade	ou	superioridade	
quanto	 às	 abordagens,	 mas	 uma	 construção	 de	 conhecimentos	 baseados	 em	
possibilidades	 distintas,	 tendo,	 por	 exemplo,	 a	 aproximação	 da	 geografia	
entre	 alguns	 campos	 da	 humanidade,	 cujo	 resultado	 rende	 uma	 produção	
interdisciplinar	rica,	valorizando	a	dinâmica	espaço-temporal.
 
O	segundo	tema,	“o	interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	
da	geografia	cultural”,	vem	sincronizar	com	o	conteúdo	estudado	anteriormente,	
retomando	 os	 pontos	 de	 contato	 entre	 a	 ciência	 geográfica	 e	 a	 cultura.	 São	
apresentadas	 narrativas	 geográficas	 que	 sustentam	 cientificamente	 a	 geografia	
cultural	e	seu	interesse	pela	espacialidade,	este	compreendido	pela	formação	de	
território,	poder,	territorialidade,	lugar,	espaços	e	paisagens.	
Seguimos	 tratando	 das	 novas	 possibilidades	 de	 interpretar	 as	 relações	
socioespaciais	a	partir	da	importância	da	cultura	na	geografia,	desconstruindo	as	
barreiras	anteriormente	formadas	na	macroesfera	da	disciplina.	A	temática	afirma	
que	 os	 fenômenos	 geográficos	 também	 carregam	 traços	 culturais	 que	 podem	
ser	desvendados	pela	geografia	 cultural.	Embora	essa	discussão	possa	parecer	
retrógrada	e	aparentemente	resolvida,	acredite,	ainda	é	recorrente.	Especulações	
circulam	 indagando	 sobre	 a	 originalidade	 do	 ramo	 e	 se	 ele,	 efetivamente,	 faz	
parte	dos	estudos	da	ciência	geográfica.	
Por	fim,	são	apresentadas	e	discutidas	nove	estruturas	culturais	da	ciência	
geográfica:	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações;	
A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados;	A	cultura	
existe	através	dos	 indivíduos	que	a	 recebem	e	a	modificam,	eles	 se	 constroem	
como	 indivíduos	no	processo;	O	processo	da	 construção	da	 cultura	 também	é	
um	processo	social;	A	construção	do	 indivíduo	como	ser	 social	 se	 traduz	pelo	
nascimento	de	sentidos	de	identidade;	A	construção	da	sociedade	pela	cultura;	A	
construção	do	espaço	pela	cultura;	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores	e	
Cultura	e	ideologias	comunitárias.	Bons	estudos!	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
5
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA 
Certamente,	enquanto	indivíduos,	estudantes	e	futuros	profissionais	da	
ciência	geográfica,	vocês	já	ouviram	ou	fizeram	alusão	ao	termo	“cultura”,	certo?	
Assim,	independentemente	das	circunstâncias,	experiências	pessoais	ou	regionais,	
optamos	por	percorrer	os	 caminhos	existentes	da	 (re)construção,	 elencando	as	
possibilidades	do	emprego	conceitual	da	cultura	no	âmbito	acadêmico,	cujo	foco	
ampara	a	geografia	cultural.
Então,	 primeiramente,	 para	 promover	 essa	 apresentação,	Corrêa	 (2009)	
contribui	afirmando	que,	a	cultura,	enquanto	vocábulo,	possui	uma	diversidade	
de	colocações	e	significados,	desde	o	senso	comum,	o	qual	não	deve	ganhar	força	
na	aprendizagem	em	questão,	até	nas	discussões	conceituais,	que	adentram	as	
matrizes	acadêmicas	nas	ciências	sociais.
 
No	momento	 inicial	da	 leitura,	 façamos	uma	proposta,	 cujo	objetivo	 indica	
uma	compreensão	histórica	dos	fatos,	realidade	acadêmica	e	período	da	construção	
conceitual	do	termo	cultura.	Realize	uma	retrospectiva,	mediante	seu	conhecimento,	
quanto	à	gênesis	da	ciência	geográfica	e	seus	desafios	epistemológicos.	Seria	possível?	
Caso	contrário,	apresentaremos	um	contexto	inicial.
 
As	 concepçõesepistemológicas	no	meio	 científico,	 antes	do	 Século	XX,	
predominavam	 sob	 o	 aspecto	 positivista	 e,	 posteriormente,	 neopositivista.	
Majoritariamente,	os	geógrafos	mantinham	alicerces	naturalistas	nas	pesquisas.	
As	análises	sobre	o	ambiente,	sociedade	e	cultura	eram,	basicamente,	explicadas	
mediante	as	leis	naturais.	
Caros alunos, atenham-se à palavra epistemologia com uma certa dose 
de atenção, porque ela tem estado, com frequência, no ambiente acadêmico, nas aulas 
ministradas, livros, e outros meios de busca, mas o seu uso excessivo ou mal alocado, 
por vezes, distorce seu conceito essencial. A palavra “epistemologia” tem origem no grego, 
equivale à episteme + logos = conhecimento científico, explicação, discurso, opinião. Essa 
sentença, criada no Século XX, teve o objetivo de superar a perspectiva unívoca e homogênea 
da concepção da filosofia da ciência encontrada na linha positivista. Ainda, tratar, de maneira 
crítica, construtiva e democrática, o conhecimento científico, como apresenta Gomes 
(2009, p. 14): “[...] discutir criticamente as formas de construir um pensamento científico 
não quer dizer se transformar, em um tribunal, para julgar a sua conformidade ou não 
em relação a um modelo único e ideal, ao contrário”. Esse entendimento conclui que não 
existe uma fórmula determinante para fazer ciência, principalmente, a geográfica, pois cada 
fenômeno demonstra uma singularidade e dinâmica.
ATENCAO
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
6
Seguindo	 na	 perspectiva	 predominante	 de	 análise	 epistemológica,	
encontramos	a	definição	antropológica	de	cultura	que,	não	obstante	da	realidade	
conceitual	 da	 geografia,	 também	 foi	 compreendida	 sob	 o	 ponto	 de	 vista	 das	
dinâmicas	 naturais	 e	 do	 princípio	 empirista	 e	 sistemático.	 Contudo,	 como	
todo	 texto	possui	um	contexto,	 traremos	alguns	precedentes	que	auxiliaram	o	
descortinar	 da	 definição	 inicial	 da	 cultura	 cujas	 influências	 pairaram	 sobre	 o	
desenvolvimento	da	geografia	cultural.	
 
Entre	 o	 Século	 XVIII	 e	 XIX,	 duas	 palavras	 foram	 polarizadas	 entre	
germânicos	e	franceses.	Seccionados	como	os	antecedentes	históricos	do	conceito	
de	 cultura,	 os	 termos	 Kultur	 e	 Civilization	 intuíam	 considerações	 primárias:	
o	 primeiro	 refletia	 sob	 as	 convicções	 espirituais	 de	 um	 grupo	 de	 indivíduos	
denominado	de	comunidade	e,	o	segundo,	sobre	as	conquistas	de	ordem	material	
de	um	povo.	Com	o	intuito	de	unificar	as	duas	convicções	em	torno	da	cultura,	
Edward	Burnett	Tylor,	nos	anos	de	1871,	apresentou	a	culture,	vocabulário	inglês	
que	sistematizava	oficialmente	a	primeira	definição	da	cultura.
FIGURA 1 – SÍNTESE DA PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE CULTURA
FONTE: O autor
Culture
Kultur
Civilization
Configura-se	que	a	criação	das	primeiras	nomenclaturas	dadas	por	países	
da	Europa	Ocidental,	para	interpretar	o	complexo	social,	sinalizou	que	havia	uma	
inquietação	 pelo	 estudo	 da	 sociedade,	 ou	 melhor,	 pelas	 interfaces	 de	 arranjos	
condizentes	 com	 formação	 social.	 Os	 temas	 de	 maiores	 proporções	 de	 estudos,	
na	primeira	metade	do	Século	XIX,	estavam	relacionados	à	etnografia	dos	grupos	
humanos,	suas	técnicas,	obras,	além	das	línguas,	crenças	e	tradições	(CLAVAL,	2011).
A	 compilação	 efetuada	 por	 Tylor trouxe,	 com	 imponência,	 a	 voz	 que	
definiu	a	cultura	dentre	os	estudos	da	antropologia,	porém,	história	apontou	que	
não	foi	a	única.	As	discussões	no	universo	conceitual	têm	uma	longa	jornada,	esta	
que	antecedeu	e	procedeu	a	interpretação	de	culture.	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
7
Edward Burnett Tylor
 Abreviadamente conhecido como Tylor (1832 -1917). Um britânico, antropólogo, 
cujas atividades foram relacionadas à escola do evolucionismo social. Foi considerado o pai 
do conceito moderno de cultura.
NOTA
Tylor	trouxe,	como	capacidade	interpretativa,	a	causa	e	regularidade	para	
cultura,	afirmando	que	ela	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo,	não	
nasce	com	características	culturais	próprias,	mas	a	cultura	passa	a	ser	concebida	
de	todas	as	coisas	que	são	adquiridas	por	meio	da	aprendizagem	na	sociedade.	
Como	exemplos,	símbolos,	práticas,	técnicas	e	tantos	outros	que	formam	ciclos	de	
práticas	que	desenvolvem	a	cultura	(CLAVAL,	2011).
Sobre	a	 compreensão	de	 cultura,	Wagner	e	Mikesell	 (2011)	 introduzem	
a	temática	sinalizando	que,	em	pessoas	cujas	vivências	são	em	grupos,	torna-se	
comum	apresentar	tendências	de	comportamentos	semelhantes,	como	o	pensar	e	
o	agir.	Tais	atributos	são	justificados	pela	rotina	de	vida	e	por	referências	únicas	
de	 condiscípulos	 e	mestres.	Compartilham	e	difundem,	 em	um	mesmo	nicho,	
suas	 relações	de	 trabalhos,	 conversas,	 observações,	 aprendizagem,	 significado,	
rituais	 e	 recordações	 do	 passado	 igualmente	 vivenciado,	 ou	 seja,	 a	 definição	
Tyloriana	de	cultura	acreditou	que	“[...]	o	meio	ambiente	podia	determiná-la	ou	
influenciá-la”	(CLAVAL,	2011,	p.	6),	argumento	que	caracterizou	uma	associação	
com	o	determinismo	geográfico.
Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 destacam	 que,	 naquele	 século,	 a	 noção	 de	
cultura	 se	 abstinha	 de	 estudar	 o	 ser	 enquanto	 indivíduo	 único,	 segundo	
características	 particulares.	 Contudo,	 havia	 destaque	 no	 estudo	 de	 grupos	 de	
pessoas	que	prontamente	estivessem	tomado	posse	de	áreas	espaciais	amplas	e	
bem	demarcadas,	além	daquelas	que	já	fossem	estabelecidas	em	suas	crenças	e	
comportamentos,	pois	essas	poderiam	identificar	ou	distinguir	entre	comunidades	
evolutivas.
Tylor	abriu	mão	do	relativismo	cultural	e	desconheceu	os	vários	caminhos	
da	cultura.	A	definição	de	cultura,	inspirada	no	darwinismo	evolucionista	que,	
a	 princípio,	 fundamentou	 e	 representou	 para	 muitos	 estudiosos	 das	 ciências	
humanas,	entre	eles	etnólogos,	antropólogos	e	geógrafos,	outrora	foi	considerada	
simplista,	pois	 congregava	um	termo,	uma	concepção	seccionada	sobre	 toda	a	
diversidade	 e	 complexidade	das	 relações	humanas.	A	 exemplo	da	 abordagem	
unilinear	realizada	como	método	de	análise	entre	civilizações	e	tribos	selvagens.	
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
8
A	abordagem	unilinear	 foi	um	método	de	análise	que,	sugestivamente,	
media	 os	 pares	 (seres	 humanos)	 de	 continentes	 diversos,	 segundo	uma	 régua	
de	estágios	evolutivos.	A	regra	evidenciava	que,	historicamente,	uma	sociedade	
passava	por	três	fases:	a	primeira,	de	selvageria,	a	segunda,	de	barbarismo,	até	
chegar	ao	ultimo	grau,	a	civilização.	Sugestivamente,	povos	eram	dimensionados	
e	expostos	a	uma	supervalorização	e	subestimação.	Foram	sinalizadas,	mediante	
a	 unilinearidade,	 as	 diferenças	 latentes	 entre	 as	 tribos	 indígenas	 brasileiras	 e	
civilizações	da	Europa.
Franz Uri Boas (1858-1942)
 O criador da escola cultural americana nasceu na cidade alemã de Westfália, mas 
projetou sua carreira nos Estados Unidos desde 1886. Apesar de ter estudado nas áreas da 
física e da geografia com o professor Ratzel, foi na antropologia que se descobriu quando 
fez uma expedição geográfica até a ilha Baffinland – Canadá. Uma experiência com os 
esquimós o tornou o antropólogo da era moderna.
NOTA
Longe	de	uma	conceituação	acabada,	um	outro	capítulo	sobre	a	história	da	
evolução	do	conceito	de	cultura	foi	formado,	dessa	vez,	com	Franz	Boas,	no	circuito	da	
antropologia,	entre	os	anos	de	1920-1930	do	Século	XX	(CLAVAL,	2011).	
Franz	 Boas	 ficou	 conhecido	 por	 se	 contrapor	 ao	método	 evolucionista	
unilinear	e	ser	contra	a	teoria	do	determinismo	geográfico	quando	propagada	pela	
capacidade	generalizadora,	referindo-se	à	normatização	da	influência	geográfica	
acerca	dos	fundamentos	culturais	de	um	povo.
O	 determinismo	 geográfico	 considera	 que	 as	 diferenças	 do	 ambiente	
físico	 condicionam	 a	 diversidade	 cultural.	 São	 explicaçõesexistentes	 desde	
a	 Antiguidade,	 das	 formuladas	 por	 Pollio,	 Ibn	 Khaldun,	 Bodin	 e	 outros.	 Na	
virada	do	Século	XIX	para	o	XX,	teorias	foram	popularizadas	e	vigorosamente	
estudadas	 por	 geógrafos.	 A	 publicação	 de	 obras	 contribuiu	 para	 a	 expansão	
do	determinismo	geográfico.	Para	a	análise,	 foram	utilizados	dois	parâmetros,	
a	 latitude	e	os	centros	de	civilização,	tomando,	como	verdade	absoluta,	que	as	
regiões	dependiam	do	clima	como	um	condicionante	para	o	progresso.
Ele	se	diferenciou	por	erguer	a	bandeira	da	‘diversidade	cultural’,	inclusive,	
entre	 entes	 de	 uma	mesma	 região,	 difundindo	 que	 existia	 um	 particularismo	
histórico.	 Boas,	 enquanto	 antropólogo,	 questionou	 explicações	 da	 sociedade	 e	
cultura	por	meio	único	de	leis	evolucionistas,	direcionando	uma	crítica	a	modos	
limitados	dos	métodos	comparativos.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
9
De	maneira	 explicativa,	 a	 partir	 de	 uma	 abordagem	multilinear,	 Boas	
sugeriu	 a	 antropologia	 abdicar	 do	 método	 simples	 da	 comparação	 e	 fazer	
análises	culturais	dos	povos/regiões	mediante	dois	caminhos:	primeiro,	partindo	
do	pressuposto	de	que	 todo	povo	ou	 região	possui	uma	história,	para	melhor	
compreensão	 da	 realidade,	 tornava-se	 importante	 fazer	 uma	 reconstrução	
histórica;	o	segundo,	de	caráter	complementar,	pois	traçava	um	comparativo	da	
relação	social	entre	povos	distintos,	segundo	leis	semelhantes.
 
Como	formador	cultural	de	inúmeros	antropólogos,	Franz	Boas	foi	uma	
grande	referência	para	o	antropólogo	Alfred	Kroeber,	um	nome	que	cresceu	na	
sociedade	acadêmica	frente	à	teoria supraorgânica	(CORRÊA,	2009).
Kroeber	elaborou	uma	perspectiva	da	cultura	segundo	a	gênese	da	vida	
humana.	Para	ele,	o	processo	de	desenvolvimento	do	homem	começa	pelo	nível	
inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	que	se	sobrepõe	aos	demais	
níveis	(CORRÊA,	2009).
 
No	 decorrer	 dos	 primeiros	 vinte	 e	 cinco	 anos	 do	 Século	 XX,	 o	
desenvolvimento	 de	 outro	 ciclo	 na	 reelaboração	 do	 conceito	 de	 cultura	 foi	
formado.	 Agora,	 os	 aspectos	 biológicos/naturais,	 dados	 em	 hegemonia	 nas	
análises	anteriores,	foram	interrompidos	em	virtude	do	novo	valor	empregado	
à	 cultura.	A	 “[...]	 cultura	 era	 vista	 como	uma	 entidade	 acima	do	homem,	não	
redutível	 às	 ações	 do	 indivíduo	 e,	 misteriosamente,	 contemplando	 as	 leis	
próprias”	(DUNCAN,	2011,	p.	64).
 
Conforme	Duncan	(2011),	os	principais	holistas	transcendentais,	criadores	
da	teoria	que	elevou	a	cultura	a	um	patamar	de	superioridade	naquele	período,	
foram	os	antropólogos	Alfred	Kroeber	e	Robert	Lowie.	Logo	adiante,	Leslie	White	
pôde	prosseguir	com	a	tese	neoevolucionista.
 
Kroeber	 redirecionou	 a	 antropologia	 americana,	 de	 um	 determinismo	
geográfico	na	perspectiva	da	cultura,	para	um	determinismo	puramente	cultural.	
Para	 a	 teoria	 supraorgânica,	 os	 valores	 funcionavam	 como	 código,	 este	 que	
controlava	as	mentes	humanas	e,	por	conseguinte,	suas	atividades	desenvolvidas.	
Os	 indivíduos	 passaram	 a	 ser	 reconhecidos	 como	 simples	 coadjuvantes	 da	
suprema	 cultura,	 apenas	 com	a	 função	de	porta-voz,	 levando-a	por	diferentes	
regiões	e	períodos	(DUNCAN,	2011).
Para	Kroeber,	a	realidade,	a	natureza	do	desenvolvimento	humano	tinha	
um	formato	estabelecido	por	ordem	de	prioridades,	um	cenário	no	qual	a	cultura	
pairava	sob	os	demais	seguimentos,	representados	em	níveis	hierárquicos,	livres	
de	explicações	associativas	entre	si	(DUNCAN,	2011).
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
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FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO DA REALIDADE APRESENTADA POR KROEBER
FONTE: O autor
Cultural/Social
Psicológico/Biofísico
Orgânico
Inorgânico
A	criação	e	a	veneração	pela	cultura,	como	uma	entidade	autônoma,	não	
tinham	 apenas	 um	 sentido	 conceitual,	mas	 objetivos	 internos	 da	 antropologia	
enquanto	ciência.	Assim,	“[...]	ao	elevar	a	cultura	a	um	nível	superior,	o	antropólogo	
não	 tinha	 mais	 necessidade	 dos	 indivíduos	 e,	 portanto,	 não	 precisavam	 dos	
processos	psicológicos”	(DUNCAN,	2011,	p.	67).	Trava-se	de	discutir	a	cultura	
sem,	 necessariamente,	 interligar	 explicações	 com	 os	 fundamentos	 ou	 níveis.	
Sendo	protegida	dos	demais	aspectos,	tornava-se	um	meio	autêntico	de	pesquisa	
da	antropologia.
 
Para	além	daquele	fato,	a	visão	do	holismo	transcendental	massificou	pontos	
fundamentais	para	o	período	na	antropologia	e,	por	conseguinte,	influenciou	outras	
ciências	que	utilizavam	as	bases	conceituais.	É	possível	que,	nesta	parte	do	 texto,	
você	 esteja	 se	 perguntando:	 o	 que	 seria	 o	 holismo	 transcendental?	 Discutimos,	
anteriormente,	que,	para	Kroeber	e	demais	antropólogos,	os	 indivíduos	com	suas	
aparentes	 atividades	 assumiram	 um	 papel	 de	 meros	 agentes	 passivos	 frente	 a	
ordens	de	algo	superior.	“Os	holistas	acreditam	que	eventos	de	larga	escala,	como	o	
declínio	de	nações,	são	autônomos	e	amplamente	independentes	dos	indivíduos	que	
participam”	(DUNCAN,	2011,	p.	66).
Caros	alunos,	a	definição	de	cultura,	realizada	por	Tylor	e	tantos	outros	
antropólogos,	passou	por	críticas	a	partir	da	perspectiva	de	Geertz	(2008,	p.	3).	Ele	
expõe	que	“[...]	todavia,	esse	padrão	se	confirma	no	caso	do	conceito	de	cultura,	
em	 torno	do	 qual	 surgiu	 todo	 o	 estudo	de	 antropologia	 e	 cujo	 âmbito	 tem	 se	
preocupado	cada	vez	mais	em	limitar,	especificar,	enforcar	e	conter”.
Segundo	 Claval	 (2011),	 após	 os	 anos	 1940-1970,	 a	 perspectiva	 que	
compreendia	a	cultura	como	algo	não	redutível	ao	ser,	apesar	de	haver	ampla	
influência,	 passou	 a	 ser	 substituída,	 pois	 as	 relações	 mundiais	 passavam	 por	
mudanças,	motivo	que	influenciou	a	ciência	a	redirecionar	olhares	para	além	da	
materialidade	da	vida,	técnicas	produtivas.
 
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
11
Para	a	ciência,	não	bastava	apenas	apresentar	os	efeitos	que	os	fenômenos	
culturais	causavam	na	sociedade.	Era	preciso	atribuir,	ao	indivíduo,	o	real	valor	
da	 sua	 visão	 de	 autóctone,	 explicar	 mais	 que	 a	 permanência	 das	 estruturas,	
compreendendo	suas	evoluções	e	história	(CLAVAL,	2011).
 
Considera-se	 que	 os	 antropólogos	 da	 América	 do	 Norte,	 após	 1970,	
apresentaram	 mais	 fortemente	 outro	 rumo	 conceitual	 de	 cultura,	 concepções	
epistemológicas	 cuja	 abordagem	 trilhava	 as	 dimensões	 simbólicas	 (CLAVAL,	
2011).
 
Para	 entender	 a	 cultura,	 Geertz	 (2008)	 fez	 algumas	 análises	 sobre	 o	
processo	de	evolução	biológica	do	homem,	refutando	a	 teoria	do	ponto	crítico	
(ao	entendimento	de	que	a	cultura	apareceu	abruptamente)	e,	fundamentando-
se	na	paleontologia	e	arqueologia,	 criou	algumas	hipóteses,	 entendendo	que	a	
cultura	 vem	 de	 um	 processo	 anterior	 ao	 desenvolvimento	 orgânico,	 a	 passos	
ininterruptos,	porém	lentos.	Na	sua	teoria,	o	homem	foi	um	produto	da	cultura,	
mas	logo	tornou-se	também	um	produtor,	acumulando	e	a	desenvolvendo	dentro	
de	um	processo	complexo.
Geertz	(2008)	menciona	que,	no	período	da	efervescência	do	Iluminismo,	
uma	 máxima	 foi	 dita	 por	 Whitehead	 para	 as	 ciências	 naturais,	 foi	 assumida	
pelas	 ciência	 sociais	 como	 um	 ideal	 científico	 autorizando	 noções	 simplistas	
para	 a	 compreensão	 da	 cultura.	 Segundo	 o	 ditado	 “confie,	 desconfiando”	 da	
simplicidade,	para	Geertz,	o	estudo	do	homem	estava	intrinsicamente	ligado	à	
cultura,	logo,	em	tons	de	crítica,	ele	propôs	que	autor	da	máxima	buscasse	afirmar	
o	 contrário	 para	 as	 ciências	 sociais:	 “[...]	 procure	 a	 complexidade	 e	 ordene-a”	
(GEERTZ,	2008,	p.	25).
A	perspectiva	 iluminista	do	homem	era,	naturalmente,	a	de	que	ele	
constituía	uma	só	peça	com	a	natureza	e	partilhava	da	uniformidade	
geral	 de	 composição	 que	 a	 ciência	 natural	 havia	 descoberto	 sob	 o	
incitamento	de	Bacon	e	a	orientaçãode	Newton.	Resumindo,	há	uma	
natureza	 humana	 tão	 regularmente	 organizada,	 tão	 perfeitamente	
invariante	 e	 tão	 maravilhosamente	 simples	 como	 o	 universo	 de	
Newton.	Algumas	de	suas	leis	talvez	sejam	diferentes,	mas	existem leis.	
Parte	da	sua	 imutabilidade	talvez	seja	obscurecida	pelas	armadilhas	
da	moda	local,	mas	ela	é imutável	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
Geertz	 buscou	 significar	 o	 homem	 mediante	 a	 definição	 de	 cultura.	
Absteve-se	da	idealização	da	clássica	ciência	antropológica,	que	foi	responsável	
por	 criar	 um	 modelo	 ideal	 de	 homem,	 mas	 o	 fato	 desenvolvido	 evidencia	 a	
diversidade	cultural	em	contraponto	a	uma	unicidade	da	espécie	humana.
Geertz	(2008)	demonstra	que	a	cultura,	no	sentido	amplo,	não	se	limita,	
não	 determina,	 ela	 circula,	 é	 livre,	 democrática,	 pode	 ser	 partilhada	 entre	 as	
pessoas.	O	ser	independente	de	faixa	etária	sempre	estará	pronto	para	vivenciar	
limitadamente	uma	parte	da	cultura,	pois	compreendê-la	em	suas	várias	dimensões	
e	plenitude	seria	como	correr	 junto	à	persistente	dinâmica	de	significados	dos	
elementos	culturais.
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
12
Numa	perspectiva	demonstrativa,	as	dimensões	simbólicas	se	aplicavam	
às	diversas	práticas	 sociais	 e	 suas	 interligações,	 ao	 contrário	dos	processos	de	
generalização	e	segmentação	de	análises,	como	propõe	Geertz	(2008,	p.	21):
Olhar	as	dimensões	simbólicas	da	ação	social	-	arte,	religião,	ideologia,	
ciência,	lei,	moralidade,	senso	comum	-	não	é	afastar-se	dos	dilemas	
existenciais	da	vida	em	favor	de	algum	domínio	empírico	de	formas	
não	 emocionalizadas.	 É	 mergulhar	 no	 meio.	 A	 vocação	 essencial	
da	 antropologia	 interpretativa	 não	 é	 responder	 às	 questões	 mais	
profundas,	mas	colocar,	à	disposição,	as	respostas	que	outros	deram	
-	apascentando	outros	carneiros	em	outros	vales	–	e,	assim,	incluir	no	
registro	de	consultas	sobre	o	que	o	homem	falou.
A	 antropologia	 interpretativa	 identificada	 na	 essência	 dos	 estudos	 de	
Geertz	buscava	neutralizar	qualquer	significado	fixo	para	teorizar	a	cultura,	e	sua	
pesquisa	não	se	limitou	às	respostas	prontas	e	acabadas	como	receitas	herdadas.	
O	princípio	do	estudo	apresentava	os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	
dinâmicas	com	as	dimensões	simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
Cliford Geertz 
 Ingressou como discente do curso de Antropologia na Universidade de Harvard - 
Departamento de Relações Sociais. Posteriormente, como docente, ensinou por dez anos 
no Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago, em Princeton. No Instituto 
de Estudos Avançados, percorreu uma longa trajetória enquanto professor. Entre inúmeros 
ensaios, elaborou o livro A interpretação das Culturas, no ano de 1973. Como antropólogo, 
interessou-se em redefinir dinamicamente o conceito de cultura, mas trabalhou também 
nas áreas de desenvolvimento econômico, organização social, história comparativa e 
história da ecologia cultural.
NOTA
Outras	 correntes	 fizeram	 parte	 do	 processo	 evolutivo	 dos	 estudos	 de	
cultura,	 e	uma	é	 explicada	pelo	 ambiente	 econômico	 concebido	 também	pelas	
guerras.	“[...]	A	cultura	torna-se	um	instrumento	de	dominação.	É	usado	pelas	
classes	mais	altas	para	impor,	às	classes	mais	baixas,	comportamentos	conforme	
seus	interesses”	(CLAVAL,	2011,	p.	8).
 
A	 inserção	 do	 marxismo	 como	 modo	 explicativo	 através	 da	 corrente	
teórica	do	materialismo	histórico	e	dialético	para	a	cultura	influenciou	estudiosos	
como	Gramsci	e	Raymond	Williams.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
13
No	período	dos	anos	setenta,	embasamentos	na	área	da	sociologia,	com	
Stuart	 Hall,	 também	 trouxeram	 compreensões	 sobre	 os	 estudos	 culturais.	 Ele	
dinamizou	seu	trabalho	intelectual,	e	seu	objetivo	não	era	se	apropriar	de	ideias	
como	 devoto,	 nem	 retalhar	 pontos	 inconsistentes	 frente	 seu	 posicionamento.	
Além	dele:
 
Deglutiu	 Marx,	 Gramsci,	 Bakhtin.	 Saboreou	 Louis	 Althusser,	
Raymond	 Williams,	 Richard	 Hoggort,	 Fredric	 Jameson,	 Richard	
Rorty,	 Jacques	 Derrida,	 Michel	 Foucault,	 E.	 P.	 Thompson,	 Gayatri	
Spivak,	Paul	Gilroy,	com	algo	de	Ien	Ang,	Cornel	West,	Homi	Bhabha,	
Michele	Wallace,	 Judith	 Butler,	 David	Morley,	 assim	 como	 ingeriu	
Doris	Lessing,	Barthes	Weber,	Durkheim	e	Hegel	(SOVIK,	2003,	p.	10).
 
Apesar	de	descordar	de	alguns	pontos	 relativos	à	 teoria	de	Marx,	Hall	
foi	atraído	pelos	atributos	do	estudo	referente	à	 teoria	do	capital/classe	 social,	
de	 poder/exploração,	 e	 da	 produção	 de	 conhecimento	 crítico.	 Ainda,	 em	
Gramsci,	pôde	absorver	o	estudo	de	raça	e	etnia	para	compreensão	da	realidade	
contemporânea	e	o	multiculturalismo	(SOVIK,	2003).
Hall	contribuiu	com	os	paradigmas	da	teoria	da	cultura,	interessado	em	
pensar	sobre	o	social	e	simbólico	 longe	do	reducionismo.	“[...]	Ele	persistiu	no	
estudo	relação	entre	os	meios	de	comunicação	e	a	cultura,	o	lugar	da	história	no	
estudo	da	cultura	contemporânea,	a	sua	epistemologia	ou,	ainda,	a	maneira	pela	
qual	lê	questões	das	etnias	dominantes	e	de	gênero”	(SOVIK,	2003,	p.	14).
Stuart Hall (1932)
 Sua origem jamaicana auxiliou a escolha por dois motivos de estudo: 
preocupações étnicas e anticoloniais. Enquanto intelectual da sociologia, repensou 
a cultura frente à globalização. Entre os anos de 1958-1961, atuou na revista New Left 
Review, propondo temáticas sobre compreensão das classes sociais, movimentos sociais 
e política, desarmamento nuclear e questões raciais britânicas. Em 1964, na universidade 
de Birmingham, foi um dos fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies. Em 
1979, foi transferido para a Open University, onde institucionalizou os estudos culturais 
britânicos e, em períodos posteriores, pôde constatar o crescimento dessas pesquisas por 
diferentes partes do mundo.
NOTA
Cremos	que,	durante	a	primeira	leitura	acerca	da	cultura	enquanto	diretriz	
de	pesquisa	 acadêmica,	 você	percebeu	uma	 sutil	 linha	do	 tempo.	Ela	 teve,	 como	
propósito,	evidenciar	algumas	das	inúmeras	dinâmicas	na	evolução	da	definição	de	
cultura.	É	certo	que	não	tocamos	na	totalidade	do	estudo,	tendo	em	vista	que	não	é	
nosso	objetivo	central,	mas	apresentamos	diferentes	períodos,	concepções	do	termo,	
além	de	uma	apresentação	teórica	epistemológica	ligada	à	cultura.
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
14
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A 
GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL
Propomos,	nesta	 fase,	que	haja	uma	reflexão	sobre	a	geograficidade	da	
geografia	cultural.	Para	 isso,	motivamos	você	a	 responder	breves	perguntas:	É	
possível	tornar	geográfico	um	fenômeno	que	envolve	dimensões	religiosas?	Como	
compreender	os	territórios	além	das	delimitações	físicas?	Existem	aproximações	
entre	estudos	de	 identidade	e	geografia?	Certamente,	ao	 longo	do	processo	de	
conhecimento,	outros	inúmeros	questionamentos	serão	realizados,	possibilidades	
de	temáticas	pesquisadas,	mas	atenção	quanto	à	espacialização	do	fenômeno.
 
Gomes	(2009,	p.	27)	generosamente	esclarece	que	“há,	contudo,	sempre	
uma	análise	geográfica	quando	o	 centro	de	nossa	questão	 é	 a	ordem	espacial,	
pouco	 importando	 o	 tipo	 de	 fenômeno	 [...]”.	 A	 geografia	 cultural	 possui	
seus	 fundamentos	 amparados	 na	 ciência	 geográfica	 e	 essa	 unidade	 pode	 ser	
demonstrada	a	partir	da	absorção	intelectual	nas	bases	geográficas.
A	geografia	cultural	está	associada	a	experiências	que	os	homens	têm	
da	terra,	da	natureza	e	do	ambiente.	Estuda	a	maneira	pela	qual	eles	
modelam	para	responder	às	necessidades,	seus	gostos	e	suas	aspirações,	
e	procura	compreender	a	maneira	como	eles	aprendem	a	se	definir,	a	
construir	sua	identidade	e	a	se	realizar	(CLAVAL,	1997,	p.	89).
FIGURA 3 – RELAÇÃO VISUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CULTURAFONTE: O autor
Geografia
Geografia	
Cultural
Base	de	estudo	para	o	subcampo	
da	Geografia	Cultural.
Interesses da disciplina Geografia Cultural
•	 Relação	Homem	-	Espaço;
•	 Dimensões	simbólicas;	
•	 Experiência	humana	dos	sentidos	e	percepções;
•	 Estudo	da	diversidade	-	integrantes	da	sociedade.
Como	é	oriunda	da	ciência	geográfica,	é	natural	que	o	alicerce	da	geografia	
cultural	seja	correspondente.	Tais	 fundamentos	 foram	reconhecidos	por	Claval	
(2011),	quando	apresentou	um	balanço	desses	elos	mostrando	o	que	vinculam.	
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
15
“[...]	A	geografia	que	estuda	os	grupos	humanos	se	detém	nos	discursos	
e	 nas	 representações,	 uma	 vez	 que	 estas	 últimas	 traduzem	 maneiras	 de	
padronização”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
A	geograficidade	é	uma	nomenclatura	referida	por	Dardel,	que	propõe	
a	 busca	 pela	 decodificação	 do	 espaço	 através	 do	 que	 se	 sente	 ou	 reconhece	 a	
partir	das	distintas	formas	atribuídas	ao	meio.	Há	categorias:	os	espaços,	lugar,	
paisagens,	 naturais	 ou	 artificiais,	 além	 da	 identidade	 e	 territorialidade.	 São	
estruturas	e	modo	pelo	qual	o	ser	humano	pode	desenvolver	suas	habilidades	e	
seu	enraizamento	existencial.
A	seguir,	apresentaremos	nove	pontos	sobre	os	quais	a	geografia	cultural	
se	baseou	para	desenvolver	suas	análises	e	narrativas.
QUADRO 1 – CONCEPÇÕES ABORDADAS PELA GEOGRAFIA CULTURAL
Relação de aspectos comuns entre Geografia e a Geografia Cultural
I-	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações
II-	A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados
III-	A	cultura	existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam.	Eles	se	constroem	
como	indivíduos	no	processo
IV-	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social
V-	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	de	
identidade
VI-	A	construção	da	sociedade	pela	cultura
VII-	A	construção	do	espaço	pela	cultura
VIII-	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores
IX-	Cultura	e	ideologias	comunitárias
FONTE: Adaptado de Claval (2011, p. 16 -19)
Percebe-se	 que,	 dentro	 da	 abordagem,	 o	 homem	 se	 destaca.	 Tal	 fato	
caracteriza	 a	 geografia	 cultural	 moderna	 e	 na	 perspectiva	 que	 discutiremos	
pontualmente	os	conteúdos	apresentados.
O	 primeiro	 ponto,	 “o	 conhecimento	 do	 mundo	 sempre	 se	 faz	 através	
das	 representações”,	 indica	 que	 o	 ser	 humano,	 a	 princípio,	 não	 adquire	 um	
conhecimento	instantâneo	sobre	os	fatos	e	realidades	da	terra,	pois	são	distintos,	
a	exemplo	das	estruturas	de	organização	espacial	e	 lugares,	mas	o	processo	se	
inicia	de	maneira	básica,	com	os	sentidos	e	as	sensações	liberadas	aos	primeiros	
contatos	do	indivíduo	com	o	mundo.
Claval	 (1997)	 afirma	 que	 o	 homem	 interpreta	 o	 mundo	 por	 meio	 dos	
sentidos	 inerentes	a	ele.	Com	a	visão,	observa-se	as	 formas,	audição,	 ruídos	e,	
com	olfato,	aromas.	“[...]	O	homem	age,	primeiramente,	em	função	das	indicações	
que	ele	recebe	dos	sentidos”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
16
Outra	afirmativa	do	autor	supracitado	se	refere	à	sensação,	garantindo	que	
esta,	apesar	de	refletir	a	realidade,	apenas	torna-se	segura	quando	assume	uma	
condição	estável,	ou	seja,	quando,	junto	com	a	sensação,	exista	uma	percepção.
A	percepção	é	um	importante	elemento	da	dinâmica	das	representações	
sociais,	pois	significa	o	movimento	de	um	sujeito	situado	na	relação	
com	o	concreto	em	construção.	A	apreensão	que	o	sujeito	faz	a	partir	
dos	 referenciais	 faz	 concluir	 que	 a	 racionalidade	 não	 está	 imune	 à	
ideologia	(BOMFIM,	2012,	p.	15).
Para	Claval	(1997),	o	contexto	das	representações	se	pauta	em	processos	
que	ocorrem	entre	indivíduos,	relacionando,	por	exemplo,	a	educação	na	troca	de	
experiências	e	a	construção	da	realidade	e	reinterpretação.	A	estruturação	da	fase	
ocorre	no	domínio	do	cognitivo,	primeiramente	com	as	sensações	adquiridas	e,	
depois,	com	a	idealização	da	imagem	constituída.
De	 acordo	 com	 o	 que	 está	 sendo	 desenvolvido	 e	 relacionado	 às	
representações,	poderíamos	questionar	qual	a	finalidade.	Claval	(1997)	sintetiza	
que	as	 representações	 são	como	 tramas,	um	conjunto	de	fios	entrelaçados	que	
contribuem	 para	 que	 o	 indivíduo	 assimile	 a	 realidade,	 destacando	 aspectos	
sociais,	 geográficos	 e	 metafísicos.	 Por	 fim,	 essas	 representações	 subsidiam	 a	
criação	de	valores,	alimentando	a	formação	de	ordens	regulamentadoras.
Certamente,	 a	 discussão	 ganha	 rumos	 discordantes	 também,	 pois	 a	
realidade	 pode	 não	 ser	 refletida	 fielmente,	 mas	 individualizada	 através	 da	
percepção.	 “[...]	 Os	 homens	 não	 agem	 em	 função	 do	 real,	 mas	 em	 razão	 da	
imagem”	(CLAVAL,	1997,	p.	94).
 
Se	 o	 indivíduo	 for	 capaz	de	 captar,	 questionar,	 perceber	 os	 ambientes,	
buscando	entender	como	funciona	a	criação	das	representações	e,	também,	sua	
capacidade	 de	 interferência	 em	 escalas	 macro	 ou	micro,	 inevitavelmente,	 sua	
intenção	se	alinha	às	dimensões	da	geografia	cultural.
As	 representações	 são	 percebidas	 eficazmente	 na	 geografia	 cultural	
enquanto	 ciência	por	 volta	da	década	de	 1980	para	 1990.	 Primeiramente,	 com	
as	 representações	 mentais	 de	 imagens	 relacionadas	 ao	 meio	 ambiente,	 como	
os	alpes,	neve,	comunidades	locais	ou	turísticas.	Posteriormente,	outro	aspecto	
passou	 a	 ser	 levado	 em	 consideração,	 o	 do	 meio	 social	 e	 os	 discursos,	 ou	 o	
poder	da	utilização	da	língua	relacionado	à	construção	da	realidade	geográfica	
(CLAVAL,	2011).
O	segundo	ponto	descrito	no	quadro,	“a	cultura	é	construída	a	partir	de	
elementos	transmitidos	ou	inventados”,	destitui	a	ideia	de	que	a	cultura	é	inata	e	
nasce	com	o	homem.	As	culturas	são	aprendidas	e	assimiladas	por	um	processo	de	
transmissão,	representadas	pelo	agrupamento	de	práticas,	conhecimentos,	atitudes	
e	 crenças.	 Dois	 fatores	 são	 importantes	 para	 compreender	 os	 conhecimentos	 e	
práticas:	a	natureza	e	o	conteúdo	da	cultura	portada	por	cada	sujeito.
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
17
A	transmissão	pela	língua	nativa,	gestos,	escrita	e	mídias	modernas	são	
meios	de	difusão	da	cultura,	mas,	para	a	geografia	cultural,	os	lugares	onde	ocorre	
essa	difusão	 se	destacam,	estrategicamente,	 tanto	na	 formação	do	 ser	humano	
quanto	na	elaboração	da	cultura,	pois	“os	 lugares	e	 suas	paisagens	servem	de	
suporte	a	uma	parte	das	mensagens	transmitidas”	(CLAVAL,	2011,	p.	16).
Para	Claval	(1997,	p.	94),	“a	informação	que	constitui	a	cultura	concerne	
o	 ambiente	 natural	 no	 qual	 vive	 o	 homem,	 a	maneira	 de	 produzir	 alimentos,	
energia	e	matéria-prima,	assim	como	as	formas	de	construir	instrumentos	e	de	
empregá-los	para	criar	ambientes	artificiais”.
No	 terceiro	 ponto,	 é	 perceptível	 que	 a	 geografia	 cultural	 apresente	 o	
sujeito	 com	 destaque	 em	 relação	 ao	 processo	 de	 absorção	 e	 modificação	 da	
cultura,	 indicando,	 também,	uma	mudança	na	dimensão	 individual	 do	 ser	 ao	
longo	da	vida.
 
O	processo	pode	ser	tomado,	inicialmente,	a	partir	da	fase	infantil,	período	
de	 conhecimento	 prático,	 habilidades,	 competências,	 base	 para	 uma	 estrutura	
interna	segundo	noções,	preferências	e	crenças.	Posteriormente,	na	adolescência,	
segundo	um	processo	de	interiorização	e	reconstrução	que	prossegue	absorvendo	
novos	 conhecimentos,	 técnicas	 e	 valores	 que	 vão	 se	 transformando	 nas	 fases	
vindouras,	ou	seja,	todo	o	processo	não	finda	em	uma	faixa	etária.
 
Apesar	do	ciclo	de	transformações	ser	constante	em	todas	as	fases,	é,	na	
vida	adulta,	que	o	sujeito	entende	os	processos	de	institucionalização	indicados	
pelas	regras	e	valores	desenvolvidos	pela	sociedade.
Contextualizando, é possível que você, enquanto estudante, já tenha instalado 
um aplicativoem seu smartphone. Quando a tarefa é realizada, observe que ele vem 
pronto e pode ser colocado de forma idêntica em qualquer outro aparelho. São meios 
engessados, não pensam por si, já nós, seres humanos, temos a capacidade de controle, 
somos agentes de um processo de transformação em cada etapa, temos a escolha de 
seguir ou não adiante. As mudanças são constantes, diárias. Em segundos, opiniões são 
desfeitas e refeitas. 
 As culturas também não são como um programa fixo, definido, mas são 
heterogêneas, principalmente entre os entes da sociedade, em seus processos de 
construção. Imagine o Brasil, onde as regiões possuem suas particularidades entre 
cultura, fauna, flora, paisagens, e todas as dinâmicas espaciais, incluindo grupos sociais 
que carregam identidade própria. Certamente, a partir de um processo de recebimento de 
cultura que todo e qualquer indivíduo se desenvolve.
NOTA
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
18
	 “O	processo	da	 construção	da	 cultura	 também	é	um	processo	 social”.	
Para	 a	 compreensão	 do	 tópico,	 Claval	 (2011)	 inicia	 apresentando	 o	 indivíduo	
como	um	resultado	de	um	processo	social,	tendo	em	vista	a	influência	coletiva	
que	 ele	 experimenta.	 Desde	 atitudes,	 costumes,	 representações	 e	 valores,	 foi	
argumentado	que,	dentro	de	cada	processo	social,	a	transmissão	torna-se	a	etapa	
mais	significativa.	É	a	partir	dela	que	o	sujeito	se	torna	um	ser	social,	diferente	ou	
semelhante	a	outros.	“O	processo	é	tão	fundamental	quanto	o	processo	de	divisão	
da	sociedade	em	profissões,	em	estatutos,	em	classes	ou	conforme	as	riquezas”	
(CLAVAL,	2011,	p.	17).
Neste	momento,	vamos	observar	o	seu	entendimento	da	afirmativa:	“A	
construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	dos	sentidos	
de	identidade”.
A	 grande	 maioria	 dos	 brasileiros	 porta	 documentos,	 e	 um	 deles	 é	 a	
identidade.	É	caracterizada	por	conter	informações	básicas	de	quem	você	é,	sua	
origem,	descendência,	 sobrenome,	o	 local	de	nascimento,	quesitos	que	podem	
dizer	 algo	 ao	 seu	 respeito,	 não	 o	 bastante	 quando	 se	 refere	 à	 construção	 da	
individualidade	e	às	diferenças.	Ao	longo	da	vida,	de	forma	individual,	o	sujeito	
busca	 formar	 uma	 identidade,	 e	 as	 pessoas,	 coletivamente,	 buscam	 perpetuar	
uma	identidade	já	estabelecida.
 
Sobre	o	sentido	da	identidade,	Claval	(2011)	afirma	que	é	uma	experiência	
individual,	e	está	relacionada	com	os	convívios	familiar	e	social.	A	identidade,	
em	 caso	 de	 confissão	 de	 fé	 ou	 concretude	 de	 uma	 nação,	 advém	de	 conjunto	
aplicado	à	construção	do	 intelecto	e	ao	ensino	sistemático.	Um	outro	ponto	se	
refere	à	imparcialidade	entre	a	ligação	de	um	dado	território	com	uma	identidade	
anteriormente	 assumida.	 A	 partir	 do	 advento	 das	 mídias	 modernas,	 outras	
perspectivas	 foram	 analisadas,	 houve	 uma	 intervenção	 quanto	 às	 posições	
hegemônicas	e	novos	conceitos	foram	gerados	e	associados.
A partir de uma experiência pessoal, é possível entender o sentido da 
identidade na formação do ser social. Eu, sou professor, por exemplo, sou natural da cidade 
de Campina Grande, localizada no estado da Paraíba, região do Nordeste brasileiro, mas 
hoje escrevo de uma cidade situada na Região Sul, conhecida por ter sido uma colônia 
alemã, Blumenau. 
 
 Com os blumenauenses, revivi as raízes culturais germânicas a partir de festas 
típicas, do uso da língua alemã entre as famílias, na culinária, nas construções e edificações, 
apesar de brasileiros, assim como eu, outros habitantes da cidade, se distinguirem de mim 
e das minhas heranças culturais. Essas relações formam grupos com uma identidade local 
e demais com suas referências culturais diferentes.
NOTA
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
19
As	 identidades	 se	 associam	ao	 espaço:	 elas	 se	 baseiam	nas	 lembranças	
divididas,	 nos	 lugares	 visitados	 por	 todos,	 nos	monumentos	 que	 refrescam	 a	
memória	dos	grandes	momentos	do	passado,	nos	símbolos	gravados	nas	pedras	
das	esculturas	ou	nas	inscrições	(CLAVAL,	1997).
O	sexto	tópico	explica	que,	assim	como	a	sociedade,	a	partir	da	cultura,	
interfere	na	formação	do	indivíduo,	a	sociedade	também	é	resultado	das	práticas	
culturais:
 
A	análise	parte	do	calendário	de	cada	um,	de	sua	agenda,	dos	papéis	
diversos	 que	 ele	 tem	 no	 tempo,	 da	 proximidade	 com	 aqueles	 que	
têm	o	mesmo	papel.	O	processo	gera	uma	consciência	de	pertencer	
a	 uma	 comunidade	 compartilhada,	 a	 uma	 mesma	 classe,	 quando	
os	 indivíduos	 que	 efetuam	 as	 mesmas	 atividades	 se	 comunicam	
facilmente	e	têm	uma	ideia	clara	da	semelhança	de	seus	problemas	e	
interesses.	Ao	mesmo	tempo,	a	participação	dos	 indivíduos	em	face	
de	relações	institucionalizadas	explica	a	divisão	do	trabalho	social	e	o	
funcionamento	dos	grupos	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
A	geografia	cultural	deve,	como	prioridade,	apresentar	a	construção	do	
espaço	pelo	prisma	da	 cultura.	Claval	 (1997;	 2011)	 fez	uma	 retrospectiva	para	
compreendermos.
 
A	princípio,	o	homem	fez	uso	do	espaço	de	maneira	que	contemplasse	
suas	necessidades	de	alimentação,	retirando	da	natureza,	da	segurança	e	proteção	
em	relação	aos	eventos	naturais	e	àqueles	oriundos	do	meio	social.	De	maneira	
esclarecedora,	 o	 autor	 expõe	 que	 a	 organização	 do	 espaço	 desenvolvida	 pelo	
homem	nem	sempre	apontou	por	efeitos	nocivos,	mas,	em	sua	maioria,	exaltou-
se	pela	representatividade	da	conquista	e	domínio	do	meio.
Para	Claval	(2011),	a	organização	espacial	é	resultado	de	percepção	de	que	
o	homem	tem,	do	espaço,	uma	força	de	atuação	coletiva,	desenvolvendo	técnicas,	
modelos	e	sua	socialização	para	construir.
 
No	 âmbito	 da	 organização	 espacial,	 é	 inerente	 focalizar	 no	 item	 da	
socialização	do	 espaço.	É,	por	meio	do	desempenho	de	diversos	 seguimentos,	
que	há	a	 composição	da	 sociedade,	desde	a	dimensão	 individual,	 coletiva,	 até	
organizações	institucionalizadas	que	são	empregadas	as	condições	de	direito	de	
uso	da	terra,	de	práticas	estratégicas	de	atividades	produtivas	ou	de	lazer.
A	influência	na	construção	do	espaço	está	na	interiorização,	na	atuação	do	
homem	desde	o	momento	em	que	se	criou	ou	idealizou	representações	acerca	da	
realidade.	Esses	elementos	representam	os	seus	anseios,	desejos	e	valores.
A	 socialização	 do	 espaço	 não	 distribui	 os	 direitos	 de	 uso	 ou	 de	
propriedade	 do	 espaço	 duma	 maneira	 igualitária.	 Os	 poderosos	 e	
ricos	 têm	muitas	mais	possibilidades.	Eles	utilizam	para	escolher	as	
ótimas	 localizações,	os	 lugares,	os	nada	agradáveis,	e	para	 impor	as	
formas	de	utilização	da	terra	e	da	construção	de	edifícios.	A	qualidade	
de	suas	escolhas	confere	um	estatuto	mais	alto	e	legitima	a	sua	posição	
social	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
 
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
20
Ainda	na	perspectiva	mencionada,	Claval	 (2011)	propõe	refletir	sobre	a	
direta	participação	ou	luta	das	classes	menos	favorecidas	na	construção	espacial,	
além	da	 apropriação	 social	 do	 espaço.	 Independentemente	 dos	 atos	 reais	 que	
agreguem	atenção	para	 os	 grupos,	 eles,	 por	diversas	vezes,	 são	 colocados	nas	
zonas	de	 invisibilidade	da	 sociedade.	Para	 facilitar	 o	 entendimento	 sobre	 essa	
realidade:	 vocês	 consegue	 lembrar	 de	 algum	 ato	 ou	 protesto	 de	 entidades	
ou	 parcelas	 da	 população	 realizado	 em	 espaços	 públicos?	 Pois	 bem,	 atos	 são	
caracterizados	pela	busca	da	visibilidade	com	a	apropriação	social	dos	espaços.
 
O	ponto	oitavo	busca	apresentar	uma	compreensão	de	como	surgiram	os	
sistemas	de	crenças	e	de	valores.	A	princípio,	cada	ser	possui	uma	capacidade	
interpretativa,	mental	e	de	experiências	únicas	com	o	espaço.	Quando	somadas	
essas	 realidades	 complexas	 que	 os	 indivíduos	 produzem	 e	 materializam,	 são	
formalizadas	 as	 ordens	 normativas,as	 quais	 representam	 individualmente	 e	
coletivamente.
Esses	 alhures	 oferecem	 a	 visão	 de	 outros	 mundos.	 Servem	 de	
modelo	 para	 orientar	 a	 ação	 dos	 homens.	As	 perspectivas	 abertas	
são	a	 fonte	dos	sistemas	de	crenças,	religiões	ou	 ideologias,	dando	
uma	dimensão	normativa	à	vida	social,	dirigindo	a	ação	humana	e	
conduzindo	 a	 construção	dum	 futuro	melhor,	 neste	mundo	 ou	no	
outro	(CLAVAL,	2011,	p.	19).
 
Pode	 ser	 confirmado	 que	 os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	 valores	 somente	
são	possíveis	quando	entendidos	a	partir	de	normas	criadas,	das	relações	entre	
grupos	sociais	e	da	socialização	dos	espaços	(CLAVAL,	2011).	Com	essa	interação,	
é	possível	difundir	que	fundamentos	concretos	e	abstratos	se	conectam	em	prol	
de	uma	organização	funcional.
 
O	aspecto	sobre	cultura	e	ideologia	comunitária,	no	ponto	nove,	retrata	
a	 noção	 da	 cultura	 a	 partir	 de	 uma	 sequência	 mencionada	 anteriormente	 no	
ponto	dois.	A	cultura	se	caracteriza	por	ser	um	conjunto	de	processos	transmitida	
pelos	e	entre	os	homens,	os	quais	produzem	e	reproduzem	comportamentos	não	
congênitos,	ou	seja	não	se	encontram	no	DNA	dos	seres	humanos.
FIGURA 4 – AFIRMATIVAS SOBRE A CULTURA
A cultura não é
Fixa	ou	imóvel
Intangível	ou	imcompreensível
A cultura é
Múltipla,	formada	por	vários	elementos
Evolui	contínuamente
FONTE: Adaptado de Claval (2011)
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
21
A	cultura	desenvolve	outra	face	quando	utilizada	em	grupos	comunitários.	
Identidades	são	construídas	e	certas	dimensões	apresentam	aspectos	normativos,	
aqueles	que	regulamentam,	propõem	padrões	e	regras	por	indivíduos	que	vivem	
determinados	 espaços,	 territórios	 ou	 sociedades.	 As	 ideologias	 comunitárias	
entram	na	discussão	para	justificar	a	dimensão	ideológica	que	se	forma	através	
da	cultura.	Como	exemplo,	há	uma	comunidade	cristã	da	fé	reformada.	Ela	se	
une	em	prol	do	compartilhamento	de	uma	visão	cristocêntrica,	carregando	regras	
de	fé,	condutas,	valores.
 
Apesar	do	exemplo	mencionado,	vale	 lembrar	que	existem	grupos	que	
constroem	uma	identidade	para	realizar	práticas	de	fundamentalismo	religioso,	
utilizando	 a	 fé	 para	 impor	 violentamente	 suas	 crenças,	 causando	 conflitos	 de	
intolerância	religiosa	em	escala	local	e,	até	mesmo,	internacional.
 
O	Tópico	 1	 introduz	 etapas	 evolutivas	 do	 entendimento	 sobre	 cultura,	
culminando	no	Tópico	2,	com	o	interesse	da	dimensão	espacial	da	cultura	pela	
geografia	cultural	em	sua	perspectiva	moderna.	Ao	desenvolver	do	estudo,	longas	
trajetórias	 serão	 explicadas	 nas	 seções	 seguintes.	 Realizamos,	 até	 o	 presente	
momento,	uma	breve	apresentação	da	descendência,	originalidade	e	pertencimento	
da	geografia	cultural,	seu	elo	com	a	ciência	geográfica,	e	aproximações	com	as	
ciências	sociais	afins,	o	que	demonstra	sua	interdisciplinaridade	e	importância	na	
produção	de	estudos	de	ordem	espaciais.
22
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Existe	 uma	 reflexão	 interdisciplinar	 na	 geografia	 cultural	 em	 torno	 da	
construção	conceitual	da	definição	de	cultura.	Foi	tangenciada	por	geógrafos,	
antropólogos	e	sociólogos,	como	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	Boas,	Alfred	
Kroeber,	 Cliford	 Geertz	 e	 Stuart	 Hall.	 Profissionais	 que	 produziram,	 em	
séculos,	e	com	influências	filosóficas	distintas.
•	 A	concepção	filosófica	tyloriana	definiu	que	o	meio	ambiente	podia	determinar	
e	gerar	influências	à	cultura,	segundo	o	princípio	de	determinismo	geográfico	
e	a	concepção	unilinear.
•	 Boas	foi	um	geógrafo	e	antropólogo	que	se	diferenciou	por	utilizar	o	discurso	
multilinear	 para	 conceituação	 da	 cultura.	Amparando-se	 no	 particularismo	
histórico,	 ele	 afastou-se	 de	 uma	 perspectiva	 de	 comparação	 metodológica,	
segundo	as	leis	evolucionistas,	para	buscar	explicações	culturais.	Boas	partiu	
do	princípio	de	que	todo	povo	ou	região	possui	uma	história	singular	e,	por	
esse	motivo,	sua	história	deveria	ser	reconstruída.
•	 Kroeber	foi	responsável	pela	teoria	cultural	supraorgânica	que,	posteriormente,	
foi	assimilada	e	adotada	por	Sauer.	A	definição	sobre	a	cultura	se	vinculava	
e	 reproduzia	 uma	 estrutura	 da	 gênese	 da	 vida	 humana	 na	 perspectiva	
evolucionista,	iniciando	pelo	nível	inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	
cultural,	cuja	dimensão	se	posiciona	acima	do	homem,	além	dos	demais	níveis.
 
•	 Na	teoria	interpretativista,	a	cultura	passou	a	ser	interpretada	como	sistemas	
simbólicos	 (linguagem,	 arte,	 mito	 ritual),	 desenvolvida,	 sobretudo,	 pelo	
estadunidense	 Clifford	 Geertz,	 um	 dos	 maiores	 nomes	 da	 antropologia	 do	
Século	XX.
 
•	 Outro	nome	importante	que	rompeu	com	o	antigo	paradigma	sobre	uma	cultura	
pronta	e	 engessada	 foi	o	 sociólogo	Stuar	Hall.	Ele	propôs	aliar	 as	 temáticas	
sociais	com	as	simbólicas	para,	então,	compreender	a	cultura.	Em	seus	estudos,	
trata,	por	exemplo,	das	relações	entre	cultura	e	meios	de	comunicação,	história	
e	cultura,	etnias,	gênero	e	outros	temas.
•	 A	geografia	cultural	é	definida	como	um	subcampo	da	geografia,	e	os	objetivos	
de	análise	da	disciplina	seguem	através	da	ordem	espacial	da	cultura,	ou	seja,	
as	 dimensões	 simbólicas	 do	 espaço,	 os	 sentidos	 e	 percepções	 do	 homem,	 a	
diversidade	de	contextos	espaciais	etc.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
•	 A	geografia	cultural	 foi	 substanciada	pelas	 cíclicas	 revisões	na	 conceituação	
da	cultura,	como	a	abdicação	do	entendimento	supraorgânico	da	cultura.	Há	
a	possibilidade	de	assimilar	a	cultura	através	de	coisas	comuns	do	dia	a	dia	
familiar,	no	ambiente	de	convívio	social,	linguagens,	habilidades	referentes	a	
classes	ou	minorias	sociais.
•	 A	base	da	geograficidade	da	geografia	cultural	advém	de	Dardel,	historiador	e	
geógrafo	que	preocupou-se	em	compreender	o	seu	meio,	independentemente	de	
ser	natural	ou	artificial,	mas,	em	sua	forma	mais	ampla,	envolvendo	sentimento	
nas	relações	dos	espaços,	com	paisagens,	territorialidade,	identidade	etc.
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1	 Com	relação	à	abordagem	de	Tylor	em	1871	sobre	a	cultura,	marque	com	
(V)	as	proposições	verdadeiras	e	com	(F)	as	falsas:
(			)	Tylor,	em	1817,	propôs	uma	concepção	complexa	sobre	cultura:	“a	cultura	
era	absorvida	mediante	o	relativismo	cultural;	tudo	era	inato	do	homem”.
(			)	Para	Tylor,	a	cultura	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo.	Este	
não	nasce	 com	 características	 culturais	próprias,	mas	 a	 cultura	passa	 a	
ser	 concebida	 por	meio	 da	 aprendizagem	 na	 sociedade,	 a	 exemplo	 da	
linguagem,	símbolos,	práticas,	técnicas,	leis	etc.
(			)	Os	 geógrafos	 apoiaram	 a	 concepção	 tyloriana	 da	 cultura	 mediante	 o	
determinismo	geográfico	representado	na	estrutura	conceitual.
(			)	Tylor	 se	 abdicou	 do	 relativismo	 cultural,	 mas	 fez	 uso	 da	 abordagem	
unilinear,	método	que	comparava,	em	níveis	equivalentes,	todos	os	seres	
humanos	 de	 cada	 sociedade,	 ou	 seja,	 as	 mais	 diversas	 sociedades	 se	
tornaram	reféns	de	um	único	modelo	evolutivo.	Assim,	foi	entendendo	
que	todas	as	sociedades	seguiam	um	único	processo	composto	por	 três	
fases	evolutivas:	de	selvageria,	barbarismo	e,	por	fim,	a	conquista	de	um	
modelo	civilizatório.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(			)	 F-	V	–	V	-	V.
b)	(			)	 V	–	V	–	V	-	V.
c)	(			)	 F	–	F	–	V	-	V.
d)	(			)	 V	–	F	–	F	-	F.
2	 Sobre	 a	 percepção	 de	 Franz	 Boas	 nos	 estudos	 de	 análises	 culturais,	 é	
CORRETO	dizer	que:
a)	 (			)	Para	compreender	a	cultura,	é	necessária	a	 reconstrução	histórica	de	
cada	povo	e	região,	identificando	o	particularismo/singularidade	dos	
mais	diversos	grupos	humanos	e	suas	realidades.		
b)	(			)	Boas	 utilizava	 as	 abordagens	 unilineares	 para	 valorizar	 o	 discurso	
evolucionista	do	Século	XIX.
c)	 (			)	Boas	 se	 contrapôs	 ao	 método	 evolucionista	 unilinear	 e	 à	 teoria	 do	
determinismo	geográfico.
d)	(			)	As	opções	a	e	c	estão	corretas.
 
AUTOATIVIDADE
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3	 Sobre	a	teoria	cultural	supraorgânica,	assinalea	alternativa	CORRETA:
 
a)	(			)	Ela	 é	 considerada	 uma	 entidade	 superior,	 controladora	 de	mentes	 e	
atividades	humanas.
b)	(			)	Democrática	e	dinâmica,	vistos	os	acontecimentos	referentes	ao	Século	XX.
c)	 (			)	A	cultura	assimila	as	dimensões	simbólicas	aplicadas	aos	processos	sociais.	
d)	(			)	Mudança	em	sua	conceituação,	passando	a	ser	compreendida	a	partir	
da	sociedade	de	classes.
4	 Quem	foi	o	autor	da	antropologia	que	teve,	como	foco,	neutralizar	qualquer	
significado	fixo	para	teorizar	a	cultura?	Ainda,	não	se	limitou	às	respostas	
prontas	e	acabadas	como	receitas	herdadas,	mas,	em	seu	estudo,	apresentava	
os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	dimensões	
simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
a)	 (			)	Stuart	Hall.
b)	(			)	Franz	Boas.
c)	 (			)	Clifford	Geertz.
d)	(			)	Edward	Tylor.
5	 Sobre	as	influências	teoóricas	marxistas,	o	sociólogo	Stuart	Hall	concordou	
com	alguns	pontos,	EXCETO:
a)	(			)	A	 falta	 de	 interesse	 da	 teoria	 marxista	 pelos	 assuntos	 referentes	 à	
cultura	e	suas	perspectivas	simbólicas.
b)	(			)	Atributos	do	estudo	referente	à	teoria	do	capital/classe	social,	de	poder/
exploração.
c)	 (			)	Movimentos	sociais	e	política.
d)	(			)	Desarmamento	nuclear	e	questões	raciais	britânicas.
6	 De	 acordo	 com	 o	 Quadro	 1,	 escolha	 um	 título	 e	 apresente	 uma	 breve	
descrição	reflexiva.
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27
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA 
CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Caros	 alunos,	 chegamos	 ao	 Tópico	 2.	 Nesta	 fase	 de	 estudos,	 vamos	
ancorar	na	leitura	e	refletir	sobre	uma	breve	apresentação	da	longa	história	do	
pensamento	geográfico	e	suas	contribuições	para	a	formação	e	estabelecimento	
da	geografia	cultural.
O	Tópico	2	tem,	como	objetivo,	responder	algumas	questões	referentes	ao	
nascimento,	ao	percurso	e	conceito.	Como	a	cultura	foi	abordada	pela	geografia?	
Quem	a	 influenciou?	Em	qual	período?	Quais	 as	 compreensões	adotadas	pela	
geografia	cultural?
 
Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidas,	 além	 desta	 introdução,	 os	 assuntos	
centrais,	os	quais	se	dividem	em:	Geografia	Cultural	-	Fase	I,	Geografia	Cultural	
-	Fase	II,	Geografia	Cultural	-	Fase	III	e	suas	sessões.
A	 Fase	 I,	 na	 sessão	 “As	 primeiras	 aproximações	 cultura	 e	 geografia:	 a	
contribuição	das	escolas	alemã	e	francesa”,	traz	o	período	que	data	o	início	das	
menções	sobre	a	geografia	cultural	com	o	processo	de	introdução	do	campo.	Neste	
momento,	 pode-se	 dizer	 que	 a	 geografia	 enquanto	 disciplina-mãe	 apresentou	
flashes	 a	 partir	 dos	 quais	 indicou	 aberturas	 para	 aplicação	de	 abordagens	 em	
direção	ao	futuro	da	geografia	cultural.
	A	 partir	 do	 desenvolvimento	 geográfico	 das	 escolas	 alemã	 e	 francesa	
de	 Ratzel	 e	 Vidal	 de	 La	 Blache,	 respectivamente,	 uma	 narrativa	 objetiva	 a	
compreensão	 sobre	 a	 inclusão	 da	 cultura	 na	 ciência	 geográfica.	 A	 análise	 se	
delineia	 formalmente	a	partir	da	obra	Antropogeografia,	da	noção	de	gênero	de	
vida,	da	base	darwiniana	e	outra	lamarckiana,	da	seleção	das	espécies	e	adaptação	
das	espécies	ao	ambiente.	Esses	vetores	contribuíram,	principalmente,	para	tratar	
de	uma	embrionária	geografia	cultural,	segundo	o	alicerce	científico	naturalista.
A	sessão	Os estudos de Carl Sauer e sua importância	traz	um	histórico	sobre	
parte	da	biografia	do	precursor	da	geografia	cultural,	Carl	Sauer,	compreendendo	
suas	escolhas	teóricas	durante	a	vida	de	estudante,	professor	e	pesquisador	do	
campo	cultural	da	ciência	geográfica	norte-americana.
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UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, 
RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Apresentamos	a	expressividade	e	 importância	que	as	obras	de	Sauer,	a	
partir	do	Século	XX,	trouxeram	para	a	comunidade	acadêmica,	além	da	formação	
de	discípulos	na	área,	forçando	a	geografia	cultural	a	assimilar	e	a	assumir	sua	
identidade,	 favorecendo	 a	 abertura	 de	 um	 novo	 ciclo.	 A	 primeira	 renovação	
ocorreu	nos	Estados	Unidos,	mais	precisamente	na	escola	de	Berkeley,	onde	o	
processo	de	teorização	historicista	e	a	utilização	da	supraorgânica	substantivaram	
a	geografia	cultural,	disseminando-a	para	inúmeras	universidades	mundo.
A	morfologia	 da	 paisagem	 representou	 o	 carro-chefe	 de	 seus	 escritos,	
pois	reverenciou	a	impressão	do	homem	(um	autômato)	na	superfície	terrestre	
através	da	cultura	(a	entidade	independente	de	leis	próprias),	ao	invés	da	posição	
determinista	do	meio	ambiente.	Fica	evidente	que	a	geografia	cultural	de	Saeur	
contemplou	tendências	do	historicismo.
 
Dando	continuidade	ao	processo	de	fixação	da	geografia	cultural,	chegamos	
a	um	momento	de	desaceleração,	a	Fase	II,	“Transformações	no	campo	geográfico	
e	o	hiato	nos	estudos	da	cultura”.	Sumarizamos,	em	uma	abordagem	amostral	que	
ocorreu	entre	os	anos	de	1950	a	1970,	tempo	em	que	existiram	muitas	tentativas	
de	direcionar	e	redirecionar	a	geografia,	incluindo,	consequentemente,	o	domínio	
da	geografia	cultural.	Uma	das	 linhas	epistemológicas	em	destaque	refere-se	à	
teórico-quantitativa,	 alinhada	 ao	neopositivismo	 e	 suas	 referências	 estatísticas.	
Inicialmente,	a	associação	da	geografia	ao	método	de	análise	matemático	tratou	
de	 silenciar	 algumas	 tendências,	 incluindo	 a	 sauariana,	 tecendo	 críticas	 por	
afirmar	que	ela	se	ocupava	com	comunidades	tradicionais,	ao	invés	de	utilizar	a	
visão	pragmática	em	suas	pesquisas.
 
Parte	 do	 período	 representou	 dois	 estágios:	 a	 perca	 de	 pujança	 da	
geografia	 cultural	 e	 a	 transição	 para	 a	 renovação	 com	 incursão	 das	 novas	
perspectivas	críticas	do	materialismo	histórico	dialético,	dando	início	à	terceira	
fase:	“Imaterialidade	e	Renovação”.
O	 movimento	 da	 geografia	 de	 1970	 e	 pós-1980	 reflete	 a	 inquietação	
científica	 pela	 explosão	 de	 conhecimento	 proposto	 para	 a	 disciplina.	Houve	 a	
reflexão	 da	 ausência	 da	 versão	 crítica	 balizada	 pelo	 materialismo	 histórico	 e	
dialético,	cujo	foco	estava,	principalmente,	nas	condições	econômicas	e	sociais	do	
povo.	Logo,	a	corrente	enxergou	a	necessidade	de	romper	com	o	neopositivismo		e	
gerar	conteúdo	no	campo	cultural	da	geografia,	reafirmando	as	dinâmicas	sociais	
referentes	às	esferas	de	gênero	e	etnicidade,	por	exemplo.	No	entanto,	sabe-se	que	a	
filosofia	não	compreendeu	a	corrente	idealista,	assumindo	incompatibilidade	nas	
visões	filosóficas,	cujo	resultado	volta-se	à	negligência	das	dinâmicas	imateriais	
do	campo	cultural.
O	movimento	de	renovação,	a	virada	cultural,	além	de	tantos	atributos,	
vieram	para	corrigir	algumas	brechas	que,	ao	longo	da	história	do	pensamento	
geográfico,	foram	abertas,	e	uma	delas	referiu-se	ao	silenciamento	das	concepções	
subjetivas.	Houve	 a	 ressurreição	da	 ordem	 fenomenológica,	 além	das	 análises	
voltadas	ao	mundo	vivido,	a	valorização	da	cultura	e	experiências	humanas	junto	
ao	meio.		
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL
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2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS 
APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR 
A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA
A	 geografia	 cultural	 denota-se	 como	 um	 subcampo	 expressivo	 da	
ciência	 geográfica,	 mas	 a	 abordagem	 cultural	 passou	 por	 ciclos	 evolutivos	
e	 complementares.	 Tais	 dinâmicas	 aconteceram	 sincronicamente	 com	 uma	
engrenagem	de	dimensões	maiores	da	disciplina,	relacionadas	à	busca	de	método	
e	doutrina,	além	do	seu	objeto	de	estudo.
 
Anteriormente	 ao	 processo	 da	 utilização	 da	 cultura	 nas	 análises	
geográficas,	 o	método	 racional,	 naturalista	 imperou	 no	 Século	 XVIII,	 além	do	
crescimento	 e	 influência	 da	 física	 newtoniana.	 Observações,	 experiências	 e	
cálculos	matemáticos	nascem	a	partir	de	conhecimentos	voltados	para	análises	
de	estrutura	e	minerais	das	rochas,	plantas	e	animais.	Assim,	a	ciência	geográfica	
cria	uma	espécie	de	fosso,	separando-o	dos	aspectos	sociais	e	culturais	(CLAVAL,	
2010).
 
O	ponto	 de	 vista,	 aos	 poucos,

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