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1PROCESSAMENTO DE CARNES E DERIVADOS Texto em Revisão Teórica 01 A Carne como Alimento E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide Introdução A carne é comumente definida como sendo constituída pelos tecidos animais, via de regra o tecido muscular, utilizados como alimento. Uma definição mais abrangente diz que “carne é todo e qualquer tecido animal propício ao consumo humano”. Nesta definição se inclui: peles (confecção de pururucas, enchimento em embutidos, produção de gelatinas), ossos (fabricação de gelatinas e geléias de mocotó), intestinos (envoltórios e enchimentos de embutidos), órgãos (fígado, coração, língua, etc.), rabo, orelha e pés (enchimentos de embutidos, elaboração de produtos como a feijoada, rabada, etc.), desde que sadios e obtidos em condições higiênico- sanitárias satisfatórias. Embora quase toda espécie animal possa ser usada como carne, a maioria das espécies consumida pelos homens é proveniente de animais domésticos e organismos aquáticos. Em termos gerais, as carnes podem ser subdivididas em várias categorias. A maior categoria em termos de volume de consumo é a “carne vermelha”, em que se incluem bovinos, suínos, ovinos e caprinos. Carnes de aves são geralmente consideradas separadas das carnes vermelhas de animais terrestres, sendo categorizadas como “carnes brancas”. As aves mais importantes para o consumo humano são as galinhas, perus, patos e, em menor extensão, aves de pequeno porte. Os peixes e animais marinhos, também de “carne branca”, são agrupados como pescados. Já a carne de animais não- domesticados (lebres, rãs, baleias, faisões, etc.) é chamada de “carnes de caça”, constituindo uma categoria de menor expressão. A importância relativa destas várias fontes de carnes na dieta varia de região para região e para diferentes culturas; muitas são rejeitadas por várias razões em uma cultura, mas são completamente aceitas em outras. No subcontinente indiano, a carne bovina tem menor preferência, tanto economicamente quanto socialmente, quando comparada com as carnes de cordeiros, carneiros e aves, enquanto na maioria dos países industrializados o inverso é observado; carnes de cachorro, cavalo ou macaco são repugnadas pelos consumidores do ocidente enquanto são apreciadas em outros lugares. O Consumo de Carne no Mundo Do ponto de vista econômico a indústria de carnes é uma das principais indústrias do setor de alimentos, sendo a maior em termos de geração de empregos e volume de recursos e capital empatados (cerca de 30%, o que é o dobro da segunda maior indústria de alimentos, a de leite e derivados). A indústria de carnes envolve e emprega uma série diversificada de profissionais capacitados (zootecnistas, veterinários, engenheiros de alimentos, etc.) e profissionais liberais (açougueiros, fazendeiros e seus peões e capatazes, etc.), envolvidos nas diversas etapas de obtenção deste produto. Atualmente, o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango e o terceiro maior de carne suína. Entre os anos de 1980 e 1999, o aumento na produção de carnes no mundo foi da ordem de 68% (Figura 1.1). Este crescimento, do consumo e produção, tem sido proveniente, principalmente, dos países em desenvolvimento e que tendem a aumentar, cada vez mais, sua participação no setor de carnes. Nota-se que, dentre as espécies mais comumente comercializadas no mundo, o aumento no consumo de carnes suínas e de aves tem sido maiores do que da carne bovina, sendo que a carne suína vem, há algum tempo, liderando o ranking no consumo mundial de proteína animal. Isto se deve às Eduardo&Alcineia Text Box RAMOS, E.M. TRA149 - Tecnologia do Processamento de Carnes & Derivados. Texto didático (apostila reprografada), v.1 (Fundamentos Teóricos). Itapetinga: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). 2005. E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide2 0 20 40 60 80 100 M ilh õe s (T EC ) 1980 1985 1990 1995 1998 1999 Ano Suinos Bovinos Aves características peculiares da carne suína, que permitem diversificar o seu processamento, oferecendo uma grande variedade de produtos sob diversas opções de consumo. Esta diversidade de produtos ofertados, em uma época em que são marcantes as modificações nos hábitos alimentares e a praticidade é cada vez mais almejada pelos consumidores, permitiu que a carne suína ampliasse a sua participação na dieta. A carne de frango, por também possuir estas peculiaridades, vem aumentando proporcionalmente sua participação mundial, mas ainda encontra-se muito aquém da hegemonia suína, embora já tenha alcançado a segunda colocação, até então ocupada pela carne bovina. Sua principal vantagem está relacionada ao seu preço relativo, o que vem contribuindo para uma expansão no consumo, principalmente nos países em desenvolvimento. Na Europa a queda no consumo de carne bovina tem sido mais drástica, por enfrentar diversos problemas sanitários e de mercado que resultaram em escândalos, começando com o possível uso de hormônios de crescimento e antibióticos, seguido das acusações de maus tratos no transporte e abate dos bovinos, da crise da vaca louca (BSE) e, mais recentemente, da contaminação das rações por dioxina. Foi também devido a estes fatores que o Brasil conseguiu consolidar-se como o principal país exportador mundial de carne bovina no início do ano de 2003, superando a Austrália e os Estados Unidos. A carne bovina brasileira possui o rótulo “Boi Verde” e, ou, “Boi Orgânico”, que são atribuídos à carne de bovinos criados num sistema ecologicamente correto, suplementado com alimentos de origem exclusivamente vegetal. O Boi Orgânico refere-se a bovinos criados em pastos sem agrotóxico e sem adubação química, com aplicação de princípios preventivos de doenças e tratados com medicamentos homeopáticos e fitoterápicos. Já o Boi Verde, refere- se aos bovinos criados em pastos sem agrotóxico, mas permite-se o uso de adubos sintéticos solúveis, de antibióticos e medicamentos alopáticos. Associado a estes fatores o consumo de carnes vermelhas tem reduzido nos últimos anos, devido aos constantes questionamentos que vem sofrendo quanto à sua relação com doenças como câncer, hipertensão, obesidade e problemas cardiovasculares. Estes questionamentos serão discutidos no item 4. A carne é um produto tão nobre e importante para a economia de um país que o poder sócio-econômico de um povo pode ser medido pelo consumo per capita de carnes. À medida que as pessoas elevam seu status social e, ou, econômico, elas tendem a consumir uma quantidade maior de produtos cárneos e passam a exigir produtos de melhor qualidade. Assim, à medida que uma nação se industrializa e aumenta sua posição sócio-econômica, o consumo de carnes aumenta. A Figura 1.2 ilustra o contraste entre o suprimento total de carnes em países de diferentes posições sócio- econômica. Composição e Valor Nutricional da Carne A carne e os produtos cárneos são excelentes fontes de proteínas de alta qualidade nutricional e sua composição de aminoácidos complementa dietas protéicas deficientes, a base de cereais e outros vegetais. Além de fornecer ferro na forma heme, de excelente biodisponibilidade, e aumentar a absorção de ferro não-heme, bem como zinco, de outras fontes alimentares, a carne é uma rica fonte de vitaminas do complexo B e outros minerais. Além disto, a carne é um dos poucos alimentos capaz de satisfazer o consumidor, saciando-lhe a fome e dando-lhe prazer. ComComComComComposição da Carposição da Carposição da Carposição da Carposição da Carcaçacaçacaçacaçacaça A composição da carcaça (corpo animal desprovido de couro, vísceras e conteúdo intestinal) Figura 1.1. Produção mundial (milhões de toneladas) de carnes bovina, suína e de aves no período de 1980 a 1999. Fonte: FAO (2002). A Carne como Alimento 3 0 10 20 30 40 Fo rn ec im en to p er c ap ita (K g/ an o) Bovinos Suínos Aves Pescados Tipo de carne Paises desenvolvidos Países industrializados Países em desenvolvimento Países menos desenvolvidos é avaliada em termos dos três principaiscomponentes: músculo, gordura e ossos; sendo influenciada por fatores genéticos, sexo, idade e condições de manejo e criação do animal. A composição do músculo (Tabela 1.1) reflete a variação na composição da carcaça, sendo também dependente do tipo de músculo enfocado e de sua função no corpo animal, da raça, da forma de criação, da alimentação, dentre outros fatores ComComComComComposição da Carposição da Carposição da Carposição da Carposição da Carne Magne Magne Magne Magne Magrrrrraaaaa Em termos gerais, se o conteúdo de gordura é mantido relativamente uniforme, a composição química da carne apresenta-se constante para uma grande variedade de animais. Uma vez que, diferentes cortes de carne variam em quantidades de gordura intramuscular (entre as fibras musculares), intermuscular (entre os músculos) e de cobertura, Figura 1.2. Fornecimento per capita (Kg/ano) de carnes de diferentes espécies animais em países desenvolvidos e em desenvolvimento no ano de 1999. Fonte: FAO (2002). Tabela 1.1. Composição (% do peso fresco) aproximada do músculo esquelético de mamíferos Fonte: Forrest et al. (1975). Componente % Componente % 1. ÁGUA (65-80%) 75,0 3. GORDURA (1,5-13,0%) 3,0 2. PROTEÍNAS (16-22%) 18,5 Lipídios neutros 1,0 2.1. Miofibrilares 9,5 Fosfolipídios 1,0 Miosina 5,0 Colesterol 0,5 Actina 2,0 Cerebrosídeos 0,5 Proteína C 0,2 4. SUBSTÂNCIAS NITROGENADAS NÃO- PROTÉICAS 1,5 Proteína M 0,4 Creatina e fosfocreatina 0,5 Tropomiosina 0,8 Nucleotídeos (ATP, ADP, etc.) 0,3 α-Actinina 0,2 Outros (uréia, creatinina, IMP, NAD, etc.) 0,1 β-Actinina 0,1 Peptídios (carnosina, taurina, etc.) 0,3 2.2. Sarcoplasmáticas 6,0 Aminoácidos livres 0,3 Solúveis e enzimas mitocondriais 5,5 5. CARBOIDRATOS E SUBSTÂNCIAS NÃO- NITROGENADAS (0,5-1,5%) 1,0 Mioglobina (Mb) 0,3 Glicogênio (0,5-1,3%) 0,8 Hemoglobina (Hb) 0,1 Glicose 0,1 Citocromo e flavoproteínas 0,1 Produtos intermediários do metabolismo celular (ribose, ác. lático, hexose, etc.) 0,1 2.3. Estromais 3,0 6. MINERAIS 1,0 Colágeno e reticulina 1,5 Potássio 0,3 Elastina 0,1 Fósforo (fosfato e fósforo inorgânico) 0,2 Outras proteínas insolúveis 1,4 Enxofre 0,2 Cloro e Sódio 0,2 Outros (Mg, Ca, Fe, Co, Cu, Zn, Mn, etc.) 0,1 E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide4 estimativas do conteúdo nutricional da carne são mais confiáveis quando a gordura destas porções é considerada. A carne magra representa o tecido muscular e a gordura intermuscular do animal, sendo mais uniforme em sua composição quando comparada com a carne gorda. Os valores médios para a composição química e o conteúdo energético das carnes gorda e magra são mostrados na Tabela 1.2. A remoção da gordura da carne implica no aumento dos níveis de proteína e umidade e no decréscimo significativo na quantidade de energia. Água A água é, quantitativamente, o componente mais importante da carne, constituindo cerca de 75% do peso desta. Por ser um componente abundante, a água tem grande influência na qualidade da carne, afetando, primeiramente, a suculência, bem como a textura, cor, sabor e valor nutricional. Por também influenciar as reações biológicas, sua presença e, ou, ausência, afeta diretamente as reações que ocorrem na carne durante o armazenamento e processamento. Proteínas Do ponto de vista da nutrição, os componentes nitrogenados da carne são, provavelmente, os mais importantes. As proteínas da carne são de alto valor biológico (possuem todos os aminoácidos essenciais e bem balanceados) e apresentam alta digestibilidade. Cem gramas de carne cozida fornecem cerca de 50% das necessidades diárias de um adulto. Lipídios A carne é um alimento rico em gorduras, sendo muito criticada quanto ao aspecto de alimentação saudável. O seu conteúdo pode variar largamente dependendo de vários fatores como, espécie e raça animal, sexo, alimentação, tipos de músculos (cortes), grau de separação da gordura nas várias fases de manuseio da carne (processamento da carcaça, preparação de cortes comerciais, remoção pelo consumidor), condições de cozimento, entre outros. Os lipídios estão distribuídos de quatro formas no tecido animal. A maior quantidade está, sem dúvida, armazenada debaixo da pele (gordura de cobertura) e ao redor dos órgãos (gordura cavitária/ visceral). Estes depósitos constituem a gordura visível e podem contribuir com até 40-50% do peso total da carne gordurosa, sendo facilmente removidas durante o processamento comercial, antes do cozimento ou mesmo na mesa antes do consumo. Pequenas quantidades de gordura são, ainda, visíveis entre os músculos (gordura intermuscular) e entre as fibras musculares (gordura intramuscular ou gordura de Tabela 1.2. Composição química de cortes frescos de carnes gorda (gordura de cobertura com aproximadamente um cm de espessura) e magra de diferentes espécies animais Fonte: Franco (1999). Espécie animal Cortes Proteína (g/100g) Gordura (g/100g) Umidade (g/100g) Calorias (Cal/100g) Boi Carne gorda 18,70 19,50 61,80 250,3 Carne magra 21,00 3,00 76,00 111,0 Costela gorda 15,00 35,60 49,40 380,4 Costela magra 19,60 12,00 68,40 186,4 Lagarto 19,50 11,00 69,50 170,0 Porco Carne gorda 16,30 24,50 59,20 285,7 Carne magra 18,50 11,90 69,60 181,0 Costeleta pouco gorda 17,33 30,60 52,07 344,7 Costeleta magra 20,00 20,00 60,00 260,0 Pernil 15,20 31,00 53,80 339,8 Carneiro Carne gorda 15,40 29,10 55,50 323,5 Carne magra 17,00 6,00 77,00 122,0 Costeleta 17,80 16,30 65,90 217,9 Lombo 16,00 33,10 50,90 361,9 Galinha Carne gorda 18,90 17,80 63,30 235,8 Carne magra 21,30 7,10 71,60 149,0 A Carne como Alimento 5 marmoreio), constituindo cerca de 20 a 22% do total de lipídios da carne e contribuindo para a sua suculência, sabor e maciez. Embora a gordura intramuscular seja visível como “marmorização”, esta não pode ser removida durante o processamento e, desde que não seja em excesso, a sua presença é desejável. Uma vez que a limitação da ingestão de gordura é um método comum de controlar o peso, associado ao fato da obesidade e alta ingestão calórica serem freqüentemente relacionados a riscos de câncer, a demanda por carne magra e produtos cárneos com baixa quantidade de gordura tem aumentado nas últimas décadas. O conteúdo de gordura, principalmente de ácidos graxos saturados, e de colesterol na carne também tem sido associado ao risco de doenças cardiovasculares. Estas implicações serão discutidas mais profundamente nos itens seguintes. É comum assumir que toda gordura presente na carne seja saturada, com a maior parte das discussões sendo, incorretamente, enfocada no teor de ácidos graxos saturados. A carne contém uma mistura de ácidos graxos, onde menos de 50% correspondem aos saturados (Tabela 1.3). Dos ácidos graxos saturados, o ácido palmítico e mirístico parecem ser os principais fatores da dieta que aumentam o nível de colesterol no sangue. Entre estes, o ácido mirístico é considerado o mais arterogênico, possuindo um potencial de elevar o colesterol quatro vezes maior do que o ácido palmítico. Entretanto, a carne possui pequenas quantidades de ácido mirístico, sendo o palmítico e o esteárico os ácidos graxos saturados presentes em maior quantidade. Além disso, nem todos os ácidos graxos saturados possuem este efeito na elevação do colesterol no sangue. Um efeito na redução do colesterol tem sido reportado ao ácido oléico, maior componente da gordura animal, e o ácido esteárico aparentemente possui um efeito neutro, embora também possa contribuir para a redução do colesterol (aparentemente pela sua conversão a ácido oléico). Carboidratos A carne é muito pobre em carboidratos, estando presentes na forma de polissacarídeos (glicogênio) e monossacarídeos (glicose). De fato, conteúdo de carboidrato da carne e dos produtos cárneos é desprezível e, com exceção dos produtos processados em que açúcares ou outras fontes contendo carboidratos foram adicionados, tem pouco efeito no valor nutricional do produto final. Imediatamenteapós o abate do animal, os músculos contêm cerca de 1% de carboidratos, representados principalmente pelo glicogênio, que desaparece quase por completo (para cerca de 0,1%) na resolução do rigor mortis. Tabela 1.3. Distribuição típica de ácidos graxos* e grau de saturação de gorduras de carne magra cozida de bovinos, suínos, caprinos e aves * A composição de ácidos graxos da carne não é alterada pelo cozimento ou tipo de cozimento adotado. Fonte: Adaptado de VARNAM e SUTHERLAND (1995) e USDA Composition of Foods: Raw, Processed, Prepared. USDA Human Nutrition Information Service; Handbooks 8-1 a 8-17 (1976-1992). Espécie animal Bovino Suíno Ovinos Aves Ácidos graxos (% em relação aos ác. graxos totais) Saturados 14:0 Mirístico 2,5 1,5 2,0 1,3 16:0 Palmítico 24,5 24,0 21,0 23,2 18:0 Esteárico 18,5 14,0 28,0 6,4 20:0 Ariquídico 0,5 0,5 0,5 - Insaturados 16:1 Palmitoleico (ω-7) 3,1 3,5 3,0 6,5 18:1 Oléico (ω-9) 40,0 43,0 37,0 41,6 18:2 Linoléico (ω-6) 5,0 9,5 4,0 18,9 18:3 Linolênico (ω-3) 0,5 1,0 - 1,3 Razão polinsaturado/saturado 0,11 0,25 0,07 0,64 Ácidos graxos (% em relação à gordura total) Saturados 38,2 35,4 35,7 27,5 Monoinsaturados 42,1 44,7 43,8 35,9 Polinsaturados 3,4 7,5 6,5 22,8 E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide6 Uma vez que o fígado é o principal local de estocagem de glicogênio nos animais, a maior parte dos carboidratos é encontrada neste órgão. O fígado de bovinos e suínos contém cerca de 3% e 1% de carboidratos, respectivamente. Vitaminas Vitaminas são substâncias orgânicas que funcionam em quantidades muito reduzidas, mas são vitais para muitas formas de vida. Muitas funcionam como componentes essenciais de determinadas enzimas importantes nas reações metabólicas, outras, como as vitaminas C, K e E, possuem atividade coenzímica. O corpo humano não é capaz de sintetizar, por si só, vitaminas e, por isso, deve recebê-las regularmente em quantidades suficientes através da dieta. A carne é uma importante fonte de vitaminas do complexo B, mas é pobre em vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e vitamina C. Entretanto, o fígado e os rins, juntamente com outros órgãos, são ricos em vitamina A e fornecem quantidades apreciáveis de vitamina D, E, K e C (Tabela 1.4). Vale ressaltar que, embora a carne seja uma fonte pobre de vitamina C, os produtos cárneos podem se apresentar como fontes substanciais desta vitamina pela adição de ácido ascórbico no processamento. A cobalamina (vitamina B12), essencial para a maturação normal e desenvolvimento de hemácias, é requerida em pequenas quantidades diárias (1,5 µg/ dia). Entretanto, alimentos de origem animal provêm a única fonte confiável desta vitamina e deficiências são observadas em dietas vegetarianas. Assim, é recomendada aos vegetarianos a ingestão de suplementos de vitaminas do complexo B, uma vez que a quantidade consumida de alimentos fortificados com estas vitaminas é muito baixa. Minerais A carne contém uma grande variedade de sais minerais, sendo, geralmente, uma boa fonte destes para nutrição humana, exceto de cálcio. A maior parte do cálcio está presente nos ossos e dentes, e pequenas quantidades no músculo e outros tecidos comestíveis. Entretanto, em certas carnes desossadas ou separadas mecanicamente (CMS) o conteúdo de cálcio pode ser grandemente aumentado devido à presença de pequenos fragmentos de ossos no produto. Em termos quantitativos, o fósforo e o potássio são os mais importantes (Tabela 1.5), exceto em carnes curadas adicionadas de sais de sódio, que o tornam o maior componente. A carne também é uma boa fonte de oligoelementos como zinco e ferro. A carne vermelha é uma excelente fonte de ferro, sendo que 50 a 60% deste se encontram complexado com o grupo orgânico heme. O ferro heme, proveniente da hemoglobina e mioglobina, é altamente biodisponível e absorvido por um Tabela 1.4. Composição típica de vitaminas na carne e em órgãos de diferentes espécies animais Tr = traços. Fonte: Lawrie (1998). Vitamina (unidade/100 g) Fonte A (U.I.) B1 (mg) B2 (mg) Niacina (mg) Ac. Pantotênico (mg) Biotina (µg) Ac. Fólico (µg) B6 (µg) B12 (µg) C (mg) D (µg) CARNE Bovina Tr 0,07 0,20 5,00 0,40 3,00 10,0 0,30 2,00 0 Tr Suína Tr 1,00 0,20 5,00 0,60 4,00 3,00 0,50 2,00 0 Tr Caprina Tr 0,15 0,25 5,00 0,50 3,00 3,00 0,40 2,00 0 Tr ÓRGÃOS Cérebro Tr 0,07 0,02 3,00 - 2,00 6,00 0,10 9,00 23,0 Tr Rins Bovino 150 0,37 2,10 6,00 - 24,0 77,0 0,32 31,0 10,0 - Suíno 110 0,32 1,90 7,50 - 32,0 42,0 0,25 14,0 14,0 - Fígado Bovino 17000 0,23 3,10 13,4 - 33,0 330 0,83 110 23 1,13 Suíno 10000 0,31 3,00 14,8 - 39,0 110 0,68 25,0 13,0 1,13 A Carne como Alimento 7 mecanismo diferente e mais eficiente do que o ferro não-heme, presente em alimentos vegetais, por envolver receptores específicos. A absorção de ferro heme é da ordem de 15 a 25%, contra 1 a 7% do ferro não-heme de fontes vegetais, sendo que a maior absorção é observada para as carnes vermelhas; peixes e aves possuem absorção de 23 e 40% em relação à carne bovina, respectivamente. As carnes não somente contribuem com o ferro heme, altamente biodisponível, mas também promovem a sua absorção (heme e não-heme), por conterem um fator, ou fatores, conhecido como Efeito Carne ou Fator Carne. Ou seja, a simples presença de carne na dieta favorece a absorção do ferro oriundo de fontes vegetais. Este efeito não é observado em todos os produtos de origem animal; enquanto a carne possui este efeito, proteínas do leite e de ovos inibem ou não afetam a absorção de ferro de origem vegetal. A biodisponibilidade de zinco também é aumentada quando consumida com proteína de origem animal e é reduzida por inibidores, como fitatos e oxalatos, que são encontrados em grandes quantidades em dietas de origem vegetarianas. Isto explica as baixas quantidades de zinco encontradas no plasma de indivíduos vegetarianos, apesar da ingestão de altas quantidades deste mineral. Questionamentos Sofridos pela Carne Como qualquer outro alimento, a carne e seus derivados contêm elementos, que em certas circunstâncias e em proporções não adequadas, têm um efeito negativo na saúde humana. Alguns destes elementos são constituintes, naturais ou não, presentes no animal vivo (gordura, colesterol e resíduos provenientes de poluição ambiental ou por usos farmacêuticos). Outros são adicionados ao produto durante o processamento por razões tecnológicas, microbiológicas ou sensoriais (sal, nitrito, fosfato, etc.), produzidos pelo processamento tecnológico (incluindo contaminantes de detergentes e desinfetantes, compostos tóxicos formados durante o cozimento, etc.) e oriundos, particularmente, das fases de estocagem e comercialização (crescimento de patógenos, formação de produtos da oxidação lipídica, migração de compostos do material de embalagem, etc.). Dentre os aspectos negativos que constantemente causam uma falta de confiança no produto, encontra- se a relação de certos constituintes da carne com algumas doenças que mais preocupam nossa sociedade (doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão e obesidade). Outros fatores incluem o surgimento de casos ou surtos que causam um grande impacto na mídia, como a salmonelose em frangos e a Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE ou doença da vaca-louca). Estes dois tipos de fenômenos embora sejam de naturezas diferentes, juntos têm ajudado a criar uma situação crítica que está levando a um prejuízo para a indústria de carnes. A questão é até onde as acusações e cobranças feitas sobre a carne, principalmente a vermelha, possuem baseamento científico. Tabela 1.5. Conteúdo de minerais de carnes e órgãos de diferentes espécies animais Fonte: Lawrie (1998) e Aberle et al. (2001). Minerais (mg/100g) Tecido Cinzas (%) Ca P Fe Na K Mg Cu Zn CARNES Bovina 0,8 11 171 2,8 65 355 18 0,13 4,3 Suína 1,2 9 175 2,3 70 285 18 0,11 2,4 Ovelhas 1,2 10 147 1,2 75 295 15 0,13 4,0 Vitela 1,0 11 193 2,9 90 320 15 0,135,4 ÓRGÃOS Cérebro - 12 340 1,6 140 270 15 0,3 1,2 Rins Bovino - 10 230 5,7 180 230 15 0,4 1,9 Suíno - 8 270 5,0 190 290 19 0,8 2,6 Ovinos - 10 240 7,4 220 270 17 0,4 2,4 Fígado Bovino - 6 360 7,0 81 320 19 2,5 4,0 Suíno - 6 370 21,0 87 320 21 2,7 6,9 Ovinos - 7 370 9,4 76 290 19 8,7 3,9 E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide8 GorGorGorGorGordurdurdurdurdura e Colesa e Colesa e Colesa e Colesa e Colesttttterererererololololol Há evidências de que dietas ricas em gorduras, além de causar obesidade, estão diretamente relacionadas ao risco de câncer de cólon, mama e próstata, além de doenças cardiovasculares. Neste cenário, a indústria de carne tem sofrido constantes ataques devido à correlação entre seus produtos e a incidência destas doenças, justamente devido ao colesterol e à gordura saturada que contém. Infelizmente, estas acusações, em sua grande maioria não fundamentada ou erroneamente difundida, têm sido divulgadas constantemente pela mídia e aceita pelos consumidores como fato. Doenças Cardiovasculares A maior causa de mortes em algumas partes de países industrializados é devido a doenças cardiovasculares, sendo que o colesterol e os ácidos graxos saturados têm sido implicados como um importante fator de risco. Os lipídeos são encontrados em todas as células e tecidos, mas não são suficientemente polares para circularem livremente em um meio aquoso como o plasma. Daí a necessidade de um carreador (proteínas) para livre circulação na forma de lipoproteínas. O transporte de lipídios na circulação sangüínea é realizado por três tipos de lipoproteínas: (1) lipoproteínas de baixa densidade (LDL), em que 46% da molécula é o colesterol; (2) lipoproteínas de alta densidade (HDL), com 20% de colesterol; e (3) lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), com apenas 8% de colesterol. Os altos níveis de colesterol no sangue estão associados com a incidência de doenças cardiovasculares, devido à formação de placas coronarianas (Figura 1.3). No entanto, várias pesquisas têm demonstrado que altos níveis de HDL e baixos níveis de LDL estão associados com a menor incidência destas doenças e, por esta associação, estes têm sido referidos como colesterol “bom” e “mau”, respectivamente. Fato é que não existe “bom” ou “mau” colesterol. O colesterol é um só e não é um veneno mortal, mas sim uma substância vital para as células. Trata-se de um esteróide (lipídeo simples) produzido no fígado, que além de estar envolvido no transporte de gordura na circulação sanguínea, faz parte da membrana celular dos tecidos e é precursor de compostos importantes, como a bile, hormônios, vitamina D, dentre outros. Uma vez que a ingestão de ácidos graxos saturados (principalmente, mirístico e palmítico) eleva o nível de colesterol plasmático, estes também são associados com a incidência de doenças cardiovasculares. Após vários anos de investigação intensiva, a verdadeira causa das doenças coronárias não é ainda totalmente conhecida, embora alguns fatores de risco tenham sido identificados. Dentre estes figuram aqueles que não podem ser controlados, como: # Hereditariedade - Pessoas com histórico familiar Figura 1.3. Arteriosclerose: (A) O colesterol forma um complexo com os lipídeos e proteínas, chamado lipoproteína. Nesta interação, a LDL acaba sendo oxidada por radicais livres presentes na célula; (B) Esta oxidação aciona um mecanismo de defesa e, imediatamente, glóbulos brancos juntam-se ao sítio, e este fica inflamado; (C) Após algum tempo cria-se uma placa no meio do vaso sanguíneo; sobre esta placa, ocorre uma deposição lenta de cálcio, numa tentativa de isolar a área afetada; (D) Isto pode interromper o fluxo sanguíneo normal (arteriosclerose) e vir a provocar inúmeras doenças cardíacas (aneurismas, trombose e infarto). A Carne como Alimento 9 de doenças cardíacas são mais propensas. Outras doenças como diabetes e hipertensão, também se encontram no grupo de risco. # Idade - Idosos mais propensos, uma vez que os níveis de colesterol aumentam a partir dos 20 anos. Maiores incidências ocorrem em homens com idades acima de 42 anos e mulheres com mais de 55 anos. # Sexo - Os homens são mais propensos à problemas cardíacos por apresentarem níveis de colesterol maiores do que mulheres na mesma idade. Entretanto, mulheres na menopausa possuem um maior nível de colesterol LDL plasmático, o que aumenta o risco de doenças coronarianas. Outros fatores de risco mais importantes são: # Obesidade - Pessoas obesas são mais propensas à doenças cardiovasculares devido a um aumento do colesterol LDL e redução do HDL. # Estresse - Os hormônios do estresse elevam a pressão sangüínea e o nível de gordura no sangue. # Tabagismo. # Sedentarismo - A falta de atividade física reduz a relação HDL/LDL no sangue. Associado a isto, pessoas sedentárias tendem a apresentar um maior grau de obesidade e serem mais propensas ao estresse. # Dieta - Acredita-se que a ingestão de alimentos ricos em colesterol e gorduras saturadas seja responsável por uma maior incidência de doenças cardíacas. Dentre estes fatores de risco o que tem gerado maiores discussões é a dieta. Devido a estas implicações, várias instituições internacionais, entre elas a Word Health Organization (WHO, 1990), têm sugerido as seguintes recomendações nutricionais: a gordura deve fornecer entre 15 e 30% das calorias de uma dieta, sendo que a saturada não deve exceder mais do que 10% destas e a ingestão do colesterol deve ser limitado a 300 mg/dia. Também são feitas recomendações quanto ao nível de colesterol e triglicerídeos sanguíneo (Tabela 1.6). Neste sentido, confusões são feitas entre o termo colesterol sangüíneo e colesterol da dieta. Para a maioria dos indivíduos, o colesterol da dieta tem baixo ou nenhum efeito sobre os níveis de colesterol sérico, uma vez que o corpo controla a síntese de colesterol, reduzindo quando a ingestão pela dieta é alta e aumentando quando a ingestão é baixa. Cerca de 600 a 3.000 mg (dependente do sexo, idade, entre outros fatores) de colesterol é sintetizado e metabolizado (no fígado) diariamente pelo corpo humano. Uma vez que o colesterol é sintetizado a partir de qualquer fonte de carbono, qualquer dieta rica em calorias tende a levar ao acúmulo de gorduras e colesterol, independentemente da ingestão de alimentos gordurosos ou não. Assim, o corpo sintetiza e circula quantidades tão elevadas de colesterol que o efeito da dieta é insignificante, a não ser que ingestões maciças sejam consideradas. Tomemos como exemplo a carne, que possui cerca de 80 mg de colesterol/100g em média (Tabela 1.7). Esta quantidade é muito pequena para ter um efeito no colesterol sérico da maioria da população, que inclui aquelas com níveis de colesterol sangüíneo normal e aquelas que não são geneticamente propensas a responder normalmente a uma dieta de colesterol. Durante os últimos cinco anos, vários estudos epidemiológicos sobre a relação entre os fatores de risco da dieta e a morbidade e mortalidade causada por doenças coronarianas, reportaram nenhuma relação significativa entre a ingestão de colesterol da dieta e a incidência destas doenças quando na análise multivariada incluem-se dietas gordurosas e fibras. Isto reforça a suposição de que dietas ricas em produtos de origem animal contribuem para o problema de doenças cardiovasculares, não por introduzirem elementos de risco, mas por serem naturalmente pobres em fibras. A taxa de excreção dos excedentes não metabolizados no organismo é reduzida em dietas pobres em fibras, o que permite a absorção e acúmulo deste excedente sob a forma de gordura e colesterol. Aliado a isto, a presença de substâncias antioxidantes em alimentos de origem vegetal (fenóis, flavonóides, vitaminas, etc.), especialmente, frutas, ajudam a evitar a oxidação do LDL e, consequentemente, a formação de placas coronarianas. Outras substâncias, como o resveratrol Tabela 1.6. Limites de colesterol sanguíneo para adultos Quantidade (mg/dl de sangue) Desejáveis LimítrofesAumentados Colesterol total Abaixo de 200 200-239 Acima de 240 LDL colesterol Abaixo de 130 130-159 Acima de 160 HDL colesterol Acima de 35 - - Triglicerídeos Abaixo de 200 - Acima de 200 E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide10 (responsável pelo “paradoxo francês” – relação entre consumo de vinho tinto e a diminuição das doenças cardiovasculares), encontrada em cascas de uvas, atuam favorecendo a produção de lipoproteínas HDL. O fato é que se tem observado que pouco adianta a administração de dietas pobres em colesterol. Acredita-se hoje, que apenas as pessoas com uma predisposição genética a altos valores de colesterol (hipercolesterolemia) são beneficiadas pela redução do colesterol da dieta. Ainda assim, o único modo eficaz de diminuir os níveis de colesterol no sangue é com o uso de medicamentos que, em geral, tem muitos efeitos colaterais. Doenças Cancerígenas Estudos têm relacionado dietas ricas em proteínas de origem animal com a ocorrência de câncer, principalmente o do cólon. Esta relação vem sendo atribuída à maior ingestão de gorduras saturadas, as quais seriam, junto com a bile excretada para a sua digestão, oxidadas no estômago, gerando compostos cancerígenos e mutagênicos. Mas se o câncer pode ser oriundo da oxidação de gorduras no sistema digestivo, vale perguntar se não seria mais provável uma maior geração de compostos carcinogênicos a partir da ingestão de gorduras polinsaturadas, uma vez que estas são mais susceptíveis à oxidação do que as saturadas de origem animal? No entanto, estudos têm demonstrado que o consumo de carne e o risco de câncer não são consistentes, sendo que o verdadeiro efeito atribuído à carne per si é pequeno ou mascarado pelo baixo consumo de frutas, vegetais e cereais pelos consumidores de carnes. Assim, dietas mais afluentes (ricas em proteína animal) teriam, por serem mais pobres em fibras, maior tempo de trânsito, devido a menor estímulo dos movimentos peristálticos, permitindo uma maior oxidação do bolo alimentar e conseqüente absorção de compostos cancerígenos. Outrossim, estas dietas levariam a uma diminuição na ingestão de nutrientes com propriedades anticancerígenas, como as vitaminas A, C e E, mais encontrados em alimentos de origem vegetal. Portanto, os fatores relacionados à dieta são complexos e variados, sendo que quando são levados em consideração pode-se ilustrar porque a carne vermelha é, ou não é, associada com risco de câncer, ou mesmo porque muitos estudos são inconsistentes. Alguns estudos, por exemplo, usam gordura saturada em sua metodologia e extrapolam os resultados para a carne. Isto é correto? Os níveis de ingestão de carne estudada estão próximos ou acima dos níveis recomendado? Nos estudos ocorre um consumo excessivo de carne ou uma carência de alimentos de outro grupo? Muito se fala sobre o efeito potencial de compostos presentes em vegetais e frutas (fitoquímicos) na prevenção de doenças, mas fatores de proteção similar oriundo de produtos animais (zooquímicos), como o ácido linoléico conjugado (CLA)1, também devem ser pesquisados. Finalmente, vários estudos em que se sugere a Alimento (100g) Colesterol (mg) Alimento (100g) Colesterol (mg) Carne bovina Peru Magra 81 Carne escura 85 Com gordura 86 Carne clara 69 Carne suína Pescado Magra 81 Bagre (frito) 81 Com gordura 84 Salmão 87 Bacon 85 Ovo inteiro 274 Carne ovina Presunto 59 Magra 122 Mortadela 59 Com gordura 122 Leite integral 14 Frango Queijo Frito com pele 167 Mussarela 54 Cozido (sem pele) 85 Cream cheese 111 Tabela 1.7. Conteúdo médio de colesterol de alguns alimentos de origem animal 1 Mistura de isômeros do ácido linoléico, somente encontrado em quantidades satisfatórias em carne de ruminates e produtos de lacticínios, principalmente queijos, podendo ser incorporado na carne, leite e ovos através da sua suplementação na dieta animal. O interesse pelo CLA está no fato de que pequenas quantidades (0,1% da dieta) apresentam atividade antimultagênica e antioxidante em experimentação animal, independentemente da quantidade e do tipo de gordura consumida. Sua presença parece também inibir a arteriosclerose em coelhos. Entretanto, o potencial para a nutrição humana ainda não é conhecido e o conteúdo de CLA na dieta necessita de mais pesquisas. A Carne como Alimento 11 associação entre a ingestão de gordura saturada ou carne vermelha e vários tipos de câncer, apenas apontam esta possibilidade para altos níveis de ingestão. Em níveis de ingestão baixos ou moderados, nenhuma associação foi observada. Com maiores evidências que contestam a tese de que lipídeos, em especial os saturados, constituem um fator de risco no desenvolvimento do câncer, há uma tendência em implicar outros compostos presentes na carne, como o ferro, ou outros formados durante o processamento (elaboração e defumação), ou mesmo cozimento da carne, como compostos N- nitrosos (nitrosaminas) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) como responsáveis pela correlação entre câncer e carnes vermelhas. NitrNitrNitrNitrNitritititititos e Nitros e Nitros e Nitros e Nitros e Nitratatatatatososososos Nitritos e nitratos são aditivos químicos adicionados no processo de cura de carnes, visando a sua conservação e desenvolvimento de sabor e cor característicos em derivados de carnes curadas (presuntos, salames, salsichas etc.). Do ponto de vista de conservação, nitrito é o único aditivo que se conhece capaz de inibir a produção da toxina pelo Clostridium botulinum, responsável pela doença conhecida como botulismo. A toxina deste microrganismo interfere na liberação da acetilcolina, no sistema de transmissão e ampliação do estímulo nervoso para os músculos danificando-o e, desta forma, provoca paradas cardíacas e, principalmente, respiratórias, levando à morte se ingerida em concentrações suficientemente elevadas. A grande preocupação com o emprego de nitritos e nitratos é o perigo de formação de nitrosaminas (N- nitrosos), compostos cancerígenos, com propriedades mutagênicas e teratogênicas2, formados pela reação de derivados do nitrito com aminas secundárias em alimentos protéicos como a carne. Nitritos e nitratos são adicionados em produtos cárneos em quantidades máximas de 150 e 300 mg/ kg, respectivamente. O nitrito (NO2) é o agente ativo de cura responsável pela formação da cor, sabor e aroma característicos de produtos cárneos e pela ação antimicrobiana, enquanto o nitrato (NO3) não tem ação no processo de cura, sendo convertido a nitrito durante o processamento pelas bactérias nitrato- redutoras naturalmente presentes na carne. Embora cerca de 40 mg/kg de nitrito sejam suficientes para conferir a cor, aroma e sabor de produtos curados, valores inferiores a 150 mg/kg são insuficientes para prevenir o crescimento e produção de toxina do Clostridium botulinum. Devido à possibilidade de riscos à saúde, substitutos para o nitrito têm sido pesquisados, mas até o momento não se encontrou nenhum que seja efetivo no controle do botulismo. Até então, apenas se confirmou a formação de tumores devido a nitrosaminas, formadas por ingestão de nitrito, em ratos de laboratório. Entretanto, a extrapolação para níveis humanos é bastante discutida. Dados de pesquisas realizadas em 1976, pelo Instituto Americano de Pesquisa do Câncer (IAPC), com a ingestão massiva de nitrosaminas por ratos, demonstraram que, considerando as concentrações de nitrosaminas normalmente presentes em produtos cárneos, seriam necessários a ingestão diária de 7 toneladas destes produtos para que um ser humano viesse a apresentar câncer. Segundo o Instituto Americano de Carnes (AMI), 98% do nitrito ingerido diariamente são provenientes de outras fontes e não de produtos cárneos curados, sendo que 80% são provenientes da própria saliva. Além disso, no processo de cura de carnes se emprega o ácido ascórbico para acelerar a conversão do nitrito à óxido nitroso (NO), acelerando o processo de cura. Ocorre que o ácido ascórbico também age inibindo a formação de nitrosaminas.Para se minimizar a probabilidade da ingestão de nitrosaminas não se recomenda a pré-mistura de condimentos com nitritos/nitratos. Outrossim, vale lembrar que a ingestão de nitrosaminas e, ou, seus precursores também se fazem presente pelo consumo de vegetais e outros alimentos (Tabela 1.8), pelo uso de adubação nitrogenada com nitritos e nitratos. Tem- se verificado que dietas vegetarianas levam à ingestão diária de 21,4 mg de nitrito/nitrato, contra 5 mg em produtos curados. Assim sendo, também é possível a ingestão de nitrosaminas pré-formadas, ou a sua formação nos estômagos e intestinos, após a ingestão de vegetais. HorHorHorHorHormôniosmôniosmôniosmôniosmônios Hormônios são utilizados na produção de carnes com o intuito de se aumentar o apetite e a conversão alimentar dos animais de abate, visando o aumento de produtividade em carnes. Ao contrário do que se pensa, hormônios levam a um aumento na deposição de tecido muscular e ao decréscimo na deposição de tecido gorduroso, uma vez que eles atuam ajustando o metabolismo celular no sentido de inibirem a síntese de gordura e ativarem a síntese protéica. Desta maneira, a utilização de hormônios leva à produção de carnes mais magras, o que vem de encontro com a recente preocupação dos consumidores com a 2 Formação e desenvolvimento no útero de anomalias que levam a malformações. E.M. Ramos, P.R. Fontes & L.A.M. Gomide12 ingestão de gordura de origem animal e problemas cardiovasculares a ela supostamente associados. Apesar das vantagens oferecidas, o emprego de hormônios na produção de carnes apresenta alguns problemas do ponto de vista de qualidade e tem sofrido questionamentos do ponto de vista da saúde pública. Estudos realizados com a ingestão massiva de hormônios (estrogênios) mostraram a ocorrência de tumores cancerígenos em seres humanos e animais. Entretanto, há de se considerar que estes estudos foram conduzidos em condições de extrema ingestão. Estudos realizados com as quantidades normalmente existentes em carnes e produtos vegetais não mostraram qualquer efeito fisiológico. No que diz respeito ao uso de hormônios, como de qualquer aditivo em alimentos, a lei estabelece limites de tolerância para dosagens e tempo de remoção pré-abate. Neste sentido, o FDA americano, o qual coordena, examina e autoriza a utilização de remédios e aditivos nos EUA, admite o emprego de hormônios naturais para a produção de carnes, desde que a dosagem utilizada seja equivalente a 1% da produção normal de hormônios de uma pessoa do segmento mais sensível da população. Associado a esta recomendação, apenas 10% do hormônio ingerido na dieta é absorvido pelo sistema digestivo. A Tabela 1.9 mostra a produção diária de hormônios (estrógenos) em seres humanos e os níveis de hormônios normalmente encontrados em 85g de carne bovina e outros alimentos. Pode-se observar que se associando a recomendação do FDA (dosagem de 1%) à absorção máxima de 10%, uma pessoa teria de consumir mais de duas toneladas de carne para sair da faixa de segurança; ou ainda, o consumo de 85 g de bife proveniente de um animal criteriosamente implantado representaria apenas 10-4 dos 1% dos hormônios naturalmente produzidos por uma mulher fora do período de gestação. O questionamento de uso indevido (doses elevadas, não observância de períodos de remoção, etc.) não pode ser considerado como um empecilho ao emprego de qualquer substância. Se assim for, a humanidade correrá o risco de ver a sua produção de alimentos cair enquanto a população continua a aumentar, uma vez que o mesmo raciocínio poderá ser aplicado ao uso de fertilizantes, defensivos agrícolas, dentre outros. Cabe ao governo, à sociedade, às indústrias e, principalmente, ao consumidor, educar e conscientizar os produtores e manipuladores de alimentos do papel que exercem na saúde e bem-estar de um povo, adotando e aplicando com seriedade severas leis de responsabilidade penal para aqueles que negligente e inescrupulosamente colocarem em risco o consumidor para maximizar lucros. O CusO CusO CusO CusO Custtttto da o da o da o da o da PrPrPrPrProdução de Carodução de Carodução de Carodução de Carodução de Carnesnesnesnesnes Outra pressão exercida sobre a indústria mundial de carnes são as questões sociais: poluição, maior utilização de recursos hídricos3, cada vez mais escassos, e, principalmente, a questão da produtividade protéica por área. Argumenta-se que, partindo-se do produto Tabela 1.8. Concentração (mg/Kg) de nitratos e nitritos em vegetais Fonte: Araújo (1999). Tabela 1.9. Comparação de níveis de estrógeno em carne e outros alimentos com a produção diária em humanos Fonte: Bogges et al. (1990). Vegetal Nitrato Nitrito Repolho 784 0,5 Pepino 24 0,5 Beringela 302 0,5 Alface 1100 0,4 Cenoura 200 0,8 Espinafre 2200 2,5 Brócolis 740 1,0 Couve-flor 480 1,1 Aspargo 44 0,6 Vagem 340 0,6 Beterraba 2400 4,0 Milho 45 2,0 Cebola 170 0,7 Batata 110 0,6 Item Estrógeno (mg) Carne de novilho não implantado (84 g) 1,3 Carne de novilho implantado (84 g) 1,9 Ovo de galinha 993 Repolho (112 g) 2.700 Óleo de Soja 1.680.000 Leite 11 Produção diária, menina antes da puberdade 54.000 Produção diária, homem adulto 136.000 Produção diária, Mulher adulta 480.000 Produção diária, mulher gestante 20.000.000 3 apenas no abate, incluindo-se lavagem de currais e pocilgas, consomem-se cerca de 2.500 e 1.200 litros por bovino e suíno, respectivamente. A Carne como Alimento 13 vegetal, para se produzir 1 kg de carne são necessárias cerca de 15 kg de soja e 3 kg de milho. Assim, por área utilizada, é possível se produzir até 10 vezes mais proteína de origem vegetal que proteínas de origem animal. Este é um argumento difícil de ser combatido, porém deve-se sempre lembrar o valor nutricional (biológico) relativo de cada uma destas proteínas. Há também que se considerar todos subprodutos oriundos da indústria da carne. Além disso, não é necessário que a produção de carnes utilize áreas que são adequadas para a agricultura. bovinos podem ser criados confinados, o que diminui consideravelmente a relação de área/ tonelada de proteína, ou pode ainda ser criados em áreas de topografia menos favoráveis, e portanto pouco ou nada utilizáveis para a agricultura. A produtividade protéica da carne bovina pode, ainda, ser melhorada com a introdução de cargas genéticas diferenciadas e voltadas para a maximização da produção de tecido muscular, tratos mais adequados, e, como tem sido feito no Brasil, abates de animais mais precoces. Do ponto de vista de utilização dos recursos hídricos, estima-se que a produção de proteínas de carnes consome de 4 a 45 vezes mais água que para a produção de proteínas vegetais. Contudo, grande parte desta água (aquela utilizada no abate) pode ser reutilizada desde que convenientemente tratada antes de ser lançada de volta aos mananciais de água. A este respeito ainda pode-se dizer que o uso de agrotóxicos (para se aumentar a produtividade agrícola, através da minimização de perdas) é um dos grandes responsáveis pelo escasseamento de água potável a nível mundial. O mesmo ponto de vista é aplicado para a questão da poluição. Desde que se faça uma melhor e mais racional utilização de subprodutos, especialmente o sangue (DBO de 150.000 a 200.000 mg/dm3), o efeito poluente da indústria da carne será consideravelmente diminuído. Um outro exemplo desta diminuição da carga poluidora da indústria animal pode ser vislumbrado através da utilização de dejetos animais não apenas como adubo, mas inclusive como alimento de outros animais. Neste sentido, alguns resultados recentes têm demonstrado que bovinos alimentados com a mistura do excremento de suínos tem um maior ganho de peso diário, o que além de diminuir o efeito poluente, também aumenta a produtividade/área na pecuária, uma vez que animais que atingem ponto de abate mais cedo acabam por ceder o espaço que ocupavam para animais mais jovens. Aqui também vale lembrar os efeitos poluentes dos agrotóxicos, já citado anteriormente. ReferênciasConsultadas ABERLE, E.D., FORREST, J.C., GERRARD, D.E., MILLS, E.W. Principles of Meat Science. 4 ed. New York: Kendall/Hunt Publishing Company, 2001. 354p. ARAÚJO, J.M.A. Química de Alimentos: Teoria e Prática. 2a Edição. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1999. 416p. 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