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Hemoglobinopatias Doença Falciforme Histórico ● Há relatos de tribos da África, antes do descobrimento da doença, que as pessoas tinham filhos que ficavam pálidos e choravam muito de dor Definição ● Desordem hereditária da hemoglobina ● Mutação específica do gene da globina (substituição do ácido glutâmico pela valina), no sexto aminoácido na sequência da cadeia da beta globina ● Essa troca de aminoácidos gera polímeros, fazendo com que a hemácia perca sua maleabilidade, tornando-se rígida (não passarão por vasos minúsculos → obstrução periférica de tecidos e órgãos) e adquirindo formato de foice Terapias Inovadoras e Modificadoras ● 1984: TMO alogênico ● 1986: Introdução da Penicilina nos pacientes falciformes ● 1987: triagem neonatal universal → diagnóstico precoce ● 1997: regime de transfusões profiláticas, em alguns casos, evita que o paciente tenha complicações severas ● 2008: doença foi reconhecida como problema de saúde pública mundial Doença Falciforme: qualquer alteração que tenha hemoglobina S ● Distúrbio monogênico no nível molecular, causado por uma mutação única ● É uma doença multifatorial ● Desoxigenação da HbS → polimerização da Hb → afoiçamento das hemácias → hemólise ● Moléculas → células → tecidos e órgãos Fisiopatologia ● Alterações celulares→ saída de potássio; aumento de cálcio ● Formação de polímeros da hemoglobina ● Aumento da adesão de hemácias ao endotélio ● Fenômenos inflamatórios ● Migração de granulócitos e plaquetas ● Lesões microvasculares ● Depleção de óxido nítrico ● Vasoconstrição ● Ativação da coagulação ● Esse aglomerado de marcadores inflamatórios é importante para haver obstrução de passagem do sangue normal, dando eventos múltiplos de infarto nas regiões onde não chega fluxo adequado, além do quadro hemolítico ● Para cada fenômeno que ocorre a doença falciforme, há determinado fator característico (ex: alteração de p-selectina está relacionada a crise vaso-oclusiva), mas no geral eles têm participação conjunta na doença Exames: o paciente nasce com a doença e é acometido organicamente (“da cabeça ao pé”) ● Hemograma com plaquetas e reticulócitos ● DHL ● Haptoglobina ● BT e frações ● Eletroforese de hemoglobina por HPLC (é o exame de escolha, padrão-ouro para diagnóstico) ● Função renal ● Função hepática ● Sumário de urina ● USG de abdome total ● RX de tórax ● Doppler transcraniano ● É um paciente que tem hemólise crônica, mas ele pode ter durante a vida algum fator de estresse que gere piora da hemólise e das lesões teciduais ● Hipertensão arterial pulmonar é o pior prognóstico dos pacientes no âmbito cardiotorácico (de pior gravidade), embora não seja o mais comum ● SER: microinfartos sucessivos no baço, pode gerar hipoesplenismo Crises Álgicas/Crise vaso-oclusiva ● É a manifestação clínica mais frequente nos pacientes com doença falciforme, é a causa mais frequente de atendimentos em emergência ● Hemácias afoiçadas → obstrução do fluxo → injúria tecidual por isquemia → hipóxia local + acidose → componentes neuropáticos ● Na maioria das vezes ocorre sem pródromo (embora alguns pacientes relatam pródromos – ex: mal estar, dor de cabeça, dor no local antes, calor, rubor – investigar se há algum processo infeccioso associado à CVO) ● Intensidades diferentes ● Impacto na qualidade de vida dos pacientes ● Dor persistente e risco de morte súbita ● Mediadores inflamatórios implicados: fator de necrose tumoral, IL-1A, IL-8, IL-6, histamina, leucotrienos, neuropeptídeo, substância P ● A dor pode ser aguda, mas em geral crônica ● A crise álgica pode ocorrer em qualquer lugar nesses pacientes o Mais frequentes: úmero, tíbia e fêmur o Abdome → infarto das veias mesentéricas e vísceras o Tórax, dorso, cefaleia ● Cronicidade: úlceras maleolares e necrose asséptica de cabeça de fêmur ● Muitas vezes os pacientes tem dor na articulação coxofemoral devido a múltiplos infartos ósseos, fazendo necrose asséptica de cabeça de fêmur Fatores desencadeadores de CVO ● Infecções o A infecção deve sempre ser procurada no paciente com CVO, porque nesses pacientes é a principal causa de mortalidade. ● Baixa tensão de O2 ● Situações concomitantes (sarcoidose, DM, herpes) ● Desidratação ● Atividade física em excesso o Não é proibido realizar atividade física, mas precisa de equipe multidisciplinar e fazer de forma controlada; isso inclusive gera benefícios ● Estresse físico ou psicológico ● Frio, álcool ● Gestação, ciclo menstrual o Na gravidez, há risco para a mãe e para o bebê ▪ Exacerbação da doença falciforme ▪ Complicações gestacionais ligadas à doença falciforme Medidas para prevenção de CVO ● Prevenir desidratação (ingesta hídrica adequada durante febre e verão) ● Evitar realizar escaladas e voos com cabine despressurizadas ● Evitar frio extremo, exercícios extenuantes e drogas que podem resultar em acidose (ex: acetazolamida) ● Evitar hipóxia no período perioperatório ● Screening genético e orientação vocacional (evitar trabalhos a altas temperaturas) Atenção! ● A crise vaso-oclusiva não é só articular, pode ser torácica, abdominal, precisa estar atento porque algo pode estar desencadeando essa crise de dor. ● Tratamento da Crise Álgica ● Começa sempre com a medicação mais leve; pode chegar até a morfina se o paciente não melhorar da CVO ● Não ter medo de dar o remédio, mas cuidado com excesso de medicação de dor ● O paciente com doença falciforme deve ter avaliação constante na emergência – ver se o paciente está melhorando ou não Orientações na CVO ● Tratamento de fatores desencadeantes ● Se a crise for fraca, orientar o paciente a aquecer o corpo e a beber bastante líquido ● O paciente com CVO geralmente não faz hipóxia por dor articular, mas às vezes quando tem dor torácica, ele pode estar fazendo síndrome álgica aguda (de extrema gravidade, indicação de UTI) ● Usar terapia com oxigênio se há hipoxemia presente ● Manejar a medicação de dor com medicações potentes (opioides) ● Reavaliar o paciente a cada 30 minutos com escala de dor, sedação, sinais vitais e frequência respiratória→ mensura se o seu tratamento está melhorando ● Diminuir dose de opioide quando houver melhora da dor ● Dar alta hospitalar quando a dor estiver resolvida; com medicações para casa Diagnóstico Diferencial: sempre pensar em infecção ● Artrites sépticas ● AVC ● Síndrome torácica aguda ● Infecção respiratória ● Osteomielite ● Apendicite ● Infecção urinária ● Sequestro esplênico ● Dactilite Infecções na Doença Falciforme ● Maior causa de morbimortalidade ● Trato respiratório, urinário, SNC, ossos ● Dependendo do nível social e de cognição do paciente e da família, precisa ver se o paciente consegue tomar o ATB em casa e comprar a medicação; usando a medicação, vai precisar internar ou não ● Mecanismos o Alteração na atividade fagocitária do SRE (hipoesplenismo funcional) ▪ Há maior predisposição para infecções por germes encapsulados (por isso a introdução da penicilina foi tão benéfica nessa doença) o Vaso-oclusão com diminuição dos leucócitos no local da isquemia o Deficiência de opsonização (alteração no complemento) o Deficiência de granulação dos neutrófilos ● Crianças: sepses e meningites (Streptococcus pneumoniae e Haemophylus influenza) ● Adultos: germes entéricos e Staphylococcus aureus ● Osteomielite: a causa mais frequente é por Salmonella ● Parvovírus B19 → crise aplásica ● Tratamento o ATB + internamento o Vacinação ▪ Paciente deve levar cartão vacinal em toda consulta o Uso profilático de penicilina é prescrito até os 5 anos de idade ▪ Pode ser feito VO ou injetável a cada 21 dias (benzetacil) OBS: o mais importante no doente falciforme é que ele não se infecte, para evitar óbito Síndrome Torácica Aguda ● Gravíssima ● Infiltrado pulmonar, dor torácica, dispneia, hipoxemia, febre e astenia intensa ● Pode ou não ter febre; muito hipocorada ● Geralmente há dessaturação associada. O raio X de tórax não permite diferenciar de infecção de tórax ● Conduta o Internamento,oxigênio, ATB o Oximetria de pulso e cuidados intensivos o Gasometria arterial, hidratação venosa com cuidado com hipervolemia o Exsanguíneotransfusão ▪ Muitas vezes é preciso fazer transfusão por conta da hemólise Dactilite ● Síndrome mão-pé ● Pior prognóstico associado ● Edema articular de dorso das mãos e pés com dor intensa Sequestro esplênico ● Gravíssimo ● Anemia intensa, aguda, desidratação, esplenomegalia, choque hipovolêmico, morte súbita ● Geralmente ocorre dos 2 meses aos 3 anos, depois diminuem os episódios ● Mordida de inseto gera úlcera nesses pacientes, por isso orientar os pais a proteger; orientar sobre profilaxia ● Realizar treinamentos com os pais para identificação de quadros ameaçadores o Pega um palito de picolé e mede o baço da criança; mede um traço no tamanho do baço normal. o Quando a criança ficar irritada, pálida, choro, pede pra a mãe medir o baço de novo, porque se estiver aumentado (sequestro esplênico), indica que o baço está fagocitando o que o corpo tem, também é como se fosse sítio de hematopoiese extramedular ● Alguns estudos mostram que a esplenectomia é a solução, mas não é só um evento que gera indicação (precisa de 2+ eventos para indicar). o No 1º evento, faz hidratação e pode transfundir. Acidente Vascular Cerebral ● Estreitamento ou oclusão da artéria cerebral média e anterior ● AVC isquêmico ou hemorrágico ● Acomete qualquer faixa etária ● Depois do advento do USG com Doppler transcraniano o Diminuiu-se muito a incapacidade dos pacientes falciformes, porque quando nascem esse exame é feito à nível ambulatorial, com consultas de rotina, e avalia a vascularização cerebral, e consegue mensurar se aquele volume está adequado, se há colaterais ou não; isso reduziu muito os números de AVC ● Em paciente com alta chance de AVC, o médico deve tentar diminuir a quantidade de Hb S mediante transfusão para evitar AVC. ● Outra forma de reduzir Hb S é o uso de hidroxiureia para citorredução Piaprismo ● Baixa tensão de oxigênio, estase pela congestão venosa do pênis, trombose e oclusão vascular ● Se recorrente, pode gerar disfunção erétil (isso limita a vida do paciente com a doença) ● A orientação é: há ereção dolorosa? beber bastante líquido e tomar remédio, se não melhorar vai para emergência. o Caso não melhore, encaminhar de imediato para urologista. ● Conduta: tratamento, alívio da dor, hidratação e esvaziamento do corpo cavernoso Alterações Cardiovasculares ● Anemia crônica → hipóxia do miocárdio ● Maior chance de fazer trombos o Se paciente internado e acamado com CVO, fazer profilaxia para trombose ● Dispneia de esforço, palpitações, sopros, B3 ● Hipertensão pulmonar e aumento da área cardíaca o HAP → péssimo prognóstico; é mensurada pelo eco Pele e Ossos ● Úlceras maleolares de difícil cicatrização o Pode ter odor fétido e demorar meses para serem curadas o Precisa de repouso para o tratamento, não hemotransfusão ● A úlcera infectada pode dar osteomielite na região; além de necrose asséptica de articulação ● Hiperplasia da medula óssea com deformidades de face Rins e vesícula biliar ● O paciente com anemia hemolítica tem maior chance de formar cálculo ● Renal o Necrose da papila e lesão tubular o Hipostenúria (aumento do débito urinário), proteinúria, hematúria o Hiperuricemia o Infecções urinárias de repetição ● Vesícula biliar o 30-60% dos casos gera colelitíase o A indicação cirúrgica de operar colelitíase na doença falciforme é igual à população normal, precisa de crise para operar Alterações oculares ● Conjuntiva, retina, coroide, câmara anterior → tortuosidade e dilatação das veias ● Diminuição da acuidade visual e até cegueira ● Devem ir para o oftalmologista pelo menos 1x/ano (precisa dizer que o paciente tem doença falciforme, para ele procurar fundo de olho, lesão retiniana) Gestação e Doença Falciforme ● Quando se desejar engravidar, o ideal seria fazer o estudo do homem e da mulher para orientar ● Uma paciente falciforme não-grávida e sem complicações é acompanhada a cada 3 meses ● A gestante precisa ser acompanhada mensalmente ● A gestante terá: o Maior necessidade transfusional o Maior risco de AVC o Maior surgimento de retinopatia, STC o Basicamente, ela tem maior risco para todas as complicações da doença falciforme na gravidez, é uma gestação de alto risco → maior mortalidade materna ● Ela pode ter mais complicação relacionada à gravidez o Doença hipertensiva o Prematuridade o Baixo peso do feto o Maior chance de quadro infeccioso ● O nível de Hb de 8 g/dL é suficiente para essas mulheres, a não ser que elas tenham um outro quadro que se necessite de um nível maior ● Em muitas pacientes se faz clexane profilático e AAS profilático porque se diminui a quantidade de sofrimento fetal ● Há uma polêmica: uso da hidroxiureia na gravidez (quimioterápico oral para citorredução). o Nas doenças falciformes, o uso da hidroxiureia aumenta Hb fetal (quando se faz o HPLC desses doentes, numa pessoa sem falciforme tem A1, A2 e F. Quem tem doença falciforme, quase não tem Hb A e só tem Hb S. Os falciformes têm nível de Hb um pouco maior para compensar a Hb S. o Hidroxiureia ainda não está liberado para uso na gestação; OBS: não se faz hidroxiureia em todos os pacientes, existem indicações. A doença falciforme é heterogênea, não é igual mesmo na mesma família, irmãos têm manifestações diferentes. Dois pacientes podem ter HbSS e mesmo assim serem diferentes. Vai escolher os pacientes para usar hidroxiureia: paciente com muita CVO e muita necessidade transfusional, muita infecção respiratória. É para casos mais graves, com exceção da gestante (que é contraindicado nesse momento). A questão transfusional também varia – não se transfunde doente falciforme com Hb de 6 se ele está estável no momento. Doença Falciforme ● Hidratação oral e venosa são importantes ● Ácido fólico contínuo ● Suporte transfusional com sangue fenotipado o Todo paciente falciforme quando tem o seu diagnóstico, antes de dar o sangue, deve fenotipar o sangue para dar o sangue mais compatível. o Eles só podem ser transfundidos com CH fenotipado porque são pacientes que vão transfundir por muito tempo a vida toda. ● Medicamentos para a dor ● Uso de hidroxiureia, hidroxicarbamida → redução de eventos agudos ● Antibioticoterapia até os 5 anos de idade com penicilina o Depois, só na vigência de infecção ● Orientações domiciliares ● Procedimentos cirúrgicos precisam de parecer do hematologista (a nível de transfusão/trombose) ● Crizanlizumabe: anticorpo monoclonal anti-p-selectina, vem sendo usado para pacientes com CVO. o Acredita-se que ele é bom para AVC, úlcera, processo inflamatório. ● Acompanhamento multiprofissional OBS: outra contraindicação de hidroxiureia é presença de úlcera maleolar. Talassemias Epidemiologia ● Muito menos frequente que a doença falciforme ● Geralmente são beta-talassêmicos ● A alfa-talassemia está ligada a povos africanos e a beta-talassemia ao mediterrâneo, asiáticos e africanos ● A incidência é igual entre homens e mulheres Definição ● Doença hematológica autossômica recessiva ● Há anemia hemolítica porque há redução ou ausência de produção de Hb ● Tipos de Hemoglobina: definidos de acordo com a composição das 4 cadeias de globina o HbF: 2 alfas e 2 gamas o HbA: 2 alfas e 2 betas o HbA2: 2 alfas e 2 deltas ● Ao nascimento: 80% HbF e 20% HbA ● Com 6 meses de idade, há baixa importante de HbF o Saudáveis: maioria HbA, pequena qtd. de HbA2, HbF quase ausente o Pacientes com anemia hemolítica: HbF aumentada por mecanismo compensatório Fisiopatologia ● Alfa o Deficiência ou ausência na síntese das cadeias alfa da globina, com excesso de cadeias beta o Deleção de genes no cromossomo 16 ▪ Pode ter deleção desde só de 1 gene ou dos 4 genes ▪ Deleção única: alfa talassemia silenciosa; assintomáticos ou quadro clínico franco; níveis hematimétricos normais ou microcitose, apenas traço da doença ▪ Deleção de doisgenes: alfa talassemia minor; microcitose e não há anemia; traço; vive bem ▪ Deleção de três genes: alfa talassemia intermediária; produção de hemoglobina H, com 4 cadeias beta; anemia, microcitose, hemólise e esplenomegalia ● É a grande dificuldade ● Anemia hemolítica; paciente vive transfundindo (a cada 15 dias) ▪ Deleção de quatro genes: alfa talassemia major, a produção é de Hb Bart, com 4 cadeias gama (não há produção de Hb), gera hidrópsia fetal, é fatal, não viável com a vida o Mutações dos genes alfa → cromossomo 16 o Quadro clínico variável ▪ Alfa-talassemia-2 ● Traço, ou ● Portador silencioso, ou ● Alfa talassemia mínima (perda de 1 dos 4 genes da alfa) ▪ Alfa talassemia-1 ● Traço, ou ● Alfa talassemia minor (2 dos 4 genes da cadeia alfa não são funcionais) ▪ Doença da hemoglobina H ● 3 das 4 cadeias alfa não são funcionais ▪ Hidrópsia fetal com hemoglobina de Barts ● Nenhuma das cadeias alfa é funcional o Clínica ▪ Alfa talassemia mínima: assintomáticos ● Hemograma com discreta microcitose e hipocromia ou normal ● Esfregaço e eletroforese de Hb normais ▪ Alta talassemia minor ● Hipocromia, microcitose, células em alvo, VCM < 70, eletroforese de Hb é normal ▪ Doença da hemoglobina H ● Microcitose e hipocromia, clínica de hemólise crônica o Hepatoesplenomegalia, aumento de bilirrubinas, DHL, diminuição de haptoglobina, úlceras maleolares e doença biliar ● Alterações de crescimento, músculo-esqueléticas e metabólicas de leve a moderada intensidade, às vezes não necessitando de hemotransfusão crônica ▪ Hidrópsia fetal e hemoglobina de Barts ● Geralmente fatal em útero ● Não há produção de cadeia alfa, sem formação de HbF com profunda deficiência de transporte de oxigênio ● Hb Barts gera massiva hipóxia tissular ao feto do 2º ao 3º trimestre de gestação OBS: diagnóstico diferencial de talassemia é deficiência de ferro. Muitas vezes o paciente faz reposição de ferro sem necessidade. ● Beta o Deficiência ou ausência da síntese de cadeia beta, com excesso de cadeia alfa o É heterogênea, com descrição de centenas de subtipos pelo mundo o Decorre de mutações dos genes beta no cromossomo 11 (gene em cada cromossomo) ▪ Pode haver uma das mais de 200 mutações, ou raramente deleções, nesses dois genes ● Se tiver completa deleção de genes, há alta mortalidade ● Quanto menos genes alterados, menos anemia, melhor qualidade de vida ▪ Alteração em 1 único gene → beta-talassemia minor, traço de doença, assintomáticos, microcitose e discreta anemia ▪ Redução severa ou ausência na síntese dos 2 genes → beta-talassemia major (ou Anemia de Cooley) o Geralmente a alfa-talassemia é pior que a beta o Beta talassemia minor (traço) ▪ Heterozigotos que possuem um alelo beta-globina normal e outro alelo talassêmico ▪ Assintomáticos ▪ Pode haver microcitose e hipocromia ▪ Esplenomegalia (15-20%) ▪ Eletroforese de Hb com 90% de A ▪ A2 7-8% aumentada o Beta talassemia intermedia ▪ Sintomática, mas que não requerem hemotransfusão crônica sempre ▪ Clinicamente, há aumento da absorção intestinal de ferro da dieta e lesões secundárias à hipóxia crônica (falência cardiorrespiratória) o Beta talassemia major ▪ Só está bem ao nascer ▪ Paciente clinicamente ruim desde criança ▪ Aos 2-6 meses, evolui com palidez, icterícia, irritabilidade e aumento do vol. abdominal ▪ Efeitos deletérios de anemia profunda, da hemólise e da expansão intramedular e extramedular de progenitor eritroide ▪ Anemia hemolítica e hematopoiese ineficaz com hiperplasia eritroide na MO e em sítios extramedulares ▪ É um paciente com bastante dependência de transfusões ▪ Pelas hemotransfusões múltiplas, pode ter hemocromatose secundária ▪ Laboratório ● Anemia microcítica e hipocrômica ● Poiquilocitose e em lágrima ▪ Esplenomegalia: pancitopenia pela hemólise crônica ▪ Alterações hepáticas: hepatite, DHC, hemocromatose, colelitíase, colangite ▪ Alterações renais: ácido úrico elevado (nefropatia gotosa), aumento de volume renal (hematopoiese extramedular), dilatação do túbulo renal, diurese escura (aumento da excreção de bile) ▪ Alterações endócrinas: hipogonadismo (40%), falha no crescimento (33%), DM (13%), hipotireoidismo (10%), retardo no crescimento sexual, intolerância à glicose ▪ Alterações ósseas: osteopenia, fácies simiesca, fusão prematura da epífise ▪ Alterações cardiopulmonares: ICC, arritmias, hipertensão pulmonar, alteração da função pulmonar ▪ Crise aplásica: parvovírus B19 OBS: anemias microcíticas hipocrômicas são DD de talassemia. Talassemia Beta Maior Intermédia Menor Mínima Hb < 7 7-10 10-13 > 13 Reticulócitos (%) 2-15 2-10 2-5 0,5-2 Eritroblasto +++ ++/+ - - Eritrócitos alterados +++ ++ + +/- Icterícia ++ + - - Esplenomeg alia +++ ++ +/- - Alterações esqueléticas +++/++ ++/+ - - Necessidade de transfusões +++ +/- - - Diagnóstico ● Hemograma o VCM < 75 o RDW elevado em 50% o Index de Mentzer (VCM/hemácias) < 13 o Ferritina sérica ▪ No caso da talassemia, é para mensurar sobrecarga de ferro (devido às transfusões), porque a ferritina sérica num paciente com doença falciforme pode estar aumentada e não ter sobrecarga de ferro porque é marcador de atividade inflamatória o Eletroforese de hemoglobina ▪ Padrão-ouro para diagnóstico dessas doenças ▪ A melhor forma é fazer eletroforese de Hb por HPLC, pois mensura o percentual de Hb A, Hb A2 e Hb F. o RM ▪ A técnica de T2-estrela mensura quantidade de ferro presente nos órgãos. ▪ Pede RM de coração e de fígado para verificar depósito de ferro (porque aí precisa fazer quelação do ferro, se não ele faz insuficiência cardíaca/hepática e morre de hemocromatose secundária). Complicações ● Esplenomegalia ● Endocrinopatias ● Hemocromatose o Depósito de ferro o É o pior; quando não bem tratado, tem péssimo desfecho ● Eventos tromboembólicos ● Osteopenia/osteoporose Diagnóstico diferencial ● Anemia por deficiência de ferro ● Intoxicação por chumbo ● Anemia sideroblástica ● Anemia de doença crônica Tratamento da Alfa e Beta Talassemias ● Aconselhamento genético ● Hemotransfusão ● Quelação de ferro ● TMO o Consegue transplantar e ter bons resultados o Para doente falciforme ou para talassêmico → quanto mais cedo o TMO alogênico, melhor o Objetivos ▪ Eliminar a medula óssea doente ▪ Estabelecer tolerância do ambiente para permitir que a medula óssea transplantada sobreviva e se multiplique
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