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ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Medicina – Jequié Discente: Bruna Lago Docente: Danilo 04.05.2023 AVEi AIT AVEh/HSA 1 2 3 “Abrupta disfunção das atividades focais e/ou globais do cérebro com sintomas de duração ≥ 24h, a nível vascular, que de acordo a área e proporção da lesão pode acarretar agravos nos planos cognitivo e sensório-motor”. Ministério da Saúde, 2013 EPIDEMIOLOGIA É a 2ª causa de mortalidade no mundo e a 5ª causa de mortalidade nos Estados Unidos. 87%: AVEi; 10%: AVEh; e 3% HSA. Aumento na frequência de casos de AVCi em pacientes com COVID-19, com descrição em metanálise de risco estimado em 1.4% (Nannoni S, et al. Int J Stroke 2021). FATORES DE RISCO Não-modificáveis Modificáveis • Idosos • Sexo masculino • História familiar de ocorrência de AVC • História pregressa de AIT • Condições genéticas como anemia falciforme • Hipertensão arterial sistêmica (PRINCIPAL para os dois tipos!! Principalmente a SISTÓLICA) • Tabagismo • Diabetes Mellitus • Dislipidemia • Fibrilação atrial Potenciais • Sedentarismo • Obesidade • Uso de ACO • Alcoolismo • Uso de cocaína e anfetaminas NEUROANATOMIA Circulação Anterior (carotídea) + Posterior (vértebro-basilar) = POLÍGONO DE WILLIS AVE ISQUÊMICO Déficit neurológico focal Isquemia seguida de infarto Súbito e persistente Parênquima encefálico Oclusão aguda de uma artéria Médio ou pequeno calibre AVEi LACUNAR (20%) Infarto de tamanho inferior a 2 cm Oclusão de pequenas artérias perfurantes cerebrais Oclusão aguda de uma artéria Trombótica Embólica Cardioembólico FA IAM de parede anterior Cardiomiopatias dilatadas Oclusão aguda de uma artéria Trombótica Embólica Ateroembólico Placa aterosclerótica instável: Carótida comum Bifurcação carotídea Artéria vertebral SÍNDROMES ISQUÊMICAS Hemiparesia/plegia contralateral. Pode poupar perna. Disartria com desvio da língua para a hemiplegia. Desvio do olhar conjugado contrário à hemiplegia. Afasia global (Broca e Wernicke). Edema com desvio de linha média e hipertensão intracraniana. Cerebral Média (circulação carotídea) Hemiparesia/plegia, apraxia contralateral e hemi-hipo/anestesia do membro inferior contralateral. Síndrome do lobo frontal (abulia ou mutismo acinético, disfunção esfincteriana). Cerebral Anterior (circulação carotídea) Síndrome de Weber: hemiplegia faciobraquial contralateral + paralisia do III par ipsilateral. Pode ou não ser acompanhada de parkinsonismo e hemibalismo contralateral. Infarto extenso do mesencéfalo: coma, pupilas não reativas, tetraparesia. Occipital - Síndrome de Anton: cegueira cortical, sem reconhecimento deste estado Cerebral Posterior (circulação vértebro-basilar) Diplopia e estrabismo convergente. Vertigem rotatória, lateropulsão, nistagmo. Ataxia cerebelar ipsilateral Toda a ponte: Síndrome locked-in (enclausuramento): o paciente está lúcido, mas tetraplégico, mexendo apenas os olhos. Pontino ou Cerebelar (Basilar) Bulbo dorsolateral: Síndrome de Wallenberg: hemi-hipo/anestesia contralateral + hemihipo/anestesia facial ipsilateral, disfagia. soluços incoercíveis. Não há déficit motor! Bulbo anteromedial: Síndrome de Déjérine: hemiplegia contralateral, sempre flácida + paralisia do hipoglosso ipsilateral, com disartria. A língua desvia para o lado contrário à hemiplegia. Bulbar (vertebral) DIAGNÓSTICO Anamnese + EF Déficit neurológico focal de início súbito que dura mais de 15-20 minutos. Saber o tempo de início dos sintomas. Pensar nos DD Sinal da artéria cerebral média hiperdensa TC s/contraste ESSENCIAL para descartar AVE hemorrágico! Nas primeiras 12-24h não mostra o AVE isquêmico. Indicação de terapia trombolítica: realizada dentro 25 min e interpretado em até 20 min. Sinais precoces da TC Perda da distinção entre as estruturas Epilepsia Enxaqueca Infecções sistêmicas Tumores cerebrais Distúrbios tóxico-metabólicos Hematoma subdural crônico Encefalite herpética. A presença desses sinais afetando uma grande área está associada a um maior risco de transformação hemorrágica após o uso de trombolítico, principalmente quando o território é >1/3 da ACM (Esse é o ÚNICO sinal precoce utilizado como critério de EXCLUSÃO para o tratamento) RM Maior acurácia do que a TC. Sequência T2 ou o FLAIR (atenuação de fluido). É melhor do que a TC para detectar AVEi na fossa posterior (tronco cerebral e cerebelo), bem como pequenos infartos corticais. RM + DWI e PWI Estudo de difusão (DWI) e perfusão (PWI) é capaz de detectar a isquemia agudamente. PWI > DWI (mismatch) = penumbra. Outros Doppler transcraniano: diagnóstico de oclusões das artérias; monitoramento da terapia trombolítica e prognóstico. ECG (diagnóstico da fibrilação atrial), ECO e Doppler de carótidas. Pacientes < 45 anos: investigação de coagulopatia, vasculites, doenças do colágeno, síndrome do anticorpo antifosfolípide e anemia falciforme. AVEi AGUDO Core Penumbra Primeira região atingida e o núcleo do infarto Morte celular e irreversibilidade da lesão Região de hipoperfusão intensa Deve-se concentrar os esforços terapêuticos! Oligoemia Região com atividade neuronal mantida, também sofre com a hipoperfusão RM DWI e PWI nas primeiras 24h. Em resumo, os exames são divididos em duas fases da atividade: Emergência: diagnóstico de AVC, seu tipo e decisão de aplicar o tratamento. Enfermaria: etiologia e prevenção secundária. NIHSS Quantificar o déficit neurológico Ferramenta importante para iniciar o rtPA: 4-21 Avaliar eficácia do trombolítico: - 8 pontos na escala. 0-3: Provavelmente terão bons resultados clínicos no seguimento. 4-21: Avaliar quanto à possibilidade de terapia fibrinolítica. > 22: Avaliar caso a caso principalmente em pacientes com mais de 80 anos – maior risco de sangramento. TRATAMENTO AGUDO: 3 dias Preservação da PENUMBRA + CRÔNICO: Prevenção Secundária SUPORTE Cabeceira entre 0 e 15º nas primeiras 24 h; Se grande área isquêmica, manter a 30º Oxigênio, se StO2 <95% (grau B) Manter glicemia entre 80-140 (grau D) Temperatura <37,5° (grau D) Considerar individualmente hidratação com SF 0,9% (grau C) Profilaxia de LAMG (ex. IBP) apenas em casos selecionados HAS permissiva até 220x120 (grau D); Se trombólise teto 185x110 (grau A) TERAPIA ANTITROMBÓTICA AAS = 160 – 300mg. Iniciar dentro das primeiras 48h (grau A) Enoxaparina = Dose profilática (40mg/dia) Uso AVK e DOAC em etiologia cardioembólicas = 1 dia após AIT; 3 dias após AVC leve (NIHSS <8); 6 dias após AVC moderado (NIHSS 8-15); 12 dias após AVC grave (NIHSS> 15). (ESC, 2016; EHRA 2018) Atorvastatina = Fase aguda, assim que VO puder ser utilizada Prevenção secundária, uso contínuo. Trombólise = rtPA (alteplase) – 0,9 mg/kg/dia, IV (máx. 90 mg) Endovascular = trombectomia mecânica. NIHSS > ou = 6. O ideal é até 6h (até 12h); oclusão da carótida interna ou início da ACM. Prevenção secundária em etiologia aterotrombótica. Terapia antiplaquetária dual não é recomendada a longo prazo. O curto prazo (AAS + clopidogrel) está relacionada a quadros clínicos específicos, como: AVCi minor (NIHSS < 3), AIT de alto risco ou estenose intracraniana grave sintomática. Controle rigoroso, com avaliação do estado neurológico a cada 15 min durante a infusão do trombolítico 1 4 2 5 3 6 RECOMENDAÇÕES NA TROMBÓLISE IV Colocação de CVC, sonda nasoentérica e punção arterial não deve ser realizada nas primeiras 24 h após. Sondagem vesical não deve ser realizada antes de 30 minutos após. Aumento em > 4 pontos no escore NIHSS está relacionado a potencial hemorragia intracraniana e temindicação de TC de controle Agentes antitrombóticos não devem ser administrados nas primeiras 24 horas após a administração de um trombolítico As complicações hemorrágicas da trombólise ocorrem mais comumente em 24 horas após o início da terapia. Interromper a infusão! COMPLICAÇÕES EDEMA DA PRÓPRIA ISQUEMIA TRANSFORMAÇÃO HEMORRÁGICA DISTÚRBIOS METABÓLICOS Mais intenso entre o 2° e 3°dia, ocorrendo em 5-10% dos pacientes. Trata-se de edema citotóxico. Casos brandos são tratados com restrição de água livre e manitol IV. Casos graves, com edema extenso e hipertensão intracraniana importante, são tratados com hemicraniectomia descompressiva. Costuma ocorrer entre 12-48h, complicando cerca de 6% dos AVE isquêmicos. Hiponatremia, distúrbios glicêmicos 2 Déficit neurológico focal reversível, transitório, duração máxima de 24h; porém, a maioria dos AIT reverte dentro dos primeiros 15-20min. AIT ETIOLOGIAS Trombose em evolução, ou baixo débito cardíaco (por vários motivos) em pacientes com placas de ateroma bilaterais nas carótidas Pequenas embolias arterioarteriais a partir das carótidas ou vertebrais ATENÇÃO! Sinal de AVEi iminente! A maioria dos eventos acontecendo nos primeiros dois dias. Internação hospitalar; investigação etiológica e tratamento específico. Eventual administração precoce de trombolítico. Exames indicados: Dopper de carótidas e vertebrais, ECG e ecott. Exames eventualmente necessários: Doppler transcraniano, ecote, angio-TC, angio-RM, angiografia convencional. 10-15% Em 3 meses A (Age) ≥ 60 anos B (Blood pressure) ≥ 140 x 90 mmHg C (Clinical) hemisféricos x focais (sintomas hemisféricos implicam maior risco) D Duração do déficit > 60min e diabetes TERAPIA ATEROTROMBÓTICO: AAS = 100 – 300mg CARDIOEMBÓLICO: Anticoagulante = Uso AVK e DOAC permanente AVE HEMORRÁGICO SANGRAMENTOS Ruptura no meio do parênquima cerebral: HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA Vaso de calibre maior no espaço subaracnoide: HEMORRAGIA SUBARACNOIDE AVEh INTRAPARENQUIMATOSO Rompimentos dos aneurismas Aneurismas PICO HIPERTENSIVO! Angiopatia amiloide (idosos – hemorragia lobar) Intoxicação por cocaína Tumor Malformação vascular Charcot-Bouchard Lesão crônica + Fragilidade da parede vascular Pequenas artérias perfurantes (as mesmas do AVE lacunar) Alta letalidade HIC Em torno de 50%. O paciente geralmente morre da própria HIC, que leva à herniação cerebral. Pode ser maior ainda se houver hemoventrículo. Edema vasogênico em volta do hematoma O hematoma pode aumentar de tamanho nas próximas 12-36h, contribuindo para a piora neurológica. PUTÂMEM 30 – 50% Quadro súbito de hemiplegia faciobraquial contralateral. Pode haver desvio do olhar conjugado contrário à hemiplegia. Pode ter hemoventrículo. TÁLAMO 15 – 20% Hemiplegia faciobraquial contralateral, associada à hemianestesia para todas as sensibilidades, acompanhando a hemiplegia. Alterações oculares e pupilares CEREBELO 10 – 30% Vertigem, náuseas, vômitos e ataxia cerebelar aguda. Compressão do IV ventrículo: hidrocefalia obstrutiva, HIC e estado comatoso. Compressão do bulbo levando à apneia súbita e óbito. LOCAIS PONTE 10 – 15% Quadriplegia súbita, coma e pupilas PUNTIformes e fotorreagentes. A descerebração, a hiperpneia e a hiperidrose são achados comuns. Os reflexos oculocefálico e oculovestibular são perdidos, e a letalidade beira os 90%. DIAGNÓSTICO Anamnese + EF Hipertensão intracraniana (cefaleia + queda do nível de consciência); déficit neurológico focal súbito. TC s/contraste Área hiperdensa (hematoma), geralmente com edema em volta (zona hipodensa). O desvio de linha média é comum. Acima de 3 mm, a chance de evolução para o coma é grande. Pode utilizar a RM. (Grau A) TRATAMENTO Atentar para o rebaixamento do nível de consciência Drenagem se hematoma cerebelar > 3cm ou entre 1-3 cm com repercussão neurológica PA sistólica de <140 mmHg, mantendo PPC 50 – 70 mmHg e PIC < 20 cmH2O (PPC=PAM–PIC) DVE (Derivação Ventricular Externa) está indicada na presença de hidrocefalia com repercussão clínica. Pacientes com sinais de herniação transtentorial dificilmente ficam vivos, independentemente da conduta terapêutica adotada. Profilaxia TVP e TEP: Dispositivos de compressão pneumática de MMII. A decisão de manter a terapia antitrombótica profilática prolongada deve ser pesada em relação ao risco (uso após 48h) Se distúrbio da hemostasia, este deve ser tratado o mais rapidamente possível, com transfusão de hemocomponentes Se o paciente estiver em uso de anticoagulante ou antiplaquetário, esses devem ser suspensos e os efeitos revertidos com antídotos Reavaliação do estado neurológico: NIHSS, ECG e escore de HIC Desvio de linha média: sinal indireto de HIC = elevação da cabeceira a 30°, analgesia, sedação, doses moderadas de manitol a 20%, solução salina hipertônica e hiperventilação para atingir PaCO2 entre 28 e 32 mmHg. HEMORRAGIA SUBARACNOIDE Edema cerebral, meningite química e vasoespasmo Rotura de uma Malformação Arteriovenosa (MAV) A partir do quarto dia, surge vasospasmo: principal responsável pelo déficit neurológico focal e pelas sequelas neurológicas Rotura de um aneurisma sacular congênito Se localizam nas artérias do polígono de Willis QUADRO CLÍNICO Cefaleia holocraniana de início súbito e forte intensidade (“a maior dor de cabeça que a pessoa já teve”), evoluindo, em metade dos casos, com síncope. Ao acordar, o paciente se lembra da dor. A rigidez de nuca aparece geralmente após o primeiro dia. RESSANGRAMENTO 20% dos pacientes nos primeiros sete dias (maioria nas primeiras 24h). Após a fase aguda: 3% ao ano. VASOESPASMO 20-30% dos casos, entre 4-14 dias do evento. Provoca isquemia e infarto cerebral. O diagnóstico é confirmado pelo Doppler transcraniano. HIDROCEFALIA 15% dos casos. Aguda (HIC, agravamento do quadro neurológico – indicação de derivação ventricular externa). Crônica: sequela tardia da HSA (demência + apraxia da marcha + descontrole esfincteriana. COMPLICAÇÕES HIPONATREMIA Comum nas primeiras duas semanas (SIADH e cerebropatia perdedora de sal). ESCALAS DE PROGNÓSTICO: FISHER e HUNT-HESS TRATAMENTO O paciente deve ser internado na UTI Arteriografia cerebral de quatro vasos (carótidas e vertebrais) Tratada por via endovascular: coils metálicos (pequenos fios flexíveis feitos de platina) Na impossibilidade da via endovascular, recorre-se à clipagem cirúrgica do aneurisma O objetivo é manter a PPC entre 60-70 mmHg. TRATAMENTO O paciente deve ser mantido com uma PA sistólica entre 140-150 mmHg Neuroproteção: Nimodipina (BCC) 60 mg via enteral a cada 4h. Mantida por 21 dias. Protege o paciente contra as consequência do vasospasmo O uso de anticonvulsivantes profiláticos, como a fenitoína 100 mg IV a cada 8h, é controverso Profilaxia TVP/TEP: compressão pneumática. Se terapia endovascular, heparina subcutânea profilática. Se clipagem cirúrgica, aguardar alguns dias para associar a heparina profilática. Se aneurisma não controlado, não receber heparina. A hidrocefalia deve ser tratada com uma Derivação Ventricular Externa (DVE) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com acidente vascular cerebral / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. DA SILVA, Francielle Magalhães Souza; DE OLIVEIRA, Edson Marcos Ferreira. Comparação dos métodos de imagem (Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética) para o diagnóstico de acidente vascular encefálico. Revista Enfermagem Contemporânea, v. 6, n. 1, p. 81-89, 2017. KLEINDORFER,Dawn O. et al. 2021 guideline for the prevention of stroke in patients with stroke and transient ischemic attack: a guideline from the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke, v. 52, n. 7, p. e364-e467, 2021. MARTINS, Sheila Cristina Ouriques et al. Guidelines for acute ischemic stroke treatment: part II: stroke treatment. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 70, p. 885-893, 2012. NANNONI, Stefania et al. Stroke in COVID-19: a systematic review and meta-analysis. International Journal of Stroke, v. 16, n. 2, p. 137-149, 2021. OLIVEIRA-FILHO, Jamary et al. Guidelines for acute ischemic stroke treatment: part I. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 70, p. 621-629, 2012. PONTES-NETO, Octávio M. et al. Diretrizes para o manejo de pacientes com hemorragia intraparenquimatosa cerebral espontânea. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 67, p. 940-950, 2009. REFERÊNCIAS
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