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Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de Lima Microbiologia e parasitologia/ Patologia e imunologia Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Matos, Aldo. M428m Microbiologia e parasitologia, patologia e imunologia / Aldo Matos, Isabel Cristina Rezende Lopes, Lílian Margareth Biagioni de Lima. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2017. 316 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-669-6 1. Parasitologia. 2. Microbiologia. 3. Imunologia. I. Lopes, Isabel Cristina Rezende. II. Lima, Lílian Margareth Biagioni de. III. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. IV. Título. CDD 616.96 © 2017 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Revisão textual Stela Maria Queiroz Dias Diagramação Douglas Silva Ribeiro Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Aldo Matos Mestre em Imunologia e Parasitologia Aplicadas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade de Uberaba (Uniube), graduado em Programa Especial de Formação Pedagógica R2-Biologia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais. É professor de ensino superior da Universidade de Uberaba (Uniube). Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Protozoologia Parasitária Humana, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia, Trypanosoma cruzi, assistência de enfermagem, calazar humano e chagas disease. Isabel Cristina Rezende Lopes Mestra em Patologia Clínica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professora da Universidade de Uberaba (Uniube), dos componentes curriculares: Casos Clínicos, Bioquímica Clínica do curso de Biomedicina, Exames Complementares para o curso de Enfermagem e Ciências Morfológicas para o curso de Medicina. Professora-orientadora do núcleo de professores do PIAC (Programa Institucional de Atividades Complementares). Lílian Margareth Biagioni de Lima Mestre em Ciências-Patologia Geral e especialista em Metodologia do Ensino de Ciências pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Graduada em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado), pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp) e aperfeiçoamento em Patologia (Sorodiagnóstico) pelo Departamento de Patologia (Unesp-Botucatu). Professora da Universidade de Uberaba Sobre os autores (Uniube). Membro da Pró-Reitoria de Ensino Superior desta IES. Professora nos cursos da área da educação e da saúde nos conteúdos de Fisiologia Humana e Patologia Geral, atuando principalmente nos seguintes temas: Patologia Geral e Orientação de TCC. Coordenadora pedagógica do Pró-Saúde II (Uniube). Sumário Apresentação .............................................................................................................. IX Capítulo 1 Fundamentos e métodos no adoecimento .......................... 1 1.1 Fundamentos de Parasitologia e Microbiologia .......................................................3 1.2 Fundamentos de Imunologia ..................................................................................10 1.2.1 Funções do sistema imune ...........................................................................10 1.2.2 Mecanismos de defesa .................................................................................15 1.2.3 Defesas artificiais ..........................................................................................19 1.2.4 Métodos utilizados em Imunologia para diagnóstico de doenças ................20 1.3 Introdução ao estudo da Patologia .........................................................................21 1.3.1 Métodos de estudo em Patologia .................................................................21 1.4 Conclusão ...............................................................................................................43 Capítulo 2 Agressão: saúde e doença ................................................. 45 2.1 Etiopatogênese geral das lesões ...........................................................................47 2.1.1 Respostas localizadas às agressões ............................................................48 2.2 Agentes lesivos .......................................................................................................53 2.2.1 Agentes físicos lesivos ..................................................................................53 2.2.2 Agentes químicos lesivos ..............................................................................70 2.2.3 Agentes nutricionais lesivos ..........................................................................72 2.2.4 Agentes biológicos lesivos ............................................................................79 2.3 Lesões ou processos patológicos ..........................................................................97 2.3.1 Degenerações ..............................................................................................98 2.3.2 Morte celular ...............................................................................................100 2.4 Conclusão .............................................................................................................108 Capítulo 3 Defesa e adaptação dos seres vivos ................................111 3.1 A defesa diante dos agentes agressores .............................................................113 3.1.1 Resposta imune adaptativa ........................................................................114 3.1.2 Passo a passo da ação resposta imune adaptativa ...................................123 3.1.3 O Sistema Complemento ...........................................................................124 3.2 Citocinas ..............................................................................................................126 3.2.1 Propriedades gerais das citocinas ..............................................................126 3.2.2 Citocinas que atuam na resposta imune inata ...........................................127 3.2.3 Citocinas que atuam na resposta imune adaptativa ..................................128 3.3 Imunidade aos micróbios ......................................................................................129 3.3.1 Imunidade aos vírus ....................................................................................130 3.3.2 Imunidade a bactérias extracelulares .........................................................131 3.3.3 Imunidade a bactérias intracelulares ..........................................................132 3.3.4 Imunidade aos fungos .................................................................................133 3.4 Defesa e adaptação: o processo inflamatório ......................................................1333.4.1 Classificação da inflamação .......................................................................136 3.4.2 Células do exsudato inflamatório ................................................................136 3.4.3 Fenômenos da inflamação ..........................................................................138 3.4.4 Fenômenos x sinais cardinais da inflamação .............................................142 3.4.5 Mediadores da resposta inflamatória ..........................................................143 3.4.6 Inflamação aguda ........................................................................................144 3.4.7 Inflamação crônica ......................................................................................148 3.5 Doenças: manifestações clínicas das respostas de defesa e de adaptação ......154 3.5.1 Algumas doenças causadas por bactérias, fungos e vírus ........................155 3.5.2 Algumas doenças causadas por bactérias .................................................161 3.5.3 Algumas doenças causadas por vírus ........................................................165 3.5.4 Algumas doenças causadas por fungos .....................................................168 3.6 Alergia ...................................................................................................................169 3.7 Conclusão .............................................................................................................170 Capítulo 4 Alterações celulares e doenças causadas por protozoários ..................................................................... 173 4.1 Protozoários intestinais .........................................................................................175 4.1.1 Protozoários com habitat no intestino delgado ...........................................176 4.1.2 Protozoários com habitat no intestino grosso .............................................182 4.2 Protozoários sanguíneos e tissulares ...................................................................188 4.3 Distúrbios locais da circulação .............................................................................206 4.3.1 Hiperemia ....................................................................................................207 4.3.2 Hemorragia ..................................................................................................212 4.3.3 Edema .........................................................................................................218 4.3.4 Trombose ....................................................................................................220 4.3.5 Embolia........................................................................................................227 4.3.6 Infarto ..........................................................................................................230 4.3.7 Choque ........................................................................................................234 4.4 Resposta imunológica aos parasitos ....................................................................236 4.4.1 Resposta imune adaptativa aos parasitos ..................................................236 4.4.2 Imunoematologia .........................................................................................237 Capítulo 5 Alterações celulares e doenças causadas por metazoários, imunologia dos tumores e doença autoimune ................. 241 5.1 Doenças causadas por nematelmintos ................................................................243 5.1.1 Nematelmintos intestinais que realizam o Ciclo de Loss ...........................245 5.1.2 Nematelmintos intestinais que não passam pelos pulmões ......................252 5.1.3 Nematelmintos sanguíneos e teciduais ......................................................255 5.2 Doenças causadas por platelmintos .....................................................................257 5.2.1 Taenia solium e Taenia saginata .................................................................258 5.2.2 Hymenolepis nana ......................................................................................260 5.2.3 Echinococcus granulosus ...........................................................................262 5.2.4 Schistosoma mansoni .................................................................................264 5.3 Profilaxia e controle das verminoses intestinais ...................................................268 5.4 Crescimento e diferenciação celular ....................................................................271 5.4.1 Regulação do crescimento celular ..............................................................272 5.4.2 Distúrbios do crescimento celular ...............................................................274 5.4.3 Alterações da diferenciação celular ............................................................282 5.4.4 Alterações do crescimento e da diferenciação celular ...............................285 5.4.5 Doenças autoimunes ..................................................................................299 O adoecimento é um processo de grande complexidade que, do ponto de vista biológico, envolve uma agressão, a consequente resposta de defesa do organismo e as alterações anatômicas e/ou funcionais decorrentes das interações entre o agente agressor e o organismo agredido. Classicamente, a defesa do organismo refere-se ao campo da Imunologia, as alterações temporárias ou permanentes causadas pela agressão, bem como os agentes agressores, físicos, químicos ou biológicos, são assuntos da Patologia, da Parasitologia (helmintos e protozoários), da Microbiologia (vírus, bactérias e fungos). Os desafios no estudo das doenças estão em transitar, com segurança, entre a investigação científica e o ensino-aprendizagem; entre os avanços tecnológicos e científicos e a arte e a ciência de ensinar; entre pesquisar e fazer intervenção por meio de projetos educativos. Para vencer esses desafios, é preciso dedicação aos estudos e a compreensão de que tudo está interligado: saúde, educação, economia, cultura, natureza e meio ambiente. Acrescente conceitos e curiosidades à composição destes capítulos, revendo os textos lidos. Nunca utilize as dificuldades como um problema para esse ou qualquer assunto. Com isso, esperamos que admire o desafio de aprender e saber Biologia. Este livro, que se intitula Microbiologia e Parasitologia / Patologia e Imunologia, compõe- se de cinco capítulos. A seguir, de forma sucinta, os conteúdos que foram cuidadosamente selecionados para ajudá-lo(a) na sua formação profissional. Apresentação X UNIUBE No primeiro capítulo, intitulado “Fundamentos e métodos no adoecimento”, iniciaremos os estudos abordando alguns conceitos elementares e os principais métodos aplicados à Parasitologia. Com certeza, você não sentirá dificuldades. Afinal, quem nunca ouviu falar em amebas, lombrigas ou giárdia? Mesmo porque, os protozoários e os helmintos são temas já abordados em outra disciplina, como na Zoologia dos invertebrados. O que vamos fazer nesse capítulo é organizar essas informações e complementá-las, focando as doenças parasitárias. Além desses aspectos, ainda, nesse capítulo, serão estudados os principais métodos de estudo utilizados na investigação do processo de adoecimento. Assim sendo, esperamos que, ao final desse estudo, você compreenda o princípio e a utilização dos métodos e técnicas. “Agressão: saúde e doença” corresponde ao capítulo dois deste livro, em que estudaremos alguns aspectos da saúde e da doença. O tema saúde x doença permite múltiplas abordagens, que envolvem desde os processos biológicos até as interações sociais. Você perceberá que, do ponto de vista biológico, o foco central é o adoecimento. Nesse processo, percebemos que uma agressão desvia o organismo do estado de equilíbrio ou homeostase e provocanele uma reação no sentido de retomar o estado de equilíbrio, ou seja, na prática, o organismo reage pela resposta imunológica e por reações heterólogas. O equilíbrio pode, ou não, ser reestabelecido e, na verdade, existe uma infinidade de novas situações de equilíbrio possíveis diante de uma agressão. Todas essas possibilidades configuram desde a cura até as diferentes apresentações de doença. Assim, diante de uma agressão, o organismo defende-se, podendo adaptar-se a um novo ponto de equilíbrio ou apresentar processos patológicos e adoecer. Nessa interação entre agente agressor e organismo agredido, exercem papéis importantes UNIUBE XI a resposta imunológica a vírus, a bactérias e a fungos e os processos patológicos resultantes que, de um modo geral, estão envolvidos na defesa do organismo e na busca de um novo ponto de equilíbrio. O capítulo seguinte foi intitulado “Defesa e adaptação dos seres vivos”. Nesse capítulo três, você será levado a conhecer os fundamentos e métodos de estudo do adoecimento e abordar o binômio saúde x doença, sob o aspecto biológico. Desse modo, iremos elencar, com maior completude, os mecanismos de defesa e as estratégias de adaptação do organismo diante de uma agressão. As parasitoses assumem grande importância nos países subdesenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, porque sua ocorrência e suas consequências estão diretamente relacionadas às condições de vida da população: condições sanitárias, hábitos alimentares, cultura e acesso a serviços, entre outros. Nesse sentido, o estudo do capítulo quatro, “Alterações celulares e doenças causadas por protozoários”, estará voltado para os fatores biológicos que condicionam a ocorrência e a gravidade das doenças parasitárias. Para tanto, não podemos perder de vista tudo o que já foi estudado sobre agressão, defesa, adaptação e doença. É o momento de articular esses conhecimentos! Começaremos estudando as doenças causadas por protozoários parasitas, que são objeto de estudo desse capítulo. No quinto e último capítulo, “Alterações celulares e doenças causadas por metazoários, imunologia dos tumores e doença autoimune”, abordaremos as alterações celulares e as doenças causadas por metazoários. Assim, chegamos ao momento de estudar as agressões causadas pelos metazoários. A maioria desses seres unicelulares e eucariotos são de vida livre. Entre os metazoários parasitos de humanos, existe uma XII UNIUBE diversidade de habitat e de mecanismos de agressão. Isso determina uma diversidade na resposta imunológica e nas apresentações clínicas. Nesse capítulo cinco, não temos a pretensão de esgotar um tema verdadeiramente extenso. Mas, aqui, você encontrará orientações para seu estudo e informações que lhe ajudarão em seus estudos. Com o objetivo de organizar as alterações celulares e doenças causadas por metazoários, imunologia dos tumores e doença autoimune, apresentaremos, na primeira parte desse capítulo, os protozoários intestinais, seguidos dos protozoários sanguíneos e tissulares. A segunda parte será constituída pelos temas: distúrbios do crescimento e da diferenciação celular, decorrentes de alterações nos mecanismos que regulam estes processos, além da imunologia dos tumores e doenças autoimunes. Como você pode perceber, trata-se de um livro criteriosamente construído, com uma quantidade expressiva de informações. Cabe a você ler, reler, interpretar, refletir, registrar, comparar e articular teoria e prática nas disciplinas Microbiologia e Parasitologia / Patologia e Imunologia. Bons estudos! Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de Lima Introdução Fundamentos e métodos no adoecimento Capítulo 1 Prezado aluno, o adoecimento é um processo de grande complexidade que, do ponto de vista biológico, envolve uma agressão, a consequente resposta de defesa do organismo e as alterações anatômicas e/ou funcionais decorrentes das interações entre o agente agressor e o organismo agredido. Classicamente, a defesa do organismo refere-se ao campo da Imunologia, as alterações temporárias ou permanentes causadas pela agressão, bem como os agentes agressores, físicos, químicos ou biológicos, são assuntos da Patologia, da Parasitologia (helmintos e protozoários), da Microbiologia (vírus, bactérias e fungos). Além desses aspectos, ainda, nesse capítulo, serão estudados os principais métodos de estudo utilizados na investigação do processo de adoecimento. Assim sendo, esperamos que, ao final desse estudo, você conheça o princípio e a utilização dos métodos e técnicas estudados. Ao finalizar os estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: Objetivos 2 UNIUBE 1.1 Fundamentos de Parasitologia e Microbiologia 1.2 Fundamentos de Imunologia 1.3 Introdução ao estudo da Patologia 1.4 Conclusão Esquema • definir Patologia; • indicar os principais métodos de estudo utilizados em Patologia; • explicar o princípio e a utilização do método morfológico; • descrever as técnicas do método morfológico para análise dos processos patológicos em níveis macro e microscópicos; • explicar o princípio e a utilização do método imuno- istoquímico e de suas técnicas; • explicar o princípio e a utilização da Biologia Molecular e de suas técnicas; • conceituar parasitismo; • indicar os principais métodos de estudo aplicados à Parasitologia; • indicar os principais métodos de estudo aplicados à Microbiologia; • explicar o princípio dos métodos de exames parasitológicos; • conceituar Imunologia; • descrever os componentes da resposta imunológica e suas respectivas funções. UNIUBE 3 Vejamos, agora, os conceitos fundamentais e os principais métodos aplicados à Parasitologia. Com certeza, você não sentirá dificuldades. Afinal, quem nunca ouviu falar em amebas, lombrigas ou giárdia? Mesmo porque, os protozoários e os helmintos são temas já abordados nos conteúdos de Zoologia. O que vamos fazer agora é organizar essas informações e complementá-las, focando as doenças parasitárias. Precisamos de início, rever o conceito de parasitismo. Pense aí com você mesmo. Então? Já pensou? Fundamentos de Parasitologia e Microbiologia1.1 Em capítulos anteriores, você encontra o seguinte conceito para parasitismo: [...] em princípio, considerada negativa, esse tipo de interação é caracterizado por espécies que vivem às expensas de outra, atacando-a diretamente e afetando- a desfavoravelmente, porém, dependendo dela para sua sobrevivência [...] (BARNES; RUPPERT, 1996, p.6). Na abordagem das doenças infecciosas, ao falarmos em parasitos, imediatamente pensamos nos vermes e nos protozoários que parasitam o intestino do homem ou de animais. No entanto, bactérias, vírus e fungos causadores de doenças podem também ser considerados parasitos, porque durante a infecção, vivem à custa do organismo infectado. De fato, o ponto crucial na relação de parasitismo é que o parasito depende do hospedeiro para viver. Mas, chegou o momento de ampliarmos esse conceito. Vamos lá! Corriqueiramente, costumamos relacionar os parasitos com doenças intestinais que se manifestam com diarreia e cólica. Porém, só existe doença quando há sinais e sintomas. Em várias Sinais São as alterações fisiológicas ou anatômicas possíveis de serem observadas diretamente, como os sangramentos, ou medidas, como a temperatura corporal na febre ou o ritmo dos batimentos cardíacos. Sintomas São alterações subjetivas, que, portanto, não podem ser medidas, como a dor. 4 UNIUBE pessoas, uma parasitose pode ser assintomática. Dizemos, então, que a pessoa com parasitose está doente, quando ela apresenta sinais e sintomas, como, por exemplo, a diarreia. No caso da pessoa com parasitose não apresentar sinais e sintomas, dizemos que ela está com uma infecção assintomática. Por exemplo, apenas 10% das pessoas infectadas por Entamoeba histolytica, o agente da amebíase, apresentam diarreias. Portanto, estas pessoasestão infectadas e doentes. As demais são assintomáticas e, portanto, estão infectadas, mas não estão doentes. Também vale lembrar que existem parasitos cujo habitat não é o intestino, como por exemplo, o Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, que habita fibras musculares lisas, fibras musculares estriadas cardíacas e tecido nervoso. E, afinal, os parasitos existem apenas para nos causar prejuízo? Atualmente, acredita-se que não. Alguns estudos comparando populações com alto índice de parasitoses intestinais a populações pouco parasitadas indicam que ter parasitoses intestinais na infância pode diminuir os riscos da pessoa tornar-se alérgica ou mesmo de desenvolver doenças autoimunes. Infecção Penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso dentro do organismo de humanos ou de animais. Uma doença autoimune ocorre quando nosso sistema de defesa, o sistema imunológico, passa a agredir nosso próprio organismo. Você estudará, nos próximos capítulos, a resposta de defesa do nosso organismo frente a agentes agressores e entenderá melhor como isso acontece. PARADA OBRIGATÓRIA UNIUBE 5 Você consegue imaginar como identificaram a relação entre parasitismo intestinal e menores riscos para alergias e doenças autoimunes? Essa relação foi identificada ao se observar e comprarar a ocorrência de alergias entre populações com altos índices de parasitismo intestinal e populações pouco parasitadas. O que ajudou a definir essa questão foi a aplicação dos recursos da Estatística aos dados coletados na observação. Isso mesmo! A Estatística que você estudou nas etapas anteriores. Do que vimos até agora, podemos concluir que: • infecção é diferente de doença; • nem toda pessoa parasitada está doente; • nem todo parasito habita o intestino; • a infecção por parasitos intestinais pode diminuir os riscos de a pessoa parasitada desenvolver alergias ou doenças autoimunes. Considerando essas informações, as parasitoses não devem ser encaradas apenas como doenças, porque a maioria das pessoas infectadas são hospedeiros assintomáticos. Mas, no estudo das infecções por parasitas, devem ser consideradas, também, suas características epidemiológicas, isto é, o modo de transmissão e a distribuição de casos na população. Esses hospedeiros assintomáticos são dispersores da infecção. Nas parasitoses intestinais, por exemplo, os hospedeiros assintomáticos servem de fonte de contaminação do ambiente (água, solo, alimentos etc.) com formas infectantes que darão início à infecção em outras pessoas que as ingerirem. Também os assintomáticos, uma vez diagnosticados, engrossarão o número de pessoas infectadas e a prevalência de parasitoses intestinais fornece uma ideia do desenvolvimento Prevalência Número de casos de uma doença (novos e antigos), em uma população, em um dado momento. Geralmente, a prevalência é expressa em porcentagem da população atingida pela doença avaliada. 6 UNIUBE Estudaremos algumas doenças causadas por protozoários e outras causadas por vermes em outros capítulos mais adiante. E para que estudamos as parasitoses, afinal? Estudamos essas doenças para fazer prevenção da infecção, para diminuir sua prevalência e para entender porque algumas pessoas infectadas desenvolvem doença e outras não. socioeconômico da comunidade. Quanto menos desenvolvida for a comunidade, isto é, quanto mais precárias forem as condições de vida das pessoas, maior a prevalência de parasitoses intestinais. Para a maioria dos protozoários intestinais, excetuando-se os coccídeos, a forma infectante que sai nas fezes é o cisto. Para a maioria dos vermes, a forma infectante que sai nas fezes são os ovos, exceto para os poucos vermes que penetram por meio da pele e mucosas, cuja forma infectante são as larvas. SAIBA MAIS Uma das ações que compõem as estratégias para fazer prevenção e diminuir a prevalência é diagnosticar precocemente a infecção, quer seja sintomática ou assintomática. Para as parasitoses intestinais, podemos usar o método de exames parasitológicos de fezes, nos quais observamos amostras de fezes ao microscópio em busca de formas evolutivas dos parasitos intestinais, que porventura tenham sido evacuadas. O Quadro 1, a seguir, apresenta um resumo das principais técnicas empregadas para esse fim. UNIUBE 7 Técnica Princípio Formas evoluti-vas que detecta Utilização Direto ou “a fresco” Visualização da amos- tra bruta de fezes sem nenhum procedimento especial Trofozoítos de protozoários Diagnóstico de pro- tozooses intestinais Método Hoffman Pons e Janer ou HPJ Sedimentação espon- tânea das formas evo- lutivas Cistos de proto- zoários e ovos de helmintos Diagnóstico de pro- tozooses, helminto- ses intestinais Wiilis Flutuação das formas evolutivas em solução saturada de sal ou de açúcar Ovos de helmin- tos Diagnóstico de hel- mintoses intestinais Faust Centrífuga-flutuação das formas evolutivas em solução de sulfato de zinco a 33% Cistos de proto- zoários Diagnóstico de pro- tozooses intestinais Kato-Katz Quantificação da carga parasitária de vermes Ovos de vermes Diagnóstico de hel- mintoses intestinais e estimativa da po- pulação de vermes no intestino do hos- pedeiro Baerman-Moraes Termotropismo e hidro- tropismo das larvas de vermes Larvas de helmin- tos Diagnóstico de hel- mintoses nas quais podem ser encon- tradas larvas nas fezes, especialmen- te estrongiloidíase Quadro 1: Resumo as principais técnicas de exame parasitológico de fezes Para encontrar trofozoítos de protozoários parasitos intestinais, devemos utilizar o Método Direto, também conhecido como Exame a Fresco. Nesse método, examinam-se ao microscópio amostras de fezes recém-eliminadas, ou seja, com menos de uma hora de evacuadas. Após esse prazo, os trofozoítos morrem e não serão mais encontrados. 8 UNIUBE Para diagnosticar as doenças parasitárias cujo agente encontra-se nos tecidos, podemos realizar biópsias, processadas com técnicas de imunoistoquímica, que serão descritas ao longo desse capítulo. Quando o parasito mantiver-se em grande quantidade na corrente sanguínea, como no caso da fase aguda da doença de Chagas, podemos proceder ao exame direto, ao microscópio, de uma gota do sangue periférico, recém-coletado. Também, é possível confeccionar esfregaços de sangue, em lâminas de microscopia, corando pelos corantes Leishman ou Giemsa que coram e evidenciam a presença dos parasitos no sangue. Ainda, em casos de parasitos que habitam o sangue dos tecidos, ou mesmo de parasitos intestinais cuja aplicação do exame parasitológico de fezes tenha limitações, podemos usar técnicas imunológicas, nas quais são detectados anticorpos contra o parasito em amostras de sangue do hospedeiro. Para o estudo dos fungos e das bactérias, são utilizadas as técnicas de cultura, para seu isolamento e crescimento aliadas à confecção de lâminas coradas por diferentes técnicas, a fim de estudar sua morfologia e propriedades tintoriais. Já os vírus, seres extremamente pequenos e parasitos intracelulares obrigatórios, exigem a utilização de microscopia eletrônica para estudar sua morfologia. Outras técnicas, como a dosagem dos metabólitos por meio de métodos bioquímicos e também as técnicas de análise de biologia molecular, estas já apresentadas nesse capítulo, podem ser utilizadas no estudo das agressões causadas por fungos, bactérias e vírus. A identificação das bactérias é inicialmente baseada em sua morfologia e na coloração de Gram. O principal corante na coloração de Gram é o cristal violeta, o qual pode penetrar na parede bacteriana. UNIUBE 9 As bactérias que retêm o cristal violeta na sua parede são classificadas como gram-positivas e aquelas que não o retêm, são gram-negativas. De forma semelhante ao estudo das bactérias, para estudar a morfologia dos fungos são realizadas culturas e confeccionadas lâminas coradas. Os meios para a culturae os corantes utilizados variam de acordo com a espécie de fungo ou de bactéria que se estuda. Caro estudante, os métodos parasitológicos de estudo servem para identificar o agente de uma infecção, mas, como já foi mencionado, nem todas as pessoas infectadas estão doentes. Para entender por que algumas pessoas infectadas desenvolvem sinais e sintomas e outras não, estudam-se a resposta de defesa contra o agressor e as características peculiares do agente infeccioso. As características peculiares do agente podem ser estudadas pelos métodos apresentados nesses capítulos, tais como a análise de suas proteínas de superfície e das suas enzimas e, mais recentemente, por meio das técnicas de Biologia molecular. Ao longo do estudo da Agressão e da Defesa, você perceberá o quanto a relação entre o parasito e o hospedeiro é importante para definir a evolução de uma infecção para cura, infecção assintomática, doença aguda, doença crônica ou morte. Em um primeiro olhar, observando esses métodos de estudos aplicados à parasitologia, podemos ser seduzidos por toda essa tecnologia. No entanto, veremos mais adiante que também existe o olhar para as doenças parasitárias à luz das condições de vida, que configuram fatores de risco para ocorrerem parasitoses. Essa última abordagem faz parte da realidade de muitos brasileiros e permitirá a contextualização dos temas de parasitoses, quando você, futuro professor, preparar sua aula. 10 UNIUBE Imunologia, do latim: immunitas significa “isento de taxa”, ou melhor, livre ou isento de doença. Apesar de o conceito de contágio e a presença de germes serem conhecidos desde 1546, foi somente com o experimento do médico inglês Edward Jenner, em 1798, que a Imunologia ficou realmente conhecida. Observando a evolução da varíola, doença causada por vírus que, na época, estava associada à alta morbidade e mortalidade, principalmente de crianças, o médico observou que os indivíduos que trabalhavam em fazendas e que tinham contato com a varíola bovina (ordenhadores, por exemplo), desenvolviam lesões locais, nas mãos e nos pulsos, porém, não desenvolviam a doença humana. Em seu experimento, revolucionário na época, porém muito condenado e perigoso, inoculou material obtido da lesão da mão dos ordenhadores (pus da lesão) no braço de um menino de somente oito anos. Após dois meses, inoculou no mesmo menino, material proveniente de um paciente com varíola humana, e o menino desenvolveu apenas ferida local. Jenner concluiu, então, que a exposição do menino à varíola bovina tinha concedido proteção, ou imunidade à infecção pela forma humana da doença, iniciando então os estudos da Imunologia, ou o estudo da resposta do organismo a substâncias estranhas. 1.2.1 Funções do sistema imune Os estudos atuais mostram que o sistema imunológico atua em nosso organismo de diversas maneiras, sendo várias as funções por ele desempenhadas, como: • combate aos microrganismos invasores; • limpeza: retirada de células mortas, renovação de tecidos; • rejeição a transfusões sanguíneas, transplantes e enxertos; Fundamentos de Imunologia1.2 UNIUBE 11 • desenvolvimento de memória imunológica: importante na prática da vacinação, por exemplo; • ação ativa contra as células alteradas que diariamente surgem em nosso corpo como resultado de mitoses anormais e que se não forem destruídas ou retiradas podem originar tumores. Para desempenhar tais funções, o sistema imunológico é formado pelas células de defesa e pelos órgãos linfoides. Vamos, então, conhecer cada um desses componentes. As células que compõem o sistema imune agem como um exército, em que cada função é desempenhada por componentes específicos, tais como: • leucócitos ou glóbulos brancos do sangue: divididos em subpopulações com funções próprias; • linfócitos: são as principais células do sistema imunológico e correspondem de 20 a 30% dos glóbulos brancos totais. Morfologicamente são ovoides com núcleo grande e citoplasma abundante; Veja uma imagem de um linfócito no site: http://www.alunosonline.com.br/biologia/sangue.html PESQUISANDO NA WEB • linfócitos T ou “timo-dependentes”: são muito importantes e entre as suas inúmeras funções, podemos citar a ativação da resposta imunocelular, pela participação do Linfócito T auxiliar (Ta); ativação de outros linfócitos, como o Linfócito T citotóxico (Tc), Linfócito T reguladores, cuja principal função é inibir a resposta imunológica, linfócitos Th17, secretores de IL-17, envolvidos na defesa contra microrganismos e na mediação da inflamação, e outros tipos celulares, como os macrófagos, por exemplo; controlam a resposta imune: responsáveis pela supressão da produção de anticorpos 12 UNIUBE • neutrófilos ou neutrófilos segmentados: são os mais abun- dantes e correspondem a 60% dos leucócitos totais. Entre as suas funções, estão a fagocitose do invasor, especialmente bactérias, e a participação no processo inflamatório, com a formação do “pus”. Na morfologia, apresenta grânulos no citoplasma e núcleo com vários lóbulos (ou segmentos); após a destruição do invasor; são capazes de desenvolver células de memória; • linfócito B: associados à resposta imune-humoral; entre as suas funções estão a produção de anticorpos específicos contra diversos antígenos e a capacidade de desenvolver células de memória; • anticorpo: proteína plasmática, secretada pelas células B, que medeia a imunidade humoral, ligando-se aos antígenos e desencadeando mecanismos efetores que os eliminam; • antígeno: molécula capaz de desencadear resposta imunológica; • linfócito NK, natural killer, ou, ainda, matadoras naturais: participam da imunidade inata, além de estarem associadas à destruição de células tumorais, células infectadas por vírus, entre outras; • monócitos: correspondem a, aproximadamente, 3% dos leucó- citos totais; são responsáveis por fagocitarem organismos invasores, além de serem precursoras dos macrófagos. Morfologicamente, são agranulares com núcleo grande em forma de ferradura; Veja uma imagem de um monócito no site: http://www.alunosonline.com.br/biologia/sangue.html PESQUISANDO NA WEB Veja uma imagem de um neutrófilo no site: http://www.alunosonline.com.br/biologia/sangue.html PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 13 • eosinófilos: correspondem a 2% dos totais e estão presentes nos tratos digestivo e respiratório, sendo frequentes nos processos parasitários e alérgicos. São células que apresentam grânulos que se coram pela eosina, ficando com aspecto bem característico; Veja uma imagem de um eosinófilo no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Eosinophil.jpg PESQUISANDO NA WEB • basófilos: somente 1% dos leucócitos totais participa da reação do choque anafilático. São células com grânulos muito grandes, compostos de histamina e heparina, e que chegam a “mascarar” o núcleo. Veja uma imagem de um basófilo no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:PBBasophil.jpg PESQUISANDO NA WEB Além das células descritas anteriormente, outros tipos celulares do sistema imune estão presentes nos tecidos. São eles: • macrófagos: originadas a partir dos monócitos que migraram para o tecido conjuntivo. São bastante importantes, participando da imunidade inata por meio da fagocitose e destruição de microrganismos invasores. Participam da apresentação do invasor, necessária para a ativação da resposta imune adaptativa, além de serem responsáveis pela limpeza de tecidos necrosados, remoção de restos celulares, entre outros. Possuem formato ameboide por estarem constantemente emitindo pseudópodes; 14 UNIUBE Veja uma imagem de um macrófago no site: http://www.icb.usp.br/mol/4-19macrofago3.html PESQUISANDO NA WEB • mastócitos: células que armazenam substâncias da inflamação, como histamina e heparina, participando assim das reações alérgicas e de hipersensibilidade, como, por exemplo, na asma, picada de insetos, reação à penicilina etc. Veja uma imagem de um mastócito no site: http://www.virtual.epm.br/material/histologia/histo/fig15.htmPESQUISANDO NA WEB Os órgãos linfoides são locais onde ocorre a produção de células que vão agir no combate aos agentes externos. Podem ser: • primários: naqueles onde ocorrem as principais fases do amadurecimento dos linfócitos. Exemplo: Timo (linfócito T) e Medula óssea (linfócito B). • secundários: participam da resposta imune. São locais onde as células terminam o seu amadurecimento e vão estar prontas para agir (ativação final das células). Exemplos: – linfonodos: pequenos e localizados no trajeto dos vasos linfáticos (axila, pescoço, inguinais), filtram a linfa, removem vírus, bactérias, células mortas, além de estarem associados à maturação de linfócitos T e B; – tonsilas: localizadas na cavidade bucal, estão associadas à proteção da mucosa; UNIUBE 15 – baço: local de maturação e liberação dos linfócitos T e B, além de promover limpeza do organismo, destruição de hemácias velhas, entre outras. O sistema imunológico compreende todos os mecanismos pelos quais um organismo multicelular se defende de invasores externos, como bactérias, vírus, protozoários, fungos. Existem dois tipos de mecanismos de defesa: os inatos ou não específicos e o sistema imunitário adaptativo. Iremos estudar cada um deles. 1.2.2 Mecanismos de defesa Você já tomou alguma vacina? Sabe a sua ação no seu organismo? Pois bem, vacinação é uma estratégia desenvolvida a partir de conhecimentos no campo da imunologia. Vamos, então, conhecer um pouco sobre a resposta imune. A resposta imune é uma sequência de eventos desencadeada por um corpo estranho (antígeno), com o objetivo de eliminá-lo. Para que um antígeno possa ser destruído, é necessário que ocorra a ligação deste ao anticorpo específico (reação Ag-Ac). Os anticorpos são capazes de reconhecerem uma grande diversidade de antígenos. A resposta imune pode ser didaticamente dividida em resposta imune inata e resposta imune adaptativa. Vamos, então, entender o que elas significam e realizam. 1.2.2.1 Resposta imune inata É a primeira linha de defesa contra os microrganismos invasores. Está presente desde o nosso nascimento. Ela é muito importante, visto que vivemos em contato constante com eles (pense em uma pessoa 16 UNIUBE espirrando em um elevador lotado, por exemplo), muitas vezes ela consegue eliminar esses micróbios e quando não consegue eliminá-los, os mesmos são capazes de estimular a resposta adaptativa. São componentes da resposta imune inata: • as barreiras naturais do corpo: superfície corporal (pele), pelos corporais, sobrancelhas, unhas, cutícula, lágrima, saliva, muco, pH do estômago, flora bacteriana normal entre outros, todos impedindo ou dificultando a invasão do organismo; • as células do sistema imune: fagócitos como neutrófilos, macró- fagos, linfócitos NK, não dependem de contato prévio (não precisam ser ativados), para atacar os microrganismos patogênicos, porém agem sempre da mesma maneira independente da natureza do patógeno (vírus, bactérias, mais ou menos virulentos) e, também, não desenvolvem memória imunológica; • as citocinas: produzidas após a reação antígeno-anticorpo. As principais citocinas da resposta imune inata são: • Fator de Necrose Tumoral (TNF): principal mediador da resposta imune à inflamação. Atua principalmente contra bactérias gram- negativas. Produzido por fagócitos mononucleares ativados. Exis- tem dois tipos: TNF tipo I e TNF tipo II. Principal função está ligada ao recrutamento e à ativação de neutrófilos e monócitos para o local da infecção; • Interferons tipo 1: produzidos por fagócitos mononucleares, partici- pam da resposta imune inata contra vírus. Suas principais funções são inibir a replicação viral e aumentar a expressão de moléculas do complexo de histocompatibilidade principal de classe I (MHC classe I); • IL-1: produzida principalmente por macrófagos, células endoteliais e algumas células epiteliais. Participa da resposta inflamatória por meio da indução à febre por ação no hipotálamo, síntese de proteínas de fase aguda e no processo de migração de neutrófilos; • IL- 6: produzida principalmente por macrófagos, células endoteliais e células T. Participam da síntese hepática de proteínas de fase aguda e atuam na proliferação de células B; UNIUBE 17 • IL-12: produzida principalmente por macrófagos e células dendríticas. Atuam na diferenciação de células T e na produção de interferon; • IL-15 = produzida principalmente por macrófagos. Estimula a proliferação de células NK e células T de memória (Células TCD8+); • IL-18: produzida principalmente por macrófagos. Participa da produção de interferon; • Quimiocinas: família de citocinas homólogas. As principais células produtoras são os macrófagos, as células endoteliais, as células T, os fibroblastos e as plaquetas. Sua principal função é estimular o movimento e a migração de leucócitos para o local da infecção, quimiotaxia. 1.2.2.2 Resposta imune adaptativa A imunidade inata, muitas vezes não é eficiente o bastante para destruir o microrganismo invasor; porém, ela é capaz de ativar a resposta imune adaptativa para que essa entre em ação. Apesar de ser mais lenta, ela é específica, mais potente e desenvolve memória imunológica, concedendo proteção mais duradoura. Participam da resposta imune adaptativa: • sistema imune celular: com a participação dos linfócitos T (T-auxiliar, T-citotóxico); • sistema imune humoral: participação dos linfócitos B e produção dos anticorpos específicos; • citocinas: controlam a diferenciação e proliferação dos linfócitos. As principais citocinas da resposta imune adaptativa são: • Interleucina-2 (IL-2): produzida principalmente por células T, função de estimular a apoptose, proliferação e ativação de células NK e células B; • Interleucina-4 (IL-4): produzida principalmente por células T CD4+ e mastócitos. Produção de IgE, proliferação de macrófagos, diferenciação TH2; 18 UNIUBE • Interleucina-5 (IL-5): produzida principalmente por células T CD4+. Produção e ativação de eosinófilos, produção de IgA e proliferação de células B; • Interleucina-13 (IL-13): produzida principalmente por células T CD4+. Produção de muco pelas células epiteliais. Inibe a ativação dos macrófagos; • Fator de crescimento e transformação - β (TGF- β): produzida principalmente por células T, macrófagos e outros tipos celulares. Inibe a proliferação e função efetora das células T, inibe a ativação de macrófagos. Produção de IgA; • Interferon - γ (INF- γ): produzido por células T (TH1, Células TCD8+, células NK). Aumenta função microbicida de macrófagos. Atua na resposta TH1 e aumenta a expressão de moléculas MHC de classe I e classe II; • Linfotoxina (LT): produzida por células T, responsável pela ativação de neutrófilos. A resposta imune adaptativa pode ser dividida em resposta imune humoral em que são produzidos anticorpos pela ativação de linfócitos B e resposta imune mediada por células, em que predominam linfócitos TCD8+ citotóxicos. A resposta imune citotóxica é favorecida pela produção de citocinas Th1 (IL-2, TNF, INF-γ), e a resposta imune humoral é influenciada pela produção de citocinas Th2 (IL-4, IL-5, IL-10). A resposta Th1 está relacionada à defesa contra protozoários, bactérias intracelulares e vírus, enquanto a resposta Th2 é mais efetiva contra os helmintos e bactérias extracelulares (Quadro 2). UNIUBE 19 Característica Imunidade Inata Imunidade Adaptativa Origem Desde o nascimento Entra em ação quando a ina-ta não é suficiente Constituintes Barreiras naturais do corpo (pele, pelos, saliva...) Células: macrófagos, linfóci- tos NK, neutrófilos Linfócitos T e B Sistema Imune Celular e Hu- moral Ação Imediata, rápida Lenta Especificidade Inespecíficas (agem sempre da mesma forma) Específicas Memória Sem memória imunológica Possuem memória imunoló-gica Quadro 2: Tipos de imunidade e suas principais características 1.2.3 Defesas artificiais Existem algumas maneiras de se promover a saúde,ou seja, induzir o sistema imunológico a trabalhar sem que seja preciso ficar doente. Uma prática bastante difundida e estimulada é a vacinação. Na vacinação, são injetados, no organismo, vírus atenuados ou parte desses vírus, uma toxina bacteriana ou mesmo bactérias mortas, para que o organismo reconheça o invasor e trabalhe para produzir anticorpos específicos sem que seja preciso adoecer. Como o organismo vai trabalhar para produzir anticorpos específicos, dizemos que a vacinação é um tipo de imunização ativa. Porém, imagine uma pessoa que levou uma picada de uma cobra venenosa. Essa é uma situação de emergência, em que não dá para esperar que o organismo trabalhe até que sejam produzidos os anticorpos específicos, pois cada minuto é importante. Nesse caso, a pessoa tem que ser tratada o mais rápido possível, com os anticorpos prontos, contra o veneno daquela cobra, ou seja, tem que ser inoculada com o soro. Como nesse caso o organismo já recebe os anticorpos prontos, dizemos que se trata de uma imunização passiva. 20 UNIUBE 1.2.4 Métodos utilizados em Imunologia para diagnóstico de doenças Os testes ou imunoensaios são técnicas desenvolvidas a fim de detectar e quantificar antígenos e anticorpos, ou outras substâncias antigênicas. Nas últimas décadas, houve grande avanço nos diagnósticos sorológicos, que se tornaram mais rápidos, simples de serem realizados e cada vez mais específicos. Citaremos agora alguns testes sorológicos utilizados em laboratório de análises clínicas: • Imunodifusão: nesta técnica, o antígeno ou o anticorpo permanece fixo ao suporte e o outro se difunde até a precipitação completa; • Imunoeletroforese: combinação de duas técnicas: eletroforese em gel e imunodifusão. Nesta técnica, a identificação da substância estudada é feita a partir de suas propriedades eletroforéticas e coeficientes de difusão; • Ensaio imunosorbente ligado à enzima (ELISA): método utilizado para quantificação de antígeno imobilizado em superfície sólida pelo uso de anticorpo específico ligado a uma enzima de maneira covalente; • Imunofluorescência: técnica em que uma molécula pode ser detectada por meio da utilização de um anticorpo marcado com uma sonda fluorescente (fluoresceína). Baseia-se na capacidade de as moléculas de anticorpo se ligarem covalentemente a fluorocromos sem perder a reatividade específica com o antígeno; • Reação em cadeia da polimerase (PCR): método em que podemos copiar e ampliar sequências específicas de DNA. Utilizado em Biologia Molecular. Baseia-se na utilização de sequências de oligonucleotídeos complementares às extremidades das sequências do DNA a ser ampliado; • Western blot: técnica analítica em que os anticorpos são usados para detectar a presença de uma ligação do antígeno a uma matriz sólida; • Southern blot: técnica usada para determinar a organização do DNA genômico na presença de um gene em particular; UNIUBE 21 • Nefelometria: técnica sensível para quantificar as reações de precipitação entre antígenos e anticorpos; • Turbidimetria: técnica utilizada para quantificação de antígenos e anticorpos, por meio da quantidade de luz transmitida em relação a incidente; • Citometria de fluxo: identifica células por meio de sinais gerados pelas células em suspensão quando interceptadas por um feixe de luz. Terminamos aqui o nosso estudo sobre fundamentos da Imunologia. Daremos continuidade, abordando agora a Patologia. Introdução ao estudo da Patologia1.3 Prezado aluno, você sabe o que é patologia? Etimologicamente, o termo patologia significa o estudo das doenças (do gr. pathos=doença, sofrimento, e logos= estudo, doutrina). Segundo Brasileiro (2006, p.12), a Patologia pode ser conceituada como a “ciência que estuda as causas das doenças, os mecanismos que as produzem, as sedes e as alterações morfológicas e funcionais que apresentam”. Assim como toda ciência, a Patologia tem seus métodos de estudo, sendo importante para o estudante ou o profissional da área biológica, o conhecimento básico dos métodos de estudo utilizados em Patologia. 1.3.1 Métodos de estudo em Patologia Você utiliza algum método para os seus estudos? Você acha importante a utilização de métodos para estudar? 22 UNIUBE Quadro 3: Métodos de estudo em Patologia: princípios, técnicas e utilização Método Princípio Técnica Utilização Morfológico Observação e aná- lise da morfologia macroscópica, dos órgãos ou parte deles, e microscó- pica, de células ou de tecidos Citopatologia Diagnóstico de neo- plasias malignas e lesões precursoras e detecção de agen- tes infecciosos e parasitários em nível celular Anatomopa- tologia Diagnóstico de le- sões ou processos patológicos no nível macroscópico, ou seja, do órgão ou parte dele e micros- cópico, ou seja, do tecido Prezado aluno, a utilização de método é importante em todas as áreas do conhecimento. A Patologia, não podendo ser diferente, também se utiliza de métodos e de suas técnicas que colaboram no estudo das doenças. Como os métodos de estudo em Patologia são inúmeros, iniciaremos nossos estudos indicando resumidamente, no Quadro 3, a seguir, os métodos convencionais e técnicas de maior aplicação para investigação ou para diagnóstico das doenças, seus princípios e utilização. UNIUBE 23 Imunocitoquímica/ Imunoistoquímica Conjunto de pro- cedimentos nos quais se utilizam anticorpos como reagentes espe- cíficos para de- tecção de antí- genos presentes em células ou tecidos, respecti- vamente Imunofluo- rescência Detecção de antí- geno com a utiliza- ção de anticorpos marcados com fluo- resceína Imunoenzi- mática Detecção de antí- geno com a utiliza- ção de anticorpos marcados com enzima Cultura celular Consiste na manutenção e multiplicação in vitro ou in vivo das células vivas – Análise do metabo- lismo e do compor- tamento celular Citometria Consiste na determinação quantitativa de componentes celulares Citofotome- tria ou Cito- metria estática Determinação do DNA nuclear em le- sões proliferativas, como nas neopla- sias malignas, em células coradas em esfregaços ou em cortes histológicos Citometria de fluxo Determinação do conteúdo de DNA celular nas neopla- sias e % de células que estão em mul- tiplicação ativa em células em suspen- são tratadas com fluorocromos 24 UNIUBE Morfometria Consiste na reali- zação de medidas das dimensões dos órgãos ou parte deles, tecidos, cé- lulas ou de seus constituintes, por meio da utilização de oculares mi- crometradas ou de outros recursos Macroscopia Estudos quantitati- vos sobre os mais di- versos aspectos das lesões ou doenças em órgãos ou partes deles Microscopia Estudos quantitati- vos sobre os mais diversos aspectos das lesões ou doen- ças em tecidos ou células Autorradio- grafia Procedimento que permite a identifica- ção de elementos radioativos incorpo- rados às células ou tecidos – Estudo dos distúr- bios do crescimento e da diferenciação celular, como ocorre nas neoplasias Biologia Mole- cular Procedimentos que permitem identificar qualitativamente e quantitativamente as macromoléculas Hibridação Molecular Identificação da se- quência de DNA con- tida em uma amostra (célula ou tecido) Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Identificação e ampli- ficação de sequên- cias específicas de DNA em uma amos- tra (célula ou tecido) Técnicas de Análise em Larga Escala - Projeto Ge- noma Identificação das várias alterações genéticas respon- sáveis pelos casos de maior incidência de tipos de câncer; doenças infecciosas e genéticas UNIUBE 25 Fluorocromos São substâncias químicas fluorescentes que, conjugadas à amostra, permitem a sua visualização utilizando-se a microscopia de fluorescência. Neoplasias (neo=novo; plasia=formação) nova formação tecidual, proliferação celular anormal, sem controle e autônoma, com redução ou perda da capacidadede se diferenciar, em consequência de alterações nos genes que regulam o crescimento e a diferenciação celular. SAIBA MAIS A seguir, faremos uma breve abordagem sobre os métodos mais utilizados para a pesquisa e o diagnóstico. 1.3.1.1 Método morfológico Segundo Brasileiro et al (2004), o estudo macro e microscópico das doenças constitui a forma tradicional de análise em Patologia, tanto para investigação quanto para diagnóstico. Os exames utilizados na análise de células, tecidos ou órgãos, são, respectivamente: • exames citológicos; • exames anatomopatológicos. • Citopatologia: consiste na análise da forma das células obtidas a partir de métodos esfoliativos (descamação natural, raspados, secreções, líquidos) e aspirativos (punções de órgãos). A Citologia foi consagrada por George Papanicolaou que iniciou suas pesquisas sobre Métodos esfoliativos Técnicas que permitem a retirada de células de superfícies orgânicas, como mucosas ou epitélios, por descamação, raspagem, entre outras. 26 UNIUBE Figura 1: Citologia Papanicolaou. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Locais de obtenção do material para análise citológica: • raspados (pele ou mucosas como a cervicovaginal); • secreções (árvore traqueobrônquica, cistos, tubo digestório); • líquidos (serosas, urina, líquor, escarro, entre outros); citologia esfoliativa em 1917, tendo estabelecido, em 1928, a citologia diagnóstica e o diagnóstico de carcinoma uterino a partir da secreção vaginal de mulheres, constituindo-se em um importante meio de diagnóstico de neoplasias e de detecção de agentes infecciosos e/ou parasitários. Seu emprego mais comum é o popularmente chamado de “exame preventivo” ou “Papanicolaou” (Figura 1), que visa à detecção de formas iniciais do câncer e de lesões pré-cancerosas do colo uterino. Papanicolaou Técnica de obtenção de células da região cérvico-vaginal, por raspagem. UNIUBE 27 • punção aspirativa com agulha fina (lesões nodulares de tireoide, mama, linfonodos, entre outras). Formas de obtenção das amostras para análise citológica: • aspirados com agulha fina (PAAF); • impressão de tecidos sólidos (imprint), ver Figura 4; • técnica esfoliativa (esfoliação); • ultrassonografia. Segundo Montenegro e Franco (1999, p. 286), os exames citológicos podem ser divididos em dois grandes grupos: citologia aspirativa e citologia esfoliativa. A citologia aspirativa consiste na aspiração de células de uma lesão de órgãos palpáveis, como mama, tiroide, gânglios linfáticos, próstata, glândula salivar, entre outros. Também denominada de Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF), essa técnica de PAAF, empregada a partir de 1920, tornou-se popular nos anos 70, e consiste no isolamento manual do campo a ser aspirado e na introdução de uma agulha fina (20, 23 ou 25 mm comprimento ou 0,6 mm diâmetro) acoplada a uma seringa estéril de 10 a 20 ml (Figura 2) podendo ser utilizada agulha de calibre maior (40 x 12 mm), quando tratar-se de neoplasias de consistência dura. Imprint Citologia de impressão, método de obtenção de células por contato direto da área do material (biópsia) a ser analisado com uma superfície, por exemplo, lâminas de citologia. Citologia aspirativa Estudo das alterações morfológicas de células obtidas de uma região apalpável/ superficial do organismo utilizando seringa e agulha, ou seja, por aspiração. Citologia esfoliativa Estudo das alterações morfológicas de células obtidas pelo método esfoliativo. 28 UNIUBE Figura 2: Técnica de PAAF. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. O espécime obtido na aspiração é colocado sobre a lâmina seca e limpa, confeccionando-se o esfregaço (Figura 3), e este deve ser fixado para preservação das estruturas celulares. O fixador mais empregado é o álcool etílico a 95%. Figura 3: Esfregaço. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Esfregaço Técnica utilizada para matéria orgânica, por exemplo, células obtidas por esfoliação ou punção, que consiste em espalhar uma gota deste material sobre uma lâmina de vidro formando uma fina película para uma melhor observação à microscopia. Fixador Substância química natural ou sintética que age paralisando as reações químicas celulares preservando, desta forma, as estruturas teciduais para a sua análise. UNIUBE 29 Figura 4: Imprint de linfonodo para pesquisa de metástase de câncer de mama. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Observe a Figura 4: Já a citologia esfoliativa é o estudo de células que são raspadas com equipamentos como os da Figura 5, a seguir, ou que descamam naturalmente de uma superfície (Figura 6). Figura 5: Equipamentos de coleta utilizados na esfoliação. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 30 UNIUBE Figura 6: Coleta de material por esfoliação. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Compreende a citologia cérvico-vaginal e a citologia de líquidos (cavidades, lavados, urina) e escarro. Com a amostra de células obtidas, faz-se um esfregaço conforme demonstrado anteriormente (Figura 3). No caso de exames colpocitológicos, para detecção de câncer de colo uterino, o esfregaço deve ser fixado, ainda úmido, em álcool etílico a 95%. Para a preservação da estrutura celular e conservação dos detalhes citológicos, os esfregaços devem ser imediatamente fixados, podendo ser utilizados o álcool etílico ou metílico. A escolha depende do tipo de material, do objeto de estudo e do tipo de coloração a ser utilizada (MAGALHÃES, 2001). IMPORTANTE! Exame colpocitológico ou exame de Papanicolaou Método utilizado para analisar e detectar as lesões cervicais, ou seja, do colo uterino. UNIUBE 31 Colorações em citologia Corantes são substâncias químicas cujos radicais ácidos ou básicos de seus componentes reagem com os radicais ácidos ou básicos dos tecidos com a emissão de uma cor, utilizadas para a observação e análise das células ou de estruturas teciduais à microscopia. Os corantes Papanicolaou e Papanicolaou modificado (Shorr) (Figura 7) são os mais utilizados em citologia humana, permitindo uma análise mais precisa do núcleo e nucléolo, facilitando a observação das alterações morfológicas nucleares, sugestivas de neoplasias. SAIBA MAIS Figura 7: Citologia: células colunares. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. • Anatomopatologia, segundo Brasileiro et al. (2004), consiste na análise macros- cópica (Figura 8) ou microscópica (his- tológica) (Figura 9), das alterações morfo- lógicas presentes nas amostras obtidas para diagnóstico e/ou tratamento. Anatomopatologia Estudo das alterações morfológicas dos órgãos ou tecidos. 32 UNIUBE Figura 8: Aterosclerose. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Figura 9: Tecido pulmonar com pigmentação de hemossiderina (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Formas de obtenção das amostras: • biópsias: (bios: vida; opsis: ver) retirada de amostras da lesão para diagnóstico; dentre elas, temos as endoscópicas, as cureta-gens, por agulha, por trepanação ou dirigidas por aparelhos especiais, como: colposcopia, ultrassonografia e biópsia cerebral estereotáxica; • peças cirúrgicas: que podem ser simples, como a retirada de um único órgão, ou composta/radicais, em que, além do órgão principal, UNIUBE 33 também são ressecados outros órgãos importantes no diagnóstico, tais como os linfonodos, por exemplo; • punção–biópsia: realizada em lesões nodulares (viscerais), neces- sitando muitas vezes do auxílio de equipamentos especiais, como raios-X, ultrassom, tomografia, entre outros; • necropsia: (nekros: morto; opsis: ver) é o exame anatomopatoló- gico post-mortem sistemático dos órgãos ou parte deles, de seres humanos ou animais, para determinar a causa da morte e conhecer as lesões e doenças existentes na espécie analisada. Serve como valioso instrumento de pesquisa e excelente método de ensino- aprendizagem. São de grande interesse em Saúde Pública, pois tornamas estatísticas sobre as doenças mais confiáveis, e como fonte de órgãos para transplantes. As biópsias são denominadas ablativas ou excisionais quando se retira (extirpa) toda a lesão. A biópsia é incisional quando se retira apenas parte da lesão. Autópsia (auto: próprio, opsis: ver) é o exame post-mortem sistemático dos órgãos (de seres humanos) ou parte deles, para determinar a causa da morte e conhecer as lesões e as doenças existentes. REGISTRANDO Independentemente da forma de obtenção do material a ser colhido, alguns cuidados devem ser tomados, para um diagnóstico correto. As amostras obtidas, depois de fixadas, serão analisadas macros- copicamente pelo patologista, que obterá fragmentos representativos destes espécimes, para o seu estudo microscópico ou histopatológico. O exame macroscópico consiste na análise de características que são observadas a olho nu, sem necessitar de equipamentos ópticos. As características que podem ser observadas a olho nu são: cor, consistência, textura, densidade, dimensões, tamanho, peso, superfície de corte e do órgão, entre outros aspectos (Figura 10). 34 UNIUBE Figura 10: Esteatose hepática. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Para o exame microscópico (histopatológico), as amostras, uma vez fixadas, devem ser desidratadas e diafanizadas, passando por concentrações progressivas de álcool e xilol e incluídas em parafina (Figura 11), o que permite cortes de 3µm a 5µm em um aparelho chamado micrótomo (Figura 12). Figura 11: Blocos de parafina. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. UNIUBE 35 Figura 12: Micrótomo rotativo. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Os cortes, após serem desparafinizados, são corados pela coloração hematoxilina-eosina (HE), coloração de rotina e universal. Em algumas situações, além da coloração de rotina, podem-se utilizar colorações especiais. PARADA OBRIGATÓRIA O exame microscópico permite avaliar as alterações no tecido, ao nível celular (Figura 13). 36 UNIUBE Técnica de congelação: É uma técnica de diagnóstico, realizada durante atos cirúrgicos, que consiste em: 1. retirar a amostra que se deseja analisar (biópsia) (procedimento feito no centro cirúrgico); 2. envolver a amostra em uma gaze embebida em soro fisiológico; 3. levar a amostra envolta em gaze imediatamente ao laboratório de Anatomia Patológica para ser analisada; 4. congelar a amostra no aparelho denominado criostato, aparelho com temperatura interna em torno de -20ºC (Figura 14); AMPLIANDO O CONHECIMENTO Figura 13: Tecido hepático com hiperemia. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. UNIUBE 37 Figura 14: Aparelho criostato para exame de congelação. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 1.3.1.2 Imunoistoquímica Segundo Brasileiro (2004, p. 9), imunoisto- química é o conjunto de procedimentos que utiliza anticorpos como reagentes específicos para detecção de antígenos ou elementos estranhos às células (imunocitoquímica) ou aos tecidos (imunoistoquímica), como os vírus, fungos, bactérias entre outros agentes infecciosos presentes em células ou tecidos. 5. realizar os cortes no criostato e dispor os cortes obtidos em lâminas para sua análise histológica. Imunoistoquímica Método de detecção de substâncias imunorreativas (antígenos) presentes nos tecidos, utilizando anticorpos marcados com reagentes, por exemplo, enzimas ou fluorocromos. 38 UNIUBE É uma técnica essencialmente qualitativa e foi realizada pela primeira vez em meados do século passado, quando se utilizou produtos fluorescentes para marcação de anticorpos para detecção de antígenos teciduais. Hoje, a imunoistoquímica, graças à sua sensibilidade e especificidade, ocupa lugar de destaque na Patologia, tanto para investigação quanto para diagnóstico. Segundo Brasileiro (2004, p. 9), os antígenos presentes em células ou tecidos podem ser determinados por sua ligação ao anticorpo. Para o seu reconhecimento, os anticorpos utilizados devem ser marcados com algum produto que possa ser visualizado ao microscópio em preparados citológicos, em cortes histológicos de amostras incluídas em parafina ou em cortes obtidos pela técnica de congelação, conforme descrito anteriormente. As substâncias de marcação mais utilizadas são as fluorescentes ou enzimas. Dependendo do tipo de marcação utilizada, teremos as técnicas: • imunofluorescência: marcação com substâncias fluorescentes. • imunoenzimática: marcação com enzimas. Na imunofluorescência, o composto fluorescente mais utilizado é o isotiocianato de fluoresceína, que emite luz verde-brilhante quando Os anticorpos são obtidos in vivo, ou seja, em animais vivos, como, rato, coelho, cavalo, quando injetamos neste animal o antígeno atenuado, ou seja, incapaz de provocar a doença (não virulento), mas capaz de estimular a resposta imune do hospedeiro a ele (patogênico). IMPORTANTE! Doença Conjunto de alterações morfológicas e/ ou funcionais que se manifestam por meio de sinais e sintomas. UNIUBE 39 estimulado por luz ultravioleta. Nesta técnica, o microscópio utilizado é o de fluorescência, equipado com fonte de luz ultravioleta. No entanto, na técnica imunoenzimática, há formação de um composto colorido no local da reação antígeno-anticorpo, que é gerado pela ação da enzima sobre um substrato apropriado. A enzima mais frequentemente utilizada é a peroxidase, razão pela qual a técnica é denominada comumente de técnica de imunoperoxidase. O tetra-hidrocloreto de 3,3’ diaminobenzidina (DAB) é o substrato mais comumente utilizado e confere coloração marrom no local da reação. Outras substâncias cromógenas utilizadas como substrato são: aminoetilcarbazol e cloronaftol. A imunoistoquímica é utilizada para detecção de neoplasias como marcadores celulares e na pesquisa de receptores para hormônios ou para fatores de crescimento, em tumores malignos conforme se vê nas figuras 15 e 16 a seguir. Figura 15: Membrana de células de câncer de mama corada com anticorpo c-erb-B2. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 40 UNIUBE Figura 16: Núcleos de células de carcinoma de mama corados com receptor de estrógeno-alfa. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Além disso, ela é usada na identificação da sede primária de tumores desconhecidos e na análise de amostras de suas metástases. Essa técnica também é utilizada na detecção de doenças infecciosas e parasitárias de importância clínica, como vírus, bactérias, fungos e protozoários. 1.3.1.3 Biologia Molecular Atualmente, torna-se necessária a preocupação dos patologistas com as alterações moleculares que podem preceder as alterações morfológicas, possibilitando diagnósticos cada vez mais precoces e precisos e, consequentemente, tratamentos mais eficazes. Assim sendo, as técnicas de Biologia Molecular têm contribuído enormemente, pois fornecem a identificação de proteínas e ácidos nucleicos (DNA ou RNA) com informações tanto qualitativas quanto quantitativas. As técnicas utilizadas são: • Hibridação molecular UNIUBE 41 • Reação em cadeia da polimerase (PCR) O PCR permite a reação de amplificação de sequências específicas de DNA de forma automatizada, em ciclos que se repetem. O produto final desta reação é composto por uma grande quantidade do DNA amplificado, juntamente com o DNA original presente no início da reação. Veja no site indicado uma imagem de hibridação in situ fluorescente (FISH), para o diagnóstico da Leucemia mieloide crônica: <http://labpath.blogspot.com/2011/07/fish.html>. PESQUISANDO NA WEB Tem como aplicação a identificação de uma sequência de bases de um DNA presente em uma amostra (célula ou tecido), utilizando-se um fragmento de DNA (sonda) que é marcado com uma substância (radioativa ou biotinilada) que permite revelar a reação de hibridação. Ao final de uma reação, com 35 ciclos de amplificação e com duas horas de duração, por exemplo, uma única molécula de DNA dará origem a cerca de 10 bilhões de cópias,permitindo sua visualização e manipulação (BRASILEIRO, 2004, p.17). CURIOSIDADE Se o produto final obtido for submetido a uma separação eletroforética, em um gel de agarose, e corado com um corante que se liga ao DNA como o brometo de etídio, por exemplo, teremos uma banda, visível à luz ultravioleta, na região correspondente ao peso molecular do fragmento de DNA que foi amplificado. 42 UNIUBE • Técnicas de Análise em Larga Escala - Projeto Genoma As técnicas de análise em larga escala são importantes na detecção de neoplasias, doenças infecciosas e genéticas. Nas neoplasias, é possível identificar as várias alterações genéti- cas responsáveis pelos casos de maior incidência de tipos de câncer em determinadas famílias. Utilizando-se técnicas de PCR e de sequenciamento de DNA, tem-se obtido sucesso na área de diagnóstico precoce e prognóstico. Além disso, por meio da utilização das técnicas de PCR e Hibridação in situ, podem-se detectar as mutações no genoma, tais como, translocações, amplificações ou deleções. Por meio da comparação dos genes que são expressos nas amostras normais e nas tumorais, pode-se definir a assinatura molecular, ou seja, conjunto de genes expressos de maneira coordenada, porém distinta, nos tumores e nos tecidos normais (BRASILEIRO, 2004, p. 19). Nas doenças infecciosas, os agentes infectantes possuem sequências específicas de ácidos nucleicos e que podem ser reconhecidas pelas técnicas de Biologia Molecular, por exemplo, PCR (BRASILEIRO, 2004, p. 20). Nas doenças genéticas, nas alterações genéticas, utilizando-se a PCR feita em DNA de célula do indivíduo suspeito, as mutações podem ser reconhecidas com precisão. Assim, pode-se tanto confirmar o diagnóstico da doença como fazer o aconselhamento genético (BRASILEIRO, 2004, p. 19). Veja no site indicado uma imagem do resultado da eletroforese de uma reação de PCR: <http://commons.wikipedia.org/wiki/File:0285fig1.gif.> PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 43 Os desafios no estudo das doenças estão em transitar, com segurança, entre a investigação científica e o ensino/aprendizagem; entre os avanços tecnológicos e científicos e a arte e a ciência de ensinar; entre pesquisar e fazer intervenção por meio de projetos educativos. Para vencer esses desafios, é preciso dedicação aos estudos e a compreensão de que tudo está interligado: saúde, educação, economia, cultura, natureza e meio ambiente. Nesse capítulo, estudamos que, no processo de adoecimento, nosso organismo reage a agressões de diferentes naturezas buscando manter a homeostase. Na interação com o agente agressor, o organismo lança mão de mecanismos de defesa e, nesse contexto, surgem alterações anatômicas e funcionais. Diferentes métodos e técnicas são utilizados para estudar o processo de adoecimento, sendo esses métodos agrupados em parasitológicos, microbiológicos, imunológicos e patológicos. Conclusão1.4 Resumo Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; POBER, J.S. Imunologia celular e molecular. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ARAGUAIA, Mariana. Sangue. In: Alunos online. Disponível em: <http://www. alunosonline.com.br/biologia/sangue.html>. Acesso em: 28 jan. 2012. BARNES, Robert D.; RUPPERT, Edward E. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. BRASILEIRO FILHO, Geraldo Bogliolo. Patologia Geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 44 UNIUBE BRASILEIRO FILHO, Geraldo Bogliolo. Patologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. EOSINOPHIL.JPG. 2006. Altura: 171 pixels. Largura: 145 pixels. 6 KB. Formato JPEG. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Eosinophil.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2012. MACROPHAGE.PNG. Altura: 174. Largura: 149. 17 KB. Formato PNG. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Macrophage.png>. Acesso em: 28 jan. 2012. MAGALHÃES, Adelaide M. et al. Estudo comparativo entre citopatologia e histopatologia no diagnóstico de neoplasias caninas. Pesq. Vet. Bras. v. 21, n. 1 Rio de Janeiro. Jan./mar, 2001. MASTÓCITO. Disponível em: <http://www.virtual.epm.br/material/histologia/histo/ fig15.htm>. Acesso em: 28 jan. 2012. MONTENEGRO, Mário Rubens; FRANCO, Marcello. Patologia. Processos Gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2005. PBBASOPHIL.JPG. 2005. Altura: 170 pixels. Largura: 150. 3 KB. Formato JPEG. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:PBBasophil.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2012. REY, L. Parasitologia: Parasitas e doenças parasitárias do homem nas Américas e na África. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. RUBIN, Emanuel et al. Rubin. Patologia. Bases clinicopatológicas da Medicina. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de Lima Introdução Agressão: saúde e doençaCapítulo 2 Abordaremos, nesse capítulo, alguns aspectos da saúde e da doença. Estamos iniciando um tema que pode ser apenas da Biologia, ou, também, um tema transversal. Na verdade, estamos lidando com saúde e doença continuamente, seja conosco mesmo, com amigos ou familiares. Você, futuro professor, será corresponsável pela saúde dos seus alunos e, ainda, dos familiares deles. Portanto, temos a responsabilidade de auxiliar nossos alunos a desenvolverem habilidades para evitarem doenças, manterem-se saudáveis e difundirem a cultura de hábitos saudáveis entre seus familiares e amigos. O tema saúde x doença permite múltiplas abordagens que envolvem desde os processos biológicos até as interações sociais. Nesse momento do seu curso, abordaremos apenas os aspectos biológicos. Posteriormente, teremos a oportunidade de retomar esse tema e agregar a discussão de outros aspectos de natureza social, econômica e política envolvidos na manutenção da saúde e no processo de adoecimento. Você perceberá que, do ponto de vista biológico, o foco central é o adoecimento. Nesse processo, percebemos que uma agressão desvia o organismo do estado de equilíbrio ou homeostase e 46 UNIUBE Ao final desse estudo, esperamos que você seja capaz de: • conceituar doença sob o aspecto biológico; • conceituar saúde sob o aspecto biológico; • descrever os principais mecanismos de agressão; • identificar os agentes agressores físicos, químicos e biológicos; • explicar os processos patológicos reversíveis e irreversíveis; Objetivos provoca nele uma reação no sentido de retomar o estado de equilíbrio, ou seja, na prática, o organismo reage pela resposta imunológica e por reações heterólogas. O equilíbrio pode, ou não, ser reestabelecido e, na verdade, existe uma infinidade de novas situações de equilíbrio possíveis diante de uma agressão. Todas essas possibilidades configuram desde a cura até as diferentes apresentações de doença. Assim, diante de uma agressão, o organismo defende-se, podendo adaptar-se a novo ponto de equilíbrio ou apresentar processos patológicos e adoecer. Nessa interação entre agente agressor e organismo agredido, exercem papéis importantes a resposta imunológica a vírus, a bactérias e a fungos e os processos patológicos resultantes que, de um modo geral, estão envolvidos na defesa do organismo e na busca de um novo ponto de equilíbrio. Assim, caro aluno, abordaremos, nesse capítulo, as bases biológicas do processo de agressão, defesa, adaptação e adoecimento. UNIUBE 47 • identificar a origem e explicar o processo evolutivo dos processos patológicos; • explicar os mecanismos que originam os processos patológicos; • descrever a importância do Sistema Imunológico; • explicar a morfologia e fisiologia das células e órgãos do Sistema Imune; • conceituar e diferenciar imunidade inata e adaptativa; • compreender os mecanismos imunológicos efetivos e específicos contra vírus, bactérias e fungos. 2.1 Etiopatogênese geral das lesões 2.2 Agentes lesivos 2.3 Lesões ou processos patológicos 2.4 ConclusãoEsquema Etiopatogênese geral das lesões2.1 Você já sofreu alguma lesão? Se sim, lembra-se de como foi e qual foi a causa desta lesão? Os agentes lesivos que originam as lesões ou as chamadas doenças são inúmeros na natureza. De acordo com a sua origem, são classificados em: • exógenos ou extrínsecos (do meio ambiente); • endógenos ou intrínsecos (do próprio organismo). 48 UNIUBE De acordo com a natureza, os agentes lesivos podem ser: • físicos; • químicos; • biológicos; • nutricionais. Quando a lesão ou doença não tem causa conhecida é denominada criptogenética (cripto=escondido), idiopática (idios=próprio) ou essencial (BRASILEIRO FILHO, 2004, p. 22). Os agentes lesivos podem agir direta ou indiretamente. Quando atuam diretamente, alteram os constituintes das células, tais como: • membrana; • enzimas; • proteínas, entre outros. Mas, a maioria dos agentes lesivos age de forma indireta, seja na redução da oferta de oxigênio às células, interferindo no metabolismo celular, na produção e inativação dos radicais livres ou na resposta do organismo à agressão. Como o nosso organismo, ao ser agredido, responde à agressão, exceto em casos em que o nosso sistema de defesa esteja debilitado, temos as seguintes respostas. 2.1.1 Respostas localizadas às agressões São respostas que ocorrem independentemente do tipo do agente lesivo ou da lesão resultante. São elas: a. Inespecíficas UNIUBE 49 Ex.: reação inflamatória ou inflamação (que será estudada em detalhe posteriormente) que, de forma resumida, consiste na saída de leucócitos e de proteínas plasmáticas do lúmen vascular para fora dele devido ao aumento da permeabilidade vascular provocada pela liberação de mediadores químicos (vasodilatadores potentes) pelas células do tecido lesado (Figura 1). Inflamação É uma resposta dos tecidos vascularizados dos organismos vivos homeotérmicos a uma agressão sofrida. Caracterizada por lesão ou destruição de tecidos, causado por uma variedade de reações químicas e citológicas. Normalmente, manifesta-se por sinais típicos de dor, calor, rubor, tumor e perda da função. Figura 1: Liberação de mediadores químicos na lesão celular. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. As principais proteínas efetoras da resposta imune inata são as proteínas do complemento e outras capazes de reconhecer estruturas microbianas, por exemplo, a lectina e a proteína C reativa, responsáveis pela opsonização de microorganismos e ativação do complemento. Neste caso, o sistema imunológico atua na defesa do organismo utilizando mecanismo de defesa celular e molecular que reagem apenas contra microorganismos. Estes mecanismos já existiam mesmo antes de haver a reação inflamatória, ou seja, fazem parte da resposta imunológica inata ou natural, constituem a primeira linha de defesa. Reconhecem estruturas patogênicas apenas. Fazem parte desta resposta o epitélio, as células sanguíneas responsáveis pela fagocitose (macrófagos e neutrófilos) e células Natural Killers (NK), proteínas de fase aguda 50 UNIUBE Células efetoras circulantes • Neutrófilos: responsáveis pela fagocitose e morte de microorganismos. • Macrófagos: responsáveis pela fagocitose e morte de microorganismos, secreção de citocinas que estimulam o processo inflamatório. • Células NK: linfócitos responsáveis pela lise de células infectadas e também pela ativação de macrófagos pela produção de IFN-λ. PARADA OBRIGATÓRIA b. Adaptativas Aquela que torna as células lesadas mais adaptadas à agressão em consequência da ativação da transcrição das proteínas do estresse, ou, também, chamadas de fase aguda (HSP) (Figura 2), as quais estabilizam as proteínas celulares, tornando-as mais resistentes a novas agressões (BRASILEIRO FILHO, 2004). Figura 2: Esquema da produção de proteínas da fase aguda. Fonte: Acervo EAD-Uniube. (proteína C reativa e lectina de ligação à manose), citocinas que têm papel importante na regulação deste tipo de resposta. UNIUBE 51 Diferentemente da resposta imunológica inata ou natural, neste caso, a resposta imunológica desencadeada é estimulada por exposições posteriores a um micro-organismo em especial. Desta forma, esta resposta imunológica se adapta à infecção, sendo denominada resposta imunológica adaptativa ou adquirida. Este tipo de resposta imunológica requer grande especificidade para reconhecimento e distinção entre moléculas, além de memória imunológica. Os componentes da imunidade adquirida são os linfócitos e seus produtos (anticorpos). c) Sistêmicas Para melhor entender as respostas sistêmicas do organismo às agressões, imagine-se frente a frente com um leão. Qual seria a sua reação? Fugir, correr? Além de sentir o coração bater mais forte, calafrios, garganta seca, entre outros sinais e sintomas, não é mesmo? Pois bem, estes sinais e sintomas são reações inespecíficas do organismo agredido com o objetivo de adaptá-lo à agressão, conhecida como resposta imediata ao estresse (BRASILEIRO, 2004, p. 28-32). Para visualizar as principais respostas sistêmicas às agressões, observe a Figura 3 e acompanhe o desenvolvimento do processo deflagrado pela agressão em um organismo humano. Anticorpo Proteína plasmática secretada pelas células B que medeiam a imunidade humoral, ligando-se aos antígenos e desencadeando mecanismos efetores que os eliminam. Antígeno Molécula capaz de desencadear resposta imunológica. 52 UNIUBE Figura 3: Principais respostas sistêmicas às agressões. PRFA = Proteínas Reacionais de Fase Aguda; N = nitrogênio. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 53 2.2.1 Agentes físicos lesivos Prezado aluno, você já caiu? Levou uma bolada? Uma pedrada? Bateu o carro? Tomou choque elétrico? Queimou-se? Cortou-se? Pois bem, estas são algumas das condições de lesão física que podemos sofrer. Para compreender o que ocorre no nosso organismo, quando sofremos uma dessas agressões, estudaremos, a seguir, os agentes lesivos físicos e seus mecanismos de ação. 2.2.1.1 Força mecânica Do ponto de vista físico, força é o agente responsável pela mudança da Discutimos anteriormente sobre as respostas imune inata e adaptativa, você aprendeu a importante participação de células efetoras da resposta imune e a produção de anticorpos. Agora, vamos discutir a participação sistêmica das proteínas de fase aguda, ou seja, proteínas secretadas pelas células que participam das respostas imune inata e adaptativa. São elas: Citocinas: Proteínas produzidas em resposta a micro-organismos e outros antígenos. Dentre as principais funções destas proteínas, podemos destacar: estimular o crescimento e a diferenciação de linfócitos; ativar diferentes células efetoras para a eliminação de antígenos; estimular o desenvolvimento de células hematopoéticas. Muitas citocinas podem ser sintetizadas por leucócitos e atuam em outros leucócitos sendo então denominadas interleucinas. SAIBA MAIS Agentes lesivos2.2 54 UNIUBE Principais lesões traumáticas (Figura 4): • incisão ou corte lesão produzida pela ação de um instrumento cortante, com borda afiada, como, por exemplo, faca, bisturi, entre outros, geralmente mais extensa do que profunda; • laceração, ou rasgo estende-se do tecido epitelial até o subcutâneo, por excessiva força de estiramento ou por ação de uma força externa que ocorre nos músculos, tendões ou vísceras; • abrasão ou ferida abrasiva provocada pela retirada das células da epiderme por fricção ou esmagamento; • contusão, ou ferida contusa impacto e deslizamento na superfície, atingindo os tecidos subjacentes, levando à saída de sangue e líquido dos vasos, mas sem solução de continuidade da epiderme, ou seja, sem entrar em contato o meio extra com o meio interno do organismo. Como exemplo, temos o conhecido “galo”. • perfuração ou ferida perfurante produzida por um instrumento pontiagudo, como agulha, punhal, entre outros, podendo ser superficial ou profunda,geralmente mais profunda do que extensa; se penetrar em alguma cavidade, chama-se ferida punctória cavitária; velocidade de um objeto. Por exemplo, empurrar um carrinho ou chutar uma bola. Ao aplicarmos uma força mecânica sobre o organismo, produziremos neste vários tipos de lesões, denominadas lesões traumáticas. UNIUBE 55 Figura 4: Tipos de lesões traumáticas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. • fratura ocorre em tecidos duros, ósseo ou cartilaginoso no esmagamento, na queda ou outro impacto. 2.2.1.2 Variações da pressão atmosférica Você sabia que o nosso organismo se adapta a aumentos da pressão atmosférica (PA) de até três vezes a normal? Mas a redução de 50% da PA já é suficiente para apresentarmos alterações orgânicas? CURIOSIDADE A seguir, estudaremos o efeito do aumento e da redução da PA sobre o nosso organismo. a) Condições hiperbáricas (pressão atmosférica elevada) Você gosta de mergulhar? Já mergulhou em grandes profundi- dades? Quando mergulha, mesmo que seja em uma piscina, sente uma pressão nos ouvidos? Nas grandes profundidades, a pressão da água e dos gases contidos nela é elevada. Nestas condições, os gases se dissolvem no plasma e nos líquidos intra e extracelulares sem nos causar nenhum dano. Mas, na descompressão rápida, a que ocorre no mal dos caixões, condição patológica frequente nos mergulhadores, os gases dissolvidos formam bolhas no sangue, originando êmbolos gasosos que obstruem pequenos vasos; Êmbolo Toda estrutura de natureza estranha à composição normal do sangue ou da linfa (coágulo), circulando, respectivamente, nas vias sanguíneas ou linfáticas, enquanto o calibre do vaso o permitir. 56 UNIUBE Figura 5: Embolia pulmonar (seta). Fonte: Acervo EAD-Uniube. b) Condições hipobáricas (pressão atmosférica reduzida) Você já foi a locais de grandes altitudes? Locais montanhosos? Já escalou uma montanha? Se já foi a locais de altitudes elevadas, sentiu falta de ar quando lá esteve? Este sintoma é normal nas altitudes elevadas, acima de 3.000m, onde há redução da tensão de O2 nos pulmões, gerando a hipóxia, cujos efeitos são: • vasoconstricção periférica; • aumento do débito cardíaco, aumentando a quantidade de sangue que chega aos pulmões; • lesão das células do endotélio vascular favorecendo a saída de líquido do vaso para fora dele (edema, hemorragia); • taquipneia, para compensar a baixa tensão de O2; • desidratação, pois em elevadas altitudes a umidade do ar é menor e a temperatura é baixa. nos tecidos, originam o enfisema intersticial, e dentro das células alteram a sua arquitetura. (Figura 5). UNIUBE 57 Observam-se, ainda: • dor de cabeça, lassidão, anorexia, fraqueza, dificuldade para dormir, conhecidas como doença aguda da altitude; • edema pulmonar e cerebral da altitude (localizado); • edema sistêmico. Órgãos como os pulmões (Figura 6) e os do tubo digestório são muito sensíveis às variações bruscas de pressão, podendo apresentar ruptura alveolar, hemorragia, edema, entre outras lesões. Alvéolos com enfizema Alvéolos normais Figura 6: Pulmão com enfisema pulmonar. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 2.2.1.3 Variações de temperatura Você sabia que o nosso organismo dispõe de mecanismos termorreguladores permitindo ganhar ou perder calor sem nos causar lesões? A seguir, estudaremos as ações das variações de temperatura e seus efeitos no nosso organismo. 58 UNIUBE Você já submeteu o seu corpo ou parte dele à baixa temperatura? Se sim, você se lembra do que sentiu? A região ficou pálida? Doeu? Pois bem, a hipotermia pode ter ação local ou sistêmica no nosso organismo. Vamos, a seguir, compreender o que ocorre quando o nosso corpo ou parte dele é sujeito a baixas temperaturas. Ação local: Quando uma parte do nosso corpo é submetida à baixa temperatura por longo tempo ocorre, no local: • vasoconstricção (redução do calibre do vaso arterial da superfície do corpo), oligoemia (redução do volume de sangue), hipóxia (redução da oxigenação dos tecidos) e lesões degenerativas devido à redução da oferta de O2 às células; • lesão no endotélio vascular, devido à hipóxia, o que leva ao aumento da permeabilidade vascular e ao edema e hemorragia, ou seja, a saída de líquido e de células do sangue do lúmen vascular, para fora dele; • anóxia (ausência de oxigenação dos tecidos) acarretando a morte celular (necrose) do local atingido; • vasodilatação arteriolar e venular, levando ao aumento do volume de sangue nos vasos (hiperemia), decorrente da perda do controle nervoso da vasomotricidade, mas com redução da velocidade do sangue (estase); • lesões nas extremidades (mãos, pés, nariz, orelha e lábios), das quais a mais grave é o congelamento, pois caso a água venha a se congelar no interior das células acarretará alteração das funções celulares vitais como a respiração, levando à morte celular. a) Baixas temperaturas (hipotermia) Chamamos de hipotermia quando a temperatura corporal está abaixo de 350C. UNIUBE 59 Veja algumas lesões provocadas pela hipotermia, na Figura 7. Figura 7: Lesões provocadas pela hipotermia (setas). Fonte: Acervo EAD-Uniube. Ação sistêmica Abaixo de 350C, há vasoconstricção periférica gerando palidez acentuada e redução do metabolismo celular, o que leva à depressão cardiorrespiratória por inibição dos centros neurais (bulbares) que comandam a respiração e a circulação. Você sabia que o congelamento de células em bancos de armazenamento, por exemplo, de espermatozoides para inseminação artificial e de células em cultura, é feito em nitrogênio líquido? Utilizando esta forma de congelação, não há alteração na morfologia e função celular, voltando à sua função normal após o seu reaquecimento. IMPORTANTE! 60 UNIUBE b) Altas temperaturas (queimadura) Você já se queimou? A região que sofreu a queimadura ficou vermelha? Doeu? Assim como a hipotermia, temperaturas elevadas também possuem ação local e sistêmica no nosso organismo. Vamos entender um pouco sobre o que ocorre quando submetemos o nosso corpo ou parte dele às altas temperaturas. Ação local No local queimado, devido ao calor, ocorre: • aumento do calibre dos vasos sanguíneos (vasodilatação) e do volume de sangue (hiperemia) decorrente da liberação de mediadores químicos (histamina) pelas células lesadas (por exemplo, mastócitos), acarretando cor vermelha na área (rubor); • aumento da permeabilidade vascular, gerando, respectivamente, edema e hemorragia, responsáveis, pelo inchaço e presença de sangue na área; • lesão direta da parede do vaso, acarretando edema, hemorragia e trombose (solidificação do sangue na área agredida); • isquemia e morte celular, devido à falta da oferta de sangue arterial às células; • hipóxia devido ao aumento do metabolismo celular com aumento no consumo de ATP, sem o devido aumento da oferta de O2, em temperaturas acima de 52oC; • alterações metabólicas e morte celular em decorrência da desnaturação proteica (proteólise), em temperaturas acima de 55oC; • inflamação, para a reparação do tecido lesado, ou seja, migração dos leucócitos do lúmen vascular até o foco da agressão. Trombose Processo patológico decorrente da presença de um trombo. Trombo Massa sólida de sangue, aderente à parede do tubo cardiovascular, formada pelos próprios componentes do sangue. UNIUBE 61 Classificação As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a presença ou ausência de necrose na epiderme e/ou derme (Figura 8), em: • queimadura de 1º grau – sem necrose da epiderme; • queimadura de 2º grau – com necrose e bolhas na epiderme; • queimadura de 3º grau – com necrose da epiderme e da derme. Figura 8: Queimaduras de 1º, 2º e 3º graus. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. Evolução Nas queimaduras graves, devido à desidratação (perda de líquidos pela exsudação plasmática) e a dor, pode ocorrer estado de choque levando à morte. A infecção pode advir devido à área queimada estarem contato com o meio externo e pela redução dos mecanismos de defesa decorrentes do stress. Infecção Invasão e multiplicação de microrganismos nos tecidos do organismo, que podem ser clinicamente inaparentes ou resultarem em lesão celular local devido a metabolismo competitivo, toxinas, replicação intracelular, ou resposta antígeno- anticorpo. 62 UNIUBE 2.2.1.4 Espaço Corrente Elétrica Você sabe o que acontece quando acionamos o interruptor para ligar a luz? Por que a lâmpada acende? É que, ao acionarmos o interruptor, faremos com que se origine uma corrente elétrica no fio condutor, ou seja, um fluxo de elétrons, e que, devido à diferença de potencial entre as suas extremidades, faz a lâmpada incandescer, ou seja, brilhar. Veja a imagem “choque elétrico”, no site: <http://www.portalsaofrancisco. com.br/alfa/choque-eletrico/choque-eletrico.php>. Acesso em: 29 jan. 2012. PESQUISANDO NA WEB Estudaremos, a seguir, os mecanismos pelos quais a eletricidade provoca lesão. a) Mecanismos de lesão da eletricidade: alteração do potencial de repouso da membrana celular, ou seja, alteração do fluxo de íons pelas membranas das células dos tecidos, principalmente nos músculos estriados cardíaco e esquelético e tecido nervoso (Figura 9). UNIUBE 63 Figura 9: Fluxo de íons pela membrana celular. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. Há produção de calor pelo aumento do metabolismo celular. A lesão resultante dependerá do tipo de corrente, intensidade, duração, fluxo, superfície de contato (se pequena ou grande; se seca ou molhada). Você sabia que a água é boa condutora de corrente elétrica, oferecendo menor resistência? Assim, se estivermos molhados, em uma piscina, ou embaixo do chuveiro, por exemplo, e formos atingidos por uma descarga elétrica, poderemos morrer sem apresentarmos lesões por queimadura (BRASILEIRO, 2004, p. 35). Os raios formam correntes elétricas em várias direções e a morte advém por parada cardiorrespiratória e devido à produção de grande quantidade de calor nos órgãos internos e com a vaporização da água haverá ruptura das vísceras, inclusive dos vasos sanguíneos, originando hemorragia interna (BRASILEIRO, 2004, p. 35). IMPORTANTE! 64 UNIUBE Você sabe por que fazemos um raio X quando queremos constatar a presença de uma lesão interna, no nosso organismo? 2.2.1.5 Radiação Em Física, radiação é a propagação da energia por meio de ondas eletromagnéticas ou partículas, de forma natural ou artificial, por substâncias chamadas radioativas. Ondas eletromagnéticas formam um espectro que varia de acordo com o comprimento e com a frequência. Assim, temos: • ondas hertzianas ou ondas de rádio, radar e micro-ondas: grande comprimento e baixa frequência; • raios gama e raios X: pequeno comprimento e alta frequência; Porque os raios X e gama, tendo o menor comprimento de onda, são os mais penetrantes, o que permite a observação de lesões, internamente no nosso organismo, se estiverem presentes. Ou seja, quanto maior o comprimento de onda menor o poder de penetração das radiações eletromagnéticas e vice-versa. • radiação ultravioleta: a luz visível e os raios infravermelhos estão entre os dois extremos; • radiações particuladas: são aquelas emitidas por partículas radioativas, artificialmente (aceleração de partículas subatômi- cas) ou naturalmente (raios cósmicos), ou pela decomposição de elementos radioativos como urânio, tório, rádio, estrôncio, polônio, césio e tecnécio. Sendo elas: as radiações alfa, beta, neutrinos, deutérios e os mésons; • radiações ionizantes são os fenômenos pelos quais a energia é transportada através do espaço, em forma de raios. Mecanismo de ação das radiações ionizantes • diretamente, alterando a forma e, consequentemente, a função UNIUBE 65 das macromoléculas, tais como, proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos; • indiretamente, ao originar radicais livres (O2, OH, H2O2) na ionização da água. Ex.: autoionização da água: H2O + H2O OH - + H3O + Radicais livres Moléculas que surgem durante o processo vital da respiração das células, provenientes diretamente do oxigênio ou do processo de oxidação. A radioterapia tem sido utilizada no tratamento dos tumores malignos, devido à grande atividade mitótica de suas células. Os tumores frente à radioterapia podem ser radiossensíveis ou radiocurá- veis, ou seja, sofrerem regressão ou serem totalmente eliminados. SAIBA MAIS Irradiação x câncer As radiações ionizantes, por induzirem às mutações gênicas (translocações ou deleções cromossômicas), (Figura 10) podem alterar de maneira qualitativa ou quantitativa os genes responsáveis pelo controle da divisão celular (proto-oncogenes, genes supressores de tumor, entre outros), podendo originar o câncer. Mutações genéticas Uma modificação, casual ou induzida, na informação genética decorrente de mudanças na sequência dos genes de um organismo. 66 UNIUBE Os tecidos do organismo apresentam variação na sensibilidade à radiação. IMPORTANTE! Você sabia que, no acidente de Chernobyl (Ucrânia), ocorrido em 26 de abril de 1986, pela explosão do núcleo de um reator, centenas de pessoas foram contaminadas, e que, ao final de 8 meses, 31 pessoas morreram e 115 pessoas apresentaram síndrome aguda da radiação e que os principais agentes de irradiação foram: chuva, água e verduras contaminadas? No Brasil, em Goiânia (capital do estado de Goiás), em 13 de setembro de 1987, ocorreu um segundo acidente provocado por dois homens, que sem saber do que se tratava, removeram um volume de chumbo, contendo Césio 137, no Instituto Goiano de Radioterapia. CURIOSIDADE O câncer é, sem dúvida, uma das patologias responsáveis por alto índice de mortalidade entre adultos e crianças. Trata-se de um tecido com alta capacidade de proliferação e disseminação (metástase). Existe uma Figura 10: Formação de um oncogene (3ª célula), devido a um fator externo. Fonte: Acervo da EAD-Uniube. UNIUBE 67 Dentre as causas de câncer, encontramos alguns vírus que podem desencadear ou induzir a formação de tumores. São eles: Epstein-Baar (EBV) associado ao surgimento de Linfoma, Papiloma vírus humano (HPV) relacionado ao carcinoma cervical, Vírus linfotrópico humano (HTLV) associado à leucemia. Já com relação às bactérias, podemos citar o Helicobacter pylori associado ao câncer gástrico. SAIBA MAIS relação direta entre a capacidade de proliferação e invasão de outros tecidos com a malignidade. Você sabia que uma das funções do sistema imunológico é proteger o organismo contra a instalação de células cancerígenas? Isto ocorre porque o sistema imunológico, através dos linfócitos T e B, identifica a célula que é tumoral através de antígenos que são expressos por elas. 2.2.1.6 Efeito da luz solar Você gosta de ir ao clube? Tomar banho de sol? Bronzear-se? Nos momentos de lazer, ir ao clube, praia ou ir pescar, é muito bom, não é mesmo? Mas, alguns cuidados devem ser tomados, pois as radiações infravermelha e ultravioleta (UV) da luz solar produzem lesões nos tecidos orgânicos. Vamos conhecer, a seguir, os efeitos biológicos destas radiações: • a radiação infravermelha é a responsável pela produção de calor, responsável pelas queimaduras solares; • a radiação UV é a responsável por inúmeros efeitos que estudaremos, a seguir. 68 UNIUBE Lesões provocadas pela luz UVA e UVB: • agudas: hipertermia (aumento da temperatura corpórea) e queimaduras; • crônicas: dependendo da faixa de radiação UV, podem ser: UVA – alteram o DNA* das células. Nos ceratinócitos, por exemplo, originam lesões proliferativas benignas ou malignas no epitélio, tais como, ceratose actínica e epiteliomas (benignas), carcinomas e melanomas (malignas); UVB – envelhecimento da pele, por alterações das fibras elásticas da derme, pigmentação excessiva (melanogênese), fotossensibilização e lesões proliferativas (neoplasias). IMPORTANTE!Neoplasia é uma massa anormal de tecido cujo crescimento excede e não está coordenado ao crescimento dos tecidos normais e que persiste mesmo cessada a causa que a provocou. SAIBA MAIS “A ação carcinogênica dos raios UV deve-se à formação de dímeros de timina nas moléculas de DNA” (BRASILEIRO, 2006, p.36). a) Reações de Fotossensibilização: resultantes da ativação de substâncias químicas que se depositam na pele (fenotiazínicos, quinidina, Faixas de UV: <290nm (UVC) – absorvidos na camada de ozônio, não causando lesões aos seres vivos. 290-320 nm (UVA) 320-400 nm (UVB) causam lesões agudas e crônicas.} UNIUBE 69 Você sabia que as pessoas idosas, de modo geral, têm perda da audição? Você sabe por que isso acontece? Porque quanto mais tempo ficarmos em locais barulhentos – em casa, na rua, no trabalho – mais precocemente apresentaremos distúrbios da audição, ou seja, perda progressiva da capacidade de distinguir sons de frequência mais alta, devido a lesões que ocorrem nas células responsáveis pela acuidade auditiva,as células ciliadas de Corti (Figura 11). quinino, sulfonamidas), que ao absorverem os raios UV, formam radicais livres que induzem a resposta imunitária do tipo celular, estudadas no próximo livro. Os sinais e sintomas apresentados são vermelhidão, edema, prurido e, às vezes, bolhas. b) Fitofotodermatose – reação de fotossensibilização frente a substâncias de origem vegetal, tais como, folhas de figo, sumo de limão, entre outros. 2.2.1.7 Efeito do som (ruído) Figura 11: Cílios presentes nas células de Corti. Acervo: Acervo EAD-Uniube. 70 UNIUBE 2.2.2 Agentes químicos lesivos Você já apresentou alguma lesão devido à alimentação ou a algum tipo de medicação? Vamos aprender sobre os agentes químicos, ou seja, quem são e como agem no nosso organismo. Os agentes químicos responsáveis pelas lesões em nosso organismo são as substâncias tóxicas e os medicamentos. 2.2.2.1 Substâncias tóxicas Estão presentes no meio ambiente, sendo encontradas no ar, água e solo. No ar, são os chamados poluentes que exercem seu efeito no sistema respiratório. Em geral, agem sobre o aparelho mucociliar, alterando a maturação dos cílios das células ciliadas, dificultando a sua eliminação, favorecendo o surgimento de infecções (bronquite, rinite, conjuntivite, entre outras). A poluição do ar atmosférico é provocada por: • gases e poeiras originados da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão de pedra); • veículos, na sua combustão; • indústrias; • usinas termoelétricas; • sistemas de aquecimento doméstico; • queima do lixo. Principais poluentes do ar: • monóxido de carbono (CO); UNIUBE 71 • dióxido de enxofre (SO2); • ozônio (O3); • óxido nitroso (NO2); • poeiras: são de natureza inorgânica ou mineral e de natureza orgânica; – poeiras inorgânicas (carvão ou sílica); – poeiras orgânicas (fibras de algodão, cânhamo ou linho, material proteico ou polissacarídeo). Vamos, a partir de agora, entender o que acontece em nosso organismo sob a ação destes agentes lesivos. a) Mecanismos de ação dos agentes químicos: • ação direta: atua sobre as estruturas celulares, resultando em transformações moleculares podendo, inclusive, alterar o genoma da célula com efeito carcinogênico ou teratogênico (na vida intrauterina); • ação indireta: atuando como antígeno, estimulando a resposta imune humoral ou celular, responsáveis pelas lesões resultantes. b) Fatores que influenciam o efeito da ação química sobre o organismo: • dose; • vias de aquisição (penetração e absorção); • metabolismo (vias de transporte, armazenamento, metabolização e excreção); • idade; • sexo; • condições orgânicas (saúde); • constituição genética. Frente a esses fatores, podemos deduzir que os efeitos lesivos dos agentes químicos podem ser previsíveis ou imprevisíveis. Vamos entendê-los mais um pouco? 72 UNIUBE c) Fatores cujos efeitos lesivos são previsíveis: • dose (quanto maior a dose, maior é o efeito); • idade (mais jovens e mais velhos são mais vulneráveis); • capacidade de metabolização do agente (reduzida ou aumentada); • doença concomitante (insuficiência hepática ou renal, por exemplo, o que pode reduzir a metabolização e a excreção do agente, respectivamente); • associação de agentes químicos (potencialização ou inibição da ação); • genética (mais sensíveis ou menos sensíveis). d) Fatores cujos efeitos lesivos são imprevisíveis: uma reação imprevisível particular é a chamada idiossincrasia, condição que induz à lesão independentemente da dose e da sensibilização do sistema imune. Provavelmente, seja resultante de alterações no metabolismo enzimático. Idiossincrasia Hipersensibilidade inata e constitucional que apresentam certos indivíduos que reagem de maneira diferente da das pessoas consideradas normais à ação ou influência de agentes exteriores, medicamentosos ou alimentares. 2.2.3 Agentes nutricionais lesivos Você já apresentou algum distúrbio orgânico devido à carência ou excesso alimentar? Apesar de a alimentação e a nutrição serem essenciais para a sobrevivência dos seres vivos, temos que evitar a sua carência, ou excesso para não apresentarmos distúrbios orgânicos que poderão acarretar danos, por vezes irreversíveis ao nosso organismo. A seguir, estudaremos alguns transtornos alimentares e suas consequências no organismo. UNIUBE 73 2.2.3.1 Carências nutricionais As carências nutricionais, segundo Brasileiro (2006), podem ser primárias ou secundárias. a) Carência primária Causas: • socioeconômicas: atingem principalmente habitantes das áreas subdesenvolvidas; • biológicas: doenças, físicas ou psíquicas (bulimia, anorexia), que alteram a ingestão de alimentos. Tipos de carências nutricionais prevalentes no mundo: • desnutrição proteico-energética; • hipovitaminose A; • anemia ferropriva. “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1/3 da população do mundo e 10% das crianças apresentam a desnutrição proteico-energética” (BRASILEIRO, 2006, p. 342). 74 UNIUBE b) Carência secundária Causas: • má digestão dos nutrientes por alterações hepática, pancreática, gástrica ou intestinal; • absorção inadequada devido a alterações na mucosa intestinal (câncer); • metabolização inadequada dos nutrientes, insuficiente (diabetes) ou excessiva (hipertireoidismo); • excreção excessiva dos nutrientes (proteínas, vitaminas e sais minerais) devido a lesões renais; • destruição da microflora intestinal pelo uso prolongado de antibióticos ou sulfas, acarretando avitaminoses. Veja o desenho de uma criança desnutrida, na Figura 12, a seguir. Figura 12: Criança desnutrida. Fontes: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 75 2.2.3.2 Deficiência ou excesso de nutrientes: alterações orgânicas Alterações orgânicas importantes decorrentes da deficiência ou do excesso de alguns nutrientes, segundo Brasileiro (2006, p. 342-350): a) Energia Obtida de alimentos ricos em carboidratos e proteínas, principalmente. • Deficiência: marasmo na criança (retardo do crescimento e do desenvolvimento) devido eliminarem as substâncias que atraem os leucócitos à área lesada (leucotáticas) ou por induzirem células como monócitos, fibroblastos e endoteliais a produzirem proteínas inflamatórias caquexia no adulto (magreza, anemia e apatia); • Excesso: obesidade que leva à hipertensão, aterosclerose, infarto, diabete, câncer do fígado, entre outras doenças. b) Proteínas • Deficiência: em crianças leva ao kwashiorkor, que se caracteriza por: retardo do crescimento; redução da gordura subcutânea; edema generalizado (anasarca); diarreia; anemia; apatia; lesão hepática; lesão pancreática; distúrbios mentais. (Veja a foto de uma criança com kwashiorkor, na Figura 13). Infarto Área circunscrita de necrose tecidual causada por isquemia absoluta prolongada devido a distúrbio da circulação arterial ou venosa. Kwashiorkor É uma condição orgânica resultanteda ingestão inadequada de proteínas. 76 UNIUBE • Excesso: diversos tipos de câncer; aumento da excreção urinária de cálcio, podendo originar a osteoporose. c) Lipídeos Os lipídeos são representados pelos ácidos graxos essenciais e o colesterol. • Ácidos graxos essenciais – Deficiência: retardo do crescimento; redução do HDL, lipoproteína de alta densidade, no sangue; aumento do colesterol plasmático (aterosclerose); aumento da permeabilidade e fragilidade capilar (hemorragia). Colesterol – Excesso: aterosclerose (placas de gordura nas artérias de médio e grande calibres); diversos tipos de câncer. Figura 13: Criança apresentando kwashiorkor. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Aterosclerose É uma doença de artérias de grande e médio calibre, caracterizada por numerosas áreas de espessamentos da parede arterial (na íntima). UNIUBE 77 d) Vitaminas • Vitamina A – Hipovitaminose Consequências: – alterações na visão: redução da percepção da luz crepuscular (cegueira noturna); – alterações dos epitélios de revestimento (conjuntiva, córnea, sistemas respiratório,digestivo e excretor, entre outros); – alterações imunes. – Hipervitaminose Consequências: – intoxicação (vômitos, aumento da pressão intracraniana), redução da espessura óssea e anemia hemolítica (lise das hemácias). • Vitamina D – Hipovitaminose: decorrente da ingestão insuficiente ou da falta de exposição à luz solar. Consequências: – raquitismo na criança e osteomalácia no adulto (calcificação óssea deficiente devido à absorção intestinal reduzida de cálcio); – hiperexcitabilidade neuromuscular (tetania), consequente à hipocalcemia. – Hipervitaminose: ocorre por ingestão excessiva. Consequências: – a desidratação e – os cálculos renais. • Vitamina K Tem importante papel na síntese de proteínas que participam da coagulação do sangue. 78 UNIUBE • Hipovitaminose: decorrente da má absorção intestinal de gorduras devido a lesões hepáticas, biliares ou pancreáticas ou pela redução/ ausência da microbiota intestinal. Consequências: – hemorragia ou diátese hemorrágica decorrente da diminuição da coagulabilidade do sangue (serão estudadas em detalhe, posteriormente). • Vitamina C (ácido ascórbico) Importante na síntese do colágeno presente na membrana basal e na parede dos vasos venosos e de elastina. • Hipovitaminose: Consequências: – escorbuto; – lesões ósseas em consequência das hemorragias e da formação defeituosa da matriz óssea; – atraso no desenvolvimento corporal; – retardo na cura das feridas. Por outro lado, os alimentos podem conter substâncias tóxicas ou agentes infecciosos que, dependendo da dose de sua ingestão, podem originar alterações orgânicas mais ou menos graves. Segundo Brasileiro (2006, p.351-354), outras doenças cujos fatores estão relacionados direta ou indiretamente à dieta e que podem causar danos irreversíveis ao organismo são: • Aterosclerose: caracteriza-se pela deposição de lipídeos (colesterol) na intimidade das artérias de médio e grande calibres decorrentes de lesões no endotélio vascular. Principal fator: hipercolesterolemia, ou seja, dieta rica em colesterol. Escorbuto Hemorragias em locais sujeitos a repetidos traumatismos ou estiramentos, como nas gengivas, periósteo, articulações, leito subungueal. UNIUBE 79 Neoplasias: As neoplasias são decorrentes das agressões ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis. Os fatores dietéticos que contribuem para a promoção e progressão dos tumores são os aditivos ou contaminantes alimentares. 2.2.4 Agentes biológicos lesivos Os agentes biológicos são aqueles que possuem vida própria (bio=vida). São inúmeros na natureza, entre eles, temos os vírus, as bactérias, os fungos, os protozoários, os helmintos, as riquétsias, os micoplasmas e as clamídias. Aditivos Derivados do azobenzeno que dão cor aos alimentos quando adicionados a eles. Por exemplo, coloração amarelada da manteiga. Contaminantes Hidrocarbonetos aromáticos (café torrado, carnes e peixes) defumados; aflatoxinas produzidas pelos fungos; nitrosaminas e nitrosamidas derivadas de nitritos que são utilizados para conservar os alimentos enlatados. Você já sofreu alguma lesão por algum destes agentes? Ou seja, já teve uma infecção? Você sabe o que é infecção? Quando um destes agentes invadir o nosso organismo, teremos a infecção e, se produzir doenças, teremos as chamadas doenças infecciosas. As doenças infecciosas produzem alterações sistêmicas que podem gerar lesão tecidual sistêmica. Sabemos que estas alterações são mediadas pela ação de citocinas especialmente Fator de Necrose Tumoral (TNF), Interferons tipo 1 (IFN-α e IFN-β), Interleucina 1 (IL-1), Interleucina 6 (IL-6), Interleucina 12 (IL-12), Interleucina 15 (IL-15), Interleucina 18 (IL-18) e quimiocinas. Durante a resposta imune inata contra infecções, temos o aumento da produção de leucócitos, febre e produção de proteínas de fase aguda como as proteínas do complemento, fibrinogênio e proteína C reativa. A resposta imune inata pode desencadear uma resposta mais efetiva, induzindo o organismo a produzir e diferenciar linfócitos T e B específicos o que faz parte da resposta imune adaptativa. 80 UNIUBE TNF = Principal mediador da resposta imune à inflamação. Atua principalmente contra bactérias Gram-negativas. Produzido por fagócitos mononucleares ativados. Existem dois tipos: TNF tipo I e TNF tipo II. Sua principal função está ligada ao recrutamento e à ativação de neutrófilos e monócitos para o local da infecção. SAIBA MAIS Nas infecções mais graves, ocorre a produção de grande quantidade de TNF, o que pode desencadear alterações sistêmicas clínicas e patológicas; por exemplo, a trombose intravascular e a queda acentuada da glicemia. Principais citocinas: • Interferons tipo 1 = produzidos por fagócitos mononucleares, participam da resposta imune inata contra vírus. Suas principais funções são inibir a replicação viral e aumentar a expressão de moléculas do complexo de histocompatibilidade principal de classe I (MHC classe I); • L-1 = produzida principalmente por macrófagos, células endoteliais e algumas células epiteliais. Participa da resposta inflamatória através da indução à febre por ação no hipotálamo, síntese de proteínas de fase aguda e do processo de migração de neutrófilos; • IL- 6 = produzida principalmente por macrófagos, células endoteliais e células T. Participam da síntese hepática de proteínas de fase aguda e atuam na proliferação de células B; • IL-12 = produzida principalmente por macrófagos e células dendríticas. Atuam na diferenciação de células T e na produção de interferon; • IL-15 = produzida principalmente por macrófagos. Estimula a proliferação de células NK e células T de memória (Células TCD8+); • IL-18 = produzida principalmente por macrófagos. Participa da produção de interferon; UNIUBE 81 • Quimiocinas = família de citocinas homólogas. As principais células produtoras são os macrófagos, as células endoteliais, as células T, os fibroblastos e as plaquetas. Sua principal função é estimular o movimento e a migração de leucócitos para o local da infecção, quimiotaxia. Prezado aluno, para a revisão dos agentes biológicos estudados, preencha o Quadro 1, sobre as características morfológicas gerais de cada um. AGORA É A SUA VEZ Agente biológico Características morfológicas gerais Vírus Bactérias Fungos Protozoários Helmintos Quadro1: Agentes biológicos Agora que você já recordou quem são os agentes biológicos, vamos pensar em como eles podem agredir nosso organismo. Em linhas gerais, os agentes biológicos podem nos agredir por um ou mais de um dos mecanismos que estudaremos, a seguir. 2.2.4.1 Mecanismos de produção de lesão pelos agentes biológicos Mecanismos de ação dos agentes biológicos lesivos a) Ação direta: Também conhecido como efeito citopático, ou seja, alteração morfológica e funcionalda célula, induzindo a sua morte. Efeito citopático Que altera a estrutura ao nível molecular e a função celular. 82 UNIUBE Por exemplo, os vírus, algumas bactérias e alguns protozoários, ao terminarem sua multiplicação dentro da célula hospedeira, precisam rompê-la para sair e, então, penetrar em outra célula. b) Ação indireta: • espoliação alimentar: mecanismo comum aos parasitos intestinais, consiste em absorver parte dos alimentos que já digerimos; • liberação de toxinas: podem ser as exotoxinas, liberadas pelo agente biológico na invasão ou endotoxinas, toxinas endógenas liberadas na morte ou na destruição do agente lesivo. Exemplo: Vibrio cholerae, a bactéria causadora da cólera, cuja toxina altera o funcionamento das bombas iônicas no intestino, promovendo grande perda de água através de uma diarreia aquosa; • indução da reação inflamatória: esse é um mecanismo comum aos agentes agressores biológicos. O processo inflamatório ajuda a explicar as diarreias nas doenças infecciosas intestinais e explica a dor e a febre nas viroses, infecções bacterianas na garganta (amigdalite), por exemplo, e em diversas outras doenças infecciosas; • ativação da resposta imune: a ativação da resposta imune humoral ou celular é de extrema importância na nossa defesa contra as infecções (estudada em detalhe no conteúdo de Imunologia, neste livro); • indução da resposta autoimune: ocorre quando os determinantes antigênicos de superfície dos invasores são semelhantes às moléculas de superfície das células dos nossos tecidos; desta forma, a resposta imune se manifesta, também, contra estes componentes de nossos tecidos (autoagressão); • resposta imune humoral: resposta imunológica mediada pela produção de anticorpos (imunoglobulinas). A produção de anti- corpos se dá pela diferenciação de linfócitos B em plasmócitos. • a ativação da resposta humoral ocorre após o reconhecimento específico de antígenos pelos receptores específicos de membrana destas células. Dessa forma, o organismo inicia a produção de imunoglobulinas podendo gerar Imunoglobulina M (IgM) ou Imunoglobulina G (IgG), que pode persistir como proteína de memória; UNIUBE 83 • doença autoimune: doença causada por resposta imunológica contra antígenos próprios, normalmente desencadeando a produção de autoanticorpos. Por exemplo, o diabetes melito tipo 1, em que o organismo produz anticorpos contra as células produtoras de insulina. Independente do tipo de agressão, há uma resposta do organismo a ela. REGISTRANDO Em capítulos posteriores, estudaremos um pouco mais sobre os mecanismos de agressão para cada grupo de agentes agressores. Mas, não se acanhe, arregace as mangas e busque seu conhecimento sobre o tema. Precisando de ajuda, consulte seu professor-tutor. Assim sendo, vamos ver se você compreendeu a diferença entre infecção e inflamação? Vimos que infecção é a invasão do organismo por um micro-organismo e a inflamação é a resposta do organismo a esta invasão, ou seja, à infecção. Estudaremos, a seguir, as lesões produzidas pelos vírus e as produzidas pelas bactérias. Os demais agentes biológicos agem no nosso organismo de forma semelhante, ou seja, agindo diretamente (ação direta) ou indiretamente ao induzir a resposta imune. 2.2.4.2 Lesões produzidas por vírus Em latim, vírus significa veneno. Esse nome faz menção ao período anterior à teoria dos germes, quando acreditava-se que muitas doenças eram causadas por algum tipo de veneno. 84 UNIUBE Hoje sabemos que os vírus são agentes infecciosos, extremamente pequenos, medindo entre 18 a 30nm, portanto, muito menores que as bactérias. Uma bactéria do gênero Staphylococcus, por exemplo, mede por volta de 1000nm. Com essas dimensões, os vírus não possuem organelas para fabricar proteínas o que os obriga a serem parasitos intracelulares. Ao entrar em uma célula, o vírus incorpora seu material genético ao núcleo da célula hospedeira e passa a utilizar todo o maquinário celular dela para se reproduzir. Os vírus, em geral, possuem apenas um tipo de ácido nucleico: existem os vírus com DNA e outros com RNA. Estes últimos são chamados de retrovírus e precisam produzir uma fita de DNA usando como molde o seu RNA. Para conseguir essa proeza, os retrovírus possuem uma enzima chamada Transcriptase Reversa, que, como o nome já diz, faz a transcrição ao contrário, ou seja, do RNA para o DNA. Podemos citar as seguintes estruturas presentes no vírus: – ácido nucleico: DNA ou RNA; – capsídeo: uma capa proteica que protege o genoma viral, ou seja, seu ácido nucleico; – envelope viral: consiste de uma bicamada de lipídeos com proteínas que envolve o capsídeo. É a estrutura mais externa e nem todos os vírus a possuem; – enzimas: apesar dos vírus não realizarem processos metabólicos, possuem enzimas que auxiliam na invasão da célula hospedeira, como no caso das lisozimas, ou na produção do fita de DNA a partir do RNA, como no caso da Transcriptase Reversa. Na verdade, os vírus não são considerados células, não são capazes de se replicarem sozinhos, não conseguem sintetizar sua própria energia ou nm milionésimo de milímetro ou um bilionésimo do metro (1,0×10−9 metros). UNIUBE 85 suas próprias proteínas e são muito pequenos para serem observados ao microscópio ótico (Figura 14). Figura 14: Vírus Influenza visto ao ME. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. Para se reproduzir, um vírus tem que, obrigatoriamente, invadir uma célula e unir seu material genético ao núcleo da célula hospedeira. A partir daí, ele pode seguir dois caminhos complementares que configuram dois tipos de ciclo reprodutivo viral: – ciclo lítico: o material genético do vírus comanda o maquinário da célula hospedeira para formar novas unidades virais e ao final do processo, a célula hospedeira é lisada para liberar os vírus produzidos; – ciclo lisogênico: o material genético do vírus permanece ligado ao material genético da célula hospedeira mas, fica dormente, esperando uma oportunidade de se manifestar. Veja os ciclos lítico e lisogênico de um vírus bacteriófago (que parasita bactérias), na Figura 15. 86 UNIUBE Figura 15: Ciclos lítico e lisogênico de um bacteriófago. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. Esses dois tipos de ciclos podem se alternar para o mesmo vírus, na mesma pessoa infectada. Segundo Brasileiro (2006), a entrada de um vírus em nosso organismo pode ocorrer de várias maneiras; dentre elas, temos as vias digestiva e respiratória e a pele (inoculação, picada, mordida, ou outra solução de continuidade provocada por lesões). Após a sua entrada no organismo, os vírus podem se disseminar pelas seguintes vias: – sanguínea (vírus da Hepatite B); – linfática (Epstein barr vírus, vírus da imunodeficiência humana - HIV); – terminações neurais (axônica) (vírus da raiva). UNIUBE 87 2.2.4.2.1 Formas de penetração dos vírus nas células – ligação a receptores de superfície da célula-alvo; – endocitose ou fusão de seu envelope com a membrana plasmática celular. (Veja a fusão do vírus com a membrana da célula do hospedeiro na Figura 16). Figura 16: Vias de entrada do HIV na célula sendo a endocitose uma delas. Fonte: Vanessa das Dores Duarte Teruel. Nef (negative factor) é uma proteína viral, que interfere no sinal de transdução de proteínas da célula hospedeira, proporcionando a sobrevivência das células T infectadas. Esta proteína, também induz à destruição das células T não-infectadas por meio do estímulo, a apoptose. SAIBA MAIS Uma vez no interior das células, os vírus agem segundo os seguintes mecanismos: – liberação do ácido nucleico viral na célula alvo; 88 UNIUBE – replicação do ácido nucleico viral; – comando dos principais mecanismos de síntese da célula alvo. Como já estudado anteriormente, os vírus agem de forma direta ou indireta. Veremos a seguir, os efeitos destas formas de ação viral. a) Efeitos citopáticos dos vírus (ação direta):– lise da célula hospedeira; – fusão das células formando sincícios, resultante da expressão de proteínas virais na superfície celular; – modificações no citoesqueleto celular; – formação de corpúsculos de inclusão (acúmulo de partículas virais) no citoplasma ou no núcleo celular em viroses, tais como raiva, herpes, citomegalovírus, entre outras; – vacuolização de células epiteliais (coilocitose) comum na infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV); – apoptose (morte celular por expressão gênica), estudada no próximo capítulo. b) Efeitos por indução da resposta imune (ação indireta) A defesa do organismo contra infecções virais, bacterianas ou fúngicas é mediada pela resposta imune inata e adaptativa. Inicialmente como já mencionado anteriormente, inicia-se a resposta imune inata mediada pela ativação do sistema complemento e pela produção de células efetoras. Logo em seguida, ocorre a ativação da resposta imune adaptativa quando o organismo atua de forma mais consistente na eliminação do agente infeccioso e na neutralização das toxinas por ele produzidas. UNIUBE 89 Sistema Complemento: Complexo de proteínas ativado por microrganismos cuja principal função é promover a destruição destes. A ativação deste sistema se dá por 3 vias: via clássica: pela detecção do complexo antígeno-anticorpo; via alternativa: reconhecimento direto de estruturas antigênicas presentes na superfície de certos microrganismos e a via da Lectina: ativada pela proteína chamada lectina de ligação à manose (MBL). Seja qualquer uma destas três vias ativada, o resultado será a lise dos microrganismos. SAIBA MAIS Os antígenos dos vírus, sendo expressos na superfície da célula hospedeira, favorecem a expressão de MHC I (Moléculas de Histocompatibilidade I), na célula hospedeira; desse modo, as células infectadas passam a ser alvo dos linfócitos T Citotóxicos (estudados em detalhe no conteúdo de Imunologia). MHC Complexo principal de histocompatibilidade. É a região mais densa de genes do genoma dos mamíferos e possui importante papel no sistema imune e na autoimunidade. 2.2.4.2.2 A resposta imunológica contra o vírus Essa resposta dá-se de algumas formas: a) Imunidade Inata: a imunidade inata atua na inibição da infecção, pela produção de Interferons tipo I (INF-I), estimulada pela produção de RNA de dupla-hélice, o que desencadeia a inibição da replicação viral e também pela ativação de células NK que atuam na destruição de células infectadas por vírus. b) Imunidade Adaptativa: mediada pela produção de anticorpos. Os anticorpos atuam na neutralização do vírus, impedindo sua ligação e a entrada nas células do hospedeiro, já que os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. Pode também ocorrer a ativação do sistema 90 UNIUBE Prezado aluno, você sabe o que é e como ocorre a inflamação? Frente às infecções virais, o nosso sistema imune responde originando a inflamação, que se caracteriza, neste caso, com a saída de células (leucócitos), do tipo mononuclear (macrófagos e linfócitos), do lúmen vascular (exsudação celular) para fora dele. Os imunocomplexos resultantes, se estiverem presentes na microcirculação, acarretam o surgimento de trombose que pode obstruir os vasos, levando à isquemia e à necrose isquêmica ou infarto. É o que acontece, por exemplo, na hepatite pelo vírus B. “Se houver a sua deposição complemento e este fato estimula a fagocitose. A destruição dos vírus já internalizados depende da atuação dos linfócitos T Citotóxicos. A destruição da célula infectada é indispensável para acabar com a infecção, uma vez que os anticorpos só neutralizam ou opsonizam os vírus se estes estiverem livres, ou no meio extracelular, ou na circulação. Segundo Brasileiro (2006, p.37), os tipos de infecções desenvolvidas pelos vírus são: – infecção abortiva: não ocorre replicação viral e nem lesões graves, mas pode induzir ao surgimento de lesões malignas tardiamente devido à integração do ácido nucleico viral com o genoma da célula alvo; – infecção persistente: são as viroses lentas, com lesões celulares cumulativas devido à síntese contínua e eliminação do vírus; – infecção latente: na qual o vírus permanece quiescente após sua incorporação ao genoma do hospedeiro. Se estimulado, entra novamente em atividade; – infecção lítica: replicação viral e morte celular. Isquemia Deficiência na irrigação de sangue em um órgão ou tecido devido à constrição ou obstrução de seus vasos sanguíneos. UNIUBE 91 nos tecidos, por exemplo, nas articulações, desenvolverá a artrite” (BRASILEIRO, 2006, p.39). – Como as ricketsias medem entre 300 e 600nm, essas diminutas bactérias intracelulares obrigatórias foram, durante muito tempo, consideradas vírus. A seguir, observe exemplos de infecções causadas por bactérias, vermes e fungos: • por bactérias: após a aderência do Vibrio cholerae na mucosa intestinal, a bactéria multiplica-se e passa a produzir uma enterotoxina, chamada colerágeno. Se administrarmos essa toxina a uma pessoa, mesmo sem a bactéria, o colerágeno pode reproduzir, sozinho, os sinais e sintomas da Cólera. Isso porque essa toxina é capaz de provocar a secreção de cloreto e água da mucosa para a luz intestinal. Essa capacidade de reproduzir sinais e sintomas, independente da presença do agente, é uma característica marcante das exotoxinas produzidas por agentes infecciosos; • por vermes: existe um cestoda, um verme da mesma classe da Taenia sp , chamado Hymenolepis nana, habitante do intestino delgado, que secreta uma substância que é absorvida pela mucosa intestinal e vai pela corrente sanguínea até o sistema nervoso central, onde estimula a córtex motora provocando crises convulsivas em crianças parasitadas com grande quantidade desse verme; • por fungos: as infecções de origem fúngicas, denominadas micoses são relevantes no que diz respeito à taxa de morbidade e mortalidade. Existem infecções endêmicas, entretanto as infecções oportunistas podem representar maior gravidade, pois podem estar relacionadas à ineficiência do sistema imunológico. Encontramos quadros de infecções fúngicas associadas a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e a quadros de tratamento contra tumores (quimioterapia). A resposta imunológica contra os fungos se baseia principalmente na presença de neutrófilos e macrófagos. Sabemos que estas células liberam substâncias que apresentam ação contra os fungos. A imunidade mediada por células é então Ricketsias As ricketsias são parasitas de artrópodes como piolhos, pulgas e carrapatos. No homem, causam doenças como tifo, erlichiose, febre maculosa e febre Q. 92 UNIUBE Você se lembra de algum? Para produzir o pão, por exemplo, utilizamos o fermento biológico que, na verdade, é composto por fungos. Um pouco mais sobre os mecanismos de agressão para cada grupo de agentes agressores será abordado em capítulos posteriores. Precisando de ajuda, consulte seu professor-tutor. 2.2.4.3 Lesões produzidas por bactérias De acordo com a capacidade em produzir lesões, as bactérias são chamadas patogênicas ou virulentas. Ou seja, as lesões resultantes de uma invasão bacteriana dependem de sua patogenicidade (capacidade de produzir doenças) ou virulência (intensidade da ação). Você sabia que o nosso organismo é dotado de barreiras que dificultam a invasão bacteriana? E que estas barreiras estão localizadas na pele e nas mucosas? o principal meio efetivo de resposta neste caso. Vale ressaltar que pode ocorrer, nestes casos, inflamação granulomatosa ocasionado lesão tecidual importante. Nesse capítulo, estamos abordando a gênese das doenças. Mas isso não quer dizer que todos os vírus, bactérias, fungos, protozoários e vermes são prejudiciais à saúde do homem. Lembre-se de que, entre esses seres, existem muitos de vida livre, exceto entre os vírus, que são parasitos intracelulares obrigatórios. Alguns, inclusive, ajudam-nos. PatogeniaModo pelo qual um agente patogênico promove a agressão a um organismo. Estudo da sucessão de sintomas que provocam determinada doença. Virulência Capacidade de um vírus ou bactéria de infectar um organismo e provocar a doença. UNIUBE 93 As barreiras naturais que o nosso organismo apresenta são, principalmente: ceratina, muco, anticorpos do tipo IgA secretora e flora bacteriana normal. Desse modo, para a penetração em nosso organismo, as bactérias necessitam ser inoculadas ou encontrar uma solução de continuidade. 2.2.4.4 Mecanismos que facilitam a invasão bacteriana – produção de bacteriocinas que eliminam a microbiota reduzindo a competição; – síntese e liberação de enzimas que facilitam a sua passagem pelo muco e glicocálix; – expressão de moléculas de adesão, o que favorece a aderência nas células do hospedeiro; – alteração imunológica (imunodeficiências); – lesão tecidual. 2.2.4.5 Mecanismo de ação das bactérias – Síntese e liberação de toxinas (exotoxinas e endotoxinas): • exotoxinas: sintetizadas durante a fase de crescimento exponencial bacteriano com efeito citopático; • endotoxinas: produzidas na parede ou no citoplasma bacteriano e liberadas após a destruição bacteriana são os Lipopolissacarídeos (LPS) da parede celular de bactérias Gram-negativas e LPS e proteoglicanos da parede celular de bactérias Gram-positivas. 2.2.4.6 Mecanismo de ação das toxinas bacterianas – inibição da síntese proteica (Shigella dysenteriae); 94 UNIUBE – ação de fosfolipases (estreptococos e estafilococos); – alterações moleculares (toxina da cólera); – estas ações resultam em lesões reversíveis ou irreversíveis, ou seja, na degeneração ou morte celular ou, ainda, em lesão molecular. 2.2.4.7 Indução da resposta inflamatória As bactérias estimulam a resposta inflamatória por eliminarem as substâncias que atraem os leucócitos à área lesada (leucotáticas) ou por induzirem células, como monócitos, fibroblastos e endoteliais a produzirem proteínas inflamatórias (IL-1, TNF, quimiocinas, entre outras). Essas proteínas serão estudadas, em detalhes, no conteúdo de Imunologia, neste capítulo. 2.2.4.8 Efeitos da resposta imune aos antígenos bacterianos – Resposta imune inata = principais funções da resposta imune inata são: ativar o sistema complemento, estimular a fagocitose, a produção de células NK e a resposta inflamatória. – Resposta imune adaptativa = resposta mais eficiente, consiste na produção de anticorpos contra antígenos presentes na parede celular das bactérias, assim como na neutralização de toxinas produzidas. 2.2.4.9 Características da resposta imune contra bactérias – a imunidade humoral é a principal forma de mecanismo efetor contra bactérias extracelulares; – a resposta imune mediada por células é a principal forma de defesa contra a infecção por bactérias intracelulares; UNIUBE 95 – formação de imunocomplexos que podem provocar lesões inflamatórias onde se depositarem. Por exemplo: glomerulonefrites; – indução da resposta autoimune, é o que ocorre, por exemplo, na doença reumática; – superestimulação dos linfócitos T auxiliares ou supressores (manifestações sistêmicas da intoxicação); – os antígenos proteicos ativam as células T auxiliares, o que desencadeia a produção de citocinas inflamatórias gerando, consequentemente, a produção de anticorpos; – o INF-γ é produzido por células T e é responsável pela ativação dos macrófagos e também pela produção do Fator de Necrose Tumoral (TNF). Devido a isso, podemos dizer que as principais consequências prejudiciais da resposta contra infecção bacteriana são a inflamação e a possibilidade de sepse, os quais são ocasionados pelas citocinas produzidas por macrófagos ativados; – algumas bactérias intracelulares desenvolveram a capacidade de resistir à eliminação pelas células fagocíticas. Nestes casos, a infecção se torna bastante grave. Veja o desenho de uma mão com artrite reumatoide (doença autoimune), na Figura 17. Figura 17: Artrite reumatoide. Fonte: Acervo - EAD-Uniube. 96 UNIUBE Você já ouviu falar em bacteremia e/ou septicemia? Sabe diferenciar estas condições orgânicas patológicas? Segundo Brasileiro, 2006, p.41: • Bacteremia é a presença da bactéria na circulação. Por exemplo, ao fazermos um exame de sangue, a hemocultura é positiva. • Septicemia é condição na qual, além da constatação da infecção, há sinais de respostas sistêmicas, tais como: aumento da frequência respiratória (taquipneia), da frequência cardíaca (taquicardia) e hiper ou hipotermia (>38oC ou <35,6 oC, respectivamente). 2.2.4.10 A parede das bactérias Ao estudar as bactérias, você constatará que esses micro-organismos são divididos em dois grandes grupos, de acordo com a sua capacidade de reter o corante de Gram: as bactérias Gram-negativas, que não retêm esse corante e as classificadas como Gram-positivas, porque são coradas pelo método de Gram. Essas propriedades tintoriais estão relacionadas a diferenças na estrutura e composição da parede das bactérias. As bactérias Gram-positivas possuem uma porção muito mais espessa de peptideoglicano, com várias camadas. Também, algumas bactérias Gram-positivas possuem uma camada de ácido teicoico, que se projeta para o exterior da camada de peptideoglicano. Já nas bactérias Gram-negativas, não existe ácido teicoico e a porção de peptideoglicano é mais fina, com uma única camada. Porém, a estrutura da parede das bactérias Gram-negativas é mais complexa, composta por lipoproteínas, lipopolissacarídeos e fosfolipídeos e apresentando um espaço entre a membrana plasmática e a camada de peptidioglicano – o espaço periplásmico. UNIUBE 97 A parede bacteriana possui outras propriedades importantes, tais como: – nas bactérias Gram-negativas, a parede contém endotoxinas, que são lipopolissacarídeos, como o LPS; – os polissacarídeos e as proteínas são antígenos que estimulam a resposta imunológica e inflamatória e podem ser utilizados para identificar a espécie de bactéria nos laboratórios; – as proteínas do tipo porinas regulam a passagem de pequenas moléculas hidrofílicas para dentro da bactéria. Para visualizar a representação da estrutura da parede das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, acesse o link a seguir: <http:// www.dbio.uevora.pt/.../imagens/biocelcel11.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2012. Bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus) podem ser vistas ao microscópio, com aumento de 1000X, no site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Staphylococcus_aureus_Gram.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2012. PESQUISANDO NA WEB No espaço periplásmico de algumas espécies de bactérias Gram-negativas, encontram-se enzimas denominadas β-lactamases que lhe conferem resistência à penicilina e a outros antibióticos da mesma categoria. Lesões ou processos patológicos2.3 Dando continuidade aos estudos, conheceremos as lesões ou processos patológicos, decorrentes das agressões sofridas pelos agentes lesivos. As lesões ou processos patológicos podem ser reversíveis e irreversíveis. 98 UNIUBE Você sabe a que chamamos de lesões reversíveis? E irreversíveis? Vejamos; as lesões são denominadas reversíveis quando, uma vez retirado o fator responsável pela sua ocorrência, a célula volta à sua integridade morfológica e funcional, e são irreversíveis quando a agressão é suficiente para interromper as funções vitais da célula (síntese e produção de energia). A seguir, exemplos de lesões reversíveis e irreversíveis. 2.3.1 Degenerações São lesões ou processos patológicos reversíveis que ocorrem no citoplasma das células parenquimatosas decorrentes de alterações bioquímicas (aumento da absorção e/ou redução da síntese, transporte e excreção), levando ao acúmulo de substâncias obtidas na dieta. As degenerações são classificadas de acordo com a natureza da substância acumulada. Assim, temos: a) Hidrópica: quando as substâncias que se acumulam nocitoplasma das células são água e íons. Por exemplo, quando há alteração no funcionamento do transporte de eletrólitos pelos canais iônicos ou bombas eletrolíticas decorrente da falta de energia na forma de ATP ou de lesão da membrana celular; b) Hialina (do gr. hyálinos = vidro) quando a substância que se acumula é de natureza proteica, vítrea. Por exemplo, corpúsculos hialinos de Coucilman e Rocha Lima (hepatócitos em apoptose) na febre amarela; Parênquima Tecido constituído pelas células responsáveis pela função do órgão. Por exemplo, hepatócitos no fígado, miocardiócitos no coração, entre outras. UNIUBE 99 c) Mucoide: resultante da superprodução de muco pelas células mucíparas dos tratos digestivo e respiratório ou em adenomas e adenocarcinomas; d) Esteatose: quando há o acúmulo de gorduras neutras (mono, di ou triglicerídeos) nos hepatócitos, epitélio dos túbulos renais, miocardiócitos, entre outras células. Este tipo de degeneração ocorre quando há alteração no metabolismo dos ácidos graxos acarretando o aumento da síntese ou redução de sua utilização, transporte ou excreção. Por exemplo, na diabetes, na hepatite, na desnutrição proteico-calórica crônica (DPC), no alcoolismo, entre outros fatores; e) Lipidose: quando há o acúmulo de colesterol e seus ésteres nas artérias de médio e grande calibres (aterosclerose), na pele (xantomas) e em locais de inflamação crônica. Ocorre, por exemplo, na hipercolesterolemia; f) Glicogenoses: acúmulo de glicogênio nas células do fígado, rins, músculos esqueléticos e cardíaco, decorrente de deficiência enzimática relacionada ao metabolismo do glicogênio; g) Mucopolissacaridoses: acúmulos de proteoglicanos e/ou poliglicanos decorrentes de doenças metabólicas denominadas de mucopolissacaridoses. A ingestão excessiva de álcool é a causa mais frequente de esteatose hepática, também denominada de degeneração gordurosa. Veja, a seguir: – uma foto de tecido hepático com esteatose hepática, na Figura 18. 100 UNIUBE – uma imagem de artéria com lipidose (Figura 19). Figura 19: Artéria com lipidose. Figura: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 2.3.2 Morte celular Processo patológico irreversível que ocorre no organismo vivo. Há dois tipos de morte celular: a) necrose: quando a morte é seguida de autólise; Figura 18: Esteatose hepática-HE-(aumentada 40X). Fonte: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Autólise É o processo pelo qual ocorre autodigestão ou autodestruição. Normalmente, ocorre em células danificadas ou em processo de morte. UNIUBE 101 a necrose é resultante de agressões que cessam as funções vitais da célula; pode ser originada por qualquer agente lesivo (físico, químico ou biológico). O processo de autólise que ocorre na necrose é decorrente da ação das hidrolases (proteases, lipases, glicosidases, ribonucleases e desoxirribonucleases) liberadas pelos lisossomos na perda de sua integridade morfológica. As hidrolases no citosol sofrem ativação pelo cálcio citoplasmático e iniciam a digestão dos constituintes celulares. b) apoptose: quando não ocorre a autólise, mas, sim, a fragmentação das estruturas celulares e posterior fagocitose pelos macrófagos residentes. Apoptose (do gr. apo = de, ptose = cair) é a morte celular programada, na qual há expressão de genes pró-apoptóticos (c-myc, p-53, entre outros) e a síntese de proteínas da apoptose (bax, caspases, entre outras) que levam à fragmentação da célula culminando com a sua morte e posterior endocitose dos corpos apoptóticos resultantes (Veja uma imagem de um corpo apoptótico no site <http://de. wikipedia.org/wiki/Apoptose> . A apoptose ocorre tanto em situações fisiológicas quanto em patológicas. ( Quadro 2). Apoptose fisiológica: • remodelação dos tecidos (embriogênese); • controle da proliferação e diferenciação celular (por exemplo, células dos ácinos das glândulas mamárias após a lactação). Apoptose patológica: • infecções virais (vírus da hepatite B-HBV); • hipóxia; • irradiações (UV ou ionizante); • agressão química, entre outras. SAIBA MAIS 102 UNIUBE O link, a seguir, apresenta um tecido com apoptose. Observe que a seta indica o corpo apoptótico. <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4c/Apoptosis_mouseliver. jpg>. Acesso em: 29 jan. 2012. Para analisar um exemplo de apoptose, acesse o link: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4b/Morfologia_apoptose. png. Acesso em: 29 jan. 2012. PESQUISANDO NA WEB 2.3.2.1 Morfologia na necrose a) As alterações morfológicas macroscópicas da necrose dependem do fator que a causou. Assim, temos: • na isquemia: – nos órgãos de circulação terminal (rim, baço, coração, por exemplo) a área de necrose isquêmica adquire coloração pálida, torna-se tumefeita ou saliente na superfície do órgão ou do corte (Figura 20); Quadro 2: Necrose X Apoptose NECROSE APOPTOSE processo passivo processo ativo autólise celular fragmentação celular inflamação endocitose UNIUBE 103 Figura 20: Placenta apresentando área de necrose isquêmica (seta). Foto: Lílian Margareth Biagioni de Lima. – nos órgãos com circulação dupla (pulmão, intestino, cérebro, por exemplo), o sangue extravasa do vaso normal, não obstruído, gerando hemorragia na área necrosada; no encéfalo, a digestão faz com que adquira aspecto semifluido; • na tuberculose: a área necrosada adquire aspecto de massa de queijo, pálida e quebradiça (Figura 21); Figura 21: Pulmão com necrose caseosa e cavernas da tuberculose (seta). Foto: Lílian Margareth Biagioni de Lima. 104 UNIUBE • na sífilis: a área necrosada adquire aspecto de goma (Figura 22). Figura 22: Fragmentos de tecido adiposo com áreas de esteatonecrose (seta). Foto: Foto de Lílian Margareth Biagioni de Lima. b) As alterações morfológicas microscópicas da necrose, indepen- dentemente do fator, são semelhantes. São elas: • alterações do núcleo; • picnose: decorrente da contração e condensação da cromatina, o que torna o núcleo menor e bem corado pelo corante hematoxilina; • cariorrexe: fragmentação e dispersão do núcleo, tornando-o muito pequeno e pouco corado; • cariólise: ausência do núcleo dada pela sua total digestão. Acesse o link a seguir, e visualize as alterações microscópicas da necrose. <http://www.scielo.br/img/revistas/acb/v25n2/a03fig03.jpg>. PESQUISANDO NA WEB • alterações do citoplasma: • aumento da acidofilia devido à digestão das proteínas; • aspecto granuloso a amorfo. (Figura 23). UNIUBE 105 Figura 23: Necrose no tecido adiposo (seta) HE. Foto: Lílian Margareth Biagioni de Lima. 2.3.2.2 A patogenia da necrose A patogenia, ou seja, o mecanismo de ação dos agentes lesivos sobre a célula, segundo Brasileiro (2004), são • redução da produção de energia; • aumento da produção de radicais livres; • ação direta sobre as enzimas; • agressão direta à membrana citoplasmática. Reveja nos quadros 3 e 4, a seguir, os tipos de degenerações e necroses, respectivamente, bem como, os fatores responsáveis por cada tipo. PARADA OBRIGATÓRIA Quadro 3: Tipos de degenerações, os fatores e a substância acumulada Tipo de Dege- neração Fator(es) Substância acumu- lada Hidrópica alteração na função da Bomba de Na+ e K+, por exemplo na redução da produção de ATP pela célula água e íons 106 UNIUBE Quadro 4: Tipos de necrose e seus fatores Tipo de necrose Fator Necrose por Coagulação ou Isquêmica Isquemia Necrose por Liquefação Ação intensa das enzimas hidrolíticas lisossomais Necrose Lítica Hepatite viral Necrose Caseosa Resposta imune celular (Tuberculose, Paracoccidioidomicose) Necrose Gomosa Sífilis tardia ou terciária Necrose Gordurosa ou Esteatonecrose Ação das lipases (pancreatite ou traumatismos sobre o tecido adiposo) Hialina alcoolismo crônico, agentes tóxicos proteína Mucoide superprodução de muco pelas cé- lulas mucíparas (adenocarcinomas, por exemplo) muco Esteatose alteração no metabolismo dos áci- dos graxos: aumento da sínteseou redução de sua utilização, transpor- te ou excreção glicerídeos Lipidose hipercolesterolemia colesterol e seus ésteres Glicogenoses deficiência enzimática relacionada ao metabolismo do glicogênio glicogênio Mucopolissa- caridoses doenças metabólicas proteoglicanos e/ou poliglicanos UNIUBE 107 2.3.2.3 Evolução da necrose O tecido morto, por ser estranho ao organismo, estimula a resposta imune para que haja o reparo da área lesada. Assim, a evolução da necrose depende do local (órgão e tecido) e da extensão da agressão. A seguir, as principais evoluções: a) regeneração: quando é restituída a integridade morfológica e funcional do tecido lesado pela ação das células presentes na resposta inflamatória sobre o tecido não lesado. Ocorre em tecidos constituídos de células lábeis ou estáveis quanto à sua capacidade de replicação; b) cicatrização: é a substituição do tecido necrosado pelo tecido conjuntivo fibroso estimulada pelos neutrófilos e macrófagos que exsudaram. Essas células liberam fatores de crescimento para que ocorra a proliferação dos fibroblastos e das células endoteliais na área; c) calcificação: quando ocorre deposição de sais de Ca++ no tecido morto. Este tipo de calcificação é chamado de calcificação distrófica, cujo mecanismo não é totalmente conhecido; d) encistamento: quando o material necrosado é muito volumoso ou quando as células de defesa que exsudaram não conseguem chegar ao foco da lesão, a resposta inflamatória ocorre na periferia da área lesada, a qual estimula a formação de uma cápsula de tecido conjuntivo ao redor da lesão; e) eliminação: quando a área de tecido necrosado se comunica com o meio externo por estruturas canaliculares (intestino, árvore brônquica, entre outros) há a eliminação deste material, originando uma cavidade no local. Por exemplo, as cavernas tuberculosas que surgem no pulmão, na tuberculose pulmonar (Figura 21, anterior). 108 UNIUBE Veja uma foto de cicatrização no fígado (cirrose), na Figura 24, a seguir. Figura 24: Fígado com fibrose (cirrose). Foto: Lílian Margareth Biagioni de Lima. Prezado aluno, estudamos, nesse capítulo, a etiopatogênese geral das lesões, compreendendo as respostas localizadas às agressões e as respostas sistêmicas a agressões localizadas. Para aprender mais sobre os conteúdos abordados até aqui, releia este capítulo, pesquise na internet em outras fontes, refletindo sobre o que lê, anotando e comparando os pontos principais e as dúvidas que ficaram. Bons estudos! No Sistema Imunológico, conhecemos as células do sistema imune e compreendemos os mecanismos da imunidade inata e da imunidade adaptativa, além das respostas imunológicas específicas frente a infecções virais, bacterianas e fúngicas. Também foram estudados os agentes lesivos (físicos, químicos, nutricionais e biológicos) e as lesões ou Conclusão2.4 Resumo UNIUBE 109 processos patológicos decorrentes das agressões como as degenerações (hidrópica, hialina, esteatose, lipidose, mucopolissacaridoses e glicogenoses) e a morte celular (necrose e apoptose), o fator, mecanismo, morfologia, consequências e evolução de cada um desses processos. Referências ABBAS, Abul K. Imunologia celular e molecular. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo. Patologia Geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. CHOQUES-ELÉTRICOS-16. Portal São Francisco. Disponível em: <http://www. portalsaofrancisco.com.br/alfa/choque-eletrico/imagens/choques-eletricos-16.jpg>. Acesso em 29 jan. 2012. FIGURE3. Scielo. Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/acb/v25n2/ a03fig03.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2012. LEVISON, Warren; JAWETZ, Ernest. Microbiologia médica e imunologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. BARNES, Robert D; RUPPERT, Edward E. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. MONTENEGRO, Mário Rubens; FRANCO, Marcello Fabiano de. Patologia. Processos gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. TRABULSI, Luis Rachid; ALTHERTHUM, Flávio. Microbiologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de Lima Introdução Defesa e adaptação dos seres vivos Capítulo 3 Após conhecer os fundamentos e métodos de estudo do adoecimento e abordar o binômio saúde x doença, sob o aspecto biológico, iremos abordar, com mais intensidade, os mecanismos de defesa e as estratégias de adaptação do organismo diante de uma agressão. Não perca de vista o modelo dinâmico de agressão, defesa, adaptação e doença. Como ilustração de agentes agressores biológicos, daremos mais atenção, em um primeiro momento, às doenças bacterianas e às causadas por fungos (micoses), sem deixar de mencionar algumas viroses. As doenças causadas por protozoários e as verminoses serão abordadas nos próximos capítulos. Integradas a esses temas, serão abordadas as estratégias de defesa do organismo, organizadas e implementadas pelo sistema imunológico e os processos patológicos que, ao longo dos eventos estudados, configuram diferentes níveis de adaptação. Muitas das situações aqui apresentadas, você já vivenciou e certamente seus alunos também poderão vivenciar. Com os estudos propostos, você passará a compreender, sob um olhar 112 UNIUBE científico, os eventos que já experimentou e poderá auxiliar seus alunos a compreendê-los também. Todos os temas abordados neste capítulo são bastante extensos. Portanto, é necessária uma maior dedicação à leitura dos textos indicados na bibliografia. Mas, acredite, são temas muito interessantes. Temos certeza de que você terá muito prazer em estudá-los. Daremos continuidade aos nossos estudos da resposta de defesa, e, em seguida, aos processos patológicos e algumas doenças bacterianas, virais ou micóticas. Então, vamos começar! Ao finalizar os estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • entender o que é uma resposta imune adaptativa; • diferenciar resposta imune celular e humoral; • reconhecer a estrutura e funções dos anticorpos (imuno- globulinas); • descrever as principais funções efetoras dos anticorpos; • compreender o significado do Sistema complemento, suas vias e funções; • relacionar as principais citocinas e sua ação na resposta imunológica; • conhecer os fatores e os tipos da resposta inflamatória; • compreender o mecanismo da resposta inflamatória; • conhecer os sinais cardinais da inflamação; • identificar as células que participam da resposta inflamatória; Objetivos UNIUBE 113 • compreender a função das células da inflamação; • correlacionar os sinais cardinais aos fenômenos da inflamação; • conhecer as consequências da resposta inflamatória; • compreender aspectos que envolvem a hipersensibilidade imediata (alergia); • identificar doenças causadas por bactérias e mecanismos de transmissão; • reconhecer os estágios da patogênese das doenças bacterianas e sua relação com os mecanismos de defesa e adaptação. 3.1 A defesa diante dos agentes agressores 3.2 Citocinas 3.3 Imunidade aos micróbios 3.4 Defesa e adaptação: o processo inflamatório 3.5 Doenças: manifestações clínicas das respostas de defesa e de adaptação 3.6 Alergia 3.7 Conclusão Esquema A defesa diante dos agentes agressores3.1 O sistema imunológico, assim como o sistema nervoso e o sistema endócrino, participa da manutenção da homeostase. No entanto, cada um desses sistemas tem suas funções específicas. Para auxiliar a manutenção do equilíbrio do organismo, o sistema imunológico é responsável pela defesa diante de uma agressão. 114 UNIUBE Vamos, então, entender um pouco mais a respeito desses mecanismos? 3.1.1.1 Resposta imune humoral É aquela em que ocorre a participação dos anticorpos específicos, produzidos a partir da ativação dos linfócitos B. Para um melhor entendimento, apresentamos, a seguir, algumas definições: • Anticorpos (Ac) ou Imunoglobulinas (Ig): grupo de proteínas (aminoácidos ligados aaçúcares), produzidas pelos linfócitos B, nos órgãos linfoides e medula óssea, em resposta a um estímulo antigênico. • Antígeno (Ag): qualquer substância que, quando introduzida em um indivíduo imunocompetente (que não tem deficiência no sistema de defesa do organismo), é capaz de induzir resposta imune específica. • Autólise: É o processo pelo qual ocorre autodigestão ou autodestruição. Normalmente, ocorre em células danificadas ou em processo de morte. Todos os anticorpos são formados por uma unidade básica, constituída por duas cadeias pesadas (H, do inglês heavy), com aproximadamente 440 aminoácidos unidas a duas cadeias leves (L, do inglês light), com 220 aminoácidos, unidas por pontes dissulfeto. Observando atentamente a Figura 1, é possível verificar que a molécula de anticorpo é bifuncional, ou seja, tem duas regiões com funções distintas, em que o local de ligação do antígeno é conhecido como região fab. 3.1.1 Resposta imune adaptativa Como você já sabe, a resposta imune adaptativa tem ação mais lenta, ou seja, não está pronta para entrar em ação. Ao contrário, ela necessita ser ativada. Porém, é específica e possui memória imunológica. Dela participam os Linfócitos T e B, ou seja, a resposta imune celular e humoral. Fab Do inglês: fragment antigen binding, ou fragmento de ligação do anticorpo. UNIUBE 115 Figura 1: Unidade básica do anticorpo. Fonte: Acervo EAD-Uniube. É nesse local que ocorre o encaixe do anticorpo com o antígeno específico (conhecido como ligação chave-fechadura). Na região oposta, está o fragmento cristalizável, ou a região fc do anticorpo. Esse é o local responsável pela função efetora do anticorpo (sua ação na resposta imune). Os anticorpos são divididos em cinco classes ou isotipos, determinados pela sequência dos aminoácidos da cadeia pesada. As classes são: • IgG: cadeia pesada tipo gama (γ); • IgM: cadeia pesada tipo miu (μ); • IgA: cadeia pesada tipo alfa (α); • IgE: cadeia pesada tipo épsilon (ε); • IgD: cadeia pesada tipo delta (Δ). Além disso, os anticorpos possuem cadeias leves e podem ser comuns a todos os tipos de Ac. Os tipos de cadeias leves são: 116 UNIUBE Vamos conhecer um pouco a função que cada tipo de anticorpo executa na resposta imunológica? A Imunoglobulina IgG (Figura 2) é a principal classe de anticorpo e corresponde a 70% dos anticorpos totais. Pode ser isolada tanto no soro como no líquido intersticial (extravascular). Possui estrutura monomérica (composta por apenas uma unidade básica), portanto, apresenta dois sítios de ligação com o antígeno (região fab), e por ser bastante pequena, é a única classe de anticorpos que consegue atravessar a placenta, conferindo imunidade aos recém-nascidos, além de promover uma proteção mais duradoura. • tipo kappa (κ): 60%; • tipo lambda (λ): 40%. Figura 2: Imunoglobulina G. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A Imunoglobulina IgM (Figura 3) corresponde a 10% das imunoglobulinas. É encontrada somente no soro (intravascular). Possui estrutura pentâmera, cinco subunidades unidas por uma cadeia central J (do inglês, join ou junção) e, portanto, dez sítios de ligação com o antígeno. É a primeira imunoglobulina que aparece nos quadros inflamatórios agudos e a sua presença indica que o indivíduo está com a doença. UNIUBE 117 Figura 3: Imunoglobulina M. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A IgA (Figura 4) é conhecida como o anticorpo das secreções, podendo ser encontrada no leite materno, na saliva, no muco, catarro. Corresponde a, aproximadamente, 15% dos anticorpos totais e tem estrutura dímera (quatro sítios de ligação com o antígeno), sendo duas subunidades unidas por cadeia J. Possui, ainda, um componente secretor, produzido pelo epitélio da mucosa e que impede a destruição rápida do anticorpo. 118 UNIUBE Já a IgE está presente em baixa quantidade no soro. Possui estrutura monômera e, portanto, dois sítios de ligação com o antígeno. Liga-se pela região efetora (fc) na superfície de células como: mastócitos, basófilos, eosinófilos, fazendo com que essas células liberem seus grânulos. Está associada aos vermes e aos quadros alérgicos. Veja a representação da imunoglobulina E no site: <http://www.sanidadanimal.info/cursos/inmuno2/ca043.htm>. PESQUISANDO NA WEB Figura 4: Imunoglobulina A. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A imunoglobulina IgD também é encontrada em baixos níveis no soro. Possui estrutura monomérica (dois sítios de ligação com o antígeno) e possui papel importante na diferenciação de linfócitos B desafiados por antígenos. UNIUBE 119 Veja a representação da imunoglobulina D no site: <http://www.rbi.fmrp.usp.br/imunobiol/aulas/sv15115143.jpg>. PESQUISANDO NA WEB Até agora, foi possível perceber que a Imunidade Humoral é mediada por anticorpos específicos e sua função é a defesa contra micróbios extracelulares e toxinas. Ela pode ser transferida de indivíduos imunizados para não imunizados pelo soro e a diminuição da produção dos anticorpos pelo organismo está relacionada com maior susceptibilidade a infecções. Agora, que já definimos as classes de anticorpos e suas principais características, vamos conhecer as funções que podem ser desempenhadas por eles. a) Neutralização de micróbios e toxinas: é a única função efetora que depende da região fab (região que se liga ao antígeno). Os anticorpos contra micróbios e toxinas bloqueiam a ligação destes aos receptores específicos da superfície celular, ou seja, inibem ou bloqueiam a infecção. Por exemplo: • A toxina tetânica liga-se aos receptores da junção neuromuscular e inibe a transmissão, causando a paralisação. Já a toxina diftérica liga-se a receptores celulares de vários tipos de células inibindo a síntese proteica. Os anticorpos específicos ligam-se antes a essas toxinas pela região fab, impedindo que elas se liguem nas células. Portanto, neutralizam a ação da toxina. Veja a neutralização da toxina bacteriana com posterior destruição por macrófagos no site: < http://artemisacosta.blogspot.com/2008/03/sistema-imunitrio.html >. PESQUISANDO NA WEB 120 UNIUBE A imunoglobulina IgA, presente na mucosa, impede ou dificulta a aderência dos microrganismos patogênicos à mucosa, onde estes acabam sendo expelidos pelo trato intestinal ou pelo catarro. Muitas vacinas profiláticas trabalham estimulando a produção de anticorpos neutralizantes. Por exemplo: a vacina contra o vírus da poliomielite. Veja o IgA na mucosa neutralizando a bactéria no site: <http://www.rbi.fmrp. usp.br/imunobiol/aulas/sv15115143.jpg>. PESQUISANDO NA WEB b) Opsonização ou facilitação da fagocitose: função desempenhada pelas opsoninas ou substâncias que facilitam a fagocitose. São opsoninas: – a região fc da IgG; – o fragmento C3b do Sistema Complemento (sistema ativado em cascata que ajuda na função lítica dos ac). Como caso de opsonização, temos a ação no combate a bactérias encapsuladas (mais resistentes), por exemplo, as Pneumococcus, Meningococcus. Veja uma imagem de opsonização no site: <http://www.nature.com/nbt/ journal/v25/n12/fig_tab/nbt1363_F3.html>. PESQUISANDO NA WEB c) Citotoxicidade mediada por anticorpo ou ADCC (do inglês, Antibody Dependent Cell-mediated Cytotoxicity): UNIUBE 121 o anticorpo faz a ligação entre a célula-alvo (a ser destruída, por exemplo, uma célula parasitada por vírus) e a célula do sistema imune. Esta ligação pode ser mediada por IgG ou pela IgE. ADCC mediada por IgG e linfócito NK: os anticorpos IgG fazem a ligação e a célula NK libera nas proximidades da célula-alvo as perforinas: substâncias que fazem poros na membrana, aumentando a permeabilidade e as granzimas, que são enzimas que entram pelos poros e digerem a célula-alvo. Veja uma imagem de ADCC mediada por IgG e NK no site: <http://www. elsevierimages.com/image/33020.htm>. PESQUISANDO NA WEB ADCC mediada por IgE e eosinófilos: importante no combate aos vermes. A IgE se liga pela região fab (sítio de ligação como antígeno) ao verme e pela região efetora com o eosinófilo, promovendo a degranulação ou a liberação do conteúdo dos grânulos que lesam o verme ajudando a sua destruição. d) Ativação do Complemento: os anticorpos das classes IgM e IgG, quando ligados a seus respectivos antígenos são capazes de ativar a via clássica do sistema complemento (que necessita do complexo antígeno-anticorpo para ser ativada). e) Funções efetoras em sítios anatômicos específicos: podemos citar a imunidade neonatal, em que ocorre a transferência passiva da IgG pela placenta e, durante o aleitamento, a transferência tanto da IgA (ação de neutralização: tubo digestivo), quanto da IgG, que é absorvida e circulante. 122 UNIUBE 3.1.1.2 Resposta imune celular É aquela que ocorre com a participação dos linfócitos T e que age contra os micróbios intracelulares, como alguns patógenos que sobrevivem dentro de fagócitos ou outras células do hospedeiro. Participa nos processos de rejeição a transplantes e no combate a células malignas que surgem devido a mitoses anormais e que, se não forem combatidas, podem originar tumores. Como faz parte da imunidade adaptativa, ela precisa ser ativada e isso ocorre quando o antígeno é processado e apresentado por uma célula apresentadora de antígenos para o linfócito T. Vamos entender alguns conceitos: • Célula apresentadora de antígeno (CAA): principais organizadoras da resposta imune são as responsáveis por apresentar o Ag para os linfócitos T. São exemplos de células CAA: os macrófagos e as células dendríticas. • Sistema HLA (Human Leucocitary Antigen) ou Sistema MHC (Major Histocompatibility Complex) ou ainda Complexo Principal de Histocompatibilidade: composto de moléculas proteicas presentes na membrana de todas as células nucleadas e que são codificadas por um grupo de genes presentes no braço curto do cromossomo 6. Você já ouviu que, para uma pessoa receber a doação de um órgão, ele tem que ser compatível ou então ocorre a rejeição do mesmo, não ouviu? Antigamente, pensava-se que só o tipo sanguíneo era importante. Porém, hoje, sabe-se que são esses genes do MHC ou HLA os grandes responsáveis, isso porque é muito difícil duas pessoas terem a mesma combinação desses genes, até entre parentes próximos. A exceção são os gêmeos monozigóticos. Temos dois tipos de Sistema MHC ou HLA: 1. MHC I ou HLA I: genes A, B, C → presentes em TODAS as células nucleadas; 2. MHC II ou HLA II: genes DR, DP, DQ → presentes em: CAA (macrófagos, células dendríticas), linfócitos B e linfócitos T ativados. UNIUBE 123 3.1.2 Passo a passo da ação resposta imune adaptativa Agora, vamos entender passo a passo como age a resposta imune adaptativa: 1. o antígeno que escapou da Resposta Imune Inata é fagocitado por uma CAA; 2. esse antígeno é internalizado, fragmentado e processado nessa CAA; 3. peptídeos (pequenos pedaços) do Ag são expressos na molécula HLA II (MHC II) (que estão presentes na CAA); 4. ocorre, então, a interação com receptor do linfócito T CD4 (T auxiliar); 5. o linfócito T auxiliar (Ta) que foi ativado sofre expansão clonal (cria várias cópias) e começa a agir; 6. Ta ativa o linfócito B→ plasmócitos → produção de Ac específicos; 7. Ta ativa macrófagos, aumentando o poder microbicida (lembre-se de que os macrófagos na inata agem sempre da mesma maneira); 8. Ta ativa TCD8 (T citotóxico: Tc), responsável por checar as células do organismo, reconhecendo o próprio e o não próprio (pelo HLA I ou MHC I): reconhece e destrói; • células infectadas; • células transplantadas; • células malignas. 9. Os Tc liberam perforinas e granzimas que destroem a célula-alvo (o que reconhece como não próprio). As principais características da Resposta Imune Adaptativa são: • Especificidade: são específicos para antígeno distintos. Capacidade de reconhecer e reagir a determinada molécula. SINTETIZANDO... 124 UNIUBE Como podemos perceber, o antígeno A e o antígeno B induzem a produção de diferentes anticorpos (especificidade), sendo que a resposta secundária ao antígeno A é mais RÁPIDA E AMPLA do que a resposta primária (memória). 3.1.3 O Sistema Complemento O Sistema Complemento é composto por cerca de vinte diferentes glicoproteínas que circulam de forma inativa no sangue e que, durante a ativação, em um sistema tipo cascata (sequencial), adquirem capacidade proteolítica (uma enzima atua sobre a outra). O Sistema Complemento é um dos maiores mecanismos efetores da Resposta Imune Humoral e um importante mecanismo da Imunidade Inata. O nome Sistema Complemento se deve aos experimentos de Jules Bordet. No experimento, ele observou que: • soro fresco (37ºC) contendo um anticorpo antibacteriano + bactérias (Ag) = lise das bactérias; • soro (aquecido a 56ºC) contendo um anticorpo antibacteriano + bactérias = bactérias NÃO eram lisadas. Portanto, como os anticorpos são termoestáveis, a perda da capacidade de lisar a bactéria deveria ser compensada/complementada por outro componente não-estável ao aquecimento e que seria responsável por ajudar ou complementar a função lítica dos AC. Daí o nome Sistema Complemento. • Memória: capacidade de voltar a reconhecer e reagir rapidamente a esta molécula, quando ela (a molécula antígeno) for reintroduzida no organismo. • Diversidade: o repertório linfocitário (o número de especificidades antigênicas dos linfócitos de um indivíduo) é extremamente grande. UNIUBE 125 3.1.3.1 Vias de ativação Via Clássica: – depende da reação antígeno-anticorpo para ser ativada (IgM ou IgG); – inicia em C1, passando por C3, podendo ou não chegar até C9; – participa da Imunidade Adaptativa. Via Alternativa: – ativada a partir de superfícies estranhas ao organismo, como parede bacteriana, superfície de vírus, vermes; – inicia em C3 (molécula instável que se quebra espontaneamente), podendo ou não chegar até C9; – participa da Imunidade Inata. 3.1.3.2 Principais funções biológicas • Promover a resposta inflamatória: participam dos quadros inflamatórios agudos com a geração de anafilatoxinas: componentes C3a e C5a: promovem a degranulação de basófilos e mastócitos, ativam macrófagos e neutrófilos e têm ação quimiotática (atraem fagócitos). • Facilitar a fagocitose: componente C3b: opsonina. • Promover a lise celular direta: componente C9 (MAC: complexo de ataque à membrana). 3.1.3.3 Mecanismos de controle O mecanismo de controle envolve a inativação do componente C3b por proteínas regulatórias presentes nas células normais do organismo. O componente C3 se quebra em C3a (que se junta ao Fator I=inativo) e em C3b livre que se junta ao Fator H (circulante) e se transforma em C3d=inativo e incapaz de prosseguir com a cascata. 126 UNIUBE As citocinas são moléculas peptídicas, compostas por poucos aminoácidos, secretadas pelas células da resposta imune inata e adaptativa e que são importantes mediadoras (fazem a comunicação entre as células, estimulando ou inibindo) e reguladoras da resposta inflamatória e da resposta imunológica. Compreendem um grupo muito numeroso, representado pelas interleucinas, os interferons, fatores estimuladores de colônia, fator de necrose tumoral, quimiocinas, entre outros. A produção das citocinas é um evento breve e autolimitado e elas atuam se ligando a receptores específicos na superfície da membrana celular. 3.2.1 Propriedades gerais das citocinas a) Ação local • autócrina: quando a citocina atua sobre a própria célula que a produziu (estimulando ou inibindo); • parácrina: quando a citocina atua sobre as células vizinhas daquela que a produziu. b) Ação sistêmica ou endógena: quando a citocina produzida em maior quantidade entra na corrente sanguínea e atua em células distantes daquela onde foi produzida. c) Ação pleitrópica: quando uma citocina atua em diferentes tipos de células, mediando diferentes tipos de ações biológicas. d) Ação redundante: quando duas ou mais citocinas produzem o mesmo efeito biológico.Citocinas 3.2 UNIUBE 127 3.2.2 Citocinas que atuam na resposta imune inata a) TNF α: fator de necrose tumoral alfa: principal mediador da resposta inflamatória aguda a bactérias Gram-negativas. Principal fonte: macrófagos ativados. • ação local: quimiotaxia: essas citoci- nas promovem a ativação e a atração de neutrófilos e macrófagos para o local da infecção; • ação sistêmica: quando produzidas em quantidade moderada, podem cair na circulação e agir no hipotálamo, onde atuam como pirógeno endógeno, tendo como resultado a febre; podem agir no fígado, estimulando a produção das proteínas de fase aguda e quando produzidas em quantidades moderadas, mas por períodos prolongados, já são observados efeitos prejudiciais como: emagrecimento progressivo, alterações metabólicas, perda de massa muscular e de células de gordura, consequentemente, quando são produzidas em gran- de quantidade em infecções graves, as ações são deletérias com diminuição do tônus muscular e das contrações cardíacas, diminuição da pressão arterial e choque séptico, além de estimular a formação de trombos. b) IL-1: Interleucina 1: a principal fonte se refere aos macrófagos ativados por diferentes agentes infecciosos. É um exemplo de redundância, pois possui os mesmos efeitos do TNF (ação local de quimiotaxia, sistêmica, com febre e aumento das proteínas de fase aguda). Porém, não possui as ações deletérias do choque séptico. c) Quimiocinas ou citocinas quimiotáticas: com mais de 50 já identificadas, suas principais fontes são os leucócitos e as células endoteliais. Promovem a migração direcionada de neutrófilos, monócitos, para o local da infecção. Quimiotaxia É o nome dado ao processo de locomoção de células em direção a um gradiente químico. É o processo que permite a migração dos leucócitos aos locais de agressão no organismo. 128 UNIUBE 3.2.3 Citocinas que atuam na resposta imune adaptativa a) IL-2 (interleucina 2): a principal fonte é o linfócito T auxiliar (Ta) ativado: • ação autócrina: atua no Ta ativado, estimulando a sua expansão clonal, o que é importante na indução da resposta imune adaptativa; • ação parácrina: atua nos linfócitos B, estimulando sua expansão clonal e a produção dos anticorpos específicos; atuam no linfócito T citotóxico (Tc), aumentando a sua capacidade citotóxica (reconhecimento e destruição do não próprio). b) INF γ (interferon gama): fonte: linfócito Ta1. É a principal citocina da via Ta1. Aumenta o poder microbicida do macrófago. Atua, também, no linfócito B estimulando a produção de IgG e no Tc, aumentando a sua capacidade. c) IL-4 (interleucina 4): sua principal fonte são os linfócitos Ta2. É a principal citocina da via Ta2. Sua ação autócrina estimula a expansão clonal e a parácrina está relacionada com a estimulação dos linfócitos B para a produção da IgE, além de inibir a ação dos macrófagos. d) INF tipo 1 (α e β): Interferons do tipo 1: suas principais fontes são as células infectadas por vírus. Possuem ação parácrina, induzindo um estágio antiviral nas células vizinhas (bloqueiam enzimas necessárias para a replicação viral, por exemplo). e) IL-10: Interleucina 10: suas principais fontes são os macrófagos ativados. É um exemplo de citocina de ação reguladora e parácrina, pois bloqueiam a ativação dos macrófagos, impedindo uma superestimulação. f) IL- 12: Interleucina 12: as principais fontes são os macrófagos e as células dendríticas. São importantes mediadores da resposta inata a micróbios e a chave da indução da resposta imune adaptativa. UNIUBE 129 d) IL-5 (interleucina 5): as fontes são os linfócitos Ta2. Estimulam a proliferação, maturação e ativação de eosinófilos. e) TGF β (fator de crescimento tumoral beta): suas fontes são os Ta2. Sua ação está associada à inibição de macrófagos e linfócitos. Em estímulos antigênicos crônicos, dois padrões de citocinas produzidas pelo linfócito Ta estão bem estabelecidos: • Ta1: IL-2, INF γ • Ta2: IL-4, IL-5, TGF β O que diferencia é a produção de IL-12 pela célula apresentadora de antígeno durante a apresentação, em que é importante a natureza do antígeno que está sendo apresentado (por exemplo: bactérias têm maior poder de estimulação, já vermes e alérgenos não estimulam) além das características genéticas e imunológicas próprias do hospedeiro. Funções efetoras do Ta1 e Ta2: • Ta1: importantes no combate a: – bactérias intracelulares (Mycobacterium tuberculosis, Mycobac- terium leprae): produção de INF γ, aumentando o poder microbicida do macrófago; – vírus e outros parasitas intracelulares (Trypanosoma cruzi na fase crônica, por exemplo), aumentando o reconhecimento pelo Tc. • Ta2: importantes no combate a vermes: produção de IL-4 e IL-5 com aumento da IgE e eosinófilos. Além disso, bloqueiam a ação dos macrófagos e da via Ta1. Imunidade aos micróbios3.3 Neste capítulo, estamos estudando alguns tipos de microrganismos e as respectivas doenças por eles causadas. Vamos, então, aprofundar 130 UNIUBE o nosso conhecimento, entendendo como o sistema imunológico age na tentativa de proteger o hospedeiro contra essas infecções e como os microrganismos, muitas vezes, conseguem resistir ou evadir dos mecanismos efetores do sistema imune. 3.3.1 Imunidade aos vírus Sabemos que os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que se replicam dentro das células, usando o ácido nucleico (DNA ou RNA) e proteínas dessas. Outra característica é que são específicos: usam moléculas da superfície celular como receptores para entrar na célula. A replicação viral interfere na síntese de proteínas e na função, causando injúria e morte da célula infectada, ou doenças conhecidas por viroses. Um sistema imune competente começa a combater os vírus a partir do momento em que ele invade o hospedeiro. Essa imunidade pode ser de dois tipos: a) imunidade inata aos vírus: o principal mecanismo ocorre pela inibição da infecção pela liberação de INF tipo 1 pelas células infectadas que irão induzir um estágio antiviral nas células vizinhas (ação parácrina das citocinas), diminuindo a capacidade de replicação viral e a participação dos linfócitos NK, que lisam o alvo liberando as perforinas e granzimas; b) imunidade adaptativa aos vírus: quando eles estão no meio extracelular, a imunidade é mediada por anticorpos: neutralização, opsonização, ativação da via clássica do sistema complemento. Já, quando se encontram no meio intracelular, é mediada principalmente pelo Tc, que por meio do MHC I reconhece e mata células infectadas. O sistema imune conta com vários mecanismos para combater os vírus, mas, mesmo assim, o que observamos na prática é que os indivíduos UNIUBE 131 continuam a adoecer. Isso porque os vírus têm seus mecanismos de evasão, tais como: • a capacidade de alterar seus antígenos por mutação; • incorporar material genético do seu hospedeiro; • inibir a apresentação associada ao MHC I; • produzir moléculas que são semelhantes às do hospedeiro, inibindo a ativação da resposta imune inata e adaptativa; • são capazes de infectar e lisar ou inativar células do sistema imunológico (Ex.: vírus HIV, que sobrevive eliminando Linfócitos TCD4). 3.3.2 Imunidade a bactérias extracelulares As bactérias extracelulares são capazes de se replicar fora da célula do hospedeiro: na circulação, nos tecidos conjuntivos, nas vias aéreas e na luz intestinal, por exemplo, e a patogenicidade ocorre por diferentes mecanismos, como a indução da inflamação com destruição do tecido e a produção de toxinas que podem causar diversos efeitos patológicos no hospedeiro. Também podem ser de dois tipos: a) imunidade inata a bactérias extracelulares: a própria composição da parede, peptideoglicano nas Gram-positivas e o LPS das Gram-negativas, ativam a via alternativa do Sistema Complemento e, como resultado, temos o componente C3b, que é uma opsonina, substância que facilita a fagocitose e o C9, que forma o complexo deataque à membrana (MAC), que lisa a bactéria. Além disso, a ligação dos fagócitos em receptores específicos da bactéria promove a sua fagocitose. Por fim, a resposta inflamatória, estimulada por produtos da própria bactéria, é capaz de ativar macrófagos que liberam citocinas como: TNF, IL-1, e quimiocinas, importantes por atrair células inflamatórias para o sítio da infecção. Portanto, contra as bactérias extracelulares, a resposta imune inata é bastante importante com ativação de vários mecanismos 132 UNIUBE diferentes e, se mesmo assim, a bactéria não for destruída, a imunidade adaptativa entra em ação. b) imunidade adaptativa a bactérias extracelulares: a resposta imune humoral, com a produção de anticorpos contra antígenos da parede bacteriana ou contra as toxinas secretadas, é importante e age por diferentes mecanismos: neutralização, opsonização, ativação da via clássica do sistema complemento. Outro mecanismo é o aumento do poder microbicida do macrófago, ativado pela liberação de INF γ pelo Ta. Apesar disso, as bactérias muito virulentas, encapsuladas, por exemplo, têm maior resistência. Outro mecanismo de escape relatado na literatura é a capacidade de alterar seus antígenos de superfície, dificultando a ação específica dos anticorpos. 3.3.3 Imunidade a bactérias intracelulares As bactérias intracelulares são aquelas capazes de sobreviver e multiplicar no interior dos fagócitos e, portanto, requerem mecanismos mais elaborados para a sua eliminação. Como exemplos, temos: Mycobacteria tuberculosis (causa tuberculose), Mycobacteria leprae (causa a lepra), Listeria monocytogenes (listeriose), entre outras. Dividem-se em: a) imunidade inata a bactérias intracelulares: apesar de os fagócitos (macrófagos, neutrófilos) realizarem a fagocitose e o linfócito NK produzir INF γ, que aumenta o poder dos macrófagos, a imunidade inata pode limitar o crescimento bacteriano por algum tempo, mas geralmente não é eficiente o bastante para erradicar o microrganismo, necessitando para tanto da Resposta Imune Adaptativa; UNIUBE 133 b) imunidade adaptativa a bactérias intracelulares: o principal mecanismo é o mediado por células e compreende o aumento do poder microbicida do macrófago, pela produção de INF γ pelo Ta e a ativação do Tc, que reconhece e destrói células parasitadas. Os mecanismos de evasão estão associados ao bloqueio da produção de citocinas, como o INF γ e o bloqueio da ativação do Ta. Geralmente essas bactérias resistem muito tempo dentro dos fagócitos e são de difícil erradicação. 3.3.4 Imunidade aos fungos As infecções por fungos, as micoses, são bastante importantes e frequentes. Podem ser endêmicas, quando causadas por esporos presentes no ar e que são inalados ou oportunistas, quando se instalam em um organismo imunodeprimido por outra situação (outro microrganismo patogênico; uso de drogas imunossupressoras; indivíduos em tratamento quimioterápico etc.). Diferentes tipos de fungos podem causar doenças e eles podem ser encontrados no meio extra ou intracelular. Essa imunidade pode se apresentar de duas maneiras: a) imunidade inata aos fungos: os fagócitos são os principais agentes, com a liberação de substâncias fungicidas ou por fagocitose e destruição do fungo; b) imunidade adaptativa aos fungos: a imunidade mediada por células é o principal mecanismo pela produção de INF γ pelo TCD4 e ativação do Tc (TCD8). Defesa e adaptação: o processo inflamatório3.4 Dando continuidade aos estudos, vamos compreender a reação inflamatória (inflamação), ou seja, as respostas inespecíficas e 134 UNIUBE Veja uma lesão apresentando os sinais cardinais da inflamação no site: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5f/Abszess.jpg>. Acesso em: jan. de 2012. PESQUISANDO NA WEB Havendo uma agressão, o combate ao agente lesivo entra em ação. Existem células nos tecidos, que liberam substâncias capazes de provocar dilatação das arteríolas da região com o aumento de sua permeabilidade, promovendo a saída de líquido e células do vaso. Assim, surge a vermelhidão (eritema), o inchaço (edema), o aumento da temperatura (febre) e a dor no local, sendo o conjunto de alterações conhecido como inflamação. Essas substâncias “vasoativas” ainda atraem as células de defesa, como neutrófilos e macrófagos, para a área afetada. específicas do organismo frente às agressões sejam elas físicas, químicas ou biológicas. Inflamação ou flogose (do grego=phlogos e do latim=inflamare), derivado de "flogístico" que, em grego, significa "queimar, pegar fogo”. A inflamação desde a Antiguidade, 50 a.C., na Roma antiga, já se caracterizava pelos sinais observáveis a olho nu e pelos sintomas, sendo chamados “sinais cardinais da inflamação” , sendo eles: calor, rubor, tumor, dor. Virchow (patologista alemão), no século XIX, acrescentou um quinto sinal: perda da função. Substância vasoativa É aquela que tem efeito sobre a musculatura vascular relaxando-a ou contraindo-a. UNIUBE 135 Segundo Brasileiro (2004), inflamação é uma reação dos tecidos vascularizados à agressão, caracterizada pela saída de líquidos e de células do sangue para fora do vaso (Figura 5) e por fenômenos que se sucedem ou coexistem. Figura 5: Esquema simplificado da inflamação. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 136 UNIUBE Histórico da inflamação: • Em 1794 John Hunter, descreveu o processo macroscopicamente. • Cohein, no século XIX, mostrou, experimentalmente, a saída de líquido e de células do vaso, após a irritação da pele de rã. No início do século XX, Barger e Dale (1910) e Lewis (1927) descobriram o primeiro mediador químico da inflamação: a histamina. IMPORTANTE! 3.4.1 Classificação da inflamação 3.4.1.1 Quanto ao tempo de evolução • Aguda: dias a meses. • Crônica: meses a anos. 3.4.1.2 Quanto à etiologia Induzida por agentes: físicos, químicos, biológicos e reação imunológica. 3.4.1.3 Quanto ao fenômeno predominante • Exsudativa. • Necrótico-degenerativa. • Produtivas-reparativa. 3.4.2 Células do exsudato inflamatório Leucócitos são as células de defesa do nosso organismo, originadas da medula óssea a partir de mieloblastos (Figura 6). UNIUBE 137 Figura 6: Leucócitos no exsudato inflamatório agudo. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 3.4.2.1 Tipos de leucócitos Polimorfonucleares (PMN): células fagocitárias com núcleo segmentado. Exemplos: neutrófilos (PMNN) (Figura 7), basófilos e eosinófilos. Figura 7: Neutrófilo. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 138 UNIUBE • Mononucleares (MN): células com núcleo único. Sendo exemplos: monócitos e linfócitos (Figura 8). Figura 8: Linfócito. 3.4.3 Fenômenos da inflamação 3.4.3.1 Fenômeno irritativo Caracterizado pela agressão (irritação) e liberação de mediadores químicos (serotonina, histamina, entre outras), pelas células lesadas, tais como: mastócitos (do tecido conjuntivo), terminações nervosas sensitivas, endoteliais, monócitos, macrófagos, neutrófilos, linfócitos, células parenquimatosas ou do estroma (Figura 9). UNIUBE 139 Figura 9: Fenômeno irritativo da inflamação. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 3.4.3.2 Fenômeno vascular Caracterizado por modificações hemodinâmicas da microcirculação pela ação neural e de mediadores químicos, liberados na área, tais como: • vasoconstricção arteriolar (3-5”) (estímulo neurogênico); • vasodilatação (hiperemia): ação dos mediadores químicos (serotonina, subs- tância P das terminações nervosas, leu- cotrienos, prostaglandinas E – PGE1; PGE2, fator ativador de plaquetas – PAF e pro- vavelmente por fatores vasoativos produ- zidos no endotélio, NO e prostaciclina); Vasoconstricção É o processo de contração dos vasos sanguíneos, em consequência da contração do músculo liso presente na parede dos mesmos. Hiperemia É um aumento do volume de sangue circulante num determinado local, ocasionado pelo aumento do calibre e do número de vasos sanguíneos funcionais.140 UNIUBE • aumento da permeabilidade vascular: formação de poros interendoteliais pela contração do citoesqueleto das células do endotélio, decorrente da ação isolada dos mediadores químicos (histamina e bradicinina) ou por ativarem PMN a liberar substâncias vasoativas ou, ainda, atuando conjuntamente com a PGE2. Veja imagens sobre o fenômeno vascular da inflamação, na Figura 10. Figura 10: Fenômeno vascular (vasodilatação e aumento da permeabilidade). Fonte: Acervo EAD-Uniube. 3.4.3.3 Fenômeno exsudativo (Do latim exsudare = passar através de) caracterizado pela saída de líquido e células do lúmen vascular, decorrentes do fenômeno vascular, sendo eles: exsudação plasmática: saída de plasma rico em proteínas para o interstício devido ao aumento da permeabilidade do vaso, originando o edema (Figura 11); UNIUBE 141 Figura 11: Edema na luz alveolar pulmonar (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. exsudação celular: saída de células de defesa (polimorfonucleadas/ PMN e mononucleadas/MN) devido ao aumento da permeabilidade do vaso. A exsudação celular (migração celular) é precedida da marginação leucocitária, adesão ao endotélio, rolamento e diapedese. 3.4.3.4 Fenômeno alterativo ou degenerativo-necrótico Caracterizado pela presença de degeneração e/ou morte celular (necrose) (Figura 12) na área lesada, decorrente da: • ação direta (agente lesivo); • ação indireta (células de defesa, resposta imune) Figura 12: Tecido placentário com necrose coagulativa (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 142 UNIUBE 3.4.3.5 Fenômeno produtivo Transformação morfológica e funcional das células do exsudato após saírem para o interstício. Por exemplo: monócitos transformados em macrófagos, linfócitos em blastos (Linfócitos T) ou em plasmócitos (Linfócitos B). 3.4.3.6 Fenômeno reparativo Caracteriza-se pela neoformação conjuntiva e vascular no tecido lesado pela ação das células do exsudato ativadas levando a sua regeneração ou a sua cicatrização. Você sabia que Quimiotaxia é o nome dado ao processo de migração dos leucócitos até o foco da agressão e que é mediado por substâncias quimiotáticas, dentre elas: substância P, citocinas, leucotrienos e as quimiocinas? SAIBA MAIS 3.4.4 Fenômenos x sinais cardinais da inflamação • Fenômeno irritativo/ degenerativo necrótico (destruição tecidual): dor. • Fenômeno vascular (vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo): calor e rubor. • Fenômeno exsudativo plasmático (decorrente do aumento da permeabilidade vascular = edema): tumor e dor. Como o surgimento e a evolução da inflamação requerem a ação de mediadores de forma sinérgica ou antagônica, liberados na área da lesão Exsudato Fluidos que passam através das paredes vasculares em direção aos tecidos adjacentes. Estes fluidos contêm células, proteínas e materiais sólidos. O exsudato pode escoar de incisões ou locais onde haja inflamação ou infecção. Vasodilatação É o processo de dilatação dos vasos sanguíneos, em consequência do relaxamento do músculo liso presente na parede dos mesmos. UNIUBE 143 em diferentes momentos do processo patológico, estudaremos, a seguir, o papel de alguns deles. 3.4.5 Mediadores da resposta inflamatória São substâncias que desencadeiam e controlam a resposta inflamatória. São encontradas no plasma, no interior de células dos tecidos e são sintetizadas durante o processo inflamatório. São elas as aminas vasoativas. As representantes são histaminas e serotoninas. Elas são responsáveis pela vasodilatação e pelo aumento da permeabilidade vascular que ocorre no início do processo inflamatório. A histamina se encontra no interior dos lisossomas dos mastócitos, basófilos e plaquetas e a serotonina, em plaquetas. Os sistemas plasmáticos participam da reação inflamatória de forma inter-relacionada. São eles: • sistema de coagulação: responsável pela coagulação do sangue pelas vias intrínseca e extrínseca e por inibir a expansão do agente lesivo, representado pelos fibrinopéptides; • sistema fibrinolítico: também denominado sistema plasminogênio/ plasmina é o responsável pelo controle da formação do trombo intravascular e da dissolução dos trombos já formados. É composto por proteases séricas e inibidores que regulam a geração de plasmina, uma enzima ativa produzida a partir de uma pró-enzima inativa (plasminogênio) que tem por função degradar a fibrina; • sistema de cininas: ativa as alterações vasculares (vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular) sendo seus principais representantes a plasmina e a bradicinina, responsáveis pela dor na inflamação; • sistema complemento: já estudado anteriormente, é constituído de mais de 30 proteínas que se ativam em cascata, pelas vias clássica e alternativa, tendo como principais funções a defesa frente às infecções por micro-organismos, a eliminação dos complexos antígeno-anticorpos, da circulação, atuando como mediadores inflamatórios. 144 UNIUBE Caro(a) aluno(a), como citado, anteriormente, de acordo com o tempo de evolução e, consequentemente, das características morfológicas, as inflamações podem ser denominadas agudas ou crônicas. 3.4.6 Inflamação aguda É a primeira resposta do organismo à agressão. Nesse tipo de inflamação, os fenômenos exsudativos são responsáveis pela neutralização e destruição do agente lesivo. “Os PMNNs são as células responsáveis pela fagocitose, digestão e remoção desses agentes. A inflamação aguda é de rápida resolução: até no máximo 12 semanas” (BRASILEIRO, 2004, p.161), com presença dos sinais cardinais e, mesmo com grande destruição tecidual, ela tem cura, mas com cicatriz. Possui as seguintes características • duração: horas a dias; • fenômenos predominantes: predomínio dos fenômenos exsudativos (plasmático e celular). O exsudato plasmático é semelhante ao plasma. É rico em proteínas e outras macromoléculas o que o diferencia do transudato, que é consequente do aumento da pressão hidrostática ou da diminuição da pressão oncótica (hipoproteinemia da desnutrição) não acompanhada do aumento da permeabilidade vascular, não contendo, portanto, moléculas de alto peso molecular; • componente celular do exsudato: Polimorfonucleares Neutrófilos (PMNNs) predominam nas primeiras 24-48h após a agressão. Depois desse intervalo, migram os Mononucleares (MNs) sendo os monócitos os primeiros a migrarem e que passam a ser denominados de macrófagos após a sua ativação nos tecidos e, a seguir, migram os linfócitos. Transudato Fluídos séricos que passam pelas membranas celulares sem conteúdo inflamatório (células, proteínas, entre outros), por força de aumento da pressão sanguínea ou da redução da pressão oncótica sanguínea. UNIUBE 145 3.4.6.1 Classificação das inflamações agudas A inflamação aguda, de acordo com a característica do exsudato, é classificada em: • inflamação serosa: observada principalmente nas membranas serosas (pleurite) ou mucosas (rinite), o exsudato é um líquido de coloração amarelo-citrino, levemente turvo, contendo albumina, PMNs e hemácias. As bolhas que se formam na pele, em consequência de agressões como queimaduras, são exemplos de inflamação serosa. Úlcera é uma forma de inflamação decorrente da perda de tecido em superfícies como pele ou mucosas, em consequência de traumatismos, toxinas bacterianas (Shigellas) ou ácidos. IMPORTANTE! • inflamação fibrinosa: observada principalmente em serosas e mucosas, o exsudato é rico em proteínas plasmáticas, inclusive fibrinogênio. O fibrinogênio, em contato com o interstício, forma fibrina, que depositado nas superfícies, forma, às vezes, camadas espessas. Exemplo: pericardite fibrinosa. Veja uma inflamação fibrinosa aguda (pericardite fibrinosa), no site: <http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/images/pericard2A.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2012. PESQUISANDO NA WEB • inflamação pseudomembranosa: é uma inflamação fibrinosa com necrose de segmentosmais ou menos profundos da mucosa, em consequência do depósito de fibrina na superfície necrótica, formando o que se chama de “pseudomembrana”. Ocorre na difteria ou crupe. 146 UNIUBE Figura 13: Reação inflamatória purulenta no dedo indicador. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Outros tipos de inflamação purulenta: • pústula; • furúnculo; • carbúnculo; • abscesso; • flegmão. • inflamação purulenta ou supurativa: surge em qualquer órgão ou tecido. Caracteriza-se pela presença de grande número de neutrófilos que formam o pus. O pus é formado pela necrose que se instala na área resultante da digestão dos agentes lesivos e dos tecidos infectados, como também das próprias células do exsudato, tais como neutrófilos, macrófagos e eosinófilos (Figura 13). Acesse o link a seguir e visualize um abscesso submandibular. <http://www.scielo.br/img/revistas/jbpml/v43n5/a12fig01.gif>. PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 147 Conheça um exemplo de furúnculo no link: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/10/Furoncle.jpg>. PESQUISANDO NA WEB Você sabia que a acne (Figura 14), observada na pele do rosto de alguns adolescentes, é o resultado da invasão dos folículos pilosos por bactérias piogênicas (produtoras de pus)? CURIOSIDADE Figura 14: Acne vulgaris. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 3.4.6.2 Evolução da inflamação aguda • Resolução ou regeneração: quando o agente lesivo é eliminado, a arquitetura e a função fisiológica tissular normal são restabelecidas. 148 UNIUBE • Cicatriz: se a lesão for irreversível, a arquitetura normal do tecido é substituída por uma cicatriz (substituição das células lesadas pelo tecido conjuntivo) ou denominada neoformação conjuntivo-vascular. • Linfadenite: decorrente da reação nos linfáticos e linfonodos que drenam o tecido afetado pela infecção bacteriana. Lesão grave provoca linfagite (se for por Streptococcus, chama-se erisipela) e linfadenite. • Inflamação crônica: persistência da reação inflamatória quando não há resolução da agressão sofrida. 3.4.7 Inflamação crônica A inflamação crônica é resultante de infecções persistentes, irritação prolongada, respostas imunes celulares, resposta inflamatória aguda defectiva, entre outras. Difere da inflamação aguda pela sua duração, pela ausência ou pouca evidência dos sinais cardinais da inflamação e pela destruição tecidual. Segundo Montenegro e Franco (1999, p. 129), suas características estão na dependência do agente lesivo, se este é ou não antigênico: • se for causada por agentes antigênicos (biológicos), o exsudato será constituído principalmente de linfócitos e macrófagos, ocorrendo também a proliferação de vasos, fibroblastos e deposição de colágeno se houver morte celular; • se for causada por um corpo inerte como gravetos, vidro, metal, entre outros, de difícil eliminação, o exsudato será progressivamente rico em linfócitos e macrófagos que fundem seus citoplasmas formando sincícios(células gigantes) na tentativa de eliminar o corpo estranho. Linfadenite A inflamação de um ou mais linfonodos consequente a infecções bacterianas. Linfagite É a inflamação dos vasos linfáticos consequente a infecções bacterianas. UNIUBE 149 Nesse tipo de inflamação, coexistem os fenômenos vasculares, exsudativos e reparativos. Podem ser específicas ou inespecíficas. As inflamações crônicas específicas são também denominadas inflamações granulomatosas. 3.4.7.1 Características gerais da inflamação crônica • Duração: de meses (acima de seis meses) a anos. • Fenômenos predominantes: vascular, exsudativo (plasmático e celular), produtivo e reparativo. Os componentes celulares do exsudato são predominantemente células Mononucleares (MNs), como os macrófagos, linfócitos e plasmócitos que passam a apresentar sobrevida aumentada. As células exsudadas, neste tipo de inflamação, podem sofrer várias modificações morfológicas e funcionais. Ao conjunto dessas modificações, dá-se o nome de Fenômenos Produtivos da inflamação. Os monócitos exsudados são os que mais sofrem modificações transformando-se em macrófagos com maior poder fagocitário e microbicida. Os macrófagos produzem radicais livres e excretam enzimas, causando lesões no tecido; induzem à neoformação conjuntivo-vascular cicatricial (tecido de granulação) (Figura 15), por produzirem e liberarem na área fatores de crescimento para endotélio e fibroblastos. Porém, outras células podem estar presentes no exsudato. Os PMNs estarão presentes se tiver ocorrido destruição tecidual acentuada e eosinófilos, nas inflamações induzidas por helmintos. Neoformação Formação de um tecido novo no seio de um tecido já diferenciado. 150 UNIUBE Figura 15: Tecido de granulação. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. • Inflamação Crônica Granulomatosa É um tipo especial de inflamação crônica, descrita por Virchow (patologista alemão), há mais de um século. Ocorre em resposta a agentes biológicos de difícil eliminação, como bactérias, parasitas e fungos e à presença de agentes inertes insolúveis, tais como talco, fios de sutura, entre outros ou, ainda, a agressões autoimunes, neoplásicas, entre outras. Esse tipo de inflamação se caracteriza pelos leucócitos exsudados apresentarem agregados celulares organizados, especialmente macrófagos, formando pequenas coleções, de 0,5 a 2,0mm de diâmetro, que recebem o nome de granuloma (Figura 16). Granuloma É a formação de uma estrutura microscópica específica, que se assemelha a um grânulo. Seu achado é facilitador do diagnóstico por ser específico de certas doenças crônicas, como a tuberculose. UNIUBE 151 Figura 16: Inflamação crônica granulomatosa necrosante (seta) compatível com tuberculose. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Segundo Guidugli-Neto (1997, p. 32), granuloma pode ser definido como: "Hiperplasia focal, avascular, do sistema mononuclear macrofágico, como resposta a agentes agressores de baixa virulência". As principais células que participam da formação do granuloma, além dos macrófagos, são os linfócitos. Ocasionalmente, na dependência do agente lesivo, participam plasmócitos e eosinófilos. Podem se formar granuloma epitelioide (verdadeiro) ou do tipo corpo estranho na dependência da diferenciação e maturação dos macrófagos que, por sua vez, dependem do agente lesivo e da resposta do hospedeiro. Hiperplasia É o aumento do número de células em um orgão ou tecido. A hiperplasia ocorre se a população celular for capaz de sintetizar DNA permitindo, assim, que ocorra a mitose. 152 UNIUBE Características do granuloma epitelioide: são originados em resposta a agentes inflamatórios imunogênicos, tais como, Paracoccidioides brasiliensis, Mycobacterium tuberculosis, ovo do Schistossoma mansoni, Treponema pallidum, entre outros. São coleções organizadas e delimitadas de macrófagos modificados em células epitelioides com atividade secretora e citolítica e em células gigantes multinucleadas, resultantes da fusão dos macrófagos mantendo a função fagocitária. As células epitelioides são assim denominadas por serem semelhantes às células epiteliais. Em relação à capacidade de adesão, elas se organizam em camadas concêntricas, com disposição em paliçada, ao redor do agente lesivo. As células gigantes multinucleadas podem apresentar diferentes padrões na dependência da imunogenicidade do agente inflamatório, podendo ser: • células gigantes de Langhans: são células que aparecem nos granulomas epitelioides, formados contra agentes imunogênicos (tuberculose) e, estruturalmente, consistem em uma célula grande com os núcleos ao redor na periferia do citoplasma da célula; • células gigantes do tipo corpo estranho: são células gigantes formadas contra determinados agentes não-imunogênicos, mas indigeríveis, ou seja, de difícil digestão, como partículas de poeira, silício, berílio e outros materiais. São encontradas em granulomas de corpo estranho.Estruturalmente são diferentes das Langhans por terem núcleos numerosos (mais de cem) e estes se encontram espalhados por todo o citoplasma celular. Dependendo do agente lesivo, haverá outros tipos de população celular presentes nos granulomas. Por exemplo: • esquistossomose: eosinófilos e linfócitos; • tuberculose e hanseníase tuberculoide: linfócitos; Imunogênico É a capacidade que tem o bioagente para induzir imunidade (resposta imune) no hospedeiro. UNIUBE 153 • paracoccidioidomicose: linfócitos, PMNs; • sífilis: plasmócitos. O granuloma epitelioide (Figura 17) não possui vasos (avascular), podendo ou não apresentar necrose central. A cura ocorre por fibrose pela ação dos mastócitos e fibroblastos. Fibrose É a formação ou desenvolvimento em excesso de tecido conjuntivo fibroso em um órgão ou tecido como processo reparativo ou reativo. Figura 17: Granuloma epitelioide na tuberculose pulmonar (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. • Características do granuloma tipo corpo estranho: são granulomas mais frouxos, não organizados, originados em resposta a agentes particulados inertes, não imunogênicos, nos quais as células epitelioides não formam paliçadas típicas (Figura 18). Figura 18: Granuloma tipo corpo estranho. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 154 UNIUBE • Mecanismo de formação do granuloma: quando o antígeno chega ao local, estimula a resposta imune celular. Para melhor compreender esse mecanismo, atente-se para a explicação a seguir: A apresentação do antígeno ao Linfócito T helper (LTh) ativa o LTh a secretar citocinas que estimulem mais LTh. Os LTh-1 secretam interferon gama e os LTh-2 secretam a interleucina 4. As interleucinas estimulam os monócitos que chegam, da circulação, a mudarem sua estrutura e se transformarem em células epitelioides. Essas citocinas estimulam também o macrófago para formar a célula gigante do granuloma. As citocinas apenas potencializam essas transformações e ainda não se sabe o mecanismo exato para estimular as mudanças funcionais e estruturais nos monócitos e macrófagos para formarem as células do granuloma. Sabemos que os linfócitos T têm uma grande participação por meio da excreção dessas citocinas. Geralmente, pensamos nas doenças como um transtorno em nosso organismo e em nossas vidas. Algo ruim que, dependendo da gravidade, pode até provocar a morte. De fato, uma doença é uma experiência desagradável. Mas, agora que você conhece os mecanismos efetores da resposta imunológica e o processo inflamatório, pode compreender a doença no cenário das ações do organismo no sentido de defender- se e encontrar um novo ponto de equilíbrio diante da agressão. Agora, os sinais e sintomas fazem sentido como resultado da interação entre os mecanismos de lesão apresentados pelos agentes agressores, os mecanismos da defesa implementada pela resposta imunológica e os processos patológicos. Uma vez que reconhecemos uma determinada doença por intermédio dos sinais e sintomas e os relacionamos ao seu agente causador, vamos abordar alguns exemplos de doenças bacterianas, virais ou micóticas. 3.5 Doenças: manifestações clínicas das respostas de defesa e de adaptação UNIUBE 155 3.5.1 Algumas doenças causadas por bactérias, fungos e vírus Agora que já abordamos o mecanismo de defesa e adaptação diante das agressões, é interessante você conhecer um pouco mais sobre doenças causadas por bactérias, vírus e fungos. Você já estudou a morfologia, a fisiologia e a reprodução das bactérias, dos fungos e dos vírus e até mesmo um pouco sobre seus mecanismos de agressão. Então, vamos abordar as informações sobre as doenças, sem ficar repetindo o que você já sabe. Mas antes, vamos conhecer o que os autores falam sobre patogênese das doenças bacterianas. Segundo Levinson e Jawetz (2005, p. 40), os estágios da patogênese de uma infecção bacteriana podem ser considerados como os estágios da infecção apresentados a seguir: • transmissão; • evasão das defesas primárias do organismo, como pele e acidez do estômago; • aderência às membranas mucosas, normalmente através do pili bacteriano; • colonização por crescimento da bactéria no local de aderência; • sintomas da doença causada por toxinas ou pela invasão acompanhada por inflamação; • respostas de defesa do hospedeiro, inespecíficas ou específicas, durante os estágios 3, 4 e 5; • prosseguimento ou término (cura da doença). Nem toda bactéria ou fungo encontrado no nosso organismo é prejudicial a nossa saúde. Existem alguns que são da flora normal de determinados órgãos e ajudam a protegê-los contra infecções. Por exemplo, os lactobacilos da flora da vagina fermentam o glicogênio das células escamosas do epitélio PARADA OBRIGATÓRIA 156 UNIUBE Um modelo semelhante pode ser aplicado às doenças causadas por fungos. A patogênese das lesões causadas por vírus, já foi detalhada em capítulo anterior. 3.5.1.1 Determinação da patogênese nas doenças bacterianas, viróticas ou micóticas Entre os fatores que interferem na determinação da patogênese das doenças infecciosas, encontramos o desenvolvimento da reação inflamatória e da resposta imunológica. Porém, além dessas respostas próprias do organismo do hospedeiro, podemos ainda citar aqueles relacionados à transmissão, como os veículos de contaminação e a porta de entrada. Vamos, agora, detalhar melhor a transmissão, com atenção especial ao modo de transmissão e a porta de entrada (Quadro 1). MODO DE TRANS- MISSÃO EXEMPLO COMENTÁRIO I - Humano para Humano A. Contato direto Gonorreia Contato íntimo sexual ou pas- sagem pelo canal da vagina (parto) contaminada pela Neisseria gonorrhoeae. vaginal, produzindo ácido lático. Assim, o pH da vagina fica muito ácido entre uma menstruação e outra, protegendo a mulher de infecções vaginais nesse período. Também as bactérias e fungos da flora intestinal estimulam a produção contínua de anticorpos IgA secretados na mucosa, ajudando a nos proteger de infecções intestinais. Esses micro-organismos da flora, só causam doença quando se multiplicam exageradamente ou, então, são transportados de uma região do organismo para outra. Quadro 1: Modos de transmissão mais importantes em doenças causadas por bactérias UNIUBE 157 Fonte: Adaptado de Levinson e Jawetz (2005, p. 41). B. Sem contato direto Cólera Fecal-oral: bactérias (Vibrio cholerae) excretadas nas fe- zes contaminam água ou ali- mentos que serão ingeridos. C. Transplacentário Sífilis congênita Bactérias (Treponema palli- dum) atravessam a placenta e infectam o feto. II. Não-humano para humano A. Solo Tétano Esporos bacterianos do Clos- tridium tetani entram em feri- das na pele. B. Água Disenterias Fecal-oral: enterobactérias patogênicas excretadas nas fezes contaminam água ou alimentos que serão ingeridos. C. Fonte Animal 1. Diretamente Febre da arra-nhadura do gato Bactérias penetram pelo arra- nhão do gato. 2. Por vetor Peste bubônica Tifo epidêmico A Yersinia pestis é transmitida pela picada da pulga de roe- dores, a Xenopsylla cheopis. A Rickettsia prowazekii é transmitida através dos pio- lhos do couro cabeludo (Pedi- culus capitis). 3. Por fezes de animais Síndrome hemo- lítico-urêmica por Escherichia coli. Ingestão de bactérias elimina- das nas fezes de bovinos. 158 UNIUBE Também é de grande importância a transmissão materno-fetal de infecções. Nesse caso, a transmissão, dita Transmissão Vertical, pode ocorrer por três modos, como apresentados no Quadro 2: Quadro 2: Transmissão vertical de alguns patógenos importantes MODO DE TRANSMISSÃO PATÓGENO ORGANISMO (B: bactéria; V: vírus; F: fungo) DOENÇA NO FETO OU NEO- NATO Transplacentária Treponema palli-dum B Sífilis congênita Listeria monocy- togenes B Sepse neonatal ou meningite; ou transmitida no nascimento Citomegalovirus V Anomalias con-gênitas Parvovirus B19 V Hidropsia fetal No canal do nas- cimento/ durante o parto Streptococcusagalactiae B Sepse neonatal e meningite Escherichia coli B Sepse neonatal e meningite Chlamydia tra- chomatis B Conjuntivite ou pneumonia Neisseria gonor- rhoeae B Conjuntivite Herpes simples tipo 2 V Lesões na pele, Sistema Nervoso Central ou sepse Sepse Presença de microrganismos piogênicos e outros organismos patogênicos, ou suas toxinas, na corrente sanguínea ou nos tecidos. (HOUAISS, 2007, p.2550). UNIUBE 159 Vírus da Hepatite B V Hepatite B Vírus da Imuno- deficiência Hu- mana1 V Infecção assinto- mática Candida albicans F Afta Leite materno Staphylococcus aureus B Infecção de pele ou bucal Citomegalovírus V Infecção assinto-mática Vírus da leucemia de células huma- nas T V Infecção assinto-mática Fonte: Adaptado de Levinson e Jawetz (2005, p. 42). A forma de transmissão e, portanto, a porta de entrada dos patógenos no organismo humano, configura o passo inicial na sua patogênese e também na determinação e montagem de nossa resposta de defesa, como você verá a seguir. Então, vamos atentar para a porta de entrada de alguns patógenos (Quadro 3). Quadro 3: Porta de entrada de alguns patógenos comuns PORTA DE ENTRADA PATÓGENO ORGANISMO (B: bactéria; V: vírus; F: fungo) DOENÇA Trato respira- tório Streptococcus pneumo- niae B Pneumonia Neisseria menigitidis B Meningite Haemophilus influenzae B Meningite Mycobacterium tuber- culosis B Tuberculose Vírus da Influenza V Gripe 160 UNIUBE Esses quadros trazem muitas informações. No entanto, não se assuste. Vamos abordar um pouco sobre algumas das doenças mais comuns, para que você se familiarize com elas. Fonte: Adaptado de Levinson e Jawetz (2005, p. 43). Rinovírus V Resfriado co-mum Vírus Epstein-Barr V Mononucleose infecciosa Histoplasma capsula- tum F Histoplasmose Trato gas- trointestinal Shigella dysenteriae B Disenteria Salmonella typhi B Febre Tifoide Vibrio cholerae B Cólera Vírus da hepatite A V Hepatite infec-ciosa Poliovírus V Poliomielite Pele Clostridium tetani B Tétano Rickettsia rickettsi B Febre macu-losa Vírus da raiva V Raiva Trichophyton rubrum F Pé de atleta (frieira) Trato genital Neisseria gonorrhoeae B Gonorreia Treponema pallidum B Sífilis Chlamydia trachomatis B Uretrite Papilomavírus Humano (HPV) V Verruga vagi- nal Candida albicans F Vaginite UNIUBE 161 3.5.2 Algumas doenças causadas por bactérias 3.5.2.1 Infecções causadas por Escherichia coli A Escherichia coli é um bacilo Gram-negativo, que pode ser comensal, vivendo no intestino grosso sem causar danos. Mas, existem também formas patogênicas dessas bactérias, que podem causar diarreia ou cistite (infecção urinária). As diarreias estão relacionadas à ingestão dessas bactérias em alimentos e sua fisiopatogênese varia, podendo ser determinada por ação direta do micro-organismo ou por ação de suas toxinas. Os sinais e sintomas variam desde uma diarreia aquosa, quando a bactéria atinge o intestino delgado, até uma diarreia com sangue, originado de uma hemorragia devido à agressão promovida pelo micro-organismo, no intestino grosso. Entre os agentes mais comuns de infecções do trato urinário, encontramos também a E.coli, seja na cistite, quando coloniza a bexiga ou a pielonefrite, quando a bactéria atinge os rins ou ainda como causadora de uretrite. Essa é uma infecção mais comum nas mulheres com vida sexual ativa. Mas, também pode atingir os homens. As queixas mais comuns são dificuldade e dor para urinar e febre. 3.5.2.2 Amigdalite bacteriana ou infecção de garganta Quem nunca sofreu com uma infecção de garganta? Não é difícil, então, pensar nos sintomas: dor de garganta, placas de cor esbranquiçada na garganta, dificuldade para engolir, mal-estar e febre. Essa é uma infecção causada comumente pelo Streptococcus pyogenes, que atinge principalmente crianças e adolescentes. As placas esbranquiçadas presentes na garganta são colônias de bactérias, resultante da multiplicação desses micro-organismos. Justamente por isso, o médico examina a garganta do paciente para verificar, além dos sinais de inflamação, a presença dessas placas. 162 UNIUBE É preciso muito cuidado com as infecções de garganta. Apesar de ser uma doença relativamente fácil de curar, com o uso de antibióticos, se não for tratada adequadamente, pode originar uma febre reumática. E já essa última, conhecida por alguns como “reumatismo no sangue” é um quadro mais grave, que pode provocar desde dores articulares, até alterações da função cardíaca no sistema nervoso central. Alerte seus alunos e os responsáveis por eles para seguirem corretamente as orientações médicas no tratamento de quadros de infecção e garganta. IMPORTANTE! 3.5.2.3 Diarreias bacterianas Além da E. coli, já mencionada, outras bactérias podem causar diarreia. A Salmonela typhimurium, por exemplo, pode causar uma gastroenterite (quadro inflamatório do trato gastrointestinal, frequentemente chamado de “intoxicação alimentar”, que acomete uma pessoa ou até várias ao mesmo tempo, que tenham consumido alimentos contaminados de origem animal: carnes mal passadas, frango, ovos, ou outros. Após, aproximadamente, 48h, tem início um quadro de mal-estar, náuseas, vômitos, febre, cólicas abdominais e intensa diarreia, que dura por volta de 2 a 4 dias. Outra bactéria, a Shigella sp pode causar um quadro semelhante. 3.5.2.4 Tuberculose pulmonar Apesar de poder acometer outros órgãos e sistemas, a forma mais comum dessa doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis é a pulmonar. Essa é uma doença de distribuição mundial. Porém, a maior ocorrência e a gravidade estão relacionadas à pobreza, à aglomeração de pessoas e à desorganização dos serviços de saúde. É fácil entender, portanto, que a tuberculose é mais frequente na população mais pobre, UNIUBE 163 O agente da tuberculose é um bacilo que não é classificado com Gram-positivo ou negativo, porque é corado por uma técnica especial de coloração, sendo assim resiste ao descoramento por uma mistura de álcool e ácido. Daí ser conhecido como BAAR, ou seja, Bacilo Álcool-Ácido Resistente. IMPORTANTE! 3.5.2.5 Hanseníase Conhecida desde a antiguidade há, aproximadamente, 6.000 anos, essa é uma doença sistêmica crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, que, assim como o agente causador da tuberculose, é um BAAR. Apesar de ser conhecida há tanto tempo, seu mecanismo de transmissão não está completamente esclarecido. O M. leprae tem uma predileção pelas fibras nervosas periféricas, afetando a pele, mucosa das vias aéreas superiores, olhos, linfonodos, medula óssea, testículos e ovários, entre outros órgãos. Dessa afinidade por lesar fibras nervosas periféricas, surgem os sinais mais conhecidos popularmente, que são as manchas com perda de sensibilidade na pele e em estágios avançados, destruição das extremidades dos membros. subnutrida e com maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Os principais sintomas são febre, tosse persistente e emagrecimento. Em estágios mais adiantados da doença, o paciente pode escarrar sangue. Essa é uma doença transmissível e a sua principal forma de transmissão é através das gotículas de escarro ricas em bacilos, eliminados para o ar, quando o paciente infectado tosse. Mas, uma vez iniciado o tratamento, a pessoa infectada para de eliminar o bacilo durante a tosse e não precisa ser isolada do convívio com os outros. 164 UNIUBE O Brasil está entre os países com maior prevalência de hanseníase e a frequência da doença está crescendo entre os adolescentes brasileiros. Fique atento aos seus alunos. Em caso de suspeita, oriente-os a procurarem o serviço de saúde. SAIBA MAIS Ajude a mudar esse quadro! O tratamento para tuberculose, assim como para hanseníase é de longa duração. Um dos grandes problemas nessas doenças é que os pacientes melhoram antes do tratamento terminar e, acreditando estarem curados, deixam de tomar os medicamentos. Essa conduta favorece a ocorrênciade bacilos mais resistentes aos antibióticos e dificulta o tratamento nesses pacientes e em outros para quem eles transmitirem a doença. Ajude a divulgar essa informação e a alertar os portadores de tuberculose ou hanseníase para a necessidade de seguirem o tratamento até o fim. Essa atitude faz parte da Educação para a Saúde. PARADA PARA REFLEXÃO Em tempos passados, a hanseníase era chamada de Lepra e os pacientes eram isolados do convívio social e confinados em leprosários. Muitos desses pacientes, hoje ainda vivos, perderam o contato com familiares, sua identidade e sua cidadania. Em nosso País, a Lei 9.010, de março de 2005, passou a nomear a doença como “mal de Hansen”, em homenagem ao descobridor do bacilo, e extinguiu o nome Lepra, que era carregado de preconceito. Mais recentemente, o Governo brasileiro assumiu como erro ter isolado esses pacientes em leprosários, e concedeu àqueles que ainda vivem, uma pensão, a título de indenização, para que garantam seu sustento. Vamos, como educadores e cidadãos, abraçar também a luta contra o preconceito que persegue o portador de hanseníase! SAIBA MAIS UNIUBE 165 3.5.2.6 Gonorreia Conhecida também como blenorragia, essa é uma infecção sexualmente transmissível causada pela Neisseria gonorrhoeae (gonococo). Os sintomas surgem dentro de 2 a 5 dias após a infecção e começam com um prurido e vermelhidão, seguido de corrimento uretral, inicialmente claro que se torna progressivamente purulento. O diagnóstico confirmatório é feito por cultura da secreção. O tratamento com antibiótico deve abranger a pessoa diagnosticada e seu parceiro. Entre as medidas preventivas estão: evitar a promiscuidade e usar preservativo nas relações sexuais. 3.5.2.7 Sífilis A sífilis, ou cancro duro, é uma doença sistêmica, sexualmente transmissível, causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Essa doença pode apresentar-se como um quadro primário, secundário ou terciário, podendo acometer o sistema nervoso central. Outro quadro preocupante é a sífilis congênita, que pode provocar surdez ou más-formações fetais. O diagnóstico consiste na pesquisa da espiroqueta nas lesões. O tratamento, assim como nas outras DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) deve abordar a pessoa infectada e seu parceiro. Como o agente é uma bactéria, são usados antibióticos para o tratamento. Entre as medidas preventivas estão: evitar a promiscuidade e usar preservativo nas relações sexuais. 3.5.3 Algumas doenças causadas por vírus 3.5.3.1 AIDS A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) é causada pelo vírus linfotrópico HIV, um retrovírus. Sua transmissão ocorre por meio da relação sexual, transfusão de sangue ou derivados, compartilhamento de seringas e agulhas, além da transmissão vertical. Esse vírus infecta 166 UNIUBE O Brasil tem um programa para o controle da infecção pelo HIV/AIDS, que é modelo para o mundo todo. O Governo garante o tratamento para as pessoas infectadas e a distribuição gratuita de preservativos e a realização de testes para o diagnóstico da infecção. Diferentes ações educativas aliadas ao diagnóstico precoce da infecção e o acesso ao tratamento têm melhorado a qualidade de vida dos brasileiros portadores do vírus e reduzido o aparecimento de novos casos. Mas, o preconceito ainda é um obstáculo a ser transposto. SAIBA MAIS 3.5.3.2 Dengue Bastante divulgada na mídia em geral, essa virose, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, tem se espalhado rapidamente por todo o território brasileiro. Atualmente, são descritos quatro tipos de vírus do Dengue (DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4) o que explica por que a mesma pessoa pode ser infectada mais de uma vez. Não é obrigatório que a pessoa infectada apresente sintomas. Mas, caso ocorram, os sintomas as células T, penetrando através da ligação de uma de suas proteínas, a gp120, ao receptor CD4 do linfócito. O HIV, portanto, infecta os Linfócitos TCD4+, justamente as células que são cruciais na montagem da resposta imunológica adaptativa. O período de incubação é de duas a três semanas. Após esse tempo, a pessoa infectada pode apresentar um quadro agudo, com febre, dor muscular, cefaleia, podendo ainda ter diarreia, náuseas, vômitos, candidíase oral, entre outros sinais e sintomas muito gerais e pouco elucidativos. Em seguida, a grande maioria dos pacientes permanece assintomático, até que sua resposta imunológica fique deprimida pela queda na contagem de LTCD4+, quando então surgem as doenças oportunistas, características dos pacientes imunodeprimidos. UNIUBE 167 3.5.3.3 Rubéola Também chamada de Sarampo alemão, por ter sido descrita por médicos alemães, essa virose é causada pelo Rubivirus, que é transmitida de pessoa a pessoa ou por transmissão vertical. Os dois principais quadros são a rubéola pós-natal e a rubéola congênita. A infecção pós-natal, com caráter geralmente benigno, pode ser assintomática ou a pessoa infectada pode apresentar mal-estar geral, febre, perda de apetite e pequenas manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Já a rubéola congênita é um quadro grave que pode provocar aborto, parto prematuro e más-formações que podem resultar em surdez, alterações cardíacas, catarata, glaucoma etc. A profilaxia baseia-se na vacinação, usando- se a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) ou a vacina monovalente (apenas contra rubéola). 3.5.3.4 Sarampo Essa é uma doença infecciosa aguda causada pelo Morbillivirus, transmitida de pessoa a pessoa, caracterizada por febre alta, coriza, tosse, conjuntivite e manchas vermelhas pelo corpo – manchas maiores que as observadas na rubéola. A profilaxia baseia-se na vacinação, utilizando-se a vacina tríplice viral. são de início súbito com dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares e articulares intensas, redução da força muscular, desânimo e febre persistente durante 5 a 7 dias. Esse é o quadro de dengue clássico. Mas, também pode ocorrer o dengue hemorrágico, com risco de morte. Não existe nenhum medicamento específico contra o vírus do Dengue. A melhor atitude diante dessa doença é evitar a infecção, cuidando para evitar acúmulo de entulho e lixo no quintal, nas ruas e terrenos vagos, tampando as caixas d’água e impedindo que se acumule água limpa em recipientes com pneus, garrafas e etc., que venham servir de criadouro para o Aedes aegypti. 168 UNIUBE 3.5.4 Algumas doenças causadas por fungos 3.5.4.1 Candidíase Esse é um nome geral para as infecções de pele, unhas ou mucosas pela Candida albicans e outras espécies de Candida sp,que vivem no tubo digestivo como parte da flora normal e como saprófita em outras partes regiões do corpo humano. Esses fungos podem tornar-se patogênicos em determinadas condições, tais como: prematuridade, velhice, gravidez, diabetes, deficiências imunológicas, entre outras. Na pele, esses fungos causam lesões eritematosas, esbranquiçadas e úmidas na virilha, entre os dedos, axila, nos cantos da boca, glande, e abaixo das mamas nas mulheres. Nas unhas, provocam erosões com inflamação periungueal e deformação das unhas. Nas mucosas, produz estomatite (inflamação no estômato, ou seja, na cavidade oral) com placas brancas (sapinho) ou vulvovaginites, especialmente em grávidas ou diabéticas. O diagnóstico geralmente é simples e o tratamento, costumeiramente longo, é feito por meio do uso de medicamentos antimicóticos. 3.5.4.2 Micoses superficiais Entre as micoses que ficam restritas à camada córnea, a mais comum apresenta-se como manchas claras pelo corpo, cuja ocorrência geralmente é associada a banhos de piscina ou de mar. Essa é a Ptiríase versicolor, causada pelo fungo Malassezia furfur. O diagnóstico laboratorial é feito raspando-se as escamas da pele, que são observadas ao microscópio para procurar hifas do agente. O tratamento é feito com antimicóticos. 3.5.4.3 Micoses cutâneas ou dermatofitoses São micoses que acometem a pele e são geralmente causadas pelos seguintesfungos: Microsporum spp, Trichophyton spp e Epidermophyton UNIUBE 169 Podemos definir hipersensibilidade imediata (alergia) como sendo manifestação importante do organismo em pessoas que apresentam spp. Entre essas micoses, conhecidas por tinhas, estão as micoses interdigitais ou pé-de-atleta e as tinhas da barba e do couro cabeludo que promovem queda da barba e do cabelo, respectivamente. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo exame microscópico do material coletado, sejam escamas da pele, pelos ou fios de cabelo. Para o tratamento, usam-se medicamentos antimicóticos. 3.5.4.4 Micoses profundas Entre as micoses profundas ou sistêmicas, está a Paracoccidioi- domicose, uma infecção causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A infecção ocorre por inalação do fungo presente no solo ou em lugares úmidos e ricos em proteína, implantando-se nos pulmões, podendo disseminar-se nesses órgãos ou, por meio dos vasos linfáticos, atingir gânglios e outros órgãos ou sistemas. Outra micose sistêmica de grande importância é a criptococose, causada pelo Cryptococcus neoformans var. neoformans ou pelo C. neoformans var. gatti. A infecção ocorre pela inalação de formas do fungo presentes em fezes de aves. Inicialmente as manifestações clínicas são pulmonares. Em pessoas imunodeprimidas, pode ocorrer a disseminação da infecção. Você já conhece um pouco mais sobre as doenças causadas por bactérias, vírus e fungos, bem como sobre as reações inflamatórias e de defesa que esses agentes biológicos despertam no organismo do hospedeiro. É interessante, futuramente, durante as aulas de Ciências e de Biologia, despertar os seus alunos para os cuidados com a saúde. Alergia3.6 170 UNIUBE reatividade imunológica exagerada a várias proteínas presentes no meio ambiente, em alimentos, ou em fluidos biológicos que são normalmente liberados durante a picada de insetos ou presentes ainda em alguns medicamentos. Como foi visto no início deste estudo, a IgE está associada a episódios de alergia, estimulando a participação de mastócitos em tecidos lesados. Aspectos gerais da reação de hipersensibilidade imediata: • exposição ao antígeno; • ativação de células Th2 específicas; • produção de Imunoglobulinas E; • união destes antígenos à porção Fc dos mastócitos; • estímulo à produção de mediadores químicos pelos mastócitos. Conclusão3.7 Você deve ter compreendido, após a leitura desse capítulo, que o seu organismo possui um sistema complexo e altamente especializado para fazer frente às agressões que sofre durante a sua vida útil. Por meio de diferentes respostas, o seu sistema imunológico está em constante estado de alerta e atividade na função de vigilância às inúmeras invasões a que seu corpo está exposto em seu dia a dia. Como consequência, concluímos que a inflamação e a doença são aspectos da reação desse processo-resposta de defesa e adaptação do seu sistema de defesa em torno dessas invasões e/ou agressões. Resumo Neste capítulo, verificamos a resposta imune e os mecanismos efetores dessa resposta frente aos agentes lesivos, além da estrutura e a função das imunoglobulinas, do sistema complemento e as citocinas e suas funções. Também foi descrita a imunidade aos agentes biológicos: vírus; UNIUBE 171 bactérias e fungos e as reações de hipersensibilidade (alergia). Com relação à inflamação, analisamos os sinais cardinais, a classificação e os fenômenos presentes. Além disso, estudamos as doenças causadas por bactérias, fungos e vírus e a sua patogênese. Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; POBER, J.S. Imunologia celular e molecular. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo. Patologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. COURA, José Rodrigues. Síntese das doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. JANEWAY, C. Imunobiologia: o sistema imunológico na saúde e na doença. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. LEVINSON, Warren; JAWETZ, Ernest. Microbiologia médica e imunologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. MONTENEGRO, Mário Rubens; FRANCO, Marcello Fabiano de. Patologia. Processos Gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. ROITT, I. Fundamentos de Imunologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. RUBIN, Emanuel et al. Rubin, patologia: bases citopatológicas da medicina. 4. ed. Rio e Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. STITES, D.P.; TERR, A.I. Imunologia básica. Rio de janeiro: PHB, 1992. TRABULSI, Luis Rachid; ALTHERTHUM, Flávio. Microbiologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de Lima Introdução Alterações celulares e doenças causadas por protozoários Capítulo 4 As parasitoses assumem grande importância nos países subdesenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, porque sua ocorrência e suas consequências estão diretamente relacionadas às condições de vida da população: condições sanitárias, hábitos alimentares, cultura e acesso a serviços, entre outros. Para facilitar nosso estudo, deixaremos a abordagem dos fatores sociais envolvidos na ocorrência das doenças para outro momento. Agora, nossa atenção será voltada para os fatores biológicos que condicionam a ocorrência e a gravidade das doenças parasitárias. Para tanto, não podemos perder de vista tudo o que já foi estudado sobre agressão, defesa, adaptação e doença. É o momento de articular esses conhecimentos! Começaremos estudando as doenças causadas por protozoários parasitas, que são objeto de estudo desse capítulo. As doenças causadas por helmintos são estudadas em outro capítulo. Você já teve oportunidade de estudar sobre os vermes, aprendendo sua morfologia e classificação. Agora, nosso enfoque será outro. Estudaremos como esses vermes invadem e agridem nosso organismo, como se desenvolvem as alterações celulares e doenças causadas por eles e, também, como nosso organismo 174 UNIUBE reage à presença desses agentes estranhos e às agressões que eles promovem. Em alguns aspectos, aparentemente não haverá muitas novidades. Mas, não se engane! É preciso atenção a algumas particularidades de cada agente e doença. Ao final do estudo desse capítulo, esperamos que você seja capaz de: • citar os mecanismos de infecção dos metazoários abordados; • descrever o ciclo evolutivo dos metazoários estudados; • citar os quadros clínicos causados pelos metazoários estudados; • citar as medidas de prevenção e controle das parasitoses estudadas; • explicar os distúrbios locais da circulação; • descrever os fatores responsáveis pelo surgimento de cada distúrbio; • explicar o mecanismo de ação dos fatores na gênese de cada distúrbio; • explicar as alterações morfológicas macro e microscópicas dos tecidos/órgãos com cada um dos distúrbios; • explicar as consequências de cada distúrbio ao organismo; • demonstrar as evoluções apresentadas por cada um dos distúrbios. Objetivos Esquema 4.1 Protozoários intestinais 4.1.1 Protozoários com habitat no intestino delgado 4.1.2 Protozoários com habitat no intestino grosso 4.2 Protozoários sanguíneos e tissulares 4.3 Distúrbios locais da circulação UNIUBE 175 41.3.1 Hiperemia 4.3.2 Hemorragia 4.3.3 Edema 4.3.4 Trombose 4.3.5 Embolia 4.3.6 Infarto 4.3.7 Choque 4.4 Resposta imunológica aos parasitos 4.4.1 Resposta imune adaptativa aos parasitos 4.4.2 Imunoematologia Diferente dos helmintos, entre os quais apenas o Strongyloides stercoralis e o Trichuris trichiura causam diarreia, todos os protozoários parasitos intestinais podem causar diarreia. Portanto, sob os aspectos clínicos e de saúde coletiva, esse é um grupo de parasitos que chama a atenção. As formas evolutivas presentes na maioria dos protozoários intestinais são duas: os cistos e os trofozoítos. Os cistos são as formas infectantes, que saem nas fezes da pessoa infectada e devem ser ingeridas para iniciar a infecção. Essas formas contêm um ou mais trofozoítos jovense têm uma parede espessa, que lhe confere resistência às variações do meio ambiente, semelhante ao que se observa nos ovos dos vermes. Já os trofozoítos são as formas vegetativas, encontradas parasitando o intestino do hospedeiro. Sua multiplicação ocorre, na maioria dos protozoários, por divisão binária, aumentando a carga parasitária. Protozoários intestinais4.1 176 UNIUBE Nas verminoses, só é possível aumentar a carga parasitária por meio das reinfecções, porque os vermes não se multiplicam no organismo do hospedeiro. Nas protozooses, apesar de também acontecerem as reinfecções, o fato dos protozoários multiplicarem-se no hospedeiro já é suficiente para aumentar a carga parasitária. PARADA OBRIGATÓRIA Ao estudar metazoários, você terá a oportunidade de verificar que diarreia não significa “fezes aquosas”, mas, sim, um aumento na frequência de evacuações. As características das diarreias que se originam no intestino delgado são diferentes daquelas das diarreias que se originam no intestino grosso. Considerando essas distinções, vamos agrupar os protozoários intestinais em protozoários com habitat no intestino delgado e protozoários com habitat no intestino grosso. Então, vamos aos nossos estudos! 4.1.1 Protozoários com habitat no intestino delgado A Giardia lamblia e os coccídeos intestinais, tais como o Cryp-tosporidium sp e a Cystoispora belli podem causar, por meio de mecanismos diferentes, quadros de diarreia muito semelhantes. De fato, toda diarreia que tenha origem no intestino delgado apresenta as seguintes características gerais: • aquosa; • volumosa; • há lienteria; • há flatulência; • há odor fétido; • há cólicas periumbilicais. Lienteria Presença de pedaços de alimentos não digeridos nas fezes. UNIUBE 177 A fisiopatologia para essa diarreia consiste nas alterações da digestão dos alimentos e na absorção dos nutrientes. É no intestino delgado que acontece a maior parte da digestão e a absorção dos nutrientes. Portanto, as agressões nessa região do tubo digestivo interferem na digestão e, consequentemente, na absorção. Dois nutrientes, em especial, estão envolvidos nesse processo: os açúcares e as proteínas. Os excedentes desses nutrientes, que não foram adequadamente digeridos e absorvidos, permanecem na luz do intestino, retendo água. O maior volume na luz intestinal, somado à ação de mediadores químicos da inflamação, acelera o movimento peristáltico. A maior quantidade de água retida na luz do intestino proporciona as características de fezes aquosas e volumosas. Já a deficiência da digestão, ocasionada pela agressão feita pelo parasito e pela inflamação, é responsável pela lienteria. A dor característica de processos inflamatórios é responsável pelas cólicas periumbilicais. A flatulência deve-se à fermentação, por bactérias do intestino grosso, do excesso de açúcares e proteínas oriundos do intestino delgado. As bactérias do intestino grosso produzem CO2 a partir dos açúcares e H2S, quando utilizam as proteínas como fonte de energia. O H2S, especificamente, é responsável pelo odor fétido, lembrando enxofre, ou na linguagem popular, parecendo cheiro de “ovo podre”. Agora, que já conhecemos a fisiopatologia das diarreias de intestino delgado, vamos conhecer um pouco sobre os protozoários que podem causá-las. Giardia lamblia No gênero Giardia, são encontrados protozoários flagelados que parasitam o intestino de diferentes animais. As dificuldades para determinar precisamente as espécies isoladas de diferentes hospedeiros, 178 UNIUBE Figura 1: Ciclo evolutivo da Giardia lamblia. Fonte: Acervo EAD-Uniube. têm dificultado o esclarecimento de seu potencial zoonótico. Então, as denominações Giardia lamblia, Giardia duodenalis e Giardia intestinalis, têm sido utilizadas como sinônimos, representando esses parasitos de humanos. Em nosso estudo, utilizaremos o nome de Giardia lamblia. No que diz respeito à epidemiologia da infecção, a giardíase é apontada como a protozoose intestinal mais prevalente. O ciclo biológico desse parasito (Figura 1) tem a particularidade de que a Giardia lamblia não forma cistos continuamente. Sendo assim, intercala períodos com eliminação de cistos nas fezes, e períodos em que, apesar da presença dos trofozoítos (Figura 2) nas fezes, não ocorre formação de cistos, que, portanto, não serão ali encontrados. Essa característica propicia um alto índice de resultados falso-negativos para giardíase, nos exames parasitológicos de fezes. Potencial zoonótico Potencial para a doença ser transmitida entre animais e humanos. UNIUBE 179 Na Figura 1, vemos o ciclo evolutivo da Giardia lamblia. 1) Cistos e trofozoítos são eliminados nas fezes e ficam no ambiente, contaminando alimentos, água, utensílios. 2) O homem ingere cistos da Giardia lamblia presentes em alimentos, água e objetos contaminados. 3) Formas de vida da Giardia lamblia (cisto e trofozoítos) se reproduzem no intestino do hospedeiro. Figura 2: Trofozoítos de Giardia sp corados pelo Giemsa. Foto: Aldo Matos. Qualquer exame laboratorial tem sua margem de erro, que, em parte, depende da técnica de execução. IMPORTANTE! Entre seus quadros clínicos mais marcantes, encontramos a diarreia típica de intestino delgado e a síndrome dispéptica, também conhecida como síndrome pseudoulcerosa. Essa síndrome, que também ocorre na estrongiloidíase, simula os sinais e sintomas de uma gastrite ou uma úlcera duodenal. Além das características próprias das diarreias iniciadas no intestino delgado, na giardíase também pode ser encontrada esteatorreia, que significa presença de gordura nas fezes. Isso ocorre porque os trofozoítos desse parasito ficam aderidos sobre a mucosa duodenal, um ao lado do 180 UNIUBE Figura 3: Ciclo evolutivo do Criptosporidium sp. Fonte: Acervo EAD-Uniube. outro, formando uma barreira mecânica, como um tapete, que impede a absorção dos lipídeos. Assim, também é explicada baixa absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) nos portadores de giardíase. Cryptosporidium sp e Cystoisospora belli Esses protozoários pertencem à classe Coccidia, do filo Apicom- plexa. Portanto, têm algumas particularidades em sua biologia quando comparados aos outros protozoários intestinais. O seu ciclo biológico (Figura 3), na verdade, é mais semelhante aos ciclos evolutivos do Plasmodium sp e do Toxoplasma gondii, ambos protozoários sanguíneos e tissulares, que estão no mesmo filo do Cryptosporidium sp e a Cystoisospora belli, também relatada como Isospora belli. Entre as características marcantes do ciclo biológico desses parasitos, estão: • a alternância de gerações, o que significa que o parasito precisa realizar uma fase de reprodução assexuada e outra de reprodução sexuada para completar seu ciclo evolutivo; • a infecção acontece pela ingestão do oocisto esporulado, que é uma forma evolutiva produzida na fase de reprodução assexuada. UNIUBE 181 Na Figura 3, vemos o ciclo evolutivo do Criptosporidium sp.:1) Eliminação dos oocistos com as fezes; 2) Contaminação da água e de alimentos; 3) Ingestão de alimentos e água contaminados com oocistos; 4) Ciclo do Criptosporidium sp no interior do intestino do hospedeiro. No caso da infecção por C. belli, os oocistos (Figuras 4 e 5) não são eliminados continuamente nas fezes – um padrão semelhante ao observado na eliminação de cistos na giardíase. Figura 5: Oocistos de Criptosporidium sp, corados pela carbol-fucsina. Foto: Aldo Matos. Do ponto de vista clínico, a diarreia causada por esses dois coccídeos intestinais é semelhante àquela causada pela Giardia lamblia. Porém, essa diarreia é mais comum nas crianças e com evolução autolimitada. Isto é, a criança tem a infecção por esses parasitos, apresenta diarreia, mas, cura-se sozinha. Cada episódio de infecção por esses coccídeos leva à produção de resposta imunológica de defesa. Portanto, entre adultos, a diarreia causada por coccidiosintestinais é uma doença oportunista que acomete os pacientes imunodeprimidos. Figura 4: Oocisto de Cystoisospora belli, corado pela carbol-fucsina. Foto: Aldo Matos. 182 UNIUBE 4.1.2 Protozoários com habitat no intestino grosso A Entamoeba histolytica e o Balantidium coli são protozoários que habitam o intestino grosso e podem causar uma diarreia mucossanguinolenta. O excesso de produção de muco parece ser uma resposta inespecífica contra agentes agressores na mucosa. Já o sangue, que nesse caso é encontrado vivo, ou seja, vermelho, nas fezes, é resultado da hemorragia decorrente das lesões provocadas pelos protozoários parasitos, na mucosa do intestino grosso. Como no intestino grosso não há digestão, o sangue sai com a cor vermelha normal. As lesões, ulcerações mesmo, causadas por esses parasitos, concentram-se na região cecal e no retossigmoide. Isso explica as cólicas nas fossas ilíacas, que acompanham a diarreia mucossanguinolenta. Agora, vamos conhecer um pouco sobre esses parasitos. Entamoeba histolytica Ameba é um termo geral que engloba diferentes gêneros e espécies de protozoários, sejam parasitos ou de vida livre, a maioria são sarcodinas e outros sarcomatigóforas. Entre as amebas intestinais, ou seja, aquelas que podem ser encontradas no intestino grosso estão: Entamoeba coli, Entamoeba histolytica, Entamoeba dispar, Entamoeba hartmanni, Apesar de serem infecções relativamente comuns entre crianças, as coccidioses intestinais só ganharam importância na área clínica com o advento da AIDS. Isso porque essas infecções podem evoluir tão gravemente no paciente imunodeprimido, que chegam a fazê-lo perder até 20 litros de líquido por dia na diarreia, quando não tratados adequadamente. Em quadros tão graves, essas infecções podem matar o paciente imunodeprimido. CURIOSIDADE UNIUBE 183 Quadro 1: Comparação entre a morfologia da Entamoeba histolytica e da Entamoeba coli Características Entamoeba histolytica Entamoeba coli Hemácias no citoplasma Às vezes presentes Ausentes Cariossoma Central Excêntrico Número de núcleos no cisto Até quatro Até oito Formato do corpo cromatoide Bastonete Feixes ou agulhas No quadro anterior, há duas palavras que precisam ser esclarecidas: Cariossoma Região de grande concentração de cromatina condensada no núcleo. Corpo cromatoide Corpo encontrado no citoplasma que, na verdade, é uma reserva de nutrientes. SAIBA MAIS Fonte: Aldo Matos. Endolimax nana e Idamoeba butschlii, todas sarcodinas. Destas, apenas a Entamoeba histolytica é considerada parasito e pode causar diarreia mucossaguinolenta. As demais são consideradas comensais e sua presença no intestino, diagnosticada pelo encontro dos seus cistos nas fezes do hospedeiro, denuncia que essa pessoa está ingerindo água e alimentos contaminados com matéria fecal. Essa condição coloca o indivíduo sob o risco de adquirir qualquer infecção com mecanismo de infecção fecal-oral. As duas amebas comensais cuja morfologia mais se confunde com a Entamoeba histolytica, são a E. coli e a E. dispar. No Quadro 1, a seguir, está a comparação entre a E. histolytica e a E. coli, segundo alguns critérios morfológicos. 184 UNIUBE A Entamoeba dispar tem a morfologia idêntica à Entamoeba histolytica. Sabemos que apenas a E. histolytica pode invadir a mucosa intestinal. Porém, 90% dos casos de infecção por essa espécie são assintomáticos. Então, uma vez que as espécies E. histolytica e E. dispar são idênticas, temos o seguinte questionamento: como saber qual das duas amebas é o agente de uma infecção assintomática, em que são encontrados cistos com quatro núcleos nas fezes do paciente? Essa é uma questão que os pesquisadores tentam resolver, com o apoio financeiro da Organização Mundial da Saúde. IMPORTANTE! Com relação à E. histolytica, especificamente, é preciso considerar que uma vez chegando à luz do intestino grosso, os trofozoítos que desencistaram no intestino delgado podem seguir dois caminhos que determinam se o ciclo será patogênico ou não-patogênico. No ciclo não-patogênico, os trofozoítos permanecem na luz do intestino grosso, alimentando-se de bactérias da flora e resíduos de nutrientes presentes no bolo fecal e multiplicando-se por divisão binária. Existe um limite para a população de trofozoítos na luz intestinal e, por isso, diariamente alguns trofozoítos encistam, originando os cistos encontrados nas fezes do hospedeiro assintomático. No ciclo patogênico (Figura 6), os trofozoítos invadem a luz do intestino, gerando as úlceras em forma de botão de camisa (com a entrada estreita e base larga). Nesse ciclo, não há formação de cistos. Portanto, encontram-se apenas os trofozoítos nas fezes. Em menos de 1% dos casos, os trofozoítos podem chegar à circulação sanguínea a partir das ulcerações e assim, alcançar o fígado, os pulmões e cérebro. Também é possível que os trofozoítos promovam lesões na pele da região perianal. UNIUBE 185 Figura 6: Ciclo evolutivo da Entamoeba histolytica. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Veja, na Figura 6, o ciclo evolutivo da Entamoeba histolytica. Note as duas possibilidades: formar trofozoíto invasor ou formar cistos. A determinação de invadir ou não a mucosa intestinal depende tanto das características bioquímicas e genéticas do parasito, quanto de fatores do hospedeiro, tais como dieta, estado da resposta imunológica, composição da flora intestinal, entre outros. O que pode confundir os que têm pouca intimidade com a biologia da E. histolytica é a interpretação dos exames parasitológicos de fezes. Podemos dizer que, nos casos assintomáticos, encontramos os cistos do parasito nas fezes. Já, nos casos sintomáticos, com diarreia mucossanguinolenta, encontramos os trofozoítos do protozoário nas fezes. Acontece que os trofozoítos de parasitos intestinais resistem pouco tempo (menos de uma hora) no ambiente. Então, para encontrá- los, é preciso examinar as fezes diarreicas recém-eliminadas, o que não condiz com prática rotineira nos laboratórios de análises clínicas. Assim, está explicado porque alguns dizem ser difícil diagnosticar a amebíase sintomática. 186 UNIUBE Os mecanismos de lesão na amebíase têm relação com a resposta imunológica. Uma explicação para estas lesões é que, enquanto nosso organismo monta a resposta imunológica adaptativa contra a ameba, o parasito lança alguns de seus antígenos de superfície para o meio externo. Esses antígenos aderem-se à superfície das células do hospedeiro. Quando os anticorpos formados chegam ao local da agressão, ou seja, na mucosa, encontram os antígenos na superfície das células do hospedeiro. Ocorre a ligação antígeno-anticorpo e as células citotóxicas, que reconhecem a fração Fc das imunoglobulinas, ligam-se nesse imunocomplexo e acabam por fazer a lise das células do hospedeiro. Esse mecanismo é uma citotoxidade mediada por anticorpos, em que o anticorpo marca o alvo para a célula citotóxica matar. Na amebíase, o parasito desvia a citotoxidade para destruir as células do hospedeiro e, depois, fagocita tudo que lhe interessar dentre os resíduos das células lisadas. Como você pode perceber, a Entamoeba histolytica é um parasito bastante interessante e com estratégias muito bem elaboradas para escapar da resposta imunológica. Balantidium coli Esse é um protozoário ciliado que possui um macronúcleo riniforme e um micronúcleo. Duas espécies podem ser encontradas parasitando suínos: B. coli e B. suis. O parasito Balantidium coli (Figura 7) já foi isolado dos seguintes hospedeiros: suínos, humanos, chimpanzés, várias espécies de macacos e, com menor frequência, em ratos, cães e cobaias. UNIUBE 187 Figura 7: Trofozoíto de Balantidium coli. Foto: Acervo EAD-Uniube. O ciclo evolutivo (Figura 8) é semelhante ao da Entamoeba histolytica. Mas, o B. coli pode fazer alternância de gerações, reproduzindo-se por divisão binária ou por conjugação, que é uma forma de reprodução sexuada. Figura 8: Ciclo evolutivo doBalantidium coli. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 188 UNIUBE O fato de esse parasito ter como principal hospedeiro os suínos, leva alguns autores a considerar a balantidíase uma doença ocupacional, com maior prevalência entre criadores de suínos. Para que o parasito invada a mucosa, parece ser necessária alguma doença de base (doença crônica) debilitante, ou uma lesão preexistente na mucosa do colo ou do ceco, ou, ainda, a associação com outros parasitos. Essa característica levou a doença a ser classificada como oportunista. As infecções geralmente são assintomáticas. Porém, em pacientes debilitados pode ser grave e com risco de morte. Também, é possível que o parasito atinja a corrente sanguínea, a partir das lesões no intestino grosso, e se instale em outros órgãos promovendo lesões ao associar-se a outros patógenos. Essas lesões extraintestinais são classificadas como metástases, e talvez as mais frequentes sejam as lesões pulmonares, onde o Balantidium coli pode ser encontrado associado a fungos, como os do gênero Aspergillus. Nesse grupo, encontram-se os protozoários que têm como habitat o sangue ou os tecidos. Esses microorganismos são bastante estudados por pesquisadores e clínicos, devido à gravidade dos quadros que podem causar. Entre os parasitos desse grupo, estudaremos o Trypanosoma cruzi, o Toxoplasma gondii e os gêneros Leishmania e o Plasmodium. O Toxoplasma gondii e o Plasmodium sp são esporozoários (não possuem estrutura para locomoção), e pertencem ao filo Apicomplexa. Por isso, têm ciclos evolutivos com alternância de gerações, como visto nos Cryptosporidium sp e na Cystoisospora belli. O Trypanosoma cruzi e a Leishmania sp são flagelados, com presença de cinetoplasto, que pertencem à família Trypanossomatidae, e que Protozoários sanguíneos e tissulares4.2 UNIUBE 189 necessitam de um hospedeiro vertebrado e outro invertebrado para concluir seu ciclo evolutivo. Passaremos, agora, a conhecer um pouco sobre cada um desses parasitos e as doenças causadas por eles. Trypanosoma cruzi Entre 1907 e 1909, o cientista brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, membro da equipe do sanitarista Oswaldo Cruz, morou em Lassance, no estado de Minas Gerais, para cumprir a tarefa de chefiar os trabalhos de controle da malária na região, durante a construção da ferrovia Central do Brasil. Nesse período, Carlos Chagas, curioso em descobrir as doenças que ocorriam na região, examinou pessoas e animais da localidade. Assim, descobriu o Trypanosoma cruzi, primeiramente em insetos hemípteros hematófagos - conhecidos como “barbeiros ou chupanças”- e, posteriormente, no sangue de uma criança. A partir de então, Carlos Chagas descreveu em seus estudos uma doença e um parasito até então desconhecidos. Em uma trajetória rara na história das ciências da saúde, esse pesquisador descreveu o agente etiológico, o vetor, os ciclos biológicos, as principais formas clínicas da doença, bem como indicou meios para o seu diagnóstico e tratamento. A doença de Chagas era inicialmente uma infecção que circulava entre os animais silvestres. Com a ocupação do meio natural, os humanos passaram também a ser infectados. O ciclo biológico completo requer a multiplicação do parasito em dois hospedeiros: um mamífero e o vetor. Os vetores do T. cruzi são uma diversidade de gêneros e espécies de hemípteros hematófagos, entre eles o Triatoma infestans. Durante o ciclo evolutivo, o parasito assume três formas evolutivas principais, com as características apresentadas no Quadro 2, a seguir: 190 UNIUBE Forma evolutiva Descrição Capacidade de multiplicação Localização Observações Tr i p o m a s - tigota Forma bastante alongada, com membrana on- dulante e apre- sentando o cine- toplasto do lado oposto ao flagelo livre e distante do núcleo Não se multi- plica Extracelular. Encontrada no sangue do hospedeiro mamífero, na ampola fecal e nas fezes do vetor É a forma in- fectante para o vetor e para o hospedeiro ma- mífero Epimasti- gota Forma menos alongada que a tripomastigota, com o cineto- plasto do mesmo lado que o flage- lo, livre e perto do núcleo Multiplica-se por divisão binária Extracelular. Encontrada entre intes- tino médio e o intestino posterior do hospedeiro Não é capaz de infectar Amastigota Forma esférica, com flagelo inter- no e cinetoplasto próximo ao nú- cleo Multiplica-se por divisão binária Intracelular. Encontrada nas células do hospedeiro mamífero É imóvel porque seu flagelo é interno. É a principal forma relaciona- da à destruição tecidual Quadro 2: Características das principais forma evolutivas do T. Cruzi Fonte: Aldo Matos. Essas formas organizam-se no ciclo evolutivo (Figura 9). O parasito penetra no mamífero como tripomastigota, multiplicando-se primeiramente nos macrófagos, na forma de amastigotas. Ao fim de, aproximadamente, 72h, o parasito transforma-se novamente em tripomastigota, rompe a célula hospedeira e ganha a circulação alcançando outras células em diferentes tecidos. A partir de então, o parasito passará a repetir continuamente esse ciclo de multiplicação intracelular na forma de amastigota, e disseminação por meio do sangue na forma tripomastigota (Figura 10). UNIUBE 191 Figura 9: Ciclo evolutivo do T. cruzi. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Figura 10: Forma tripomastigota do Trypanosoma cruzi no sangue circulante, corada pelo Giemsa. Foto: Aldo Matos. O estudo do ciclo evolutivo permite identificar os seguintes mecanismos de transmissão da infecção chagásica para mamíferos: • vetorial – por meio da penetração das formas tripomastigotas, presentes nas fezes do vetor, na pele lesada ou mucosa íntegra do hospedeiro mamífero; • transfusional – por meio das formas tripomastigotas presentes no sangue transfundido; Barbeiro Barbeiro 192 UNIUBE • vertical ou congênita – quando formas tripomastigotas, presentes na circulação da gestante chagásica, invadem a circulação fetal; • transplante de órgãos – por meio das formas amastigotas presentes nas células do órgão removido de um doador chagásico. Também existe possibilidade da transmissão por meio do aleitamento materno. Mas, como o risco desse mecanismo ocorrer é muito baixo, não existe a proibição da mãe chagásica amamentar seu filho. A repetição de casos de infecção por ingestão de caldo de cana e de açaí, contendo fezes de barbeiros ou os vetores triturados, tem alertado para uma possível transmissão por via oral. Nos primeiros 60 dias de infecção, a quantidade de tripomastigotas no sangue circulante é alta e o ritmo dos amastigotas é acelerado, caracterizando a fase aguda da infecção. Após esse período, a resposta imunológica, que já atua desde o início da infecção, matando o tripomastigota circulante e destruindo as células parasitadas com amastigotas, já conseguiu reduzir quantidade de parasitos e seu ritmo de multiplicação, iniciando a fase crônica. O principal mecanismo de destruição das formas tripomastigotas é lise mediada pelo complemento com participação do anticorpo lítico (uma IgG2a). Já a destruição das formas amastigotas intracelulares, conta com a participação das células NK que produzem IFN-γ que juntamente com a IL-12 e o TNF-α, produzidos pelos macrófagos, ativam os mecanismos de destruição de patógenos intracelulares, por meio do NO (óxido nítrico). A existência de lesões progressivas e fenômenos degenerativos, mesmo em pacientes na fase crônica da doença, sugerem um mecanismo autoimune, como se a resposta imune, ao tentar destruir o parasito, destrua também células não parasitadas do hospedeiro. Os tecidos em que os parasitos permanecem na fase crônica, ou seja, aqueles pelos quais o T. cruzi tem tropismo, são o tecido muscular estriado cardíaco (Figura 11), o tecido muscular liso e o tecido nervoso. UNIUBE 193 Figura 11: Ninho de amastigotas do Trypanosoma cruzi no miocárdio. Foto: Aldo Matos. Considerando a evolução da infecçãoe as apresentações clínicas, podemos classificar a doença de Chagas como mostrado no Quadro 3, a seguir: Isso explica porque os órgãos que mais apresentam alterações na doença de Chagas crônica são o coração, o esôfago e o intestino grosso. Quadro 3: Classificação da Doença de Chagas Fase da infecção Forma clínica Achados clínicos AGUDA Benigna, oligos- sintomática ou assintomática Nenhuma sintomatologia ou sintomatolo- gia inexpressiva Grave Febre, ascite, hepatomegalia, esplenome- galia, arritmias cardíacas, miocardite agu- da, confusão mental e outros sinais de le- são no sistema nervoso central Forma indetermi- nada Encontrada na maioria dos pacientes crônicos. O exame de sangue (sorologia) detecta a presença de anticorpos contra o T. cruzi. Mas, como o paciente é assinto- mático, não é possível determinar qual ór- gão está sendo lesado pelo parasito Forma cardíaca Arritmias cardíacas, perda de força de contração do miocárdio e aumento da área cardíaca (cardiomegalia) 194 UNIUBE Leishmanias e leishmanioses As leishmanioses são um conjunto de quadros clínicos causados por protozoários do gênero Leishmania, e que incluem manifestações com lesões na pele, nas mucosas e acometimento das vísceras do Sistema Fagocítico Mononuclear (fígado, baço e medula óssea). Existe uma diversidade de quadros causadas por diferentes espécies do mesmo gênero, com distribuição geográfica particular. No Brasil, um dos nomes populares da apresentação tegumentar da leishmaniose é “úlcera de Bauru”. Na Figura 12, vemos a úlcera de leishmaniose tegumentar. Os bordos são levantados, lembrando uma cratera da Lua. Fonte: Aldo Matos. CRÔNICA Forma digestiva Perda de tônus e motilidade e aumento do calibre do esôfago (megaesôfago) ou do cólon (megacólon). No primeiro caso, o paciente tem dificuldade progressiva para engolir (mal do engasgo) e, no segun- do, tende a desenvolver dificuldade para eva-cuar e obstipação intestinal, podendo ocorrer formação de fecaloma Forma mista O paciente apresenta, concomitantemen- te, cardiomegalia e megaesôfago ou me- gacólon Exacerbações agudas Ocorre em pacientes com doença de Cha- gas crônica, que ficam imunodeprimidos. A imunodepressão permite que o parasito volte a se multiplicar rapidamente e que ocorra um quadro semelhante à forma aguda grave UNIUBE 195 Figura 12: Úlcera de leishmaniose tegumentar. Foto: Acervo EAD-Uniube. Assim como o Trypanosoma cruzi, as leishmanias necessitam de um hospedeiro invertebrado para completar seu ciclo evolutivo. Os diferentes quadros de leishmaniose são causados por diferentes espécies do gênero Leishmania transmitidas por diferentes espécies de flebotomíneos, pequenos insetos, semelhantes a mosquitos, com bastante tríquias (pelos) que picam bastante doído, como a picada das “mutucas” ou “borrachudos”. Apesar de terem a morfologia de mosquitos, os flebotomíneos não são considerados mosquitos verdadeiros, porque não se multiplicam na água. Eles se multiplicam em ambientes úmidos como grutas, frestas de rochas, ocos de troncos de árvores, nos montes de folhas caídas das árvores etc. Assim como nos mosquitos verdadeiros, apenas as fêmeas dos flebotomíneos são hematófagas. CURIOSIDADE Nesse estudo, vamos abordar apenas as leishmanias que ocorrem no Brasil. Para facilitar seu estudo, preste atenção ao Quadro 4, a seguir: 196 UNIUBE Quadro 4: Comparação entre as apresentações clínicas das leishmanioses Tipo de Leishmaniose Formas clíni- cas Descrição do quadro Agente etioló- gico mais pro- vável no Brasil Vetores L e i s h m a n i o - se tegumentar americana Leishmaniose cutânea Lesão ulcerada única, ou poucas lesões, bordos le- vantados e indolor. Restrita à derme com epiderme ulcerada L. brasiliensis L. guyanensis Lu. intermedia Lu. pessoai Lu. wellcomei Lu. whitmani Leishmaniose cutaneomucosa Invasão da mu- cosa com lesão na mucosa nasal ou oral, podendo ocorrer destruição de cartilagem. História anterior de ulceração típica da forma cutânea L. brasiliensis L. guyanensis Lu. intermedia Lu. pessoai Lu. wellcomei Lu. whitmani Leishmaniose cutânea difusa Paciente com lesões múltiplas, nodulares ou ulceradas L. amazonensis Lu. flaviscutel- lata Lu. olmeca nociva Leishmaniose visceral _________ Paciente com hepatomegalia e esplenomegalia, ascite, febre, ane- mia. L. chagasi Lu. longipalpis Fonte: Aldo Matos No ciclo evolutivo das leishmanias, o parasito apresenta apenas duas formas evolutivas principais: a) promastigota - uma forma flagelada alongada, com o cinetoplasto do mesmo lado, em relação ao núcleo, o flagelo livre e distante do núcleo do parasito. Esta é a forma infectante encontrada na saliva do vetor; b) amastigota - com morfologia semelhante aos amastigotas do T. cruzi, é encontrada nas áreas lesadas: bordos das úlceras na forma cutânea e cutâneo difusa, na mucosa acometida na forma cutaneomucosa e no fígado, medula óssea e baço na leishmaniose visceral. UNIUBE 197 Figura 13: Vetor de Leishmaniose, conhecido popularmente como “mosquito cangalhinha”. Fonte: Acervo EAD-Uniube. O vetor da leishmaniose é conhecido popularmente como “mosquito cangalhinha”, representado na Figura 13. No entanto, apenas a fêmea (Figura 14a) transmite o parasito para vertebrados. O macho desse mosquito pode ser visualizado na Figura 14b). Figura 14: (A) Fêmea da Lutzomyia sp; (B) Macho da Lutzomyia sp. Note os ganchos copuladores na porção terminal do abdome. Fotos: Aldo Matos. O ciclo evolutivo da leishmaniose (Figura 15) se inicia com a picada da fêmea do mosquito. As formas promastigotas são inoculadas no hospedeiro mamífero por meio da picada do vetor. Decorridas 4 a 8 horas, essas formas já são encontradas dentro dos macrófagos da pele, A 198 UNIUBE Figura 15: Ciclo evolutivo das Leishmanias. Fonte: Acervo EAD-Uniube. transformam-se em amastigotas no vacúolo formado no citoplasma do macrófago e multiplicam-se. Ao final do ciclo intracelular, a célula hospedeira é rompida, liberando os amastigotas, que serão fagocitados por outros macrófagos e provocando uma reação inflamatória local. Os parasitos podem utilizar tanto a corrente sanguínea, quanto os vasos linfáticos, para se disseminarem no hospedeiro mamífero. Ao raspar a pele durante a picada, a fêmea do flebotomínio desprende macrófagos da pele que se misturam ao sangue que ela ingere. Caso esses macrófagos contenham amastigotas do parasita, o vetor será infectado. No tubo digestivo do vetor, os macrófagos rompem-se, liberando os amastigotas, que sofrem uma divisão binária e transformam- se em promastigotas, multiplicando-se, em seguida. Também, ocorre a transformação de promastigotas em paramastigotas, que também são capazes de se multiplicar. Ao final do período de multiplicação, as formas paramastigotas transformam-se novamente em promastigotas e migram para a faringe do inseto. Estas formas promastigotas são eliminadas na saliva do vetor durante a picada, infectando um novo mamífero. UNIUBE 199 Os mecanismos de proteção controladores da infecção são aqueles envolvidos na via de Ta1. Porém, nem sempre essa é via mais ativa. Veja o Quadro 5, a seguir: Protozooses Formas clínicas Perfil da resposta imu-nológica Leishmaniose tegumentar americana Leishmaniose cutânea Ta1 Leishmaniose cutaneomucosa Ta1 Leishmaniose cutânea difusa Ta2 Leishmaniose visceral - Ta2 Quadro 5: Perfil da resposta imunológica nas diferentes formas clínicas das leishmanioses. Do ponto de vista epidemiológico, existem algumas diferenças entre a leishmaniose visceral e as formas da leishmaniose tegumentar. Os vetores são diferentes, conforme apresentados no Quadro 4. Para a leishmaniose visceral, está estabelecido que o cão é um reservatório do parasito. Mas, nas leishmanioses tegumentares não há consenso sobre o real papel do cão na cadeia epidemiológica da doença. Assim, o sacrifício dos cães infectados e dos cães errantes devecontribuir para controlar a doença na população humana. As medidas aplicáveis ao controle de qualquer das leishmanioses incluem o diagnóstico e tratamento precoce das pessoas infectadas e o controle dos vetores com aplicação de inseticidas. Plasmodium sp A maleita, paludismo, impaludismo, febre palustre, sezão ou malária, é uma doença conhecida desde a Antiguidade, que atualmente assola a África, ocorrendo também na Ásia e na América Latina. Aqui, no Brasil, a ocupação desordenada da região amazônica na década de 1980, fez o número de casos notificados de malária saltar de 50.000/ano para 500.000/ano no período. Fonte: Aldo Matos. 200 UNIUBE Figura 16: Anopheles gambiae, vetor da malária na África. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A característica principal dessa doença são os ataques de febre alta, seguidos de calafrios, que ocorrem em intervalos regulares. Existem quatro espécies do gênero Plasmodium que parasitam humanos, P. falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malariae. O intervalo entre os ataques febris é de 48 horas para as três primeiras espécies e de 72 horas para o P. malariae. O parasito utiliza as fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles (Figura 16). No Brasil, temos estabelecidos como vetores: A. darlingi, A. cruzi, A. bellator e A. aquasalis. Esses mosquitos encontram condições muito favoráveis em áreas de clima quente e úmido. Mas, cada uma das espécies é adaptada a uma determinada faixa de temperatura, umidade e altitude. Por isso, é possível encontrar malária nas regiões mais centrais do continente até o litoral, onde encontramos o A. aquasalis, reproduzindo-se em águas salobras (Figura 16). O ciclo evolutivo do Plasmodium sp é do tipo heteroxeno e esses esporozoários fazem alternância de gerações. Ao penetrarem nos mamíferos por meio da picada do vetor, os esporozoítos dos parasitos dirigem-se ao fígado, onde penetram nos hepatócitos e se reproduzem por esquizogonia. Posteriormente, abandonam os hepatócitos na forma de merozoítos e penetram nos eritrócitos, a principal célula parasitada, reproduzindo-se novamente por esquizogonia. Ao final de UNIUBE 201 Espécie de Plas- modium Intervalo entre os picos febris Quadro clínico P. vivax 48h Terçã benigna P. ovale 48h Terçã benigna P. falciparum 48h Terçã maligna P. malariae 72h Quartã Quadro 6: Relação entre as espécies de Plasmodium sp e a classificação clínica da malária. A terçã causada pelo Plasmodium falciparum é classificada como maligna, devido ao risco de morte. Vamos dar continuidade ao ciclo evolutivo? Em algumas hemácias parasitadas, em cada ciclo eritrocítico, o Plasmodium não faz a esquizogonia, mas transforma-se em gametócito masculino ou em gametócito feminino. Esses gametócitos (Figura 18) apenas amadurecerão no intestino da fêmea do vetor, passando a ocorrer a fecundação com formação de oocistos, dentro dos quais serão formados os esporozoítos - a forma evolutiva que infectará outros mamíferos. Veja então que, na malária, o vetor é o hospedeiro definitivo e os mamíferos são os hospedeiros intermediários. Fonte: Aldo Matos. cada ciclo eritrocítico, a hemácia parasitada é lisada, liberando novos merozoítos, que penetrarão em outras hemácias. Dentro dos eritrócitos, o parasito alimenta-se da hemoglobina, produzindo um resíduo chamado hemozoína, que chega ao plasma com o rompimento das hemácias; é levado pela corrente sanguínea ao hipotálamo, provocando a febre. O intervalo entre as febres é, portanto, determinado pela duração do ciclo eritrocítico, o que é característico de cada espécie do parasito, como mostrado no Quadro 6, a seguir: 202 UNIUBE Figura 17: Gametócito do Plasmodium falciparum. Foto: Acervo EAD-Uniube. Algumas observações sobre as manifestações da malária em áreas endêmicas são bastante interessantes. É comum encontrar moradores de áreas endêmicas que contraíram malária diversas vezes. Isso nos faz questionar se o nosso sistema imunológico não nos defende contra o parasito. A resposta de defesa é montada e podemos mesmo encontrar moradores de área endêmica que, apesar de infectados, não apresentam sintomas. Isso porque sua resposta imunológica mantém os parasitos em quantidade tão pequena em seu organismo, que são incapazes de provocar sintomas. Mas, o parasito muda frequentemente os seus antígenos expostos na superfície das hemácias parasitadas, gerando grande diversidade antigênica. Então, a imunidade protetora é adquirida lentamente, após anos de exposição a infecções sucessivas em áreas de intensa transmissão. Da resposta imunológica, sabe-se também que altas concentrações de TNF-α estão relacionadas às manifestações mais graves da doença, que, na terçã maligna, estão relacionadas ao sistema nervoso central, à insuficiência renal aguda, ao edema pulmonar agudo e à hipoglicemia grave. As medidas de controle e profilaxia incluem o desenvolvimento sustentável das regiões endêmicas, o diagnóstico e o tratamento precoce das pessoas infectadas. Além disso, é necessário proteger-se contra a picada dos vetores, utilizando-se telas nas janelas e mosquiteiros em UNIUBE 203 Figura 18: Taquizoítos de Toxoplasma gondii. Fonte: Acervo EAD-Uniube. casa. Também é importante usar repelentes de mosquitos e roupas compridas ao entrar em área silvestre de regiões em que ocorra a transmissão da malária. Toxoplasma gondii O Toxoplasma gondii é um esporozoário ubiquitário, pertencente ao filo Apicomplexa, que realiza o ciclo evolutivo completo nos felinos. Nos demais mamíferos, esse protozoário realiza apenas a reprodução assexuada. Portanto, a única fonte de oocistos desse parasito são as fezes dos felinos infectados. Mas, apesar de ser conhecida popularmente como uma doença transmitida por gatos, outras formas evolutivas do parasito, os taquizoítos (Figura 18) e os bradizoítos, encontradas em outras fontes, são infectantes. Os taquizoítos (taqui = rápido) são formas de reprodução rápida, característica da fase aguda da infecção e podem ser encontrados nos tecidos e nos líquidos corporais dos mamíferos. Já os bradizoítos (bradi = lenta) são formas de reprodução assexuada lenta, características da fase crônica, encontradas nos ninhos dos parasitos, também chamados cistos ou pseudocistos (Figura 19), encontrados nos tecidos dos hospedeiros mamíferos. A reprodução assexuada acontece pelo mecanismo de endodiogenia (divisão em dois, de dentro para fora). A reprodução sexuada ocorre por esporogonia, assim como nos coccídeos intestinais e no Plasmodium sp. 204 UNIUBE Figura 19: Pseudocistos ou ninhos de taquizoítos do Toxoplasma gondii no sistema nervoso central. Foto: Aldo Matos. O estudo do ciclo evolutivo (Figura 20) mostra que o T. gondii pode parasitar qualquer célula nucleada. É possível a infecção acontecer por quatro mecanismos: • ingestão de água ou verduras cruas contaminadas com oocistos esporulados; • ingestão de taquizoítos no leite cru, ou nas carnes cruas ou mal passadas; • ingestão de bradizoítos nas carnes cruas ou mal passadas; • transmissão congênita devido à invasão do líquido amniótico por taquizoítos. Esse mecanismo também é conhecido como transmissão vertical, transplacentária ou materno-fetal. Figura 20: Cadeia de transmissão do Toxoplama gondii. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 205 Estima-se que, aproximadamente, 70% da população humana tenham toxoplasmose assintomática. A fase aguda geralmente é benigna e assintomática. Caso ocorram sintomas nessa fase, espera-se que seja febre, podendo estar associada a ínguas, geralmente na região cervical. O nosso organismo reage de forma complexa na tentativa de destruir os parasitos. Apesar de não conseguir eliminar os toxoplasmas, nosso sistema imunológico, em geral, consegue controlar a infecção que permanece crônica e assintomática. Em linhas gerais, encontramos anticorpos específicos contra o parasito na circulação - IgM na fase aguda e IgG na fase crônica. Os taquizoítos estimulam os macrófagosa produzirem IL-12, que ativam as células NK e os linfócitos T para produzirem IFN-γ e TNF-α, que, conjuntamente, ativam os mecanismos de destruição dos parasitos intracelulares pelos macrófagos. A toxoplasmose é preocupante em duas condições: na gestante que apresente fase aguda da infecção e nos pacientes imunodeprimidos. A gestante que tem toxoplasmose aguda possui em seu organismo os taquizoítos, que são capazes de atravessar a placenta e assim alcançar o líquido amniótico e infectar o feto. Caso aconteça a infecção congênita, podem ocorrer malformações fetais, como hidrocefalia com microcefalia e fenda palatina aberta – condição conhecida como tríade de Sabin. Também, pode acontecer o parto prematuro ou o aborto. Por isso, faz parte do pré-natal, realizar o exame de sangue (sorologia) para detectar a toxoplasmose. Se for diagnosticada a fase crônica, não existe risco de transmissão materno-fetal. Se for detectada a fase aguda, é possível diminuir os riscos de infecção congênita, tratando a gestante e, algumas vezes, também o feto. Os pacientes imunodeprimidos são preocupantes no contexto da toxoplasmose, porque a imunodepressão permite a reagudização das infecções crônicas. A reagudização é sempre grave com riscos de invasão do sistema nervoso central e de morte. 206 UNIUBE Devido à existência de quatro mecanismos de infecção, as medidas profiláticas não são efetivas, realmente efetivas, mas deve-se evitar o consumo de: carnes cruas ou mal passadas, água sem filtrar, ou verduras cruas sem a prévia higienização. Passaremos a estudar os distúrbios da circulação, que podem ser decorrentes de agressões causadas pelos helmintos, estudados anteriormente, pois se faz necessário conhecer, além dos protozoários parasitos, também os processos patológicos que ocorrem em nosso organismo que explicam os sinais e sintomas observados nas pessoas infectadas. Prezado(a) aluno(a), para iniciarmos o estudo do primeiro distúrbio local da circulação, gostaria de saber se você já sentiu alguma vez as faces quentes e vermelhas? O sistema circulatório deve se encontrar em perfeitas condições para a oferta contínua de oxigênio, nutrientes, hormônios, eletrólitos, água e para a retirada de metabólitos e do dióxido de carbono. Para melhor compreensão sobre os distúrbios da circulação, devemos recordar que o sistema cardiovascular (vasos e coração) é o responsável pela circulação do sangue e distribuição de líquidos no organismo. Os vasos arteriais conduzem o sangue aos tecidos para as trocas metabólicas; os vasos venosos retornam o sangue resultante das trocas ao coração e os vasos linfáticos reabsorvem o excesso de líquido filtrado na microcirculação. Qualquer fator que altere esta dinâmica, e entre eles estão os parasitos, acarretará distúrbios da circulação. Os distúrbios da circulação que estudaremos, a seguir, serão os locais. Distúrbios locais da circulação4.3 UNIUBE 207 Pois bem, o calor e o rubor já estudados na inflamação são decorrentes do aumento do volume de sangue na área afetada, não é mesmo? A este aumento do volume de sangue local chamamos de hiperemia, do grego (hyper = aumento, excesso; haima = sangue). 4.3.1 Hiperemia Corresponde ao aumento da quantidade de sangue em um determinado território orgânico. Pode ser ativa (arterial) ou passiva (venosa). 4.3.1.1 Etiopatogênese Hiperemia ativa É processo que resulta de aumento do influxo tecidual, devido à dilatação arteriolar decorrente do aumento da demanda funcional dos tecidos ou órgãos. A vasodilatação é de origem simpática ou humoral. O tecido afetado é mais vermelho e quente em virtude do ingurgitamento com sangue oxigenado. A hiperemia ativa (Figura 21) pode ser fisiológica ou patológica. • Fisiológica: é a que ocorre, por exemplo, no músculo esquelético durante o exercício físico ou no tubo digestório durante o processo de digestão. • Patológica: é a que ocorre em inúmeros processos patológicos, principalmente nas inflamações agudas, decorrentes, por exemplo, de infecções, parasitoses, acarretando os sinais cardinais da inflamação, rubor, calor e tumor. Inflamação É uma resposta dos tecidos vascularizados dos organismos vivos homeotérmicos a uma agressão sofrida. Caracterizada por lesão ou destruição de tecidos, causado por uma variedade de reações químicas e citológicas. Normalmente, manifesta-se por sinais típicos de dor, calor, rubor, tumor e perda da função. 208 UNIUBE Figura 21: Hiperemia pulmonar. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Hiperemia passiva ou congestão É processo passivo que resulta da redução da drenagem venosa, ou seja, da redução do efluxo sanguíneo de um tecido, acarretando no ingurgitamento de um órgão/tecido com sangue venoso. Tipos de Congestão: • sistêmica: decorrente da insuficiência cardíaca, que ocorre, por exemplo, na Doença de Chagas; • local: em consequência de obstrução/ compressão venosa por trombo, êmbolo, edema, tumor, ovos de parasitos intestinais, entre outros fatores. Consequências e evolução da hiperemia passiva: • cianose: o tecido apresenta uma cor vermelho-azulada, devido ao acúmulo de hemoglobina desoxigenada, o que gera a hipóxia crônica; Efluxo sanguíneo Saída de sangue dos tecidos. Exemplo: drenagem venosa. Trombo Massa sólida de sangue, aderente à parede do tubo cardiovascular, formada pelos próprios componentes do sangue. UNIUBE 209 • degeneração ou morte das células parenquimatosas: decorrente da redução ou falta de oxigenação dos tecidos (hipóxia ou anóxia); • hemorragia: devido à ruptura de vasos nos locais de congestão crônica; • edema: saída de plasma, resultante do aumento da pressão hidrostática nos capilares, decorrente da redução do efluxo de sangue; • as congestões mais importantes são as dos pulmões, baço, e fígado (Figura 22), causadas por insuficiência cardíaca e por verminoses, por exemplo, a Schistossomose, estudada anteriormente. Figura 22: Fígado com Hiperemia (fígado cardíaco ou em noz moscada). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. O fígado denominado “cardíaco” ou em “noz moscada” (Figura 22) é o que apresenta hiperemia passiva sistêmica crônica devido à insuficiência cardíaca direita. IMPORTANTE! Antes de iniciarmos o estudo do próximo distúrbio local da circulação - a hemorragia, faremos uma breve recordação sobre a hemostasia. Você se lembra desse estudo? Quando nos machucamos, muitas vezes sai sangue, não é mesmo? 210 UNIUBE Mas, o sangramento cessa rápido quando o machucado não é profundo, concorda? Pois bem, este mecanismo de interrupção da saída do sangue de um vaso lesado é denominado hemostasia. A hemostasia é um complexo mecanismo, desencadeado pelo organismo, para cessar uma hemorragia que culmina com a gênese de um trombo hemostático, no local da lesão vascular. Ela se passa nos vasos de pequeno calibre (arteríola, vênula pós-capilar e capilar). Participam deste processo as plaquetas, inúmeras substâncias do sangue circulante e a própria parede vascular no local da lesão. No início, tem-se a vasoconstrição local, seguida da adesão e agregação plaquetária, com consequente formação de um trombo plaquetário inicial (Figura 23). UNIUBE 211 Pela Figura 23, vemos o processo da adesão e agregação plaquetária: 1) tecido lesionado; 2) agregação plaquetária; 3) tecido recuperado. A hemostasia secundária compreende uma série de reações em cascata, a partir de duas vias, a intrínseca e a extrínseca, cujo resultado final é a formação de fibrina insolúvel a partir do fibrinogênio (Figura 24). Figura 23: Adesão e agregação plaquetária. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Figura 24: Mecanismo da coagulação do sangue. Fonte: Acervo EAD-Uniube. E agora? Lembrou-se do mecanismo que cessa a hemorragia? 212 UNIUBE Você estudou que muitos parasitas intestinais causam hemorragia (Figura 25), não é mesmo? Lembra-se de quais são eles? E você, prezado(a) aluno(a), já teve hemorragia?Já sangrou alguma vez? Figura 25: Hemorragia externa. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Segundo Brasileiro (2004, p.101), “hemorragia ou sangramento (Figura 26) é a saída do sangue do espaço vascular (vasos ou coração) para o compartimento extravascular (cavidades ou interstício), ou para fora do organismo.” Figura 26: Hemorragia na luz alveolar pulmonar (setas). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 4.3.2 Hemorragia Hemorragia Palavra derivada do grego que significa: “Haimorrhagia” ou “Haima”+”Rhegnymi” “Haemorrhagia” = escorrer sanguíneo. UNIUBE 213 Assim sendo, as hemorragias podem ser internas ou se exteriorizar, e segundo a sua localização temos, por exemplo: hematúria: sangue na urina; hemotórax: sangue na cavidade pleural; enterorragia: hemorragia intestinal; epistaxe: hemorragia nas fossas nasais; hematoma: hemorragia no tecido mole; equimose: hemorragia superficial maior; petéquia: hemorragia puntiforme na pele ou mucosa, entre outras. 4.3.2.1 Etiopatogênese A hemorragia pode ser consequente de rupturas vasculares ou do coração ou ocorrer sem solução de continuidade do vaso, sendo denominada hemorragia por rexe ou por diapedese, respectivamente (BRASILEIRO, 2004). Hemorragia por rexe é a que ocorre em consequência à ruptura da parede do vaso ou do coração. Tem como fatores: traumas (acidentais ou programados, como cirurgias), alterações da parede vascular (vasculites, por exemplo) e em crises hipertensivas. Hemorragia por diapedese é aquela em que as hemácias saem de pequenos vasos (capilares ou vênulas) individualmente, ou seja, uma a uma, entre as células endoteliais decorrentes de alteração nestas células e/ou na membrana basal (aumento da permeabilidade vascular), sem ocorrer lesões vasculares. Os fatores deste tipo de hemorragia são inúmeros, um exemplo é a inflamação, ou seja, uma resposta à agressão. 4.3.2.2 Diátese hemorrágica Você já apresentou um sangramento ou mancha escura na pele sem causa aparente? Pois bem, diátese é uma tendência para sangramento sem causa 214 UNIUBE aparente (hemorragias espontâneas) ou mais intensa e prolongada após traumatismos. É decorrente de anormalidades na (o): • composição da parede vascular; • número ou função das plaquetas; • coagulação sanguínea (hemostasia); • fibrinólise. Alterações na composição da parede vascular podem ser devido a: • anormalidades das fibras elásticas e colágenas e persistência de anastomoses arteriovenosas (telangiectasia hemorrágica hereditária - doença de Osler); • avitaminose C que leva à fragilidade das veias devido ao colágeno defeituoso nas membranas basais (escorbuto), uma vez que a vitamina C é uma coenzima importante na sua síntese; • senilidade com alterações na síntese da elastina e de colágeno na pele (elastose senil) e nos vasos; • reação alérgica tipo III, devido à formação de imunocomplexos circulantes que se depositam na parede de pequenos vasos, provocando necrose de arteríolas, desencadeada por antígenos de bactérias, toxinas ou medicamentos (púrpura de Schönlein-Henoch). Alterações do número ou da função das plaquetas: • trombocitopenia ou plaquetopenia (até 30.000 plaquetas/mm3) pode ser devido a: - produção diminuída: doenças da medula óssea (infecções, toxinas, medicamentos, neoplasias); - aumento da destruição: doença autoimune (púrpura trombocitopênica idiopática); - hiperesplenismo e esplenomegalia: onde há retenção e destrui- ção das plaquetas no baço; Púrpura de Schönlein-Henoch É uma inflamação dos pequenos vasos do sangue causada em geral por reações imunitárias anormais (autoimunes). UNIUBE 215 O ácido acetil salicílico (AAS), a popular aspirina, é muito utilizado para manter a fluidez do sangue em indivíduos propensos a formar trombos, pois provoca redução da agregação plaquetária. SAIBA MAIS 4.3.2.3 Alterações na coagulação sanguínea Decorrentes de defeitos congênitos ou adquiridos: • hemofilia A: resultante da redução da atividade ou alteração molecular do fator VIII da coagulação; • doença de von Willebrand: decorrente de defeito na síntese do fator von Willebrand da coagulação; • avitaminose K: uma vez que a vitamina K tem papel importante na síntese dos fatores da coagulação II, VII, IX e X pelo fígado; • doença hepática grave: na cirrose e hepatite, por exemplo, uma vez que os hepatócitos (células do parênquima hepático) são responsáveis pela síntese dos fatores da coagulação (II, VII, IX e X). 4.3.2.4 Aumento da fibrinólise Decorrente de defeitos congênitos: por exemplo, diminuição da síntese dos inibidores da α-plasmina ou aumento do ativador tecidual do plasminogênio (Tpa), produzidos pelas células endoteliais. 4.3.2.5 Lesões hemorrágicas superficiais Dependendo de seu aspecto morfológico macroscópico, as hemorragias superficiais podem ser denominadas: - aumento do consumo: nos casos de coagulação intravascular disseminada. 216 UNIUBE Figura 27: Petéquias múltiplas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. • púrpuras: com cerca de 1cm e de bordas irregulares (Figura 28); Figura 28: Púrpura. Fonte: Acervo EAD-Uniube. • petéquias: hemorragias puntiformes (Figura 27); UNIUBE 217 • hematoma: coleção de sangue com aspecto de tumor (Figura 29). Figura 29: Hematoma. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Você conheceu nas Figuras 27 a 29, as lesões hemorrágicas superficiais. Nesse momento, iremos conhecer como ocorre a evolução e as consequências da hemorragia. 4.3.2.6 Evolução e consequências da hemorragia As hemácias, ao saírem do vaso, podem sofrer lise ou serem fagocitadas por macrófagos, liberando a hemoglobina que forma pigmentos, tais como: • biliverdina; • bilirrubina; • hematina. Na hemorragia não recente, ocorrendo a lise das hemácias em pH básico, o ferro da hemoglobina transforma-se em hemossiderina, um pigmento de cor marrom dourado (Figura 30). IMPORTANTE! 218 UNIUBE Figura 30: Pigmentos de hemossiderina (marrom-dourado) na luz alveolar pulmonar (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. As consequências de uma hemorragia são variadas e dependem dos seguintes fatores: • quantidade de sangue perdido: choque hipovolêmico quando há perda rápida de cerca de 20% do volume de sangue corporal; • velocidade da perda de sangue: se a perda é rápida, aguda, leva ao choque hipovolêmico; perda lenta, por exemplo em sangramento crônico, repetido como ocorre na ancilostomíase, úlcera gástrica, há perda crônica de ferro provocando a anemia ferropriva; • local afetado: asfixia na hemorragia pulmonar acentuada; efeitos compressivos dos hematomas cerebrais ou tamponamento cardíaco no infarto agudo do miocárdio, entre outros. 4.3.3 Edema O edema (do grego, oídema= inchaço ou tumefação) é resultante do aumento de líquido no interstício ou em cavidades do organismo. Veja a Figura 32: Choque hipovolêmico Uma forma de choque; uma condição em que o coração é incapaz de fornecer sangue suficiente para o corpo devido à perda de sangue, distúrbio circulatório ou volume sanguíneo inadequado. UNIUBE 219 Figura 31: Exsudato (seta) na luz alveolar pulmonar. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Dependendo do fator, o edema pode ser localizado ou sistêmico (anasarca), ser um transudato (edema não inflamatório) ou exsudato (edema inflamatório, rico em proteínas) conforme vimos na Figura 32. 4.3.3.1 Etiopatogênese O mecanismo de transporte de líquidos na microcirculação ocorre graças às diferenças entre a pressão hidrostática e coloidosmótica (pressão oncótica), existente entre os vasos e o interstício (forças de Starling). Segundo Brasileiro ( 2004), os mecanismos de formação do edema, são: • aumento da pressão hidrostática intravascular em situações, tais como: vasodilatação, hiperemia passiva, hipertensão arterial, entre outras; • alterações da pressão oncótica: - redução da pressão oncótica intravascular, como a que ocorre na desnutrição, em que há hipoproteínemia plasmática e consequente saídade líquido do vaso para o interstício; - aumento da pressão oncótica intersticial decorrente do aumento da permeabilidade vascular, com a saída de proteínas do vaso para o interstício (inflamação e reações alérgicas agudas); o que permite a saída de líquidos e proteínas para o interstício. 220 UNIUBE Figura 32: Ascite. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 4.3.4 Trombose A seguir, estudaremos o distúrbio local da circulação, denominado trombose. Trombose é um termo muito conhecido, não é mesmo? Antes de iniciarmos este estudo, gostaria de saber se você ou algum conhecido seu já teve ou tem trombose? Você sabe o que é trombose? Sabe por que ela ocorre? Pois bem, vamos conferir o que você já conhece acerca deste processo patológico. • redução da drenagem linfática: ocorre na obstrução dos vasos linfáticos como na filariose, por exemplo, podendo originar a elefantíase devido ao desenvolvimento do edema crônico, já visto, por você, no estudo sobre Wuchereria bancrofti. As denominações do edema presente nas cavidades do organismo são: • hidrotórax: cavidade pleural; • hipericárdio: cavidade pericárdica; • ascite: cavidade peritoneal (Figura 32). Trombose Formação, desenvolvimento ou presença de um trombo, uma forma de combinação que denota relação a um coágulo. UNIUBE 221 Segundo Brasileiro (2004, p. 104), “trombose é o processo patológico caracterizado pela solidificação do sangue dentro dos vasos ou coração, no indivíduo vivo”. Assim sendo, trombo é a massa sólida do sangue contendo plaquetas, fibrina e elementos celulares dentro dos vasos ou coração, o que o difere do coágulo que é a massa coagulada de sangue não estruturada, fora dos vasos ou coração. Após a morte do indivíduo, com a parada da circulação, o sangue se coagula no interior dos vasos e do coração. IMPORTANTE! 4.3.4.1 Etiopatogênese A trombose pode ocorrer nos vasos venosos, arteriais ou nas cavidades cardíacas. 4.3.4.2 Trombose venosa Segundo Rubin (2006, p. 296), “a trombose era antigamente denominada de tromboflebite (inflamação venosa), hoje o termo flebontrombose é o mais correto, pois na maioria dos casos não há inflamação associada.” Veja a Figura 33: 222 UNIUBE A trombose venosa ocorre em mais de 90% nas veias profundas dos membros inferiores (panturrilha), decorrente da estase (insuficiência cardíaca), lesão endotelial, varizes, hipercoagulabilidade (anticoncepcionais orais), entre outras condições. 4.3.4.3 Trombose arterial A trombose arterial é um processo extremamente perigoso. Ela ocorre mais frequentemente nas artérias coronárias, cerebrais, mesentéricas e renais decorrente de lesão do endotélio (por exemplo, na aterosclerose), alterações no fluxo sanguíneo (turbulência) ou do aumento da coagulabilidade do sangue. Na artéria aorta é comum, nos aneurismas (dilatações localizadas à luz do vaso), com alteração do fluxo sanguíneo simultaneamente. 4.3.4.4 Trombose cardíaca Origina-se de lesões no endocárdio ou alterações no fluxo sanguíneo (infarto do miocárdio, fibrilação atrial, cardiomiopatia, endocardite bacteriana, entre outras) e resulta na formação de um trombo aderido à parede das cavidades cardíacas (trombose mural). Figura 33: Trombose venosa (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. UNIUBE 223 Rudolf Virchow, patologista polonês (1821-1902), propôs que a trombose pode ocorrer por três tipos de alterações no sistema circulatório (tríade de Virchow), sendo elas: • Alterações na anatomia da parede do vaso: - lesões ou perda endotelial com a exposição do colágeno e/ou fibras elásticas, como ocorre, por exemplo, na aterosclerose, traumatismos, agressão direta por agentes lesivos, inflamações agudas, neoplasias malignas, entre outras lesões; - disfunção endotelial com redução da síntese de substâncias an- ticoagulantes e alteração da superfície celular, como ocorre, por exemplo, no tabagismo, hiperco-lesterolemia, diabetes melito, entre outras causas. • Alterações do fluxo sanguíneo: - redução do fluxo sanguíneo que ocorre mais comumente nas veias e devido à insuficiência cardíaca, dilatação vascular ou aumento da viscosidade do sangue, por exemplo; - aceleração ou turbulência, encontrada em locais, tais como, aurículas, átrios, aneurismas e em bifurcações de ramos arteriais, entre outros. • Alterações nos constituintes do sangue: - aumento do número de plaquetas (trombocitose) e na policitemia vera, em que há o aumento de glóbulos vermelhos com concomi- tante aumento de plaquetas; - aumento da coagulabilidade do sangue que pode ter causas congênitas ou adquiridas. Adquiridas: destruição dos glóbulos vermelhos, como ocorre na malária, anemia hemolítica microangiopática, transfusão de sangue incompatível, situações onde há liberação de Anemia hemolítica microangiopática Anemia hemolítica adquirida pela ação de agentes físicos, químicos ou biológicos. 224 UNIUBE fosfolipídeos que aceleram a coagulação sanguínea e em situações como politraumatismos, queimaduras, neoplasias malignas em que há liberação de tromboplastina (fator tecidual) pelas células endoteliais, entre outros. Congênitas: dentre elas, a mais importante é a mutação pontual que ocorre no fator V, denominado fator V Leiden, que é resistente à inativação pela proteína C, e a menos comum são as deficiências de anticoagulantes naturais, tais como a proteína C, proteína S, antitrombina III (BRASILEIRO, 2004, p.105). 4.3.4.5 Classificação dos trombos De acordo com a sua composição e aparência macroscópica, os trombos podem ser: • brancos: massas cinza-avermelhadas, secas e friáveis, constituídos principalmente de plaquetas e fibrinas, dispostos em camadas alternadas contendo hemácias entremeadas, formando as “linhas de Zahn”, pela alternância de cor que apresentam, pálida (fibrina) e escura (hemácias). São encontrados nas artérias e no coração; • vermelhos: são vermelho-azulados, úmidos, assemelham-se ao coágulo sanguíneo, são constituídos predominantemente de hemácias e fibrina e se formam geralmente por estase nas veias; • mistos: são os mais comuns e contêm uma associação de compo- nentes brancos e vermelhos; • hialinos: são constituídos essencialmente por fibrina e encontrados em pequenos vasos, como arteríolas e vênulas. Linhas ou estrias de Zahn São laminações visíveis e microscópicas produzidas pelas camadas alternadas de plaquetas, fibrina (pálidas) e de hemácias (escuras) na formação de trombos brancos. UNIUBE 225 Veja uma imagem de trombo mural em organização, aderido ao endocárdio em: <http://www.virtual.epm.br/cursos/patologia/histopato/trombm1.htm>. PESQUISANDO NA WEB Na Figura 34, vemos as evoluções da trombose: 1) veia normal; 2) início da formação do trombo; 3) trombo obstruindo a veia. De acordo com a sua capacidade de obstruir a luz do vaso, os trombos são denominados: • trombo mural ou parietal: encontrado geralmente nas cavidades cardíacas e na aorta, não são oclusivos, ou seja, não ocluem completamente a luz. Figura 34: Evoluções da trombose. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Os trombos são sempre aderidos à parede do vaso onde se formam, são secos, opacos e friáveis e adquirem a anatomia do vaso onde se formam. Os coágulos não são aderidos à parede do vaso e são brilhantes, úmidos e elásticos. IMPORTANTE! 226 UNIUBE 4.3.4.6 Evolução e consequências Após a formação do trombo, há ativação do sistema fibrinolítico que determina a evolução e consequências da trombose. Sendo as principais evoluções: • lise: o trombo é dissolvido logo após a sua formação pela ação do sistema fibrinolítico (plasminogênio ativado passa a plasmina); • crescimento: quando o processo de formação do trombo predomina sobre a fibrinólise, podendo o trombo chegar a obstruir o vaso onde se encontra; • organização: quando há um equilíbrio entre a neoformação e fibrinólise com a transformação do trombo em tecido conjuntivo bem vascularizado pela ação dascélulas de defesa; • calcificação: quando o trombo apresenta depósitos de sais de cálcio, formando um cálculo venoso (flebólito); • infecção: o trombo pode ser colonizado por bactérias ou outros agentes biológicos quando há septicemia ou vasculite infecciosa; • embolização: o trombo pode se fragmentar ou se destacar formando êmbolos (tromboembolia), ficando livre na circulação. A Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ocorre nas lesões endoteliais extensas (queimaduras, grandes traumatismos, malária, neoplasias malignas, entre outras) devido à liberação na circulação de tromboplastina (fator tecidual) pelas células endoteliais lesadas originando a formação de microtrombos na microcirculação. Veja uma imagem de coagulação intravascular disseminada no site:<http://www.agrolink.com.br/ upload/saudeanimal/aranha_picada001.jpg>. CURIOSIDADE Flebólito Concreção calcária em uma veia. Vasculite (ou angiite) É o nome dado a uma inflamação em vaso sanguíneo. Geralmente provoca danos ao revestimento do vaso, causando seu estreitamento ou obstrução, e assim limitando ou interrompendo o fluxo sanguíneo. UNIUBE 227 4.3.5 Embolia Consiste na existência de um corpo estranho na circulação (êmbolo), podendo ser de natureza sólida, líquida, gasosa ou gordurosa, e que pode obstruir um vaso. Segundo Brasileiro (2004, p. 109), “em mais de 90% dos casos, os êmbolos correspondem a deslocamento de trombos (tromboembolia)”. A tromboembolia venosa é mais comumente originada de trombos presentes nas veias dos membros inferiores (veias profundas da panturrilha), onde os êmbolos são levados aos pulmões. A tromboembolia arterial é originada de trombos presentes nas cavidades esquerdas do coração (no infarto do miocárdio, doença de Chagas, insuficiência cardíaca esquerda, entre outros) ou da aorta e grandes artérias (nos aneurismas e placas ateromatosas). Os êmbolos, geralmente, são observados nas artérias do cérebro, rins, baço, intestinos e membros inferiores. 4.3.5.1 Embolia gasosa Consiste na presença de ar na circulação sanguínea arterial ou venosa. A embolia gasosa venosa corresponde à entrada de ar durante a inspiração que pode ocorrer em situações de alto risco, tais como: • punções, traumatismos e cirurgias na região da cabeça, pescoço e tórax; • pneumotórax; • parto ou aborto com entrada de ar em veias do útero; • sistemas de infusão. Êmbolo Toda estrutura de natureza estranha à composição normal do sangue ou da linfa, circulando, respectivamente, nas vias sanguíneas ou linfáticas, enquanto o calibre do vaso o permitir. 228 UNIUBE Quando o ar atinge as câmaras cardíacas direitas e os ramos da artéria pulmonar, ao se misturar com o sangue, forma uma espuma, comprometendo o funcionamento do ventrículo direito; ao mesmo tempo, o contato do ar com o sangue ativa a coagulação sanguínea. EXPLICANDO MELHOR A embolia gasosa arterial, acontece nos seguintes casos: • defeitos cardíacos congênitos ou do forame oval aberto propiciam a passagem do ar para a circulação arterial sistêmica pelos capilares nas embolias gasosas venosas; • cateterismo arterial, oxigenadores em circulação extracorpórea ou cirurgias no coração ou aorta; • submissão do organismo a mudanças bruscas de pressão atmosférica (mergulhadores com retorno rápido à superfície e na despressurização em cabine de avião) devido à expansão dos gases dissolvidos no sangue e tecido adiposo. Após a morte, há formação de gases pela putrefação, que não devem ser confundidos com êmbolos gasosos. CURIOSIDADE 4.3.5.2 Embolia gordurosa Caracteriza-se pela presença de glóbulos de gordura na circulação sanguínea decorrente de: • fraturas extensas de ossos longos; • traumatismo extenso ou queimadura do tecido adiposo; Despressurização Perda de pressão de ar no ambiente. Ex.: interior das aeronaves. UNIUBE 229 • doenças: tais como diabete melito, anemia falciforme, pancreatite, necrose hepática aguda, intoxicações, entre outras, onde supõe-se que haja distúrbios na emulsificação das gorduras para a formação de glóbulos (BRASILEIRO, 2004); • placas ateromatosas (ateroembolia). 4.3.5.3 Embolia de líquido amniótico O líquido amniótico é rico em tromboplastina que induz à CIVD, durante o trabalho de parto; dependendo das condições, pode haver a penetração deste líquido em seios venosos uterinos lesados e sofrer embolização. 4.3.5.4 Tromboembolia Processo patológico decorrente da formação de êmbolos originados de trombos. Pode ter sua origem em trombos venosos ou arteriais, ocorrendo, portanto, na circulação pulmonar ou sistêmica. A embolia pode ser denominada tumoral ou metastática, quando há células malignas na circulação. Antes de iniciarmos o estudo do infarto, que é outro distúrbio local da circulação, pense: • você sabe o que é o infarto? • já viu alguém infartar? • já infartou? • sabe o que leva ao infarto? Pois bem, a partir de agora, você conhecerá ou aprofundará seus conhecimentos sobre o infarto. 230 UNIUBE 4.3.6 Infarto Infarto é uma área localizada de necrose isquêmica (estudada anteriormente), ou seja, uma área do organismo de tecido morto por isquemia (do grego ischio = reter; haima = sangue) por redução ou parada do suprimento sanguíneo devido a distúrbio da circulação arterial ou venosa. Segundo Brasileiro (2004, p.118), “a isquemia se instala toda vez que a oferta do sangue é menor do que as necessidades básicas do órgão em determinado momento”. Sendo assim, a isquemia pode ser resultante da diminuição da oferta de sangue por compressão ou obstrução vascular, pelo aumento do metabolismo celular ou pela ocorrência das duas condições simultaneamente. Dependendo da presença ou não de sangue na área, os infartos podem ser denominados brancos ou anêmicos, e vermelhos ou hemorrágicos. 4.3.6.1 Infarto branco Os infartos brancos (Figura 35), ou anêmicos, resultam da obstrução ou da compressão arterial (trombo, êmbolo, tumor, edema, espasmo vascular, entre outros) em órgãos compactos ou sólidos com circulação única ou terminal (rins, baço, coração). Nesse tipo de infarto, os vasos que o percorrem não contêm sangue. Isquemia Deficiência na irrigação de sangue em um órgão ou tecido, devido à constrição ou obstrução de seus vasos sanguíneos. UNIUBE 231 Figura 35: Baço com área de infarto branco (seta). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 4.3.6.2 Infarto vermelho Os infartos hemorrágicos (Figura 36) apresentam coloração vermelha devido à hemorragia maciça que se forma na área. Ocorre em órgãos frouxos e com irrigação dupla ou colateral (pulmão, intestinos, fígado, cérebro, entre outros). São decorrentes da obstrução dos vasos venosos ou arteriais resultando na necrose isquêmica e inundação da área necrosada de sangue. Figura 36: Intestino com infarto hemorrágico. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 4.3.6.3 Aspectos morfológicos Infarto branco: 232 UNIUBE Figura 37: Infarto branco (em destaque). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Infarto vermelho • macroscópicos: adquirem a mesma forma do branco, a área adquire uma cor vermelho-escuro, mais consistente e com aumento de seu volume (Figura 38); Figura 38: Infarto vermelho (área em destaque). Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. • macroscópicos: em geral adquirem a forma de cunha, com o ápice voltado para o vaso comprometido que lhe deu origem, a área infartada adquire coloração pálida, bem delimitada, firme, tumefeita e circundada por um halo avermelhado de hiperemia; • microscópicos (Figura 37): o tecido adquire aspecto róseo, amorfo (autólise) contendo restos celulares (necrose coagulativa) e presença de células de defesa (neutrófilos e macrófagos) para a fagocitose dos restos celulares presentes na área. UNIUBE 233 • microscópicos: o tecido apresenta as mesmas características do infarto branco com hemorragia na área (Figura 39). Figura 39: Infarto hemorrágico (Intestinal). Foto: LilianMargareth Biagioni de Lima. 4.3.6.4 Consequências Segundo Brasileiro (2004), as consequências do infarto podem ser: • manifestações gerais: febre, leucocitose, aumento no plasma de enzimas (transaminases, desidrogenases, entre outras) liberadas pelas células destruídas; • manifestações locais: dor precordial (infarto do miocárdio) e dor abdominal (infarto de órgãos abdominais como os intestinos, por exemplo); • sinais e sintomas dependentes do órgão atingido; • morbidade e mortalidade (infartos do miocárdio, cérebro, intestinal, pulmonar, entre outros). 4.3.6.5 Evoluções O tecido que sofreu infarto, ou seja, o que sofreu necrose isquêmica, pode ser substituído por outro, morfológica e funcionalmente idêntico (regeneração) ou ser substituído pelo tecido conjuntivo cicatricial (Figura 40). 234 UNIUBE Figura 40: Cicatrização. Foto: Acervo EAD-Uniube. 4.3.7 Choque Também denominado, segundo Montenegro e Franco (1999, p. 32), “de colapso circulatório, ou seja, falência circulatória com redução generalizada da perfusão dos tecidos”. 4.3.7.1 Tipos de choque Os tipos de choque são: • hipovolêmico: decorrente da diminuição do volume sanguíneo em situações que levam ao sangramento intenso, perda de plasma ou desidratação (hemorragia intensa, queimaduras, diarreias, vômitos, entre outras), ou na obstrução aguda do fluxo sanguíneo (por ex.: embolia na artéria pulmonar); • anafilático: decorrente de uma reação de hipersensibilidade tipo I (ver Imunologia), mediada por IgE na superfície de mastócitos e basófilos, levando à liberação de vasodilatadores potentes (histamina, por exemplo), resultando na vasodilatação generalizada de pequenos vasos com redução da pressão arterial e do retorno venoso; • séptico: decorrente principalmente de infecções por bactérias Gram- negativas produtoras de endotoxinas e, menos comumente, pelos UNIUBE 235 fungos e bactérias Gram-positivas. As endotoxinas bacterianas (lipopolissacarídeos) atuam sobre receptores de leucócitos e células endoteliais, promovendo a liberação, pelos leucócitos, por mediadores químicos, vasodilatadores potentes; • neurogênico: resultante da diminuição do tônus vascular por distúrbio neurogênico, com consequente queda na resistência vascular periférica e diminuição do retorno venoso ao coração; • cardiogênico: ocorre em situações nas quais o coração perde a capacidade de bombear adequadamente o sangue (infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas, miocardite aguda, entre outras), com diminuição acentuada do débito cardíaco. Os órgãos mais comprometidos pelo choque são: cérebro, coração, pulmões, rins, fígado, hipófise, suprarrenais, pâncreas e tubo digestório, podendo apresentar, dependendo da sensibilidade do tecido, a hipóxia: hemorragia, edema, degeneração ou infarto. Veja a etiopatogênese do choque, na Figura 41. Figura 41: Etiopatogênese do choque. Fonte: Acervo EAD-Uniube. X 236 UNIUBE O estudo dos parasitos e das agressões causadas por eles podem nos assustar devido à relativa facilidade de sermos infectados e à gravidade de algumas lesões provocadas por esses agentes. Mas, nem sempre essas agressões acontecem. Isso porque, na maior parte, ocorre certo equilíbrio na relação parasito-hospedeiro. Às vezes, ingerimos ovos de parasitos e não somos sequer infectados, porque é necessário um inóculo mínimo para que ocorra a infecção. Se ingerirmos poucos ovos, nossas defesas podem realmente impedir a infecção. Também, mesmo que a infecção ocorra, não é sempre que as lesões são desenvolvidas. Então, a infecção e a doença dependem da resposta do hospedeiro e da capacidade de adaptação mútua entre o parasito e o hospedeiro. Os parasitos são, muitas vezes, adaptados para sobreviver à ação da resposta imune inata do organismo (fagocitose, por exemplo). Parasitos intracelulares, como a Leishmania sp e Trypanosoma cruzi, por exemplo, resistem à ação dos fagócitos e se multiplicam neles. Parasitos extracelulares, como os vermes, são atacados pelo sistema imunológico com substâncias microbicidas, porém possuem estratégias adaptativas de sobrevivência, como a presença de tegumento espesso, a capacidade de incorporar antígenos do próprio hospedeiro mascarando a sua presença no organismo, entre outros. 4.4.1 Resposta imune adaptativa aos parasitos Parasitos intracelulares: a principal via se faz por meio da ativação do Th1 (linfócito T auxiliar 1), com a produção da citocina INF γ (interferon γ), que tem a capacidade de aumentar o poder microbicida dos macrófagos, fazendo com que eles consigam então fagocitar e destruir o micro-organismo e a ativação do TCD8, ou linfócito T citotóxico, que Resposta imunológica aos parasitos4.4 UNIUBE 237 pelo MHC-I (complexo Maior de Histocompatibilidade do tipo I), checa todas as células do organismo e reconhece e destrói as células parasitadas. Parasitos extracelulares: a principal via é por meio da ativação do Th2 (Linfócito T auxiliar 2), com produção de citocinas, como a IL-4 (Interleucina 4), relacionada com o aumento da produção de IgE (Imunoglobulina E) e IL-5 (Interleucina 5), associada com aumento dos eosinófilos. No Quadro 7, a seguir, estão mencionadas as respostas imunes desencadeadas contra protozoários causadores de certas doenças. Quadro 7: Respostas imunes desencadeadas contra protozoários causadores de doenças Parasita Doença causada Resposta imune Plasmodium Malária Presença de anticorpos e linfóci-tos T citolíticos CD8+ Leishmania Leishmaniose Ativação de macrófagos, Partici-pação de células TH1. CD4+ Trypanosoma Tripanossomíase africana Resposta mediada por anticor- pos Entamoeba his- tolytica Amebíase Resposta mediada por anticor- pos e fagocitose Fonte: Acervo dos autores. 4.4.2 Imunoematologia Um dos principais sistemas de aloantígenos identificados em mamíferos faz parte dos sistemas ABO, importante em reações transfusionais. Trata-se de glicoesfingolipídeos encontrados na membrana celular. São descritos mais de 400 antígenos eritrocitários; estes são herdados obedecendo a um padrão de herança mendeliano simples. As pessoas que não apresentam um determinado antígeno, se expostos, têm maior chance de desenvolver anticorpos. 238 UNIUBE Grupo sanguíneo Tipo O Tipo A Tipo B Tipo AB Antígenos eritrocitários e demais células Nenhum A B A e B Anticorpos no soro Anti-AAnti-B Anti-B Anti-A Nenhum Quadro 8: Grupo sanguíneo Fonte: Acervo dos autores. 4.4.2.2 Sistema Rh Mais complexo que o sistema ABO, compreende 3 locos ligados a antígenos, alternativos, Cc, D ou não-D (quando não há um antígeno denominamos “d”). A maioria dos anticorpos produzidos contra estes antígenos é do tipo imune e podem, por isso, provocar lise das hemácias (Quadro 9). Quadro 9: Sistema Rh Sistema Rh Antígenos Símbolo Tipo RhD cde/cde RR negativo CDe/cde R1r positivo CDe/CDe R1 R1 positivo cDE/cde R2 r positivo CDe/cDE R1 R2 positivo cDE/cDE R2 R2 positivo Outros genótipos Quase sempre positivos Fonte: Acervo dos autores. 4.4.2.1 Sistema ABO Os antígenos A, B e O (Quadro 8) ocorrem na maioria das células do organismo e também nos fluidos corporais como saliva, lágrima, sêmen e suor. UNIUBE 239 Você sabia que os anticorpos de anti-D ou anti-Rh eram a principal causa de doença hemolítica do recém-nascido ou “eritroblastose fetal”? Estudamos, neste capítulo, os agentes lesivos, protozoários intestinais e tissulares, de interesse médico; as medidas de profilaxia e o controle das protozooses, a resposta de defesa a eles. Também foram estudados os distúrbios da circulação de importância médica, originados da agressão sofrida por esses agentes, bem como por outros agentes lesivos e a Imunoematologia. Resumo Referências BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Distúrbios Locais da Circulação. In:______ Bogliolo. Patologia Geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo. Patologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.COURA, José Rodrigues. Síntese das doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MONTENEGRO, Mário Rubens; FRANCO, Marcello. Patologia. Processos Gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de, LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo Wagner de Almeida. Parasitologia humana. 11. ed. São Paulo. Atheneu, 2005. PETTIT, John E. Hematologia Clínica. 3. ed. São Paulo. Editora Manole, 2001. RUBIN, Emanuel et al. Distúrbios Hemodinâmicos. In:______Patologia: bases citopatológicas da medicina. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Aldo Matos Isabel Cristina Rezende Lopes Lilian Margareth Biagioni de LimaIntrodução Alterações celulares e doenças causadas por metazoários, imunologia dos tumores e doença autoimune Capítulo 5 Caro aluno, dando continuidade aos estudos, neste capítulo, abordaremos as alterações celulares e as doenças causadas por metazoários. Assim sendo, chegamos ao momento de estudar as agressões causadas pelos metazoários. A maioria desses seres unicelulares e eucariotos são de vida livre. Entre os metazoários parasitos de humanos, existe uma diversidade de habitat e de mecanismos de agressão. Isso determina uma diversidade na resposta imunológica e nas apresentações clínicas. Nesse capítulo, não temos a pretensão de esgotar um tema verdadeiramente extenso. Mas, aqui você encontrará orientações para seu estudo e informações que lhe ajudarão em seus estudos. Com os objetivos de organizar as informações e facilitar sua aprendizagem, apresentaremos, na primeira parte desse capítulo, os protozoários intestinais, seguidos dos protozoários sanguíneos e tissulares. A segunda parte será constituída pelos temas Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular decorrentes de alterações nos mecanismos que regulam estes processos, além da imunologia dos tumores e doenças autoimunes. 242 UNIUBE Prezado aluno, ao final desse capítulo, esperamos que você seja capaz de: • descrever os ciclos biológicos dos metazoários estudados; • identificar os metazoários que habitam o intestino delgado; • identificar os metazoários que habitam o intestino grosso; • enumerar as alterações causadas pelos metazoários estudados; • explicar os distúrbios do crescimento e da diferenciação celular; • explicar a imunologia dos tumores; • identificar os fatores responsáveis pelo surgimento de cada distúrbio; • demonstrar o mecanismo de ação dos fatores na gênese de cada distúrbio; • descrever as alterações morfológicas macro e microscópicas dos tecidos/órgãos, associando-as com cada um dos distúrbios; • demonstrar as consequências de cada distúrbio ao organismo; • descrever as doenças autoimunes; • explicar as evoluções apresentadas por cada um dos distúrbios. 5.1 Doenças causadas por nematelmintos 5.1.1 Nematelmintos intestinais que realizam o Ciclo de Loss 5.1.2 Nematelmintos intestinais que não passam pelos pulmões 5.1.3 Nematelmintos sanguíneos e teciduais 5.2 Doenças causadas por platelmintos 5.2.1 Taenia solium e Taenia saginata Objetivos Esquema UNIUBE 243 No filo dos nematelmintos (vermes cilíndricos), encontramos uma grande diversidade biológica. Em relação ao quesito morfologia, o seu comprimento pode variar de milímetros a centímetros; algumas espécies habitam o intestino delgado, e outras o intestino grosso; a infecção pode ocorrer passivamente, pela ingestão dos ovos larvados na maioria das espécies, ou, ativamente, pela penetração cutânea das larvas. Talvez a característica mais comum nesse filo, além, claro, da forma cilíndrica, seja o dimorfismo sexual: • a fêmea é maior que o macho; • o macho possui a extremidade posterior recurvada ventralmente. No Quadro 1, a seguir, encontramos um resumo das características biológicas dos principais nematelmintos que parasitam humanos: Doenças causadas por nematelmintos5.1 5.2.2 Hymenolepis nana 5.2.3 Echinococcus granulosus 5.2.4 Schistosoma mansoni 5.3 Profilaxia e controle das verminoses intestinais 5.4 Crescimento e diferenciação celular 5.4.1 Regulação do crescimento celular 5.4.2 Distúrbios do crescimento celular 5.4.3 Alterações da diferenciação celular 5.4.4 Alterações do crescimento e da diferenciação celular 5.4.5 Doenças autoimunes Infecção Invasão e multiplicação de microorganismos nos tecidos do organismo, que podem ser clinicamente inaparentes ou resultarem em lesão celular local, devido a metabolismo competitivo, toxinas, replicação intracelular, ou resposta antígeno- anticorpo. 244 UNIUBE Quadro 1: Características gerais dos principais nematelmintos parasitos de humanos PARASITO TAMANHO MECANISMO DE INFECÇÃO HABITAT Ascaris lumbricoi- des Machos: 20-30 cm Fêmeas: 30-40 cm Ingestão de ovos larvados Intestino del- gado Enterobius vermi- cularis Machos: 5 mm Fêmeas: 1 cm Ingestão de ovos larvados Intestino grosso (região cecal) Trichuris trichiura 3-5 cm Ingestão de ovos larvados Intestino grosso Necator ameri- canus Machos: 5-9 mm Fêmeas 9-11 mm Penetração cutânea da larva filarioide Intestino del- gado Ancylostoma duo- denale Machos: 8-11 mm Fêmeas: 10-18 mm Penetração cutânea da larva filarioide Intestino del- gado Strongyloides ster- coralis 0,8-1,2 mm Penetração cutânea da larva filarioide Intestino del- gado Wuchereria ban- crofti Machos: 3,5-4 cm Fêmeas: 7-10 cm Transmissão de microfilárias por meio da picada do mosquito Culex quinque- fasciatus Vasos do siste- ma linfático Onchocerca vol- vulus Machos: 2-4 cm Fêmeas: 40-50 cm Transmissão de microfilárias por meio da picada do Simulium sp Tecido subcutâ- neo, vasos linfá- ticos e cristalino Observando o quadro, percebemos que a maioria dos nematelmintos são parasitos intestinais, exceto a Wuchereria bancrofti, que pode causar um quadro conhecido como elefantíase e o Onchocerca volvulus, que pode causar cegueira irreversível. Agora, estudaremos algumas especificidades das doenças causadas por cada parasito apresentado. Para facilitar nosso estudo, vamos agrupar os nematelmintos da seguinte forma: Fonte: Aldo Matos. UNIUBE 245 • nematelmintos intestinais que realizam o Ciclo de Loss; • nematelmintos intestinais que não realizam o Ciclo de Loss; • nematelmintos sanguíneos e teciduais. 5.1.1 Nematelmintos intestinais que realizam o Ciclo de Loss O termo Ciclo de Loss, significa que, durante o ciclo evolutivo, as larvas do verme passam pelos pulmões, onde realizam uma muda. Na prática, ao passar pelos pulmões, as larvas de nematelmintos podem causar sintomas semelhantes a uma pneumonia (tosse, febre, secreção pulmonar). Essa falsa pneumonia, causada por larvas de vermes, recebe o nome de Síndrome de Löffler (pronuncia-se “lófler”). Mas, ao contrário do que pode parecer ao se ler nos livros, isso só ocorre em situações de infecção muito intensa, com um número muito grande de larvas passando ao mesmo tempo pelos pulmões. Por isso, a Síndrome de Löffler não é muito comum entre os vermes Ascaris lumbricoides, Necator americanus, Ancylostoma duodenale e Strongyloides stercoralis. Além da Síndrome de Löffler, esses vermes, como todo parasito presente no intestino delgado, provocam espoliação alimentar. Espoliar, aqui, significa “roubar”. Veja só: gastamos energia para fazer a digestão dos alimentos e, depois de tudo digerido, parte do alimento é absorvida pelos nossos “hóspedes”, que nos parasitam. Mas, não podemos afirmar que os parasitos intestinais causam subnutrição. Pense bem: se dividirmos nosso alimento com os parasitos do nosso intestino, sentiremos mais fome. Comeremos muito, “como adolescentes”... Bem, se tivermos condições financeiras para comprar todo alimento que quisermos, comeremos mais, isto é, comeremos o EXPLICANDO MELHOR 246 UNIUBE Agora, vejamos alguns quadros clínicos, ou seja, sintomas que cada um desses vermes pode causar: 5.1.1.1 Ascaris lumbricoides O A. lumbricoides (Figura 1), popularmente conhecido como lombriga,é um parasito grande, que precisa absorver uma grande quantidade de nutrientes, especialmente a vitamina A e, portanto, pode provocar uma hipovitaminose A. Figura 1: Vermes adultos de Ascaris sp. Foto: Aldo Matos. Na Figura 1, vemos os vermes adultos de Ascaris sp. À esquerda, a fêmea e, à direita, o macho. Note a extremidade posterior recurvada ventralmente nos machos. suficiente para nós e para nossos parasitos, e não ficaremos subnutridos. Então, segundo esse raciocínio, os vermes contribuem para a subnutrição, mas não podem causá-la sozinhos. A subnutrição da pessoa parasitada é, portanto, resultado da parasitose juntamente com a fome, que é uma “doença social”. UNIUBE 247 Possivelmente você já ouviu falar que uma pessoa que está com manchas claras na pele pode estar com verminose. Isso pode ser verdade, sim! Se a pessoa tiver uma grande carga parasitária de A. lumbricoides e se alimentar mal, pode ter hipovitaminose A. Um dos sintomas da carência de vitamina A, é justamente a formação de manchas claras na pele, uma condição conhecida como “pano”. IMPORTANTE! Outro quadro que esse parasito pode causar é a obstrução intestinal. Se você perguntar em sua família ou entre amigos, talvez encontre uma história de alguém que morreu ou quase morreu porque teve um “nó nas tripas”, devido a lombrigas. Esse é o quadro que ocorre quando há uma grande quantidade de A. lumbricoides no intestino do hospedeiro, e esses vermes embolam-se e se enroscam como um novelo, obstruindo a luz do intestino delgado. Esse quadro, geralmente, só é corrigido por meio de uma cirurgia para remover o bolo de parasitos. Veja, na Figura 2, o ciclo evolutivo do Ascaris lumbricoides. Figura 2: Ciclo evolutivo do Ascaris lumbricoides. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 248 UNIUBE Esse parasito também pode causar o ataque de vermes ou fuga de vermes. Essa condição ocorre quando um episódio de febre alta ou uma medicação inadequada tornam o intestino do hospedeiro um ambiente inóspito para o verme. Então, esse verme, que tem a musculatura muito forte, movimenta-se contra o movimento peristáltico, saindo pela boca, narina, orelha etc. Em um ataque como esse, a pessoa infectada pode morrer. 5.1.1.2 Necator americanus e Ancylostoma duodenale Esses dois nematelmintos são bastante semelhantes. Ambos possuem um aparelho bucal que os torna capazes de morder a mucosa intestinal. O Ancylostoma duodenale (figuras 3, 4 e 5) possui dois pares de dentes no aparelho bucal (Figura 3), e o Necator americanus possui duas placas cortantes. Ao morder a mucosa intestinal, esses parasitos provocam sangramento para se alimentarem, pois são hematófagos. Essa é a fisiopatologia da anemia que está relacionada a essa parasitose, também conhecida como “Amarelão” ou “Doença do Jeca Tatu”. Lembra-se do Jeca Tatu? Ele é um personagem criado pelo escritor brasileiro Monteiro Lobato. O Jeca Tatu é um trabalhador do campo, magro e sem ânimo, devido à anemia e à subnutrição relacionadas aos parasitos que alberga em seu intestino. CURIOSIDADE UNIUBE 249 Figura 3: Aparelho bucal de um Ancilostomídeo. Foto: Aldo Matos. Na Figura 3, correspondente ao aparelho bucal de um ancilostomídeo, note um dos dentes apontados pela seta. Figura 4: Extremidade posterior de uma fêmea de Ancilostomídeo. Figura 5: Extremidade posterior de um macho de Ancilostomídeo. Foto: Aldo Matos. Na Figura 5, note a morfologia característica da bolsa copuladora, na extremidade posterior do macho Ancilostomídeo. Veja a Figura 6, ela corresponde ao ciclo evolutivo dos Ancilostomídeos: 250 UNIUBE Figura 6: Ciclo evolutivo dos Ancilostomídeos. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Na Figura 6, observe que há dois tipos de larvas: rabditoide e filarioide. Você deverá pesquisar as diferenças entre essas larvas e, em seguida, registre suas observações no seu caderno de anotações. 5.1.1.3 Strongyloides stercoralis Esse é um verme que apresenta algumas características biológicas interessantes em seu ciclo evolutivo. O S. stercoralis (Figura 7) pode multiplicar-se, durante algumas gerações, em vida livre. UNIUBE 251 Diferente dos outros nematelmintos apresentados nesse capítulo, seus ovos eclodem ainda nas vizinhanças da mucosa intestinal e, assim, a forma evolutiva eliminada nas fezes dos humanos são as larvas rabditoides (Figura 8). Figura 8: Larva filarioide de Strongyloides stercoralis, corada pelo carmim. Foto: Aldo Matos. Figura 7: Ciclo evolutivo do Strongyloides stercoralis. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Só existem machos na fase de vida livre no solo. Quanto às fêmeas, estas são de duas categorias: • as fêmeas de vida livre, encontradas no ambiente; 252 UNIUBE • as fêmeas partenogênicas, que parasitam o intestino delgado de humanos. Essas possuem o genoma 3n e, portanto, não precisam de um macho para se reproduzirem. Do ponto de vista clínico, esse é um dos poucos vermes que podem causar diarreia. Como seu habitat é o intestino delgado, ele pode causar uma diarreia com cólicas periumbilicais (em torno do umbigo), fezes aquosas, com grande volume, odor muito forte, podendo conter pedaços de alimentos não digeridos (lienteria) e flatulência (gases). As fezes podem mesmo ser expulsas juntamente com os gases – o que denominamos “diarreia explosiva”. Esse parasito também pode causar um quadro de síndrome dispéptica, simulando os sinais e sintomas de uma gastrite ou uma úlcera duodenal. 5.1.2 Nematelmintos intestinais que não passam pelos pulmões Alguns nematelmintos realizam um ciclo evolutivo mais simples, sem que necessitem invadir a corrente sanguínea para completar sua evolução. É o caso do Enterobius vermicularis e do Trichuris trichuris. Esses vermes encontram, na luz intestinal, as condições necessárias para realizarem todas as mudas e tornarem-se vermes adultos. 5.1.2.1 Enterobius vermicularis Esse pequeno verme, conhecido também como Oxiúro (Figura 9), habita a região cecal, onde realiza a cópula. A fêmea grávida migra em direção ao reto e procura atravessar o ânus para fazer a ovoposição na região perianal. É bem verdade que, ao tentar atravessar o ânus, muitas delas arrebentam liberando os ovos. A movimentação das fêmeas grávidas na região perianal é responsável pela manifestação clínica mais frequente nessa parasitose: o prurido (coceira) perianal que piora à noite. UNIUBE 253 A enterobiose é uma doença muito comum entre crianças na idade escolar, e os professores, muitas vezes, já fazem o diagnóstico pela observação das crianças coçando a região perianal. Em infecções com grande quantidade desses parasitos, eles podem sair vivos, movimentando-se, nas fezes. Ao coçar a região perianal, a pessoa infectada contamina as mãos com ovos presentes nessa região; ao levar a mão à boca, ou pegar um alimento, ingere novos ovos, reinfectando-se ─ a isso chamamos autoinfecção externa. Os ovos também podem eclodir na luz do reto e as larvas migrarem em direção à região cecal, onde se tornam vermes adultos, num processo denominado autoinfecção interna. Somado a isso, os ovos presentes na região perianal podem eclodir, as larvas penetram por meio do ânus e migram pela luz do intestino grosso para se tornarem adultas no ceco – esse processo é denominado retroinfecção. Essas formas de reinfecção podem acontecer porque os ovos que saem nas fezes ou ficam aderidos na região perianal, tornam-se infectantes em poucas horas. Essa característica, somada ao fato dos ovos serem pouco densos, ou seja, muito “leves”, favorecem a dispersão dos ovos infectantes em todo o ambiente em que a pessoa com enterobiose convive. Justamente por isso, todas as pessoas que convivem com o indivíduo diagnosticado com essa parasitose devem ser tratadas, pois estão potencialmente infectadas. 254 UNIUBE Na Figura 9, observamos o verme adulto de oxiurídio. 5.1.2.2 Trichuris trichiura O T. trichiura é um parasito pouco comentado, mas que tem uma prevalência considerável, e pode causar quadrosclínicos importantes. Com formato de um chicote, esse pequeno verme tem o ciclo evolutivo semelhante ao do E. vermicularis, porém até mais simples. Assim como o E. vermicularis, o Trichuris trichiura (Figura 10) habita o ceco, mas, é, nessa região, que acontece a postura de ovos que precisam de alguns dias no ambiente para tornarem-se infectantes. Portanto, na tricuríase não existe autoinfecção. Figura 10: Ovo de Trichuris trichiura. Foto: Aldo Matos. Figura 9: Verme adulto de oxiurídio. Foto: Aldo Matos. UNIUBE 255 Veja, na Figura 11, o ciclo evolutivo do Trichuris trichiura: Figura 11: Ciclo evolutivo do Trichuris trichiura. Fonte: Acervo EAD-Uniube. No ceco (Figura 11), os vermes adultos inserem na mucosa, a parte mais fina de seu corpo (“a corda do chicote”), na qual se encontra o aparelho bucal. Assim, o parasito prende-se à mucosa intestinal e provoca uma reação inflamatória, com intensa hiperemia e edema acentuado. Em infecções leves (com poucos parasitos), o quadro é assintomático; nas infecções de intensidade média, pode ocorrer diarreia pastosa com muco e sangue (diarreia mucossanguinolenta) e, nas infecções muito intensas, o parasito é encontrado em toda a extensão do intestino grosso até o reto, causando edema nessa região que, se muito intenso, pode provocar a projeção da mucosa por meio do ânus, um quadro chamado prolapso retal. 5.1.3 Nematelmintos sanguíneos e teciduais 5.1.3.1 Wuchereria bancrofti Esse é um verme bastante interessante. A infecção ocorre por meio da picada de um mosquito, o Culex quinquefasciatus. O verme aloja-se nos vasos linfáticos, causando sua obstrução com derrame de linfa 256 UNIUBE Figura 12: Ciclo evolutivo do Onchocerca volvulus. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Seu habitat mais frequente é no tecido subcutâneo, onde forma nódulos conhecidos como oncocercomas. Mas, ainda pode invadir o globo ocular, causando cegueira, ou mesmo, obstruir vasos linfáticos promovendo um quadro de elefantíase. para os tecidos e cavidades (linforragia) que promove edema, com aumento do tamanho da área afetada, principalmente membros inferiores e superiores. A distensão da pele, provocada pelo edema, favorece a penetração de bactérias do gênero Staphylococcus, levando a um aspecto de membros com formato e pele semelhantes aos de paquiderme (elefante). Esse é o quadro conhecido como elefantíase. No Brasil, a infecção por esse parasito, ou seja, a filariose bancroftiana, ocorre em algumas áreas litorâneas do nordeste e do sul do País. 5.1.3.2 Onchocerca volvulus De ocorrência mais comum na região amazônica e no continente africano, esse verme (Figura 12) é uma filária transmitida por meio da picada do Simulium sp. UNIUBE 257 No filo dos platelmintos (Quadro 2), encontram-se os vermes achatados, habitantes do intestino delgado de seus hospedeiros definitivos. Esses vermes, em sua maioria, realizam ciclo evolutivo heteroxeno, ou seja, necessitam de dois hospedeiros para completar o ciclo de vida. Nesse filo, existem duas classes de grande interesse: • classe Cestoda, na qual encontramos os parasitos com o corpo segmentado, dos gêneros Taenia, Hymenolepis e Echinococcus; • classe Trematoda, na qual encontramos o gênero Schistosoma. Doenças causadas por platelmintos5.2 Quadro 2: Características gerais dos principais platelmintos parasitos de humanos Parasito Tamanho Mecanismo de infecção para humanos Hospedeiro definitivo Hospedeiro intermediário Habitat em humanos Taenia solium Até 5 m Ingestão da larva (cisticerco) em carnes de suínos Humanos Suínos Intestino del-gado Taenia saginata Até 10 m Ingestão da larva (cisticerco) em carnes de bovi- nos Humanos Bovinos Intestino del-gado Hymenolepis nana 3-5 cm Ingestão da larva (cisticercoide) e pulgas ou coleóp- teros (o caruncho de cereais). Ingestão de ovos embrionados na água ou verduras contaminadas Humanos Pulgas e co-leópteros Intestino del- gado Echinococcus granulosus 4-6 mm Ingestão de ovos embrionados na água ou verduras contaminadas Cães e raposas Ovinos (ove- lhas), caprinos (cabras) e humanos Vísceras como fígado, pul- mões, rins e o sistema nervo- so central Schistosoma mansoni Machos 1 cm Fêmeas 1,5 cm Penetração cutâ- nea da larva cer- cária liberada na água pelos mo- luscos do gênero Biomphalaria Humanos Moluscos (caramujos) do gênero Biom- phalaria (B. glabrata, B.tenagophyla, B. straminae) Veias do siste- ma porta Fonte: Aldo Matos. 258 UNIUBE Vamos, agora, estudar um pouco sobre os platelmintos apresentados no Quadro 2, para compreender sua importância no cenário das parasitoses. 5.2.1 Taenia solium e Taenia saginata Esses platelmintos são bastante conhecidos pela população em geral, que os chamam de “solitária”. Esse nome faz sentido porque esse parasita é hermafrodita e, portanto, não precisa de parceiro para se reproduzir. Apesar da grande semelhança entre esses dois parasitos (Taenia solium e Taenia saginata) tratam-se de duas espécies diferentes. Além de utilizarem hospedeiros intermediários distintos (suínos para T. solium e bovinos para T. saginata), existem algumas diferenças morfológicas entre essas duas espécies que merecem atenção (Figuras 13, 14 e 15). As principais diferenças estão resumidas no Quadro 3 a seguir: Quadro 3: Quadro comparativo da morfologia da Taenia solium e da Taenia saginata Característica Taenia solium Taenia saginata Tamanho do verme adul- to até 5m até 10m Formato do escólex (ca- beça) globoso quadrangular Coroa de acúleos (espi- nhos) nos escólex presente ausente Ramificações uterinas pouco numerosas e do tipo dendríticas muito numerosas e do tipo dicotômicas Eliminação das proglotes saem passivamente nas fezes saem ativamente nas fezes Fonte: Aldo Matos UNIUBE 259 Figura 13: Escólex da Taenia saginata contendo as quatro ventosas. Figura 14: Escólex da Taenia solium. Note os acúleos escuros, no ápice do escólex e as quatro ventosas. Foto: Aldo Matos. Figura 15: Ciclo evolutivo das Taenia sp. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A compreensão das doenças causadas por platelmintos do gênero Taenia requer a distinção entre os quadros causados por diferentes formas evolutivas desse parasito, que são: teníase e cisticercose. Teníase: significa a presença dos vermes adultos da T. solium ou a T. saginata no intestino delgado de humanos. A infecção, nesse caso, ocorre pela ingestão da larva nas carnes cruas ou mal passadas. 260 UNIUBE Apenas os humanos têm teníase por T. solium ou T. saginata. O que o bovino ou o suíno tem é cisticercose. Somente a Taenia solium pode causar cisticercose no homem. A cisticercose pode acometer diferentes tecidos ou órgãos e não apenas o sistema nervoso central. Ao contrário do que se fala corriqueiramente, a pessoa que tem neurocisticercose, não possui “ovo de solitária” na cabeça, mas sim, a larva do parasito instalada no Sistema Nervoso Central. IMPORTANTE! Por serem causadas pelo mesmo parasito, a teníase e a cisticercose são doenças correlacionadas, ocorrendo conjuntamente na mesma população, o que nos faz analisá-las como um complexo teníase- cisticercose. A aplicação de medidas de prevenção e controle para uma dessas doenças, também previne e controla a outra. Então, combater o abate clandestino de suínos e bovinos e fiscalizar a higidez das carnes comercializadas são medidas de prevenção e controle direto da teníase. Garantir o destino correto para as fezes, o tratamento de esgoto, a filtração da água para beber e a higiene pessoal e dos vegetais ingeridos crus, previne e controla diretamente a cisticercose. Mas, todas essas medidas servem para prevenir e controlar tanto a teníase quanto a cisticercose. 5.2.2 Hymenolepis nana Esse pequeno cestoda não tem recebido a devida atenção. Veja a Figura 16: Cisticercose: significa a presença da larva, ou seja, o cisticerco, nos tecidos ou órgãos do hospedeiro. A infecção, nesse caso, ocorre pela ingestão dos ovos embrionadosdo parasito. UNIUBE 261 Figura 16: Ovo de Hymenolepis nana. Foto: Aldo Matos. Do ponto de vista biológico, ele é interessante porque utiliza pulgas e coleópteros como hospedeiros intermediários e também porque, diferente dos outros platelmintos apresentados aqui, podem realizar os dois tipos de ciclo: monoxeno ou heteroxeno. No ciclo monoxeno, o único hospedeiro é o ser humano (Figura 17). Figura 17: Ciclo evolutivo do Hymenolepis nana. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Do ponto de vista clínico, ele chama atenção porque produz uma toxina que é absorvida pela mucosa intestinal, alcançando o sistema nervoso central, levada pela circulação sanguínea. Em casos de alta 262 UNIUBE Figura 18: Ciclo evolutivo do Echinococcus granulosus. Fonte: Acervo EAD-Uniube. As pessoas que criam cabras e ovelhas, geralmente têm cães que os auxiliam nesse trabalho e, portanto, estão sujeitas a ingerir os ovos do parasito. Em humanos, esse verme causa a hidatidose, uma doença caracterizada pela presença da larva hidátide nas vísceras, principalmente no fígado carga parasitária, a concentração dessa toxina pode ser tão elevada que estimula o córtex motor, provocando crises convulsivas. As crises convulsivas, por vezes observadas na neurocisticercose, são decorrentes da lesão produzida no encéfalo pelas larvas da T. solium. Na infecção pelo H. nana, não existe lesão alguma, mas a estimulação excessiva do córtex motor. 5.2.3 Echinococcus granulosus Esse é o menor cestoda apresentado nesse capítulo. Ele tem os cães e raposas como hospedeiros definitivos, e os ovinos e caprinos como hospedeiros intermediários (Figura 18). UNIUBE 263 Figura 19: Escólex de Echinococcus granulosus na areia hidática. Foto: Aldo Matos. ou nos pulmões, e mais raramente, no sistema nervoso central. Essa forma larvária tem a particularidade de atingir grandes dimensões, apresentando-se como uma grande vesícula cheia de um líquido rico em proteína e açúcar, no qual encontramos dispersos, os escólex do E. granulosus (Figura 19). Esses escólex têm as dimensões aproximadas de um grão de areia, o que justifica chamar o conteúdo do interior da hidátide de areia hidática e tem a particularidade de só existir, em humanos, na forma de uma larva chamada hidátide. A sintomatologia da hidatidose é semelhante àquela apresentada por um tumor benigno e resulta da compressão dos órgãos, devido ao tamanho da hidátide. A larva cresce lentamente, durante anos, e assim os sintomas demoram a chamar a atenção da pessoa, que, portanto, demora a procurar auxílio médico. Como a hidatidose em humanos está relacionada à criação de ovinos e caprinos, sua ocorrência, no Brasil, está mais localizada nas regiões de criação desses rebanhos, ou seja, no sul e nordeste do País, respectivamente. 264 UNIUBE Figura 20: Macho do Schistosoma mansoni corado pelo carmim. Figura 21: Fêmea de Schistosoma mansoni corada pelo carmim. Foto: Aldo Matos. Figura 22: Casal de Schistosoma mansoni, vistos a olho nu. Foto: Aldo Matos. Esse platelminto pertencente à classe Trematoda é dioico e necessita de um hospedeiro intermediário, um molusco do gênero Biomphalaria (Figura 23). 5.2.4 Schistosoma mansoni Esse verme é mais comentado no Brasil e está relacionado a um quadro clínico de ascite, conhecido popularmente como “barriga d’água” ou xistose (existem machos e fêmeas; Figuras 20, 21 e 22). UNIUBE 265 Figura 23: Conchas de Biomphalaria sp. Foto: Aldo Matos. O estudo da distribuição da doença no Brasil, ao longo dos tempos, mostra que esse parasito é originário da África, tendo chegado ao nosso País com o tráfico negreiro. Isso explica porque as áreas mais antigas de prevalência da esquistossomose mansônica em nosso País coincidem com as áreas de maior utilização de mão de obra escrava no período colonial. A infecção do hospedeiro definitivo, como os humanos, ocorre pela penetração cutânea da larva cercária, liberada do molusco infectado (Figura 24). Figura 24: Ciclo evolutivo do Schistosoma mansoni. A área sombreada corresponde à parte do ciclo que ocorre na água. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 266 UNIUBE Os estímulos para a cercária sair do molusco e nadar na água à procura do hospedeiro definitivo, são a luz e calor. Portanto, nos períodos mais quentes e iluminados do dia, por volta da hora do almoço, o risco de contrair xistose é maior, porque haverá mais cercárias na água. Coincidentemente, esse é o horário em que as pessoas mais frequentam os mananciais de águas para praticar esportes aquáticos, refrescarem-se ou para atividades de trabalho, como lavar roupas. Os parasitos adultos vivem nos vasos do sistema porta, consumindo ferro e grande quantidade de glicose. As fêmeas fazem a ovoposição dentro de vaso de pequeno calibre, geralmente na região do reto. Esses ovos precisam sair da luz dos vasos sanguíneos e atravessar a mucosa intestinal, em direção à luz do intestino grosso. Nesse caminho, provocam hemorragia e inflamação. Em consequência, as agressões geram um quadro de diarreia com muco e sangue, conhecido como diarreia mucossanguinolenta. Porém, nem todos os ovos conseguem chegar à luz do intestino. Alguns ficam presos na mucosa intestinal, estimulando uma inflamação crônica granulomatosa, formando os granulomas. A reação granulomatosa também acontece no fígado (Figura 25), devido aos ovos que sequer conseguiram sair dos vasos sanguíneos e foram arrastados para esse órgão pela circulação venosa. Figura 25: Granulomas no fígado, provocados pelos ovos de Schistosoma mansoni. Foto: Aldo Matos. UNIUBE 267 Na reação granulomatosa, ocorre a destruição do tecido normal, que é substituído por tecido conjuntivo fibroso. No fígado, esse processo, conhecido como fibrose, promove a compressão dos vasos sanguíneos, gerando hipertensão portal (elevação da pressão no sistema porta), que é responsável pela ascite (acúmulo de líquido na cavidade peritoneal). Assim, podemos dizer que o ovo (Figura 26) é a forma evolutiva do S. mansoni, responsável pela formação dos granulomas da ascite. Felizmente, esses quadros mais graves não são muito frequentes na população infectada. É mais frequente encontrar a infecção assintomática ou com poucos sintomas. Figura 26: Ovo de Schistosoma mansoni em amostras de fezes. Note a espícula lateral. Foto: Aldo Matos. Quando analisamos a epidemiologia da doença, encontramos alguns equívocos. Apesar de muitas pessoas falarem que a xistose é a doença das “lagoas da coceira”, fazendo alusão à ocorrência de moluscos em águas paradas e ao prurido (coceira) provocado pela penetração da cercária na pele, essa expressão é equivocada. Os moluscos aderem- se à vegetação da margem dos cursos d’água. Então, basta que a velocidade da correnteza na margem seja baixa o suficiente para não desprendê-los da vegetação, para que a área seja colonizada por moluscos. Portanto, não é necessário que a água esteja parada. Na verdade, existem rios caudalosos em cujos remansos, ou “prainhas”, existe a transmissão da xistose. Também, há cachoeiras, na base das quais, formam-se piscinas naturais, em cujas margens encontram-se 268 UNIUBE Figura 27: Verme adulto de Schistosoma mansoni. Foto: Aldo Matos. A infecção pelo S. mansoni tem se estabelecido em novas regiões e, diferente do que muitos pensam, não está restrita à zona rural ou a municípios pouco desenvolvidos. Na periferia de algumas grandes cidades, também é possível encontrar focos de transmissão da doença. O caramujo, conhecido como “caramujo africano”, que atualmente é uma praga no Brasil, chama-se Achatina fulica e não tem nenhuma relação com a esquistossomose. IMPORTANTE! Ao ler os capítulos sobre verminoses, nos livros de Parasitologia Humana, você perceberá que as medidas de profilaxia e controle são Profilaxia e controle das verminoses intestinais5.3 os moluscos. Quanto à coceira, essa só deve ocorrer em infecções por grande quantidade de cercárias, levando a um quadro dedermatite cercariana, o que não é muito comum. Veja na Figura 27, detalhes das ventosas oral (acima) e ventral (abaixo) do verme adulto de Schistosoma mansoni. UNIUBE 269 bastante repetitivas entre os parasitos. E, por isso, pode ser que você não dê a devida atenção a esse tema. Então, vamos apresentar algumas observações importantes nessa temática. Primeiramente, é necessário diferenciar profilaxia e controle: • profilaxia é a estratégia destinada a impedir que as pessoas contraiam a infecção. Engloba medidas de proteção individual e medidas de proteção da coletividade; • controle é a estratégia destinada a abaixar a prevalência da doença na população. Na prática, muitas medidas são comuns à profilaxia e ao controle. Por isso mesmo, é costume trabalhar profilaxia e controle juntos. Mas, seja pensando em profilaxia ou controle, existe a necessidade de conhecer os fatores de risco para a ocorrência das doenças. No caso de verminose, os fatores de risco comuns a qualquer parasitose intestinal são: • ausência de rede de esgoto ou fossa, porque permite a contaminação do ambiente (solo e água), com ovos e larvas evacuadas juntamente com as fezes; • consumo de água sem filtrar, porque a filtração elimina as formas infectantes dos parasitos, que porventura estejam na água. Considera-se que mesmo a água tratada deve ser filtrada para consumo; • hábitos de higiene pessoal precários, porque as mãos contaminadas são veículos que carregam patógenos. Na sujeira que se acumula embaixo da parte solta da unha (conteúdo subungueal), é possível encontrar os patógenos presentes em tudo o que já tocamos. Assim, transferimos essa contaminação para tudo que tocarmos posteriormente; • precária higienização das hortaliças consumidas cruas, porque, se o solo ou a água usada para aguá-las estiverem contaminados, contaminarão também as hortaliças. 270 UNIUBE A higienização das folhas (alface etc.), que serão consumidas cruas, pode ser realizada lavando-as em água corrente e deixando de molho, por 30 minutos, em uma solução preparada com uma colher de sopa de hipoclorito (água sanitária) para cada litro de água. Devido ao sabor desagradável da água sanitária, você pode optar por deixá-las de molho, também por trinta minutos, em uma solução preparada com duas colheres de vinagre para cada litro de água. O tomate, a cenoura, etc, devem ser lavados com água e sabão, esfregando com bucha. SAIBA MAIS Também, pensando em controlar as parasitoses, é necessário diagnosticar as pessoas infectadas, por meio de exames parasito- lógicos de fezes, e tratá-los com o medicamento adequado. Embora essa medida seja bastante valorizada nos planos de controle de parasitoses, ela não surte o efeito desejado sem a melhora nas condições de vida das pessoas. Isso porque, se tratarmos a população sem controlarmos adequadamente os fatores de risco, logo após o tratamento essas pessoas serão reinfectadas. Para alguns parasitos, existem medidas profiláticas específicas, além das medidas gerais já apresentadas. Por exemplo, no caso da enterobiose, os ovos do E. vermicularis tornam-se infectantes em pouco tempo e acumulam-se na região perianal. O prurido perianal, característico dessa Para controlar esses fatores de risco, precisamos garantir: • destino correto para fezes, garantindo a existência de rede de esgoto ou fossas construídas longe de mananciais de água; • filtrar a água para beber, mesmo que exista tratamento de água no município; • educação sanitária, no sentido de desenvolver com a comunidade, conhecimentos sobre parasitoses e hábitos de higiene individual e coletiva; • higienizar as hortaliças que serão consumidas cruas. UNIUBE 271 O crescimento e a diferenciação celular são necessários para o desenvolvimento do organismo pois permitem a manutenção da morfologia, da função celular e a reposição de células que morrem durante a nossa vida. As células estão constantemente sujeitas a estímulos internos e externos ao organismo. Como exemplo, citamos as parasitoses estudadas neste capítulo. Sendo assim, é frequente surgirem alterações nos mecanismos de controle destes processos, originando os distúrbios do crescimento e da diferenciação celular. Crescimento e diferenciação celular5.4 parasitose, faz com que a pessoa infectada contamine as mãos e as unhas ao coçar a região. Então, para controlar essa parasitose, é bom tomar banhos matinais, lavando bem a região perianal com água e sabão, para remover os ovos que se acumularam no período noturno. Também é importante manter as unhas curtas. No caso de parasitos com ciclo heteroxeno, existem medidas destinadas a eliminar os hospedeiros intermediários, pois sem eles o ciclo não se completa e a doença não se perpetuará na população humana. Assim, para controlar a xistose, por exemplo, existem medidas destinadas à eliminação do Biomphalaria sp, com o uso de venenos molusquicidas e o controle biológico, por meio de competidores que se alimentam desses moluscos. Como você está vendo, a profilaxia e, especialmente, o controle das parasitoses intestinais, é algo bastante complexo, que exige conhecimento técnico, tempo, investimento e vontade política. Caro aluno, antes de darmos início ao estudo de cada distúrbio, iremos rever a capacidade de replicação das células normais, ou seja, a capacidade que as células possuem de se dividir. Você se lembra? 272 UNIUBE Vejamos... Quanto a esta característica, as células são denominadas: • lábeis: são as células que se encontram em constante atividade mitótica substituindo as células que morrem. Representadas pelas células dos epitélios de revestimento e pelas células hematopoéticas; • estáveis: são as células que apresentam baixo índice de divisão, mas apresentam a capacidade de se replicar mediante estímulos. Representadas pelas células parenquimatosas de órgãos glandulares como, por exemplo, fígado, células musculares lisas, astrócitos e células endoteliais; • perenes: são células maduras e que perderam a capacidade de se dividirem. Representadas pelos neurônios, embora atualmente existam questionamentos a estes conceitos frente às pesquisas que vêm sendo realizadas na área com células-tronco. Você se lembra dos estudos sobre o ciclo celular (Figura 28)? Procure relembrar essas informações, a partir de nossos materiais das etapas iniciais de nosso curso. Em seguida, diferencie cada uma das fases encontradas na mitose e na meiose I e II: prófase, anáfase, metáfase e telófase. 5.4.1 Regulação do crescimento celular Os organismos multicelulares adultos conservam constante o tamanho e o número de suas células, após a sua diferenciação. Os agentes responsáveis pela manutenção da população celular normal são os chamados estimuladores e inibidores da divisão celular. São eles: UNIUBE 273 Figura 28: Ciclo celular. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 5.4.1.1 Fatores de Crescimento (FC) São polipeptídeos produzidos por diferentes células do organismo que são capazes de estimular ou inibir a divisão celular. São exemplos de FC: PDGF (Fator de Crescimento Derivado das Plaquetas), EGF (Fator de Crescimento Epidérmico), FGF (Fator de Crescimento de Fibroblasto), entre outros. Os FCs atuam por diferentes mecanismos: • autócrino (quando atuam na mesma célula que o produziu); • parácrino (quando atuam na célula vizinha à de sua produção); • endócrino (quando atuam em células distantes da de sua produção). 5.4.1.2 Adesão celular A célula cessa a sua divisão e deslocamento ao entrar em contato com as moléculas de adesão (Figura 29) (caderinas, integrinas e a superfamília das imunoglobulinas) de outras células ou com a matriz extracelular (fenômeno da inibição pelo contato). 274 UNIUBE Figura 29: Caderina: molécula de adesão celular. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Células-tronco e renovação dos tecidos Você sabe o que são as células-tronco? Qual a sua importância? Onde são encontradas? Pois bem, as células-tronco são “célulasindiferenciadas com capacidade de intensa proliferação e, que, após inúmeras divisões se diferenciam e regeneram ou renovam células de diferentes tecidos” (BRASILEIRO, 2004, p.179). SAIBA MAIS Quando ocorrem alterações no sistema que regula a taxa de divisão e diferenciação celular, os distúrbios do crescimento e da diferenciação celular são originados. 5.4.2 Distúrbios do Crescimento celular Alterações do volume celular: resultante do aumento ou da redução da síntese dos constituintes celulares, o que acarretará o aumento ou redução de seu volume: UNIUBE 275 • hipotrofia (Figura 30) é a diminuição do volume e da função celular (do gr. hypo = pouco, redução; trophos = nutrição, metabolismo); • hipertrofia (Figura 30) é o aumento do volume e da função celular (do gr. hyper = excesso, além). Figura 30: Células normais e apresentando hipotrofia e hipertrofia. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Alterações da Taxa de Divisão Celular: decorrente do aumento ou da diminuição da taxa de divisão celular: hiperplasia ou hipoplasia (gr. plasis = formação), respectivamente. O termo aplasia (do grego, a = ausência) é utilizado erroneamente como sinônimo de hipoplasia. Por exemplo: anemia aplásica no lugar de anemia hipoplásica. AMPLIANDO O CONHECIMENTO 5.4.2.1 Hipotrofia É um processo reversível caracterizado pela redução do volume da célula e do órgão (Figura 31), “em consequência da redução quantitativa dos componentes estruturais e das funções celulares, podendo ser acompanhado da diminuição do número de células (apoptose)” (BRASILEIRO, 2004, p. 182). 276 UNIUBE Figura 31: Hipotrofia renal. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Etiopatogênese Veja a hipotrofia, na Figura 32: Figura 32: Hipotrofia glandular – Antro. HE, 100x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. A hipotrofia (Figura 32) pode ser fisiológica ou patológica. • hipotrofia fisiológica: é decorrente do envelhecimento (senilidade) devido à diminuição do metabolismo celular; • hipotrofia patológica: decorrente de diversos fatores: UNIUBE 277 - isquemia parcial: redução da oferta de sangue a um tecido por obstrução arterial parcial (aterosclerose, trombose, embolia); - inanição: decorrente da nutrição inadequada e/ou doenças crônicas como na gastrite ou câncer; - desuso: quando há imobilização de um membro devido a fratura óssea ou paralisia; - compressão das células parenquimatosas: por líquidos (edema, hemorragia) ou por lesões expansivas, tais como, tumores; - interrupção de estímulos neurais e/ou hormonais: como a que ocorre na poliomielite ou na lesão medular e hipotrofia do endométrio uterino na menopausa, devido à redução dos níveis de estrógeno. Consequências • Hipotrofia fisiológica: como há diminuição do metabolismo celular no organismo como um todo, há o estabelecimento de um novo estado de equilíbrio; • Hipotrofia patológica: é dependente do órgão acometido. 5.4.2.2 Hipertrofia A hipertrofia é um processo reversível, caracterizado pelo aumento do volume da célula e do órgão, em consequência do aumento quantitativo dos componentes estruturais e das funções celulares. Pode ser acompanhado do aumento do número de células (hiperplasia), ficando a região afetada mais volumosa e mais pesada, assim como o órgão acometido (Figura 33). 278 UNIUBE Etiopatogênese A hipertrofia se origina quando há uma maior exigência de trabalho celular e pode ser fisiológica ou patológica. • Hipertrofia fisiológica: - musculatura do útero (miométrio), na gestação, decorrente de estímulos hormonais (Figura 34); Figura 34: Hipertrofia uterina. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Figura 33: Coração normal e com hipertrofia ventricular à direita. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. UNIUBE 279 - hipertrofia da musculatura esquelética (atletas, trabalhador braçal), devido a grandes esforços físicos. • Hipertrofia patológica: É decorrente de vários fatores, sendo os mais comuns: - sobrecarga de trabalho; - hipertrofia do miocárdio nas estenoses e insuficiências valvares; - hipertrofia da musculatura lisa da bexiga (Figura 35) na hiperplasia nodular da próstata, devido ao estreitamento da uretra prostática e a retenção da urina na bexiga; Figura 35: Hipertrofia da musculatura lisa da bexiga. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. - hipertrofia da musculatura lisa do esôfago e do cólon na Doença de Chagas; - ação hormonal - hipertrofia das células foliculares da tireoide, no hipertiroidismo. Consequências Sendo um processo reversível, uma vez cessado o estímulo, a célula hipertrófica volta ao seu volume normal. 280 UNIUBE Se o estímulo persistir, as células hipertrofiadas entram em apoptose, acarretando redução da função do órgão acometido. Por exemplo, a insuficiência cardíaca na sobrecarga prolongada do miocárdio na doença de Chagas. 5.4.2.3 Hipoplasia É a redução da população celular de um órgão ou de parte dele, com diminuição do volume e do peso da região afetada e do órgão acometido. É um processo reversível, exceto os decorrentes de anomalias congênitas. Etiopatogênese - defeitos na formação de um órgão ou parte dele durante a embriogênese; - redução da renovação celular e/ou aumento da taxa de destruição celular. A hipoplasia pode também ser de origem fisiológica ou patológica. • hipoplasia fisiológica: - timo, a partir da puberdade; - gônadas, no climatério. • hipoplasia patológica: - medula óssea (anemia hipoplásica) - nas intoxicações ou infecções; - órgãos linfoides - na AIDS/SIDA; - linfócitos - na corticoidoterapia. • Consequências Dependem da sua localização e intensidade, é grave em órgãos vitais: coração, pulmão, cérebro, rins. Anomalias congênitas Também chamadas defeitos do nascimento, são anormalidades físicas presentes no momento do nascimento, devido a alterações cromossômicas herdadas de um dos pais ou de ambos. UNIUBE 281 5.4.2.4 Hiperplasia A hiperplasia é o aumento do número de células (lábeis ou estáveis) em um órgão ou parte dele, em consequência ao aumento da taxa de divisão celular, com o aumento do peso e do volume do órgão acometido. Como na hipertrofia, na hiperplasia, há maior síntese de proteínas. Portanto, para que ocorra a hiperplasia é necessário haver integridade morfofuncional da célula, circulação adequada e inervação íntegra. • Etiopatogênese A hiperplasia também é um processo reversível e os estímulos que levam a sua ocorrência geralmente são os mesmos da hipertrofia, por exemplo, a sobrecarga de trabalho. A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica: • hiperplasia fisiológica: - estimulação hormonal: útero na gravidez e mama na puberdade ou lactação, entre outras; - compensatória ou vicariante: rim, após nefrectomia unilateral; fígado após hepatectomia parcial, entre outras. • hiperplasia patológica: geralmente ocorre na hiperprodução hormonal, como: - hiperfunção da hipófise: glândulas-alvo dos hormônios produzidos em excesso apresentam hiperplasia. Por exemplo: Síndrome de Cushing (hiperplasia e hiperfunção da cortical da suprarrenal); gigantismo (hiperprodução de hormônio de crescimento), entre outras; - aumento do nível de estrógeno: hiperplasia do endométrio; - redução dos níveis de testosterona e aumento relativo de estrógeno: hiperplasia nodular prostática (figuras 36 e 37). 282 UNIUBE Figura 36: Próstata normal (destaque). Figura 37: Hiperplasia da próstata (destaque) e hipertrofia da musculatura lisa da bexiga. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. O risco de surgir um tumor nas hiperplasias patológicas ser maior do que em tecidos normais é devido ao aumento da taxa de divisão celular sendo consideradas lesões potencialmente neoplásicas. 5.4.3 Alterações da diferenciação celular Metaplasia Metaplasia é a transformação de um tecido adulto (epitelial ou mesenquimal) em outro da mesma linhagem, porém mais resistente, em resposta a irritações persistentes. A metaplasia pode ser dotipo epitelial ou mesenquimal: • Tipos de metaplasia epitelial - epitélio estratificado pavimentoso não ceratinizado em epitélio ceratinizado (epitélio da boca ou esôfago); - epitélio pseudoestratificado ciliado em epitélio estratificado pavimentoso ceratinizado ou não (metaplasia brônquica); Metaplasia (do grego, meta = variação, mudança) é a substituição de um tecido adulto normal por outro adulto normal de mesma origem. Por exemplo, substituição do epitélio estratificado escamoso pelo glandular. Tecido mesenquinal ou mesênquima É um tecido embrionário derivado da mesoderme. Durante suas fases de transformação, o mesoderma origina uma espécie de tecido conjuntivo primitivo chamado mesênquima. A partir do mesênquima, passam a se formar todos os tecidos conjuntivos (conectivo, adiposo, cartilaginoso, ósseo e hematopoiético), bem como os tecidos musculares. UNIUBE 283 - epitélio mucossecretor em epitélio estratificado pavimentoso, com ou sem ceratinização: epitélio endocervical em epitélio escamoso tipo ectocervical (colo do útero) (Figura 38); Figura 38: Metaplasia da mucosa uterina (endocérvix). Fonte: Acervo EAD-Uniube. Na Figura 38, vemos a metaplasia da mucosa uterina (endocérvix): A) Epitélio cilíndrico normal, B) Hiperplasia de células subcilíndricas, C) Metaplasia escamosa imatura, D) Metaplasia escamosa madura. - epitélio glandular seroso em epitélio mucíparo: metaplasia intestinal da mucosa gástrica (estômago, esôfago, vesícula biliar) (Figura 39). Figura 39: Metaplasia intestinal – Mucosa gástrica. HE, 200x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 284 UNIUBE Observe na figura 39, Metaplasia intestinal – Mucosa gástrica, como a metaplasia provoca alteração de um tipo de célula ou tecido adulto em outro tipo de célula ou tecido adulto. • Tipos de metaplasia mesenquimal - metaplasia cartilaginosa: transformação do tecido conjuntivo em tecido cartilaginoso ou ósseo (cicatrizes e cápsula sinovial); - metaplasia óssea: transformação do tecido cartilaginoso em ósseo ─ lesões cicatriciais (tuberculose, pancreatite, tecidos moles). Etiopatogênese A metaplasia é um processo de adaptação celular, com a substituição de células mais sensíveis ao estresse, por células mais resistentes. Origem das metaplasias - tecidos em intensa atividade mitótica (células germinativas); - células adultas diferenciadas. Fatores - agressões mecânicas: próteses dentárias (epitélio da gengiva ou da bochecha); - calor: alimentos quentes (chimarrão, chás) sobre o epitélio oral e do esôfago ou o uso de cachimbo (lábios); - irritação química: ação do fumo sobre a mucosa brônquica; - inflamações crônicas: gastrites, do colo uterino, entre outras. Consequências • volta do tecido à sua normalidade (se cessado o estímulo), por se tratar de um processo reversível; • displasias, se o estímulo persistir, apesar de não serem consideradas lesões pré-malignas; UNIUBE 285 • carcinoma gástrico, maior risco nos indivíduos que apresentam metaplasia intestinal. Veja a Figura 40: Figura 40: Leucoplasia na mucosa oral (seta). Fonte: Acervo EAD-Uniube. A leucoplasia (do grego, leukos = branco) é um termo clínico utilizado para lesões brancacentas em mucosas (colo uterino, oral, esofágica, entre outras), correspondendo à transformação de um epitélio escamoso não ceratinizado em ceratinizado (Figura 40). 5.4.4 Alterações do crescimento e da diferenciação celular 5.4.4.1 Displasia Displasia (do grego, dis = irregularidade, imperfeição; plasis = formação) é a desorganização da proliferação celular acompanhada da diminuição ou indiferenciação celular. Neste contexto, displasia é compreendida como uma alteração do crescimento e da diferenciação celular. Indiferenciação celular Sinônimo de imaturidade celular, células com aspecto embrionário, primitivo. 286 UNIUBE As displasias de mucosas (colo uterino, brônquios e a gástrica), muitas vezes precedem os cânceres que aí se desenvolvem. REGISTRANDO Segundo a OMS, as displasias nos epitélios são denominadas de neoplasias intraepiteliais e são classificadas conforme o grau de atipia celular em: leve, moderada ou acentuada. Tipos de Neoplasia Intraepitelial Cervical (segundo a O.M.S.) Leve (NIC I): quando ocorre discreta alteração da arquitetura no terço inferior do epitélio pavimentoso estratificado (Figura 41). Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), displasia é uma lesão na qual parte do epitélio é substituída por células com variados graus de atipia. As displasias epiteliais são as mais conhecidas, e as mais frequentes do colo uterino; apresentam aumento da proliferação e diminuição da diferenciação celular. Etiopatogênese As displasias têm sua origem nos tecidos que apresentam altera- ções na expressão dos genes que regulam a taxa de divisão celular e a sua diferenciação, de modo mais intenso do que a que ocorre nas metaplasias, sendo, por isso, denominadas de lesões pré-cancerosas. Atipia Desvio da morfologia normal. UNIUBE 287 Figura 41: Displasia leve – fragmento de antro – estômago. HE, 200x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Moderada (NIC II): geralmente quando dois terços inferiores do epitélio são constituídos de células atípicas e o terço superior apresenta células de aspecto normal (Figura 42). Figura 42: Displasia moderada – lesão polipoide do cólon. HE, 200x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Acentuada ou Carcinoma in situ (NIC III): quando há alteração das três camadas do epitélio, ou seja, todo o epitélio é constituído por células imaturas ou atípicas (Figura 43). 288 UNIUBE Figura 43: Displasia de alto grau – cólon descendente. HE, 200x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Você pode perceber que na displasia de alto grau (Figura 43) as alterações são mais intensas, e são constituídas de células imaturas ou atípicas, que frequentemente se estendem além da porção basal do epitélio. Classificação de Bethesda: • lesão de baixo grau (NIC I); • lesão de alto grau (NIC II e NIC III). Segundo Franco e Montenegro (1999, p.221), “nos países ocidentais, devido à liberação sexual, e ao início precoce da atividade sexual, houve o aumento da frequência de câncer de colo uterino” (Figura 44) em pacientes jovens, e apresentando a seguinte evolução: • 30% dos casos, as lesões regrediram (NIC I); • 49% persistiram (NIC II); • 20% evoluíram para carcinoma in situ (NIC III); • 1,3% progrediram para carcinoma invasor (NIC III). UNIUBE 289 Figura 44: Lesões precursoras de carcinoma invasor no colo uterino. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Outros distúrbios: • agenesia (do grego, gênesis = formação): é uma anomalia congênita com a ausência de um órgão ou parte dele ou, ainda, de um tecido ou células em um órgão ( agenesia renal, agenesia do corpo caloso do cérebro, ausência de células germinativas testiculares na síndrome de “somente células de Sertoli”) (RUBIN, 2006, p.227); • distrofia: é o termo utilizado para as doenças degenerativas sistêmicas. Por exemplo: distrofias musculares; • ectopia ou heterotopia (do grego, ektos = fora; hetero = diferente): é a existência de um tecido fora de sua localização anatômica normal. Por exemplo, glândulas paratireoides no mediastino anterior (timo); • hamartias: crescimento desorganizado localizado em um determinado tecido de um órgão; se formar tumor = hamartoma; • coristia: crescimento de um tecido normal em locais onde normalmente não é encontrado; se formar tumor = coristoma. AMPLIANDO O CONHECIMENTO 290 UNIUBE 5.4.4.2 Neoplasias Prezado aluno, como foi estudado, existem fatores que regulam a divisão celular, o que permite a manutenção da população celular e a homeostase do organismo; sendo que, em condições normais, são inversamente proporcionais, o grau de diferenciação e a capacidade de multiplicação celular. Tumor X Neoplasia Tumor é um termo genérico dado a uma lesão expansiva, localizada, decorrentede processos patológicos, tais como: inflamação, hematomas, edemas, entre outros. Neoplasia (do grego, neo = novo; plasis = formação) se origina quando há alteração nos genes que regulam o crescimento e a diferenciação celular, e, nesta condição, a célula passa a se replicar autonomamente, independente de estímulos internos e externos, de forma descontrolada, ou seja, é uma lesão expansiva decorrente da proliferação celular. Nesse contexto, toda neoplasia é um tumor que resulta da mutação dos genes que controlam o crescimento e a diferenciação celular, tornando a célula neoplásica (Figura 45), morfológica e funcionalmente, diferente da célula que lhe deu origem. UNIUBE 291 Figura 45: Carcinoma invasor cribriforme (células neoplásicas malignas). HE, 400x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Genes que controlam o crescimento e a diferenciação celular • protooncogenes (proto-onc): sis, ras, myc, erbB, src, abl, entre outros; • genes supressores de tumor: p53, p27, Rb, entre outros. Genes de reparo do DNA • família MMR (Mismatch Repair Genes): constituída de genes responsáveis pelo reparo do pareamento errado do DNA. São eles: hMSH2, hMSH6, hMLH1, hPMS2. Mutações dos genes hMSH2 e hMLH1 levam ao surgimento de um tumor de cólon denominado Câncer Colônico Hereditário não Associado a Polipose (HNPCC); • família UVDR (UV Damage Repair) ou ERC (Excision-Repair Complement defective in Hamsters): constituída de genes que atuam no reparo do DNA após sofrer ação da radiação ultravioleta. Mutações nestes genes levam ao desenvolvimento de tumores. Exemplo: Xeroderma pigmentoso; • genes que atuam no reparo do DNA após sofrerem radiação ionizante por meio da codificação de proteínas de reconhecimento (proteínas cinases), proteínas de associação (da família RAD) para a formação do complexo reparador e que regulam proteínas reparadoras (genes BRCA-1 e BRCA-2); 292 UNIUBE • genes antiapoptóticos (Bcl-2, Bcl-XL, entre outros), se sofrerem alterações, aumentam a sua expressão reduzindo a apoptose e originando os tumores (linfomas foliculares de células B). Imunologia a tumores A ideia de que os tumores pudessem ser destruídos pelo sistema imunológico estimulou a realização de grandes estudos para análise da resposta imunológica para tumores. O conceito de vigilância imunológica por Macfarlane Burnet (na década de 1950) afirma que existe fisiologicamente, por parte do sistema imune, a função de reconhecer e destruir clones de células transformadas antes que elas se tornem neoplásicas e destruir tumores já formados. É bastante claro que o sistema imune age contra os tumores. Outra observação importante é que o sistema de defesa deve estar vigilante para impedir a proliferação celular descontrolada. Precisamos, neste momento, compreender as características dos antígenos tumorais e das respostas imunes para a completa compreensão da imunidade tumoral. A maioria das células tumorais expressa antígenos que são reconhecidos como estranhos pelo sistema imunológico do hospedeiro. Alguns estudos histopatológicos experimentais mostram que alguns tipos de tumores possuem ao seu redor células mononucleares. A presença de linfócitos normalmente indica melhor prognóstico. A defesa contra tumores é mediada principalmente por linfócitos T. As respostas imunes capazes de induzir a destruição das células tumorais Apoptose Morte celular devido à expressão de genes (gene p53, por exemplo),relacionada com a manutenção da homeostase e com a regulação fisiológica do tamanho dos tecidos, mas pode também ser causada por um estímulo patológico (como a lesão ao DNA celular). UNIUBE 293 têm predomínio de Linfócitos T citolíticos, células NK e macrófagos ativados. Mas, infelizmente, as respostas imunes quase sempre são dribladas pelas células tumorais e aí ocorre o desenvolvimento do tumor. Embora os tumores sejam capazes de expressar antígenos que são reconhecidos pelo sistema imunológico, a maioria dos tumores é fracamente imunogênica. A imunoterapia visa ampliar a resposta imunológica. Etiopatogênese “Os agentes carcinogênicos, sejam químicos, físicos ou biológicos têm a molécula de DNA como alvo, ou seja, os genes” (BRASILEIRO, 2004, p.203). Portanto, as neoplasias decorrem de um processo complexo, dependente de modificações no genoma celular (inativação, deleção ou expressão aumentada dos oncogenes e de genes supressores de tumor) de forma evolutiva que culminam com o surgimento de clones de células mutantes, “com capacidade de se dividirem autonomamente, destruir e invadir os tecidos vizinhos, dar metástases e formar os tumores. Os tumores assim formados são monoclonais” (BRASILEIRO, 2004, p. 201). Classificação das neoplasias As neoplasias são classificadas em benignas ou malignas, dependendo de suas características morfológicas macro e microscópicas e de seus efeitos sobre o organismo do hospedeiro (efeitos biológicos). As benignas geralmente não colocam em risco a vida de seu hospedeiro. As malignas, em geral, são letais. O Quadro 4, a seguir, apresenta as diferenças entre as neoplasias benignas e malignas. 294 UNIUBE Quadro 4: Características das neoplasias Fonte: Adaptado de Brasileiro (2004, p. 193). Características Benignas Malignas Índice mitótico baixo alto Tipo de crescimento expansivo invasivo/infiltrativo Grau de diferenciação celular diferenciada de diferenciada até anaplásica Figuras de mitose raras, típicas frequentes, típicas e atí- picas Atipias (celular e arquitetural) raras frequentes Processos patológicos (degenera- ção, necrose, hemorragia) raros frequentes Delimitação da lesão definida imprecisa Efeitos (locais e sistêmicos) geralmente inex- pressivos às vezes, letais Adesividade celular alta baixa Motilidade celular baixa alta Recidiva geralmente au- sente presente Metástases ausentes presentes Características morfológicas das neoplasias Neoplasias benignas Características morfológicas macroscópicas: • massa geralmente esférica, tipo nodular, decorrente de seu crescimento expansivo, com compressão de estruturas adjacentes, o que pode causar isquemia do tecido acometido com transtornos ao paciente; • não apresentam degenerações, necrose ou hemorragia na área do tumor, devido ao crescimento lento, o que permite o desenvolvimento de vasos sanguíneos e a nutrição das células. O leiomioma (Figura 46) é uma neoplasia benigna que ocorre mais frequentemente no sistema genital feminino. UNIUBE 295 Características morfológicas microscópicas: • células bem diferenciadas, unidas entre si, com atipias discretas; • frequentemente há a presença de cápsula fibrosa ao redor da massa tumoral. Neoplasias malignas Características morfológicas macroscópicas: • órgão acometido mais espessado, com a presença de degenerações, necrose ou hemorragia na área do tumor (devido ao seu crescimento muito rápido não acompanhado pelo desenvolvimento de vasos na área); • massa tumoral apresenta limites pouco definidos (devido ao crescimento invasivo) podendo apresentar-se ulcerada, ou seja, com necrose no centro, de bordas elevadas, endurecidas e irregulares. Veja a Figura 47: Figura 46: Útero apresentando Leiomioma (seta) na superfície de corte. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. 296 UNIUBE Características morfológicas microscópicas (Figura 48): • aumento do número de células por unidade de área (hipercelu- laridade); • variações no volume celular (pleomorfismo celular); • aumento da relação núcleo/citoplasma; • cromatina irregular e compacta; • presença de figuras de mitose; • graus de atipias variadas chegando a anaplasia (atipia acentuada); • atipias arquiteturais ou histológicas; • menor aderência entre as células. Figura 48: Carcinoma de células pequenas (células neoplásicas malignas). HE, 400x. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. Figura 47: Adenocarcinoma de intestino. Foto: Lilian Margareth Biagioni de Lima. UNIUBE 297 Observe,na Figura 48, as células neoplásicas malignas, com graus de atipias arquiteturais ou histológicas. Nomenclatura das neoplasias Carcinoma (do grego, karkinos= caranguejo, crustáceo) termo usado pela primeira vez por Galeno (138-201 d.C.) para identificar um tumor maligno de mama que lembrava as patas de um caranguejo. Câncer é a tradução latina de carcinoma. A nomenclatura mais utilizada para os tumores foi a elaborada pela OMS. Os indicadores utilizados para dar nomes aos tumores são: comportamento clínico (benigno ou maligno), origem (histogenético), aspecto mofológico (macro e microscópico). Dentre estes, o mais utilizado é o histomorfológico. 5.4.4.3 Regras importantes para a terminologia dos tumores a) sufixo oma: utilizado na nomenclatura de neoplasias tanto benignas quanto malignas; b) carcinoma: utilizado para neoplasia maligna de epitélio de revestimento; ou como sufixo, indicando malignidade. Por exemplo, adenocarcinoma, neoplasia maligna de epitélio glandular; c) sarcoma: utilizado para neoplasia maligna mesenquimal; ou como sufixo, indicando tumor maligno de um tecido específico. Por exemplo: lipossarcoma, osteossarcoma, entre outros; d) blastoma: sinônimo de neoplasia, se usado como sufixo, indica tumor com características embrionárias. Por exemplo: neuroblastoma (Quadro 5). Histomorfológico Morfologia do tecido. 298 UNIUBE Quadro 5: Nomenclatura das neoplasias Origem do tumor/tecidos Benigno Maligno Tecido Epitelial de revesti- mento Pólipo, Papilo- ma, Epitelioma Carcinoma glandular Adenoma Adenocarcinoma Tecido Conjuntivo fibroso Fibroma Fibrossarcoma adiposo Lipoma Lipossarcoma cartilaginoso Condroma Condrossarcoma ósseo Osteoma Osteossarcoma Origem do tumor/tecidos Benigno Maligno Tecido Muscular Liso Leiomioma Leiomiossarcoma Estriado Rabdomioma Rabdomiossarcoma Tecido nervoso neuroblasto Ganglioneuroma Ganglioneuroblastoma neuroepitélio Ependimoma Ependimoma maligno células da glia Astrocitoma Gliobastoma multiforme nervos peri- féricos Neurinoma (schwannoma) Neurinoma (schwanno- ma maligno) Meninges Meningioma Meningioma maligno Vasos sanguíneos Hemangioma Angiossarcoma linfáticos Linfangioma Linfangiossarcoma Fonte: Adaptado (BRASILEIRO 2004, p. 188). Nem todos os tumores recebem denominação segundo as regras anteriormente descritas. A seguir, alguns exemplos que fogem às regras: • linfoma (tumor maligno de órgãos linfoides); • leucemias (tumor maligno de células do sangue - leucócitos); • melanoma (tumor maligno de células produtoras de melanina - melanócitos). Outros são epônimos: tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, tumor de Burkitt, entre outros. Epônimo É uma personalidade histórica ou lendária que dá, ou empresta, o seu nome a alguma coisa, um lugar, época, tribo, dinastia, entre outras. UNIUBE 299 Teratomas: termo utilizado para tumores benignos ou malignos originados de células multipotentes, embrionárias ou germinativas, constituídos por tecidos derivados de mais de um folheto embrionário (endoderma, mesoderma ou ectoderma) (Figura 49). Ocorre nas gônadas (masculinas e femininas) ou em outros locais na linha mediana do corpo. IMPORTANTE! Figura 49: Teratoma sacrococcígeo. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Tumores mistos: são os que apresentam proliferação de mais de um tecido simultaneamente (Figura 50). Por exemplo: fibroadenoma, entre outros. 5.4.5 Doenças autoimunes Nestes casos, ocorre falha na autotolerância e respostas imunológicas subsequentes levam à produção de anticorpos contra antígenos próprios. Anticorpos produzidos contra antígenos teciduais podem opsonizar células ou ativar o sistema complemento, resultando na produção de proteínas indutoras de opsonização. Estas células podem ser fagocitadas e posteriormente destruídas. Este mecanismo pode explicar a origem da destruição celular na anemia hemolítica autoimune e na Figura 50: Fibroadenoma. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 300 UNIUBE púrpura trombocitopênica autoimune. Outro mecanismo pelo qual estes anticorpos atuam é por meio da deposição tecidual com consequente migração de neutrófilos e macrófagos que se ligando aos anticorpos são ativados produzindo lesão tecidual. Ainda pode ocorrer a ligação destes anticorpos a receptores de células normais ou não interferindo na função destas, ocasionando disfunção do órgão envolvido. Estes depósitos de anticorpos podem ser detectados por meio de exames morfológicos. Exemplos de algumas patologias causadas por anticorpos celulares ou teciduais: • Anemia hemolítica autoimune. Mecanismo de doença: opsonização e fagocitose das hemácias. • Púrpura trombocitopênica autoimune. Mecanismo de doença: opsonização e fagocitose das plaquetas. • Pênfigo vulgar. Mecanismo de doença: ativação de proteases e ruptura de adesões intercelulares. • Vasculite causada por anticorpos anticitoplasmáticos. Mecanismo de doença: desgranulação e inflamação de neutrófilos. • Febre reumática. Mecanismo de doença: inflamação e ativação de macrófagos. Doença de Graves. Mecanismo de doença: estimulação de receptores de TSH mediada por anticorpos. • Diabetes mellitus tipo 1 Mecanismo de doença: destruição das células produtoras de insulina. Você sabia que as respostas autoimunes são frequentes, portanto, são transitórias e reguladas? UNIUBE 301 Neste capítulo, estudamos os metazoários que habitam o intestino delgado e o intestino grosso, seus ciclos biológicos e as alterações orgânicas que causam. Estudamos ainda, os distúrbios do crescimento e da diferenciação celular (hipo/hipertrofia, hipo/hiperplasia, metaplasia, displasia; neoplasias); os fatores responsáveis pelo surgimento de cada distúrbio; o mecanismo de ação dos fatores na gênese de cada distúrbio; as alterações morfológicas macro e microscópicas dos tecidos/órgãos apresentando esses distúrbios; as consequências de cada distúrbio ao organismo e as evoluções apresentadas por cada, além da imunologia aos tumores e doenças autoimunes. Pois bem, para responder a esse questionamento e para ampliar seus conhecimentos sobre essa temática, não deixe de ler novamente esse capítulo e, em seguida, pesquise nos livros didáticos e na internet todas as informações que achar pertinentes, em relação às alterações celulares e doenças causadas por metazoários, a imunologia dos tumores e a doença autoimune. Resumo Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; POBER, J. S. Imunologia celular e molecular. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BARNES, Robert D; RUPPERT, Edward E. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo. Patologia Geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. COURA, José Rodrigues. Síntese das doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 302 UNIUBE MONTENEGRO, Mário Rubens; FRANCO, Marcello. Patologia. Processos Gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de, LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo Wagner de Almeida. Parasitologia humana. 11. ed. São Paulo. Atheneu, 2005. RUBIN, Emanuel et al. Rubin, patologia: bases citopatológicas da Medicina. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. UNIUBE 303 Anotações _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 304 UNIUBE