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Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA Tabagismo, nódulo pulmonar e câncer de pulmão TABAGISMO É o ato de se consumir cigarros e outros produtos que contenham tabaco, cuja droga ou princípio ativo é a nicotina. DERIVADOS DO TABACO - FORMAS DE USO ● Inalação (cigarro, charuto, cachimbo, narguilé, cigarro de palha) ● Aspiração (rapé) ● Mastigação (fumo-de-rolo) ● Vaporização (dispositivo eletrônico para fumar) Ex: cigarro eletrônico - 1 cigarro artesanal equivale a 3 cigarros industriais. - 1 sessão de narguilé de 1 hora equivale a 100 cigarros inalados. EPIDEMIOLOGIA - ESTATÍSTICAS DE 2019 ● No mundo há cerca de 1 bilhão e 200 milhões de fumantes. ● No Brasil há em torno de 24,6 milhões (idade acima de 15 anos). ● Principal causa evitável de mortes prematuras e doenças no mundo. ● Estima-se que ocorram cerca de 5 milhões de mortes por ano devido o uso do cigarro e as suas complicações - em 2030 estima- se que ser em torno de 9 milhões. ● Brasil: 200.000 mortes por ano relacionados à doença coronariana, a doença pulmonar obstrutiva crônica e ao câncer. NEUROTRANSMISSORES A nicotina ao ser inalada, tragada, da via aérea para o cérebro, age em torno de 8 segundos (absorção rápida). Vai atuar em diversos receptores que vão liberar diversos neurotransmissores, como: A nicotina provoca dependência e aumenta a probabilidade de doenças, tanto pulmonares como doenças extrapulmonares. No consultório é possível encontrar pacientes tabagistas que querem deixar de fumar ou pacientes tabagistas e vão na consulta por outro motivo. CÁLCULO DA CARGA TABÁGICA Para realizar a conta se pega o número de cigarros fumados por dia e divide por uma constante, que é 20. Depois se multiplica pelo tempo de uso do cigarro (coloca a idade do paciente e subtrai pela idade que começou a fumar). Exemplo: Paciente de 56 anos. 5 cigarros/dia - início aos 16 anos ● 15/20 = 0,75 (equivalência) ● 56-16 = 40 ● 40 x 0,75 = carga tabágica de 30 anos/maço CASO CLÍNICO 1 AAN, 56 anos, pesquisadora, natural e procedente de Manaus QP: parar de fumar HDA: relata tosse seca esporádica. Dispnéia aos grandes esforços (mMRC 0) História tabágica: iniciou aos 16 anos, 15 cigarros/dia Grau de dependência: 3 + 0 + 0 + 1 + 1 + 1 = 6 pontos Grau de motivação: Contemplativa Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA Rev Sist: Sono reparador. Ronco ao decúbito dorsal. Irritabilidade. HPP: HAS, intolerância à lactose, nega internações ou cirurgias Medicações em uso: captopril 25 mg, 1 comprimido de 8h/8h HPS: Tabagismo, etilismo social. Nega contato com mofo ou criação de aves Hfam: Filho tabagista, pai faleceu de câncer de pulmão Ao exame: BEG, eupneica, acianótica, anictérica/ RCR 2T BNF sem sopros/ MV fisiológico sem ruídos adventícios COMENTÁRIOS SOBRE O CASO CLÍNICO Estrutura clássica da anamnese e exame físico, mas quando o paciente vem com a história de tabagismo, há que realizar uma anamnese mais completa sobre os sinais e sintomas relacionados ao pulmão (ex: dispneia, tosse (seca ou produtiva), pigarro, apneia, hemoptise, etc). Alertar o paciente sobre os malefícios que só cigarro provoca ao longo do tempo (câncer de pulmão, câncer de boca, câncer de cabeça e pescoço, dispneia, tosse, disfunção erétil, aumento de chances de doenças cardíacas - Infarto, AVC. Geralmente o programa de cessação do tabagismo é um acompanhamento em torno de 1 ano. História tabagista = Quando começou a fumar, se parou, se ainda fuma, quantos cigarros usa por dia. Grau de dependência e grau de motivação = utiliza-se uma escala. Em relação ao teste de dependência, se utiliza o teste de Fagerstrõm, que contém 6 perguntas com respectiva pontuação. Soma-se a pontuação do paciente para quantificar a dependência (muito baixa, baixa, média, elevada, muito elevada). Teste de Fagerstrõm 0 -2 = muito baixa 3 - 4 = baixa 5 = média 6 - 7 = elevada 8 - 10 = muito elevada Fase de motivação É o quão disposto a pessoa está para parar de fumar. Estágios de Prochaska e DiClemente Pré-contemplação: Não há intenção de parar, nem mesmo uma crítica a respeito do conflito envolvendo o comportamento de fumar. Contemplação: Há conscientização de que fumar é um problema, no entanto, há ambivalência quanto à perspectiva de mudança. Preparação: Prepara-se para parar de fumar (quando o paciente aceita escolher uma estratégia para realizar a mudança de comportamento). Ação: Pára de fumar (o paciente toma a atitude que o leva a concretizar a mudança de comportamento). Manutenção: O paciente deve aprender estratégias para prevenir a recaída e consolidar os ganhos obtidos durante a fase de ação. Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ABORDAGEM TERAPÊUTICA Intervenções motivacionais ● Desenvolver habilidades para resolução de problemas (geralmente a síndrome da abstinência tem o seu ápice em torno de 10 minutos) - pensar em estratégias para que ela tire o foco do desejo acentuado de querer fumar). ● Apoio da equipe de saúde ● Apoio social e familiares e amigos Farmacoterapia ● Terapia de reposição de nicotina (usada quando o paciente pontua igual ou maior que 5 no questionário de Fagerstrõm associado a um fármaco) - Cloridrato de bupropiona - Tartarato de vareniclina - Nortriptilina / Clonidina (2º linha de tratamento) Fase de preparação Na fase de preparação, o paciente pode já estar em uso de medicamento, fumando a menor quantidade de cigarros por dia para que no dia da ação ele consiga parar de fumar e vai usar medicamentos para reduzir a questão da abstinência. Fase de ação Nessa fase de ação, geralmente a farmacoterapia vai ser mantida por 12 semanas (3 meses). Fase de manutenção São 12 meses na fase de manutenção. NÓDULO PULMONAR CASO CLÍNICO 2 PHO, 61 anos, homem, empresário, natural e procedente de Manaus QP: Check up HPS: tabagismo (CT 70 anos.maço) Ao exame: eupneico, acianótico, anictérico, normohidratado, normocorado FR 18 irpm FC 78 bpm PA 125 x 70 mmHG IMC 32 Kg/m2 MV fisiológico sem ruídos adventícios ● Foi solicitado um raio X inicial, observando- se um mediastino alterado (um pouco alargado) e na área pulmonar foi observado uma pequena nodulação em vidro fosco. ● Solicitar outros exames: tomografia de tórax, espirometria Tomografia ● Foram obtidos dois corte ● No mediastino foi identificado um pequeno linfonodo ● Nódulo subpleural periférico irregular calcificação puntiforme ● Também foram identificadas lesões ocasionadas pelo cigarro: Enfisema pulmonar Nem todo nódulo vai ser maligno, pode ser também: Nódulo pulmonar solitário ● Opacidade com menos de 3 cm no seu maior diâmetro e circundada por parênquima pulmonar. ● Incidência de nódulos em exames de rastreio de 8% a 51% (maligno - 1% a 12%). Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Infeccioso ● Pneumonia, granulomas (tuberculose, fungo), abcesso pulmonar Vascular ● Malformação arteriovenosa, infarto pulmonar, aneurisma da artéria pulmonar Inflamatório ● Nódulo reumatóide, sarcoidose, PO Congênito ● Atresia brônquica, cisto broncogênico Neoplásico ● Hamartoma (benigno), adenocarcinoma, carcinoma epidermóide, tumor carcinóide, metástase pulmonar solitária Miscelânia ● Atelectasia redonda, linfonodo intrapulmonar, impactação mucóide AVALIAÇÃO CLÍNICA INICIAL ● Idade ● História de tabagismo ● Exposição a agentescarcinogênicos ● Fibrose pulmonar ● História de neoplasia na família ● Neoplasias prévias O ideal, em relação ao câncer de pulmão, é fazer o diagnóstico na fase inicial e precoce (fase de nódulo) para realização de tratamento geralmente cirúrgico e cura do paciente. Realizar sempre protocolo de rastreamento, principalmente em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. Analisar os achados tomográficos. CARACTERÍSTICAS PREDITORAS DE MALIGNIDADE Clínicas ● Idade ● Tabagismo ou história de tabagismo ● Carga tabágica ● Neoplasia extra pulmonar prévia Radiológicas ● Diâmetro do nódulo ● Bordas espiculadas ● Localização nos lobos superiores ● Indentação pleural ● Tempo de dobra de volume < 400 dias DENSIDADE DO NÓDULO A: Sólido. B: Parcialmente sólidos. C: Não sólido. ● Há três tipos de densidades de nódulos: nódulos sólidos (ou com densidade de partes moles), nódulos subsólidos (ou parcialmente sólidos) e nódulos de vidro fosco. ● A densidade do nódulo também pode inferir para maior probabilidade para neoplasia, principalmente os nódulos em vidro fosco. CALCIFICAÇÕES ● Difusa ● Central ● Lamelar (tuberculose, histoplasmose) ● Em pipoca (hamartomas) TAMANHO DO NÓDULO Se < 5 mm ou volume inferior a 80 mm3 - sugere benignidade/ inespecífico (< 1% de malignidade) > 3 cm - chance de 90% de malignidade Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA Tempo de Dobra de Volume (TDV) - aumento de 25% no diâmetro. - maligno, em torno de 100 dias - benigno < 20 dias e > 730 dias - suspeito entre 20 - 730 dias CAVITAÇÕES Se < 5 mm - sugere benignidade > 15 mm - malignidade Tempo de dobra de volume é pouco utilizado na prática. DOENÇAS GRANULOMATOSAS ● Tuberculose ● Sarcoidose ● Histoplasmose Falso negativo: < 10 mm, tumores carcinóides, nódulos subsólidos, nódulos e vidro fosco OUTRAS INFORMAÇÕES. ● Não é todo nódulo que se faz seguimento (tomografias sequenciais a cada trimestre ou semestre), depende das probabilidades de risco de câncer. ● A biópsia vai ser recomendada dependendo das características, segmentos e tamanho do nódulo do paciente. CÂNCER DE PULMÃO O câncer de pulmão é uma das neoplasias as que tem maior taxa de mortalidade e um dos mais comuns entre o câncer que acomete o homem, sendo o 2º em termo de prevalência e o 4º que acomete as mulheres. Nos pacientes tabagistas com diagnóstico de DPOC, a probabilidade de desenvolver câncer é bem maior quando comparado com pacientes sem história de tabagismo ou de DPOC. Paciente mesmo sem ser tabagista pode desenvolver DPOC ou câncer de pulmão. Todo tabagista vai desenvolver o DPOC? R = Tabagista tem uma chance de 50% de chance, ou seja, nem todo tabagista vai desenvolver DPOC. A partir de qual carga tabágica que aumenta a probabilidade de ter câncer de pulmão? R = A partir de 20. EXAMES DE AVALIAÇÃO ● Condições clínicas do doente ● Exames de laboratório ● Avaliação da função respiratória ● Exames radiológicos - Radiografia simples de tórax - TC de tórax e abdome superior - RNM - Cintilografia óssea - TC de crânio - Punção por agulha fina ou biópsia de linfonodos - Mediastinoscopia - Mediastinotomia para-esternal esquerda - Toracoscopia - Biópsia de lesão metastática ESTADIAMENTO No estadiamento avalia-se se a doença já está localizada, se já tem metástase e quais os locais o paciente tem essa metástase. TNM - T= tamanho do tumor / N = linfonodo / M = metástase A partir do grau de extensão de doença, há um planejamento de tratamento cirúrgico, radioquimioterapia ou tratamento paliativo do paciente. TRATAMENTO ● Cirurgia ● Radioterapia ● Radioterapia exclusiva ● Radioterapia paliativa ● Braquiterapia endobrônquica ● Radioterapia e quimioterapia concomitantes ● Quimioterapia e Radioterapia sequencial ● Radioterapia pós-operatória ● Quimioterapia neoadjuvante à cirurgia ● Quimioterapia paliativa Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA SOBREVIDA Sobrevida, em 5 anos, nos vários estadiamentos I - 60 a 85% II - 40 a 60% IIIa abaixo de 30% IIIb menos de 5% IV menos de 5% FATORES DE RISCO PARA NÃO- FUMANTES ● Idade ● Exposição ao tabaco ● Cozimento de fumos ● Susceptibilidade genética ● Exposição ambiental ou ocupacional a carcinógenos ● Fatores hormonais ● Doença pulmonar pré-existente ● Vírus oncogênicos OUTRAS INFORMAÇÕES O nódulo do câncer de pulmão geralmente é assintomático. Então, normalmente, o paciente se encontra em estágio 4 pelo diagnóstico tardio - doença avançada) - sua sobrevida, então, é em 5 anos, em torno de 2%.
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