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MENINGITE E INFECÇÕES NEUROLÓGICAS APG 19 Objetivos: 1. Revisar a morfofisiologia das meninges; 2. Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas da meningite e infecções do SNC. 3. Observações: principais agentes etiológicos, comparativo entre meningite bacteriana, viral e fúngica, mecanismo de transmissão e formas de prevenção, características gerais do líquor em cada tipo de infecção. MENINGES - O encéfalo é circundado por três membranas protetoras ou meninges: 1. dura-máter 2. aracnoidemáter 3. pia – máter. DURA-MÁTER - É composta por duas lâminas: 1. lâmina periosteal 2. lâmina meníngea. - Em alguns locais essas duas lâminas se separam e formam os seios da dura-máter LÂMINA PERIOSTEAL - é o periósteo que recobre a face interna dos ossos do crânio. No forame magno, ela não continua com a dura-máter da medula espinal. Ao redor das margens de todos os forames do crânio, ela torna-se contínua com o periósteo no lado externo dos ossos do crânio. LÂMINA MENÍNGEA - é a dura-máter propriamente dita. Trata-se de uma membrana fibrosa densa e resistente, que recobre o encéfalo. Fora do crânio as bainhas fundem-se com o epineuro dos nervos. - A lâmina meníngea da origem a quatro septos internos: estas dividem a cavidade do crânio em espaços livremente comunicantes. • Foice do cérebro; • Foice do cerebelo; • Tentório do cerebelo; • Diafragma da sela. - A função desses septos é restringir o deslocamento do encéfalo associado à aceleração e desaceleração quando a cabeça se move. - Foice do cérebro ➔ é uma prega em forma de foice da dura-máter que se localiza na linha mediana entre os dois hemisférios cerebrais. Seio sagital superior: segue em sua margem superior fixa; Seio sagital inferior: segue em sua margem inferior livre e côncava; Seio reto: segue ao longo de sua fixação ao tentório do cerebelo. - Tentório do cerebelo ➔ é uma prega da dura- máter em forma de crescente que recobre a fossa posterior do crânio. Cobre a face superior do cerebelo e sustenta os lobos occipitais dos hemisférios cerebrais. - foice do cérebro e a foice do cerebelo ➔ estão fixadas às faces superior e inferior do tentório, respectivamente. - A foice do cerebelo, que consiste em uma pequena prega da dura-máter em forma de foice, fixada à crista occipital interna, projeta-se para a frente entre os dois hemisférios do cerebelo. - Diafragma da sela ➔ é uma pequena prega circular da dura-máter, que forma o teto da sela turca. - Seios da dura-máter ➔ situam-se entre as lâminas da dura-máter. A principal função desses seios é de receber sangue proveniente do encéfalo, por meio das veias cerebrais, e líquido cerebrospinal do espaço subaracnóideo. Seios da dura-máter → veias jugulares internas. - Estes seios são revestidos por endotélio, e suas paredes são espessas, desprovidas de tecido muscular. - Seio sagital superior → margem superior fixa da foice do cérebro. - Seio sagital inferior → ocupa a margem inferior livre da foice do cérebro. - Seio reto → ocupa a linha de junção da foice do cérebro com o tentório do cerebelo, sendo formado pela união do seio sagital inferior com a veia cerebral magna, e termina voltando-se para a esquerda para formar o seio transversal. - Seios transversos → são estruturas pares que começam na protuberância occipital interna. Cada seio ocupa a margem fixa do tentório do cerebelo, sulcando o occipital e o ângulo mastóideo do parietal. - Seios sigmoides → são uma continuação direta dos seios transversos. Cada seio volta-se para baixo e medialmente, e produz um sulco na parte mastóidea do temporal. - Seio occipital → é um pequeno seio que ocupa a margem fixa da foice do cerebelo. - Seios cavernosos → estão situados na fossa média do crânio, de cada lado do corpo do esfenoide. Numerosas trabéculas cruzam o seu interior, conferindo-lhe uma aparência esponjosa, o que explica a sua denominação. ARACNÓIDE-MÁTER - A aracnoide-máter é uma delicada membrana impermeável que recobre o encéfalo e se situa entre a pia-máter, internamente, e a dura-máter, externamente. Espaço subdural → Espaço virtual que separa a dura-máter da aracnoide-máter, sendo preenchido por uma película de líquido. Espaço subaracnóideo → espaço preenchido pelo LCS, que separa a aracnoide-máter da pia-máter. - Cisternas subaracnóideas → Em certas situações, a aracnoide-máter e a pia-máter estão amplamente separadas. Cisternas cerebelobulbar → situa-se entre a face inferior do cerebelo e o teto do quarto ventrículo. cisterna interpeduncular → situa-se entre os dois pedúnculos cerebrais. - ** Todas as cisternas estão em comunicação livre umas com as outras e com o restante do espaço subaracnóideo. - Vilosidades aracnoideas → Em determinadas áreas, a aracnoide-máter projeta-se para dentro dos seios da dura-máter. Estão mais presentes no seio sagital superior - As vilosidades aracnóideas atuam como locais onde o LCS sofre difusão para a corrente sanguínea. - Todas as artérias e veias cerebrais situam-se nesse espaço, assim como os nervos cranianos. - O LCS é produzido pelos plexos corióideos dentro dos ventrículos laterais e dos terceiro e quarto ventrículos do encéfalo. O LCS escapa do sistema ventricular do encéfalo por meio de três forames no teto do quarto ventrículo e, assim, entra no espaço subaracnóideo. circula para cima sobre as faces dos hemisférios cerebrais e para baixo ao redor da medula espinal. o LCS fornece um meio líquido no qual o encéfalo flutua. Esse mecanismo protege efetivamente o encéfalo de traumatismos. PIA-MÁTER - Membrana vascular coberta por células mesoteliais achatadas. - Reveste estreitamente o encéfalo, cobrindo os giros e descendo até os sulcos mais profundos. Estende-se sobre os nervos cranianos e funde-se com o seu epineuro. - Tela corioidea → é formada por pia-máter e está presente no teto do terceiro e quarto ventrículo do encéfalo. funde-se com o epêndima para formar os plexos corióideos dos ventrículos laterais, e no terceiro e quartos ventrículos. MENINGITE BACTERIANA - A meningite é uma inflamação da membrana aracnoide, da pia-máter e do liquido cefalorraquidiano (LCR). - O processo inflamatório se estende por todo o espaço subaracnóideo em torno do cérebro e da medula espinal e compromete os ventrículos FATORES PREDISPONENTES - As bactérias podem ter acesso ao espaço ventrículosubaracnóideo por meio do sangue, durante a evolução de septicemia ou como metástase de infecção do coração, dos pulmões ou de outras vísceras. - As meninges podem ser invadidas por extensão direta a partir de um foco séptico no crânio, na coluna vertebral ou no parênquima do sistema nervoso (p. ex., sinusite, otite, osteomielite, abscesso cerebral). - Os microrganismos podem entrar no espaço subaracnóideo por meio de fraturas compostas do crânio e fraturas através dos seios nasais ou mastoide ou após procedimentos neurocirúrgicos. - Tríade clássica ➔ febre, rigidez de nuca e alteração do estado mental. FISIOPATOLOGIA GERAL - As bactérias podem ter acesso às meninges por diversas vias: 1. Disseminação hematogênica a partir de um local distante; 2. Ingresso direto a partir do trato respiratório superior ou da pele; 3. Passagem para interior do crânio através de vênulas da nasofaringe; 4. Disseminação a partir de um foco contíguo de infecção. - Disseminação bacteriêmica por H. influenzae, N. meningitidis e S. pneumoniae é provavelmente a via mais frequente de infecção. - A bacteremia é iniciada por adesão de germes de uma cepa infectante à faringe e sua colonização no local: ➔A adesão dessas cepas às superfícies mucosas é ampliada pela capacidade de produzir proteasesque clivam a IgA, inativando assim essa defesa de anticorpos locais. ➔N. meningitidis: essas bactérias possuem fímbrias ou pili que efetuam a adesão destas a mucosa faríngea. Essa adesão pode ser acentuada por danos precedentes às células ciliadas, como tabagismo ou infecções virais. Meningococos invadem as células da mucosa nasofaringea por meio de endocitose e são transportados para o lado abluminal em vacúolos ligados à membrana. ➔H. influenzae: utiliza os espaços intracelulares, ao causar separação das junções de oclusão apicais entre as células epiteliais colunares. - Quando esses patógenos ganham acesso à corrente sanguínea, sua sobrevida intravascular é favorecida pela presença de cápsulas de polissacarídicas. Estas inibem a fagocitose e conferem resistência à atividade bactericida mediada por complemento. ➔L. monocytogenes: invade o intestino, e pode se propagar ao longo do nervo vago para o tronco cerebral, a partir do qual ela pode invadir as meninges. (As bactérias também podem seguir ao longo de tratos nervosos para invadir o cérebro.) - A meningite bacteriana que acompanha o traumatismo craniano ocorre por causa de uma fístula dural da cavidade nasal, dos seios paranasais ou do ouvido médio para o espaço subaracnóideo. O vazamento de LCR resulta em rinorreia do LCR e perda do olfato. - As bactérias conseguem acesso aos espaços subaracnóideos do sangue a partir de moléculas de adesão nas células endoteliais cerebrais. - No início da infecção, há baixos níveis de imunoglobulinas e de complemento no LCR. Por isso, ocorre pouca ou nenhuma atividade bactericida e há replicação bacteriana. - Componentes bacterianos (p. ex., paredes celulares ou ácido lipoteicoico pneumocócicos, lipooligossacarídeo de H. influenzae) são agentes importantes de inflamação meníngea, causando liberação para dentro do espaço subaracnóideo de várias citocinas pró-inflamatórias, como interleucina- 1 e o fator de necrose tumoral (TNF) a partir das células endoteliais e meníngeas, macrófagos e micróglia. - Na meningite bacteriana, os neutrófilos se movem para dentro do espaço subaracnóideo, mas não são capazes de controlar a infecção bacteriana. Os neutrófilos liberam prostaglandinas, metaloproteinases da matriz e radicais livres que rompem as junções de oclusão intercelulares endoteliais e a lâmina basal subendotelial. - O aumento da permeabilidade vascular local da barreira hematoencefálica pode causar edema cerebral, que pode ser produzido também pelo aumento da pressão do LCR como resultado da obstrução do fluxo de líquido cefalorraquidiano por causa da inflamação intersticial nas vilosidades aracnoides. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS GERAIS - Os sintomas mais comuns são: febre de inicio agudo, cefaleia generalizada, vômitos e rigidez de nuca. - Tríade clássica (febre, rigidez nucal e alteração do estado mental), déficits neurológicos focais, afasia, hemiparesia e outros. - Meningite piogênica adquirida na comunidade ➔ histórico de infecção do trato respiratório superior, otite média aguda ou pneumonia. - A doença costuma progredir rapidamente para confusão, obnubilação e perda de consciência. ACHADOS DO EXAME FÍSICO: Sinais de irritação meníngea: ➔sinal de kernig: incapacidade de estender a perna quando a coxa está fletida a 90 graus. ➔sinal de Brudzinski: flexão involuntária da coxa e joelho quando o pescoço é fletido passivamente). ➔rigidez de nuca; A presença de erupção cutânea de tipo petequial ou equimótica em um paciente com sinais meníngeos indica quase sempre infecção meningocócica Raramente ocorrem lesões petequiais ou equimóticas extensas na meningite causada por S. pneumoniae, H. influenzae ou ecovírus tipo 9. ACHADOS E COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS - As complicações neurológicas em pacientes com meningite bacteriana tratada de forma inadequada podem ser graves e incapacitantes. • Alterações dos nervos cranianos (terceiro, quarto, sexto ou sétimos nervos); • Perda auditiva neurossensorial (S. pneumoniae) • Convulsões focais ou generalizadas; • Edema cerebral ou hidrocefalia – aumento da pressão do LCR. • Papiledema; • hemiparesia, disfasia, deficiência no campo visual e desvio do olhar conjugado; MENINGITE MENINGOCÓCICA - Ocorre de modo esporádico e em epidemias. EPIDEMIOLOGIA - O meningococo é o microrganismo causador em cerca de 25% de todos os casos de meningite bacteriana nos EUA. - Na atualidade, o sorogrupo B é o sorotipo relatado mais comumente (50%). As crianças e os adultos jovens são predominantemente acometidos. FISIOPATOLOGIA - Os meningococos (Neisseria meningitidis) podem ter acesso às meninges diretamente a partir da nasofaringe. - A cápsula bacteriana de polissacarídeo é importante na fixação e penetração para ter acesso ao corpo. - Elementos presentes na parede celular bacteriana (pili, fímbrias) são de importância crítica para a penetração dos microrganismos no líquido cerebrospinal (LCS) através do endotélio vascular e na indução da resposta inflamatória. - Nos casos fulminantes agudos ➔ pode ocorrer morte antes do aparecimento de quaisquer alterações patológicas significativas no sistema nervoso. - No caso habitual ➔ reação inflamatória intensa nas meninges, sendo grave no espaço subaracnóideo. • A reação pode estender-se ao longo dos espaços perivasculares de Virchow-Robin para dentro do cérebro e da medula espinal. • Os meningococos são encontrados nas meninges e no LCS. • A pia-aracnoide sofre espessamento, e pode haver formação de aderências. • Ocorre fibrose e reação inflamatória ao longo das raízes dos nervos cranianos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Sintomas iniciais: calafrios e febre, cefaleia, náuseas e vômitos, dor nas costas, rigidez de nuca e prostração. - A ocorrência de erupção cutânea petequial ou hemorrágica constitui manifestação da meningococcemia. - Com a evolução da doença, ocorre obnubilação da consciência, e pode haver desenvolvimento de torpor ou coma. - Ocorre rigidez de nuca, com sinais de Kernig e Brudzinski. • Esses sinais podem estar ausentes em pacientes recém-nascidos, idosos ou em coma. - A paralisia de nervos cranianos e os sinais neurológicos focais são incomuns e, em geral, só se desenvolvem dentro de vários dias após o início da infecção. A papila do nervo óptico está normal, porém o papiledema constitui um sinal de aumento da pressão intracraniana. MENINGITE PNEUMOCÓCICA - O pneumococo é cerca de duas vezes mais frequente do que o meningococo como causa de meningite. EPIDEMIOLOGIA - É responsável por cerca 50% de todos os casos de meningite bacteriana. - A infecção pode ocorrer em qualquer idade, porém mais de 50% dos pacientes têm menos de 1 ano de idade ou mais de 50 anos. FISIOPATOLOGIA - A infecção meníngea por pneumococo constitui uma complicação de infecções pulmonares, otite média, mastoidite, sinusite, fraturas do crânio, fístulas do LCS e infecções respiratórias superiores. - O alcoolismo, a asplenia cirúrgica ou funcional, a doença falciforme e os implantes cocleares predispõem os pacientes ao desenvolvimento de meningite pneumocócica. MENINGITE POR H. INFLUENZAE - É a mais comum em adultos. EPIDEMIOLOGIA - Nos locais onde a vacina não está disponível, a meningite por H. influenzae é predominantemente uma doença da lactância e início da infância; ocorrem mais de 50% dos casos nos primeiros 2 anos de idade e 90% antes dos 5 anos. - Nos EUA, a meningite por H. influenzae é atualmente mais comum em adultos FISIOPATOLOGIA - Nos adultos, a meningite causada por H. influenzae é mais comumente secundária a sinusite aguda, otite média ou fratura do crânio. • Está associada a rinorreia do LCS, deficiência imunológica, diabetes melito ealcoolismo; MENINGITE ESTAFILOCÓCICA - Os estafilococos (Staphylococcus aureus e estafilococos coagulase-negativos) constituem uma causa relativamente infrequente de meningite. - A meningite pode se desenvolver em consequência de disseminação a partir de furúnculos na face ou de infecções estafilocócicas em outras partes do corpo. • Complicação da endocardite infecciosa; • Abscesso epidural ou subdural; • Procedimentos neurocirúrgicos; LISTERIA MONOCYTOGENES - Ocorre em indivíduos idosos, em lactentes ou em adultos com doenças crônicas. - A listeriose, tanto esporádica quanto epidêmica, é principalmente uma doença transmitida por alimentos MENINGITE VIRAL - A meningite asséptica descreve o processo inflamatório que compromete as meninges, sem evidencias de infecção piogênica na cultura ou coloração de gram. EPIDEMIOLOGIA - A maioria dos casos de meningite asséptica adquirida na comunidade é causada por vírus, principalmente enterovírus, os quais são responsáveis por mais de 60% das meningites virais. AGENTES ETIOLÓGICOS ENTEROVÍRUS - Os enterovírus são membros da família dos Picornaviridae (RNA), que consiste em mais de 60 sorótipos: 28 ecovírus, 23 coxsackievírus A e seis coxsackievírus B, quatro enterovírus numerados (de 68 a 71) e três poliovírus. - Os sorótipos mais frequentes implicados em meningite viral, a cada ano, têm sido os ecovírus 4, 6, 9, 11, 16 e 30 (mais recentemente 13 e 33) e os sorótipos coxsackie B de 2 a 5. • Os sorótipos tendem a se comportar de modo cíclico com periodicidade variável; • Anticorpos protetores sorótipo-específicos se desenvolvem em seguida à infecção, de modo que episódios subsequentes de meningite enteroviral são infrequentes e são causados por vírus de um sorótipo diferente VÍRUS DO HERPES SIMPLES - O HSV é responsável por 1% a 3% de todos os episódios de meningite asséptica e ocorre mais frequentemente em adultos ou adolescentes sexualmente ativos. ARBOVÍRUS - Embora a forma mais frequente de infecção do SNC causada por arbovírus seja a encefalite, também pode ocorrer meningite asséptica. - São transmitidos por um mosquito, carrapato ou mosquito-pólvora. CAXUMBA - O vírus da caxumba foi a principal causa identificável de meningite viral antes da imunização generalizada nos anos 1960. CORIOMENINGITE LINFOCÍTICA - O vírus da coriomeningite linfocitária é transmitido aos seres humanos por roedores através de contato direto, através da ingestão de alimento contaminado por aerossol ou por mordida de animal. - Atualmente, a coriomeningite linfocitária é causa cada vez menos frequente de meningite asséptica. FISIOPATOLOGIA - As vias pelas quais os vírus têm acesso ao SNC são: 1. Hematogênica – infecção enteroviral; 2. Neuronal – infecção por HSV. ➔Os enterovírus passam através do estômago, onde resistem ao pH ácido, e prosseguem para o trato gastrointestinal inferior. - Alguns vírus também têm replicação na nasofaringe e se disseminam nos gânglios linfáticos regionais. • Depois de se ligar a receptores específicos nos enterócitos, o vírus rompe o revestimento epitelial e tem replicação primária em uma célula suscetível • Uma pequena viremia de enterovírus então atinge o SNC, coração, fígado e sistema reticuloendotelial. • Após extensa replicação nesses últimos locais, segue-se uma grande viremia, muitas vezes acompanhando a instalação da doença clínica. ** atravessa as junções de oclusão endoteliais da barreira hematoencefálica e em seguida entrar no LCR, provavelmente através do plexo coroide. ➔HSV: as infecções por HSV podem atingir o SNC por via neuronal: na encefalite por HSV-1, a partir de locais orais via nervo trigêmeo e olfatório; na meningite asséptica por HSV-2 (e rara no caso de HSV- 1), por disseminação a partir de uma lesão genital primária e ascensão ao longo das raízes nervosas sacras para as meninges. • o HSV-2 pode permanecer latente nos gânglios das raízes sacras até que a reativação subsequente provoque episódios mais tardios de meningite asséptica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MENINGITE ENTEROVIRAL - Há cefaleia, febre e rigidez de nuca. - Fase prodrômica: febre de baixo grau e sintomas inespecíficos (mal-estar, dor de garganta, diarreia), seguida de uma segunda fase. - Acometimento das meninges: desenvolvimento de febre mais alta, náuseas, vômitos, mialgia, fotofobia e rigidez da nuca. ** Podem coexistir outras síndromes enterovirais, particularmente pleurodinia ou pericardite resultante de coxsackievírus. - Erupção cutânea pode ser uma manifestação de infecções causadas por ecovírus, particularmente ecovírus tipo 9, coxsackievírus A9 e A16, e enterovírus 71. Em indivíduos agamaglobulinêmicos nos quais se desenvolve infecção enteroviral do SNC, a meningite pode evoluir para meningoencefalite crônica com múltiplas características neurológicas, incluindo cefaleia, convulsões, ataxia, fraqueza, perda auditiva, obnubilação e coma. MENINGITE POR HSV TIPO 2 - Características clínicas de meningite ocorrem de 3 a 12 dias após o aparecimento das lesões genitais e normalmente duram de 4 a 7 dias. - Complicações neurológicas incluem disestesia ou parestesia no períneo ou região sacra, retenção urinária e constipação; eventualmente, ocorre evidência de mielite transversa com fraqueza motora nos membros inferiores, hiporreflexia e paraparesia. MENINGITE POR CAXUMBA - As características típicas da meningite viral (cefaleia, febre, vômitos) estão, cada uma delas, presentes em 50% a 100% dos pacientes. - É frequente rigidez da nuca (de 40% a 90%) e pode haver dor abdominal (talvez como complicação de pancreatite ou ooforite) ou orquite. - Outras complicações da caxumba podem afetar o sistema nervoso (lesão do oitavo nervo, paralisia transitória do nervo facial e, raramente, paralisia do quinto nervo); MENINGITE POR HIV-1 - Alguns pacientes com essa síndrome inicial têm manifestações de meningite asséptica (cefaleia, fotofobia, náusea, vômitos e rigidez de nuca). Ocasionalmente, desenvolvem-se encefalopatia ou paralisias de nervos cranianos (sétimo, oitavo equinto). MENINGITE FÚNGICA - Os fungos podem ser filamentosos ou em leveduras. - Os fungos filamentosos constituem a forma tubular e consistem em hifas que podem ser ramificadas ou conter um único filamento. - As leveduras são microrganismos unicelulares de paredes espessas que vivem no interior de células. • Ambos os fungos podem infectar o sistema nervoso, produzindo meningite, vasculite, granulomas ou encefalite. - As infecções fúngicas do sistema nervoso ocorrem principalmente na presença de imunossupressão em consequência de AIDS, câncer, neoplasia maligna hematológica, defeitos imunes hereditários, transplante de órgãos ou outras condições. MENINGITE CRIPTOCÓCICA EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA - É a mais frequentemente causada pela levedura encapsulada Cryptococcus neoformans, porém outras espécies podem acometer indivíduos imunocompetentes, como Cryptococcus gattii. - C. neoformans ➔ encontrado principalmente em excrementos de aves, no solo e na casca de frutas cítricas. - C. gattii ➔ associado à casca de várias espécies de árvores. - A infecção ocorre habitualmente por meio de inalação do organismo, seguida de infecção respiratória e disseminação. - A meningite criptocócica é mais comum em indivíduos com comprometimento da imunidade celular, particularmente aqueles com infecção pelo HIV, neoplasias malignas hematológicas, receptores de transplante de órgãos sólidos e pacientes submetidos a terapia crônica com corticosteroides ou outros agentes imunossupressores (indivíduos predispostos). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Cryptococcus gattii ➔ doença é limitada a climas tropicais e subtropicais, particularmenteas regiões altamente endêmicas. • manifestam-se, com mais frequência, como doença respiratória. - Cryptococcus neoformans ➔ as manifestações dependem do estado imunológico do paciente. • Nódulos pulmonares incidentais assimtomáticos; • Doença amplamente disseminada; • a meningite criptocócica começa de modo insidioso, e 75% dos pacientes desenvolvem cefaleia e febre no decorrer de um período de 2 a 4 semanas; • Com a evolução da infecção, 50% dos indivíduos desenvolvem náuseas, vômitos e alteração do estado mental; • Os sintomas visuais e as convulsões também são comuns; COCCIDIOIDOMICOSE EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA - O Coccidioides immitis é um fungo endêmico no sudoeste dos EUA, norte do México e áreas da América do Sul. - Uma vez inalado, o C. immitis resulta habitualmente em infecção respiratória autolimitada, comumente conhecida como febre do vale. Nas populações suscetíveis, uma infecção pulmonar pode evoluir para doença disseminada grave MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - a meningite crônica causada por C. immitis acomete classicamente as meninges basilares. - O sintoma mais comum consiste em cefaleia. Outros sinais e sintomas de apresentação estão relacionados com a PIC elevada e incluem náuseas e vômitos, alteração do estado mental, déficits neurológicos focais, incluindo ataxia, distúrbio da marcha, diplopia ou paralisias faciais e rigidez de nuca. - A hidrocefalia, o infarto cerebral e a vasculite constituem complicações potenciais da meningite por C. immitis. BLASTOMICOSE E HISTOPLASMOSE - Blastomyces dermatitidis e Histoplasma capsulatum são fungos dimórficos endêmicos de algumas regiões dos EUA. FISIOPATOLOGIA - ➔B. dermatitidis é adquirida pela inalação de esporos no pulmão e pode manifestar-se na forma de doença pulmonar ou extrapulmonar. • As radiografias de tórax geralmente demonstram infiltrados nodulares e lobares com cavitações. • Se o microrganismo consegue escapar dos mecanismos inespecíficos de defesa do hospedeiro nos pulmões, ele é convertido na fase de levedura e multiplica-se. Em seguida, o microrganismo é disseminado por via hematogênica para outros órgãos. • Observa-se a ocorrência de comprometimento cutâneo em 60% dos pacientes com blastomicose, que se manifesta como lesões verrucosas ou de crescimento fungiforme com bordas irregulares. • Outros locais acometidos com menos frequência incluem ossos, articulações, sistema geniturinário e SNC ➔H.capsulatum é adquirido por inalação. • pode produzir infecção pulmonar aguda, com febre, calafrios e opacidades pulmonares. • A infecção dissemina-se por via hematogênica para locais a distância, como fígado, baço e SNC. • O comprometimento da medula óssea é comum e, com frequência, manifesta-se na forma de trombocitopenia, anemia ou leucopenia MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A infecção do SNC com blastomicose ocorre em menos de 10% dos indivíduos com doença disseminada e manifesta-se como: • abscessos solitários ou múltiplos e meningite aguda ou crônica. • a blastomicose tem mais tendência a apresentar déficits neurológicos focais, crises epilépticas e alteração do estado mental; • os sintomas de febre, cefaleia e meningismo são menos comuns; - Os pacientes com histoplasmose pulmonar são, em sua maioria, assintomáticos e apresentam resolução da infecção sem tratamento. - O comprometimento do SNC, que é observado em menos de 20% dos pacientes com infecção disseminada, • acomete mais frequentemente pacientes com grave comprometimento da imunidade celular, como indivíduos infectados pelo HIV. • cefaleia e alteração do estado mental; • os pacientes também podem apresentar déficits neurológicos focais, crises epilépticas, acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico e lesões expansivas; ASPERGILOSE EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA - As espécies de Aspergillus microrganismo sofrem esporulação abundante, liberando conídios em grandes quantidades na atmosfera. • Os conídios têm diâmetro pequeno, de modo que eles podem alcançar as áreas menores dos pulmões, incluindo os alvéolos. - inalação dos microrganismos raramente resulta em doença, visto que os conídios são eliminados eficientemente pelos mecanismos imunes do hospedeiro. - As espécies de Aspergillus spp. também podem produzir aspergilomas pulmonares, que se caracterizam pelo crescimento excessivo do fungo em lesões pulmonares cavitárias preexistentes. - A Aspergilose invasiva é uma doença comum em indivíduos imunossuprimidos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A aspergilose cerebral ocorre em aproximadamente 10 a 20% dos pacientes com doença invasiva e resulta da disseminação hematogênica do microrganismo ou de extensão direta de rinossinusite. - A infecção do SNC pode se manifestar como lesão expansiva solitária, trombose de seio cavernoso, múltiplos abscessos intracranianos, meningite basilar aguda ou crônica, vasculite ou mielite. - a aspergilose cerebral tem propensão a invasão vascular, infarto, hemorragia e formação de aneurisma. ANÁLISE DO LÍQUOR MENINGITE BACTERIANA - Pressão inicial do LCR ➔ está moderadamente elevada (200 – 300). Elevações importantes (≥450 mm H2O) ocorrem em pacientes com edema cerebral agudo complicando a meningite. - Bacterioscopia com Gram ➔ A maioria dos pacientes com meningite piogênica apresenta grande quantidade (≥105 /mL) de bactérias no LCR. • O exame do esfregaço centrifugado do LCR corado pelo Gram pode revelar o agente etiológico (60-80%); - Contagem de Células ➔ A contagem normal de leucócitos no LCR é menos de 5/μL (todos mononucleares). • A contagem celular na meningite não tratada normalmente varia entre 100 e 10.000/μL, predominando, no início, leucócitos polimorfonucleares (>80%), e aparecendo subsequentemente o perfil linfomononuclear. - Glicose ➔ A glicose no LCR está reduzida a valores de 40 mg/dL ou menos (ou < 50% do nível de glicemia simultânea). • esse achado é valioso para distinguir a meningite bacteriana da maioria das meningites virais ou infecções parameníngeas; • um valor normal da glicose no LCR não exclui o diagnóstico de meningite bacteriana; proteínas ➔ O nível de proteínas no LCR lombar é geralmente elevado (mais de 100 mg/dL), mas valores mais altos são mais frequentemente observados na meningite pneumocócica. - Valores acima de 15 mg/dL no LCR ventricular são considerados anormais. - Outras anormalidades ➔ Concentrações elevadas de ácido lático ocorrem na meningite piogênica. MENINGITE VIRAL - Os resultados do LCR em todos os tipos de meningite viral são semelhantes. - consiste em pleocitose (aumento do número de leucócitos) linfocítica, normalmente de 50 a 1.000/μL - concentração normal de glicose, e nível de proteínas ligeiramente elevado, em geral, menos de 150 mg/dL - Durante as primeiras 24 a 48 horas de meningite enteroviral, é observada predominância de neutrófilos em cerca de 50% dos pacientes; subsequentemente, as principais células no LCR passam a ser os linfócitos. MENINGITE FÚNGICA - Meningite criptocócica ➔ revela aumento da pressão de abertura, pleocitose mononuclear discreta, nível aumentado de proteína e baixa concentração de glicose. - Coccidioidomicose ➔ com pleocitose linfocitária, predomínio precoce de neutrófilos e baixa concentração de glicose. É interessante assinalar que esse patógeno pode causar eosinofilia do LCS em até 70% dos pacientes com meningite, um achado incomum com outros patógenos fúngicos. • detecção de anticorpos dirigidos contra o C. immitis no LCS; - Blastomicose e histoplasmose ➔ elevação da pressão de abertura, e o LCS é notável pela concentração elevada de proteína, baixa concentração de glicose e pleocitose com predomínio dos neutrófilos no início da evolução da doença, seguidade predominância linfocitária. • A cultura do LCS para diagnóstico de blatomicose é bastante sensível. - Na meningite da histoplasmose, o LCS frequentemente revela pleocitose mononuclear, concentração elevada de proteína e concentração diminuída de glicose. • A cultura do LCS não é sensível para o diagnóstico de histoplasmose. - Aspergilose ➔ a punção do LCS é pouco utilizada.
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