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1. DEFINIR OS PARÂMETROS LABORATORIAIS DA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E CRÔNICA A insuficiência respiratória (IR) pode ser definida como a condição clínica na qual o sistema respiratório não consegue manter os valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2) e/ou da pressão arterial de gás carbônico (PaCO2) dentro dos limites da normalidade, para determinada demanda metabólica. Como a definição de IR está relacionada à incapacidade do sistema respiratório em manter níveis adequados de oxigenação e gás carbônico, foram estabelecidos, para sua caracterização, pontos de corte na gasometria arterial, como se segue: PaO2 < 60 mmHg PaCO2 > 50 mmHg A gasometria arterial é um exame de sangue permite a avaliação da condição respiratória e metabólica, sendo uma das formas mais comuns de investigação clínica em casos emergenciais e de cuidados críticos. É utilizada para medir as concentrações de oxigênio e também avaliar o distúrbio do equilíbrio ácido-base, da oxigenação do sangue arterial e da ventilação alveolar. Os principais parâmetros que observamos no exame de gasometria arterial são: • pH • SatO2 (saturação de oxigênio) • pCO2 (pressão parcial do gás carbônico) • HCO3 (bicarbonato) • Ânion Gap (AG). Entretanto, podemos encontrar outros parâmetros também como, por exemplo, a dosagem de alguns eletrólitos, são eles: sódio, potássio, cálcio iônico e cloreto, podendo variar devido ao gasômetro usado Os distúrbios ácido-base: O pH plasmático representa a relação entre o bicarbonato e o dióxido de carbono, segundo a fórmula de Henderson-Hasselbach: Esta fórmula nos mostra que, se o HCO3 aumenta, o pH aumenta (relação diretamente proporcional), tornando o meio básico. Ao contrário, se o pCO2 aumenta, o pH diminui (relação inversamente proporcional), tornando o meio ácido. No plasma sanguíneo, o HCO3 e o CO2 compõem o sistema tampão bicarbonato-CO2 (de acordo com reação química descrita abaixo), que é o principal sistema regulador do pH plasmático, evitando variações bruscas. Nessa equação de um equilíbrio químico, a parte da esquerda é a parte metabólica da equação, exercida pelos rins, enquanto que a parte da direita é a parte respiratória, exercida pelos pulmões. Percebam que qualquer alteração em um lado irá repercutir no outro, através de uma compensação. A compensação respiratória de um distúrbio metabólico é imediata, gerando hipo ou hiperventilação. Já a compensação metabólica de um distúrbio respiratório pode levar até três dias para acontecer com sua máxima efetividade. Com isso, temos que o pH normal varia de 7,35 – 7,45. • pH < 7,35 à acidose • pH > 7,45 à alcalose Estes, são divididos em: acidose metábolica, alcalose metabólica, acidose respiratória e alcalose respiratória. Um distúrbio metabólico compensa com um mecanismo respiratório, ou vice-versa. Se essa compensação do distúrbio primário for insuficiente ou excessiva, temos um distúrbio secundário associado. Exemplo: Uma acidose metabólica pode estar associada a uma alcalose respiratória ou a uma acidose respiratória. PaO2: A pressão parcial de oxigênio indica a fração de oxigênio que está livre no sangue, o que reflete a troca de oxigênio alveolo-capilar. • Valor de referência: 80-100mmHg. Valores menores traduzem uma hipoxemia. PaCO2: Diferentemente da PaCO2, a pressão parcial de gás carbônico reflete a ventilação alveolar. O gás carbônico é o gás mais solúvel no sangue. • Valor de referência: 35-45 mmHg Valores maiores demonstram hipoventilação, retenção de gás carbônico, retenção de gás carbônico, enquanto que valores menores que 35 mmHg demonstram hiperventilação. Saturação de O2: A Saturação de Oxigênio (SaO2), por sua vez, é o percentual de hemoglobina do sangue arterial que está ligada ao oxigênio. • Valor de referência: acima de 95% Uma oxigenação tecidual adequada gira em torno de 95-97% de saturação. Importante lembrar que na gasometria, a Saturação de Oxigênio é calculada a partir da PaO2 sanguínea, podendo diferir do valor da Oximetria de Pulso, que calcula a saturação de maneira indireta. HCO3 (Bicarbonato Standard): A principal base avaliada na gasomeria é o bicarbonato de sódio, sendo o Bicarbonato Standard a principal representação da concentração dessa base para o nosso organismo. • Valor de referência: 21-27 mEq/L Buffer Base e Base Excess: O Bicarbonato, porém, não é a única base do nosso organismo. Há ainda outras que, quando somadas, habitualmente representam um valor, que é o Buffer Base. Esse valor do Buffer Base é fixo, funcionando como uma espécie de valor de referência esperado para a soma das bases. Se todas as Bases do paciente quando somadas não corresponderem ao valor de referência da Buffer Base, esse excesso é correspondente ao Base Excess. • Valore de referência para o Base Excess: de -3 a +3. Se tivermos um valor de bases menor que -3, o organismo está perdendo bases por um distúrbio primário (acidose metabólica) ou compensatório (alcalose respiratória – excreção maior de bases para compensar uma diminuição da PCO2). Caso tenhamos um valor superior a +3, há um aumento do total de bases, ou seja, o organismo está retendo bases podendo indicar um distúrbio primário (alcalose metabólica) ou compensatório (acidose respiratória – retenção de bases para compensar um aumento de PCO2). ÂNION GAP: O Ânion Gap (AG) representa os ânions não quantificáveis no sangue, como o lactato. Os ânions quantificáveis são: HCO3– e Cl-. Vamos lembrar que existe a lei da eletroneutralidade, a qual diz que as cargas negativas são iguais às cargas positivas. O principal cátion mensurável é o sódio. Dessa forma, a quantidade do sódio tem que ser igual a quantidade do somatório de AG, HCO3– e Cl–, conforme equação e Figura 2 abaixo: As proteínas plasmáticas são as principais constituintes do AG, como a albumina. Logo, em casos de hipoalbuminemia devemos corrigir o valor do ânion gap de acordo com a albumina plasmática. Essa correção é feita através da fórmula de Figge: AG corrigido = AG + [(4,0 − Albumina) x2,5]. Porém, existe uma regra prática: para cada 1,0 g/dL que a albumina cai abaixo de 4, devemos acrescendo 2,5 mEq/L ao ânion gap calculado. Abordagem sistematizada da gasometria arterial: Hora de partir para a análise sistemática passo-a-passo da gasometria arterial. PASSO 1: Determine se existe uma acidemia ou alcalemia. Antes de tudo para interpretação de gasometria arterial: analise o pH PASSO 2: Identifique o distúrbio primário Após identificar se há acidemia ou alcalemia, devemos identificar se o distúrbio primário é metabólico ou respiratório. Para isso devemos analisar o HCO3 (componente metabólico) e a PaCO2 (componente respiratório). PASSO 3: Determinar se o distúrbio está sendo compensado Para acidose metabólica: A resposta compensatória deve ser uma hiperventilação a fim de reduzir o CO2 (observe a equação). Para avaliarmos essa resposta compensatória, calculamos o valor da pCO2 através da fórmula de Winter: pCO2 esperada = 1,5 x [HCO3] + 8 ± 2. Se a pCO2 estiver dentro da faixa esperada significa que está ocorrendo compensação, dessa forma, temos uma acidose metabólica COMPENSADA. Se estiver abaixo do valor mínimo esperado significa que está ocorrendo uma hiperventilação maior do que deveria e, por isso, existe TAMBÉM uma alcalose respiratória associada. Por fim, se o valor esperado for acima da faixa esperada, o paciente não hiperventila como deveria e, por isso, existe ASSOCIAÇÃO de uma acidose respiratória. Para alcalose metabólica: A resposta compensatória deve ser uma hipoventilação a fim de reter o CO2. Para avaliar essa resposta compensatória, calcula-se o valor do pCO2 através da fórmula: pCO2 = [HCO3]+ 15 ± 2. Para acidose respiratória: existe uma dificuldade de ventilação do paciente, isso leva a uma hipoventilação e, consequentemente, retenção do CO2. A resposta compensatória neste caso é renal (retém HCO3 ou excreta mais ácido), com posterior elevação do HCO3 na gasometria. Nos distúrbios respiratórios, avaliamos se o distúrbio é crônico ou agudo através da resposta compensatória. Nos distúrbios crônicos, observamos maior elevação de HCO3. Dessa forma, usamos as seguintes correlações: um acréscimo de 1 mEq/L no HCO3 para cada elevação de 10mmHg do pCO2 acima de 40 mmHg, nos casos agudos e um acréscimo de 4 mEq/L no HCO3 para cada elevação de 10mmHg do pCO2 acima de 40 mmHg, nos casos crônicos. Para alcalose respiratória: o paciente está hiperventilando e, consequentemente, “lavando” o CO2, isto é, expulsando o CO2. A resposta neste caso é renal com excreção de HCO3. Da mesma forma da acidose respiratória, aqui também avaliamos se o distúrbio é agudo ou crônico. Neste caso, as relações que usamos são: um decréscimo de 2 mEq/L no HCO3 para cada redução de 10mmHg do pCO2 abaixo de 40 mmHg, nos casos agudos e um decréscimo de 5 mEq/L no HCO3 para cada redução de 10mmHg no pCO2 abaixo de 40 mmHg, nos casos crônicos. Algumas vezes observamos a ocorrência simultânea de dois ou três distúrbios acidobásicos independentes. Este fenômeno é chamado de distúrbio misto, que não representa uma resposta compensatória. Uma forma de distinguir se é resposta compensatória ou distúrbio misto é observar o valor do pH. Na resposta compensatória, o pH nunca se normaliza, mas de forma oposta, podemos encontrar pH normal em distúrbios mistos opostos (por exemplo: acidose metabólica e alcalose respiratória simultaneamente). PASSO 4: Calcule o ânion gap e corrija seu valor para a albumina. Tudo do passo 4 para baixo só é válido para acidose metabólica! Se seu distúrbio inicial foi outro, sua análise termina no PASSO 3! Existem duas classificações da acidose metabólica. Ela pode ser com ânion gap elevado ou hiperclorêmica. Portanto, diante de uma acidose metabólica, devemos calcular o ânion gap para saber se é uma acidose metabólica com Ânion Gap elevado ou não. PASSO 5: Calcule o Delta/Delta Este passo deve ser feito se foi achado inicialmente uma acidose metabólica com ângio gap elevado. A relação ΔAG/ΔHCO3- (veja equação abaixo) normal é entre 1 e 2. Ela existe porque se eu tenho AG aumentado, eu tenho acúmulo de ácidos orgânicos. Assim, para que se mantenha o equilíbrio, deve existir uma diminuição obrigatória do bicarbonato. Se o delta/delta < 1, temos uma acidose metabólica hiperclorêmica associada à acidose metabólica com AG elevado. Ou seja, a diminuição do bicarbonato superou a elevação do AG. Se o delta/delta > 2, temos uma alcalose metabólica associada à acidose metabólica com AG elevado. Fluxograma sobre interpretação de gasometria 2. ESTUDAR A EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E CRÔNICA Ventilação: É o processo responsável pela renovação do gás alveolar, resulta de um uma ação integrada entre o centro respiratório, localizado no sistema nervoso central, vias nervosas que inervam os músculos respiratórios, caixa torácica (estrutura osteomuscular) e os pulmões. Perfusão: Os pulmões são bastante irrigados pela corrente sanguínea, sendo que os pequenos vasos são os responsáveis pela sua atividade funcional, ou seja, pelas trocas gasosas. A perfusão pulmonar pode ser alterada por obstrução do vaso sanguíneo (doenças tromboembólicas, por exemplo), redução dos capilares pulmonares (enfisema). Relação ventilação/perfusão (V/Q): Para que as trocas gasosas se processem adequadamente, deve haver uma relação adequada entre os alvéolos ventilados e a perfusão dos capilares correspondentes. Ou seja, os valores finais da PaCO2 e da PaO2 resultam de interações entre a ventilação alveolar e o fluxo sanguíneo, sendo que a relação V/Q é maior nos ápices pulmonares. As alterações na relação V/Q são as causas mais comuns de distúrbios das trocas gasosas. Difusão: É a troca gasosa entre o ar no interior do alvéolo e o sangue no interior do capilar pulmonar, por difusão passiva através da membrana alvéolo-capilar. A difusão ocorre pela diferença de concentração do oxigênio, que é maior no alvéolo do que no capilar, e do gás carbônico, maior no capilar do que no alvéolo. DEFINIÇÃO O papel mais significativo do sistema respiratório é o de efetuar a troca de oxigênio e gás carbônico na membrana alveolocapilar. Dessa maneira, define-se como insuficiência respiratória a situação em que há prejuízo na ventilação e nas trocas gasosas pulmonares. Insuficiência respiratória é, dessa forma, um desequilíbrio funcional que acontece devido à incapacidade de manutenção da adequada oxigenação dos tecidos e consequente eliminação do dióxido de carbono produzido no organismo. EPIDEMIOLOGIA É a causa mais frequente de internação hospitalar e óbitos em crianças menores de 1 ano de idade. A mortalidade entre adultos é de cerca de 40%. A IR pode ter origem em alterações pulmonares e de vias aéreas, de sistema nervoso central (SNC), de sistema cardiovascular, nervos periféricos, da parede torácica ou da pleura. CLASSIFICAÇÃO Quanto ao tempo de instalação: • Aguda: instalação em horas ou poucos dias (comumente 7-10 dias) onde os mecanismos adaptativos centrais, musculares e metabólicos (renais) ainda não foram acionados ou o foram de forma ineficaz. É nesse subgrupo em que nos deteremos neste documento. • Crônica: a IRp já vem ocorrendo em um tempo suficiente para que os mecanismos compensatórios consigam ou tentem manter o equilíbrio acidobásico e a oxigenação próximo à normalidade. A ausência de sintomas agudos e a presença de acidose respiratória sugere a cronicidade da insuficiência respiratória. Duas causas de insuficiência respiratória crônica são a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doenças neuromusculares. Pacientes com estes distúrbios desenvolvem a tolerância a uma piora gradual da hipoxemia e da hipercapnia. Quanto à fisiopatologia predominante: • Tipo I ou hipoxêmica: gasometria arterial evidenciando hipoxemia decorrente de alterações da troca gasosa e/ou do transporte de gases. PaO2 < 60 mmHg e PaCO2 < 50 mmHg; • Tipo II ou hipercápnica ou ventilatória: gasometria evidenciando hipercapnia com acidose respiratória decorrente de alterações do processo de ventilação que inclui a geração e transmissão do estímulo elétrico, a expansão da caixa torácica e a passagem do ar pelas vias aéreas. PaO2 < 60 mmHg e PaCO2 > 50 mmHg. O tipo I engloba principalmente os processos pulmonares agudos; o tipo II engloba mais os processos pulmonares crônicos. No entanto, a divisão não deve ser rígida, pois doentes com processos agudos podem reter CO2 (p.ex., na insuficiência respiratória provocada pela depressão do centro respiratório), bem como pacientes com doenças crônicas (p.ex., fibroses pulmonares) podem apresentar-se com insuficiência respiratória sem retenção de CO2. Na insuficiência respiratória hipoxêmica, a gasometria mostra uma PaO2 ≤ 50 mmHg com saturação de O2 < 90%. Ocorrem alterações no parênquima pulmonar inicialmente com hipoxemia e depois com retenção de CO2. Já na insuficiência hipercápnica, a fadiga ou o comprometimento muscular determina uma elevação na PaCO2 e, posteriormente, ocorre a hipoxia. Quanto à etiologia (doença ou condição que gerou o processo): A definição da doença de base orienta a abordagem terapêutica específica e evita a perpetuação da IRp. Ex.: IRp aguda hipercápnica por crise miastênica; IRp crônica hipoxêmica por persistência do canal arterial. ETIOLOGIACausas de Insuficiência Respiratória Hipoxêmica: Disfunções do coração, pulmões ou sangue. A etiologia é muito fácil de ser suspeitada através de anormalidades do R-X de tórax Causas da IR hipercápnica: • Disfunção respiratória central (medula) • Overdose de drogas, tumor, hipotireoidismo, hipoventilação central. • Doença neuromuscular: Guillain-Barré, Myastenia Gravis, polio, lesões da medula; • Doenças da parede torácica/pleura: cifoescoliose, pneumotórax, efusão pleural maciça • Obstrução de vias aéreas superiores: tumor, corpo estranho, edema de laringe • Doença de vias aéreas periféricas: asma, DPOC FISIOPATOLOGIA Fisiologia das trocas gasosas: A adequada oxigenação e a eliminação do gás carbônico dependem do funcionamento de diferentes componentes do sistema respiratório, o qual é dividido didaticamente em etapas específicas, porém interdependentes. As etapas são: 1. Ventilação alveolar; 2. Difusão; 3. Adequação entre a ventilação alveolar e a perfusão (relação ventilação-perfusão). A ventilação total é o volume de ar que entra e sai do sistema respiratório, podendo ser referida em unidade de tempo, por exemplo, minuto (volume minuto). Porém, parte deste volume não atingirá o compartimento alveolar, onde ocorrem as trocas gasosas, ficando em unidades denominadas espaço morto. O volume de ar que atinge os alvéolos constitui a ventilação alveolar e representa a quantidade de ar inspirado que estará disponível para as trocas gasosas. O objetivo da ventilação é a manutenção do ar alveolar com níveis elevados de O2 e baixos de CO2 para que, em contato com o sangue venoso, permita sua oxigenação e eliminação de CO2. A segunda etapa nas trocas gasosas é a difusão, que é o transporte passivo dos gases através da membrana alvéolo-capilar. A velocidade de difusão é proporcional à área do tecido e inversamente proporcional à sua espessura, o que faz dos pulmões um órgão muito eficaz, pois sua superfície alveolar é de 50 a 100 m2 e a espessura da membrana alvéolo-capilar é inferior a 0,5 mícron. A difusão ainda depende da diferença de concentração dos gases (entre o alvéolo e o sangue venoso) e da solubilidade dos mesmos, a qual é 20 vezes maior para CO2 do que para o O2. Por fim, para que ocorram as trocas gasosas, é necessário que as áreas ventiladas sejam perfundidas em uma proporção apropriada, o que é denominado relação ventilação/perfusão (V/Q). As desproporções entre as áreas ventiladas e as perfundidas são o principal mecanismo de desenvolvimento da IRpA Fisiopatologia da IRpA: A IRpA pode ocorrer por diferentes mecanismos fisiopatológicos, basicamente: 1. hipoventilação, 2. distúrbios de difusão, 3. distúrbios na relação ventilação/perfusão, 4. inalação de gás com baixa concentração de oxigênio. A hipoventilação é caracterizada pela renovação ineficaz do ar alveolar, por movimentação de quantidades inadequadas do ar atmosférico até os alvéolos. Como o sangue venoso continua chegando aos pulmões com baixas concentrações de O2 e elevadas concentrações de CO2, resultado do metabolismo celular, os níveis alveolares destes gases tornam-se progressivamente mais baixos (para o O2) e mais altos (para o CO2). Em algum momento na evolução desta condição, que será mais rápido ou tardio em função de sua intensidade, o indivíduo apresentará hipoxemia e hipercapnia. Nos distúrbios de difusão, há espessamento da membrana alvéolo-capilar, dificultando a difusão passiva de O2 e CO2. Como há grande reserva funcional na capacidade de difusão, ela não é comum como causa isolada de IRpA. Além disso, o CO2 é muito mais difusível pela membrana alvéolo-capilar do que para o O2, fazendo com que os distúrbios de difusão gerem hipoxemia sem hipercapnia. Na verdade, como tentativa de compensar hipoxemia decorrente do distúrbio de difusão, o indivíduo passa a hiperventilar, aumentando os níveis de alveolares de O2 e reduzindo os de CO2, ocasionando, assim, hipocapnia. Somente em fases mais avançadas pode-se encontrar normocapnia e, finalmente, hipercapnia. As causas mais comuns de IRpA são as que cursam com alteração na V/Q, sobretudo baixa V/Q. Na baixa V/Q, parte do sangue que chega aos pulmões passa por alvéolos pouco ventilados (ou não ventilados), portanto com níveis baixos de O2, o que ocasiona oxigenação insuficiente. A depender da fração do sangue que passa por estas regiões, o resultado final será a hipoxemia. Aqui também, a hiperventilação decorrente da hipoxemia e a maior capacidade de difusão do CO2 farão com que não haja hipercapnia, exceto em formas mais avançadas e/ ou graves. Por fim, a IRpA pode ocorrer por inalação de ar com baixos níveis de O2, como ocorre nas intoxicações por outros gases, como o monóxido de carbono (CO). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A insuficiência respiratória pode se apresentar de forma extremamente variada em sua intensidade, começando com uma fase latente, assintomática, detectada apenas por meio de provas de função pulmonar. Em uma etapa posterior, o indivíduo torna- se sintomático, sendo a dispneia a manifestação clássica, fase esta denominada compensada. Finalmente, em uma terceira etapa, observam-se, além da dispneia, a presença de hipoxemia com ou sem hipercapnia, ou seja, a falência da hematose, cuja expressão clínica se dará por incapacidade de manter a ventilação, maior trabalho ventilatório, cianose, uso de musculatura acessória, podendo evoluir para parada respiratória. É a fase descompensada da insuficiência respiratória. O mais notório sinal de hipoxemia, a cianose, é de detecção enganadora por sofrer influência das condições do paciente (melanina, anemia), do ambiente (luz) e do médico (percepção de cores). Os sintomas da hipoxemia aguda lembram os da intoxicação alcoólica: taquicardia, taquipneia, ansiedade, sudorese, alteração do estado mental, confusão, hipertensão, hipotensão, bradicardia, crise convulsiva, acidose lática. Os sintomas de hipercapnia, aguda ou subaguda, são basicamente os de um anestésico: sonolência progressiva, desorientação e coma. Cefaleia, por vasodilatação cerebral ou encefalopatia metabólica, é queixa proeminente. Outros sinais, relacionados com vasodilatação e altos níveis de catecolaminas circulantes, são rubor da pele, hiperemia das mucosas e de conjuntiva, sudoração e hipertensão leve a moderada. No geral, pacientes com insuficiência respiratória podem cursar com alterações de consciência, taquipneia, respiração paradoxal, uso de musculatura acessória, murmúrios vesiculares diminuídos, estertores crepitantes, sibilos, cianose, sudorese e taquicardia. DIAGNÓSTICO - IRPA HIPOXÊMICA (TIPO I) História Clínica: A investigação clínica deve estar voltada para condições que afetem a troca gasosa, marcadamente o comprometimento alveolar (pneumonia, congestão, hemorragia alveolar, SDRA), a perfusão pulmonar (tromboembolismo, hipertensão pulmonar, vasculites, choque, anemias graves) e a difusão dos gases na membrana alvéolo-capilar (doenças intersticiais fibrosantes, congestão e doenças de depósito). Exame Físico: Normalmente os pacientes com IRpA hipoxêmica se apresentam taquidispneicos, agitados, diaforéticos e com cianose de extremidades e perioral. O efeito da hipóxia tecidual pode causar ainda outros sintomas como fadiga, alteração do nível de consciência, cefaléia e angina pectoris. Gasometria arterial: A gasometria é o exame padrão- ouro na detecção e quantificação da IRpA hipoxêmica. O critério básico é uma PaO2 < 60 mmHg em ar ambiente ou uma relação PaO2/FIO2 < 300, sendo que ainda se pode estratificar a gravidade da hipoxemia em leve (PaO2/FIO2 entre 200 e 299), moderada (PaO2/FIO2 entre 100 e 199) e grave (PaO2/FIO2 < 100). Caso não se disponha de gasometria, a oximetriaperiférica pode ser utilizada, respeitando-se os critérios de uma onda de pulso regular, sem interferências e com estabilidade, sendo que o critério é uma SpO2 < 92%. Exames de imagem: A maioria dos pacientes com IRpA hipoxêmica irá apresentar na radiografia e/ou tomografia de tórax opacidades com padrão de envolvimento alveolar (consolidação, vidro fosco) ou intersticial (espessamento septal, nódulos, vidro fosco, faveolamento). Por sua praticidade e portabilidade, mais recentemente a ultrassonografia tem sido incorporada ao arsenal de exames de imagem que podem ajudar a identificar opacidades do parênquima pulmonar ou diferenciá-las de lesões pleurais ou de parede torácica. IRPA HIPERCAPNICA COM ACIDOSE RESPIRATÓRIA (TIPO II) História clínica: Não é incomum que a hipercapnia passe despercebida, muitas vezes atrasando o diagnóstico. Assim, é importante que na anamnese estejamos atentos a condições prévias que possam levar à hipoventilação tanto central (abuso de sedativos ou drogas ilícitas, doenças do sistema nervoso central) quanto periférica (doenças neurodegenerativas, distrofias musculares, deformidades torácicas, apneia obstrutiva do sono, síndrome de obesidade-hipoventilação, doenças obstrutivas de vias aéreas). Exame físico: Os principais sinais associados à redução da ventilação são o rebaixamento do nível de consciência, a respiração superficial, o uso de musculatura acessória da respiração, a fraqueza muscular periférica, os sinais de obstrução das vias aéreas como estridor, roncos e sibilos até, em última análise, os sinais de falência respiratória iminente como o torpor, o coma e a respiração paradoxal. Importante ressaltar que a taquidispneia pode ser um mecanismo compensatório da redução do volume corrente e portanto também um potencial sinal de hipoventilação. O efeito vasodilatador da hipercapnia pode ainda causar venodilatação periférica e congestão ocular. Gasometria arterial: A gasometria arterial é o exame padrão-ouro no diagnóstico de IRpA hipercápnica com acidose. Os critérios gasométricos são a PaCO2 > 45 mmHg com pH < 7,35. Outro dado relevante, caso não haja disfunção renal associada, é o excesso de base (EB) e o bicarbonato (HCO3) em níveis normais, reforçando o caráter agudo da condição. Exames de imagem: Como o distúrbio principal não está associado a alterações da troca gasosa no parênquima pulmonar, a radiografia e/ou tomografia do tórax não mostrará opacidades alveolares ou intersticiais, sendo mais comum a presença de redução dos volumes pulmonares sem alterações da densidade pulmonar ou mesmo hiperlucência difusa com aumento dos volumes pulmonares nos casos de doenças obstrutivas das vias aéreas, como DPOC e asma. Os exames radiológicos também podem ajudar na avaliação de deformidades da caixa torácica e alterações pleurais que possam justificar a hipoventilação, incluindo a ultrassonografia do tórax citada anteriormente. IRPA MISTA Definida como a coexistência de critérios clínicos, radiológicos e gasométricos para as duas condições: hipoxemia e hipercapnia com acidose. Pode estar associada a uma doença predisponente aos dois distúrbios (Ex.: exacerbação de DPOC); a duas ou mais patologias combinadas (Ex.: miastenia gravis descompensada por pneumonia) ou como parte de um estágio avançado de uma dos distúrbios (Ex.: PAC grave com fadiga muscular). TRATAMENTO O tratamento da insuficiência respiratória depende da fase em que o paciente se encontra. Nos casos crônicos e de progressão lenta, o diagnóstico e o tratamento adequado da doença de base são fundamentais na tentativa de evitar a evolução para uma fase de descompensação. Quando o paciente apresentar-se agudamente descompensado, o manejo inicial deverá focalizar três diferentes aspectos: controle das vias respiratórias, correção da hipoxemia e assistência ventilatória. Controle das vias respiratórias: A abordagem inicial deve garantir a via aérea permeável. Faz-se uma avaliação das vias aéreas superiores, procurando sinais que indiquem obstrução, como estridor, roncos ou retenção de secreções. Obstrução por corpo estranho e aspiração maciça de conteúdo gástrico devem ser consideradas. No caso de obstrução mecânica, está indicada broncoscopia, que servirá também para aspiração de secreções. Deve-se pesquisar anafilaxia como causa de obstrução de via aérea. Neste caso, os sintomas vão desde fraqueza, lacrimejamento, prurido, tonturas, sonolência, desmaios até urticária, angioedema, estridor laríngeo, broncospasmo, confusão mental, síncope, taquicardia, choque e óbito. A sedação é uma etapa decisiva para permitir uma ventilação adequada e efetiva. Além disso, oferece maior conforto ao paciente, diminui o esforço ventilatório, reduz o risco de barotrauma, facilita a realização de procedimentos e diminui o consumo de oxigênio e a produção de CO2. O midazolam é o benzodiazepínico de escolha, por ter início de ação rápido e por determinar amnésia. Correção da hipoxemia arterial e ventilação: A maioria dos pacientes com insuficiência respiratória precisa de frações de oxigênio suplementar progressivamente maiores, objetivando alcançar uma saturação da hemoglobina > 90%. A fração de oxigênio efetiva máxima obtida por sistemas não invasivos pode ser alcançada com cateter nasal, utilizando-se fluxos de 0,5 a 5 L/min e FiO2 de 0,4 a 0,5 dependendo da ventilação-minuto. Fluxos maiores através de cateteres nasais não são bem tolerados porque determinam irritação na mucosa nasal. Máscaras faciais tipo “Venturi” dão uma titulação mais controlada de FiO2, variando de 24 a 50%. Essas máscaras têm indicação mais precisa para os pacientes que necessitam de algum grau de hipoxemia para manterem o estímulo ventilatório. Níveis maiores de oxigênio podem ser obtidos por máscara facial com reservatório acoplado, em que o alto fluxo e a alta concentração de oxigênio mantêm esse reservatório preenchido com oxigênio a 100%, desde que o fluxo de oxigênio continue elevado, ou seja, maior do que 15 L/min. Nos pacientes em que a correção da hipoxemia se faz com baixos níveis de oxigênio, estes, caracteristicamente, sofrem de pequenas anormalidades na ventilação-perfusão. Tal resposta está presente em condições como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma e tromboembolismo pulmonar. PREVENÇÃO Tomar vacina da gripe e da pneumonia, manter uma boa alimentação, ter boas noites de sono e fazer exercícios físicos são pilares de uma vida saudável e evitam o desenvolvimento de doenças que causam a insuficiência respiratória, como pneumonia, DPOC, enfisema pulmonar e infarto. 3. DEFINIR EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO TRATAMENTO, COMPLICAÇÕES (EDEMA PULMONAR, HIPERTENSÃO PULMONAR E COR PULMONALE) DA DPOC A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença caracterizada por limitação crônica do fluxo aéreo, na maioria das vezes progressiva e parcialmente reversível, estando associada a uma resposta inflamatória anormal do pulmão à exposição de gases e partículas nocivas, principalmente os contidos na fumaça do cigarro. É, portanto, uma condição prevenível e tratável, embora não exista tratamento curativo. Além da limitação do fluxo aéreo, uma gama de alterações patológicas do pulmão decorrentes de DPOC somadas a repercussões significativas extrapulmonares e comorbidades, contribuem individualmente para a gravidade dos sintomas de dispneia e limitação da capacidade de exercício. Esses múltiplos fatores determinam a conduta terapêutica mais adequada para cada paciente. Enfisema pulmonar é uma das alterações patológicas que podem ocorrer na DPOC e descreve a destruição https://cuidadospelavida.com.br/cuidados-e-bem-estar/gripe-e-resfriado/vacina-da-gripehttps://cms.cuidadospelavida.com.br/saude-e-tratamento/insonia/dormir-bem-quantas-horas-de-sono-idade https://cuidadospelavida.com.br/saude-e-tratamento/asma-e-bronquite/enfisema-pulmonar-tem-cura-especialista-tira-suas-duvidas-sobre-condicao da superfície onde ocorrem as trocas gasosas nos pulmões, ou seja, nos alvéolos. EPIDEMIOLOGIA Apesar de várias dificuldades metodológicas, estudos efetuados em 28 países entre 1990 e 2000 e outro estudo do Japão (GOLD) sugerem que a prevalência da DPOC é maior em fumantes e ex-fumantes do que em não fumantes, acima dos 40 anos e em homens. Em 2000, houve 2,74 milhões de óbitos no mundo por DPOC, sendo esta a quarta causa de morte. Em um estudo sobre o impacto global da doença, foi considerado que uma epidemia poderia ocorrer devido ao aumento mundial do tabagismo (principalmente na África e na Ásia), à mudança da estrutura etária da população e ao declínio de outras causas de morte, como diarreia e doenças relacionadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). No Brasil, a DPOC foi a causa de morte que mais cresceu no período de 1980 a 1999, sendo que em 1999 foi a quinta causa de morte entre adultos. Em 2008, no Brasil, houve um total de 1.077.007 mortes por todas as causas, sendo 9,74% delas por doenças do sistema respiratório. Nesse grupo, 37.930 óbitos foram atribuídos à DPOC, que representou a 10ª principal causa de óbito e a segunda principal causa de óbito por doenças do sistema respiratório, perdendo apenas para a pneumonia. FISIOPATOGENIA A fisiopatogenia da DPOC parece ter influência genética e piorar com o estresse oxidativo e o excesso de proteinases pulmonares, levando às alterações patológicas características da doença. O estresse oxidativo gerado, entre outros fatores, pela fumaça do cigarro aumenta nas exacerbações da doença, agrava a DPOC, ativa genes da inflamação e estimula a exsudação plasmática, reduzindo a ação anti- inflamatória dos glicocorticoides. O desequilíbrio entre proteases e antiproteases pulmonares leva à destruição irreversível da elastina. A inflamação das vias respiratórias na DPOC representa um exagero da resposta inflamatória normal diante da exposição do pulmão a irritantes inalados, sendo que o mecanismo que leva a essa resposta exagerada ainda é pouco entendido. As alterações patológicas envolvem células inflamatórias, como neutrófilos, macrófagos e linfócitos. Os mediadores inflamatórios são de diversos tipos, podendo ser mediadores quimiotáticos que atraem células inflamatórias da circulação, citocinas pró-inflamatórias que aumentam o processo inflamatório ou fatores de crescimento que induzem mudanças estruturais. As diferenças entre a inflamação da DPOC e a inflamação da asma se associam a diversos efeitos fisiopatológicos, sintomas e resposta ao tratamento. Porém, pode haver uma mescla da inflamação da DPOC com a inflamação da asma, mostrando um aumento dos eosinófilos. Além disso, alguns asmáticos que fumam apresentam achados patológicos característicos de DPOC. QUADRO CLÍNICO Na prática assistencial, pacientes com DPOC podem se apresentar de três formas: Assintomáticos: ou com poucos sintomas, em particular, aqueles que apresentam estilo de vida sedentário. Nesse caso, frequentemente subestimam a intensidade das manifestações e devem ser interrogados sobre os tipos de atividades que podem levar a algum tipo de limitação. Sintomáticos crônicos: com tosse, expectoração, sibilância e dispneia. A dispneia costuma ser o sintoma mais importante e de maior impacto na qualidade de vida do paciente. Em geral é descrita como de intensidade progressiva aos esforços, aliviando com o repouso. Somente nos casos mais graves ocorre ao repouso. O paciente muitas vezes a descreve como uma sensação de “maior esforço para respirar”. Nos casos mais graves, ou agudos, relata sensação de “fome por ar” ou “urgência para respirar”. Na presença de escarro, este costuma ser mucoide e em pequena quantidade. Uma expectoração crônica, purulenta e em maior quantidade deve alertar para a presença de bronquiectasias. Em exacerbação aguda: Em algumas ocasiões, o primeiro contato do paciente com algum tipo de serviço médico é na emergência, na vigência de uma exacerbação, cujas manifestações principais são tosse, escarro frequentemente purulento, dispneia e sibilância. Na exacerbação, todos esses sintomas devem apresentar-se com maior intensidade do que o habitual. No diagnóstico diferencial da exacerbação aguda, é importante considerar que outros diagnósticos concomitantes são possíveis, como insuficiência cardíaca, tromboembolismo pulmonar e pneumonia. A presença concomitante de asma também é possível, pois uma parcela significativa de pacientes com DPOC apresenta história de asma brônquica. DIAGNÓSTICO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) continua sendo uma doença subdiagnosticada, concorrendo para isso fatores como longo período inicial de evolução clinicamente assintomática; adaptação dos pacientes à limitação lenta e progressiva do fluxo aéreo, o que diminui sua percepção da enfermidade nas fases iniciais; presença de comorbidades, o que pode gerar confusão no diagnóstico No exame físico, na maioria das vezes, os achados são inespecíficos. Sibilância pode ocorrer, mas não é comum fora da exacerbação. Achados mais contundentes costumam estar presentes nos pacientes com doença mais grave: redução bilateral e difusa do murmúrio vesicular, tórax hiperexpandido (“em barril”), respiração frenolabial, uso da musculatura respiratória acessória, retração dos espaços intercostais, uso dos pontos de ancoragem (fixação dos membros superiores, em abdução, para melhorar a eficácia da musculatura respiratória). Edema de membros inferiores e cianose central são característicos nos pacientes com cor pulmonale. Hipocratismo digital é incomum e sua presença deve alertar para possibilidade de câncer de pulmão, bronquiectasias ou doença pulmonar intersticial concomitante. Espirometria: A realização de espirometria, com as medidas do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), da capacidade vital forçada (CVF) e da relação VEF1/CVF, é fundamental para o diagnóstico de DPOC, junto com a história clínica. A obstrução ou limitação do fluxo aéreo é caracterizada pelo achado de uma relação VEF1/CVF inferior a 0,7 após o uso de broncodilatador, sendo o VEF1 um dos indicadores mais importantes para estratificar a gravidade da doença Para pacientes acima dos 60 anos, recomenda-se utilizar o limite inferior da normalidade para a relação VEF1/CVF a fim de que não seja superestimado o diagnóstico de DPOC nessa faixa etária. É muito importante salientar que, em pacientes com DPOC, frequentemente a capacidade vital lenta (CVL) é maior do que a CVF. Isso ocorre, em parte, pela maior compressão dinâmica das vias aéreas na manobra forçada, o que provoca deslocamento do ponto de igual pressão na direção das vias aéreas de maior calibre, resultando em menor volume de ar expirado. Capacidade inspiratória (CI): A CI, principalmente em pacientes mais graves, pode estar reduzida por efeito da hiperinsuflação pulmonar. Essa redução apresenta correlação com limitação ao exercício em pacientes com DPOC (consumo máximo de O2 na ergoespirometria e maior dispneia no teste de caminhada). Uma melhora da CI após o uso de broncodilatador correlaciona-se mais com a redução da dispneia do que o VEF1. Gasometria arterial e oximetria digital não invasiva (SpO2): O papel da gasometria na avaliação ambulatorial eletiva de pacientes com DPOC é bem mais limitado do que qualquer outro teste funcional. Ela não costuma ser recomendada, pois não é isenta de efeitos adversos decorrentes de punção arterial. Ao contrário,a oximetria digital não invasiva, pela simplicidade e rapidez da técnica, deve sempre fazer parte do exame físico. A gasometria arterial pode ser indicada para pacientes com SpO2 < 95%, em ar ambiente e em repouso, e em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo mais grave (VEF1 < 50% do previsto). Hipercapnia ocorre com mais frequência em pacientes com VEF1 < 1 L. Testes de exercício: O teste de caminhada dos 6 minutos é o teste mais bem validado e mais prático a ser realizado em pacientes com DPOC. É um exame que frequentemente se correlaciona com o desempenho do paciente em suas atividades diárias. Auxilia, também, como um dos indicadores prognósticos no índice de BODE (ver adiante). Além disso, permite detectar dessaturação sanguínea (da hemoglobina) ao exercício Raio-x: O rendimento da avaliação do enfisema pelo estudo radiológico simples é bastante limitado, não havendo anormalidade na radiografia se não existir aprisionamento de ar. Nesses casos, a principal alteração é a redução da vasculatura, perceptível apenas muito tarde na história natural da doença, além de ser um critério de extrema subjetividade. TC: A tomografia de tórax não é realizada na rotina em pacientes com DPOC. Ela está indicada nos casos em que há suspeita de deficiência de α1-antitripsina para avaliar a distribuição e o tipo de enfisema, na suspeita de neoplasia pulmonar ou doença pulmonar intersticial concomitante ao enfisema e na avaliação pré- operatória de cirurgia de redução de volume pulmonar ou transplante de pulmão. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E COMPLICAÇÕES Na maioria das situações, a história clínica cuidadosa aliada, algumas vezes, a exames complementares permite estabelecer o diagnóstico adequado. Do mesmo modo devem ser rastreadas as complicações sistêmicas da DPOC ou do seu tratamento, como osteoporose e diabete melito. Portadores de DPOC têm risco aumentado de desenvolver cardiopatia isquêmica. Na presença de dispneia ou hipoxemia desproporcionais à gravidade funcional da DPOC, devem ser investigados diagnósticos associados como insuficiência ventricular esquerda, hipertensão arterial pulmonar ou fibrose pulmonar idiopática. Os pacientes com DPOC possuem maior risco de apresentar câncer de pulmão. O aumento da dispnéia ou a piora injustificada da capacidade de exercício, a mudança no caráter da tosse sem associação com exacerbação da doença, a hemoptise, a sibilância localizada persistente na ausculta pulmonar e o hipocratismo digital devem servir de alerta para a investigação de câncer de pulmão. TRATAMENTO O tratamento farmacológico na DPOC é usado para prevenir e aliviar os sintomas, reduzir a frequência e a gravidade das exacerbações e melhorar a qualidade de vida e a capacidade de exercício. Os broncodilatadores são os medicamentos básicos para manejo da doença, e a sua via preferencial de administração é a inalatória.. A ocorrência de limitação persistente do fluxo aéreo determina a necessidade do uso contínuo de broncodilatadores inalatórios, exceto para os casos de doença leve (estádio 1), em que essas medicações poderão ser utilizadas em formulações de curta duração apenas quando necessárias. Os broncodilatadores mais utilizados na DPOC são os β2-agonistas e os anticolinérgicos. O tratamento broncodilatador é feito de forma escalonada, isto é, com associação de outra classe de medicamentos se a terapia inicial é insuficiente para controlar os sintomas. A praticidade dos β2-agonistas de longa duração e do brometo de tiotrópio, os quais poderão ser utilizados em duas e uma inalações diárias, respectivamente, os tornam atrativos para a escolha terapêutica nos pacientes com sintomas persistentes. As duas categorias de broncodilatadores mostraram um aumento da capacidade de exercício na DPOC, sem necessariamente aumentar o VEF1. A combinação de β2-agonistas e anticolinérgicos inalatórios determina um incremento maior e mais prolongado do VEF1 comparativamente ao uso isolado dessas medicações, reduzindo os seus efeitos colaterais e sem evidência de taquifilaxia com mais de 90 dias de tratamento O uso do corticosteróide inalatório deverá ser reservado para pacientes com VEF1 menor que 50% e que tenham apresentado exacerbações (p. ex., três nos últimos três anos), com necessidade do uso de corticosteróide sistêmico ou antibiótico. A associação do β2-agonista de longa duração com corticosteróide inalatório resultou em redução no número de exacerbações, melhora na qualidade de vida e no VEF1, em pacientes com DPOC e VEF1 menor que 60%. O uso do corticosteróide sistêmico na DPOC estável é contraindicado, devendo esse ser reservado apenas para as exacerbações da doença, nas quais comprovadamente reduz o índice de falha terapêutica, o tempo de internação e possibilita recuperação mais rápida da função pulmonar. Entretanto, deve ser utilizada a menor dose por curto tempo para minimizar os efeitos colaterais dos corticosteróides. As xantinas constituem-se na última opção terapêutica na DPOC, uma vez que sua potência broncodilatadora é inferior àquela dos β2-agonistas e anticolinérgicos, apresentando janela terapêutica estreita, com potencial risco de efeitos adversos. Os antibióticos deverão ser reservados para as exacerbações que cursem com aumento da dispnéia, aumento do volume e da purulência da expectoração. Em situações de exacerbações graves, com necessidade de ventilação mecânica, a antibioticoterapia está também indicada. Nesses casos, o antibiótico escolhido deverá levar em conta padrões locais de sensibilidade antibiótica para Streptococcus pneumoniae, Haemophillus influenzae e Moraxella catarrhalis. A vacinação anual para Influenza deverá ser indicada a todos os pacientes. Os pacientes jovens com deficiência hereditária grave de α1-antitripsina e enfisema estabelecido podem ser candidatos à terapia de reposição de α1-antitripsina. Entretanto, essa terapia é cara e não está indicada para pacientes com DPOC não-relacionada à deficiência de α1-antitripsina. LEMBRETES • A DPOC é bastante frequente e subdiagnosticada nas suas fases iniciais. A avaliação cuidadosa dos pacientes sob risco da doença, ou seja, dos fumantes, é necessária, sendo o aconselhamento e o tratamento do tabagismo as medidas mais efetivas para alterar a história natural da DPOC. • A base do tratamento da DPOC são as medicações broncodilatadoras inalatórias. A associação de diferentes classes de broncodilatadores potencializa os seus efeitos e minimiza os efeitos adversos. • O corticosteróide inalatório está indicado em pacientes com DPOC grave e história de exacerbações de repetição. • Os corticosteróides sistêmicos devem ser utilizados apenas nas exacerbações, sendo contra-indicados no manejo da doença estável. • As xantinas são inferiores aos β2-agonistas e anticolinérgicos inalatórios no tratamento da DPOC. • A redução na capacidade de exercício, o nível aumentado de dispnéia, a desnutrição, o grau de hiperinsuflação, a hipoxemia e a hipercapnia, assim como a redução do VEF1, são fatores prognósticos negativos na doença. 4. COMPREENDER AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A PREVENÇÃO DA DPOC No Brasil, a história de políticas públicas de saúde para controle do tabagismo e prevenção da DPOC começou cerca de três décadas atrás e culminou com a redução da prevalência do tabagismo no país. No entanto, medidas cujo objetivo é tratar a DPOC são avanços mais recentes, que envolvem a distribuição de medicamentos inalatórios fornecidos gratuitamente pelos serviços públicos de saúde, beneficiando, assim, pacientes submetidos a tratamento especializado. O principal fator de risco para a DPOC é o tabagismo, responsável por 80 a 90% dos casos. Outros fatores associadosà maior ocorrência da doença são a exposição à poluição do ar, especialmente à fumaça resultante da queima de biomassa, a idade avançada, ser do sexo masculino, ter baixo nível socioeconômico, ter tido infecções respiratórias na infância, além de fatores genéticos A Política Nacional de Promoção da Saúde inclui o controle do tabagismo como um dos temas centrais e incentiva financeiramente as ações para a criação de ambientes mais saudáveis. As vigilâncias sanitárias dos municípios podem e devem ser capacitadas para as ações de controle do tabagismo, orientando a população e os estabelecimentos comerciais sobre a importância dos ambientes saudáveis, ou seja, sem fumaça de derivados de tabaco. Assim, o cumprimento da Lei Federal nº 9.294/96, que dispõe sobre o uso de derivados de tabaco em recintos de uso coletivo, deve ser incluído entre as atividades fiscalizadas pela Vigilância Sanitária Municipal, após um período de processo educativo sobre a importância de ambientes 100% livres de fumaça. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio das Secretarias Estaduais de Saúde, são os responsáveis por essas ações e podem orientar na implementação delas no plano local. As medidas de proteção da saúde por meio de ações educativas e regulatórias para ambientes livres de fumaça devem ser prioritárias em todas as unidades de saúde, escolas e ambientes de trabalho de todos os municípios brasileiros. O Brasil assinou e ratificou a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), cujo objetivo maior é: “Proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco, proporcionando uma referência para as medidas de controle do tabaco... a fim de reduzir de maneira contínua e substancial a prevalência do consumo e a exposição à fumaça do tabaco”. Algumas das medidas da CQCT já estão em vigência no Brasil, mas muito ainda precisa ser feito nos próximos anos para que minimizemos os danos provocados pelo tabagismo na saúde, meio ambiente, economia e desenvolvimento sustentável. Os governos e legisladores têm várias tarefas a desempenhar para a implementação da CQCT, mas cada profissional da saúde também tem um papel. A Política Nacional de Promoção da Saúde, que traz recomendações e diretrizes para implementação de ações para realização de atividades físicas e práticas corporais. Antes do início de qualquer programa de atividade física, é necessário que seja feita avaliação clínica pela equipe de saúde de forma a individualizar e adequar os exercícios físicos às necessidades e limitações de cada pessoa. Na pessoa com asma, um programa regular de atividade física pode melhorar sobremaneira a mecânica respiratória e ventilação pulmonar, condicionando-a para o melhor enfrentamento das exacerbações. No entanto, esses programas devem ser adaptados e compostos por exercícios respiratórios diafragmáticos, caminhadas, corridas curtas (quando não resultam em perda do controle respiratório), exercícios posturais e de alongamento, devendo-se sempre atentar para a ocorrência de broncoespasmos induzidos pelo exercício. Essas ações têm caráter preventivo sobre as alterações torácicas e posturais típicas de pessoas com asma. A reabilitação pulmonar (RP) pode ser desde prevenção secundária quanto terciária, com efeitos significativos em vários domínios. A RP melhora a dispneia em pacientes com DRC • melhora a qualidade de vida e traz benefícios psicossociais aos pacientes • reduz o número de hospitalizações • é custo-efetiva em pacientes com DPOC Quando se avalia o desfecho de melhora na sobrevida, não há evidência significativa em pacientes com DPOC. Recomenda-se a RP por um período de 6 a 12 meses. Quanto à intensidade dos exercícios, não há diferença entre exercícios de baixa e de alta intensidade para pacientes com DPOC I. A reabilitação respiratória pode ser integrada com reabilitação cardiovascular e metabólica RCPM (reabilitação cardiovascular, pulmonar e metabólica), integrando os pacientes de diversas patologias, porém preservando suas individualidades. São três fases no programa (fases A, B e C) com complexidade decrescente de comorbidades e riscos dos pacientes. O objetivo é que aquela pessoa debilitada evolua dentro do programa de reabilitação para a fase C, ou de promoção em saúde. Esse programa é o único existente na Atenção Primária da rede pública de saúde, envolvendo os profissionais das equipes de PSF e as profissões complementares como fisioterapia, educação física e nutrição. Portanto, o programa é desenvolvido em vários centros de saúde da cidade. Ele engloba as três esferas de prevenção (primária, secundária e terciária) e é uma parceria bem sucedida entre a Secretaria Municipal de Saúde e as universidades Udesc (fisioterapia) e UFSC (educação física). A fase A, reabilitação propriamente dita, segue as recomendações da diretriz de reabilitação cardiopulmonar e metabólica, com aspectos práticos e responsabilidades para as equipes. Por se tratar de um público com maior chance de complicações e intercorrências, pelo menos um médico, enfermeiro e técnico de enfermagem (que são funcionários da própria unidade de saúde) são responsáveis pela equipe de reabilitação no centro de saúde, e complementam e dão suporte à atividade do fisioterapeuta. Todos os profissionais envolvidos receberam treinamento de suporte básico de vida (BLS) e de RCPM. Na fase B, ou intermediária, as turmas são de até 25 pessoas para um educador físico, com o objetivo de desenvolvimento das capacidades físicas, enfatizando principalmente a força, equilíbrio, flexibilidade, coordenação e resistência aeróbica. Além de exercícios específicos para reeducação postural, fortalecimento da musculatura pélvica e descontração muscular. As atividades físicas são padronizadas para as turmas com a prática de exercícios físicos (ginástica) com periodicidade de três vezes por semana e duração de uma hora, ministradas nos centros de saúde. As aulas são divididas em três partes: Parte inicial – aquecimento articular, alongamento e aquecimento geral (15 min); Parte principal – o objetivo da aula, que pode ser desenvolver a força, resistência aeróbia, trabalhar a postura, flexibilidade (40 min); e Parte final – relaxamento e alongamento (15 min). Para aqueles da fase C, ou pessoas sem comorbidades e independentes, os encontros se dão com turmas de até 35 pessoas para um educador físico. As atividades são de ginástica, atividades lúdicas, grupos de dança de salão. Para fazer parte do programa, o médico responsável deve obrigatoriamente fazer uma avaliação inicial dos pacientes encaminhados pelos demais profissionais de outras áreas de abrangência. Nessa avaliação são levados em conta os critérios de inclusão e afastadas patologias potencialmente fatais. Uma vez incluídos no programa, os pacientes são acompanhados e monitorizados de acordo com suas patologias. As turmas são de até 20 pessoas para um fisioterapeuta, com o enfoque de reabilitação cardiovascular, pulmonar e metabólica. As atividades também são padronizadas e têm periodicidade de três vezes semanais, desenvolvidas da seguinte forma: a) Parte inicial: 10 minutos – realiza-se aquecimento e alongamento nas principais articulações. Os dados vitais são coletados nessa fase inicial; b) Parte principal: 45 minutos – exercício aeróbico por meio de caminhada e exercício resistido, com o uso de pesos; e c) Parte final: 10 minutos – consiste em realizar novamente alongamento e relaxamento da musculatura e novos dados vitais são coletados
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