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Alterações do Crescimento e Desenvolvimento do Lactente


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Saúde da Criança e do Adolescente II – Alterações do Desenvolvimento e do Crescimento do Lactente 
O desenvolvimento infantil é considerado um processo que se inicia desde a vida intrauterina e que envolve o 
crescimento físico, a maturação neurológica e a construção de habilidades nas áreas cognitiva, social, com-
portamental e afetiva da criança, tornando-a componente para responder às suas necessidades e às do seu 
meio. 
Os primeiros anos de vida são considerados críticos para o desenvolvimento infantil, já que há maior plastici-
dade cerebral, o que favorece o desenvolvimento de todas as potencialidades da criança. A plasticidade neu-
ronal é reforçada no cérebro em desenvolvimento e a experiência apropriada neste período é fundamental para 
a adequada função dos sistemas neurais. 
A presença de determinadas condições biológicas e/ou ambientais desfavoráveis ao potencial neuropsicomo-
tor, pode colocar em risco o desenvolvimento de uma criança. Estas condições, denominadas fatores de risco, 
aumentam as chances de a criança apresentar atraso e distúrbios do desenvolvimento. Os principais fatores de 
risco para alterações no desenvolvimento incluem os diagnósticos estabelecidos, os fatores biológicos e os 
ambientais. Cuidados precários à saúde e/ou educação, fatores socioeconômicos, ambiente familiar e/ou meio 
desfavorável, acidentes e violência. Características multifatoriais e efeitos cumulativos de riscos estão atrela-
dos ao processo de desenvolvimento infantil. 
A ausência de laços afetivos durante a infância também interfere no desenvolvimento da criança, o que pode 
afetar suas relações sociais e com o meio. A separação de pessoas significativas e a institucionalização pro-
longada agem como importantes fatores de risco para o potencial de desenvolvimento da criança. 
Para tentar minimizar o atraso no desenvolvimento das crianças com fatores de risco, incluindo os que estão 
relacionados à institucionalização, torna-se necessária uma avaliação precoce e criteriosa. Ocorrendo a iden-
tificação de desenvolvimento atípico uma intervenção adequada deverá ser elaborada na tentativa de estimular 
as áreas com atraso. Atualmente, sabe-se que a intervenção nos primeiros anos de vida apresenta resultados 
mais eficazes. A partir da avaliação e da identificação dos efeitos de um programa de estimulação que consi-
dere e relacione as diferentes áreas do desenvolvimento. 
Crescimento 
O crescimento é um processo característico dos seres vivos definido pelo aumento linear das estruturas que as 
compõem. Resultante da interação de fatores genéticos, que têm sua expressão modulada por características 
ambientais, nutricionais, socioeconômicas e emocionais. Nas consultas médicas do lactente, a avaliação do 
crescimento é importante para o diagnóstico do estado de saúde e do estado nutricional da criança. Baixo peso 
ao nascer, baixa estatura ou parada de crescimento linear, emagrecimento, sobrepeso e outras mostram altera-
ções das dimensões corporais que podem apontar situações como aporte insuficiente ou excessivo de alimen-
tar, atividade física insuficientes, presença de doença atual ou progressiva, risco aumentado de adoecer e/ou 
morrer. 
O crescimento pode ser avaliado por métodos clínicos, radiológicos e antropométricos. Os métodos clínicos 
têm como base a anamnese e o exame físico e são usados em conjunto com os exames subsidiários e com a 
antropometria. As medidas mais utilizadas para a avaliação do crescimento são: peso, comprimento ou altura, 
perímetro cefálico e torácico. 
Na avaliação do crescimento dos primeiros meses de vida, são importantes os dados antropométricos ao nascer 
(peso, comprimento e perímetro cefálico) e a duração da gestação. Alterações no organismo materno, bem 
como condições externas que cercam a evolução da gestação, podem influenciar o peso ao nascer. A compre-
ensão sobre os mecanismos que levaram às alterações do crescimento fetal é fundamental para o prognóstico 
e o acompanhamento do crescimento pós-natal. 
A classificação do peso ao nascer da OMS, estabelece faixas de peso, independentemente da idade gestacional 
e do sexo do recém-nascido: 
Peso menor que 1500 gramas: RN com muito baixo peso. 
Peso menor que 2500 gramas: RN com baixo peso. 
Peso entre 2500 e 2999 gramas: RN com peso insuficiente. 
Peso entre 3000 a 3999 gramas: RN com peso adequado. 
Peso maior ou igual a 4000 gramas: RN Macrossômico. 
A incidência de Baixo Peso ao Nascer é considerada um importante indicador de saúde refletindo condições 
de vida, nutricionais e de acesso a serviços de saúde. 
Durante os primeiros 18 a 24 meses, a criança pode variar sua velocidade de crescimento e oscilar sua posição 
nos percentis da curva de referência até atingir seu curso individual. A criança busca adequar seu potencial 
genético às condições prévias de gestação e adaptação pós-natal. O lactente apresenta com frequência situa-
ções temporárias de doença e/ou perdas nutricionais que interferem no processo normal de aquisição de peso 
e/ou estatura. Definir a desnutrição a aferir sua gravidade, situação que inicia a desaceleração e parada de 
crescimento, nem sempre é fácil, principalmente quando não é possível fazer avaliações seriadas e dispõe-se 
somente de uma medida isolada de peso e/ou comprimento. 
No lactente também é importante o seguimento dos ganhos em relação ao perímetro cefálico (PC), considerado 
um bom indicador da adequação do crescimento do sistema nervoso central. Nos primeiros meses de vida, 
alterações do PC podem anteceder atrasos do desenvolvimento neuropsicomotor. A avaliação do crescimento 
do lactente tem, prioritariamente, os seguintes propósitos: detecção da desaceleração e parada do crescimento 
e do crescimento excessivo; avaliação da adequação do aleitamento e da época apropriada da introdução da 
alimentação complementar; avaliação do impacto das doenças sobre o crescimento; programação de interven-
ções nos indivíduos de maior risco. E avaliação do seu impacto e orientação aos cuidadores. 
Desenvolvimento 
O acometimento do desenvolvimento da criança na atenção básica objetiva sua promoção, proteção e a detec-
ção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir em sua vida futura. A criança deve 
atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são 
sequenciais. 
O acompanhamento do desenvolvimento da criança na atenção básica objetiva sua promoção, proteção e a 
detecção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir em sua vida futura. A criança 
deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cogni-
tivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá 
superar o atraso do seu desenvolvimento. Afinal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai 
crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e os estímulos deles recebido. A identi-
ficação de problemas (tais como: atraso no desenvolvimento da fala, alterações relacionais, tendência ao iso-
lamento social, dificuldade no aprendizado, agressividade, entre outros) é fundamental para o desenvolvi-
mento e a intervenção precoce para o prognóstico dessas crianças. 
Síndrome da Paralisia Cerebral 
A paralisia cerebral (PC) refere-se a síndromes não progressivas caracterizadas por diminuição da postura ou 
dos movimentos voluntários resultantes de malformações do desenvolvimento pré-natal ou por lesões do SNC 
peri ou pós-natais. Geralmente ocorre antes dos 2 anos (sendo alguns autores caracterizando como 3 anos), 
não é um distúrbio específico ou uma síndrome única, 0.1 a 0.2% das crianças são afetadas, sendo que 15% 
dos prematuros são acometidos. A desordem motora na paralisia cerebral pode ser acompanhada por distúrbios 
sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e comportamental,por epilepsia e problemas musculoes-
queléticos secundários. Não há correlação direta entre o repertório neuromotor e repertório cognitivo. 
Etiologia 
É uma doença multifatorial, podendo ser difícil estabelecer uma causa específica. Contribuem para o processo: 
Sinais e Sintomas 
Os sinais clínicos da paralisia cerebral envolvem as alterações de tônus e presença de movimentos atípicos e 
a distribuição topográfica do comprometimento. A severidade de comprometimentos da paralisia cerebral está 
associada às limitações das atividades e à presença de comorbidades. Os distúrbios sensoriais, perceptivos e 
cognitivos associados podem envolver a visão, audição, tato, capacidade de interpretar as informações senso-
riais e/ou cognitivas e podem ser como consequência de distúrbios primários, atribuídos à própria paralisia 
cerebral ou a distúrbios secundários, como consequência de limites que restringem o aprendizado e desenvol-
vimento de experiências sensório-perceptuais e cognitivas. 
Quadro Clínico e Classificação 
Para se chegar ao quadro clínico, é necessário o somatório dos sinais clínicos (Espasticidade, Discinesia e 
Ataxia), distribuição anatômica (Unilateral e Bilateral), classificação da função motora (Extremidades supe-
riores e extremidades inferiores) e distúrbios associados. 
As pessoas com paralisia cerebral podem ser classificadas, de acordo com a característica clínica mais domi-
nante, em: espástico, discinético, atáxico e síndromes mistas. 
 
Síndromes Espásticas 
É a mais frequente, ocorrendo em mais de 70% dos casos. A espasticidade é um estado de resistência ao 
movimento passivo, a resistência progride com o aumento da velocidade do movimento. Deve-se ao envolvi-
mento de neurônios motores superiores e pode afetar a função motora discreta ou gravemente. Essas síndromes 
podem exibir hemiplegias, quadriplegia, diplegia ou paraplegia. Geralmente nos membros afetados, há au-
mento dos reflexos tendíneo profundos, os músculos são hipertônicos e os movimentos voluntários são fracos 
e incoordenados. Desenvolvem-se contraturas articulares, e as articulações podem tornar-se desalinhadas. A 
marcha em tesoura e na ponta dos pés é típica. Nos casos mais leves, o enfraquecimento pode ocorrer apenas 
o Prematuridade 
o Distúrbios Intrauterinos 
o Kernicterus (excesso de bilirrubina) 
o Asfixia perinatal 
o Infecções do Sistema Nervoso Central 
durante certas atividades (corrida, por exemplo). Na quadriplegia, geralmente ocorre deficiência corticobulbar 
associada aos movimentos oral, lingual e palatal, com consequente disartria ou disfagia. 
 
Síndromes Atetóides ou Discinéticas 
Ocorrem em cerca de 20% dos casos e devem-se ao comprometimento dos gânglios da base. As síndromes 
são definidas por movimentos lentos, retorcidos e involuntários das extremidades proximais e do tronco (mo-
vimentos atetóides), frequentemente ativados por tentativas de movimentos voluntários ou por estimulação. 
Podem ocorrer movimentos distais abruptos (movimentos coreicos). Os movimentos aumentam com a tensão 
emocional e desaparecem durante o sono. A disartria pode ocorrer e geralmente é grave. 
Síndromes Atáxicas 
Ocorrem em menos que 5% dos casos e resultam do envolvimento do cerebelo ou suas vias. Fraqueza, inco-
ordenação e tremores intencionais provocam instabilidade, marcha com base alargada e dificuldade com os 
movimentos finos e rápidos. 
As síndromes mistas são comuns, aparecendo com mais frequência na espasticidade e atetose. 
Tratamento e Intervenção 
A heterogeneidade das perturbações abrangidas pela Síndrome de Paralisia Cerebral, bem como os avanços 
atuais da investigação na compreensão do desenvolvimento humano, enfatiza a importância da neuroplastici-
dade na intervenção com estes indivíduos. Programas de intervenção precoce contemporâneos, alicerçados 
numa abordagem bioecológicas do desenvolvimento humano, realçam a necessidade de serem considerados 
os aspectos específicos do desenvolvimento da pessoa para além de enfatizarem o ambiente como esta está 
inserida (família e comunidade), possibilitando uma análise contextualizada do seu desenvolvimento e o im-
pacto do mesmo nos seus contextos de vida. Esse processo de (Re)habilitação deve ser perspectiva de forma 
contínua, individualizada e adaptada para cada fase da vida. 
Ênfase nos serviços centrados na família, que encorajem a tomada de decisões de um modo colaborativo entre 
a família, criança e os profissionais, e transmitam respeito pela autenticidade de cada situação de vida familiar. 
Ênfase em objetivos terapêuticos que se foquem no sucesso da criança em completar atividades funcionais 
que sejam significativas para a criança e para a família.

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