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Geovana Sanches, TXXIV ARTRITE REUMATÓIDE DEFINIÇÃO A artrite reumatoide é uma doença articular inflamatória crônica e sistêmica de etiologia autoimune. Caracteriza-se pela dor inflamatória e crônica – rigidez matinal, piora com repouso, melhora com a atividade, por no mínimo de 6 semanas. Pode ser definida como uma Poliartrite crônica que acomete as pequenas articulações das mãos e dos pés. Apresenta potencial de dano articular grave e irreversível, com perda funcional nas articulações envolvidas. EPIDEMIOLOGIA • Prevalência de 0,5 a 1% da população mundial • Maior prevalência entre 30 e 50 anos (indivíduos em idade produtiva) • Predomínio em mulheres o M 5 a 6: 1 H FATORES DE RISCO • Genética o Concordância entre gêmeos monozigóticos de 12 a 15% o Associação com HLA-DRB1*01 e HLA-DRB1*04 § HLA: antígeno leucocitário humano • Sexo o Incidência de 2 a 3x maior em mulheres, especialmente entre 30 e 40 anos • Tabagismo o Risco 2x maior em relação aos não tabagistas • Inalação de Sílica o Observado após o episódio do 11 de Setembro • Microbiota o P. gingivalis: associação com doença periodontal § Má higiene bucal FISIOPATOLOGIA A artrite reumatoide é uma doença de evolução crônica, de forma que o paciente, em geral, demora para buscar ajuda. A doença se inicia na sinóvia ou membrana sinovial (alvo primário), posteriormente evoluindo para esrtuturas periarticulares. A evolução ocorre em fases, de forma gradual. 1. Fase susceptível • O paciente apresenta fatores de risco, o que faz com que ele seja susceptível a desenvolver a doença 2. Fase pré-clínica • Desregulação imunológica à influxo de células inflamatórias (macrófagos, linfócitos TCD4) na membrana sinovial • Há dano, porém ainda sem sintomas 3. Fase clínica • A inflamação que ocorreu na fase pré- clínica não é resolvida • Há maior influxo de células inflamatórias na membrana A cápsula articular está em íntimo contato com a membrana sinovial, de forma que a inflamação da membrana entra com contato com a cápsula, causando edema. Esse edema leva a distensão da cápsula e caracteriza a fase precoce. A fase precoce da doença consiste no momento ideal para o diagnóstico, pois ainda não há dano significativo na articulação – esse momento dura por cerca de 1 ano, sendo esta a janela de oportunidade da doença. Após o dano articular, este é irreversível. Resposta Th17 • Desequilíbrio entre citocinas pró- inflamatórias e anti-inflamatórias Geovana Sanches, TXXIV o Interleucinas e fatores de crescimento promovem diferenciação de células Th17 § Supressão de T-reg • Status pós-inflamatório o Manutenção da autoimunidade e destruição articular AR precoce • < 1 ano • Inflamação sinovial com predomínio de linfócitos TCD4+ e macrófagos • Citocinas pró-inflamatórias o IL-1, IL-6 e TNF Inflamação crônica • TNF-alfa o Inibe célukas T-reg • IL1-beta • IL-6 Alterações imunopatológicas • Iniciam-se antes da doença clinicamente manifesta • Predisposição genética + fatores ambientais o Tabagismo e infecção por P. gengivalis promovem a citrulinização de peptídeos • Apresentação de antígenos leva a síntese de anticorpos pelas células B o Fator reumatoide o Anti-CPP o Pacientes com ambos os anticorpos apresentam doença mais agressiva Dano articular • Ocorre a entre os 6 meses e 1 ano • Ativação de osteoclastos por citocinas e RANKL o Cascatas inflamatórias à inflamação sinovial à dano à cartilagem e osso subcondral • Maior síntese de colagenase e metaloproteínas Pannus • Membrana sinovial com hiperplasia, invadindo estruturas periartriculares o Forma-se um tecido granulomatoso com células gigantes, fibroblastos e macrófagos o Estimulação da sobrevida de osteoclastos sobre a matriz óssea • Diagnóstico histopatológico o Não é visível ou palpável • Estágios tardios: toda a articulação é comprometida Líquido sinovial • Aumento do volume e celularidade com abundância de polimorfonucleares • Células T, macrófagos, células dendríticas e células B o Macrófagos são os principais efetores da sinovite Evolução QUADRO CLÍNICO Manifestações articulares • Dor articular associada a edema e rigidez matinal por mais de 30 a 60 minutos (quanto maior o tempo, maior a chance de o quadro ser inflamatório, sendo que acima de 1h isso é quase uma certeza) o Sintomas mais intensos ao acordar e após longos períodos de inatividade o Padrão de acometimento inicial das pequenas articulações o Mãos § interfalangeanas proximais § metacarpofalangeanas Geovana Sanches, TXXIV o Punhos o Pés § Metatarsofalangianas • Acometimento simétrico e aditivo é característico na artrite reumatoide • Sinais flogísticos aparecem com frequência nas articulações • Acometimento axial (coluna vertebral) é raro – exceto C1 e C2, as quais podem estar acometidas • Ordem aproximada de acometimento (não é obrigatório) (1) Mãos e pés (2) Joelhos (3) Cotovelos (4) Tornozelos (5) Quadris (6) Ombros (7) Articulações temporo-mandibulares, cricoaritenoides, esternoclaviculares (menos frequente e mais tardio) (8) C1 e C2 Mãos • Acometimento precoce das IFPS e MCFS • Deformidades tardias em dedos o Dedo em pescoço de cisne: flexão da IFD e hiperextensão da IFP o Dedo em botoeira: hiperextensão da IFD e flexão da IFP • Desvio ulnar dos dedos o Subluxação da MCF com subluxação da falange proximal • Atrofia de musculatura interóssea • Pode ocorrer ruptura dos tendões, com sintomas abruptos e perdas de função Punhos • Segundo sítio mais envolvido • Limitação da extensão • Desvio radial é frequente • Síndrome do túnel do carpo Pés • Articulações metatarsofalangeanas são acometidas no curso inicial da doença, com erosões radiográficas o Pode ocorrer simultaneamente ou até antes do acometimento das mãos • Dor e edema das metatarsofalangianas • Desabamento do arco plantar • Subluxação dos metatarsos • Lomocoção pode ser dolorosa Tornozelos • Dor e edema nas articulações tíbiotalares Joelhos • Aumento de volume • Limitação do movimento • Cisto de Baker o Não é patognomônico o Derrame de líquido inflamatório entre as fibras musculares § Líquido sinovial aumenta conforme a inflamação e extravasa, levando a inflamação muito intensa quando em contato com o músculo § Gera edema e dor Geovana Sanches, TXXIV Manifestações extra-articulares A artrite reumatoide é uma doença sistêmica. Pode-se apresentar com sintomas inespecíficos, tais como fadiga, perda ponderal e febre baixa, além de manifestações extra- articulares, como: • Fibrose pulmonar intersticial • Nódulos reumatoides • Esclerite • Úlcera vasculítica Atualmente, com a evolução nos tratamentos, isso não é mais tão visto na prática clínica. Todavia, quando estão presentes indicam pior prognóstico. Fatores de risco • Doença de longa evolução • Tabagismo • Altos títulos de FR e anti-CCP Pele • Nódulo reumatoide o Presente em 20% dos pacientes, especialmente nos FR positivo o Consistência firme à palpação • Vasculite de pequenos vasos • Pioderma gangrenoso Coração • Pericardite • Aterosclerose acelerada • Doença valvar • Nódulos no anel valvar • Maior risco cardiovascular Pulmão • Nódulos • Vasculite • Pleurite • Doença intersticial pulmonar • Doença parenquimatosa pulmonar • Derrame pleural Olho • Ceratoconjuntivite seca o Associação com a Sd. De Sjogren • Episclerite • Esclerite • Ceratite ulcerativa periférica • Escleromalácia perforans Sistema nervoso • Mielopatia (C1 e C2) • Neuropatia periférica o Sd. do túnel do carpo ou tarso Hematológica • Anemia e trombocitose o Refletem paciente cronicamente inflamado • Síndrome de Felty o Tríade: artrite reumatoide + neutropenia + esplenomegalia o Acomete menos de 1% dos pacientescom artrite reumatoide EXAMES COMPLEMENTARES Laboratoriais • Anemia de doença crônica o Grau proporcional à atividade da doença o Presença de interleucinas inflamatórias que consomem o Fe o Estoques de ferro não são depletados, apenas não conseguem ser liberados devido as interleucinas o Tratamento: corrigir a inflamação • Elevação de marcadores inflamatórios o Proteína C-reativa (PCR) o Velocidade de hemossedimentação (VHS) o Acompanham a atividade da doença o Elevação persistente indica pior prognóstico • Fator reumatoide (FR) o Positivo em 70 a 80% dos pacientes o Pode estar positivo em outras situações, tais como: endocardite, LES, HIV, hepatite C, tuberculose, síndrome de Sjogren • Anti-CCP (ACPA) o Mais específico do que o fator reumatoide o Menos acessível (alto custo) o Associado a pior prognóstico o Anti-CCP + FR positivos = pior prognóstico • FAN o Positivo em 30 a 40% dos casos É importante ressaltar que as dosagens de auto-anticorpos não fecham um diagnóstico por si só, sendo a correlação clínica imprescindível. Aproximadamente 15% dos pacientes com artrite reumatoide possuem FR e ACPA negativos. Eles são classificados como “soronegativos”. Exame radiológico Deve ser realizada inicialmente e repetida após 6 meses para avaliação da evolução. Principais alterações • Aumento das partes moles periarticulares Geovana Sanches, TXXIV • Estreitamento do espaço articular • Erosão óssea o Principalmente marginais o Doença estabelecida • Estreitamento dos ossos do punho • Anquilose o Perda do espaço articular, com junção dos ossos • Subluxações • Processo estiloide é frequentemente acometido na artrite reumatoide Evolução 1. AR recente o Praticamente sem alterações o Pequeno estreitamento do espaço articular 2. AR moderada o Estreitamento do espaço articular o Discreta erosão óssea (descontinuidade) 3. AR severa o Danos na 2ª metacarpofalangiana o Estreitamento do espaço articular em diversos locais o Erosão óssea em diferentes sítios o Presença de subluxações o “Emaranhado ósseo” no carpo § Não é mais possível delimitar os ossos 4. AR terminal o Subluxações e deformidades irreservísveis o Presença de anquilose o Punho alterado § “Emaranhado ósseo” § Ossos contíguos Ultrassom • Identifica alterações mais precocemente • Permite visualizar a sinovite e erosões • Doppler: se houver captação, é provável que haja erosão Ressonância magnética • Não é muito utilizada para avaliação das articulações periféricas • Apresenta alta sensibilidade e boa capacidade para analisar o valor prognóstico das lesões • Solicitada quando há suspeita de acometimento de C1 e C2 o Raro – acomete pacientes com doença muito prolongada o Subluxação atlanto-axial o Risco de tetraparesia e insuficiência respiratória § Compressão do centro respiratório o Necessária abordagem cirúrgica urgente • Atenção especial para pacientes com AR e dor cervical Geovana Sanches, TXXIV DIAGNÓSTICO A suspeita da artrite reumatoide deve ocorrer quando há quadro clínico característico. A partir disso, faz-se necessário exame físico minucioso e exames laboratoriais para firmar o diagnóstico e definir o prognóstico. Critérios classificatórios ACR/EULAR (2010) • Estabelece uma pontuação com o que é mais comum na doença • > 6 pontos indica artrite reumatoide Critérios Nota Envolvimento articular Ø 1 articulação grande Ø 2 – 10 articulações média-grandes Ø 1 – 3 articulações pequenas Ø 4 – 10 articulações pequenas Ø > 10 articulações pequenas 0 1 2 3 5 Sorologia Ø Negativo para FR e ACPA Ø Pelo menos 1 teste positivo em baixos títulos Ø Pelo menos 1 teste positivo em altos títulos 0 2 3 Duração da sinovite Ø < 6 semanas Ø > 6 semanas 0 1 Reagentes de fase aguda Ø PCR e VSH normais Ø PCR ou VSH anormais 0 1 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Osteoartrite • Acometimento de IFDS, IFPS, Joelhos e coluna • Rigidez matinal fugaz • Acometimento de cartilagem o Infiltrado inflamatório menos intenso • Raio-X o sem erosões o esclerose subcondral o presença de osteófitos marginais (bico de papagaio) o diminuição assimétrica do espaço articular Artrites infecciosas • Qualquer inflamação pode ocasionar dor articular o HIV o Hepatite B o Hepatite C o Dengue o Chikunguya o Parvovírus B19 • Há outros sintomas associados • Autolimitadas (duração < 6 semanas) o As artrites infecciosas, em geral, são autolimitadas mesmo sem tratamento, não durante mais do que 6 semanas o Exceção: Chikunguya à pode permanecer por um período mais longo – alguns pacientes chegam a ter dor por mais de 2 anos Outras doenças reumatológicas • Artrite psoriásica o Manifestações cutâneas associadas o Alteração ungueal o Acometimento de interfalandeanas distais o História familiar • Artrite de Jaccoud o Comum no LES o Disfunção ligamentar § Dedo em martelo § Dedo em botoeira o Reversíveis (redutível ao exame) Geovana Sanches, TXXIV o Não é erosiva • Lúpus eritematoso sistêmico • Síndrome de Sjogren Outras causas • Síndrome paraneoplásica • Sarcoidose • Amiloidose • Hipotireoidismo TRATAMENTO • AR inicial (< 12 meses) o Janela de oportunidade o Prevenir deformidades o Reestabelecer e readaptar função das articulações • Pacientes sintomáticos o Utilizar corticoide pelo menor tempo possível Medidas gerais • Orientar mudanças de hábitos de vida o Cessar tabagismo o Incentivar exercício físico o Reduzir uso de álcool o Reduzir o peso • Atualização do cartão vacinal o Poderá ser necessária a imunossupressão do paciente • Suplementação adequada de cálcio e vitamina D para prevenção de osteoporose Tratamento farmacológico Metotrexato • Droga de primeira escolha • Iniciar o mais precocemente possível, exceto se houver contraindicação • Droga modificadora de doença (DMARD) o É capaz de prevenir erosão, dano articular e incapacidade o Inibe a formação de linfócitos • Dose: 12,5 a 25mg, VO, uma vez por semana o Início com 12,5 a 15mg por semana o Progride até 25mg por semana • Repor ácido fólico o Dose: 5mg, 1x por semana, de 24 a 36h após a tomada do MTX o O medicamento inibe a diidrofolato redutase, diminuindo os níveis de ácido fólico no sangue o Todo paciente em uso do metotrexato deve repor ácido fólico o Caso não reponha: risco de toxicidade hepática, renal e hematológica • Sempre avaliar o hemograma, função hepática e renal e • Pode ser utilizada em combinação com outras drogas, tais como a Leflunomida (LEF) ou Sulfassalazina (SSZ) o Essas drogas são utilizadas para pacientes menos graves. Para casos extremos, pode-se utilizar o anti- TNF em associação com o metotrexato. Segunda linha de tratamento • Realizado na ausência de resposta em 3 meses ou quando o paciente não atinge remissão em 6 meses • Preferencialmente em associação com o MTX • Classes farmacológicas o Anti-TNF § Maior experiência clínica o Inibidores do CTLA-4 o Bloqueio da IL6 o Inibidores da JAK o Anti-CD20
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