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DIARREIAS SOI IV | APG 06 - SISTEMA DIGESTÓRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Estudar os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nos tipos de diarreias; 2. Compreender a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da diarreia aguda e crônica (na criança, adulto e idoso). MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS E TIPOS DE DIARREIAS Entende-se por diarreia o quadro onde há um aumento do volume das fezes, diminuição na consistência ou aumento de aquosidade e/ou aumento da frequência das evacuações sendo considerada quando há mais de três evacuações no período de 24 horas. Normalmente, o intestino delgado e cólon absorvem 99% do líquido ingerido por via oral e das secreções do trato gastrintestinal — na quantidade total de cerca de 9 a 10 L por dia. Assim, mesmo pequenas reduções na absorção ou incrementos na secreção de água pelo intestino podem resultar em água suficiente para causar uma diarreia. O que difere diarreia de disenteria, é que para ser disenteria, a diarreia tem que estar associada a dor, com muco e sangue nas fezes. A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração do sintoma, na origem e na fisiopatologia. ● Quanto ao tempo de duração: > Diarreias agudas: são aquelas com duração menor que 2 semanas, sendo a causa mais comum por infecções. > Diarreias persistentes: duração 2 e 4 semanas. > Diarreias crônicas: acima de 4 semanas. ● Quanto à origem: ● Quanto à fisiopatologia: Quanto ao mecanismo fisiopatológico, são categorizadas em osmótica, secretória, inflamatória, disabsortiva e funcional, sendo as 4 primeiras diarreias orgânicas e a última não orgânica. DIARREIA OSMÓTICA Ocorre por acúmulo de substâncias hidrossolúveis não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim, ocorre retenção de líquidos intraluminais e consequentemente diarreia. É a partir desse mesmo mecanismo que funcionam os laxativos. Ex.: deficiência de dissacarídeos, alta ingestão de carboidratos pouco absorvíveis (sorbitol, manitol, lactose - em caso de indivíduos intolerantes), abuso de laxativos (sais de magnésio, fosfato de sódio). DIARREIA SECRETORA Distúrbio no processo hidroeletrolítico pela mucosa intestinal, por meio do aumento de secreção de íons e água para o lúmen ou inibição da absorção, por meio de drogas ou toxinas. Diferentemente da osmótica, não melhora com jejum e é responsável por um grande volume de fezes aquosas. Infecções (p. ex., gastroenterite) são as causas mais comuns da diarreia secretora. Infecções combinadas à intoxicação alimentar são as causas mais comuns de diarreia aguda (< 4 dias de duração). A maioria das enterotoxinas bloqueia as trocas de Na+ H+, que são uma importante força que orienta a absorção de líquidos no intestino delgado e cólon. Fármacos podem estimular a secreção intestinal diretamente (p. ex., quinidina, quinino, colchicina, catárticos da antraquinona, óleo de rícino, https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastroenterite/vis%C3%A3o-geral-de-gastroenterite 2 prostaglandinas) ou indiretamente pela alteração na absorção de gordura (p. ex., orlistat). Vários tumores endócrinos produzem secretagogos, incluindo vipomas (peptídeo intestinal vasoativo), gastrinomas (gastrina), mastocitose (histamina), etc. Alguns destes mediadores (p. ex., prostaglandinas, serotonina) também aceleram o trânsito intestinal, o trânsito colônico ou ambos. A absorção prejudicada de sais biliares, que pode ocorrer com vários distúrbios, pode causar diarreia por estimulação da secreção de água e eletrólitos. As fezes têm uma coloração verde ou laranja. DIARREIA INFLAMATÓRIA Como o próprio nome indica, é causada por uma alteração inflamatória, levando a produção de muco, pus e/ ou sangue nas fezes. Pode ter alteração laboratorial da calprotectina ou lactoferrina fecal. Entre as causas, destacam-se a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Geralmente as evacuações são de menor volume e vem acompanhada de febre, dor abdominal intensa e tenesmo. Ex. Infecção por Shigella. DIARREIA DISABSORTIVA Também conhecida como esteatorreia. A causa está associada a baixa absorção dos lipídios no intestino delgado. Pode induzir diarreia com fezes gordurosas, de odor fétido e difíceis de escoar, frequentemente associada a perda ponderal e déficit nutricional decorrente da má absorção de aminoácidos e vitaminas. Por exemplo, doença celíaca, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase e linfoma intestinal. DIARREIA FUNCIONAL Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes corretamente. Ocorre por hipermotilidade intestinal. Não existe lesão estrutural ou orgânica. Exemplos: síndrome do intestino irritável e diarreia diabética (neuropatia autonômica). DIARREIA AGUDA VS DIARREIA CRÔNICA DIARREIA AGUDA As diarreias agudas ou doenças diarreicas agudas (DDA) começam subitamente e persistem por menos de 2 semanas. > Epidemiologia: Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo sofrem um ou mais episódios de diarreia aguda a cada ano. Das 100 milhões de pessoas acometidas anualmente por diarreia aguda nos EUA, quase metade tem de restringir as atividades, 10% consultam um médico, cerca de 250 mil precisam de hospitalização e aproximadamente 5 mil morrem. A diarreia infecciosa aguda continua sendo uma das causas mais comuns de mortalidade nos países em desenvolvimento, principalmente entre crianças pobres. A diarreia aguda recorrente em crianças de países tropicais resulta em enteropatia ambiental com impactos de longo prazo nos desenvolvimentos físico e intelectual. A doença diarreica ocorre com frequência inicial em países com recursos limitados, sobrepostos a casos epidêmicos de diarreia, disenteria ou diarreia aquosa. A maioria dos casos de diarreia está associada a alimentos e fontes de água contaminados, e mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso ao saneamento básico. > Etiologia, características e divisões: Geralmente é causada por agentes infecciosos (bactérias, vírus e outros parasitas, como os protozoários) que geram a gastroenterite – inflamação do trato gastrointestinal – que afeta o estômago e o intestino. A infecção é causada pelo consumo de água e alimentos contaminados, contato com objetos contaminados e também pode ocorrer pelo https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/tumores-do-trato-gastrintestinal/vipoma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/tumores-do-trato-gastrintestinal/gastrinoma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/imunologia-dist%C3%BArbios-al%C3%A9rgicos/dist%C3%BArbios-al%C3%A9rgicos,-autoimunes-e-outras-rea%C3%A7%C3%B5es-de-hipersensibilidade/mastocitose-e-s%C3%ADndrome-da-ativa%C3%A7%C3%A3o-dos-mast%C3%B3citos 3 contato com outras pessoas, por meio de mãos contaminadas, e contato de pessoas com animais. A diarreia também pode ser de origem não infecciosa podendo ser causada por medicamentos, como antibióticos, laxantes e quimioterápicos utilizados para tratamento de câncer, ingestão de grandes quantidades de adoçantes, gorduras não absorvidas, e até uso de bebidas alcoólicas, por exemplo. Frequentemente são subdivididas em não inflamatórias (volumes grandes) e inflamatórias (volumes pequenos) com base nas características das fezes diarreicas. Alguns patógenos entéricos não são invasivos e não provocam inflamação, mas secretam toxinas que estimulam a secreção de líquidos. Outros invadem e destroem as células epiteliais e alteram o transporte de líquidos, de modo que a atividade secretória continua, mas a atividade absortiva é interrompida ● Diarreia aguda não inflamatória: Está associada à eliminação de fezes líquidas volumosas, mas sem sangue; cólicas periumbilicais, distensão abdominal por gases; e náuseas ou vômitos. Em muitos casos, esse tipo de diarreia é causado por bactérias produtoras de toxinas (p. ex., S. aureus, E. coli enterotoxigênica, Cryptosporidiumparvum, Vibrio cholerae) ou outros patógenos (p. ex., vírus, Giardia) que interrompem a absorção ou o processo secretório normal do intestino delgado. Vômitos abundantes sugerem enterite viral ou intoxicação alimentar por S. aureus. Embora geralmente seja branda, a diarreia pode ser volumosa e causar desidratação com hipopotassemia e acidose metabólica (i. e., cólera). Como não há invasão dos tecidos, também não há leucócitos nas fezes. ● Diarreia aguda inflamatória: Geralmente se caracteriza por febre e diarreia sanguinolenta (disenteria). Esse tipo de diarreia é causado pela invasão das células intestinais (p. ex., Shigella, Salmonella, Yersinia e Campylobacter) ou toxinas associadas às infecções descritas antes por C. di�cile ou E. coli. Como as infecções associadas a esses microrganismos afetam predominantemente o intestino grosso, a eliminação de fezes é frequente e a defecação está associada a cólicas no quadrante inferior esquerdo do abdome, urgência para defecar e tenesmo. A disenteria infecciosa deve ser diferenciada da colite ulcerativa aguda, que pode causar diarreia sanguinolenta, febre e dor abdominal. Diarreia que persiste por 14 dias não pode ser atribuída a patógenos bacterianos (exceto C. di�cile) e o paciente deve ser avaliado à procura de outra causa de diarreia crônica. > Fatores de risco: Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode manifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após a contaminação. No entanto, alguns comportamentos podem colocar as pessoas em risco e facilitar a contaminação como: ● Ingestão de água sem tratamento adequado; ● Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento; ● Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e derivados; ● Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou mal cozidos; ● Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada; ● Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias; ● Falta de higiene pessoal. > Manifestações e complicações clínicas: Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda no período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) podendo ser acompanhados de cólicas abdominais, dor abdominal, febre, sangue ou muco nas fezes, náusea ou vômitos. A principal complicação é a desidratação, que se não for corrigida rápida e adequadamente, em grande parte dos casos, especialmente em crianças e idosos, pode causar complicações mais graves. O paciente deve estar atento e retornar ao serviço de saúde caso tenha piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa alimentar, sangue nas fezes ou diminuição da urina. Atenção: Crianças e idosos com DDA correm risco de desidratação grave. Nestes casos, a procura ao serviço de saúde deve ser realizada em caráter de urgência. .> Diagnóstico: O diagnóstico das causas etiológicas, ou seja, dos microrganismos causadores da DDA é realizado apenas por exame laboratorial por meio de exames parasitológicos de fezes, cultura de bactérias (coprocultura) e pesquisa de vírus. Nem sempre é possível, uma vez que há grande dificuldade para realização das coletas de fezes. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/saude-de-a-a-z/c/cancer 4 O diagnóstico laboratorial é importante para determinar o perfil de agentes etiológicos circulantes em determinado local e, na vigência de surtos, para orientar as medidas de controle. Em casos de surto, solicitar orientação da equipe de vigilância epidemiológica do município para coleta de amostras. > Tratamento: Se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B e C descritos abaixo. Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clínica do paciente e do seu estado de hidratação. PLANO A Consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente hidratado para realizar no domicílio: - Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois dessa forma evita-se a desidratação; - Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleitamento materno; - Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; - Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); - Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias. PLANO B Consiste em três etapas direcionadas ao paciente com desidratação, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa. - Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidratação; - Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; - Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos. PLANO C Consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente com desidratação grave. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já devem ser 5 efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde. - Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção); - O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; - Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações; - Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos. DIARREIA CRÔNICA A diarreia é considerada crônica quando os sintomas persistem por 4 semanas ou mais. A diarreia crônica está associada frequentemente aos distúrbios como SCI, síndromes de má absorção, doenças endócrinas (hipertireoidismo, neuropatia autônoma diabética) ou colite pós-irradiação. > Epidemiologia: Uma aproximação razoável, baseada apenas no aumento da frequência das fezes, é que a diarreia crônica afeta aproximadamente 3 a 5 % da população em algum momento da vida. Além disso, há impacto na qualidade de vida dos indivíduos afetados. > Etiologia, característica e divisões: Em países ricos as causas comuns são a síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória do intestino, síndromes de má absorção (como intolerância à lactose e doença celíaca) e infecções crônicas (particularmente em pacientes imunocomprometidos). Doença inflamatória intestinal (DII) refere-se principalmente à colite ulcerativa e doença de Crohn, embora outras doenças intestinais também estejam associadas à inflamação intestinal. Formas inflamatórias de diarreia tipicamente têm a presença de fezes líquidas com sangue e dor abdominal. Má absorção é causada por muitas doenças, medicações,ou produtos nutricionais diferentes que comprometem a digestão intraluminal, absorção pela mucosa ou transporte dos nutrientes até a circulação sistêmica. A má absorção costuma ser acompanhada por esteatorreia e pela passagem de fezes pálidas, volumosas e malcheirosas. Em países subdesenvolvidos, a diarreia crônica é frequentemente causada por infecções crônicas bacterianas, micobacterianas e parasitárias, embora distúrbios funcionais, má absorção e doença inflamatória intestinal também sejam comuns. Algumas infecções persistentes (por exemplo, C. di�cile, Aeromonas, Plesiomonas, Campylobacter, Giardia, E. histolytica, Amebae, Cryptosporidium , doença de Whipple e Cyclospora ) podem estar associadas à diarreia crônica. Microsporidium deve ser considerado em pacientes imunocomprometidos com diarreia persistente. > Fatores de risco: ● Idade de início após os 50 anos; ● Sangramento retal ou melena; ● Dor noturna ou diarreia; ● Dor abdominal progressiva; ● Perda de peso inexplicável, febre ou outros sintomas sistêmicos; ● Anormalidades laboratoriais (anemia por deficiência de ferro, proteína C reativa elevada ou calprotectina fecal); ● História familiar de doença inflamatória intestinal (DII) ou câncer colorretal. > Manifestações e complicações clínicas: O principal sintoma que facilita o reconhecimento do problema é a diarreia que persiste por mais de três semanas. Em casos mais graves, a pessoa pode ter incontinência anal – que é uma perda da capacidade de controlar a eliminação das fezes e/ou gases. Existem quatro grupos principais de diarreia crônica: conteúdo intraluminal hiperosmótico; aumento dos processos secretórios do intestino; doenças inflamatórias; e processos infecciosos. A diarreia factícia é causada pelo uso indiscriminado de laxantes ou pela ingestão excessiva de alimentos laxativos. Além disso, algumas doenças não infecciosas também podem desencadear diarreia, como a doença de Crohn, as colites ulcerosas, a doença celíaca, a síndrome do intestino irritável e intolerâncias alimentares como à lactose e ao glúten. > Diagnóstico O diagnóstico da diarreia baseia-se nas queixas de defecação frequente e no relato de fatores associados, 6 inclusive doenças coexistentes, uso de fármacos e exposição a possíveis patógenos intestinais. Os distúrbios como DII e doença celíaca devem ser considerados. Quando o início da diarreia está relacionado com uma viagem ao exterior, deve-se considerar a possibilidade de diarreia do viajante. > Tratamento Os fármacos usados para tratar diarreia incluem difenoxilato e loperamida, que são derivados opioides. Esses fármacos reduzem a motilidade GI e estimulam a absorção de água e eletrólitos. As preparações adsorventes como o caulim e a pectina adsorvem substâncias irritantes e toxinas do intestino. Esses ingredientes são incluídos em algumas preparações antidiarreicas vendidas sem prescrição, porque adsorvem as toxinas responsáveis por alguns tipos de diarreia. O subsalicilato de bismuto pode ser usado para reduzir a frequência das evacuações malformadas e aumentar a consistência das fezes, principalmente nos casos de diarreia do viajante. Esse fármaco parece inibir a secreção intestinal causada pela E. coli enterotoxigênica e pelas toxinas da cólera. Os fármacos antidiarreicos não devem ser usados por pacientes com diarreia sanguinolenta, febre alta ou sinais de toxemia em vista do risco de agravarem a doença. Os antibióticos devem ser reservados para pacientes com patógenos entéricos confirmados. > FÁRMACOS ANTIMOTILIDADE São derivados de opioides, como a loperamida e o difenoxilato. Eles ativam receptores opioides pré-sinápticos no sistema nervoso entérico para inibir a liberação de ACh e diminuir o peristaltismo. Em doses usuais, não têm efeito analgésico. Como esses fármacos podem contribuir para o megacolo tóxico do intestino, não devem ser usados em crianças ou em pacientes com colite grave. Loperamida: A loperamida, um derivado butiramídico da piperidina com atividade nos receptores μ (presentes nos nervos entéricos, nas células epiteliais e nos músculos) é um agente antidiarreico ativo por via oral. O fármaco é 40-50 vezes mais potente que a morfina como agente antidiarreico e alcança concentrações baixas no SNC. A loperamida aumenta os tempos de trânsito no intestino delgado e do trajeto da boca ao ceco. A loperamida também aumenta o tônus do esfi ncter anal, efeito que pode ter utilidade terapêutica em alguns pacientes com incontinência anal. Além disso, apresenta atividade antissecretora contra a toxina da cólera e alguns tipos de toxina da Escherichia coli, possivelmente por atuar nos receptores ligados à proteína Gi e impedir o aumento do AMP cíclico celular gerado em resposta às toxinas. > FÁRMACOS ADSORVENTES Os fármacos adsorventes, como hidróxido de alumínio e metilcelulose, são usados para controlar diarreias. Presumivelmente, esses fármacos atuam adsorvendo toxinas intestinais ou microrganismos e/ou revestindo e protegendo a mucosa intestinal. Eles são muito menos eficazes do que os fármacos antimotilidade e podem interferir na absorção de outros fármacos. > FÁRMACOS QUE MODIFICAM O TRANSPORTE DE LÍQUIDO E ELETRÓLITOS O salicilato de bismuto, usado na diarreia do viajante, diminui a secreção de líquidos no intestino. Sua ação pode ser devida ao componente salicilato, bem como sua ação de revestimento. Os efeitos adversos podem incluir língua escurecida e fezes pretas. 7