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GASTRITE AGUDA E CRÔNICA SOI IV | APG 02 - SISTEMA DIGESTÓRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Relembrar a morfofisiologia do estômago; 2. Entender os mecanismos de defesa e agressão da mucosa do estômago; 3. Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, complicações e diagnóstico da gastrite aguda e crônica; 4. Estudar os aspectos microbiológicos do H. pylori, sua associação com neoplasias gástricas e seu tratamento. MORFOFISIOLOGIA DO ESTÔMAGO O estômago é um órgão oco e elástico que acomoda cerca de 2L de alimento e líquidos. Está localizado entre esôfago e duodeno na região do hipocôndrio esquerdo. Depois que o alimento é digerido, passa pelo esôfago e posteriormente para o estômago através da junção gastroesofágica (GE). No estômago, há a secreção de suco gástrico, principal agente da digestão das proteínas pelo estômago. Ele é formado por ácido clorídrico (HCl) e pepsinogênio, tendo caráter ácido, de pH 2. O pepsinogênio é uma enzima inativa incapaz de realizar sozinha a hidrólise das proteínas. Porém, na presença do HCl, ele é convertido em sua forma ativa, a pepsina. - Suco gástrico: contém ácido clorídrico e pepsina, que atua na quebra de proteínas; - Fator intrínseco: é uma glicoproteína que se combina com a vitamina b12, tornando disponível para absorção no intestino; - Renina: age sobre a caseína, que é uma proteína do leite, facilitando a atuação das enzimas; - Hormônio gastrina: secretada pelas células G e atua estimulando o aumento da mucosa gástrica; - Hormônio grelina: atua estimulando o apetite; ANATOMIA É dividido em 5 regiões: cárdia, fundo, corpo, antro e piloro > Cárdia: transição entre o esôfago e o estômago. Presença de glândulas secretoras de muco, as Glândulas Cárdias; > Fundo: formado pela curvatura superior do estômago; > Corpo: região entre o fundo e o piloro, cerca de ⅔ do volume total do estômago; > Antro: anterior ao piloro, local onde suco gástrico e alimentos se misturam; > Piloro: porção inferior, transição do estômago para o duodeno. A contração ou relaxamento da sua musculatura controla a passagem do conteúdo estomacal para o duodeno. Camadas do estômago: > Mucosa: camada mais interna, onde são produzidas as enzimas digestivas e o ácido estomacal; > Submucosa: camada de suporte entre a mucosa e o músculo. > Muscular: espessa camada muscular composta por fibras musculares lisas. Quando no piloro, essa camada se torna mais espessa devido ao surgimento do esfíncter pilórico (estrutura muscular em forma de anel, que faz a comunicação entre o estômago e o duodeno); > Serosa e subserosa: juntas formam as camadas de revestimento externo do estômago. MECANISMOS DE DEFESA E AGRESSÃO DA MUCOSA GÁSTRICA Em geral, o revestimento do estômago é impermeável ao ácido que ele secreta e esta peculiaridade possibilita que o órgão contenha ácido e pepsina, sem ter suas paredes digeridas. Vários fatores contribuem para a proteção da mucosa gástrica, inclusive uma cobertura de células 2 epiteliais superficiais excepcionalmente justapostas umas às outras e, portanto, impermeável. Além disso, também há muco espesso secretado pelas células, que forma uma cobertura protetora para a parede interna do estômago e que também contém bicarbonato (usado para manter o pH neutro). Coletivamente, esses mecanismos são conhecidos como barreira mucosa gástrica. As células do epitélio gástrico estão conectadas por junções estreitas que impedem a penetração do ácido e estão cobertas por uma camada lipídica hidrofóbica impermeável, que não viabiliza a difusão das moléculas hidrossolúveis ionizadas. O ácido acetilsalicílico (AAS) consegue atravessar a camada lipídica e causar danos às células superficiais, que podem resultar em erosões agudas. Irritação gástrica e sangramento oculto devido à irritação gástrica ocorrem em uma porcentagem significativa dos pacientes tratados com AAS regularmente. O álcool etílico, que é lipossolúvel como o AAS, também rompe a barreira mucosa. Quando álcool etílico e AAS são ingeridos simultaneamente, a permeabilidade da barreira mucosa do estômago é significativamente aumentada e ocorre destruição das células. Os ácidos biliares também atacam os componentes lipídicos da barreira mucosa e podem causar irritação quando há refluxo do conteúdo duodenal para o estômago. O AAS e os AINEs também reduzem a secreção de HCO3– por inibição da COX-1 gástrica, uma enzima de ácido graxo que sintetiza as prostaglandinas mediadoras da secreção de bicarbonato. As prostaglandinas desempenham um papel importante como proteção da mucosa gástrica contra lesões. Aparentemente, as prostaglandinas exercem seu efeito por aumento da irrigação sanguínea da mucosa, redução da secreção ácida, aumento da secreção de íons bicarbonato e intensificação da produção de muco. RESUMO DOS AGENTES DANOSOS: • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) inibem a síntese de prostaglandinas E2 e I2 dependente da ciclooxigenase (COX), as quais estimulam quase todos os mecanismos de defesa relatados, incluindo o muco, o bicarbonato e a secreção de fosfolipídios, fluxo sanguíneo da mucosa e restituição epitelial, enquanto reduz a secreção de ácido. Apesar de a COX-1 ter um papel mais importante do que a COX-2, ambas as isoenzimas contribuem para a proteção da mucosa. Portanto, enquanto o risco de lesão gástrica induzida 3 por AINE é maior com inibidores não seletivos, como por exemplo a aspirina, ibuprofeno e naproxeno, a inibição de COX-2 seletiva, como no caso do celecoxibe, também pode resultar em gastropatia ou gastrite; • A lesão gástrica que ocorre nos pacientes urêmicos e naqueles infectados com H. pylori secretor de urease pode ser decorrente da inibição dos transportadores gástricos de bicarbonato pelos íons amônio; • A redução da secreção de mucina e de bicarbonato tem sido sugerida como um fator que explica o aumento da suscetibilidade de adultos mais velhos em relação à gastrite; • A queda na liberação de oxigênio pode gerar uma incidência aumentada de gastrite aguda em altas altitudes, ou com situações de baixa irrigação (sepse, queimaduras, etc); • A ingestão de químicos agressivos, particularmente ácidos ou bases, tanto acidentalmente quanto por uma tentativa de suicídio, também resulta em lesão gástrica grave, predominantemente como resultado da lesão direta da mucosa epitelial e das células estromais; • Danos celulares diretos também contribuem para a gastrite induzida pelo consumo excessivo de álcool, AINEs, terapia radioativa e quimioterapia. Agentes que inibem a síntese de DNA ou o aparelho mitótico, incluindo os utilizados na quimioterapia, podem causar danos generalizados na mucosa devido à renovação epitelial insuficiente. GASTRITE AGUDA VS CRÔNICA O termo gastrite refere-se à inflamação da mucosa gástrica. Existem várias causas de gastrite, mas a maioria pode ser agrupada em agudas ou crônicas. GASTRITE AGUDA A gastrite aguda caracteriza-se por um processo inflamatório agudo da mucosa, geralmente de natureza transitória. A inflamação pode causar vômitos, dor e hemorragia, assim como ulceração nos casos graves. A forma erosiva é uma causa importante de sangramento gastrointestinal agudo. A gastrite aguda está associada mais comumente aos compostos irritativos locais, inclusive AAS ou outros AINEs, álcool ou toxinas bacterianas. A administração oral de corticoides também pode ser complicada por gastrite hemorrágica aguda. Qualquer doença ou traumatismo grave associado a estresse fisiológico grave, que requeira tratamento clínico ou cirúrgico substancial, torna a mucosa gástrica mais suscetível à gastrite hemorrágica aguda causada por lesões da mucosa. Uremia, tratamento com quimioterápicos para câncer e radioterapia do estômago também causam gastrite aguda. As queixas dos pacientes com gastrite aguda são variadas. Alguns pacientes com gastrite causada por AAS podem ser totalmente assintomáticos, ou se queixar apenas de pirose ou acidez gástrica. A gastrite associada à ingestão excessiva de álcool geralmente é uma situaçãoatípica; em muitos casos, essa condição causa um desconforto gástrico transitório que pode provocar vômitos e, nos casos mais graves, sangramento e hematêmese. A gastrite causada por toxinas de microrganismos infecciosos, inclusive enterotoxinas estafilocócicas, geralmente tem início súbito e violento, com desconforto gástrico e vômitos que começam cerca de 5 h depois da ingestão de um alimento contaminado. Em geral, a gastrite aguda é um distúrbio autolimitado, com recuperação e cicatrização completas dentro de alguns dias depois da eliminação da condição ou do agente desencadeante. GASTRITE CRÔNICA Gastrite crônica é uma condição diferente da gastrite aguda e caracteriza-se pela inexistência de erosões visíveis macroscopicamente e pela existência de alterações inflamatórias crônicas que, por fim, acarreta atrofia do epitélio glandular do estômago. Existem três tipos de gastrite crônica: infecção por H. pylori, gastrite atrófica metaplásica e gastropatia química. Infecção por Helicobacter pylori é uma doença inflamatória crônica do antro e do corpo do estômago, é a causa mais comum de gastrite crônica. Nos EUA, a prevalência dessa doença está relacionada com nível socioeconômico, idade avançada e etnias afro-americana e hispânica. H. pylori é encontrado em dois terços da população mundial. Alguns estudos sugeriram que, nos países industrializados, a transmissão deste patógeno ocorra principalmente de pessoa a pessoa por vômitos, saliva ou fezes, enquanto as outras vias de transmissão (como a água) podem ser importantes nos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, o índice de infecção por H. pylori diminuiu expressivamente ao longo das últimas décadas em razão dos avanços na área de saneamento. > Diagnóstico: - Métodos Invasivos: Teste rápido da urease; Biópsia; Cultura microbiológica. - Métodos Não-invasivos: Teste respiratório com Ureia 13C; teste de antígeno fecal e sorologia. 4 DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA (DUP) A doença ulcerosa péptica (DUP) refere-se à ulceração crônica da mucosa, que afeta o duodeno ou o estômago. Quase todas as úlceras pépticas estão associadas à infecção por H. pylori, AINEs ou ao consumo de cigarros. A forma mais comum da DUP ocorre dentro do antro gástrico ou duodeno, como resultado de uma gastrite antral induzida por H. pylori, a qual é associada com o aumento da secreção ácida gástrica, e com a queda da secreção de bicarbonato duodenal. Em contrapartida, a DUP dentro do fundo ou corpo gástrico geralmente vem acompanhada por menos secreção ácida, resultante da atrofia da mucosa (associada, em alguns casos, com a gastrite crônica autoimune ou induzida por H. pylori, conforme discutido anteriormente). Apesar de esses pacientes ainda secretrarem mais ácido do que indivíduos normais, eles são incapazes de secretar as grandes quantidades necessárias para vencer os mecanismos de defesa que “protegem” a mucosa duodenal e do antro. Dessa forma, indivíduos com atrofia da mucosa gástrica são geralmente protegidos contra úlceras antrais e duodenais. ADUP também pode ser causada pela secreção ácida da mucosa gástrica ectópica dentro do duodeno ou por um divertículo de Meckel ileal. A DUP pode ocorrer também no esôfago como resultado da DRGE ou da secreção de ácido pela mucosa gástrica ectópica esofágica. > Patogenia: A DUP resulta de desequilíbrios entre os mecanismos de defesa da mucosa e fatores lesivos que causam a gastrite crônica (discutidos anteriormente). Logo, a DUP geralmente se desenvolve em um ambiente de gastrite crônica. As razões pelas quais algumas pessoas desenvolvem somente a gastrite crônica enquanto outras desenvolvem a DUP, são pouco entendidas. No entanto, assim como ocorre com a gastrite por H. pylori, é provável que fatores de hospedeiros, bem como a variação entre cepas bacterianas, estejam envolvidos. > Aspectos clínicos: As úlceras pépticas podem ser lesões crônicas, recorrentes, com morbidade significativa. A maioria das úlceras pépticas chama a atenção clínica por causa da queimação epigástrica ou dor forte, embora uma fração significativa apresente complicações como anemia por deficiência de ferro, hemorragia ou perfuração. A dor tende a ocorrer de 1 a 3 horas após as refeições durante o dia, sendo pior à noite (geralmente entre às 11 da noite até as 2 da manhã) e é aliviada por álcalis ou alimentos. Náusea, vômito, distensão, arrotos e perda de peso significativa são manifestações adicionais. Com úlceras penetrantes, a dor é ocasionalmente referida às costas, o quadrante esquerdo superior, ou ao tórax, onde pode ser interpretada erroneamente como de origem cardíaca. > Complicações: - Sangramento: Ocorre em 15% a 20% dos pacientes; Complicação mais frequente; Pode ser fatal; Responsável por 25% das mortes por úlcera; Pode ser a primeira indicação de uma úlcera. - Perfuração: Ocorre em até 5% dos pacientes; É responsável por dois terços das mortes por úlcera; raramente é a primeira indicação de uma úlcera. - Obstrução: Principalmente em úlceras crônicas; Secundária a edema ou cicatrização; Ocorre em aproximadamente 2% dos pacientes; Na maioria das vezes associada a úlceras do canal pilórico; Pode ocorrer com úlceras duodenais; Causa cólica abdominal incapacitante; Raramente pode causar obstrução total e vômitos intratáveis. > Diagnóstico: Os procedimentos realizados para diagnosticar úlcera péptica incluem anamnese, exames laboratoriais e radiológicos e endoscopia. A história clínica deve atentar cuidadosamente para o uso de AAS e AINE. A úlcera péptica deve ser diferenciada das outras causas de dor epigástrica. As alterações laboratoriais como anemia hipocrômica e sangue oculto nas fezes indicam sangramento. A endoscopia pode ser realizada para examinar a área ulcerada e colher amostras de biópsia para verificar se há H. pylori e excluir doença maligna. As radiografias contrastadas (p. ex., bário) são usadas para detectar a existência de uma cratera de úlcera e excluir carcinoma gástrico > Tratamento: As terapias atuais para DUP têm como objetivo a erradicação do H. pylori e a neutralização do ácido gástrico, primeiramente com inibidores de bombas de prótons. Também é importante a retirada de outros agentes lesivos, como os AINEs, incluindo os inibidores de COX-2 seletivos, que podem interferir na cicatrização da mucosa. Enquanto as úlceras pépticas eram anteriormente notórias devido à sua recorrência, a taxa de recorrência agora está abaixo dos 20%, devido à eliminação bem-sucedida do H. pylori. Diversas abordagens cirúrgicas foram utilizadas antes para tratar a DUP, incluindo a antrectomia para remover células produtoras de gastrina e a vagotomia para evitar os efeitos estimulantes de ácido mediados pelo nervo vago. No entanto, o sucesso dos inibidores de bombas de prótons e a erradicação do H. pylori têm relegado a intervenção cirúrgica como tratamento de hemorragia ou úlceras pépticas perfuradas. 5 HELICOBACTER PYLORI A BACTÉRIA A bactéria (denominada inicialmente Campylobacter pyloridis) é um bastonete Gram-negativo microaerofílico encontrado com mais frequência nas porções mais profundas do gel mucoso que reveste a mucosa gástrica, ou entre a camada mucosa e o epitélio gástrico. O H. pylori pode fixar-se ao epitélio gástrico, porém em circunstâncias normais não parece invadir as células. Esse microrganismo está estrategicamente apto a sobreviver no ambiente desfavorável do estômago. Ele tem um formato em S (cerca de 0,5-3 μm de comprimento) e contém múltiplos flagelos envolvidos por bainha. Inicialmente, o H. pylori reside no antro, porém, com o passar do tempo, migra para os segmentos mais proximais do estômago. O microrganismo é capaz de transformar-se em uma forma cocoide, que representa um estado adormecido que pode facilitar a sobrevivência em condições adversas. A primeira etapa da infecção pelo H. pylori depende da motilidade das bactérias e de sua capacidade de produzir urease. A urease produz amônia a partir da ureia, uma etapa essencial à alcalinização do pH circundante. Outros fatores bacterianosincluem catalase, lipase, adesinas, fator ativador das plaquetas e pic B (induz as citocinas). Existem muitas cepas de H. pylori que se caracterizam pela capacidade de expressar vários desses fatores (Cag A, Vac. A, etc.). É possível que as diferentes doenças relacionadas com a infecção pelo H. pylori possam ser atribuídas às diversas cepas do microrganismo com características patogênicas distintas. EPIDEMIOLOGIA A prevalência do H. pylori varia em todo o mundo e depende, em grande parte, das condições gerais de vida em cada região. Nas áreas em desenvolvimento do planeta, 80% dos indivíduos podem estar infectados aos 20 anos de idade, enquanto a prevalência é de 20 a 50% nos países industrializados. Dois fatores que predispõem a taxas de colonização mais altas são condição socioeconômica precária e baixo nível de instrução. Esses fatores, e não a etnia, explicam por que a taxa de infecção por H. pylori entre negros e hispano-americanos é o dobro daquela observada em brancos de idade comparável. Outros fatores de risco para infecção pelo H. pylori são: (1) nascimento ou residência em um país em desenvolvimento, (2) aglomeração doméstica, (3) condições sanitárias precárias, (4) alimentos ou água sujos e (5) exposição ao conteúdo gástrico de um indivíduo infectado. A transmissão do H. pylori ocorre de uma pessoa para outra por via oro-oral ou orofecal. O risco de infecção por H. pylori está diminuindo nos países em desenvolvimento. FISIOPATOLOGIA E RELAÇÃO COM NEOPLASIAS A infecção por H. pylori está quase sempre associada a uma gastrite crônica ativa, mas somente 10 a 15% dos indivíduos infectados desenvolvem ulceração péptica óbvia. A razão dessa diferença é desconhecida, mas é provável que se deva a uma combinação de fatores do hospedeiro e bacterianos. O resultado específico da infecção pelo H. pylori (gastrite, DUP, linfoma MALT gástrico, câncer gástrico) é determinado por uma complexa interação entre fatores bacterianos e fatores do hospedeiro. A resposta inflamatória ao H. pylori inclui o recrutamento de neutrófilos, linfócitos (T e B), macrófagos e plasmócitos. O patógeno produz uma lesão local por meio de sua ligação às moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) de classe II, que se expressam nas células epiteliais gástricas, induzindo morte celular (apoptose). Além disso, as cepas bacterianas que codificam cag-PAI podem introduzir o Cag A nas células hospedeiras, resultando em maior lesão celular e ativação das vias celulares envolvidas na produção de citocinas e na repressão dos genes supressores tumorais. Concentrações elevadas de várias citocinas são encontradas no epitélio gástrico dos indivíduos infectados por H. pylori, incluindo interleucina (IL) 1α/β, IL-2, IL-6, IL-8, fator de necrose tumoral (TNF) α e gamainterferona (γ-IFN). A infecção pelo H. pylori induz também reações humorais locais (mucosa) e sistêmicas, que não acarretam a erradicação das bactérias, mas complicam ainda mais a lesão das células epiteliais. Outros mecanismos pelos quais o H. pylori pode causar lesão das células epiteliais são (1) produção mediada por neutrófilos ativados de espécies reativas do oxigênio ou de nitrogênio e turnover acelerado das células epiteliais e 6 (2) apoptose relacionada com a interação com linfócitos T (células T auxiliares 1 ou TH1) e γ-IFN. Por fim, o estômago humano é colonizado por inúmeros microrganismos comensais que podem afetar a suscetibilidade à infecção e à lesão subsequente da mucosa causada pelo H. pylori. Além disso, a colonização do estômago pelo H. pylori provavelmente altera a microbiota gástrica. O impacto dessa última alteração na fisiopatologia gástrica ainda é desconhecido. O H. pylori também parece regular a produção de NO por diversos mecanismos, que, por sua vez, podem contribuir para os efeitos citotóxicos do microrganismo. Por exemplo, fatores derivados do H. pylori (inclusive urease) ou a própria bactéria estimulam a expressão da NO-sintase (NOS2) dos macrófagos e das células do epitélio gástrico, resultando na liberação de NO e em um efeito citotóxico subsequente nas células circundantes. O H. pylori também estimula a produção de 8-nitroguanina (8-NO2-Gua), que, em conjunto com a oncoproteína CagA, pode contribuir para a patogênese do câncer gástrico. TRATAMENTO Foram feitos grandes esforços para determinar quem, entre os muitos indivíduos com infecção pelo H. pylori, deve ser tratado. A conclusão comum a que se chegou em várias conferências de consenso em todo o mundo estabeleceu que o H. pylori deve ser erradicado nos pacientes com DUP documentada. Isso é válido independentemente do momento da apresentação (primeiro episódio ou não), da gravidade dos sintomas, da presença de fatores intercorrentes como a ingestão de AINE, ou se a úlcera está ou não em remissão. Alguns aconselharam o tratamento dos pacientes com história de DUP documentada nos quais a sorologia ou o teste respiratório revelam que são H. pylori-positivos. Entre 60 e 90% dos pacientes com linfoma MALT gástrico têm remissão completa do tumor em resposta à erradicação do H. pylori. Vários fármacos foram avaliados para tratar H. pylori. Isoladamente, nenhum deles mostrou-se eficaz na erradicação desse microrganismo. O tratamento combinado por 14 dias assegura maior eficácia, embora esquemas baseados na administração sequencial de antibióticos também pareçam ser promissores. *Claritromicina + IBP + Amoxicilina é o tratamento mais usado atualmente.
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