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Fatore� intrínsec�� � extrínsec�� n� desenvolviment� d� microrganism�� e� aliment�� Ecologia microbiana: ● Os microrganismos utilizam os alimentos como fonte de nutrientes para o crescimento – deterioração; ● Os agentes causadores de deterioração podem ser bactérias, fungos filamentosos e leveduras; ● Durante o processo da deterioração é selecionado uma população ou tipo predominante de microrganismos; ● Cada tipo de alimento deteriora-se pela ação de um tipo de microrganismo: o Ex: carnes – bactérias psicrotróficas; suco de frutas – leveduras. ● Dos microrganismos presentes no alimento, somente uma parte dessa microbiota contaminante prolifera o suficiente para causar a alteração no produto. Ecologia microbiana dos alimentos: ● A ecologia microbiana estuda as interações entre os microrganismos entre si e com o ecossistema. Em um ecossistema, cada organismo interage com outros organismos e com o meio ambiente, produzindo alterações químicas benéficas ou prejudiciais ao meio. o Fatores intrínsecos; o Fatores extrínsecos; o Fatores implícitos. ~ Fatore� Intrínsec�� ~ ● Atividade de água; ● pH; ● Potencial de oxido-redução; ● Quantidade de nutrientes; ● Constituintes antimicrobianos; ● Estruturas biológicas (cascas, membranas, pele, etc). Atividade de água (Aa): ● Umidade ≠ Atividade de água; ● Umidade se refere à água que está contida no alimento, já a Aa é a água livre (disponível) no alimento; ● Para o metabolismo e multiplicação de microrganismos – água na forma disponível. ● Água ligada a macromoléculas – não está livre para participar de reações químicas e, portanto, não pode ser aproveitada; ● Aa = P / Po (mede a disponibilidade de água em um alimento); o Po = pressão parcial de vapor da água pura; o P = pressão parcial de vapor da água contida em uma solução / alimento; ● Pressão de vapor: é a pressão na qual a água entra em estado de vapor numa dada temperatura. A pressão de vapor de uma substância em mistura com outras é sempre menor de que quando ela está no estado puro; ● O valor de Aa sempre será inferior a 1,0. Quanto mais próximo de 1,0, maior a disponibilidade de água e maior a atividade de água. ● Quanto maior a concentração de solutos, menor é a atividade de água; ● Bactérias preferem ambientes com maior Aa para multiplicação; ● Fungos podem proliferar em ambientes mais secos; ● Os microrganismos não se desenvolvem em ambiente completamente desidratados. o Aa: 1 = significa água pura; o Aa: 0,999 = existe um mínimo de nutrientes (raramente encontrado no que se diz a alimentos); o Aa: 0,6 = não há água livre que favoreça o metabolismo bacteriano, mas certos fungos podem se reproduzir. ● Há alguns grupos de microrganismos particularmente resistentes a baixas Aa, como os: o Microrganismos osmofílicos: para se desenvolver precisam de ambiente com baixa Aa (como aquele proporcionado por produtos açucarados); o Microrganismos osmodúricos: suportam, mas não exigem ambientes com elevada concentração de açúcar; o Microrganismos halofílicos: necessitam, para se desenvolver, de ambiente com elevada concentração salina; o Microrganismos halodúricos: suportam ambientes com alta concentração de sal; Ex: S. aureus. o Microrganismos xerofílicos: possuem afinidade com ambientes secos. ● As concentrações de solutos, adição de sais, de açúcar e de outras substâncias provocam a redução da atividade de água dos alimentos, por reduzir a pressão parcial de vapor nos alimentos; o Redução de água livre – redução do desenvolvimento de microrganismos – conservação. Como reduzir a atividade de água dos alimentos? ● Desidratação; ● Adição de solutos aos alimentos; ● Congelamento (torna a água indisponível). O crescimento dos microrganismos possui 4 fases: Fase lag: fase de adaptação metabólica ao novo ambiente; o metabolismo celular está direcionado para sintetizar as enzimas requeridas para o crescimento nas novas condições ambientais encontradas pelas células. O número de indivíduos não aumenta nesta fase, podendo até mesmo decrescer. Fase de crescimento exponencial, ou fase log: microrganismos se encontram na plenitude das capacidades, num meio cujo suprimento de nutrientes é superior às necessidades dos microrganismos. Fase na qual o número de células da população dobra a cada geração. Fase estacionária: a velocidade de crescimento dos microrganismos vai diminuindo até atingir a fase em que o número de novos microrganismos é igual ao número de microrganismos que morrem. As causas dessa parada de crescimento podem ser devido ao acúmulo de metabólitos tóxicos, o esgotamento de nutrientes e de O2. Fase de declínio ou morte: a quantidade de microrganismos que morre torna-se progressivamente superior àquela dos que surgem. Isotermas de sorção: ● As isotermas de sorção de água são gráficos que relacionam a quantidade de água de um alimento com sua atividade de água. ● Varia para cada tipo de alimento e depende: estrutura física, composição química e capacidade de retenção de água no alimento. Por que é importante medir a atividade de água do alimento? ● Prever o desenvolvimento microbiano; ● Avaliar as reações químicas e vida de prateleira; ● Avaliar a estabilidade física; ● Projetar a embalagem – proteção contra umidade do ambiente; ● Analisar a transferência de umidade entre ingredientes; ● Considerar o intercâmbio de umidade com o meio ambiente; ● Predizer a curva de isoterma – umidade x atividade de água. Umidade relativa do ar (Ura) e Aa dos alimentos: ● O alimento troca água com o ambiente; ● URa < Aa: o Alimento perde água; o Dessecação da superfície do alimento; o Menor suscetível ao crescimento microbiano (pode haver crescimento de fungos); ● URa > Aa: o Agrega umidade a superfície do alimento; o Maior risco de proliferação de microrganismos. Efeito da concentração de solutos sobre a célula: ● A água presente dentro da célula pode ser removida por elevações na pressão osmótica. Quando uma célula microbiana se encontrar em uma solução contendo uma concentração de sais superior àquela do interior da célula ocorrerá a passagem da água de dentro da célula, através da membrana plasmática, para o meio extracelular. A perda de água por osmose causa a plasmólise ou diminuição da membrana plasmática da célula – inibição do crescimento. Resposta microbiana a baixa atividade de água: ● Acúmulo de solutos compatíveis (osmoprotetores = confere uma larga adaptabilidade aos microrganismos): o Prolina; o Íons K; o Betaína, glicina; o Glutamina; o Glicerol; o Sacarose; ● Envolve a síntese de compostos e importação de compostos do ambiente. pH: ● O pH ou potencial de hidrogênio iônico, é um índice que indica acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio. ● pH = - log10 [H+] ● pH = pKa + log10 [A-] / [HA] ● Os microrganismos têm valores de pH mínimo, ótimo e máximo para a multiplicação; ● pH em torno da neutralidade (6,5 – 7,5) = favorável; ● Alguns microrganismos são favorecidos pelos meios ácidos: bactérias láticas; ● Fungos filamentosos e leveduras = maior tolerância ao pH; ● Bactérias patogênicas = mais exigentes. Classificação dos alimentos quanto a acidez: Grau de acidez pH Tipos de alimentos Pouco ácidos > 4,5 Leite, carnes, pescados e alguns vegetais Ácidos 4,0 a 4,5 Algumas hortaliças e frutas Muito ácidos < 4,0 Sucos de frutas, refrigerantes Efeitos do pH no microrganismo: ● Alteração da atividade das enzimas responsáveis pelas atividades vitais da célula; ● Afeta transporte de nutrientes para o interior da célula; ● Menor velocidade de crescimento; ● A membrana citoplasmática e relativamente impermeável aos íons H+ e OH-. ● Quando em meios com pH abaixo ou acima da neutralidade – afeta a capacidade de multiplicação – capacidade de modificar o pH do meio para um valor ou faixa ótima. ● O que acontece? o Ambientes ácidos: evitar que H+ entre ou expelir numa velocidade maior que a de entrada; o Maior gasto de energia para manter o pH intracelular; o Desnaturação de proteínas, DNA; o Menor velocidade de crescimento; Efeito da exposição aoácido na célula: ● Em relação ao transporte de nutrientes, a célula bacteriana tende a ter uma carga residual negativa. Assim, compostos ionizados não conseguem entrar na célula. Por isso a importância de os ácidos estarem não ionizados para permear a membrana das bactérias. ● Manutenção da homeostase: manter o pH interno mesmo quando o pH externo seja baixo; ● Resposta de tolerância ao ácido: ATR (Acid Tolerance Response): indução da síntese de proteínas (proteínas do choque ácido); ● Resposta cruzada ao estresse: células submetidas a inicialmente ao estresse osmótico responderam melhor ao estresse ácido); ● Como impedir isto? Escolha adequada do método de conservação. Potencial de oxidação-redução: ● Definição: facilidade com a qual o substrato ganha ou perde elétrons; ● Quando um elemento ou composto perde elétrons = oxidado; ● Quando um elemento ou composto ganha elétrons = reduzido; ● Quando os elétrons são transferidos de um composto para outro, uma diferença de potencial é criada entre esses dois compostos – Volts (V) ou milivolts (mV); ● Quanto mais oxidado: mais positivo o potencial de oxirredução; ● Quanto mais reduzida: mais negativo o potencial de oxirredução; ● Microrganismos aeróbios: valores de Eh positivos (oxidantes); ● Microrganismos anaeróbios: valores de Eh negativos (redutores); ● O potencial redox de um alimento depende: o Da composição; o Da capacidade de balanceamento, isto é, da resistência do alimento em modificar o Eh; o Da tensão de oxigênio da atmosfera em contato com o alimento; o Do acesso que a atmosfera tem ao alimento (embalagens com diferentes permeabilidades ao oxigênio, embalagens a vácuo, atmosfera modificada). ● Importância na conservação de alimentos: o Determinante para desenvolvimento de diferentes tipos de microrganismos; o Por exemplo, pode-se utilizar embalagens impermeáveis ao oxigênio, o uso de vácuo, atmosfera com gases ● Embalagens a vácuo; ● Estes recursos são utilizados para queijos, hortaliças, produtos cárneos e outros, a fim de evitar os fungos filamentosos superficiais; ● No caso de enlatados, o ambiente anaeróbio favorece a multiplicação de bactérias esporuladas, anaeróbias ou anaeróbias facultativas. Presença de nutrientes: ● Principais elementos químicos para crescimento das células: o Carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre; o Microrganismos heterotróficos: usam compostos orgânicos como principal fonte de carbono; o Microrganismos autotróficos: usam CO2 como principal e única fonte de carbono; ● Para que ocorra a multiplicação microbiana é preciso que estejam disponíveis: o Água; o Fonte de energia (CHO, lipídios); o Fonte de nitrogênio: aminoácidos; o Vitaminas; o Sais minerais (reações enzimáticas); ● Os nutrientes que estão contidos nos alimentos selecionam os microrganismos capazes de crescer; ● Isso se dá de acordo com a capacidade de hidrolisar o substrato que forma o alimento; ● Ex: margarina – microrganismo lipolítico capaz de hidrolisar lipídios; Fatores antimicrobianos naturais: ● Substâncias que tem capacidade de retardar ou impedir a multiplicação microbiana; ● Confere estabilidade de alguns alimentos; ● Condimentos: óleos essenciais (eugenol, alicina, aldeído cinâmico, timol, isotimol); ● Ovos: clara (lisozima); ● Leite: sistema lactoperoxidase, lactoferrina, lisozima; ● Ácidos orgânicos: ácido lático, acético e cítrico; ● Compostos fenólicos: derivados de ácido hidroxicinâmico (ácido p-coumárico, ferúlico, caféico e clorogênico), taninos. Estruturas biológicas: ● Barreira ou obstáculo para o acesso de microrganismos às partes perecíveis de alguns alimentos, ou seja, aquela que apresenta nutrientes; ● Servem como barreiras mecânicas para penetração de microrganismos; ● Ex: cascas de sementes, nozes, arroz, peles, pelos de animais, cascas ou películas de frutas. ~ Fatore� Extrínsec�� ~ ● Propriedades do meio ambiente que afetam tanto os alimentos quanto os microrganismos; o Temperatura; o Umidade relativa; o Atmosfera gasosa; o Aditivos intencionais; o Tratamentos tecnológicos; ● Armazenamento dos alimentos podem evitar a ação dos fatores extrínsecos. Temperatura: ● Fator ambiental mais importante para a multiplicação microbiana; ● Cada tipo de microrganismo possui características estruturais e metabólicas próprias, condições específicas de resistência ao calor e ao tempo de exposição; ● Faixa de multiplicação pode variar: -34ºC a 90ºC. ● Classificação: o Microrganismos psicrófilos (crescem de 0ºC a 20°C; ótimo 10-15°C); o Microrganismos mesófilos (mínimas 5°C a 25°C, máximas 40°C a 50°C; ótima 25-40°C); o Microrganismos termófilos (mínimas 35°C a 45°C, máximas 60°C a 90°C; ótima 45-65°C); o Microrganismos psicrotróficos (≤5°C; crescem 0-7°C; ótima 20-30°C). ● Abaixo da temperatura mínima há solidificação da membrana, transporte lento e crescimento não ocorre; ● A partir da temperatura mínima as reações enzimáticas ocorrem em velocidade crescente; ● Na temperatura ótima as reações enzimáticas ocorrem em velocidade máxima; ● Na temperatura máxima ocorre desnaturação proteica, colapso da membrana citoplasmática, lise térmica; ● Zona de perigo: temperaturas onde há possibilidade de ocorrer maior crescimento microbiano. Choque/estresse causado pelo calor: ● Os microrganismos são capazes de adaptar a tratamentos brandos de diferentes maneiras: o Composição da membrana celular (aumento da insaturação e comprimento de ácidos graxos) garante a fluidez da membrana; o Acúmulo de osmólitos protege/estabiliza enzimas da ação do calor; o Bacillus, Clostridium: produzem endósporos; o Proteínas do choque térmico; Umidade relativa do ambiente: ● A umidade do ambiente de estocagem dos alimentos interfere com a Aa dos mesmos. ● Alimento em equilíbrio com a atmosfera: umidade relativa de equilíbrio = Aa x 100 ● Alimentos com Aa baixa podem absorver umidade do ambiente (ex: biscoitos, farinhas, alimentos desidratados, carnes e peixes salgados, etc); ● Alimentos com Aa alta podem perder água para o ambiente (ex: frutas e hortaliças in natura, carnes frescas, pães, etc). Composição gasosa do ambiente: ● Fator determinante do microrganismo que irá crescer; ● Presença de oxigênio: microrganismos aeróbios; ● Ausência de oxigênio: microrganismos anaeróbios; ● Carne embalada a vácuo ou alimentos enlatados; ● Se um alimento enlatado estiver contaminado com microrganismos anaeróbicos, ao abrir a lata o alimento continua contaminado? o Os microrganismos vão morrendo aos poucos, porém não se deve consumir o alimento, pois as toxinas continuam viáveis; ● Uso de atmosfera modificada: oxigênio é total ou parcialmente substituído por outros gases: o Embalagem a vácuo; o CO2. ~ Fatore� Implícit�� ~ ● Interação entre microrganismos; ● Nem todo microrganismo que contamina o alimento irá deteriorá-lo; ● Fatores implícitos relacionam-se com as populações de microrganismo e interações que proporcionam o crescimento ou não no alimento; ● Esses fatores podem ser: o +: ambos crescem. Ex: um dado microrganismo hidrolisa amido e o outro utiliza glicose, mas outros podem utilizar a maltose ou dextrinas; o -: um cresce e outro não. ● Estímulo ao crescimento: o Produção de metabólitos (vitaminas, hidrólise de polissacarídeos, proteínas e lipídeos); o Mudanças no pH, Eh e Aa; o Degradação de substâncias inibidoras; Microbiota do alimento: ● Bactérias láticas: produz ácido lático, bacteriocinas que inibem ou eliminam determinados microrganismos patogênicos; ● Leveduras: consomem os ácidos orgânicos dos alimentos fornecendo condição para multiplicação de microrganismos que são inibidos pela acidez; ● Staphylococcus aureus e Clostridium botulinum: são maus competidores e não se desenvolvem em alimentos que apresentam elevadas contagens de outros microrganismos. Teoria de barreiras: ● Tecnologia de barreiras/teoria de obstáculos/conceito de obstáculos de Leistner; ● Diversos fatores e técnicas são empregados simultaneamente no controle de microrganismos em alimentos; ● Obstáculos agem como barreirasde modo a impedir que os microrganismos encontrem condições favoráveis ao seu desenvolvimento e/ou produção de toxinas; ● Para cada tipo de alimento os obstáculos diferem em quantidade e intensidade para garantir estabilidade e segurança.