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1 EMPREGADOR: GRUPO ECONÔMICO E SUCESSÃO DE EMPREGADORES CONCEITO DE EMPREGADOR O artigo 2 da CLT, conceitua o empregador como, empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. [...] Pessoa física também pode ser empregador, empregador doméstico, por exemplo. Para ser empregador não precisa necessariamente uma atividade econômica, um exemplo é uma instituição sem fins lucrativos. O fato de ser uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, uma associação, um clube, não é uma excludente para não empregar. Uma igreja, por exemplo, caso tenha algum funcionário de carteira assinada, ela é considerada empregadora. Uma coisa é trabalhar na igreja por vocação, por doação espiritual; outra coisa é trabalhar na igreja auxiliar de livraria, por exemplo, de carteira assinada, recebendo um salário. Se uma pessoa recebe da igreja uma contraprestação por um serviço prestado, a igreja, que possui um CNPJ, deve assinar a carteira dela. § 1º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. Alguns autores denominam esse parágrafo de “empregador por equiparação”, pois o empregador tem finalidade lucrativa (caput), o § 1º apresenta empresas que não possuem finalidade lucrativa, denominadas pela doutrina de “empregadores por equiparação”. Não importa se o empregador tem ou não finalidade lucrativa. O que deve ser verificado é se o empregador está assumindo os riscos, admite, assalaria etc. O empregador doméstico não possui finalidade lucrativa (pessoa física) – nem pode ter esse tipo de finalidade. Nem por isso, deixa de ser empregador. Entidade sem fins lucrativos que admite trabalhador como 2 empregado, essa entidade é considerada empregador, a despeito de não ter finalidade lucrativa. PODERES DO EMPREGADOR a) direção (organização/controle): o poder de direção, controle e organização pertence ao empregador. O empregado é subordinado juridicamente ao empregador, pois quem dirige a prestação pessoal de serviços é o empregador, é ele quem define a forma como o empregado deve realizar a sua atividade; b) regulamentar: poder de criar regras, que devem ser observadas na empresa; c) fiscalizar: o empregador vai fiscalizar se as determinações têm sido cumpridas pelos empregados; d) disciplinar: uma vez não observado o que está disposto no regulamento, o empregador pode aplicar penalidades ao empregado que está descumprindo uma regra O GRUPO ECONÔMICO A figura do grupo econômico tornou-se relevante no Direito do Trabalho como forma de aumentar a garantia dos créditos trabalhistas, isto, é dar mais segurança no sentido de que os direitos trabalhistas seriam devidamente pagos. A ideia do legislador é impor, quanto a créditos trabalhistas devidos por uma empresa, a responsabilidade solidária aos integrantes do grupo econômico. Nesse contexto, torna-se extremamente relevante saber o conceito de grupo econômico. Existem duas situações que podem configurar o grupo econômico. Veja o art. 2º, § 2º, da CLT: CLT Art. 2º (...) § 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego. 3 Existe um nexo de coordenação hierárquico entre as empresas integrantes do grupo econômico. Se uma pessoa é controladora de várias empresas, qualquer uma delas possui responsabilidade passiva, uma responsabilidade solidária. A responsabilidade solidária significa que o empregado de uma empresa pode cobrar seus créditos de qualquer uma das empresas do grupo ou de algumas ou de todas em conjunto se preferir § 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego. PEGA VISÃO Em uma prova objetiva, se houver a expressão “grupo econômico”, deve- se marcar a opção que possui a solidariedade. A reforma trabalhista inseriu o § 3º, no art. 2º, dispondo que a caracterização do grupo econômico só acontece quando as empresas, de um mesmo dono, estiverem atuando em prol de um interesse em comum. CLT Art. 2º (...) § 3º Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes GRUPO ECONÔMICO: RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA / EMPREGADOR ÚNICO. Art. 2º, §§ 2º e 3º da CLT. Para que se forme um grupo econômico, é necessário o preenchimento de 3 requisitos: 1. interesse integrado 2. efetiva comunhão de interesses 3. atuação conjunta das empresas Obs.: a identidade de sócios, por si só, não caracteriza um grupo econômico. Antes da reforma, não havia essa previsão do § 3º 4 Um exemplo é a Rede Globo. Nela as empresas são todas de telecomunicação. Se uma pessoa é dona de uma academia e de uma restaurante, então não há um grupo econômico, porque não existe integração entre as duas empresas. Portanto, as empresas de um mesmo dono, para ser caracterizado grupo econômico, devem atuar em conjunto. Se as empresas possuem responsabilidade passiva, elas respondem pelo salário de um empregado que trabalha em mais de uma empresa, de um mesmo dono, e, nesse caso, existe apenas um empregador. Então, ainda que esse empregado preste serviços para várias empresas, de um mesmo grupo econômico, ele estará diante de um único empregador. Imagine que duas empresas construtoras X e Y são independentes e pertençam a sócios distintos. Ocorre que ambas decidem que farão um empreendimento imobiliário em conjunto, uma incorporação. Ambas possuem atuação conjunta com interesses integrados. São, portanto, integrantes de grupo econômico. ATENÇÃO!! O grupo econômico pressupõe pessoas jurídicas de direito privado fora do âmbito da Administração Pública e que explorem atividade econômica. Logo, empresas públicas e sociedades de economia mista, por integrarem a Administração Pública, não formam grupo econômico. Instituições sem fins lucrativos como igrejas e entidades beneficentes também não integram grupo econômico. SÚMULA SOBRE O TEMA: Súmula n. 129 do TST CONTRATO DE TRABALHO. GRUPO ECONÔMICO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 A prestação de serviços a mais de uma empresa do mesmo grupo econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza a coexistência de mais de um contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário. Exemplo: Grupo econômico formado pelas empresas A, B, C e D. Maria foi contratada pela empresa B. Ocorre que essa empresa integra o grupo econômico. Durante a jornada de trabalho, Maria pode prestar serviços para as 5 demais empresas desse grupo econômico. Essa prestação simultânea não caracteriza MAIS DE UM vínculo empregatício. O TST entende que o grupo econômico é um empregador único, é como se Maria tivesse sido contratada por todas as empresas do grupo, salvo ajuste em contrário. Nesse caso, Maria não precisa ter contratos individuais com cada empresa do grupo econômico, pois as empresas que formam esse grupo são consideradas um “empregador único”. Se uma empresa integrante do grupo econômico promover a anotação do vínculode emprego na CTPS, nada impede que outra empresa do grupo promova a baixa na CTPS quando houver extinção do contrato de trabalho. A responsabilidade das empresas que compõem o grupo econômico é solidária. Assim, se a empresa B (do exemplo acima) deixar de efetuar o pagamento das verbas trabalhistas, as demais empresas do grupo são solidariamente responsáveis, todas as empresas respondem solidariamente pelas dívidas de todas. Neste sentido, Maria pode ajuizar Reclamação Trabalhista em face de todas as empresas do grupo, conjuntamente. Obs.: solidariedade não se presume, nesse caso, decorre da lei: art. 2º, § 3º, da CLT. Se Maria decidir ajuizar ação trabalhista somente em face da empresa B. A empresa B foi condenada a efetuar o pagamento de R$ 100 mil (as demais empresas do grupo estão fora desse processo). Após, inicia-se a fase de execução. Dessa forma, as demais empresas do grupo econômico podem ser inseridas no polo passivo na fase de execução, ainda que não constem expressamente no título executivo judicial, pois trata-se de responsabilidade solidária. Obs.: Via de regra, somente cabe execução em face daquela empresa que constar no título executivo judicial 6 SUCESSÃO DE EMPREGADORES A sucessão trabalhista é um fenômeno que ocorre, em regra, quando uma unidade econômico-jurídica significativa é transferida de uma pessoa para outra. Mesmo diante da sucessão empresarial/de empregadores, o contrato de trabalho permanece inalterado. Art. 448 – A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. O que garante que os trabalhadores receberão os seus créditos, se o empregador não pagar? É o patrimônio do empregador, o qual poderá ser executado na Justiça e vendido em leilão para quitar a dívida Por exemplo, Maria foi contratada em 2017 pela empresa A. Em 2020, a empresa A foi vendida para a empresa B. O contrato de Maria encontra-se em vigor (Ela não precisa ser “dispensada” mediante rescisão do contrato de trabalho), razão pela qual o contrato de Maria permanece inalterado. Algumas empresas costumam dispensar o empregador e recontratá- lo, mas isso é ilegal, pois o contrato deve permanecer inalterado. Exemplo Maria continuou prestando serviços, mas, logo após, foi dispensada. A responsabilidade pelos pagamentos dos direitos trabalhistas, anteriores à sucessão, compete à empresa sucessora (adquirente) – essa empresa responderá por todo o período, não somente o período após a sucessão, como também o período anterior à sucessão. Caso Maria tenha sido dispensada antes da sucessão empresarial, e não tenha recebido as verbas rescisórias, essa dívida é de responsabilidade da empresa sucessora, pois a adquirente também responde pelas dívidas trabalhistas anteriores à sucessão, ainda que o ex-empregado não tenha prestado serviço, diretamente, para a empresa sucessora. Essa é a regra geral. CLT Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. (Incluído pela Lei n. 13.467, de 2017). 7 RESPONSABILIDADE DO SÓCIO RETIRANTE Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência: I –a empresa devedora; II –os sócios atuais; e III –os sócios retirantes. Então, pela lógica é cobrado, da empresa, que é o empregador; depois cobra-se do atual proprietário; por fim, não havendo patrimônio por parte da empresa e do atual proprietário, será possível cobrar do antigo proprietário. Atenção!! Para cobrar do antigo proprietário, que poderá responder subsidiariamente, o empregado, deverá entrar com ação trabalhista, em até dois anos depois de averbada a modificação do contrato. Lembrando, que apenas os empregados que trabalhavam para o antigo proprietário, poderão ajuizar a ação, não alcançando os novos contratos do atual proprietário. Se o juiz perceber e demonstrar que se trata de fraude, conhecida com a expressão “laranja”, a responsabilidade será solidária. Art. 10-A. Parágrafo único A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. (Incluído pela Lei n. 13.467, de 2017 EFEITOS DA SUCESSÃO SOBRE OS CONTRATOS EM CURSO Quando o trabalhador continua a prestar serviços para a sucessora, o contrato de trabalho continua o mesmo. Assim, o empregador pode ser mudado no curso da relação de emprego, mas o contrato em vigor continua normalmente. Trata-se de alteração subjetiva no polo passivo da relação de emprego. Isso é possível em virtude do princípio da despersonalização da figura do empregador. Por esse princípio, não existe pessoalidade em relação ao empregador na relação empregatícia firmada, de forma que sua alteração, em determinadas situações, mantém hígido o contrato existente. 8 RECAPITULANDO!! A responsabilidade é exclusiva da empresa sucessora. A Reforma Trabalhista, exigiu, tão somente, a transferência da unidade econômico- jurídica, mesmo que o empregado não tenha prestado serviço diretamente à empresa sucessora. REGRA GERAL A reponsabilidade é exclusiva da empresa sucessora. Contudo, se a transferência ocorreu mediante fraude, a empresa sucedida terá responsabilidade solidária com a sucessora. CLT Art. 448-A. Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. (Incluído pela Lei n. 13.467, de 2017 Exemplo: Antônio foi contratado em 2019 pela empresa Beta. Em dezembro de 2021, a empresa Beta foi vendida para a empresa GAMA (sucessão empresarial): a) Antônio continuou prestando serviços para a empresa Beta, mas foi dispensado. A responsabilidade pelo pagamento das verbas trabalhistas é exclusiva da sucessora. b) Antônio foi dispensado antes da sucessão, e não recebeu as verbas rescisórias. A responsabilidade pelo pagamento das verbas trabalhistas é exclusiva da sucessora. No entanto, caso verifique que a sucessão empresarial é fraudulenta, a empresa sucedida será solidariamente responsável com a empresa sucessora. OJ-SDI1-261 SOBRE SUCESSÃO DE BANCOS OJ-SDI1-261. BANCOS. SUCESSÃO TRABALHISTA (inserida em 27.09.2002) As obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica sucessão trabalhista (transferência da unidade econômico-jurídica – sucessão empresarial). Transferência da Unidade Jurídica, como já estudamos. 9 ATENÇÃO!! Duas hipóteses que haverá necessidade da continuidade da prestação de serviço, para configurar a sucessão. SUCESSÃO CARTÓRIOS Cartórios (...) II – RECURSO DE REVISTA. LEI N. 13.015/2014. MUDANÇA DE TITULARIDADE DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL. APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. CONTINUIDADE DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. SUCESSÃO TRABALHISTA. Depreende-se do acórdão recorrido que a alteração da titularidade do cartório ocorreu por ocasião da aprovação em concurso público do novo notarial, tendo assumido o acervo em 09/05/2014, sendo incontroverso que a reclamante continuou a prestar serviços ao novo titular após mudança de titularidade do cartório. Com efeito, ainda que a titularidade notarial tenha se operado em razão de aprovação em concurso público do novo titular, não há óbice ao reconhecimento da sucessão trabalhista, porquantohouve aproveitamento dos empregados do titular sucedido pelo sucessor, que também se beneficiou da força de trabalho da reclamante. Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que, demonstradas a transferência da unidade econômica-jurídica pelo titular e a continuidade da prestação de serviços, hipótese dos autos, resta caracterizada a sucessão trabalhista. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (...) (RR – 10700- 06.2014.5.18.0006, Relatora Ministra: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 19/09/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/10/2018). Esse acórdão estabeleceu como requisito a continuidade da prestação de serviços. Em cartório, quando a titularidade do cartório for alterada por aprovação de concurso, somente haverá sucessão empresarial, se houver continuidade da prestação de serviços pelos empregados à sucessora. SUCESSÃO DE CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS Concessão de serviços públicos. OJ-SDI1-225. CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA (nova redação) – Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005. Celebrado contrato de concessão de serviço público em que uma empresa (primeira concessionária) outorga a outra 10 (segunda concessionária), no todo ou em parte, mediante arrendamento, ou qualquer outra forma contratual, a título transitório, bens de sua propriedade: I – em caso de rescisão do contrato de trabalho após a entrada em vigor da concessão, a segunda concessionária, na condição de sucessora, responde pelos direitos decorrentes do contrato de trabalho, sem prejuízo da responsabilidade subsidiária da primeira concessionária pelos débitos trabalhistas contraídos até a concessão; II – no tocante ao contrato de trabalho extinto antes da vigência da concessão, a responsabilidade pelos direitos dos trabalhadores será exclusivamente da antecessora. Ex: Concessionária 1 e Concessionária 2: se houver rescisão do contrato após a concessão, a Concessionária 2 será chamada de sucessora, e ela responderá pelos direitos decorrentes do contrato, inclusive pelos débitos anteriores, mas nesse caso a Concessionária 1 terá responsabilidade subsidiária em relação a esse período. Contudo, a Concessionária 2 somente terá responsabilidade se houver continuidade da prestação dos serviços pelo empregado. Se o contrato for rescindido antes da concessão, a responsabilidade pelos débitos trabalhistas é exclusiva da Concessionária 1 Em concessão de serviços público é preciso continuidade da prestação de serviços, para que se caracterize responsabilidade trabalhista na sucessão empresarial. CLÁUSULA DE NÃO RESPONSABILIZAÇÃO Quando no contrato da transferência houver sido estabelecida uma cláusula de não responsabilização, afirmando não se responsabilizar pelos débitos trabalhistas anteriores. Essa cláusula NÃO tem validade para fins de Direito do Trabalho, com fulcro no Art. 448-A da CLT.
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