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FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO W BA 06 99 _v 1. 1 22 Joseane Almeida Santos Nobre Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Farmacologia Aplicada à Nutrição 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Helena Dória Ribeiro de Andrade Prviato Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Hazure Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Nobre, Joseane Almeida Santos N754f Farmacologia aplicada à nutrição / Joseane Almeida Santos Nobre. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 116 p. ISBN 978-85-522-1553-0 1. Nutrição. 2. Nutrição clínica. 3. Farmacologia. I. Nobre, Joseane Almeida Santos. II. Título CDD 610 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Farmacocinética e farmacodinâmica 6 Interações e biodisponibilidade na relação droga-nutriente 24 Drogas para o tratamento de diabetes e obesidade no estado nutricional 47 Drogas que alteram o trato gastrointestinal no estado nutricional 67 Drogas antitireoidianas, corticoides e anabolizantes no estado nutricional 81 Medicamentos anti-hipertensivos, antianêmicos e quimioterápicos no estado nutricional 100 Nutracêuticos e alimentos funcionais 118 55 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno! A fundamentação teórica desta disciplina é aplicada desde o planejamento de cardápios em restaurantes até atendimento de pacientes em home care, passando por acompanhamento hospitalar e atendimento em consultórios, ou seja, permitirão a você entender melhor os mecanismos de absorção e utilização de fármacos, a interação entre medicamentos e nutrientes, destacando as melhores estratégias nutricionais para a correção das deficiências ocasionadas pelo tratamento medicamentoso. Sendo assim, você será capaz de reconhecer os mecanismos de ação dos medicamentos utilizados no tratamento do diabetes, da hipertensão arterial, câncer, entre outros. Serão apresentados os principais medicamentos utilizados no tratamento da obesidade, suas interações (tanto com outros medicamentos quanto com alimentos). Esteroides anti-inflamatórios, como os glicocorticoides, e os esteroides androgênicos (esteroides anabolizantes) serão considerados durante os estudos dos temas apresentados. Ao final, você estudará mais sobre os compostos bioativos e sua importância no tratamento e na prevenção de doenças, além da legislação vigente no Brasil. Aproveite ao máximo as referências complementares e aprofunde seus estudos em cada tema apresentado. Bons estudos! 66 Farmacocinética e farmacodinâmica Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Apresentar a forma de ação dos fármacos no organismo, desde sua administração até sua excreção. • Apresentar os princípios gerais de interação dos fármacos com seus receptores celulares. • Indicar como os medicamentos são metabolizados e excretados do corpo. 77 7 1. Como agem os fármacos em nosso organismo? Prezado aluno, o envelhecimento populacional traz consigo a modificação do tipo de doença existente, sendo cada vez mais comum nos depararmos em nossos consultórios com clientes que possuem uma ou mais doenças crônicas e fazem uso contínuo de muitos medicamentos. Assim, cada vez mais é importante sabermos como esses medicamentos agirão sobre o funcionamento do organismo, além da interação desses compostos sintéticos uns com os outros e também com os alimentos. O tema desta aula abordará, de forma geral, como os medicamentos agem no organismo, as modificações ocorridas com o fármaco após a sua ingestão até a sua eliminação, além da sua forma de ação, considerando os receptores específicos para o processo de reconhecimento do fármaco pelas células corporais. Bons estudos! PARA SABER MAIS Habitualmente, consideram-se as terminologias fármaco e droga como sendo similares. Fármaco é um composto sintético ou natural, com estrutura química conhecida, produzindo um efeito biológico esperado no organismo no qual ele foi administrado, sendo utilizado após longo estudo. Já a droga é considerada qualquer substância que promova alterações no organismo, com ação benéfica ou não, podendo ser um fármaco ou um agente tóxico. 88 Durante as consultas clínicas, por vezes, os profissionais da saúde, dentre eles o nutricionista, deparam-se com pacientes que consomem muitos medicamentos de forma isolada ou em conjunto. Os medicamentos possuem princípios ativos amplamente estudados (fármacos) e são ministrados de forma conjunta e com a utilização de outras substâncias, com mais de um princípio ativo em um mesmo medicamento, além da presença de excipientes e conservantes ou conservadores. Para terem a ação esperada no organismo, o fármaco precisa interagir com alvos próprios denominados receptores, o que promove a sua especificidade de ação afetando o funcionamento do órgão ou sistema para o qual ele foi desenvolvido. Esses receptores são moléculas proteicas que possuem como função o reconhecimento de sinais clínicos do próprio organismo, promovendo uma reação a eles. Os receptores constituem um componente-chave do sistema de comunicação química presente nos organismos multicelulares. Eles são divididos em agonistas (ligam-se aos receptores no organismo, produzindo os mesmos efeitos do composto endógeno. Exemplo: histamina). Os agonistas ainda podem ser divididos em agonistas totais (que se ligam 100% aos receptores), agonistas parciais (não conseguem uma resposta total, mesmo considerando dosagens elevadas) e agonistas inversos (promovem somente a alteração no receptor, mas não o bloqueiam). Já os antagonistas bloqueiam os receptores. Temos os antagonistas reversíveis, antagonistas irreversíveis e antagonistas pseudorreversíveis. A irreversibilidade ou não do antagonista deve-se à ligação direta ou parcial com seu receptor. O antagonismo existe também entre o consumo de dois medicamentos, como o consumo de antiácido ao mesmo tempo em que se consome algum medicamento anti-inflamatório. Neste caso, o pH do estômago 99 9 precisa ser ácido para promover a absorção do anti-inflamatório e, ao se consumir um antiácido, ocorrerá um efeito contrário, com menor produção de ácido clorídrico e, portanto, menor absorção do anti-inflamatório. Fonte: RANG, H.p. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Tradução Gea Consultoria Editorial. O conhecimento da dinâmica de funcionamento de um medicamento é importante para a prescrição de planejamentos alimentares que atuem de forma a melhorar a ação dos princípios ativos e corrigir possíveis interações com os nutrientes. A forma de absorção, distribuição e utilização de fármacos, assim como o tempo que o medicamento leva para ser excretado docorpo, também são aspectos a serem considerados e apresentados nos tópicos a seguir. ASSIMILE Para que um fármaco consiga realizar a sua ação no organismo, ele deverá se ligar aos seus receptores específicos. Durante esse processo, o receptor poderá ser ativado ou inativado, dependendo do objetivo do fármaco. 1.1 Forma de administração e absorção dos fármacos Os medicamentos são consumidos sob diversas formas (cápsulas, gel, intramuscular, comprimidos, drágeas, entre outras), fazendo com que o princípio ativo possa ser mais efetivo ou não em seu sítio de ação (receptor). Para tal, ele deverá ser absorvido, considerando a multiplicidades de tipos e barreiras celulares existentes em nosso organismo, o que permite diversas formas de absorção pelas células. 1010 Figura 1 – Formas de transporte dos diferentes solutos através da barreira celular Fonte: RANG, 2011, p. 100. A absorção poderá ocorrer através de um canal aquoso (também denominado aquoporinas), por um sistema simporte (com a passagem em conjunto com outra partícula), por englobamento de partículas (pinocitose). Os dois mecanismos mais importantes para os medicamentos é a difusão através dos lipídios da bicamada lipídica e com o auxílio de um transportador de membrana. A permeabilidade da membrana celular e o coeficiente de difusão (ou seja, o quanto as moléculas que fazem parte da bicamada lipídica conseguem se movimentar) são duas medidas importantes que impactam a forma de absorção dos medicamentos, sendo que o coeficiente de difusão é o que menos apresenta variabilidade entre os fármacos. Já a velocidade de absorção pelas células intestinais, a penetração do princípio ativo nos diferentes tecidos corporais e o tempo para eliminação por meio renal são influenciados pela solubilidade lipídica e capacidade de passagem pela membrana celular. 1111 11 Outro fator a ser considerado na absorção é o pH corporal, desde o momento em que o fármaco é consumido até ser excretado sob a forma urinária. O organismo possui diferentes valores de pH. Como no caso do estômago, que possui o pH ácido e pode inativar vários medicamentos, como alguns tipos de betalactâmicos (antibióticos da classe das penicilinas), que foram modificados para suportar a ação ácida, como a amoxicilina que é uma penicilina semissintética que possui em sua formulação um grupamento alfa-amino permitindo o seu uso por via oral. Deve-se considerar também a ligação dos fármacos a proteínas transportadoras, como a albumina plasmática. A albumina é uma das principais proteínas transportadoras, é produzida pelo fígado e afetada pelo baixo consumo proteico dietético, doenças hepáticas, desnutrição entre outros. Muitos fármacos competem pela ligação na albumina. Caso sejam consumidos concomitantemente dois fármacos ou mais que utilizem a albumina como transportador, os fármacos não ligados à albumina aumentarão sua concentração plasmática. Nesse caso, além da interação fármaco-fármaco, é preciso considerar os fatores citados acima que afetam a produção de albumina. As vias de administração utilizadas são importantes para que os fármacos consumidos acessem seu sítio de ação e podem apresentar vantagens e desvantagens, como listadas no quadro abaixo: 1212 Quadro 1 – Vias de administração de fármacos, padrão de absorção, vantagens e desvantagens Via de administração Padrão de absorção Vantagens Desvantagens Oral Variável: pode ser afetada por diversos fatores (pH, permeabilidade da membrana plasmática, estado nutricional, etc.) • Via de administração mais segura e mais comum, conveniente e de baixo custo. • Absorção limitada de alguns fármacos. • Pode apresentar redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos. • É necessário que o paciente se apresente disposto a seguir as orientações de consumo. • Os fármacos podem sofrer biotransformação antes de encontrar seu alvo. Intravenosa (endovenosa) A absorção não é necessária, pois já está na corrente sanguínea. • Pode ter efeitos mais imediatos. • Ideal para a dosagem de altos volumes de medicamento. • Adequada para substâncias irritantes e misturas complexas. • Muito útil para situações emergenciais. • Ideal para fármacos à base de proteínas e peptídeos com alta massa molecular. • Não é recomendada para ser utilizada com substâncias à base de lipídios. • A injeção em bolus poderá resultar em efeitos adversos. • A maioria das substâncias deverá ser injetada de forma lenta e gradual. • São necessárias técnicas de assepsia estritas. 1313 13 Subcutânea Depende do diluente do fármaco: • soluções aquosas: imediata; • preparações de depósito: liberação lenta e prolongada. • Adequada para fármacos de liberação lenta. • Ideal para algumas suspensões pouco solúveis. • Pode ocasionar dor e necrose se o fármaco for irritante. • Inadequada para fármacos administrados em volumes elevados. Intramuscular Depende dos diluentes do fármaco: • soluções aquosas: imediata; • preparações de depósito: liberação lenta e prolongada. • Adequada se o volume é moderado. • Adequada para veículos oleosos e certas substâncias irritantes. • Preferível à via intravenosa se o paciente deve se autoadministrar. • Afeta certos testes de laboratório (creatinocinase). • Pode ser dolorosa. • Pode causar hemorragia intramuscular (evitar durante o tratamento com anticoagulante). Transdérmica (adesivo) Lenta e prolongada. • Evita o efeito de primeira passagem. • Convenien- te e indolor. • Ideal para fármacos lipofílicos (com afini- dade por lipídios) e que têm baixa bio- disponibilidade oral. • Ideal para fármacos que são elimina- dos rapidamente do organismo. • Alguns pacientes são alérgicos aos adesivos, o que pode causar irritação. • O fármaco deve ser muito lipofílico. • Pode causar atraso no acesso ao local de ação farmacológica. • Limitado a fármacos que podem ser tomados em doses pequenas diárias. Retal Errática e variável. • Evita parcialmente o efeito de primeira passagem. • Evita a destruição pela acidez gástrica. • Ideal se o fármaco causa êmese (vômito). • Ideal para pacientes com êmese ou comatosos. • O fármaco pode irritar a mucosa retal. • Não é uma via “bem aceita” pelo paciente. 1414 Inalatória Pode ocorrer absorção sistêmica, o que nem sempre é desejado. • A absorção é rápida; pode ter efeitos imediatos. • Ideal para gases. • É eficaz para pacientes com problemas respiratórios. • A dose pode ser titulada. • Se o alvo do efeito se localiza nos pulmões: são usadas doses menores comparando com as que se usariam por via oral ou parenteral. • Menos efeitos adversos sistêmicos. • Principal via de adictos (o fármaco pode acessar rapidamente o cérebro). • Os pacientes podem ter dificuldade em regular a dose. • Alguns pacientes têm dificuldades no uso dos inaladores. Sublingual Depende do fármaco: • poucos fármacos (ex., nitroglicerina) têm absorção sistêmica direta e rápida – a maioria dos fármacos tem absorção incompleta e errática. • Evita o efeito de primeira passagem. • Evita a destruição pela acidez gástrica. • Mantém a estabilidade do fármaco, porque a saliva tem pH relativamente neutro. • Pode causar efeitos farmacológicos imediatos. • Limitada a certos tipos de fármacos. • Limitada a fármacos que podem ser tomados em pequenas doses. • Pode perder parte do fármaco se deglutido. Fonte: adaptado de WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016. 1.2 Metabolismo, biotransformação e eliminação Diariamente, muitas substâncias são ingeridas de forma conhecida (como os medicamentos) e desconhecida (partículas estranhas que contenham xenobióticos ou componentes químicos, agrotóxicos, poluição, entre outros). Todas essas partículas precisarão ser transformadas para serem eliminadas do organismo. Como vimos 1515 15 anteriormente, muitas moléculas químicas presentesnos fármacos precisam ser lipofílicas para conseguirem transpor a membrana plasmática e, assim, atingir seu alvo. Dessa forma, essas moléculas se mantêm ativadas e sendo reabsorvidas constantemente pelos rins (nesse caso, especificamente, os néfrons), podendo causar toxicidade. Assim, o organismo precisa transformar esses compostos em formas hidrossolúveis que possam ser eliminadas do organismo. A transformação dos fármacos e demais compostos moleculares desde que são consumidos até serem excretados é chamada de biotransformação, e suas reações são divididas classicamente em duas fases. Alguns fármacos não precisam ser transformados, por serem hidrofílicos, e dessa maneira são eliminados do organismo sem a necessidade de serem conjugados. Figura 2 – Biotransformação de fármacos e suas reações na fase I e fase II Fonte: elaborada pela autora. 1616 A fase I ocorre principalmente no fígado e comporta as reações de oxidação/reações, deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. Já a fase II possui reações de conjugação e hidrólise. Essas reações proporcionam um segundo conjunto de alterações químicas destinadas a modificar os compostos para sua excreção. Nas reações de conjugação, reações adicionais são acrescentadas aos fármacos após a fase I, com a inserção de ácido glicurônico, criando conjugados mais hidrofílicos. As reações de conjugação/hidrólise podem ocorrer também independentemente das reações de oxidação. Apesar das duas transformações, alguns fármacos podem permanecer ativos. É o caso das penicilinas. O sistema citocromo P450 (CYP) é uma superfamília de isoenzimas presente no fígado e no trato gastrointestinal responsável pelo processo de biotransformação dos fármacos (como paracetamol, ibuprofeno, varfarina, sinvastatina, entre outros), cafeína, álcool e lipídios. As reações possuem uma cascata de transformação que envolve o fármaco, uma enzima do sistema citocromo P450, oxigênio, NADPH, uma flavoproteína (NADPH-450), apresentando como resultado final um produto hidroxilado. Esse sistema de biotransformação pode sofrer alterações de polimorfismo, a partir de componentes dietéticos (por exemplo: carne de churrasco que leva à formação de compostos carcinogênicos, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que podem aumentar o risco de câncer de cólon). Após a fase I, o fármaco passa pela fase II, resultando, geralmente, em produtos finais solúveis em meio líquido e inativo. Porém, algumas substâncias poderão permanecer ativas mesmo após a fase II. É o caso das penicilinas, que continuam ativas e devem ser foco de atenção quando são utilizadas em pacientes com doença renal. Nesse caso, a dosagem deverá ser ajustada pelo médico, uma vez que o paciente apresenta dificuldade de eliminação de líquidos e o fármaco continuará ativo. 1717 17 1.3 Farmacocinética e farmacodinâmica Entender o caminho do medicamento pelo organismo, assim como a interação dele no seu lugar de ligação, como vimos neste capítulo, é importante para ajustar o planejamento dietético de forma a melhorar a atuação do tratamento. O estudo das alterações que ocorrem com o fármaco no seu trajeto até sua ligação na molécula-alvo é chamado de farmacocinética. Assim, quando um medicamento é consumido por via oral, ele deverá passar pelo pH ácido do estômago, até ser absorvido pelo intestino, fazendo com que grande parte desse composto possa ser perdido durante esse processo. A aplicação cotidiana desse conceito é importante para entender a interação fármaco-nutriente que será abordada do decorrer do curso. Dessa forma, estabelece-se quando um medicamento poderá ser consumido com um alimento ou quando ele não deverá ser consumido. Já a farmacodinâmica permite compreender e descrever os efeitos do fármaco no organismo, ou seja, ao se consumir um hipoglicemiante, quais as reações esperadas e não esperadas desse medicamento no corpo. A farmacodinâmica considera a ligação fármaco-receptor em seu estudo, ou seja, o pico máximo de ação de um medicamento ocorre quando todos os receptores estão ligados ao fármaco. É dessa forma que é estabelecido o tempo de consumo das dosagens dos medicamentos, se os medicamentos podem apresentar efeito agonista ou antagonista no organismo, ou até entre si. 1.4 Efeitos tóxicos do consumo de fármacos O desenvolvimento de novos medicamentos é algo rotineiro, mas demorado, já que o novo princípio estudado precisa passar por diversas fases, entre elas, aquela que indique a segurança quanto ao consumo. Efeitos adversos e colaterais podem ocorrer em decorrência da heterogeneidade individual. Os efeitos adversos ocorrem quando o consumo do medicamento é acima do recomendado. Já os efeitos 1818 colaterais podem existir pela não especificidade no sítio de ação, ou seja, um mesmo princípio ativo pode agir em vários locais do corpo, ocasionando respostas diferentes. Pode-se citar como exemplo a utilização de anti-histamínicos muito utilizados no tratamento de alergias e rinite alérgica, que provocam sonolência. Isso acontece porque o fármaco é um antagonista dos receptores histamínicos, que, ao atravessar a barreira hemato- encefálica, também promove o efeito antagonista nos receptores do sistema nervoso, causando a sonolência. Além dos efeitos colaterais e efeitos adversos resultantes do consumo de medicamentos, deve-se ressaltar um hábito frequente entre os pacientes, realizado, muitas vezes, sem conhecimento dos seus efeitos. Muitos pacientes, rotineiramente, utilizam diversos tipos de chá em sua rotina diária, mas esquecem-se de que os chás são feitos de partes de plantas que possuem componentes bioativos. Esses componentes podem promover alterações, como o aumento da diurese (chás diuréticos, como cavalinha, abacaxi e sabugueiro), elevação dos batimentos cardíacos (chás termogênicos, tais como hibisco, gengibre e canela), redução da agregação plaquetária e até sangramento (chá de ginkgo biloba e chá de camomila). Caso o paciente esteja consumindo algum medicamento, o consumo dos chás em excesso poderá promover a maior saída do medicamento do organismo, intensificar seu princípio ativo, ou, ainda, reduzir a ação do fármaco. Ressaltam-se, também, os riscos do consumo de álcool e medicamentos. A interação entre esses dois compostos promove o aceleramento do esvaziamento gástrico, comprometendo a biotransformação dos fármacos e sua excreção; pode modificar a interação do medicamento com seu sítio de ação, por promover modificação de receptores e neurotransmissores; alterações na biotransformação hepática no sistema citocromo P450 (CYP). Considera-se interação medicamentosa quando um fármaco tem a capacidade de modificar a ação de outro fármaco que foi administrado 1919 19 simultaneamente ou sucessivamente, de forma que a ação de um desses fármacos, ou ambos, poderá ser prejudicada, ocasionando toxicidade (por permanência em maior tempo e quantidade na circulação sanguínea, por exemplo), ou ainda a redução da ação do princípio ativo. A interação entre medicamentos ocorre com mais frequência entre idosos, principalmente aqueles que estão hospitalizados. Isso geralmente acontece porque os idosos apresentam maior fragilidade, doenças mais complexas e número elevado de comorbidades que demandam múltiplos medicamentos na rotina terapêutica com medicamentos. Caro aluno, neste capítulo, nós vimos como os fármacos agem no organismo, desde quando são consumidos até chegarem a seus alvos, passando por processos de modificação no fígado e excreção renal. Aprendemos que a farmacocinética e a farmacodinâmica são importantes para o planejamento dietético do paciente, evitando que o fármaco interaja com os nutrientes, e que ocorra prejuízo para ambos os lados. Ao final, discutimos os efeitos do consumo das altas dosagens de medicamentos e do risco de se consumir medicamentos com álcool e atéalguns tipos de chás. TEORIA EM PRÁTICA Na prática diária de atuação do nutricionista nos consultórios particulares, de convênios, hospitais, home care ou em unidades básicas de saúde (UBS), é comum encontrar pacientes com uma sobrecarga de doenças crônicas não degenerativas, resultantes do envelhecimento da população e do processo de transição nutricional. Pacientes com excesso de peso e eutróficos têm apresentado cada vez mais a tríade hipertensão-diabetes- dislipidemia, também chamada de síndrome metabólica no caso dos pacientes obesos ou com sopreso. A maioria 2020 desses pacientes, principalmente aqueles atendidos em UBS, tem como prescrição médica a metformina (hipoglicemiante oral utilizado no tratamento do diabetes), a hidroclorotiazida (diurético utilizado para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica) e sinvastatina (tratamento de dislipidemias). Considerando o que foi visto nesta unidade quanto ao funcionamento agonista e antagonista de fármacos, como você explicaria a atuação desses três medicamentos no metabolismo da glicose? O que fazer na nossa prática dietética quanto a isso? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Os medicamentos são consumidos, em sua grande maioria, por via oral, seja pela facilidade de consumo, seja por ser a via de mais baixo custo. Após serem ingeridos, eles passam pelo processo de digestão e depois absorção. Os dois mecanismos mais importantes para os medicamentos são: a. Difusão através dos lipídios e transportador de membrana e pinocitose. b. Difusão através dos lipídios e difusão através dos canais aquosos. c. Difusão através dos canais aquosos e transportador de membrana. d. Pinocitose e transportador de membrana. e. Difusão através dos lipídios e transportador de membrana. 2121 21 2. Os fármacos podem ser consumidos de diversas formas, isso ajudará na sua disponibilidade e no modo de ação. Uma das vias que apresenta como desvantagem a absorção limitada de alguns fármacos, a redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos é: a. Oral. b. Intravenosa. c. Subcutânea. d. Transdérmica. e. Intramuscular. 3. Os medicamentos, após serem consumidos, precisam ser modificados no fígado e excretados pela urina, passando por uma transformação chamada de biotransformação. Sobre as fases I e II, analise as informações a seguir: A fase I ocorre principalmente nos rins. PORQUE Ela comporta as reações de oxidação/reações deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. A respeito das asserções, assinale a alternativa correta: 2222 a. As asserções I e II são proposições falsas. b. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. c. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I. d. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. e. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. Referências bibliográficas ORELLANA, B. M.; GUAJARDO, T. V. Actividad del citocromo P450 y su alteración en diversas patologías. Rev. méd. Chile, Santiago, v. 132, n. 1, p. 85-94, jan. 2004. Disponivel em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 98872004000100014&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 1 jun. 2019. RANG, H. P. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. 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Questão 2 – Resposta A Resolução: a via oral apresenta como desvantagens: absorção limitada de alguns fármacos; pode apresentar redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos; é necessário que o paciente se apresente disposto a seguir as orientações de consumo; os fármacos podem sofrer biotransformação antes de encontrar seu alvo. Feedback de reforço: dê uma olhada no Quadro 1 novamente, ele o ajudará com informações importantes para esta questão. Questão 3 – Resposta B Resolução: a fase I ocorre principalmente no fígado e comporta as reações de oxidação/reações, deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. Feedback de reforço: que tal revisar as fases I e II da biotransformação? 2424 Interações e biodisponibilidade na relação droga-nutriente Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Apresentar os mecanismos de interação entre os fármacos e os nutrientes. • Apresentar as principais interações fármaco- nutriente e sua aplicabilidade prática. • Apresentar as principais interações fármacos- fitoterápicos e a conduta profissional. 2525 25 1. O que é biodisponibilidade? Prezado aluno, sempre que consumimos um medicamento, alimento ou fitoterápico (como os chás), o princípio ativo e os nutrientes passam por diversas modificações químicas até chegar ao seu alvo. Torna-se importante entender a relação entre esses três componentes (fármacos- alimentos-fitoterápicos) para orientar a conduta profissional diária. O tema desta aula abordará a interação entre os alimentos/nutrientes e o princípio ativo dos medicamentos, como, por exemplo, a ingestão de alimentos em conjunto com medicamentos. Isso pode retardar a desintegração do fármaco no estômago, já que a presença do alimento no estômago reduz o tempo de esvaziamento gástrico, limitando a passagem do quimo para o intestino delgado. É o que acontece com o consumo de alimentos e ácido acetilsalicílico (AAS), amoxicilina, diclofenaco de sódio entre outros. Bons estudos! Na rotina diária de atendimentos clínicos, hospitalares e em home care, o nutricionista se depara com o consumo de muitos medicamentos, assim como a utilização de fitoterápicos, popularmente conhecidos como chás, e amplamente consumidos pela população. Além desses dois compostos, também se deve ressaltar que o tratamento medicamentoso é feito em conjunto com a alimentação cotidiana e que o metabolismo desses compostos pode ocorrer ao mesmo tempo utilizando transportadores e demais mecanismos comuns a todas as substâncias. É importante entender como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização, é o que se denomina biodisponibilidade. O conceito de biodisponibilidadefoi desenvolvido pela Food and Drug Administration (FDA) para ser utilizado com os fármacos, mas desde a década de 1980, tem sido aplicado também para nutrientes. 2626 Em 2001, no Congresso de Biodisponibilidade de Interlaken, foi orientada a utilização de três aspectos relacionados aos alimentos. São eles: bioconversão, bioeficácia e bioeficiência. Assim, deve ser considerada a quantidade de nutriente ingerido que estará disponível para a conversão em sua forma ativa (bioconversão), além da eficiência com o qual os nutrientes são absorvidos e convertidos em sua forma ativa (bioeficácia). E, por fim, o quanto da forma ativa convertida do nutriente estará disponível para ser utilizada no tecido-alvo (bioeficiência). Todos esses aspectos são importantes na biodisponibilidade de nutrientes e podem sofrer influência do tipo de nutriente, da sua ligação molecular, das interações com fatores antinutricionais (como os fitatos), além de interações com medicamentos e demais compostos bioativos. A interação entre medicamentos e nutrientes poderá provocar desequilíbrio de nutrientes ou a modificação de um efeito farmacológico pela ação ou presença de um nutriente. Competição pelos mesmos receptores entre nutrientes e fármacos, alteração de pH intestinal, diminuição da área absortiva intestinal são exemplos da influência entre fármacos e nutrientes. A elevação do pH ocasionado pelo consumo de frutas e alimentos, como o leite e derivados, podem reduzir a solubilidade da ampicilina, da penicilina e do ácido acetilsalicílico (AAS), sendo necessário um intervalo de duas horas entre a ingestão desses alimentos e a administração desses fármacos. Além da biodisponibilidade, outro conceito que deverá ser considerado para os medicamentos é a bioequivalência, que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), consiste na equivalência farmacêutica entre produtos similares farmaceuticamente, contendo idêntica composição qualiquantitativa do seu princípio ativo. 2727 27 ASSIMILE A biodisponibilidade é importante para nos orientar quanto do medicamento chegará na sua forma útil ao seu ponto de ligação no tecido-alvo. Já a bioequivalência permite o desenvolvimento de medicamentos denominados genéricos e similares que garantam a eficácia no tratamento por um custo mais baixo. 2. Interação fármaco-nutriente O consumo de alimentos e medicamentos ao mesmo tempo ou em períodos muito próximos é bastante comum na rotina diária dos pacientes. E poucos se atentam ou sabem que existe interação, ou seja, uma relação entre os nutrientes e o fármaco consumido, de forma que possa ocorrer prejuízo para uma ou ambas as partes envolvidas. Os nutrientes interferem nos processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção dos fármacos, o que pode reduzir a quantidade ativa do medicamento e influenciar no resultado do tratamento terapêutico, já que nutrientes e fármacos competem por mecanismos semelhantes de metabolismo corporal. Ao serem consumidos por via oral, os fármacos são absorvidos por difusão passiva, com passagem pela bicamada lipídica, principalmente. Já os nutrientes necessitam de transportadores de membrana e sistemas simporte, com gasto de energia, provocando redução no processo absortivo de nutrientes. Idade, matriz alimentar, tempo de trânsito intestinal, presença de patologias do trato gastrointestinal e hepático são alguns fatores que podem reduzir a biodisponibilidade dos fármacos. 2828 As interações dos fármacos com os nutrientes podem ser classificadas como físico-químicas, em que ocorre a junção, ou seja, a complexação entre componentes alimentares e o fármaco, tornando-o indisponível para utilização na maioria das vezes. As interações fisiológicas são aquelas nas quais os medicamentos podem promover alteração do apetite, digestão, esvaziamento gástrico e biotransformação. Por fim, as interações fisiopatológicas decorrem do prejuízo da absorção de nutrientes em decorrência da utilização do fármaco. Como exemplo deste último caso, tem-se a redução de produção de ácido clorídrico e fator intrínseco pela utilização de inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol), o que reduz a absorção de vitamina B12 (cianocobalamina). O Quadro 2 apresenta algumas interações fármaco-nutrientes e seus efeitos tanto para os nutrientes quanto para os fármacos. A interação fármaco-nutriente é uma área em constante estudo, já que muitos medicamentos são lançados no mercado anualmente. Quadro 2 – Principais interações fármaco-nutrientes e seus efeitos Fármaco Forma de ação Efeito para o fármaco Nutriente afetado Ácido acetilsalicílico Anti-inflamatório não esteroidal Aumento da excreção devido à alcalinidade da dieta. Reduz a absorção de Vit. C, Vit. B1, Vit. K e ácido fólico. Dieta rica em carboidratos reduz o tempo de absorção, mas não afeta a extensão total do medicamento. Amiodarona Antiarrítmicos Aumento da absorção, podendo levar à toxicidade. Suco de toranja aumenta em 50% sua biodisponibilidade e altera a conversão em metabólito ativo. Amitriptilina Antidepressivo Aumento da excreção devido à acidez da dieta. Não interage com alimentos, entretanto, dieta rica em fibra poderá diminuir seu efeito. 2929 29 Ampicilina Antibiótico Alimento interfere em sua absorção. Anlodipino Bloqueador de canais de cálcio O alimento não afeta a biodisponibilidade do fármaco. Depleta K, Ca e Vit. D. Atenolol Betabloqueadores O alimento poderá interferir em sua concentração plasmática. Após 3 meses, pode reduzir o nível sérico do Zn. Azatioprina Antileucêmico, anti-inflamatório e imunossupressor Pode ocasionar hipoalbuminemia. Azitromicina Antibiótico As cápsulas têm uma redução de 50% na sua biodisponibilidade quando coadministrada com alimentos. Captopril Inibidor de enzima angiotensina A presença do alimento reduz a absorção em 10% a 54%. Após 6 meses, pode elevar a excreção urinária de Zn, reduzir a concentração plasmática de Zn e eritrocitária de Zn, hipercalemia. Carbamazepina Antiepiléptico Suco de uva reduz sua absorção. Cefalexina Antibiótico O alimento retarda o alcance da concentração sérica máxima. Avaliar suplementação de K para prevenir hemorragia devido à hipoprotrombinemia. Cetoconazol Antifúngico Alimentos ácidos aumentam sua absorção. Administrar suplementação de Ca, Mg ou antiácidos com intervalo de 2h. Clorpromazina e flufenazina Antipsicótico Precipitação na presença de ácido tânico. 3030 Diazepam, carbamazepina e sertralina Moduladores do sistema nervoso central (SNC) Inibição de enzimas de biotransformação de fármacos, com elevação dos seus níveis tóxicos. Fenobarbital Anticonvulsivante, hipnótico e sedativo O alimento favorece sua absorção. O uso prolongado pode necessitar de suplementação de Vit. D, Vit. B12, folato e Ca. Furosemida Diurético O alimento pode reduzir sua absorção. Depleta Zn, Na, K, Ca, Mg, Cl, Vit. B1 e água. Hidro- clorotiazida Diurético Os alimentos podem reduzir sua biodisponibilidade. Pode ↑ a excreção de Zn. Depleta Na, Cl, K, Mg, Zn e riboflavina. Inibidores da enzima monoamina oxidase (MAO) Antidepressivo Inibição da enzima que degrada a tiramina, com elevação de seus níveis plasmáticos. Efeitos simpaticomiméticos e crise hipertensiva Losartana Antagonistas dos receptores da angiotensina O alimento não afeta os níveis séricos do fármaco. Pode promover depleção de Zn. Metformina Hipoglicemiante oral Os alimentos aumentam sua absorção. Redução da absorção de glicose (em pequena quantidade) e redução a neoglicogênese. Metildopa Anti-hipertensivo Dieta hiperproteica pode reduzir sua absorção. Reduz a absorção de folacina e cobalamina. Morfina Analgésico opioide Nutrientes retardam sua absorção, mas não interferem na concentração plasmática. Omeprazol Inibidor da bomba de prótons Interação benéfica: suco de laranja oumaçã. Reduz a absorção de Fe e Vit. B12. 3131 31 Penicilina Antibiótico Aumento da excreção devido à alcalinidade da dieta. Prednisolona Anti-inflamatórios esteroidais Miopatia devido ao catabolismo de proteínas; perda de Ca; deficiência de folato e bloqueio renal de Vit. D9. Alterações no Na, K e glicemia. Prometazina Anti-histamínico Precipitação na presença de ácido tânico. Propranolol Bloqueador beta- adrenérgico (anti- hipertensivo) Não ingerir com fonte de Ca e evitar o consumo de alcaçuz. A presença do alimento favorece sua biodisponibilidade. Vit. C em dose alta (ex.: 2 g) pode reduzir sua absorção e seu metabolismo. Ranitidina Antagonista do receptor H2 Limitar o consumo de cafeína e xantinas. O alimento não afeta a absorção do medicamento. Suplementos de Mg, Fe, Al e folato, polivitamínicos contendo minerais ou antiácidos contendo Al e Mg podem reduzir sua absorção. Reduz a absorção de Vit. B12 e Fe. Rifampicina Antibiótico A presença de alimentos reduz sua absorção e concentração plasmática. Pode aumentar o metabolismo de Vit. D. Pode necessitar de suplementação de Vit. D. Sinvastatina Estatina Toranja reduz sua biodisponibilidade. 3232 Sulfato ferroso Anti-anêmico A presença de alimentos reduz sua absorção, podendo chegar a 50%. Vit. C favorece sua absorção. Em altas doses, reduz a absorção de Zn. Teofilina Broncodilatador Sobrecarga de xantinas, com risco de toxicidade: distúrbios eletrolíticos e efeitos no SNC e cardiovascular Tetraciclina e ceftriaxona Antibiótico Complexação do fármaco com íons divalentes. Tiroxina (levotiroxina) Hormônio tireoidal Dietas ricas em fibra diminuem sua absorção. Suplemento de Fe, Ca ou Mg podem reduzir a absorção do fármaco. Varfarina Anticoagulante Dieta rica em Vit. K: diminui a anticoagulação. E os constituintes da dieta enteral reduzem a absorção do medicamento. Cebola crua, frita ou cozida reduz a agregação plaquetária. Vit. A e E > 400 UI/ dia alteram o tempo de protombina; Vit. C > 5 g/dia reduz a absorção do fármaco. Fonte: adaptado de EBSERH (s/d) e Lombardo e Eserian (2014). As alterações físico-químicas decorrentes dos processos de digestão e absorção alimentar podem promover alterações nos fármacos. A presença de alimentos no estômago promove o aumento da secreção de ácido clorídrico, alterando o pH estomacal, o que pode 3333 33 influenciar a desintegração das cápsulas, drágeas ou dos comprimidos e, consequentemente, a absorção do princípio ativo. Outro resultado é o esvaziamento gástrico, que poderá ser retardado ou acelerado, fazendo com que o princípio ativo permaneça mais tempo ou não no estômago e intestino, promovendo a redução da solubilidade e biodisponibilidade dos fármacos e dos nutrientes. Os medicamentos utilizam as enzimas do citocromo P450 (CYP) para as reações de fase I e fase II da biotransformação, e alguns nutrientes são capazes de interferir nessas enzimas. Um exemplo é o consumo de toranja com medicamentos (também conhecida como grapefruit). Essa fruta possui substâncias químicas naturais denominadas furanocumarinas, que possuem a capacidade de inibir a enzima CYP3A4 do citocromo P450, resultando em redução da quantidade de princípio ativo absorvido pelo intestino. A grapefruit é apenas um dos muitos exemplos da interação do alimento com o medicamento. Ao realizar um estudo mais aprofundado, por vezes nos esquecemo que os nutrientes estão inseridos em uma matriz alimentar e que ela é complexa, contendo diversos nutrientes em um mesmo alimento, além do pH do próprio alimento, que poderá alterar o pH do organismo. O Quadro 3 apresenta a interação entre alguns alimentos e fármacos. Quadro 3 – Interações entre alimentos/nutrientes e fármacos 5 Alimentos/ nutrientes Mecanismos/ efeitos Recomendações Cardiovasculares/Anti-hipertensivos Amilorida Cálcio (leite e queijo) Depleta a absorção de cálcio (Ca). Evitar a administração com alimentos ricos em Ca. Anlodipina Alimentos em geral Alimentos prejudicam o mecanismo de liberação controlada. Evitar administração com alimentos. 3434 Captopril Alimentos em geral Diminui a absorção do fármaco. Administrar uma hora antes ou duas horas após as refeições. Carvedilol Alimentos em geral Administrar com alimentos diminui a hipertensão ortostática. Administrar com alimentos. Digoxina Cenoura (fibras) Diminui a absorção do fármaco. Evitar a administração com alimentos ricos em fibras. Nifedipina Alimentos em geral Aumenta a biodisponibilidade do fármaco. Administrar com alimentos. Propanolol Leite (proteínas) Aumenta a biodisponibilidade do fármaco. Administrar com alimentos hiperproteicos. Anti-inflamatórios Ácido acetilsalicílico Suco de maracujá (vitamina C) e alface (vitamina K) Depleta a absorção das vitaminas. Não ingerir alimentos ricos em vitaminas C e K, ácido fólico, tiamina e aminoácidos próximo ou durante a administração dos medicamentos. Diclofenaco Alimentos em geral Diminui o risco de lesão no TGI. Ingerir com alimentos para diminuir o risco de lesão da mucosa gástrica. Paracetamol Cenoura e alface (fibras) Diminui a absorção do fármaco. Evitar alimentos ricos em fibras junto ou próximo à administração do medicamento. Diuréticos Espironolactona Leite e carne (potássio) Retém potássio (K). Evitar a administração com alimentos ricos em K. Furosemida Abóbora, arroz, cenoura, carne (sódio) Depleta sódio (Na). Evitar a administração com alimentos ricos em Na. 3535 35 Hidro- clorotiazida Queijo, ovo frito e carne Aumenta a absorção do fármaco e depleta sódio. Administrar com alimentos. gordurosos. Evitar a administração com alimentos ricos em Na. Antiulcerosos Hidróxido de alumínio Carne e feijão (Ferro) Depleta a absorção de Ferro (Fe). Não ingerir alimentos contendo Fe junto ou próximo à administração do medicamento. Omeprazol Frango e leite (vitamina B12) Depleta a absorção da vitamina B12. Não ingerir alimentos ricos em vitamina B12 junto ou próximo à administração do medicamento. Ranitidina Leite e carne (vitamina B12) Depleta a absorção da vitamina B12. Não ingerir alimentos ricos em vitamina B12 junto ou próximo à administração do medicamento. Laxantes Óleo mineral Abóbora (vitamina A) e salada de verduras (vitamina K) Depleta a absorção das vitaminas A e K. Não ingerir alimentos ricos em vitaminas A, D, E e K junto ou próximo à administração do medicamento. Hipoglicemiantes Metformina Alimentos em geral Diminui a absorção de vitamina B12. Aumenta a sensibilidade de receptores de insulina no fígado e no músculo esquelético. Deve ser administrada 15 a 20 minutos após as refeições. Acarbose Alimentos em geral Finalidade: retardar a absorção de carboidratos. Ser ingerida na primeira “garfada” da refeição. Glibenclamida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. 3636 Glicazida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. Glimepirida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. Fonte: adaptado de Carlos (2016); Lopes, Carvalho e Freitas (2010). 3. Interação fármaco-fitoterápico O nutricionista é um dos profissionais habilitados a fazer a prescrição de fitoterápicos, conforme Resolução CFN Nº 556, de 11 de abril de 2015, desde que seja portador do título de especialista em fitoterapia. A fitoterapia é definida como uma forma de tratamento caracterizado pela utilizaçãode plantas medicinais (que poderá ser in natura, drogas vegetais, derivados de drogas vegetais e fitoterápicos) em suas diferentes preparações (macerações, infusões, decocções, entre outros). A fitoterapia deverá ser considerada como complemento da prescrição dietética. O profissional nutricionista, conforme exposto nesta Resolução CFN Nº 556, de 11 de abril de 2015, deverá adotar condutas que potencializem os efeitos terapêuticos, considerando a interação entre os fitoterápicos com os alimentos e os medicamentos. A fitoterapia também é uma das práticas regulamentadas pelo Sistema Único de Saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A utilização das plantas medicinais no cotidiano é algo corriqueiro e baseado em conhecimentos históricos e culturais, repassados por nossos ancestrais. O uso de chás e partes comestíveis de plantas medicinais pode ser entendido por alguns, 3737 37 inclusive, como automedicação e possui interação com medicamentos e com alimentos. Por ser comum a utilização de chás, muitos pacientes não conseguem identificar os riscos do consumo desses produtos, por considerarem os mesmos de origem vegetal e, dessa forma, inofensivos à saúde. Os chás e até alguns condimentos possuem substâncias ativas que, consumidos de forma contínua e em grande quantidade, podem levar à intoxicação, reduzir o efeito de alguns medicamentos e interferir na absorção de nutrientes. Todos os tipos de chás e demais fitoterápicos deverão ser prescritos por profissional capacitado, sendo os efeitos adversos do tratamento acompanhados para alterações em relação a dosagem, horário e até ao princípio ativo. Segundo o conceito elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o medicamento fitoterápico é obtido por meio do emprego exclusivo de matérias-primas vegetais, sendo caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. O Quadro 4 apresenta a interação entre alguns fitoterápicos e plantas medicinais com medicamentos, sendo importatnte sua utilização na complementação da prática do nutricionista. Quadro 4 – Principais interações entre plantas medicinais, fitoterápicos e fármacos Planta medicinal Indicações/ ações Terapêutica Efeitos Interação medicamentosa Alcachofra (Cynara scolymus L.) Colerético e colagogo Cinarina ou de- rivados do ácido cafeoilquínico ex- pressos em ácido clorogênico (dose diária:7,5 mg a 12,5 mg de cinari- na ou derivados) Efeito diurético, podendo oca- sionar hipoten- são arterial. Aumenta a excreção de potássio. Diuréticos de alça (furosemida) e tiazídicos (clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida) 3838 Alho (Allium sativum L.) Coadjuvante no tratamen- to de hiper- lipedemia e hipertensão arterial leve; prevenção da aterosclerose Aliina ou alicina (dose diária: 6 a 10 mg de aliina) Aumento do tempo de san- gramento; hi- poglicemiante; pode afetar a ação de qui- mioterápicos e medicamentos para tireoide Anticoagulantes (varfarina) e antiplaquetários; intensifica o efeito de drogas hipogli- cemiantes (insulina e glipizida); saquinavir (reduz os níveis plasmáticos) Boldo, Boldo-do- Chile (Peumus boldo Molina) Colagogo, colerético, tratamento sintomático de distúrbios gastrointesti- nais espásticos Alcaloides totais calculados como boldina (dose diária: 2 a 5 mg de boldina) Inibição da agregação plaquetária Anticoagulantes e antiplaquetários Camomila (Matricaria recutita L.) Antiespasmó- dico, anti-infla- matório tópico, distúrbios digestivos e insônia leve Apigenina-7-gli- cosídeo (dose diária:4 a 24 mg de apigenina- -7-glicosídeo) Aumento da chance de san- gramentos; intensifica a ação de sedativos; re- duz a absorção de ferro; efeito antiestrogênico Anticoagulantes; barbitúricos (fe- nobarbital) e ou- tros sedativos Cáscara Sagrada (Rham- nus pur- shiana D.C.) Constipa- ção ocasional Cascarosídeo A (dose diária: 20-30 mg cas- carosídeo A) Perda de potás- sio; desequilíbrio hidroeletrolítico; aumenta a pres- são sanguínea Diuréticos tiazídicos Erva de São João (Hypericum perforatum L.) Estados de- pressivos leves a moderados, não endógenos Hipericinas to- tais (dose diá- ria: 0,9 a 2,7 g de hipericina) Inibição da ab- sorção de ferro; sangramento; interfere na ação de contracep- tivos orais, ele- vação da pres- são sanguínea Ciclosporina, in- dinair, digoxina, teofilina e varfa- rina, omeprazol, talbutamida, cafe- ína, carbamazepi- na, ciclosporina, midazolam, nifedi- pina, sinvastatina, teofilina, antide- pressivos tricíclicos 3939 39 Erva-do- ce, anis (Pimpinella anisum L.) Antiespasmó- dico, distúrbios dispépticos Transanetol (dose diária: 0-1 ano, 16 a 45 mg de trans-anetol; 1-4 anos, 32- 90 mg de trans- -anetol; adultos: 80-225 mg de trans-anetol) Ação sedativa Drogas hipnóticas Eucalipto (Eucalyp- tus globulus) Antisséptico e antibacteriano das vias aére- as superiores; expectorante Cineol (dose diária:14-42,5 mg de cineol) Alterações no sistema nervo- so, confusão mental, hipo- glicemiante Benzodiazepíni- cos, barbitúricos, narcóticos, alguns anti-depressi- vos e álcool Gengibre (Zingiber offi- cinale Rosc.) Profilaxia de náuseas causada por movimento (cinetose) e pós-cirúrgicas. Gingeróis (6-gin- gerol, 8-ginge- rol, 10-gingerol, 6-sho-gaol, cap- saicina) Dose diária: crian- ças acima de 6 anos: 4-16 mg de gingeróis; adulto: 16-32 mg de gingeróis] Estimula a produção de áci-do clorídri- co estomacal; aumenta o risco de sangramen- to; sonolência; hipoglicêmico Sucralfato, raniti- dina, lansoprazol, ácido acetilsalicíli- co, varfarina, he- parina, clopidogrel, ibuprofeno, napro- xeno, beta-bloque- adores, digoxina, insulina, hipogli- cemiantes orais Ginkgo biloba (Ginkgo biloba L.) Vertigens e zumbido (tinidos) re- sultantes de distúrbios circulatórios gerais e distúr- bios circulató- rios periféricos (claudicação intermitente) e insuficiên- cia vascu- lar cerebral Extrato padroni- zado com 24% de ginkgoflavo- noides (querce- tina, kaempfer isorhamnetina) e 6% de terpenolac- tonas (bilo-balide, ginkgolídeos A, B, C, E). Dose diária: 80 a 240 mg de extrato padroni- zado, em 2 ou 3 administrações ou 28,8-57,6 mg de ginkgo- flavonoides e 7,20-14,4 mg de ter-penolactonas] Sangramentos, potencializa- dor de anti-in- flamatórios e anticoagulantes, diminuir a ação de anticonvul- sivantes, pode causar cefaleia, tremores e sur- tos maníacos, hipoglicêmico. Ácido acetilsalicí- lico, clopidogrel, varfarina, heparina, ibuprofeno napro- xeno, sertraline, insulina, hipogli- cemiantes orais 4040 Ginseng (Panax ginseng C. A, Meyer) Estado de fadi- ga física e men- tal, adaptógeno Ginsenosíde- os (dose diária: 5 mg a 30 mg de ginsenosídeos totais [Rb1, Rg1]) Reduz a ação de anticoagulantes; aumenta risco de sangramento, hi- poglicêmico, gine- comastia masculi- ne, sangramentos pós-menopausa, falha nos perío- dos menstruais, cefaleia, insônia, hipertensão. Varfarina, ácido acetilsalicílico, heparina, clopido- grel, ibuprofeno, naproxeno, hipo- glicemiantes orais, inibidores da mo- noamino oxidase, betabloqueadores de canais de calico Guaco (Mikania glomerulata Sprengl.) Expectorante, broncodilatador Cumarina (dose diária: 0,525-4,89 mg de cumarina) Redução da ação de antibióticos Tetraciclinas, clo- ranfenicol, genta- micina, vancomi- cina, penicilina Hortelã- -pimenta (Mentha piperita L.). Carminativo, expectoran- te e cólicas intestinais Mentol 30%-55% e mentona 14%-32% (dose diária: 0,2 a 0,8 g de óleo) Redução da absorção de ferro; elevação de estatinas Sinvastatina Maracujá (Passiflora incarnata L.) Sedativo Flavonoides to- tais expressos na forma de isovi- texina ou vi-texina (dose diária: 25 a 100 mg de vitexi- na/isovitexina)Potencialização de drogas sedati- vas; sangramento Hipnóticos, ansiolí- ticos, benzodiazepí- nicos (lorazepam ou diaze-pam), fenobarbital, áci- do acetilsalicílico, varfarina, heparina, clopidogrel, ibupro- feno, naproxeno Salgueiro (Salix alba L.) Antitérmico, anti-inflamató- rio, analgésico Salicina (dose di- ária: 60 a 120 mg de salicina) Nefrotoxicida- de; redução da absorção do ferro Ácido acetilsalicíli- co, paracetamol Sene (Senna alexan- drina Mill.) Laxativo Derivados hi- droxiantracêni- cos (calculados como senosídeo B). Dose diá- ria:10-30 mg de senosídeo B Aumento da perda de potás- sio, desequilíbrio hidroeletrolítico. Fármacos antiarrí- timicos, diuréticos tiazídicos, adreno- corticosteroides Valeriana (Valeriana officinalis) Insônia leve, sedativo e ansiolítico Sesquiterpenos (ácido valerênico, ácido acetoxivale- rênico). Dose diá- ria: 0,8 a 0,9 mg de sesquiterpenos] Ação sedati- va; náuseas ou vômitos Benzodiazepínicos, barbitúricos, nar- cóticos; metroni- dazol, dissulfiram Fonte: adaptado de Nicoletti (2007). 4141 41 PARA SABER MAIS Lembre-se: a interação do fármaco poderá ocorrer com alimentos, nutrientes, com substâncias ativas encontradas nas plantas e com outros fármacos. É importante o ajuste do planejamento dietético com a finalidade de suprir a demanda de nutrientes resultantes dessa interação. 4. Interação fármaco-fármaco Outra interação importante e comum de ser verificada durante os atendimentos dos pacientes é a interação fármaco-fármaco. Nesse tipo de interação, um medicamento poderá potencializar a ação de outro medicamento, assim como poderá reduzir a sua ação, ou, ainda, provocar efeitos adversos pela grande quantidade circulante (o que seria considerado um efeito tóxico). É muito importante o trabalho em conjunto dos diversos profissionais da saúde, entre eles o farmacêutico. Ele poderá realizar o aconselhamento farmacológico do paciente, orientando sobre as interações e comunicando ao restante dos profissionais que acompanham o paciente quais as melhores estratégias para evitar esse tipo de ocorrência. Algumas interações são benéficas para o tratamento medicamentoso, como, por exemplo, a associação de diuréticos e anti-hipertensivos, o que permite o maior controle da pressão arterial. Outras associações podem funcionar de forma corretiva (a utilização de diurético que reduz a excreção de potássio, retendo-o no organismo, poderá ser corrigida pelo uso de tiazidas, que induzirá a hipopotassemia). Os mecanismos de interação dos fármacos são demonstrados na figura abaixo: 4242 Figura 3 – Mecanismos de interação fármaco-fármaco Fonte: HOEFLER, 2005. Caro aluno, neste capítulo, vimos como a interação entre os nutrientes, medicamentos e fitoterápicos tem relevância dentro da terapêutica medicamentosa e alimentar. É necessário cuidado na prescrição nutricional, a fim de repor os nutrientes perdidos nessa interação, assim como melhorar a ação do fármaco no organismo. TEORIA EM PRÁTICA A interação entre fármaco, nutriente e fitoterápico pode acontecer rotineiramente, e é muito comum encontrarmos essas interações em nossos atendimentos de rotina. Partindo desse princípio, suponha que você está acompanhando dona Alzira, uma senhora de 66 anos, que relatou consumir medicamentos para controle do diabetes (hipoglicemiante oral) e estatinas para o controle da dislipidemia. Também adora consumir diariamente chá de gengibre e alho em todas as suas preparações. Quais orientações poderão ser indicadas para dona Alzira para melhorar seu tratamento? E quais nutrientes deverão possuir atenção especial no planejamento dietético? 4343 43 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A forma como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização. Esse conceito é denominado: a. Bioeficácia. b. Bioequivalência. c. Biodisponibilidade. d. Bioconversão. e. Bioeficiência. 2. A hidroclorotiazida é uma medicação diurética, normalmente utilizada para o tratamento da hipertensão arterial e inchaço devido ao acúmulo de fluidos. Um dos efeitos desse medicamento sobre os nutrientes é: a. Redução da absorção de vitamina B12. b. Aumento da quantidade sanguínea de Na, Cl e Mg. c. Aumento da quantidade sanguínea de riboflavina. d. Aumento da excreção de zinco. e. Aumento da quantidade sanguínea de zinco. 4444 3. Os medicamentos, quando consumidos em conjunto ou em períodos próximos, poderão interagir entre si, potencializando ou reduzindo a ação um do outro. É um mecanismo de interação que ocorre durante a absorção dos medicamentos a. Alteração no pH urinário. b. Alteração na secreção tubular renal. c. Alteração no fluxo sanguíneo renal. d. Alteração da excreção de sais biliares e ciclo entero-hepático. e. Alteração da motilidade gastrointestinal. Referências bibliográficas ANTUNES, A. O.; LOPRETE, A. C. O papel da atenção farmacêutica frente às interações fármaco-nutriente. Infarma – Ciências Farmacêuticas, [s.l.], v. 26, n. 4, p. 208-214, 18 dez. 2014. Disponível em: http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article &op=view&path%5B%5D=660. Acesso em: 8 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. Medicamentos padronizados para administração oral: guia para administração racional. [s/d] Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/ documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+ CONSTRU%C3%87%C3%83O.pdf/ebe6b0bd-321d-4983-bb61-89c33d22f46e. Acesso em: 8 jun. 2019. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC-SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. CARLOS, G. B. et al. Análise das possíveis interações fármaco-alimento/nutriente em uma instituição asilar no sul de Minas Gerais. Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, v. 18, n. 3, p. 83-90, set. 2016. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/ view/15747. Acesso em: 8 jul. 2019. http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=660 http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=660 http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/view/15747 http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/view/15747 4545 45 CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 556, de 11 de abril de 2015. Altera as resoluções nº 416, de 2008, e nº 525, de 2013, e acrescenta disposições à regulamentação da prática da fitoterapia para o nutricionista como complemento da prescrição dietética. Diário Oficial da União. Brasilia, DF, 11 abr. 2015. Disponível em: http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/ Res_556_2015.htm. Acesso em: 8 jul. 2019. COZZOLINO, S. M. F.; MICHELAZZO, F. B. Biodisponibilidade: conceitos, definições e aplicabilidade. In: COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. 4. ed. Barueri: Manole, 2012. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION et al. Guidance for industry: bioavailability and bioequivalence studies for orally administered drug products – general considerations. Washington, DC: Food and Drug Administration, 2003. HOEFLER, R. Interações medicamentosas. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS–FTN, v. 1, p. 1-4, 2005. LOMBARDO, M.; ESERIAN, J. K. Fármacos e alimentos: interações e influências na terapêutica. Infarma-Ciências Farmacêuticas, v. 26, n. 3, p. 188-192, 2014. LOPES, E. M.; CARVALHO, R. B. N. de; FREITAS, R. M. de. Análise das possíveis interações entre medicamentos e alimento/nutrientesem pacientes hospitalizados. Einstein, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 298-302, set. 2010. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nr m=iso. Aceso em: 8 jul. 2019. MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. R. Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Rev. Nutr., Campinas, v. 15, n. 2, p. 223-238, ago. 2002. Disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 8 jun. 2019. NICOLETTI, M. A. et al. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma, v. 19, n. 1/2, p. 32-40, 2007. Gabarito Questão 1 – Resposta C Resolução: é importante entender como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização. Esse conceito é denominado biodisponibilidade. Feedback de reforço: verifique o material desde o início, reforçando os conceitos. http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_556_2015.htm http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_556_2015.htm http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso 4646 Questão 2 – Resposta D Resolução: os eletrólitos Na, Cl e Mg, e a vitamina riboflavina, assim como o zinco, encontram-se depletados, ou seja, sua concentração na corrente sanguínea é baixa. Feedback de reforço: que tal rever o Quadro 2 sobre interação fármaco-nutriente? Questão 3 – Resposta E Resolução: somente a alteração da motilidade gastrointestinal é um mecanismo de interação de fármacos na fase de absorção. As demais opções referem-se à fase de excreção. Feedback de reforço: veja mais sobre interação fármaco-fármaco. 4747 47 Drogas para o tratamento de diabetes e obesidade no estado nutricional Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Conhecer os principais medicamentos utilizados no tratamento do diabetes e da obesidade. • Compreender o mecanismo de atuação dos medicamentos para o controle de diabetes e obesidade. • Reconhecer a relação dos medicamentos e o estado nutricional do paciente. 4848 Prezado aluno, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são um grupo de doenças que podem ocorrer em qualquer momento da vida de um indivíduo, acompanhando-o ao longo de seus dias. Essas doenças podem ser controladas, evitando estágios mais graves que acometam o paciente ou que ocasionem o óbito. Dentre as principais doenças crônicas, destacam-se o diabetes e a obesidade. Elas podem tanto ser a causa como o efeito entre si, permitindo o agravamento do quadro do paciente. O tema desta aula abordará, de forma geral, como essas doenças se relacionam entre si e o impacto para o organismo (fisiopatologia), além da forma de terapia medicamentosa sugerida pelas principais organizações e sua relação com a nutrição. Bons estudos! 1. Conceituação e fisiopatologia da obesidade A adequação de peso pela altura acima do recomendável, avaliada pelo Índice de Massa Corporal (IMC), é um dos critérios diagnósticos da obesidade. Além do excesso de peso caracterizado pelo IMC maior ou igual a 30 kg/m², outros critérios antropométricos e de composição corporal (como a circunferência da cintura), exames de absortometria (DXA) e de impedância, auxiliam no diagnóstico final. O excesso de peso que resulta na obesidade ocorre quando há um desbalanço entre a ingestão alimentar de energia e o gasto energético, ou seja, aumento do consumo de macronutrientes (que serão convertidos em energia) e redução do gasto energético. Alterações na capacidade de oxidação de lipídios armazenados no organismo e aumento da capacidade de estocar gordura também promovem o aumento ponderal. Fatores genéticos, estilo de vida e modificações no padrão alimentar são os principais fatores promotores do acúmulo de peso. A elevação do peso pode ocorrer por um aumento do depósito de gordura, principalmente nos adipócitos, ocasionando um processo inflamatório no organismo chamado de inflamação crônica subclínica. 4949 49 Citocinas e proteínas de fase aguda são secretadas pelos adipócitos. IL-6, o TNF-α, a leptina e a adiponectina são exemplos de citocinas produzidas pelo tecido adiposo, promovendo alteração da ingestão alimentar e balanço energético, ativação do sistema imune, sensibilidade à insulina, angiogênese, elevação da pressão arterial, alterações no metabolismo lipídico e homeostase corporal, situações estas que estão fortemente correlacionadas com doenças cardiovasculares. A Associação Brasileira de Sobrepeso e Obesidade (Abeso) recomenda em suas diretrizes o acompanhamento multiprofissional, com alterações do consumo alimentar para a redução do consumo energético e correção do desequilíbrio de vitaminas e minerais; modificações do estilo de vida com a prática regular de atividade física com a finalidade de aumentar o gasto energético; realização de terapia cognitiva-comportamental, além do tratamento farmacológico como adjuvante, sendo o tratamento individualizado e prescrito conforme as condições de vida de cada paciente. 2. Principais medicamentos no tratamento da obesidade O tratamento farmacológico deverá ser iniciado quando o paciente não apresentar sucesso em atingir e manter a perda de peso, considera-se que a perda de peso é eficaz quando há redução igual ou superior a 1% do peso corporal inicial, chegando a até 5% do peso corporal, no período de três a seis meses. Esse tratamento, quando indicado, pode resultar em efeitos benéficos sobre as demais doenças associadas, como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Ou seja, se o paciente apresentar IMC maior ou igual a 30 kg/m2; se o IMC for maior ou igual a 25 ou 27 kg/m2 na presença de comorbidades; e se a perda de peso sem o tratamento farmacológico for falho, a indicação de medicamentos e o acompanhamento pelo médico pode ser avaliado como uma forma de tratamento adjuvante ao tratamento nutricional, que deverá ser sempre o foco principal de intervenção para o emagrecimento. 5050 Quadro 5 – Medicamentos utilizados no tratamento da obesidade Medica- mento Tipo de medicamento Mecanismo de ação Tempo de ação Efeitos adversos Cloridrato de sibutramina Psicotrópico anorexígeno Inibição da recaptação da noradrenalina, serotonina e dopamina 1h a 2h após o consumo, com pico de ação em 3h e duração de 14h a 16h Constipação, taqui- cardia, palpitações, aumento da pres- são arterial, vaso- dilatação, náuseas, cefaleia, ansiedade, sudorese e altera- ções do paladar Orlistate1 Psicotrópico anorexígeno Inibidor de lipases gas- trointestinais 24h a 48h após o consu- mo (duração) Perdas ou evacua- ções oleosas, flatu- lência, urgência para evacuar, aumento das evacuações, desconforto/dor ab- dominal, gases, fezes líquidas, infecções do trato respiratório Liraglutida Antidiabético Análogo de GLP-1 c 30 min. após a injeção, com pico de ação de 1h e dura- ção de 24h. Hipoglicemia, ano- rexia, diminuição do apetite, desi- dratação, cefaleia, frequência cardíaca aumentada, náu- sea, diarreia, vômito dispepsia, dor ab- dominal superior, constipação, gastrite, flatulência, disten- são abdominal Anfepramona Psicotrópico anorexígeno Inibidor do apetite (atividade similar à anfetamina) 4h a 6h de duração Insônia, dor de cabeça, vertigem, nervosismo, mani- festações depres- sivas, alteração do paladar, boca seca, náusea, vômito, diar- reia ou constipação, taquicardia, impo-tência, interferência na libido, irregula- ridade menstrual. 1 Apresenta redução da absorção de vitaminas lipossolúveis A, D, E, K. 5151 51 Femproporex Psicotrópico anorexígeno Agente sim- patomimético que causa depressão do apetite e diminuição da acuidade pelo sabor e odor (ativida- de similar à anfetamina) 24h de duração Vertigem, tremor, ir- ritabilidade, reflexos hiperativos, fraque- za, tensão, insônia, confusão, ansiedade e dor de cabeça. Calafrios, palidez ou rubor das faces, palpitação, arritmia cardíaca, dor angi- nal, hipertensão ou hipotensão e colap- so circulatório, boca seca, gosto metálico na boca, náusea, vômito, diarreia e cãibras abdominais, alteração da libido. Fenterminas Psicotrópico anorexígeno Libertação de catecolaminas no hipotála- mo (ativida- de similar à anfetamina) 24h Alterações de humor ou problemas para dormir, dificuldades de concentração Mazindol Psicotrópico anorexígeno Estimulação hipotalâmica para diminuir o apetite (al- terações no metabolismo da norepine- frina e dopa- mina; ativida- de similar à anfetamina) 10h de duração Boca seca, consti- pação, nervosismo e insônia, palpita- ções, taquicardia, hipertensão, sensi- bilidade à insulina em pacientes com obesidade grave Fluoxetina Antidepressivos Inibidor se- letivo da re- captação da serotonina 6h a 8h de duração Ansiedade, diarreia, sonolência, fraque- za geral, dor de cabeça, hiperidrose (excesso de suor), insônia, náusea (enjoo), nervosismo 5252 Sertralina Antidepressivos Inibidores seletivos de recaptação de serotonina 4,5h a 8,5h (pico de concentra- ção) e du- ração de 26h Náuseas, diarreia, indigestão, tontura, cefaleia, tremor, anorexia, insônia, sonolência, fadiga, sudorese, boca seca, disfunção sexual. Bupropiona Antidepressivos Inibidor sele- tivo da recap- tação da do- pamina e em menor grau da noradrenalina e serotonina 3h (pico de concentração) Insônia, cefaleia, boca seca, trans- tornos gastroin- testinais como náusea e vômito Fonte: elaborado pela autora. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou no Diário Oficial da União, em fevereiro de 2019 (Resolução-RDC nº 265, de 8 de fevereiro de 2019), uma lista de princípios ativos categorizados como psicotrópicos anorexígenos que podem ser utilizados para o tratamento da obesidade. Os princípios ativos liberados pela Anvisa são: fumarato de aminorex, fendimetrazina, mefenorex, sibutramina, femproporex, mazindol e fenterminas. Esses compostos poderão ser comercializados somente com a apresentação de receita do tipo B2. Com base na tabela acima, o uso de medicamentos apresenta vários efeitos colaterais prejudiciais à saúde. Portanto, o acompanhamento com nutricionista a partir de reeducação alimentar, adequação calórica da dieta e mudança de padrão alimentar é a forma de tratamento mais recomendada para o emagrecimento saudável, sendo que o tratamento medicamentoso deve ser utilizado apenas em casos extremos em que foram feitas tentativas de tratamento nutricional sem sucesso. 5353 53 3. Conceituação e fisiopatologia do diabetes A partir das alterações fisiopatológicas, o diabetes poderá ser classificado em diabetes mellitus do tipo 1 (DM1) e diabetes mellitus do tipo 2 (DM2). No DM1, o organismo produz anticorpos que agem sobre as células ß pancreáticas, causando a falência do órgão e ausência de produção de insulina. Já o DM2 possui alterações metabólicas que promovem a redução da secreção pancreática de insulina, a diminuição da ação da insulina, ou, ainda, a resistência a utilização de insulina por órgãos periféricos, provocando aumento da glicemia sanguínea, e um estresse tecidual oxidativo crônico. As evidências científicas colhidas por meio de artigos publicados anualmente em diversas partes do mundo permitem que organizações internacionais e nacionais possam editar suas recomendações e diretrizes para o tratamento do diabetes. Os mais novos achados sugerem que o diabetes pode ser classificado em subgrupos e não somente em tipos. O grupo 1 é denominado diabetes autoimune grave (SAID = severe autoimmune diabetes), que apresenta o início em indivíduos mais jovens, apresentando deficiência na produção de insulina e falta de controle metabólico, correspondendo ao diabetes tipo 1. O grupo 2 é conhecido como diabetes insulinodeficiente grave (SIDD = severe insulin-deficient diabetes), sendo similar ao grupo 1, mas com maior incidência de retinopatia diabética, níveis mais elevados de hemoglobina glicosilada e a presença de anticorpos anti-insulina (e antidescarboxilase do ácido glutâmico). 5454 Os grupos 3, 4 e 5 correspondem a alterações do diabetes do tipo 2. O grupo 3 apresenta resistência insulínica, excesso de peso e maior incidência de doença renal, sendo denominado diabetes insulinorresistente grave (SIRD = severe-insulin resistant diabetes). Diabetes leve relacionado à obesidade (MOD = mild obesity-related diabetes) corresponde ao grupo 4, que apresenta obesidade, adultos jovens, mas não insulinorresistente. Por fim, o grupo 5 é composto por pacientes com idade mais elevada e a presença de alterações metabólicas discretas, sendo conhecido como diabetes leve relacionado à idade (MARD = mild age-related diabetes). O algoritmo da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) para a conduta terapêutica do diabetes tipo 2 indica o acompanhamento dos níveis de hemoglobina glicosilada e glicemia, com alterações de medicamentos antidiabéticos e associações entre eles antes de chegar ao tratamento com insulina. A Figura 4 apresenta as etapas e a sugestão de medicamentos a serem consumidos de acordo com os parâmetros bioquímicos. PARA SABER MAIS O diabetes é classificado como diabetes mellitus do tipo 1, ou insulinodependente, e diabetes mellitus do tipo 2, relacionado aos transtornos de excesso de peso. Desde 2018, a Sociedade Brasileira de Diabetes considera cinco novos subtipos, relacionando-os com os seus desfechos esperados. 5555 55 Figura 4 – Algoritmo para o tratamento do diabetes tipo 2, atualizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019. 40 p. 5656 4. Principais medicamentos no tratamento do diabetes e sua forma de ação Os medicamentos utilizados para o controle glicêmico são chamados de agentes antidiabéticos, e possuem como objetivo a redução da glicemia, mantendo os níveis de glicose dentro de parâmetros normais (em jejum < 100 mg/dL e pós-prandial < 140 mg/dL). Os principais mecanismos de ação dos hipoglicemiantes podem ser divididos em quatro tipos, conforme as Diretrizes Brasileiras de Diabetes. • Fármacos que aumentam a secreção de insulina (hipoglicemiantes); • Fármacos que não a aumentam (anti-hiperglicemiantes); • Fármacos que aumentam a secreção de insulina de maneira dependente da glicose, além de promover a supressão do glucagon; • Fármacos que promovem glicosúria (sem relação com a secreção de insulina). • O Quadro 6 apresenta os fármacos antidiabéticos e suas particularidades. Quadro 6 – Antidiabéticos utilizados no controle da glicemia Aumento da secreção de insulina Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Clorpropamida Glibenclamida Glipizida Gliclazida Glimepirida Sulfonilureias (ação hipoglicemiante mais prolongada durante todo o dia) Hipoglicemia e ganho ponderal (clorpropamida favorece o aumento de peso e não protege contra retinopatia) Gravidez, insuficiência renal ou hepática Repaglinida Nateglinida Metiglinidas (menor tempo de ação, cobrindo principalmente o período pós-prandial) Hipoglicemia e ganho ponderal discreto Gravidez 5757 57 Agentes que não aumentam a secreção de insulina Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Acarbose Inibidor da α-glicosi- dase (redução da ve- locidade de absorção intestinal de glicose) Meteorismo, flatu- lência e diarreia, redução discreta da hemoglobinaglicada Gravidez Metformina Biguanida (redução da produção hepática de glicose) Desconforto ab- dominal, diar- reia e náusea, deficiência de cia- nocobalamina (vitamina B12) Gravidez, insu- ficiência renal, insuficiências hepática, cardía- ca ou pulmonar e acidose grave Pioglitazona Tiazolidinediona ou glitazona (sensibilizado- res de insulina e atuam predominantemente na resistência insulínica periférica em músculo, adipócito e hepatócito) Retenção hídrica, anemia, ganho pon- deral, insuficiência cardíaca e fraturas Insuficiência cardí- aca classes III e IV, insuficiência he- pática, gravidez Aumentam a secreção de insulina dependente de glicose e que diminuem a secreção de glucagon Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Sitagliptina Vildagliptina Saxagliptina Linagliptina Alogliptina Gliptinas (estabilização do GLP-1 endógeno) Angioedema e urticária, possibilidade de pancreatite aguda, aumento das inter- nações por insufi- ciência cardíaca Hipersensibilidade aos componentes do medicamento Exenatida Mimético do GLP- 1 (terapia adjunta para melhorar o controle da glicose) Hipoglicemia, principalmente quando associa- do a secretagogos (metformina), náusea, vômitos e diarreia, au- mento da frequ- ência cardíaca, possibilidade de pancreatite agu- da, injetável Hipersensibili- dade aos com- ponentes do medicamentoLiraglutida Lixisenatida Dulaglutida Análogo do GLP- 1 (terapia adjunta para melhorar o controle da glicose) 5858 Promovem glicosúria Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Dapagliflozina Empagliflozina Canagliflozina Inibidores do SGLT2 (prevenção da reabsorção de glicose no túbulo proximal renal) Infecção genital, infecção urinária, poliúria, depleção de volume, hipotensão e confusão mental, aumento do ldl-c, aumento transitório da creatinina, cetoacidose diabética Não deve ser usado em pacientes com disfunção renal moderada a grave Fonte: adaptado de Oliveira, Montenegro Junior e Vencio (2017). A insulinoterapia para o paciente com diabetes do tipo 2 faz-se necessária quando ocorre descontrole metabólico. Ela poderá ser utilizada de forma transitória ou em situações especiais, como perioperatórios, infecções, doenças intercorrentes, etc. Também poderá ser a principal forma de tratamento após tempo relativamente curto de doença, nos casos em que há autoimunidade envolvida, e, por fim, poderá ser combinada com hipoglicemiantes orais a partir do declínio da produção pancreática de insulina, além de ser utilizada no diabetes do tipo 1. As insulinas podem ser classificadas de acordo com sua duração. Também deverá ser verificada a possibilidade de ocorrência de pico insulinêmico e tempo de ação do efeito terapêutico. As correções no planejamento alimentar dos pacientes deverão atender a esses aspectos, de forma que a ação da insulina não promova alterações metabólicas em decorrência da falta de substratos (carboidratos, proteínas e lipídios). A insulina é um hormônio anabólico, que atua em diferentes rotas bioquímicas no organismo, como a glicólise, a lipogênese e a glicogênese, além da inibição da lipólise, da glicogenólise e a neoglicogênese hepática. Esse hormônio é produzido sempre que ocorre elevação dos níveis de glicose e aminoácidos no sangue. 5959 59 Sua principal forma de atuação é a redução dos níveis sanguíneos de glicose, retirando-a da circulação. Como resultado da ação da insulina, têm-se o estímulo a lipogênese no fígado e nos adipócitos, redução dos processos metabólicos de lipólise, além de elevação da síntese proteica e inibição da degradação de proteínas. O planejamento dietético deverá suprir as demandas metabólicas, evitando os efeitos adversos ao metabolismo pela ação dos diferentes tipos de insulina. Segundo o Manual de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, os pacientes que realizam insulinoterapia, deverão consumir sempre as mesmas quantidades de alimentos para evitar alterações glicêmicas, atentar-se para o tipo e a quantidade de carboidratos consumidos, sendo indicado realizar a contagem de carboidratos feita por nutricionista; e, por fim, respeitar os horários para as refeições, e assim reduzir os riscos de hipoglicemia. O Quadro 7 apresenta as propriedades farmacocinéticas das insulinas e seus análogos, comercialmente utilizados no tratamento do diabetes no Brasil. Quadro 7 – Propriedades farmacocinéticas das insulinas e seus análogos Insulina Duração Início da ação Pico de ação Duração do efeito terapêutico Glargina 100 UI/mL Longa 2-4h Não apresenta 18-24h Determir Longa 1-3h 6-8h 18-22h Glargina 300 UI/mL Ultralonga 6h Não apresenta 36h Degludeca Ultralonga 21-41 min Não apresenta 42h NPH Intermediária 2-4h 4-10h 10-18h Regular Rápida 30 min-1h 2-3h 5-8h Asparte Ultrarrápida 5-15 min 30 min-2h 3-5h Lispro Ultrarrápida 5-15 min 30 min-2h 3-5h Glulisina Ultrarrápida 5-15 min 30 min-2h 3-5h Fonte: adaptado de Oliveira, Montenegro Junior e Vencio (2017). 6060 ASSIMILE O diabetes mellitus e a obesidade são doenças multifatoriais que possuem relação entre si, além de outras doenças (como hipertensão arterial e dislipidemias), devendo ser tratada de forma multidisciplinar concomitante ao tratamento farmacológico. 5. Diabetes gestacional: fisiopatologia, algoritmo e principais medicamentos Diabetes gestacional (DMG) é considerado como a presença de intolerância a carboidratos, de gravidade variável, com início no período gestacional, apresentando como alguns fatores de risco a idade materna avançada, excesso de peso (sobrepeso e obesidade), além de ganho de peso excessivo durante a gestação, alimentação inadequada, macrossomia, baixa estatura materna (< 1,50 cm), antecedentes de abortamento obstétrico e malformações. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, o tratamento deverá ser iniciado pelo planejamento dietético feito por nutricionista e orientação alimentar para ajustar o ganho de peso adequado e o controle metabólico da glicemia, sendo recomendado, além de outras condutas descritas nas diretrizes, o consumo de alimentos de baixo índice glicêmico/ carga glicêmica. Esse tipo de dieta associa-se positivamente a menor necessidade da utilização de insulina. Quando o planejamento alimentar e demais mudanças no estilo de vida são insuficientes para o controle da glicemia, tem-se a recomendação de iniciar o tratamento com antidiabéticos e insulina, considerados seguros para a mãe e o bebê. O algoritmo para a introdução dos diferentes antidiabéticos e insulinização encontra-se apresentado na Figura 5. 6161 61 Figura 5 – Algoritmo para o tratamento de diabetes gestacional com a utilização de antidiabéticos Fonte: WEINERT et al., 2011. Os medicamentos considerados seguros para a utilização no controle do diabetes gestacional são a metformina, apesar de apresentar passagem placentária; glibenclamida e acarbose, que possuem passagem insignificante. Quanto aos tipos de insulinas e seus análogos, recomenda-se a utilização de insulina NPH, regular, lispro, asparte, glulisina, glargina, detemir, sendo que nenhum desses princípios ativos apresentaram passagem pela barreira placentária. Caro aluno, neste capítulo, vimos sobre as principais formas de tratamento farmacológico do diabetes mellitus, diabetes gestacional e da obesidade. Foram apresentados os algoritmos de tratamento farmacológico para a utilização de antidiabéticos e insulinização. Também relacionamos o tratamento farmacológico ao controle dietético para obtenção de melhores resultados no controle da glicemia e do peso corporal. 6262 TEORIA EM PRÁTICA Você recebeu em seu consultório para atendimento a senhora Mariana Prates de Alencar. Ela possui 42 anos e foi encaminhada pelo médico com o diagnóstico de diabetes mellitus do tipo 2. Durante a anamnese e antropometria, você detectou que a paciente apresenta IMC = 33,4 kg/ m2. Atualmente ela faz uso de cloridratode metformina de 1000 mg, 3 vezes ao dia (após o café da manhã, almoço e jantar); cloridrato de sibutramina, 1 cápsula de 15 mg, pela manhã; e cloridrato de fluoxetina, 20 mg em dosagem única à noite. A paciente relatou diarreias constantes e presença de náusea. Pensando na interação medicamentosa, além da interação entre alimentos e nutrientes e a maior estabilização da glicemia da paciente, quais pontos deverão ser verificados no planejamento dietético da senhora Mariana? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A obesidade é considerada como um aumento excessivo no peso, resultando em alterações metabólicas e a presença de processo inflamatório generalizado. Segundo as Diretrizes da Associação Brasileira de Obesidade (Abeso), o tratamento medicamentoso deverá ser realizado: a. Sempre que o paciente apresentar comorbidades, independente do IMC. b. Sempre que o paciente apresentar IMC maior ou igual a 30 kg/m2. 6363 63 c. Sempre que o paciente não apresentar sucesso na perda de peso (perda de 10%). d. Somente quando o paciente apresentar IMC ≥ 35 kg/m2. e. Sempre que o paciente desejar realizar o emagrecimento, independente do sucesso na perda de peso. 2. Os algoritmos para o tratamento de doenças, como o diabetes, são documentos elaborados a partir de extensa pesquisa, baseado em evidências científicas, orientando os profissionais de saúde sobre a melhor conduta no tratamento farmacológico e coadjuvantes, como alterações da alimentação e estilo de vida. Sobre o algoritmo para o tratamento do diabetes do tipo 2, pode-se concluir que: a. A metformina em monoterapia deverá ser realizada quando a glicemia estiver entre 200 mg/dL e 299 mg/dL. b. Quando a hemoglobina glicada (A1C) estiver entre 7,5% e 9,0%, recomenda-se a insulinoterapia. c. Agonistas do receptor de GLP-1 deverá ser utilizado quando a sintomatologia for considerada leve ou estiver ausente. d. Metformina em terapia combinada com um segundo anti-hiperglicemiante deverá ser utilizada quando a glicemia estiver entre 200 mg/dL e 299 mg/dL. e. O primeiro retorno deverá ser realizado após 6 meses de iniciado o tratamento. 6464 3. A insulinoterapia é a terapia medicamentosa realizada com a utilização de insulinas e seus análogos. Esses fármacos possuem diferentes tempos de duração no organismo. A insulina considerada de ação rápida é: a. Glargina. b. Determir. c. Degludeca. d. NPH. e. Regular. Referências bibliográficas AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of Medical Care in Diabetes. Disponível em: https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/Diretriz-2019- ADA.pdf/. Acesso em: 25 jun. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE E DA SÍNDROME METABÓLICA. Diretrizes Brasileiras de Obesidade. 4. ed. São Paulo: Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, 2016. Disponível em: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/92/57fccc403e5da.pdf. Acesso em: 28 jun. 2019. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 265 de 8 de fevereiro de 2019. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 12 fev. 2019. Seção 1, p. 58-65. 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Feedback de reforço: verifique as orientações da Abeso. https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/diretrizes/diretrizes-sbd-2017-2018.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/diretrizes/diretrizes-sbd-2017-2018.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86922009000600012&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86922009000600012&lng=en&nrm=iso https://www.diabetes.org.br/publico/images/pdf/sbd_dm2_2019_2.pdf https://www.diabetes.org.br/publico/images/pdf/sbd_dm2_2019_2.pdf https://www.yumpu.com/pt/document/view/58515527/a-manual-nutricao https://www.yumpu.com/pt/document/view/58515527/a-manual-nutricao http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302011000700002&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302011000700002&lng=en&nrm=iso 6666 Questão 2 – Resposta D Resolução: a monoterapia com metformina é indicada quando a glicemia for < 200 mg/dL. Já se a hemoglobina glicada (A1C) estiver entre 7,5% e 9,0%, recomenda-se a metformina em terapia combinada com um segundo anti-hiperglicemiante. Agonistas do receptor de GLP-1 deverão ser utilizados quando a sintomatologia for considerada grave. O primeiro retorno deverá ser realizado após um a três meses. Feedback de reforço: dê uma olhada no algoritmo (Figura 5). Questão 3 – Resposta E Resolução: glargina é classificada como longa duração (100 UI/ml) ouultralonga duração (300 UI/ml). Determir é insulina de longa duração e degludeca é insulina de ultralonga duração. Feedback de reforço: que tal rever o Quadro 7? 6767 67 Drogas que alteram o trato gastrointestinal no estado nutricional Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Conhecer as principais doenças do trato gastrointestinal. • Conhecer os principais medicamentos utilizados no tratamento das doenças do trato gastrointestinal. • Compreender a forma de ação e interações dos medicamentos utilizados no tratamento de doenças do trato gastrointestinal. 6868 Prezado aluno, anatomicamente e funcionalmente, o sistema digestório é dividido em trato digestório ou trato gastrointestinal (TGI), composto pela cavidade oral, faringe, esôfago, estômago e intestino (delgado e grosso). Entre os 30 e 69 anos, as causas de morte relacionadas ao TGI, como câncer de cólon e câncer colorretal, passaram a ser uma das dez principais causas de morte dos brasileiros. O tema desta aula abordará os principais tratamentos farmacológicos utilizados para as doenças do TGI mais comuns no meio clínico e na atenção primária, além de abordar sua relação com a nutrição. Bons estudos! 1. Principais manifestações no trato gastrointestinal As manifestações comuns que indicam alterações no funcionamento normal do TGI são anorexia (perda do apetite), náuseas (decorrente da estimulação do centro bulbar do vômito, precedendo ou acompanhando o vômito) e vômito (consiste na expulsão forçada e súbita do conteúdo gástrico pela boca). Esses sintomas poderão ocorrer de forma isolada ou associados entre si. De forma geral, os medicamentos utilizados para o tratamento dessas manifestações consistem em modular a ação de vários neurotransmissores que atuam no TGI. Os receptores de dopamina, serotonina e opioides encontram- se presentes no sistema digestório, no centro do vômito. Assim, a utilização de antidopaminérgico, que são antagonistas de dopamina, como a domperidona e haloperidol, são capazes de suprimir o vômito. Já a utilização de bloqueadores de receptores de serotonina (5-HT3) conseguem evitar as náuseas e os vômitos, principalmente em pacientes em tratamento com quimioterápicos. É o caso do dolasetron e granisetron. Por fim, pode ocorrer a inibição dos receptores de acetilcolina (tem-se como exemplo o anti-histamínico dimenidrinato, 6969 69 comercialmente vendido como Dramin®), que estimulam o enjoo por movimento, denominado de cinetose. Os principais medicamentos com seu mecanismo de ação e demais particularidades estão destacados no Quadro 8. Quadro 8 – Medicamentos antieméticos utilizados no tratamento de enjoo e vômito Classe farmacológica Fármaco Mecanismo de ação Anti-histamínico Prometazina Inibidores de histamina, com ação antagonista sobre receptores muscarínicos Dimenidrinato Ciclizina Difenidramina Hidroxizina Medizina Anticolinérgicos Butilescopolamina Inibidores de acetilcolina Escopolamina Antisserotoninérgicos Dolassetrona Inibidores da recaptação de serotonina Granissetrona Ondansetrona Palonossetrona Ramossetrona Butirofenonas Droperidol Inibidor da recaptação de dopaminaHaloperidol Fenotiazinas Clorpromazina Inibidor da recaptação de dopamina com ação antagonista sobre receptores muscarínicos e recaptação histamínica Flufenazina Perfenazina Procloroperaina Benzamidas Domperidona Inibidor da recaptação de dopaminaMetocloropramida Fonte: adaptado de Franco (2016). 2. Doenças esofágicas A passagem de alimentos e líquidos entre a cavidade bucal e o estômago é realizada pelo esôfago, formado por mucosas e esfíncteres (superior e inferior), que funciona como uma válvula para impedir que o conteúdo 7070 gástrico retorne à cavidade bucal. As principais doenças do esôfago consistem em alterações relacionadas a anomalias congênitas, como a atresia esofágica e a fístula traqueoesofágica. Disfagia, divertículo esofágico e hérnia de hiato são algumas doenças que ocorrem na cavidade esofágica, mas sem a necessidade de terapia medicamentosa. Já a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), uma das enfermidades de maior prevalência mundial, necessita de acompanhamento nutricional e a utilização de medicamentos. Os objetivos primários do tratamento são o alívio dos sintomas, a cicatrização das lesões da mucosa, quando estão presentes, e a prevenção de recidivas e complicações. O tratamento farmacológico consiste inicialmente em medicamentos inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol). Ocorrendo insucesso, a dosagem desses medicamentos poderá ser dupla (ou seja, geralmente um comprimirdo a cada 12h). Com o intuito de aumentar a cicatrização e a remissão de sintomas, é indicada a associação de inibidores da bomba de prótons com procinéticos, como a domperidona). A indicação de anti-histamínicos (como a cimetidina) ocorre se o paciente apresentar sintomatologia refratária no período noturno. O tratamento deverá ser de 6 a 12 semanas. Os medicamentos indicados para o tratamento farmacológico encontram-se no Quadro 9. Quadro 9 – Medicamentos utilizados no tratamento de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) Classe farmacológica Fármaco Mecanismo de ação Antiácidos ou alcalinos Hidróxido de alumínio Neutraliza o pH estomacal Hidróxido de magnésio Bloqueadores de receptores de histamina Cimetidina Inibe a recaptação de histamina e produção de ácido clorídrico Ranitidina Famotidina Nizatidina 7171 71 Inibidores da Bomba Protônica Omeprazol Inibe a produção de prótons (H+), com redução da produção de ácido clorídrico Lansoprazol Pantoprazol Rabeprazol Esomeprazol Procinéticos Cisaprida Estimulam a motilidade intestinalDomperidona Metoclopramida Fonte: adaptado de Federação Brasileira de Gastroenterologia (2003). 3. Doenças estomacais O estômago é o local responsável por receber os alimentos e líquidos, possuindo ácido clorídrico e pepsina para realizar o processo de digestão. As células estomacais são diferenciadas, a fim de suportar o pH ácido produzido localmente sem serem digeridas. O estômago também possui uma barreira denominada de barreira mucosa do estômago, composta por um muco espesso. Além disso, as células estomacais também produzem bicarbonato, com a finalidade de neutralizar o conteúdo gástrico, ou seja, para cada íon hidrogênio (H+) secretado, uma molécula de bicarbonato (HCO3 -) também será produzida, evitando a lesão da mucosa estomacal. As doenças do estômago, como gastrite (aguda e crônica) e úlceras, ocorrem do desequilíbrio da produção aumentada de ácido clorídrico em decorrência da produção de bicarbonato. O ácido acetilsalicílico (AAS) produz redução na produção de íons bicarbonato, assim como consegue atravessar a camada lipídica da barreira mucosa do estômago, resultando em aumento da permeabilidade do ácido clorídrico, maior contato do ácido com as células estomacais, ocasionando lesão celular e erosões agudas. A associação entre AAS e álcool potencializa essa passagem e o processo de destruição. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como aspirinas, paracetamol e ibuprofeno, são capazes de reduzir a produção de íons bicarbonato. 7272 PARA SABER MAIS Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como ibuprofeno e aspirinas, são vendidos no Brasil sem a necessidade de receitas e seu uso contínuo pode ocasionar distúrbios gastrointestinais, renais e hepáticos. A gastrite é um processo inflamatório da mucosa, podendo ser agudo ou crônico. As principais causas de gastrite aguda são a utilização de álcool, uremia, medicamentos como AAS, AINEs e quimioterápicos, além da presença de toxinas bacterianas, como as enterotoxinas estafilocócicas. Já a gastrite crônica pode apresentar atrofia do epitélio glandular do estômago, sendo os principais casos decorrentes da presença da bactéria Helicobacter pylori, que produz enzimas e toxinas com a capacidade de interferir com a proteção local da mucosa gástricacontra a ação do ácido, causando inflamação intensa e desencadear uma reação imune local. O tratamento ineficiente ou a falta de tratamento das gastrites podem evoluir para úlceras pépticas, já que as causas para o desenvolvimento das úlceras são as mesmas da gastrite. As úlceras caracterizam-se pela presença de distúrbios ulcerativos nos segmentos do estômago, que ficam expostos às secreções de ácido e pepsina. Para o tratamento da doença ulcerosa, deverá ser realizado retirando AINEs, AAS e removendo a bactéria H. pylori com a utilização de antibioticoterapia específica. Inibidores da bomba de prótons (como omeprazol, lansoprazol e pantoprazol) são associados a antibióticos (claritromicina, amoxicilina, azitromicina ou furazolidona). As úlceras pépticas ocasionadas pelo consumo de AINEs deverão ser tratadas com neutralizadores de acidez (antiácidos como carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio), inibidores da 7373 73 secreção ácida (antagonistas do receptor H2 ou inibidores da bomba de prótons), além de protetores da mucosa como os análogos das prostaglandinas e o sucralfato. Os AINEs promovem lesão por efeito tóxico pela redução das prostaglandinas das mucosas – responsáveis por estimular a produção de muco e secreção de bicarbonato. Ao ocorrer uma lesão na membrana celular composta por fosfolipídios, existe a ativação de citocinas pró-inflamatórias, decorrentes da atuação da enzima fosfolipase A2 (ela está presente em leucócitos e plaquetas), o que levará à decomposição dos fosfolipídios, resultado como metabólito final os leucotrienos, prostaglandinas e prostaciclinas, para a produção das prostaglandinas. A prostaglandinas I2 e E2 inibem a secreção ácida da mucosa estomacal, sendo vasodilatadoras e aumentando o fluxo sanguíneo local. O resultado dessa ação é a maior produção de muco, redução de radicais livres por aumentar enzimas antioxidantes e aumentar a produção de bicarbonato. Os medicamentos utilizados no tratamento das doenças estomacais e seu mecanismo de ação estão descritos no Quadro 10. Quadro 10 – Medicamentos utilizados no tratamento de doenças estomacais Classe farmacológica Fármaco Mecanismo de ação Antiácidos ou alcalinos Carbonato de cálcio Neutraliza o pH estomacalHidróxido de alumínio Hidróxido de magnésio Bloqueadores de receptores de histamina Cimetidina Inibe a recaptação de histamina e produção de ácido clorídrico Ranitidina Famotidina Nizatidina 7474 Inibidores da bomba protônica Omeprazol Inibe a produção de prótons (H+), com redução da produção de ácido clorídrico Lansoprazol Pantoprazol Rabeprazol Esomeprazol Análogo da prostaglandina Misoprostol Proteção da mucosa gástrica Sulcrafato Diminui a degradação de muco pela pepsina e limita a difusão de H+ Bismuto Adsorve pepsina, inibindo sua atividade Antibióticos Claritromicina Eliminação da bactéria H. pylori Amoxicilina Azitromicina Furazolidona Fonte: elaborada pela autora. 4. Doenças intestinais O intestino é dividido em intestino delgado (composto por duodeno, jejuno e íleo, responsáveis pelo final da digestão e pelo processo absortivo dos nutrientes) e intestino grosso (formado pelo ceco, colo e reto, conforme apresentado na Figura 6). As principais doenças do intestino delgado e grosso incluem síndrome do colo irritável (SCI), doenças inflamatórias intestinais (DIIs), transtornos de motilidade (como diarreia e constipação intestinal), alterações absortivas (doença celíaca, por exemplo). 7575 75 Figura 6 – Anatomia do intestino delgado e intestino grosso Fonte: Anatomia do intestino. Aula de Anatomia, 2019. Disponível em: https://www. auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-digestorio/. Acesso em: 29 out. 2019. A doença de Crohn e a colite ulcerativa são doenças de curso crônico e recorrente denominadas como doença intestinal inflamatória (DII). Essas doenças resultam da ativação das células inflamatórias com produção de mediadores inflamatórios que causam lesão inespecífica dos tecidos. O tratamento da doença de Crohn tem como objetivo suprimir a reação inflamatória e promover o processo de cicatrização, evitando o agravamento da doença, como a obstrução intestinal. Os fármacos utilizados para suprimir a reação inflamatória são: corticoides, sulfassalazina, azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato e infliximabe. Cirpofloxacina e metronidazol (antibióticos) também são recomendados para o tratamento. Para a colite ulcerativa, são usados os mesmos medicamentos da doença de Crohn, além de aminossalicílicos não absorvíveis (como mesalamina, olsalazina, que são administrados por via retal) e fármacos imunomoduladores e agentes anti-TNF. https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-digestorio/ https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-digestorio/ 7676 A motilidade intestinal ocorre em consequência dos movimentos peristálticos regulados pela interação de mecanismos de controle neuro-hormonal e de estímulos nervosos. Distensão da parede intestinal, irritantes químicos, gradientes osmóticos e toxinas bacterianas produzem alguns de seus efeitos na motilidade intestinal por meio dessas vias aferentes, ocasionando a presença de diarreia ou constipação intestinal. A diarreia pode ser dividida em aguda (presença de três ou mais evacuações de consistência aquosa em período de 24h), persistente (episódios de diarreia com duração maior que 14 dias) e crônica (episódios de diarreia com duração acima de 30 dias), sendo que os principais fatores estão apresentados na Figura 7. Além da hidratação e reposição hidroeletrolítica, agentes antiperistálticos (loperamida), agentes antissecretores (racecadotril) e adsorventes (caulim-pectina, carvão ativado, atapulgita) são indicados no tratamento da diarreia, tanto em crianças quanto em adultos. Figura 7 – Principais fatores para a ocorrência de diarreia crônica Fonte: adaptado de Krom (2019). Se a diarreia for causada por bactérias (como a Shigella e a Salmonella), vírus (rotavírus e noravírus), protozoários (Giardia intestinalis e Entamoeba histolytica) ou helmintos (Schistosoma mansoni), deverá ser utilizado o agente antimicrobiano específico, como doxiciclina, azitromicina, ciprofloxacina, pivmecillinam, ceftriaxona, metronidazol, tinidazol, ornidazol, azitromicina, fluoroquinolonas. 7777 77 ASSIMILE As doenças do trato gastrointestinal precisam de acompanhamento nutricional em conjunto com o tratamento medicamentoso para que o paciente tenha remissão dos principais sintomas, evitando a ocorrência de desnutrição, principalmente naquelas doenças em que o processo absortivo faz-se presente. Caro aluno, neste capítulo, vimos as principais doenças que acometem o trato gastrointestinal, considerando aquelas doenças que afetam o esôfago, estômago e intestino. Vimos sobre o tratamento farmacológico e suas considerações quanto à interação com outros medicamentos e com os nutrientes. Lembre-se sempre de realizar uma boa anamnese, consultando os pacientes sobre o consumo de medicamentos de uso rotineiro e também de uso esporádico, como os anti-inflamatórios não esteroidais. TEORIA EM PRÁTICA Dona Antonieta tem 33 anos, casada, fumante desde os 12 anos, diagnosticada com doença de Crohn aos 29 anos, foi encaminhada pelo médico para a realização de um planejamento alimentar direcionado ao seu caso, considerando os medicamentos que ela consome. Atualmente, o tratamento medicamentoso é composto por azatioprina, 50 mg; prednisona, 10 mg; omeprazol, 20 mg; e sertralina, 50 mg. Considerando a doença de Dona Antonieta, explique qual a função de cada medicamento no tratamento. E quais intercorrências clínicas a paciente pode apresentar pelo consumo desses medicamentos? Qual a conduta nutricional? 7878 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma das enfermidades que vem aumentando sua prevalência no Brasil e no mundo. O objetivo primáriodesse tratamento é: a. Alívio dos sintomas. b. Eliminar a bactéria H. pylori. c. Fazer reidratação oral. d. Retirar alimentos sólidos. e. Consumir alimentos ricos em fibra. 2. As doenças estomacais, como a gastrite, podem ter como agente causal o consumo de medicamentos que inibem a produção de bicarbonato e estimulam a produção de ácido clorídrico. Os medicamentos implicados nesse processo são: a. Ácido acetilsalicílico e misoprostol.l b. Ibuprofeno e ácido acetilsalicílico. c. Aspirina e sulcrafato. d. Amoxicilina e ibuprofeno. e. Azitromicina e aspirina. 3. A _______ é um distúrbio funcional crônico, em que o paciente apresenta dor ou desconforto abdominal, associado a alterações do hábito intestinal – constipação, diarreia ou alternância entre as duas. Essa é a descrição da: 7979 79 a. Doença de Crohn. b. Doença celíaca. c. Síndrome do colo irritável. d. Colite ulcerativa. e. Doença do refluxo gastroesofágico. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2018. Uma análise da situação de saúde e das doenças e agravos crônicos: desafios e perspectivas. ISBN: 978-85-334-2701-3. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. FARTHING, M. et al. Diarreia aguda em adultos e crianças: uma perspectiva mundial. Milwaukee: World Gastroenterology Organisation, 2012. Disponível em: http://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/acute-diarrhea. Acesso em: 2 jul. 2019. FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA. Projeto diretrizes: refluxo gastroesofágico: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Associação Médica Brasileira, 2003. Disponível em: https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/refluxo- gastroesofagico-diagnostico-e-tratamento.pdf. 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SASSI, A. P. et al. (Org.). Doenças do aparelho digestivo. Oferecido por Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Fiocruz MS. UNA-SUS. Disponível em: http://production.latec.ufms.br/new_pmm/index.html. Acesso em: 2 jul. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta A Resolução: os objetivos primários do tratamento são o alívio dos sintomas, a cicatrização das lesões da mucosa, quando estão presentes, e a prevenção de recidivas e complicações. Feedback de reforço: verifique as doenças esofágicas. Questão 2 – Resposta B Resolução: as principais causas de gastrite aguda são a utilização de álcool, uremia, medicamentos como AAS, AINEs (ibuprofeno, aspirina) e quimioterápicos. Feedback de reforço: verifique a interação entre os medicamentos para tratamento do refluxo. Questão 3 – Resposta C Resolução: a síndrome do colo irritável é um distúrbio funcional crônico, em que o paciente apresenta dor ou desconforto abdominal associado a alterações do hábito intestinal – constipação, diarreia ou alternância entre elas. Feedback de reforço: que tal revisar as doenças intestinais? http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28032010000100017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28032010000100017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28032010000100017&lng=en&nrm=iso http://production.latec.ufms.br/new_pmm/index.html 8181 81 Drogas antitireoidianas, corticoides e anabolizantes no estado nutricional Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Conhecer os principais medicamentos utilizados no tratamento das alterações da tireoide. • Compreender o mecanismo de atuação dos medicamentos para o tratamento com corticoides. • Conhecer os principais anabolizantes e seus mecanismos de ação. 8282 Prezado aluno, as alterações hormonais causam modificação do metabolismo corporal e são de importância para a nutrição. Elas poderão impedir ou dificultar a perda de peso do paciente, assim como alterar o funcionamento de vitaminas, minerais, água e eletrólitos, levando ao seu déficit corporal. O tratamento medicamentoso com a reposição de hormônios – como os hormônios da tireoide – ou a utilização de hormônios no tratamento de doenças – como os glicocorticoides – é de extrema importância para serem considerados quando é realizado o planejamento alimentar. Deve ser considerado, também, a utilização de hormônios e seus análogos com o objetivo de melhorar a performance física e o perfil corporal, como os anabolizantes. O tema desta aula abordará, de forma geral, os principais anabolizantes utilizados e seus riscos à saúde. Também será abordado o uso da terapia com glicocorticoides, considerando as principais doenças e os medicamentos utilizado. Por fim, é válido ressaltar a importância do tratamento das alterações relacionadas à tireoide. Bons estudos! 1. Disfunções tireoidianas A tireoide é uma glândula que fica situada no pescoço, responsável por produzir os hormônios triiodotironina (T3), tiroxina (T4) e calcitonina. Para a produção dos hormônios T3 e T4 pela glândula da tireoide, é necessária a presença de iodo, sob a forma de iodeto. Ao serem liberados na circulação, os hormônios ligam-se à globulina ligadora de tiroxina (TBG), transtirretina (TTR) e albumina. A produção e liberação dos hormônios ocorre por feedback, ou seja, quando os níveis circulantes de T3 e T4 baixam, o hormônio liberador de tireotropina (TRH) é produzido e liberado pelo hipotálamo, estimulando a produção de tireotropina (TSH) na hipófise anterior, que estimulará a glândula da tireoide a produzir e liberar os hormônios tireoidianos, conforme a Figura 8. 8383 83 Figura 8 – Feedback de produção dos hormônios da tireoide Fonte: Gadelha e Montenegro (2017). Quando toda essa cascata não funciona, a liberação dos hormônios poderá ser alterada, sendo que várias condições podem causar hipofunção ou hiperfunção tireoidianas, facilmente diagnosticadas pela dosagem de TSH e T4 livre. O hipertireoidismo é a elevação da liberação dos hormônios tiroidianos e possui como principais causas o bócio multinodulartóxico (BMNT), o adenoma tóxico e doença de Graves. A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo e ocorre por uma ativação do sistema imunológico, que se liga aos receptores TSH, estimulando o crescimento e a hiperfunção da glândula. Inicialmente, ocorre infiltração linfocitária da glândula da tireoide, aparecimento de autoanticorpos e elevação dos linfócitos T circulantes. As causas dessa resposta autoimune da glândula podem ser genéticas, hormonais e ambientais, por exemplo. Para o tratamento dessas doenças, indica-se a terapia com medicamentos antitireoidianos, do grupo das tionamidas, que agem inibindo a síntese de hormônios da tireoide, mas podem apresentar 8484 como efeito adverso ação imunodepressora por aumentar a atividade de linfócitos T supressores. São representante desse grupo: metimazol (sendo a primeira escolha para a grande parte dos pacientes), propiltiouracila (PTU) – indicado para gestantes no primeiro trimestre – e o carbimazol, que age por meio da conversão virtualmente completa para metimazol, sendo seus efeitos e doses equivalentes. A remoção da glândula e a utilização de iodo radioativo também são indicados para o tratamento da doença de Graves, que deverá ser acompanhado pela utilização de levotiroxina. Paliativamente, tem-se a utilização de betabloqueadores visando a melhora dos sintomas, como taquicardia, tremores e ansiedade. Outra disfunção encontrada é o hipotireoidismo, que leva à redução da capacidade da glândula de produzir hormônios tireoidianos, sendo resultado da autoimunidade contra a glândula, destruindo-a. As principais causas de hipotireoidismo são a tireoidite (inflamação da glândula, com consequente fibrose), hipotireoidismo congênito (que o ocorre desde o nascimento), o bócio coloide endêmico (causado por deficiência dietética de iodeto), bócio coloide idiopático, destruição da tireoide por radiação (utilização de iodo radioativo no tratamento da doença de Graves) e remoção cirúrgica da glândula. Em todos os casos, o tratamento ocorre com a reposição hormonal utilizando a levotiroxina. O uso de levotiroxina pode estar associado a risco de perda óssea, com consequente desenvolvimento de osteoporose e de fratura. A levotiroxina apresenta interação medicamentosa com antidiabéticos orais e insulina, resultando em um aumento da glicemia, e em pacientes diabéticos, pode ser necessário ajuste de dose dos antidiabéticos orais ou da insulina. Esse efeito ocorre porque os hormônios tireoidianos ajudam a regular a sensibilidade hepática à insulina, que é importante para a inibição da gliconeogênese hepática. Outros medicamentos também podem influenciar os níveis séricos dos hormônios da tireoide. Esses medicamentos estão destacados no Quadro 11. 8585 85 Quadro 11 – Efeito dos medicamentos sobre a levotiroxina Medicamento Função Interação Rifampicina, carbamazepina ou fenitoína, barbitúricos Indutores enzimáticos (aumentam a ação das enzimas e sua liberação) Aumento no metabolismo tireoidiano Amiodarona Antiarrítmico eanti-isquêmico Inibe a conversão periférica da levotiroxina T4 para T3 Glicocorticoides Anti-inflamatórios e imunossupressores Inibe a conversão periférica da levotiroxina T4 para T3 Propiltiouracil Antitireoidiano Inibe a conversão periférica da levotiroxina T4 para T3 Beta-simpatolíticos (propranolol) Inibidores do sistema simpático Inibe a conversão periférica da levotiroxina T4 para T3 Lopinavir, ritonavir Inibidores da protease Perda de efeito terapêutico da levotiroxina Imatinibe, sunitinibe ou sorafenibe Inibidores da tirosina quinase Redução da eficácia da levotiroxina Anticoncep- cionais orais Estrógenos Aumentam a ligação da tiroxina Salicilatos (ex: AAS) Analgésico e antipirético Redução dos níveis de T4 total e de T4 livre Furosemida (intravenosa) Antidiurético Aumento transitório de T4 livre e redução do T4 total Clofibrato Redução dos níveis séricos de colesterol Altera o metabolismo dos hormônios tireoideos com consequente redução dos níveis de T4 e de T3 livre Resinas de troca- iônica (colestiramina, sevelamer ou sulfato cálcico de poliestireno e sais de sódio) Anti-hiperlipêmico, antiprurítico, antídoto (resina de troca iônica), antidiarreico (ácidos biliares pós-operatórios), anti-hiperoxalúrico Redução da absorção da levotiroxina Sucralfato, antiácidos e carbonato de cálcio Medicamentos para o trato gastrointestinal Ocorre redução da absorção de levotiroxina no trato gastrointestinal. Sais de ferro (sulfato ferroso) Antianêmicos Reduz a absorção da levotiroxina do trato gastrointestinal Fonte: elaborado pela autora. 8686 O consumo de soja, alimentos à base de soja ou seus subprodutos (como a proteína texturizada de soja) e também de fibras, pode influenciar o tratamento do hipotireoidismo, aumentando os níveis de TSH e reduzindo a biodisponibilidade de T4 livre, sendo necessário o aumento da dosagem de levotiroxina para o ajuste dos níveis séricos de T4. Durante o tratamento do hipotireoidismo, deve-se atentar para as demais doenças do paciente, principalmente aquelas doenças que podem reduzir o processo absortivo intestinal, como doença celíaca, insuficiência pancreática, síndrome do intestino curto e doença intestinal inflamatória. 2. Glicocorticoides Os corticosteroides são hormônios derivados do colesterol secretados pelo córtex da glândula adrenal. Os glicocorticoides são tipos de hormônios corticosteroides implicados no aumento da concentração sanguínea da glicose, podendo exercer efeito sobre o metabolismo dos lipídios e das proteínas. Os hormônios glicocorticoides produzidos pelo córtex são: cortisol e cortiscosterona. Cortisona, prednisona, metilprednisona e dexametasona são as formulações sintéticas dos glicocorticoides. Como efeitos adversos, de forma geral, os glicocorticoides podem promover obesidade e ganho de peso, por estimular a neoglicogênese hepática, principalmente a partir da utilização de aminoácidos. O cortisol promove menor gasto de glicose com fonte de energia, apresentando como consequência a elevação dos níveis séricos de glicose. O cortisol também é capaz de promover a mobilização de ácidos graxos, retirando-os dos adipócitos e aumentando os níveis séricos, o que pode causar dislipidemias. Os principais compostos e sua utilização estão apresentados no Quadro 12. 8787 87 Quadro 12 – Compostos com atividade glicocorticoide e/ou mineralocorticoide e recomendação terapêutica Composto Recomendação terapêutica Hidrocortisona Fármaco de escolha para terapia de reposição Cortisona Baixo custo. Não utilizada como anti-inflamatório devido aos efeitos mineralocorticoides Corticosterona – Prednisolona Fármaco de escolha para efeitos sistêmicos e imunossupressores Prednisona Inativa até a conversão em prednisolona Metilprednisolona Ação anti-inflamatória e imunossupressora Triancinolona Mais tóxica que os outros fármacos Dexametasona Ação anti-inflamatória e imunossupressora. Usada quando a retenção de água é indesejável, como no edema cerebral. Fármaco de escolha para supressão da produção de ACTH Betametasona Ação anti-inflamatória e imunossupressora, usada quando não se deseja a retenção de água Desoxicortona – Fludrocortisona Fármaco de escolha para os efeitos mineralocorticoides Aldosterna Mineralocorticóide endógeno Fonte: adaptado de Bavaresco, Bernardi e Battastini (2005). Outros efeitos da terapia com glicocorticoides consistem na redução da absorção intestinal de cálcio e maior excreção renal, sendo que a terapia com corticosteroides em longo prazo poderá levar ao desenvolvimento e agravamento da osteoporose. Grandes dosagens desses hormônios ajudam a aumentar o efeito dos mineralocorticoides, causando retenção de sódio e aumento da excreção de potássio, o que pode resultar em alterações dos níveis pressóricos arteriais. A terapia com glicocorticoides é utilizada para diversas finalidades, tais como: reposição hormonal (quandoo paciente apresenta problemas no córtex suprarrenal), distúrbios reumáticos, doença do colágeno, doenças dermatológicas, doenças oftálmicas, doenças gastrointestinais, doenças respiratórias, terapias de imunossupressão, terapia antialérgica e anti-inflamatória, e na terapia anticâncer. Os glicocorticoides podem apresentar interações com outros medicamentos, conforme apresentado no Quadro 13. 8888 Quadro 13 – Interação medicamentosa com os glicocorticoides Medicamento Função Interação Paracetamol Analgésico e antipirético Aumenta os riscos de toxicidade no fígado Cumarínicos, derivados da indandiona, estreptoquinase e uroquinase Anticoagulantes Aumenta os riscos de ulceração gastrointestinal ou hemorragia Anfotericina B Antifúngico Ocorre agravamento da queda de potássio no sangue Inibidores da anidrase carbônica Diuréticos Ocorre agravamento da queda de potássio no sangue Esteroides anabólicos e androgênios Hormonal Pode aumentar o risco de edema Efedrina Vasopressor Diminui a ação dos corticosteroides Barbitúricos, carbamazepina, primidona, fenitoína, rifamicina, rifabutina, troglitazona e griseofulvina Indutores de enzimas hepáticas Diminuem a ação dos corticosteroides Atropina Anticolinérgicos Aumenta o risco de pressão intraocular Asparaginase Utilizada no trata- mento de leucemia linfoblástica aguda, leucemia mielóide aguda e linfoma não Hodgkin Tem seu efeito hiperglicêmico aumentado o uso de glicocorticoides Anticoncepcionais orais, estrogênios Anticoncepcional Efeitos tóxicos aumentados Digitoxina e digoxina Digitálicos Aumento do risco de arritmias e reações adversas 8989 89 Hidroclorotiazida, furosemida, clortalidona, espironolactona, bendroflumetiazida, amilorida, bumetanida Diuréticos Quando os corticosteroides são administrados simultaneamente com diuréticos espoliadores de potássio, os pacientes devem ser observados estritamente quanto ao seu desenvolvimento de hipocalemia Glibenclamida, gli- clazida, glimepirida, glipizida, fenformina, metformina, repagli- nida, voglibose, piogli- tazona, miglitol, rosi- glitazona e insulina Antidiabéticos Aumento da glicemia Difenilidantoína, fenobarbital, carbamazepina e rifampicina Estes medicamentos podem acentuar a depuração metabólica dos corticosteroides, suscitando redução dos níveis sanguíneos e diminuição de sua atividade fisiológica, o que exigirá ajuste na posologia do corticosteroide Salicilatos (ex: AAS) Analgésico e antipirético Os glicocorticoides aumentam a depuração renal dos salicilatos Progesterona Anticoncepcional Possui atividade antiglicocorticoide, isto é, atua inibindo competitivamente os glicocorticoides Fonte: elaborado pela autora. PARA SABER MAIS Os hormônios adrenocorticais são produzidos pela medula adrenal (como a epinefrina e a noraepinefrina), e pelo córtex adrenal. Este último produz os corticosteroides, que são divididos em mineralocorticoisteroides, glicocorticosteroides e andrógenos. O cortisol e a corticosterona apresentam atividade de mineralocorticosteroides e glicocorticosteroides. 9090 3. Hormônios esteroides e esteroides anabolizantes O córtex da suprarrenal, além dos esteroides glicorticosteroides e mineralocorticosteroides, também produzem os hormônios androgênicos. Outro local de produção dos esteroides androgênicos são as gônadas, masculina e feminina, sendo esta última em menor quantidade. Os hormônios esteroides androgênicos circulam pela corrente sanguínea até os tecidos-alvo, ligando aos seus receptores e promovendo alteração da expressão gênica. Para a formação de testosterona e progesterona, utiliza- se como precursor o colesterol convertido a pregnenolona e desidroepiandrosterona (DHEA), sendo a produção desses compostos controlada por feedback negativo. Ou seja, a queda dos níveis séricos de testosterona e progesterona induzem a produção desses hormônios androgênicos. Os subprodutos da conversão dos hormônios androgênicos a partir do colesterol está apresentada na Figura 9. Figura 9 – Formação de hormônios androgênicos a partir do colesterol Fonte: ROCHA; AGUIAR; RAMOS, 2014. Os hormônios androgênicos são produzidos sinteticamente sendo seus derivados denominados esteroides anabólicos androgênicos (EAA). Inicialmente utilizados para o tratamento de pacientes com queimaduras, em recuperação de cirurgias de grande extensão, alguns 9191 91 tipos de anemia, cirrose hepática, alguns tipos de câncer, osteoporose, entre outras. Um dos efeitos positivos dos esteroides anabólicos androgênicos é o aumento da massa muscular, também promovendo o aumento da concentração de hemoglobina, aumento da retenção de nitrogênio, aumento da deposição de cálcio dos ossos e redução das reservas de tecido adiposo. Esses efeitos, além de serem muito apreciados nas terapias expostas acima, hoje são utilizados como forma de melhorar o desempenho esportivo, sendo indicados, principalmente, para o ganho de massa muscular (pelo aumento da síntese proteica e inibição do catabolismo proteico), e aumento da capacidade respiratória (pelo estímulo a eritropoiese). A popularização dos suplementos ergogênicos como os EAA tem promovido o consumo elevado desses compostos com o intuito de melhorar o desempenho atlético, aumento da energia, aparência física e capacidade de trabalho. O consumo desses compostos na prática desportiva e em competições é considerado doping. No Brasil, segundo a legislação vigente (Decreto-lei nº 183, de 26/7/1997), doping “é a administração aos praticantes desportivos ou o uso por estes de classes farmacológicas de substâncias ou de métodos constantes das listas não aprovadas pelas organizações desportivas nacionais e internacionais”. O doping direto é considerado quando ocorre o consumo de testosterona e seus análogos. Já o doping indireto é a utilização de componentes estimuladores da testosterona endógena, tanto de origem animal quanto vegetal. A Agência Mundial Antidoping publicou em janeiro de 2019 a revisão do Código Mundial Antidoping, destinado a padronizar a lista de compostos proibidos, a forma de realização de testes e investigações antidoping, entre outros. A lista de compostos proibidos identifica as substâncias e métodos não permitidos dentro e fora da competição. As substâncias e os métodos da lista são classificados por categorias diferentes (por exemplo: esteroides, estimulantes e doping genético). A lista publicada pela Agência Mundial Antidoping está apresentada no Quadro 14. 9292 Quadro 14 – Lista de compostos proibidos pela Agência Mundial Antidoping com atividade esteroide e anabolizante Esteroides anabólicos androgênicos (EAA) Exógenos (substância não produzida naturalmente pelo corpo) 1-Androstenediol (5α-androst-1-ene-3β,17β-dio (l); 1-Androstenedione (5α-androst-1-ene-3,17-dione); 1-Androsterone (3α-hydroxy-5α-androst-1-ene-17-one); 1-Testosterone (17β-hydroxy-5α-androst-1-en-3-one); Bolasterone; Calusterone; Clostebol; Danazol ([1,2]oxazolo[4’,5’:2,3]pregna-4-en-20-yn-17α-ol); Dehydrochlormethyltestosterone (4-chloro-17β-hydroxy17α-methylandrosta-1,4-dien-3-one); Desoxymethyltestosterone (17α-methyl-5α-androst2-en- 17β-ol and 17α-methyl-5α-androst-3-en-17β-ol); Drostanolone; Ethylestrenol (19-norpregna-4-en-17α-ol); Fluoxymesterone; Formebolone; Furazabol (17α-methyl [1,2,5]oxadiazolo[3’,4’:2,3]-5αandrostan-17β-ol); Gestrinone; Mestanolone Mesterolone; Metandienone (17β-hydroxy-17α-methylandrosta-1,4-dien3-one); Metenolone; Methandriol; Methasterone (17β-hydroxy-2α,17α-dimethyl-5αandrostan-3-one); Methyldienolone (17β-hydroxy-17α-methylestra-4,9-dien3-one); Methyl-1-testosterone (17β-hydroxy-17α-methyl-5αandrost-1-en-3-one); Methylnortestosterone (17β-hydroxy-17α-methylestr-4-en3-one); Methyltestosterone; Metribolone (methyltrienolone, 17β-hydroxy-17αmethylestra-4,9,11-trien-3-one); Mibolerone; Norboletone; Norclostebol; Norethandrolone; Oxabolone; Oxandrolone; Oxymesterone; Oxymetholone; Prostanozol (17β-[(tetrahydropyran-2-yl)oxy]-1’Hpyrazolo[3,4:2,3]-5α-androstane);Quinbolone; Stanozolol; Stenbolone; Tetrahydrogestrinone (17-hydroxy-18a-homo-19-nor-17αpregna-4,9,11-trien-3-one); Trenbolone (17β-hydroxyestr-4,9,11-trien-3-one); 9393 93 Endógeno (substância produzida naturalmente pelo corpo) 4-Androstenediol (androst-4-ene-3β,17β-diol); 4-Hydroxytestosterone (4,17β-dihydroxyandrost-4-en-3- one); 5-Androstenedione (androst-5-ene-3,17-dione); 7α-hydroxy-DHEA; 7β-hydroxy-DHEA; 7-keto-DHEA; 19-Norandrostenediol (estr-4-ene-3,17-diol); 19-Norandrostenedione (estr-4-ene-3,17-dione); Androstanolone (5α-dihydrotestosterone, 17β-hydroxy-5αandrostan-3-one); Androstenediol (androst-5-ene-3β,17β-diol); Androstenedione (androst-4-ene-3,17-dione); Boldenone; Boldione (androsta-1,4-diene-3,17-dione); Epiandrosterone (3β-hydroxy-5α-androstan-17-one); Epi-dihydrotestosterone (17β-hydroxy-5β-androstan-3- one); Epitestosterone; Nandrolone (19-nortestosterone); Prasterone (dehydroepiandrosterone, DHEA, 3β-hydroxyandrost-5-en-17-one); Testosterone. Fonte: WORLD ANTI-DOPING AGENCY, 2019. Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA) causam diversos efeitos adversos no organismo, tais como: dermatológicos (acne e estrias), musculoesqueléticos (fechamento prematuro das epífises ósseas e déficit de crescimento estatural), endócrinos (ginecomastia, alterações da libido, impotência e infertilidade), geniturinário (diminuição do número de espermatozoides, atrofia testicular, irregularidade menstrual, masculinização nas mulheres, hipertrofia do clitóris), cardiovascular (trombose, dislipidemias pelo aumento da mobilização de lipídios sanguíneos, aumento da pressão arterial e diminuição das funções do miocárdio), hepático (aumento de transaminases, fosfatase alcalina, bilirrubina conjugada e proteínas séricas, icterícia, colestase e risco aumentado de tumores), endócrino (alteração do metabolismo de carboidratos, resistência à insulina, intolerância à glicose, diminuição na liberação de hormônios da tireoide) e psicológicos (psicose, depressão, alteração do humor e agressividade). 9494 ASSIMILE Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA) melhoram a performance esportiva em várias modalidades, mas sua utilização possui efeitos colaterais que devem ser considerados. Os EAA também são proibidos por diversas organizações desportivas internacionais por serem considerados doping. Caro aluno, neste capítulo, vimos sobre a terapia hormonal a partir dos hormônios produzidos no córtex da glândula adrenal. Glicocorticosteroides, mineralocorticosteroides e hormônios androgênicos, precursores da testosterona e do estrógeno. Foram apresentados os riscos e efeitos colaterais dos esteroides anabólicos androgênicos (EAA), comumente relatados por praticantes de exercício físico para melhorar a performance atlética. Também vimos sobre a disfunção da tireoide e a interação medicamentosa com a levotiroxina, o que pode alterar os efeitos no tratamento, promovendo a retenção ponderal e a dificuldade para a perda de peso. TEORIA EM PRÁTICA A procura por emagrecimento é constante na rotina de atendimento ambulatorial do nutricionista. Em uma dessas consultas, você atendeu o sr. Jonathas M. Gaspari, de 38 anos, que relatou dificuldade para perder peso, e atualmente possui IMC = 32,1 kg/m2. Ele alegou realizar exercício físico constante desde os 25 anos, principalmente musculação. Durante a anamnese, o paciente relatou já ter utilizado algumas substâncias ergogênicas (como cafeína, efedrina, oxadrolona e DHEA), mas que havia parado com 9595 95 esses compostos há cerca de um mês, desde que foi diagnosticado com hipotireoidismo e diabetes. Para o tratamento farmacológico, o médico indicou o consumo de levotiroxina 100 mg e metformina 1000 mg. O paciente também faz acompanhamento para hipertensão arterial, utilizando hidroclorotiazida 50 mg e ácido acetilsalicílico. Considerando o exposto pelo paciente, explique os riscos do consumo das substâncias ergogênicas. Realize uma avaliação das interações dos medicamentos entre si e com os nutrientes e indique qual deverá ser sua conduta na prescrição dietoterápica. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A tireoide é uma glândula que fica situada no pescoço, responsável por produzir os hormônios triiodotironina (T3), tiroxina (T4) e calcitonina. Uma das disfunções da glândula da tireoide é o hipotiroidismo. Sobre essa disfunção, uma das suas causas é: a. Doença de Graves. b. Bócio multinodular tóxico. c. Adenoma tóxico d. Tireoidite de Hashimoto. e. Síndrome de Klinefelter. 2. Os corticosteroides são hormônios derivados do colesterol secretados pelo córtex da glândula adrenal. 9696 A terapia com glicocorticoides é utilizada para diversas finalidades. Uma dessas finalidades é: a. Regulação da triiodotironina. b. Doença do colágeno. c. Analgesia. d. Anticoagulante. e. Anticolinérgico. 3. O córtex da suprarrenal, além dos esteroides glicorticosteroides e mineralocorticosteroides, também produzem os hormônios androgênicos. Os hormônios androgênicos são produzidos sinteticamente, sendo seus derivados denominados de esteroides anabólicos androgênicos (EAA). Sobre os esteroides anabólicos androgênicos (EAA), considere as seguintes afirmações: I. Inicialmente foram utilizados para o tratamento de pacientes com queimadura. II. Um dos efeitos positivos dos esteroides anabólicos androgênicos é o aumento da massa muscular. III. Como efeito adverso, os EAAs podem levar ao fechamento prematuro das epífises ósseas e déficit de crescimento estatural. IV. Os EAAs também podem provocar alterações da glicemia e resistência à insulina. 9797 97 V. Os EAAs são importantes para a redução da deposição de cálcio dos ossos, podendo levar à osteoporose. Agora, assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. b. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. Referências bibliográficas ABRAHIN, O. S. C.; SOUSA, E. C. de. Esteroides anabolizantes androgênicos e seus efeitos colaterais: uma revisão crítico-científica. Revista de educação física, UEM, Maringá, v. 24, n. 4, p. 669-679, dez. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-30832013000400014&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 7 jul. 2019. ANDRADE, V. A.; GROSS, J. L.; MAIA, A. L. Tratamento do hipertireoidismo da doença de Graves. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, São Paulo, v. 45, n. 6, p. 609-618, dez. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0004-27302001000600014&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 2 set. 2019. BAVARESCO, L.; BERNARDI, A.; BATTASTINI, A. M. O. Glicocorticoides: usos clássicos e emprego no tratamento do câncer. Infarma, Brasília, v. 17, n. 7, p. 58-60, set. 2005. Disponível em: http://www.revistas.cff.org.br/infarma/article/view/260. Acesso em: 5 jul. 2019. BRANCHTTEIN, L.; MATOS, M. C. G.; SCHEFELL, R. S. Doenças da tireoide. In: FUCHS, F. 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Gabarito Questão 1 – Resposta D Resolução: a síndrome de Klinefelter (SK) consiste num grupo de anomalias cromossômicas nas quais encontram-se dois ou mais cromossomos X em machos. Bócio multinodular tóxico (BMNT), o adenoma tóxico e doença de Graves são causas de hipertireoidismo. Feedback de reforço: reveja o tópico sobre a disfunção tireoidiana. https://www.redalyc.org/pdf/408/40820411.pdf http://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2014.09.002 http://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2014.09.002 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-507X2011000200019&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-507X2011000200019&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-507X2011000200019&lng=en&nrm=iso https://www.wada-ama.org/sites/default/files/wada_2019_english_prohibited_list.pdf https://www.wada-ama.org/sites/default/files/wada_2019_english_prohibited_list.pdf 9999 99 Questão 2 – Resposta B Resolução: a terapia com glicocorticoides é utilizada para diversas finalidades, tais como: reposição hormonal (quando o paciente apresenta problemas no córtex suprarrenal), distúrbios reumáticos, doença do colágeno, doenças dermatológicas, doenças oftalmológicas, doenças gastrointestinais, doenças respiratórias, terapias de imunossupressão, terapia antialérgica e anti- inflamatória, e na terapia anticâncer. Feedback de reforço: reveja o tópico sobre glicocorticosteroides. Questão 3 – Resposta E Resolução: os EAAs promovem o aumento da deposição de cálcio dos ossos, evitando o desenvolvimento de osteoporose. Feedback de reforço: que tal rever mais sobre esteroides anabolizantes? 100100 Medicamentos anti-hipertensivos, antianêmicos e quimioterápicos no estado nutricional Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Conhecer os principais medicamentos anti-hipertensivos. • Conhecer os principais antianêmicos e sua forma de ação. • Conhecer os principais agentes quimioterápicos e seus efeitos colaterais. 101101 101 Prezado aluno, uma das doenças que mais têm aumentado sua prevalência no Brasil e ocorre de forma silenciosa é a hipertensão arterial. Ela é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, trombose e acidente vascular encefálico. O mecanismo fisiopatológico é complexo e envolve diversos sistemas, sendo a forma de tratamento com agentes anti-hipertensivos utilizada de forma a anular a resposta desse sistema ao aumento da vasoconstrição, por exemplo. Além dos anti-hipertensivos, você estudará os medicamentos antianêmicos e quimioterápicos. A anemia é outra doença de origem alimentar que, após instalada, deverá ser tratada com a utilização de medicamentos. Já os quimioterápicos apresentam diversos efeitos adversos que deverão ser considerados durante a prescrição dietética. Bom estudo! 1. Medicamentos anti-hipertensivos A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é diagnosticada, segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, quando o valor da pressão sistólica for superior a 140 mmHg e a pressão diastólica, superior a 90 mmHg, com a mediada realizada em adultos, segundo o protocolo determinado na diretriz. A pressão arterial elevada ocorre por um desequilíbrio do feedback de diversos sistemas, tais como sistema cardiovascular, renal, neural e endócrino. Denomina-se pressão arterial o produto do débito cardíaco (DC) e da resistência vascular periférica (RVP). O DC é influenciado pela contratilidade e o relaxamento do miocárdio, o volume sanguíneo, o retorno venoso e a frequência cardíaca. Já o RVP depende da espessura das artérias, recebendo influências vasoconstritoras ou vasodilatadoras do sistema nervoso simpático, do sistema renina-angiotensina-angiotensinogênio e da modulação 102102 endotelial. Essa modulação é realizada por agentes relaxantes, como óxido nítrico (NO), fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF) e prostaciclinas (relaxantes); fatores constritores, tais como: prostaglandina H2 (PGH2), tromboxana A2, angiotensina II (AngII), endotelina-1 (ET-1) e os ânions superóxidos ou espécies reativas de oxigênio (ROS). A alteração endotelial em pacientes com hipertensão arterial crônica apresenta aumento de RVP e DC, ficando normal ou reduzido, sendo a vasoconstrição acentuada pelo aumento da atividade do sistema nervoso simpático (SNS), do sistema renina-angiotensina. A angiotensina II pode promover lesão vascular, inflamação vascular, aumento da contratilidade miocárdica, além de estimular a produção de ROS e elevar a expressão de citocinas pró-inflamatórias. Já o sistema nervoso simpático (SNS) apresenta aumento da liberação de catecolaminas, com aumento da responsividade dos receptores β-adrenérgicos. Também foi verificado o aumento da liberação, sensibilidade e excreção de norepinefrina em pacientes hipertensos. Dessa forma, os medicamentos utilizados para o controle da pressão arterial são divididos, de acordo com sua função, em: diuréticos, inibidores adrenérgicos (com ação central, betabloqueadores e alfa bloqueadores), vasodilatadores diretos, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina, bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II e inibidor direto de renina. Os diuréticos apresentam como mecanismo de ação anti-hipertensiva a diminuição do volume extracelular. Tiazídicos e similares são os diuréticos preferencias para tratamento. Já diuréticos de alça, como a furosemida, são reservados para situações de hipertensão associada a insuficiência renal. Deve-se ressaltar o risco de hipopotassemia e hipomagnesemia. Deverá ser considerado o risco de intolerância a glicose e aumento de triglicérides circulantes com o uso de diuréticos. 103103 103 Os inibidores adrenérgicos atuam estimulando os receptores alfa-2- adrenérgicos pré-simpáticos no SNC , como a alfametildopa, a clonidina. Já os alfaboloqueadores e betabloqueadores atuam na diminuição do DC, redução da secreção de renina e diminuição das catecolaminas.Os betabloqueadores de 1ª e 2ª geração devem ser considerados com maior cuidado, pois podem provocar intolerância à glicose e elevação de LDL- colesterol, assim como aumento do risco de doenças cardiovasculares. Estes medicamentos poderão ser utilizados de forma isolada ou em conjunto, conforme demonstrado na Figura 10. É importante observar durante a escolha das combinações medicamentosas que os fármacos não apresentam os mesmos mecanismos de ação. Figura 10 – Combinação preferencial dos diferentes agentes anti- hipertensivos para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica. Fonte: MALACHIAS, M. V. B. et al. Capítulo 7 – Tratamento medicamentoso. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [s.l.], v. 107, n. 3, p. 35-43, 2016. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ ARTERIAL.asp. Acesso em: 9 jul. 2019. http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp 104104 Para a escolha do anti-hipertensivo, algumas características deverão ser observadas, tais como: ser eficaz por via oral, ser seguro, bem tolerado e com relação risco-benefício favorável ao paciente, permitir a administração em menor número possível de tomadas, com preferência para dose única diária, entre outras, conforme apresentado na 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Quadro 15 – Medicamentos anti-hipertensivos utilizados para o tratamento da hipertensão arterial, segundo o mecanismo de ação Medicamentos Diuréticos Alça Poupadores de potássio Inibidores adrenérgicos Tiazídicos Bumetamida Amilorida* Ação central Clortalidona Furosemida Espironolactona Alfametildopa Hidroclorotiazida Piretanida Triantereno* Clonidina Indapamida Guanabenzo Indapamida SR*** Moxonidina Alça Rilmenidina Bumetamida Reserpina* Furosemida Piretanida Betabloqueadores Alfabloqueadores Vasodilatadores diretos Bloqueadores dos canais de cálcio Atenolol Doxazosina Hidralazina Fenilalquilaminas Bisoprolol Prazosina Minoxidil Verapamil Retard** Carvedilol+ Prazosina XL*** Metoprolol e Metoprolol (ZOK)*** Terazosina Nadolol Nebivolol++ Propranolol**/ Propranolol (LA)*** Pindolol 105105 105 Benzotiazepinas Inibidores da ECA Bloqueadores do receptor AT1 Inibidor direto da renina Diltiazem AP, SR ou CD*** Benazepril Candesartana Alisquireno Diidropiridinas Cilazapril Irbersartana Anlodipino Delapril Losartana Felodipino Enalapril Olmesartana Isradipina Fosinopril Telmisartana Lacidipina Lisinopril Valsartana Lercarnidipino Perindopril Manidipino Quinapril Nifedipino Oros*** Ramipril Nifedipino Retard*** Trandolapril Nisoldipino Nitrendipino Fonte: MALACHIAS, M. V. B. et al. Capítulo 7 – Tratamento medicamentoso. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [s.l.], v. 107, n. 3, p. 35-43, 2016. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp. Acesso em: 9 jul. 2019. PARA SABER MAIS A medição da pressão arterial deverá ser realizada em crianças a partir dos 3 anos de idade e para adolescentes em toda avaliação clínica, pelo menos anualmente. Os pontos de corte para a determinação da hipertensão deverão ser realizados segundo o percentil de estatura, idade e sexo. http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp 106106 2. Medicamentos antianêmicos O ferro é um mineral essencial para a formação da hemoglobina e o transporte de oxigênio, sendo esta a sua função mais conhecida. Além de ser constituinte do anel porfírio da hemoglobina, o ferro participa em processos de oxirredução no citocromo. Outra função do ferro é atuar na cascata oxidativa de redução do peróxido de hidrogênio, por meio da catalase. O ferro utilizado no organismo para exercer essas funções é proveniente da dieta e de hemácias envelhecidas. No caso do ferro dietético, vários fatores influenciam na sua biodisponibilidade, considerando desde o seu consumo, a sua absorção intestinal até sua utilização para a formação da hemoglobina. Após absorvido, o ferro poderá ficar estocado sob a forma de ferritina e hemossiderina nas células reticuloendoteliais do fígado, baço e da medula óssea. O ferro armazenado na forma de ferritina é mais solúvel e de mais fácil acesso quando comparado ao ferro da hemossiderina. O equilíbrio homeostático da concentração de ferro é regulado pela presença de hepcidina (denominada regulação sistêmica) e pelas proteínas reguladoras de ferro (denominada regulação intracelular). Sempre que ocorre a falta de ferro ou seus fatores eritropoiéticos, tais como eritropoietina, ácido fólico (vitamina B9) e cianocobalamina (vitamina B12), a produção de hemoglobina é afetada, levando ao desenvolvimento de anemia ferropriva (se for pela deficiência de ferro) ou anemia megaloblástica (se for pela deficiência de vitaminas B9 e B12). A anemia ferropriva e por falta de vitaminas poderá ser detectada, segundo o seu estágio de depleção de ferro, acompanhando o hemograma e demais exames bioquímicos (como a ferritina), conforme apresentado no Quadro 16 a seguir. 107107 107 Quadro 16 – Estágio de depleção do ferro no organismo diagnosticado a partir de exames bioquímicos 1º estágio Depleção dos estoques 2º estágio Depleção de ferro, sem anemia 3º estágio Depleção de ferro, com anemia Hemoglobina Normal Normal Diminuída Volume Corpuscular Médio (VCM) Normal Normal Diminuído Ferro sérico Normal Diminuído Diminuído Ferritina Diminuída Diminuída Diminuída Capacidade de ligação do ferro Normal Aumentada Aumentada Protoporfirina livre Normal Normal Aumentada Fonte: SILVA, 2007. A eritropoietina (EPO) é sintetizada principalmente pelas células peritubulares renais, havendo a necessidade de ministrar a EPO recombinante (denominada de alfaepoietina ou betaepoietina) quando o paciente apresenta alguma doença renal que comprometa a produção de EPO. A EPO recombinante é indicada nos casos de anemia por insuficiência renal crônica; anemia nos pacientes com SIDA em uso de agentes retrovirais, como a zidovudina; anemia em pacientes oncológicos em uso de quimioterapia; anemia em procedimento pré e perioperatório, e anemias de doenças crônicas (como artrite reumatoide). A via de utilização indicada para ministrar a EPO recombinante é intravenosa, subcutânea e intraperitoneal. Os sais de ferro são indicados pelo Ministério da Saúde em seu Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas. Deverá ser utilizado o sulfato ferroso, que irá variar de 5mg/ml a 40 mg/ml de ferro elementar (de acordo com prescrição médica), podendo ser utilizado por crianças, adolescentes, adultos, gestantes e idosos. 108108 Na falha à resposta da terapia medicamentosa por via oral, dada pela necessidade de correção rápida dos depósitos em período gestacional, hemodiálise e uso de eritropoietina, má absorção oral, patologia intestinal grave, como retrocolite ulcerativa, ileíte regional, doença de Crohn na fase ativa, pré-operatório, acloridria e gastrectomia total, recomenda-se a terapia com sacarato de hidróxido férrico, na dose de 100 mg, injetável, por via intravenosa, não sendo recomendado para gestantes após o 2º trimestre de gestação. A forma de escolha dos sais de ferro (forma ferrosa) é indicada por possuir melhor absorção no duodeno e jejuno proximal. Para não reduzir a biodisponibilidade dos sais de ferro, recomenda-se que o medicamento não seja administrado em conjunto com as refeições, pois os fosfatos, fitatos, tanatos e demais minerais (como o zinco e o cálcio) se ligam ao ferro, reduzindo sua absorção. Antiácidos, bloqueadores da bomba de prótons, antibióticos (como quinolonas e tetraciclinas), além de café, leite e derivados e ovos deverão ser ingeridos duas horas antes ou quatro horas depois do medicamento. Indica-se o consumo de alimentos que possuem ácido cítrico, como suco de laranja e suco de limão, nos horários de consumo do medicamento.O ferro é mais bem absorvido como sal ferroso (Fe2+) num ambiente levemente ácido, daí a indicação de tomá-lo com meio copo de suco de laranja ou limão. Na terapia medicamentosa, poderão ser utilizados também os sais ferrosos para uso oral à base de gluconato, succinato, fumarato e ferro quelato, sendo que a melhor absorção e o tratamento de custo mais baixo ainda é realizada com a terapia de reposição com sulfato ferroso. 109109 109 3. Quimioterápicos O desequilíbrio entre os ciclos de proliferação celular e a apoptose celular (morte celular) pode originar as neoplasias. O processo de desenvolvimento das neoplasias é conhecido como oncongênese ou carcionogênese, descrevendo os processos de mutações do DNA. Uma vez alterado o processo de equilíbrio entre a produção e a morte celular, três processos poderão ocorrer com as células: • A morte celular ocasionada pela detecção do erro; • Reparação do dano celular; ou • A transmissão do dano para as demais células-filhas. A quimioterapia antineoplásica atua no emprego de substâncias químicas com a finalidade de tratar as neoplasias malignas. Os medicamentos antineoplásicos agem no ciclo de divisão celular. É importante lembrar que o tumor maligno é constituído por três grupos de células: (1) aquelas que se dividem ativamente, nas fases denominadas G1, S, G2 e M; (2) as células que ficam paradas na fase G0; e (3) as células que perdem a sua capacidade reprodutiva e acabam morrendo ou sendo eliminadas. Os agentes antineoplásicos têm a capacidade de agir diretamente em diversas fases do ciclo celular, sendo o tratamento quimioterápico mais efetivo quando as células se reproduzem mais ativamente. O tratamento quimioterápico tem por finalidade ser neoadjuvante, que é aplicada antes do tratamento curativo, com o objetivo de reduzir o risco do procedimento cirúrgico e reduzir o risco de doenças a distância. A terapia poderá ser adjuvante, quando administrada após o tratamento principal, aumentando a chance de cura. A terapia é curativa quanto o tratamento é sistêmico e definitivo para a cura da doença. Já a terapia paliativa ocorre para o tratamento dos sintomas da doença, atuando na melhoria da qualidade de vida, sendo utilizada principalmente em tumores metastáticos. Os principais quimioterápicos e os mecanismos de ação encontram-se descritos no Quadro 17. 110110 Quadro 17 – Classificação dos quimioterápicos, nomes dos medicamentos e mecanismo de ação Classe do quimioterápico Nome dos medicamentos Mecanismo de ação Antimetabólitos: antagonistas do ácido fólico, purínicos e pirimidínicos Metotrexato (MTX) e raltitrexato, fludarabina, cladribina, mercaptopurina, tioguanina, 5-fluorouracil (5-FU), citarabina, gencitabina e capecitabina Incorporam-se à célula, bloqueando a produção de enzimas ou interpon- do-se às cadeias de DNA e RNA, trans- mitindo mensagens errôneas. São do tipo ciclo específico e agem em determinadas fases do ciclo celular Alquilantes: mostardas nitrogenadas, etilenaminas, nitrossureias e metais pesados Mecloretamina, melfalano, clorambucil, ifosfamida e ciclofosfamida, tiotepa, carmiustina, lomustina, estreptoocina, cisplatina, carboplatina e oxaliplatina Compostos capazes de substituir, em outra molécula, um átomo de hidro- gênio por um radical alquil. Ligam-se ao DNA de modo a impedir a sepa- ração dos dois filamentos do DNA na dupla hélice espiralar, fenômeno in- dispensável para a replicação. Afetam as células em todas as fases do ciclo celular de modo inespecífico. Rara- mente produzem efeito clínico ótimo sem a combinação com outros agen- tes fase-específicos do ciclo celular Inibidores mitóticos: alcaloides da vinca e taxanos Vincristina, cimblastina, vinorelbina, vindesina, docetaxel e paclitaxel Podem paralisar a mitose na metás- tase, por sua ação sobre a proteína tubulina, formadora dos microtúbulos pelo qual migram os cromossomos. Desse modo, os cromossomos, du- rante a metáfase, ficam impedidos de migrar, ocorrendo a interrupção da divisão celular. Interferem na forma- ção do fuso mitótico. São do tipo ciclo específico e agem na fase da mitose Antibióticos antitumorais Doxorrubicina, daunorrubicina, epirrubicina, idarrubicina, mitomicina, mitoxantrona, bleomicina, dactionomicina Atuam interferindo na síntese de ácidos nucleicos, impedindo a duplicação e a separação das ca- deias de DNA e RNA. São do tipo ciclo-inespecíficos e agem em to- das as fases do ciclo celular 111111 111 Miscelânia Hidroxiureia, procarbazina, L-asparaginase Medicamentos de composição química e ação pouco conhecidas Topoisomerase- interativos: derivados da camptotecina e da epipodofilotoxina Irinoteano e topotecano, etoposido e teniposido Interagem com a enzima topoisomerase I e II, interferindo na síntese do DNA. São ciclo- específicas e agem na fase S Pró-drogas São geralmente agentes alquilantes (temozolomida – pró-fármaco da dacarbazina) ou antimetabólitos (capecitabina – pró- fármaco do fluorouracil) Drogas inertes que requerem ativação enzimática celular para se tornarem agentes ativos. A enzima necessária, muitas vezes, é mais prevalente em tecido maligno, permitindo a seletividade do tecido e menor toxicidade Novos agentes Epotilonas – ixabepilona (Ixempra®) Estabiliza os microtúbulos Cabazitaxel (Jevtana®) Inibidor de microtúbulos Trabectedina (Yondelis®) Bloqueia o ciclo celular na fase G2/M e altera o mecanismo do reparo do DNA Citotóxicos associados a nanopartículas – Abraxane® É uma nova apresentação do paclitaxel ligado à albumina; além disso, não possui solventes como o Cremophor®, que elimina a necessidade de pré-medicação com esteroides ou anti-histamínicos. Lenalidomida – (Revlimid®) Possui propriedades antineoplásicas, antiangiogênicas e imunomoduladoras (imunidade mediada por células T e natural killer) e inibe a produção de citocinas pró-inflamatórias Terapia-alvo O objetivo final é afetar, especificamente, a célula maligna, preservando as células normais. Com a identificação da propriedade única de célula malignas (células- alvo). O agente interage somente com essa propriedade Fonte: RODRIGUES; MARTIN, 2016. 112112 Deve-se ressaltar a existência dos efeitos colaterais quando se utiliza a terapia com quimioterápicos. Os efeitos mais comuns ocorrem na medula óssea (como leucopenia, anemia e neutropenia), no sistema gastrointestinal (mucosite, diarreia, náuseas e vômitos) e sistema tegumentar (alopecia, hiperpigmentação e fotossensibilidade). Podem ocorrer, ainda, efeitos respiratórios (dispneia e estertores finos), cardiovasculares (cardiotoxicidade aguda, subaguda e crônica) e neurológicos (neurotoxicidade periférica, central e/ou autonômica) ASSIMILE As células eucarióticas apresentam seu ciclo celular dividido entre interfase (fases G1, S e G2) e a fase mitótica (mitose e citocinese) e fase G0. A interfase permite o crescimento celular e a replicação da cópia do seu DNA. Já a fase mitótica é responsável pela separação do material genético (DNA) em dois conjuntos similares, além da divisão do citoplasma, formando duas novas células. Caro aluno, neste capítulo, vimos sobre as formas de tratamento e a combinação medicamentosa possível para o controle da pressão arterial, assim como os diferentes mecanismos de ação. Os antianêmicos também foram estudados, assim como algumas particularidades em relação ao consumo alimentar. Por fim, os quimioterápicos e sua forma de ação foram estudados, destacando sua forma de atuação no organismo e os principais efeitos adversos. 113113 113 TEORIA EM PRÁTICA Muitos pacientes são encaminhados ao consultório para o tratamento da anemia. Como foi visto, uma vez que a anemia está diagnosticada, o tratamento deverá ser medicamentoso. Além disso, no Sistema Único de Saúde, existem medicamentos comumente utilizados para o controle da pressão por serem fornecidos gratuitamente no sistemade saúde. Considerando o exposto, faça uma lista de recomendações para serem entregues aos pacientes com anemia, indicando a melhor forma de interação entre alimentos e medicamento para o sucesso da terapia. E verifique junto ao sistema de saúde de sua região quais são os principais medicamentos utilizados no SUS para o tratamento da hipertensão arterial. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A pressão arterial elevada é fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, trombose e acidente vascular cerebral. A hipertensão é a elevação da pressão arterial e deverá ser diagnosticada quando os valores da pressão sistólica e diastólica, aferidos no consultório, forem: a. 140 mmHg/90 mmHg. b. 120 mmHg/80 mmHg. c. 135 mmHg/85 mmHg. 114114 d. 140 mmHg/90 mmHg. e. 140 mmHg/70 mmHg. 2. A anemia ferropriva é uma das doenças mais prevalentes no mundo e no Brasil. A principal população de risco consiste em crianças em fase de amamentação e gestantes. O tratamento da anemia deverá ser realizado com sais de ferro. Sobre a importância do ferro no organismo, pode-se dizer que: a. O ferro utilizado no organismo é proveniente somente da dieta. b. Após absorvido, o ferro poderá ficar estocado sob a forma de hemossiderina. c. A absorção do ferro dietético é alta e não é influenciada por fatores dietéticos. d. A hepcidina é responsável pelo transporte de ferro. e. A principal função do ferro no organismo é ser constituinte da enzima catalase. 3. O ciclo de proliferação celular possui três fases para replicação do material genético e consequente divisão. Durante a oncogênese, ocorre o desequilíbrio desse ciclo de proliferação celular. As fases do ciclo de divisão celular são: a. Interfase (mitose e citocinese), fase mitótica (fases G1, S e G2) e G0. b. Interfase (G0), fase mitótica (fase G1 e S) e G2. 115115 115 c. Interfase (fases G1, S e G2), fase mitótica (mitose e citocinese) e G0. d. Interfase (fases G1 e G2), fase mitótica (Fase S) e G0. e. Interfase (fase G0), fase mitótica (mitose e citocinese) e G1. Referências bibliográficas ANTUNES, S. A.; CANZIANI, M. E. F. Hepcidin: an important iron metabolism regulator in chronic kidney disease. Jornal Brasileiro de Nefrologia, [s.l.], v. 38, n. 3, p. 351-355, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbn/v38n3/pt_0101- 2800-jbn-38-03-0351.pdf. Acesso em: 8 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: volume. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: http://farmacia.saude.pe.gov.br/sites/farmacia.saude.pe.gov.br/files/protocolos_ clinicos_e_diretrizes_terapeuticas_volume_iii.pdf. Acesso em: 8 jul. 2019. CALZERRA, N. T. M.; GOMES, C. F.; QUEIROZ, T. M. de. Aspectos fisiopatológicos da hipertensão arterial dependente de angiotensina II: revisão integrada da literatura. Acta Brasiliensis, [s.l.], v. 2, n. 2, p. 69-73, 28 mai. 2018. 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Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [s.l.], v. 107, n. 3, p. 35-43, 2016. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/ diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp. Acesso em: 9 jul. 2019. OLIVEIRA, C. M. de. Agentes hematopoiéticos. In: ALMEIDA, J. R. C. de. Farmacologia e terapêutica clínica para a equipe de enfermagem. São Paulo: Atheneu, 2014. RODRIGUES, A. B. Oncogenese. In: RODRIGUES, A. B.; ROCHA, L. G.; MORAES, M. W. (Org.). Oncologia multiprofissional: bases para assistência. Manuais de especialização Einstein. Barueri: Manole, 2016. ______. Oncologia multiprofissional: bases para assistência. Manuais de especialização Einstein. Barueri: Manole, 2016. RODRIGUES, A. B.; MARTIN, L. G. R. Bases da quimioterapia, classificação dos quimioterápicos, cálculos em quimioterapia e segurança ocupacional. In: ______. Efeitos colaterais da quimioterapia e manejo. In: RODRIGUES, A. B. Oncologia multiprofissional: bases para assistência. Manuais de especialização Einstein. Barueri: Manole, 2016. SANJULIANI, A. F. Fisiopatologia da hipertensão arterial: conceitos teóricos úteis para a prática clínica. Revista da SOCERJ, v. 15, n. 4, p. 210-2018, 2002. SILVA, M. C. da. Anemia por deficiência de ferro na adolescência. Adolescência & Saúde, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 19-22, mar. 2007. Disponível em: http://www. adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=116. Acesso em: 8 jul. 2019. YAMAGISHI, J. A. et al. Anemia ferropriva: diagnóstico e tratamento. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, Ariquemes, v. 8, n. 1, p. 99-110, jun. 2017. Disponível em: http://repositorio.faema.edu.br:8000/ bitstream/123456789/1837/1/YAMASGISHI%20et%20al..pdf. Acesso em: 8 jul. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta A Resolução: a hipertensão arterial sistêmica é diagnosticada, segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, quando o valor da pressão sistólica for superior a 140 mmHg e a pressão diastólica, superior a 90 mmHg, com a medida realizada em adultos, segundo o protocolo determinado na diretriz. Feedback de reforço: retome os estudos e tente novamente! http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.asp http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=116 http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=116 http://repositorio.faema.edu.br:8000/bitstream/123456789/1837/1/YAMASGISHI%20et%20al..pdf http://repositorio.faema.edu.br:8000/bitstream/123456789/1837/1/YAMASGISHI%20et%20al..pdf 117117 117 Questão 2 – Resposta B Resolução: o ferro utilizado no organismo é decorrente da reciclagem das hemácias senescentes e do ferro proveniente da dieta. A absorção do ferro dietético é baixa e influenciada por fatores dietéticos, como o pH e a valência do íon ferro. A hepcidina é responsável pela regulação sistêmica da quantidade de ferro. A principal função do ferro no organismo é ser constituinte das hemácias. Feedback de reforço: retome os estudos e tente novamente! Questão 3 – RespostaC Resolução: as células eucarióticas apresentam seu ciclo celular dividido entre interfase (fases G1, S e G2) e a fase mitótica (mitose e citocinese) e fase G0. Feedback de reforço: retome os estudos e tente novamente! 118118 Nutracêuticos e alimentos funcionais Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Apresentar o histórico conceitual de alimentos funcionais. • Diferenciar nutracêuticos e alimentos funcionais. • Conhecer os compostos bioativos e sua aplicação na prevenção e no tratamento de doenças crônicas. 119119 119 Prezado aluno, o estudo da composição dos alimentos nos permitiu conhecer os alimentos funcionais e nutracêuticos, tema desta aula. Você conhecerá mais sobre a definição e a legislação vigente no Brasil, assim como os principais compostos bioativos e sua relação com a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis ou impedir seu agravamento. Bom estudo! 1. Conceituação e histórico de alimentos funcionais e nutracêuticos Os alimentos são constituídos de nutrientes, como vitaminas e minerais, possuem fibras, além de macronutrientes (como carboidratos, proteínas e lipídios). Porém, a matriz alimentar, ou seja, o alimento em si, é mais complexo do que ser somente fonte de determinado nutriente. Os alimentos podem apresentar outros compostos, denominados compostos bioativos, que também trazem benefícios à saúde. Assim, surge um dos princípios dos diversos conceitos de alimentos funcionais existentes pelo mundo, já que esses conceitos se modificam de acordo com o local de origem, como Estados Unidos, Canadá ou União Europeia. De certa forma, podem-se definir alimentos funcionais como sendo aquele que, além de suas funções básicas ou já conhecidas, oferecem compostos que modulam beneficamente uma ou mais funções específicas no organismo, aumentando a resposta fisiológica e/ou reduzindo o risco de doenças crônicas não degenerativas. Muitos dos alimentos/ingredientes funcionais que serão discutidos neste capítulo são relacionados com a redução ou o agravamentos de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, câncer, dislipidemias entre outras. O Quadro 18 apresenta as definições de alimentos funcionais em alguns locais do mundo. 120120 Quadro 18 – Histórico das definições de alimentos funcionais em diversas localidades no mundo Países/ano Definição de alimentos funcionais Japan Foods for Specified Health Use (FOSHU)/80s Os alimentos deveriam exercer um efeito na saúde ou fisiológico, além de serem alimentos comuns (não comprimidos ou cápsulas) e consumidos como parte de uma dieta normal. EC Concerted Action on Functional Food Science in Europe (FUFOSE)/ 90s Considerado um alimento que afeta beneficamente uma ou mais funções-alvo no organismo, além dos efeitos nutricionais adequados, de uma forma que seja relevante para um estado melhor de saúde e bem-estar e/ou redução do risco de doença, não sendo consumidos sob a forma de pílulas, cápsulas ou qualquer forma de suplemento dietético, fazendo parte de um padrão alimentar normal. Canadá (Health Canada) Componentes alimentares que trazem benefícios fisiológicos comprovados ou reduzem o risco de doenças crônicas, além das suas funções nutritivas básicas. Um alimento funcional é semelhante a um alimento convencional e os componentes ativos estão presentes naturalmente no alimento. EUA (Institute of Food Technologists) Alimentos e componentes alimentares que, além da nutrição básica, trazem benefício à saúde (para a população desejada). Essas substâncias fornecem nutrientes essenciais, muitas vezes além da quantidade necessária para manutenção, crescimento e desenvolvimento normais e/ou outros componentes biologicamente ativos que trazem benefícios de saúde ou têm efeitos fisiológicos desejáveis. Australia (National Center of Excellence in Functional Foods) Alimentos que correspondem às demandas dos consumidores em relação à saúde geral e ao bem-estar e previnem ou revertem as condições que comprometem a saúde. Fonte: adaptado de Howlett (2008), Costa e Rosa (2016). Já o termo nutracêutico é considerado como uma substância constituinte de um alimento ou parte de um alimento que proporciona benefícios para a saúde, abrangendo a prevenção e o tratamento de doenças crônicas. A terminologia é similar àquela dos alimentos funcionais, diferindo-se, porém, quanto à forma de consumo ou comercialização. Nutracêuticos podem ser comercializados de forma isolada (aminoácidos, ácidos graxos, cálcio, magnésio, entre outros), como suplementos dietéticos e dietas “desenhadas” geneticamente para uma função especifica no organismo, além de produtos fitoterápicos. 121121 121 O termo nutracêutico foi divulgado oficialmente à imprensa em 1994, sendo definido como “qualquer substância que possa ser considerada alimento ou parte de um alimento que possa fornecer benefícios médicos ou de saúde, incluindo a prevenção e o tratamento de doenças”. Tais produtos podem variar de nutrientes isolados, dietéticos, suplementos, alimentos geneticamente modificados, produtos fitoterápicos, entre outros. Porém, ainda não existe um consenso quanto à terminologia nem a legislação. PARA SABER MAIS Alimentos funcionais são aqueles alimentos que podem ser consumidos de forma tradicional, dentro de uma dieta equilibrada, e que trarão benefícios além dos convencionais, como a sardinha, rica em ômega-3. Já os nutracêuticos são alimentos comercializados em cápsulas, drágeas ou em outras formas que contêm esses mesmos compostos, como, por exemplo, cápsulas de ômega-3. 2. Legislação brasileira sobre substâncias bioativas No Brasil, a legislação vigente não define alimentos funcionais ou nutracêuticos. A portaria nº 398 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de 30 de abril de 1999, foi uma das primeiras legislações brasileiras publicadas sobre o tema. Ela visava a proteção à saúde da população e a necessidade de estabelecer as diretrizes básicas para a análise e comprovação de propriedades funcionais ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Foi realizada a distinção entre alimentos com alegação de propriedade funcional e alimentos com alegação de propriedade de saúde. No primeiro caso, consideram-se alimentos com alegação de 122122 propriedade funcional aquele relativo ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, na manutenção e em outras funções normais do organismo humano. Já os alimentos com alegação de propriedade de saúde são aqueles que afirmam, sugerem ou implicam a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou a última revisão da lista de alimentos com alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde. Os alimentos permitidos estão apresentados no Quadro 19. Quadro 19 – Nutrientes e não nutrientes com as alegações padronizadas e os respectivos requisitos específicos (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2016) Ácidos Graxos – EPA e DHA Alegação padronizada: “O consumo de ácidos graxos ômega 3 auxilia na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos, desde que associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: alegação padronizada está autorizada somente para uso em suplementos contendo óleos de peixes, óleo de krill ou óleo da microalga Schizochytriumsp., fontes de EPA e DHA já aprovados pela Agência quanto à segurança de uso e eficácia dos efeitos. As quantidades mínimas anteriormente exigidas de 100 mg de EPA e DHA não são suficientes para produção dos efeitos benéficos relacionados aos níveis de triglicerídeos. Portanto, os pedidos de avaliação de eficácia de alimentos e suplementos com alegações para os ácidos graxos EPA e DHA serão avaliados caso a caso. Alimentos-fonte: sardinha, atum, salmão, anchova, arenque, tilápia, óleos extraídos de peixes. Carotenoides –Licopeno Alegação padronizada: “O licopeno tem ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: a alegação padronizada está autorizada somente para uso em suplementos contendo licopeno extraído do tomate ou licopeno sintético Alimentos-fonte: 123123 123 Carotenoides – Luteína Alegação padronizada: “A luteína tem ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: para produtos que utilizem como fonte de luteína ingredientes não aprovados pela Anvisa, podem ser encaminhadas, junto ao pedido de avaliação de eficácia de alegação, as informações para demonstração de segurança de uso do ingrediente de acordo com a Resolução 17/1999. Alimentos-fonte: Carotenoides – Zeaxantina Alegação padronizada: “A zeaxantina tem ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: para produtos que utilizem como fonte de zeaxantina ingredientes não aprovados pela Anvisa, podem ser encaminhadas, junto ao pedido de avaliação de eficácia de alegação, as informações para demonstração de segurança de uso do ingrediente de acordo com a Resolução 17/1999. Alimentos-fonte: Fibras alimentares Alegação padronizada: “As fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 2,5 g de fibras, sem considerar a contribuição dos ingredientes utilizados na sua preparação. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Beta glucana em farelo de aveia, aveia em flocos e farinha de aveia Alegação padronizada: “Este alimento contém beta glucana (fibra alimentar), que pode auxiliar na redução do colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e baixa em gorduras saturadas e a hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser aprovada para aveia em flocos, farelo e farinha de aveia. A utilização da alegação em outros produtos/ alimentos está condicionada à comprovação científica de eficácia. Alimentos-fonte: 124124 Fibras alimentares – Dextrinas resistentes Alegação padronizada: “As fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis” Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 2,5 g de dextrina resistente. O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30 g na recomendação diária do produto pronto para consumo, conforme indicação do fabricante. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Frutooligossacarídeo – FOS Alegação padronizada: “Os frutooligossacarídeos – FOS (prebiótico) contribuem para o equilíbrio da flora intestinal. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a recomendação de consumo diário do produto pronto para consumo forneça no mínimo 5 g de FOS. A porção deve fornecer no mínimo 2,5 g de FOS. O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30 g na recomendação diária do produto pronto para consumo, conforme indicação do fabricante. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Goma guar parcialmente hidrolisada Alegação padronizada: “As fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 2,5 g de goma guar parcialmente hidrolisada. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Inulina Alegação padronizada: “A inulina (prebiótico) contribui para o equilíbrio da flora intestinal. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a recomendação de consumo diário do produto pronto para consumo forneça no mínimo 5 g de inulina. A porção deve fornecer no mínimo 2,5 g de inulina. O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30 g na recomendação diária do produto pronto para consumo, conforme indicação do fabricante Alimentos-fonte: 125125 125 Fibras alimentares – Lactulose Alegação padronizada: “A lactulose auxilia o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 3 g de lactulose. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Polidextrose Alegação padronizada: “As fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 2,5 g de polidextrose. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Psillium ou psyllium Alegação padronizada: “O psillium (fibra alimentar) auxilia na redução da absorção de gordura. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção diária do produto pronto para consumo forneça no mínimo 3 g de psillium. Alimentos-fonte: Fibras alimentares – Quitosana Alegação padronizada: “A quitosana auxilia na redução da absorção de gordura e colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo 3 g de quitosana. Para fins de uso da alegação, considera-se como quitosana o polissacarídeo linear formado a partir da desacetilação da quitina obtida do exoesqueleto de crustáceos utilizados como alimento pelo homem. Alimentos-fonte: Fitoesteróis Alegação padronizada: “Os fitoesteróis auxiliam na redução da absorção de colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: a porção do produto pronto para consumo deve fornecer no mínimo 0,8 g de fitoesteróis livres. Quantidades inferiores poderão ser utilizadas desde que a eficácia seja comprovada para o alimento. A recomendação diária do produto, que deve estar entre 1 a 3 porções/dia e deve garantir uma ingestão entre 1 a 3 gramas de fitoesteróis livres por dia. O termo “fitoesteróis” refere-se tanto aos esteróis e estanóis livres quanto aos esterificados Alimentos-fonte: 126126 Polióis – Manitol/xilitol/sorbitol Alegação padronizada: “Manitol/xilitol/sorbitol não produz ácidos que danificam os dentes. O consumo do produto não substitui hábitos adequados de higiene bucal e de alimentação. Requisitos específicos: alegação aprovada somente para gomas de mascar sem açúcar. Alimentos-fonte: Probióticos Alegação padronizada: a alegação de propriedade funcional ou de saúde deve ser proposta pela empresa e será avaliada, caso a caso, com base nas definições e nos princípios estabelecidos na Resolução n.18/1999. Requisitos específicos: caracterização do micro-organismo (identificação do gênero, da espécie e da cepa). A nomenclatura deve estar de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura de Bactéria. A comprovação de eficácia para efeitos funcionais deve estar baseada em evidências científicas robustas, construídas por meio de estudos clínicos, randomizados,duplo-cego e placebo controlados cujos desfechos demonstrem a relação proposta na alegação entre o consumo do produto objeto da petição, ou produto com matriz equivalente, e o efeito funcional. Alimentos-fonte: Proteína de soja Alegação padronizada: “O consumo diário de no mínimo 25 g de proteína de soja pode ajudar a reduzir o colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Requisitos específicos: para uso desta alegação, o produto deve atender, no mínimo, aos requisitos estabelecidos para o atributo “fonte” definidos na Resolução sobre Informação Nutricional Complementar (INC) Alimentos-fonte: Fonte: adaptado de Brasil, 2016. Para a regulamentação dos compostos bioativos, além da portaria nº 398, a Anvisa publicou as resoluções 17, 18 e 19, todas em 1999. A Resolução nº 17 estabelece as diretrizes básicas para a avaliação do risco e a segurança dos alimentos. Já a Resolução nº 18, estabelece as diretrizes básicas para a análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde alegada em rotulagem de alimentos. E a Resolução nº 19 estabelece os procedimentos de registro de alimentos com alegações de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem. Todos os novos alimentos e/ou compostos bioativos deverão comprovar a segurança para o consumidor, além da efetividade do componente bioativo. 127127 127 3. Mecanismo e forma de ação dos compostos bioativos Os compostos bioativos apresentam como principal mecanismo de ação a interação com radicais livres e a inibição de compostos, como gorduras e monossacarídeos. Durante os processos metabólicos do organismo, decorrentes da presença de oxigênio, ocorre a formação dos chamados radicais livres ou também conhecidos como Espécies Reativas de Oxigênio (EROs). Um dos elétrons fica desemparelhado e instável, necessitando retirar esse elétron de ácidos graxos poli- insaturados presentes na membrana celular, como, por exemplo, o excesso de radicais livres. Para combater os radicais livres, com a doação do elétron faltante e estabilização das reações, têm-se os agentes antioxidantes, como vitaminas (retinol, ácido ascórbico e tocoferol), além de compostos bioativos, como os compostos fenólicos, tais como xantonas, flavonoides, isoflavonoides, lignanas, entre outros. Esses compostos interagem, preferencialmente, com o radical peroxil, por ser este mais prevalente na etapa da auto-oxidação e por possuir menor energia do que outros radicais. Outros compostos, como as quitosanas e as fibras alimentares, atuam na inibição do processo absortivo de colesterol, triglicérides e monossacarídeos. No estômago, pode ocorrer a formação de sais solúveis com a capacidade de reagir com ácidos biliares, interferindo no processo de emulsificação das gorduras, que ficarão livres e se ligarão às fibras alimentares. Por fim, um dos últimos mecanismos de ação dos compostos bioativos é a fermentação de carboidratos que serão utilizados pelas bactérias endógenas, auxiliando na modificação da microbiota gastrointestinal. Esses microrganismos podem, por exemplo, utilizar os componentes prebióticos (como os frutooligossacarídeos, e estimular a diferenciação das células T auxiliares na redução de imunoglobulinas, ajudando na resposta imunológica. O Quadro 20 apresenta os compostos bioativos e seus respectivos efeitos fisiológicos. 128128 Quadro 20 – Compostos bioativos com respectivos efeitos fisiológicos e suas fontes alimentares Composto ativo Efeito Fonte Carotenoides Atividade antioxidante e anticancerígena (útero, próstata, mama, cólon, reto e pulmão) Frutas (melancia, mamão, me- lão, damasco, pêssego), vegetais (cenoura, espinafre, abóbora, brócolis, tomate, inhame, nabo) Fitoesteróis Redução dos níveis de colesterol total e LDL-colesterol Óleos vegetais, sementes, nozes, algumas frutas e vegetais Glucosinolatos Detoxificação do fígado, atividade anticancerígena e antimutagênica Brócolis, couve-flor, repolho, rabanete, palmito e alcaparra Ácido fenólico Atividade antioxidante Frutas (uva, morango, frutas cítricas), vegetais (brócolis, re- polho, cenoura), chá, berinjela, salsa, pimenta, tomate, agrião Flavonoides Atividade antioxidante, redução do risco de câncer e de doença cardiovascular Frutas cítricas, brócolis, couve, tomate, berinjela, soja, abóbora, salsa, nozes, cereja Isoflavonas Inibição do acúmulo de estrogênio, redução das enzimas carcinogênicas. Leguminosas (principalmente soja) Catequinas Atividade antioxidante, redução do risco de doenças cardiovasculares Uva, vinho tinto, morango, chá verde, chá preto, cacau Antocianinas Atividade antioxidante Amora, framboesa Ácidos graxos (Ômega-3 e Omega-6) Redução do risco de câncer e de doenças cardiovasculares, redução da pressão arterial Peixes de água fria, óleo de canola, linhaça, nozes Oligossacarídeos e polissacarídeos Redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol Frutas, verduras, leguminosas, cereais integrais Prebióticos Regulação do trânsito intestinal e da pressão arterial, redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol total e triglicérides, redução da intolerância à glicose Chicória, cebola, alho, tomate, aspargo, alcachofra, banana, cevada, cerveja, centeio, aveia, trigo, mel Probióticos Regulação do trânsito intestinal, redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol total e triglicérides, estímulo ao sistema imunológico Iogurte, leite fermentado Fonte: BASHO; BIN, 2010. 129129 129 ASSIMILE Os probióticos são microrganismos vivos que atuam de forma benéfica à saúde gastrointestinal. Já os prebióticos são componentes à base de carboidratos fermentáveis, utilizados pelas bactérias colônicas para sua divisão e seu funcionamento. É necessário o consumo de prebióticos e probióticos para uma boa saúde gastrointestinal e prevenção de doenças. Caro aluno, neste capítulo, você conheceu os principais compostos bioativos e seu efeito fisiológico, além de aprender que não existe um consenso sobre o conceito de alimentos funcionais no Brasil e no mundo. Você também conheceu os nutracêuticos, que possuem compostos bioativos, mas podem ser comercializados em cápsulas, drágeas e outras formulações. TEORIA EM PRÁTICA Uma das principais aplicações dos compostos bioativos refere-se ao mecanismo antioxidante e combate aos radicais livres, um dos precursores oncogênicos. Considere uma paciente de 65 anos que procurou atendimento para a elaboração de um planejamento alimentar para o pós-operatório de um câncer de mama que ela deverá realizar em 15 dias. A paciente não consome alimentos de origem animal (exceto peixes e derivados), nem laticínios/ derivados. O câncer da paciente é estimulado pela presença de estrógeno. A partir dessas informações, e considerando os compostos bioativos que deverão ser utilizados para evitar o agravamento da doença, indique quais alimentos deverão ser utilizados e os efeitos esperados. 130130 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. É considerado como uma substância constituinte de um alimento ou parte de um alimento que proporciona benefícios para a saúde, mas pode ser comercializado de forma isolada (aminoácidos, ácidos graxos, cálcio, magnésio, entre outros) ou como suplemento dietético. Essa definição refere-se a: a. Alimento funcional. b. Composto bioativo. c. Nutracêutico. d. Matriz alimentar. e. Nutriente. 2. No Brasil, a legislação define __________ aquele relativo ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, na manutenção e em outras funções normais do organismo humano: a. Alegação de propriedade de saúde. b. Alegação de propriedade funcional. c. Alegação de compostos bioativos. d. Alegação de bioequivalência. e. Alegação de saúde. 131131 131 3. Um dos principais mecanismos dos compostos bioativos é o combate aos radicais livres, caracterizado como atividade antioxidante.Dos compostos ativos a seguir, aqueles que apresentam atividade antioxidante são: a. Prebióticos. b. Isoflavonas. c. Oligossacarídeos. d. Polissacarídeos. e. Ácido fenólico. Referências bibliográficas ANGELO, P. M.; JORGE, N. Compostos fenólicos em alimentos – uma breve revisão. Revista Instituto Adolfo Lutz (Impr.), São Paulo, v. 66, n. 1, 2007. Disponível em: http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0073- 98552007000100001&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 jul. 2019., v. 29, n. 1, p. 113, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/qn/v29n1/27866.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. BASHO, S. M.; BIN, M. C. Propriedades dos alimentos funcionais e seu papel na prevenção e controle da hipertensão e diabetes. Interbio, v. 4, n. 1, p. 48-58, 2010. Disponível em: https://www.unigran.br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol4_num1/ arquivos/artigo7.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lista de alegações de propriedade funcional aprovadas. 2016. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1800442/mod_resource/content/1/ ANVISA%2C%202016%20-%20Alimentos%20funcionais.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 398, de 30 de abril de 1999. Diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 30 abr. 1999. Disponível em: http://bvsms. saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/1999/prt0398_30_04_1999.html. Acesso em: 10 jul. 2019. http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0073-98552007000100001&lng=pt&nrm http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0073-98552007000100001&lng=pt&nrm http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0073-98552007000100001&lng=pt&nrm https://www.unigran.br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol4_num1/arquivos/artigo7.pdf https://www.unigran.br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol4_num1/arquivos/artigo7.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1800442/mod_resource/content/1/ANVISA%2C%202016%20-%20Alimentos%20funcionais.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1800442/mod_resource/content/1/ANVISA%2C%202016%20-%20Alimentos%20funcionais.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/1999/prt0398_30_04_1999.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/1999/prt0398_30_04_1999.html 132132 ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n° 17, de 30 de abril de 1999. Regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para avaliação de risco e segurança dos alimentos. Seção 1, p. 11. 1999. ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n° 18, de 30 de abril de 1999. Regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Diário Oficial da União, 3 mai. 1999, Seção 1, p. 11. ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n° 19, de 30 de abril de 1999. Regulamento técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem. Brasília, DF. Seção 1, p.11. 1999. CANADÁ. Agriculture and Agri-food (Ed.). Functional Foods and Natural Health Products Sector. 2019. Disponível em: http://www.agr.gc.ca/eng/industry-markets- and-trade/canadian-agri-food-sector-intelligence/functional-foods-and-natural- health-products/?id=1170856376710. Acesso em: 10 jul. 2019. COSTA, N. M. B.; ROSA, C. O. B. (Org.). Alimentos funcionais: componentes bioativos e efeitos fisiológicos. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2016. DAMIAN, C. et al. Quitosana: um amino polissacarídeo com características funcionais. Alimentos e Nutrição Araraquara, v. 16, n. 2, p. 195-205, 2009. Disponível em: http://200.145.71.150/seer/index.php/alimentos/article/ viewArticle/320. Acesso em: 10 jul. 2019. DIETETIANS OF CANADA. Functional foods. Disponível em: https://www.dietitians. ca/Your-Health/Nutrition-A-Z/Functional-Foods.aspx. Acesso em: 10 jul. 2019. HOWLETT, J. Functional foods: from science to health and claims. Bélgica: Lsi Europe, 2008. Disponível em: https://ilsi.org/mexico/wp-content/uploads/ sites/29/2016/09/Functional-Foods.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta C Resolução: nutracêuticos podem ser comercializados de forma isolada (aminoácidos, ácidos graxos, cálcio, magnésio, entre outros), como suplementos dietéticos e dietas “desenhadas” geneticamente para uma função específica no organismo, além de produtos fitoterápicos. Feedback de reforço: leia mais sobre a definição de nutracêuticos. http://www.agr.gc.ca/eng/industry-markets-and-trade/canadian-agri-food-sector-intelligence/functiona http://www.agr.gc.ca/eng/industry-markets-and-trade/canadian-agri-food-sector-intelligence/functiona http://www.agr.gc.ca/eng/industry-markets-and-trade/canadian-agri-food-sector-intelligence/functiona http://200.145.71.150/seer/index.php/alimentos/article/viewArticle/320 http://200.145.71.150/seer/index.php/alimentos/article/viewArticle/320 https://www.dietitians.ca/Your-Health/Nutrition-A-Z/Functional-Foods.aspx https://www.dietitians.ca/Your-Health/Nutrition-A-Z/Functional-Foods.aspx https://ilsi.org/mexico/wp-content/uploads/sites/29/2016/09/Functional-Foods.pdf https://ilsi.org/mexico/wp-content/uploads/sites/29/2016/09/Functional-Foods.pdf 133133 133 Questão 2 – Resposta B Resolução: alegação de propriedade funcional aquele relativo ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, na manutenção e em outras funções normais do organismo humano. Feedback de reforço: reveja a Portaria nº 198. Questão 3 – Resposta E Resolução: prébioticos: regulação do trânsito intestinal. Isoflavonas: inibição do acúmulo de estrogênio, redução das enzimas carcinogênicas. Oligossacarídeos e polissacarídeos: redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol. Feedback de reforço: que tal rever mais sobre o mecanismo de ação dos compostos bioativos? 134134 Apresentação da disciplina Farmacocinética e farmacodinâmica Objetivos 1. Como agem os fármacos em nosso organismo? TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Interações e biodisponibilidade na relação droga-nutriente Objetivos 1. O que é biodisponibilidade? 2. Interação fármaco-nutriente 3. Interação fármaco-fitoterápico 4. Interação fármaco-fármaco TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Drogas para o tratamento de diabetes e obesidade no estado nutricional Objetivos 1. Conceituação e fisiopatologia da obesidade 2. Principais medicamentos no tratamento da obesidade 3. Conceituação e fisiopatologia do diabetes 4. Principais medicamentos no tratamento do diabetes e sua forma de ação 5. Diabetes gestacional: fisiopatologia, algoritmo e principais medicamentos TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Drogas que alteram o trato gastrointestinal no estado nutricional Objetivos 1. Principais manifestações no trato gastrointestinal 2. Doenças esofágicas 3. Doenças estomacais 4. Doenças intestinais TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Drogas antitireoidianas, corticoides e anabolizantes no estado nutricional Objetivos 1. Disfunções tireoidianas 2. Glicocorticoides 3. Hormônios esteroides e esteroides anabolizantes TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Medicamentos anti-hipertensivos, antianêmicos e quimioterápicos no estado nutricional Objetivos 1. Medicamentos anti-hipertensivos 2. Medicamentos antianêmicos 3. Quimioterápicos TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃODE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito Nutracêuticos e alimentos funcionais Objetivos 1. Conceituação e histórico de alimentos funcionais e nutracêuticos 2. Legislação brasileira sobre substâncias bioativas 3. Mecanismo e forma de ação dos compostos bioativos TEORIA EM PRÁTICA VERIFICAÇÃO DE LEITURA Referências bibliográficas Gabarito