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Governo e Transformação social Gerenciamento de Portfólio de Projetos de Transformação Digital 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2023 Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional Conteudista/s Rosane Bossle, (Conteudista, 2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3 Sumário Módulo 1: O que é o Gerenciamento de Portfólio de Projetos ..........................7 Unidade 1: De Onde Surgem os Portfólios de Projetos? ......................................8 1.1 O Processo de Planejamento Estratégico ............................................................... 8 1.2 O Desdobramento do Planejamento Estratégico em Projetos .......................... 13 1.3 OKR ............................................................................................................................ 15 1.4 KPI .............................................................................................................................. 16 1.5 Lean – Hoshin Kanri ................................................................................................ 16 1.6 Diferenças entre Portfólios, Programas e Projetos ............................................. 18 1.7 O que as Empresas Esperam do Gerenciamento de Portfólio .......................... 19 Referências ..................................................................................................................... 21 Unidade 2: Os Processos do Gerenciamento de Portfólio ................................22 2.1 Etapa de Definição do Portfólio ............................................................................. 23 2.2 Etapa de Desenvolvimento do Portfólio ............................................................... 25 2.3 Etapa de Execução do Portfólio ............................................................................. 28 Referências ..................................................................................................................... 29 Unidade 3: Os Domínios do Gerenciamento dos Portfólios segundo o PMBOK ......30 3.1 Alinhamento Estratégico ........................................................................................ 31 3.2 Governança .............................................................................................................. 32 3.3 Gestão de Capacidade ............................................................................................ 36 3.4 Gestão de Stakeholders ........................................................................................... 39 3.5 Gestão de Riscos ...................................................................................................... 43 3.6 Gestão de Valor ....................................................................................................... 44 Referências ..................................................................................................................... 49 Módulo 2: Aplicando a Gestão de Portfólio nos Contextos de Transformação Digital ...................................................................................................................... 51 Unidade 1: O que o Mundo e as Empresas Querem com a “Transformação Digital”? ................................................................................................................... 51 1.1 Transformação Digital não é só sobre Tecnologia! ............................................. 51 1.2 O que é o Mindset Digital? ....................................................................................... 55 Referências ..................................................................................................................... 59 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2: Inovação ............................................................................................. 60 2.1 O que é e quando aplicar um Processo de Inovação .......................................... 60 2.2 Design Thinking Aplicado a Projetos ....................................................................... 64 Referências ..................................................................................................................... 67 Unidade 3: Agilidade ............................................................................................. 68 3.1 Agilidade e Business Agility ..................................................................................... 68 3.2 Diferenças entre Projetos Cascata, Projetos Ágeis e Projetos Híbridos ........... 75 3.3 Qual o Papel do Portfólio em um Contexto de Equipes que Trabalham no Modelo de Agilidade? .................................................................................................................. 78 Referências ..................................................................................................................... 81 Unidade 4: Maturidade Digital ............................................................................ 82 4.1 O que é e para que Serve a Medida de Maturidade em uma Empresa ........... 82 4.2 Maturidade Digital do Governo Federal do Brasil ............................................... 84 4.3 Processo de Melhoria Contínua: qual o Papel da Gestão de Portfólio? ........... 88 4.4 Fatores Críticos de Sucesso para a Gestão de Portfólios de Transformação Digital .............................................................................................................................. 92 Referências ..................................................................................................................... 98 Unidade 5: Como Medir o Resultado da Transformação Digital? ..................100 5.1 Indicadores de Transformação Digital ................................................................ 100 5.2 OKR em Portfólios de Transformação Digital .................................................... 105 Referências ................................................................................................................... 107 Módulo 3: O Kit de Ferramentas para o Gerenciamento de um Portfólio de Transformação Digital ......................................................................................... 108 Unidade 1: Ferramentas para Planejar e Organizar o Portfólio .....................108 1.1 Roadmap do Portfólio ............................................................................................ 109 1.2 O Project Model (PM) Canvas ............................................................................... 112 1.3 Termo de Abertura de Projeto .............................................................................. 118 1.4 Comunicações e Reports de Portfólio .................................................................. 119 Referências .................................................................................................................... 125 Unidade 2: Técnicas para Ajudar a Execução dos Projetos ............................126 2.1 Management 3.0 ..................................................................................................... 127 2.1.1 Happiness index ou happiness door ................................................................... 130 2.1.2 Merit Money ......................................................................................................... 132 2.2 Mapeamento dos Processos Organizacionais ................................................... 133 2.3 Como Trazer a Voz do Cliente para Dentro dos Projetos .................................. 138 Referências .................................................................................................................... 143 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5 Unidade 3:Gestão de Mudanças ........................................................................ 145 3.1 Resistência a Mudanças ........................................................................................ 146 3.2 Modelos para Gestão de Mudanças ................................................................... 149 3.3 O que não Pode Faltar em uma Mudança Organizacional .............................. 155 Referências .................................................................................................................... 159 Módulo 4:Estudo de Casos de Gestão de Portfólio de Transformação Digital ...160 Unidade 1: Casos de Transformação Digital ..................................................... 160 1.1 Case 1 – Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina ............................... 160 1.2 Case 2 – O Caso da Câmara dos Deputados (Governo Federal) ....................... 160 1.3 Case 3 – O Caso da Transformação Digital na Companhia de Trens Metropolitanos (CPPM) ............................................................................................................................ 161 Referências .................................................................................................................... 162 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação e Boas-vindas Olá! Bem-vindo(a) ao curso de Gerenciamento de Portfólio de Projetos de Transformação Digital! Esse curso vai explicar a você os conceitos, as técnicas e as ferramentas úteis e essenciais para profissionais que buscam organizar e potencializar resultados dos projetos de transformação digital que estejam em andamento no ambiente de trabalho. Para facilitar e tornar sua aprendizagem confortável, o tema foi organizado em 4 módulos, da seguinte forma: No Módulo 1– O que é o Gerenciamento de Portfólio de Projetos você terá um alinhamento conceitual em torno dos processos básicos do gerenciamento de portfólio de projetos, com o objetivo de permitir que reconheça esses processos no seu ambiente, bem como que identifique qual o valor de cada um deles para os resultados esperados do portfólio. O Módulo 2– Aplicando a Gestão de Portfólio nos Contextos de Transformação Digital objetiva trazer para a gestão de portfólio os conceitos e especificidades relacionados com ambientes em transformação digital, de forma que os projetos possam contar com direcionamentos e medidas mais assertivos. O Módulo 3– O Kit de Ferramentas para o Gerenciamento de um Portfólio de Transformação Digital tem um foco mais prático. Além de apresentar ferramentas que podem ser usadas para a gestão de portfólio, o módulo traz exemplos e exercícios para facilitar a aplicação no seu dia a dia. E para finalizar, o Módulo 4 – Estudo de Casos de Gestão de Portfólio de Transformação Digital traz relatos de casos reais de gestão de portfólio de transformação digital para demonstrar a aplicação das técnicas e ferramentas em diferentes setores da administração pública, inspirando e dando referências para que você construa também o seu case de negócio. Para iniciar, assista ao vídeo de apresentação do curso. Tenha uma jornada rica de novos conhecimentos! Avante! Videoaula: Apresentação do Curso https://cdn.evg.gov.br/cursos/809_EVG/video/modulo01_video01/index.html Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7 Módulo O que é o Gerenciamento de Portfólio de Projetos 1 Projetos são formas de organizar o trabalho. Portanto, qualquer iniciativa estruturada dentro das organizações pode tomar o formato de um projeto se isso for interessante para a organização e para a equipe que estará envolvida. No entanto, os projetos de maior vulto e que trazem mais impacto para as organizações são os projetos que aplicam transformações, constroem novas estruturas e moldam novas formas de trabalho. Esses projetos têm motivação em decisões que corriqueiramente são chamadas de estratégicas por causa de sua importância, mas que no contexto do seu estudo aqui devem ser entendidas como estratégicas porque efetivamente são derivadas de um plano estratégico formal. Projetos. Fonte: Freepik (2023). 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Gestão estratégica é um conceito da Administração que se aplica a instituições públicas e privadas, e também a qualquer situação do nosso cotidiano, muito embora existam especificidades de princípios, amplitude, forma de aplicação, medição de resultados, e muitos outros aspectos. Por isso é necessário começar esse alinhamento conceitual com um exercício simples de verificar se o conceito (significado) de estratégia é realmente claro para você. Unidade 1: De Onde Surgem os Portfólios de Projetos? Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade espera-se que você reconheça o processo típico de planejamento estratégico utilizado por grande parte das empresas públicas e privadas, assim como os pontos ao longo desse processo em que os envolvidos começam a montar o portfólio de projetos estratégicos. Com isso será possível diferenciar portfólios, programas e projetos tendo em vista o processo de planejamento estratégico. 1.1 O Processo de Planejamento Estratégico Esse módulo introdutório vai navegar pelo roteiro padrão de uma construção estratégica, para que você possa identificar os elementos organizacionais relevantes ao direcionamento do portfólio de projetos estratégicos aos resultados que dele são esperados. Em seguida você verá a estrutura conceitual que rege a gestão de portfólios de projetos segundo as principais referências de mercado especializadas. Assim, o módulo está composto das seguintes unidades de estudo: Ao final desse módulo é esperado que você conheça a teoria geral sobre gestão de portfólio de projetos e tenha condições de identificar os principais elementos dela no seu dia a dia. 1 De Onde Surgem os Portfólios de Projetos? 2 Os Processos do Gerenciamento de Portfólio 3 Os Domínios do Gerenciamento de Portfólios Segundo o PMBOK 4 Outros Processos Fundamentais para Gestão de Portfólio Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9 Fazendo uma pesquisa rápida na Internet, foram selecionadas as seguintes notícias do dia utilizando a palavra estratégia como item de pesquisa: • análise de dados identifica padrões na estratégia de sustentabilidade das empresas; • mesmo com um a menos, [jogador] conta que fez estratégia para tentar ganhar o jogo do [time]; • usuários reclamam de anúncio, alegando que se trata apenas de estratégia para vender assinaturas; • mudança do governo pode potencializar estratégia de lucrar com dividendos; • estratégia de [corredor] na França foi prejudicada por safety-car; e • Rússia altera a estratégia da guerra após chegada de armas da OTAN. Veja que em todas as situações o termo estratégia reflete um plano para alcançar algum objetivo no futuro – ganhar uma guerra, vencer um jogo ou uma corrida, alcançar reconhecimento como organização sustentável. Estratégia, no fim das contas, é um conceito que engloba o processo inteiro de alcançar o objetivo: os planos, os meios, as ferramentas, as métricas. É o como chegar onde se quer! Para evoluir nessa linha de raciocínio, analise um exemplo específico. Quando alguém pensa em uma estratégia para seu desenvolvimento profissional individual, começa por estabelecer aonde quer chegar. Algumas variáveis vão definir esse cenário futuro, e podem virar as métricas que representam o objetivo: salário ou renda mensal provavelmente será uma delas, mas quanto mais específico for o objetivo mais fácil é desenrolar o plano depois. Pode ser que seja necessário fazer uma análise de mercado para definir as outras metas. 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública No exemplo do desenvolvimento profissional, quais são as alternativas de profissão que oferecem possibilidade da renda desejada? Considerando as skills (habilidades) e interesses, quais dessaspossibilidades de atuação profissional são mais agradáveis e passíveis de sucesso? Em quais setores do mercado seria viável e interessante trabalhar? O que dizem as previsões dos especialistas em mercado de trabalho sobre essas alternativas nos próximos 20 anos? Essa fase de avaliação de informações internas e externas, busca de conhecimento das variáveis envolvidas e seleção de caminhos possíveis é chamada formalmente de Diagnóstico Estratégico. Essa fase é um processo por si só, e existem diversas ferramentas disponíveis para ajudar: Matriz SWOT, Análise das 5 Forças de Porter e Business Model Canvas são as mais comuns. Ao final dessa fase consegue-se definir mais claramente aquele objetivo maior, com um elemento importante da definição estratégica que chamamos de posicionamento estratégico. Então, como exemplo, pode-se estabelecer como objetivo estratégico “ser um profissional de marketing valorizado e reconhecido no mercado brasileiro (ou internacional?)”, e como metas estratégicas alcançar, em no máximo 15 anos, um salário mensal mínimo de R$ 50.000,00 atuando em alguma posição gerencial e com portfólio de campanhas relevantes realizadas para empresas de grande porte. Lembra que comentamos que quanto mais específicas, melhores as metas? Então, para cada uma das metas estabelecidas pode ser utilizada a técnica SMART para ajudar a dar certeza de que há clareza no que se quer, veja a seguir. Técnica SMART. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11 Estabelecidas e avaliadas as metas, essas informações são formatadas de maneira visual em um instrumento chamado Mapa Estratégico. O modelo de mapa mais conhecido é o BSC (Balanced Scored Card), mas dependendo da técnica utilizada para o processo de planejamento e do público que irá consultar e entender essa informação, a formatação pode ser outra. O importante é que no Mapa Estratégico estejam presentes os objetivos e as relações entre eles, como nos exemplos a seguir: Mapa estratégico da PRF 2013-2020. Fonte: Lemos e Barbosa (2018). 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Mapa estratégico do TCE-RN. Fonte: TCE-RN (2023). O ensaio de Jackson de Toni, Reflexões Sobre Planejamento Estratégico no Setor Público, publicado em 2021, conceitua e apresenta diversas vertentes de entendimento da gestão estratégica no governo. A partir da página 21 ele apresenta o conceito de Agenda Estratégica de Governo, que é bastante interessante para entender a complexidade do processo de Planejamento em âmbito federal, mas que também pode ser estendido para os demais âmbitos federativos. Segundo ele, deve existir um elemento tratado como Núcleo do Governo (NdG) cujo “papel no planejamento estratégico (PEG) garantiria que as prioridades fossem consideradas e viabilizadas, que as estratégias fossem harmonizadas, em especial aquelas intersetoriais, e que o processo de orçamentação e planejamento fosse coordenado. O diagrama a seguir ilustra graficamente esse conceito” Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13 Papel do Núcleo de Governo na Agenda Estratégico da Gestão Pública. Fonte: Toni (2021, p.23). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 1.2 O Desdobramento do Planejamento Estratégico em Projetos Como você já viu, o processo de planejamento estratégico se inicia com uma reflexão estratégica para definir aonde se quer chegar, o que acaba sendo refletido em objetivos e metas estratégicas. O próximo passo, chamado de desdobramento estratégico, é definir como alcançar as metas estabelecidas e fazer com que as ações (projetos e iniciativas) que serão responsáveis pela transformação cheguem ao conhecimento de todos. Existem ótimas técnicas disponíveis no mercado, que independentemente de modismos momentâneos precisam ser adequadas para o tipo de ambiente organizacional no qual serão aplicadas. Para decidir o método que será usado é preciso considerar algumas variáveis da instituição, das pessoas que nela trabalham, 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública e também o quanto a cultura dela precisa ser trabalhada para alcançar os objetivos estabelecidos. Algumas dessas variáveis são as que seguem abaixo. • O histórico dos planejamentos anteriores — as pessoas já estão acostumadas com algum método de gestão e acompanhamento estratégico? • A disponibilidade de tempo, especialmente da gestão média, para discussões e revisões. • Entender se a gestão é mais centralizada ou se deseja dar abertura para participação de diferentes níveis organizacionais no processo. Alguns métodos de desdobramento consomem bastante tempo e exigem compilação de dados entre as fases, então é relevante considerar se há alguém capacitado e com disponibilidade para conduzir o processo. Independentemente do método utilizado, o resultado final dessa etapa é uma lista de iniciativas estratégicas (projetos) e suas características, especialmente a lista de recursos necessários para sua execução. Um exemplo de material resultante desse trabalho é uma planilha parecida com esta abaixo: Modelo de planilha. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Fonte: Fonte: autoria própria. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15 1.3 OKR Resumidamente, OKR é uma técnica de desdobramento na qual cada um dos objetivos (Objectives) é desdobrado em resultados-chave (Key Results), que são metas menores que contribuem para o atingimento do objetivo. Objetivo: construir uma cultura de engajamento dos colaboradores • Resultados-chave: • KR 1 — atingir nota 9 no índice de engajamento; • KR 2 — garantir que todos os colaboradores recebam ao menos 3 feedbacks ao longo do ano; e • KR 3 — realizar 5 atividades extratrabalho sugeridas pelos próprios colaboradores. Objetivo: melhorar a qualidade do produto entregue • Resultados-chave: • KR 1 — implantar métricas que garantam qualidade do produto entregue — meta = 90% (mínimo); • KR 2 — garantir que as soluções implantadas tenham passado por teste e estejam com a qualidade mínima exigida — implantar processo de mudança; e • KR 3 — realizar processo de teste com no mínimo uma validação do usuário final. OKRs precisam ter responsáveis bem definidos, as metas precisam ser mensuráveis e, principalmente, ser ações de curto prazo. Tipicamente os key results têm prazo estabelecido de 3 meses, depois dos quais acontece uma revisão estratégica e são definidos novos KR para o mesmo objetivo. Ou seja, no desdobramento de cada objetivo os resultados-chave são analisados em sequência para que o objetivo vá evoluindo a cada trimestre, e ações possam ser tomadas a tempo de corrigir os desvios encontrados. 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O uso de KPIs remete a um modo um pouco mais tradicional de gestão, mas KPI é apenas uma maneira de especificar as metas estabelecidas para os objetivos estratégicos. KPI significa Key Performance Indicator, ou Indicador Chave de Desempenho, e quando estamos falando de desempenho podemos estar nos referindo à instituição toda ou a parte dela. Normalmente os KPIs são um subconjunto dos indicadores que a organização utiliza no seu dia a dia, mas são aqueles indicadores que melhor expressam a razão pela qual a organização vive e trabalha. Exemplos clássicos de KPI são o investimento do governo nos setores críticos (educação, saúde etc.), a razão entre receita e custo, os indicadores sociais como o IDH, os indicadores relacionados com inovação e parcerias, assim como indicadores de engajamento e capacitação dos colaboradores. Selecionados os KPIs, o processo de identificar os projetos que levarão a unidade organizacional a atingir a meta pode ser bastante simples, como realizar uma sequência rápida de reuniões com especialistas e especificar tanto o que é necessário fazer, quanto quais recursos serão exigidos para cada projeto. 1.4 KPI 1.5 Lean – Hoshin Kanri O HoshinKanri é uma técnica do Lean para desdobramento estratégico que preconiza o alinhamento e realinhamentos consecutivos dos objetivos, metas e iniciativas, tanto verticalmente quanto horizontalmente, dentro da organização. Na prática, e de maneira simplificada, o método funciona assim: • a alta administração faz uma reflexão estratégica e sugere grandes metas a serem alcançadas; • essas diretrizes vão “descendo” pelos níveis organizacionais de forma que cada nível consiga dar sua contribuição de crítica relacionada à viabilidade de execução de um plano, iniciativas necessárias, recursos e pontos de cuidado; • ao chegar no nível mais operacional é que a viabilidade do plano é realmente colocada à prova, esperando-se, nesse ponto, que todas as iniciativas necessárias tenham sido identificadas e que a viabilidade de execução esteja confirmada; • caso não esteja confirmada, inicia-se mais um ciclo porque as informações retornam ao nível mais alto da organização para serem revistas e depois descem novamente, sendo esse processo de “jogar a bola” para os níveis acima e abaixo originalmente chamado de catchball. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17 Exemplo de processo Catchball do Hoshin Kanri. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). As duas grandes vantagens de desdobrar a estratégia através do Hoshin Kanri são o fato de que toda a organização conhece e contribui com a definição dos projetos e iniciativas, e que a viabilidade de execução do plano estratégico é validada ao longo do processo através do engajamento intrínseco a este. Portanto, ninguém poderá dizer que não conhece ou não concorda com o plano estratégico. No entanto, é possível destacar também duas questões que precisam ser muito bem gerenciadas para que o Hoshin Kanri funcione: a necessidade de ter um time constantemente preparando as informações e recompilando o plano para passar de um nível para outro, e de que haja tempo para que todos consigam efetivamente se envolver. 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Portfólios de projetos são conjuntos de projetos com algum objetivo comum. Dentro de uma organização é possível estruturar portfólios de projeto por área física (portfólio de uma unidade, uma secretaria, uma prefeitura), portfólios por assunto (portfólio de projetos de infraestrutura, de educação, de inovação) ou ainda por objetivo estratégico. Esses portfólios provavelmente terão em comum o método de gestão utilizado, pois deverão ser acompanhados de forma a levar cada um dos seus projetos a atingir os objetivos a que se propuseram. Eventualmente podem compartilhar os mesmos métodos de reporte e divulgação de resultados, e também alguns recursos, como salas, pessoas e outros. Mas dependendo do volume e do porte dos projetos envolvidos, a gestão de um portfólio pode ser facilitada através de uma estrutura hierárquica que permita uma maior sinergia entre os projetos. A estrutura padrão para isso é a seguinte: 1.6 Diferenças entre Portfólios, Programas e Projetos Além dessas questões, o Hoshin Kanri é um processo que faz parte da cultura Lean e como dito anteriormente, acaba sendo mais um método que faz parte dessa cultura organizacional. Quando a instituição não tem essa cultura, é fundamental que o método seja aplicado com adaptações para que se tire benefício de aspectos específicos. Programa É um conjunto de projetos que têm entre si não só características, mas relações de dependência. O agrupamento desses projetos em programas busca benefícios que não seriam obtidos se os projetos fossem gerenciados de forma individual. Projetos São iniciativas temporárias e únicas nas quais as organizações investem (esforços e dinheiro) para conseguir transformações que precisam ser gerenciadas de forma apartada da operação normal. Portfólio Composto por programas e/ou que têm algum objetivo ou característica comum. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19 1.7 O que as Empresas Esperam do Gerenciamento de Portfólio Um portfólio pode ser composto por programas e/ou por projetos. Um programa é composto por vários projetos. Um projeto também pode ser subdividido em subprojetos, se for necessário. Embora não seja comum, uma parte de um projeto pode ser separada e “contratada” de uma outra estrutura, por exemplo, sendo tratada como um subprojeto. A característica principal do subprojeto é que ele não é responsável pela entrega total do projeto que o criou, mas apenas de uma parte. Pode parecer chocante, mas as empresas não se interessam pelos projetos ou pelos portfólios, pois eles são apenas o meio de alcançar os objetivos. O que importa, no fim das contas, é só o atingimento dos objetivos e a comprovação de que os benefícios esperados foram alcançados. Mas via de regra a complexidade de promover transformações é muito grande e intensificada pelo fato de que os projetos promovem mudanças na operação, afetando as atividades e pessoas que trabalham para que a organização funcione diariamente. Assim, a melhor forma de conseguir uma transformação cuidadosa é entregando a gestão dos projetos para pessoas que sejam especializadas nisso, pois utilizam conjuntos de práticas de gestão específicas a esse fim. A seguir você encontra uma lista mais detalhada de elementos relacionados a essa expectativa de resultado, resumidos em dois grandes direcionamentos para a gestão de portfólio: como fazer os projetos certos (para atingir os objetivos definidos), e como fazer certo os projetos. O que as organizações esperam da gestão de portfólio. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública E se a gestão de portfólio realmente executar tudo isso, há garantia de que os projetos vão dar os resultados esperados? “A gestão de portfólio não necessariamente resolve problemas, mas ela dá visibilidade sobre os problemas e riscos através de uma estrutura de indicadores e mecanismos de acompanhamento, e previne problemas através de processos e treinamentos”. Mariana Zaparolli no vídeo Governança de Portfolio Ágil: Case PagSeguro (disponível no Youtube), de 2020. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Até a próxima! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21 CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU). Curso ENAP Gestão Estratégica com BSC – Fundamentos. [ENAP]. 2013. Disponível em: https://www.escolavirtual.gov. br/curso/103. Acesso em: 14 fev. 2023. ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ENAP). Curso ENAP Elaboração de Indicadores de Desempenho Institucional. 2021. Disponível em: https://www. escolavirtual.gov.br/curso/604https://www.escolavirtual.gov.br/curso/604. Acesso em: 14 fev. 2023. ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ENAP). Curso ENAP Era Digital, Planejamento Estratégico e Inovação na Gestão Pública. 2022. Disponível em: https://www.escolavirtual.gov.br/curso/768. Acesso em: 14 fev. 2023. ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ENAP). Curso ENAP Planejamento Estratégico para Organizações Públicas. 2022. Disponível em: https://www. escolavirtual.gov.br/curso/107. Acesso em: 14 fev. 2023 FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2023. Disponível em: https://www.storyset.com/. Acesso em: 12 jan. 2023. GOVERNANÇA de Portfólio Ágil: Case PagSeguro. [S. l.]: Mariana Zaparolli, 2020. 1 vídeo (42 minutos). Publicado pelo canal Quode. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=kuMTQEs-CWY&t=997s. Acesso em: 14 fev. 2023. LEMOS, Fabio; BARBOSA, Milka. Balanced scorecard como modelo do plano estratégico da Polícia Rodoviária Federal. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 38., 2018, Maceió. Anais [...]. [S. l.]: ABEPRO, 2018. Disponível em: https:// abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_264_515_35030.pdf. Acesso em: 15 fev. 2023. PRIOLO, Roberto. O que é hoshin kanri?.[Lean Institute Brasil]. 2020. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/651/o-que-e-hoshin-kanri.aspx. Acesso em: 14 fev. 2023. TONI, Jackson de. Reflexões sobre o Planejamento Estratégico no Setor Público. Brasília, DF: Enap, 2021. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (TCE-RN). Mapa estratégico. 2023. Disponível em: https://www.tce.rn.gov.br/PlanoEstrategico/ MapaEstrategico. Acesso em: 15 fev. 2023. Referências https://www.escolavirtual.gov.br/curso/103 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/103 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/604https://www.escolavirtual.gov.br/curso/604 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/604https://www.escolavirtual.gov.br/curso/604 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/768 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/107 https://www.escolavirtual.gov.br/curso/107 https://www.storyset.com/ https://www.youtube.com/watch?v=kuMTQEs-CWY&t=997s https://www.youtube.com/watch?v=kuMTQEs-CWY&t=997s https://abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_264_515_35030.pdf https://abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_264_515_35030.pdf https://www.lean.org.br/artigos/651/o-que-e-hoshin-kanri.aspx https://www.tce.rn.gov.br/PlanoEstrategico/MapaEstrategico https://www.tce.rn.gov.br/PlanoEstrategico/MapaEstrategico 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2: Os Processos do Gerenciamento de Portfólio Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade espera-se que você distinga o processo de gestão de portfólio como um processo, assim como suas 3 etapas. Quando se apresenta a gestão de portfólio como uma ferramenta para atingir os objetivos estratégicos, define-se a mecânica da gestão de portfólio a um ciclo temporalmente definido, atrelado aos objetivos que os projetos devem conquistar. Na prática, a gestão de portfólio pode até ser atemporal, como uma disciplina fixa da gestão organizacional, mas ela funciona em ciclos que são definidos por esses objetivos que a direcionam. Por exemplo, pode-se ter uma função perene dentro da estrutura organizacional com título de PMO ou Núcleo Setorial de Projetos, responsável por gerir o portfólio de projetos de uma área, mas o processo de gestão estará sempre sendo renovado junto com os objetivos. Assim, o trabalho de gestão de portfólio é composto de responsabilidades ou domínios de conhecimento, e essas responsabilidades são o “recheio” do processo de gestão de portfólio, que é definido por duas das principais referências em Gestão de Portfólio conforme os esquemas a seguir. Esse é o processo definido pelo PMI: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23 Ciclo da Gestão de Portfólio. Fonte: Axelos (2011). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Esse é o processo sugerido pela Axelos: Nos próximos tópicos serão detalhados o que acontece dentro de cada etapa desse processo, usando como referência, apenas para fins didáticos, o modelo do PMI. O objetivo da etapa de definição é garantir que haja critério e lógica na estrutura que vai ser usada para definir os projetos que vão compor o portfólio. Essa etapa é composta pelos seguintes passos: 2.1 Etapa de Definição do Portfólio 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Identificação 2. Categorização 3. Avaliação Essa é a etapa onde o processo de planejamento estratégico “entrega” à gestão de portfólio uma lista de projetos e iniciativas identificados como necessários para alcançar os objetivos estratégicos que foram definidos. Cabe à gestão de portfólio entender os projetos, suas metas de performance, as macroentregas que devem ser criadas e as dependências entre eles. A saída produzida por essa etapa é a lista de projetos candidatos ao portfólio (escopo do portfólio), já organizados em estruturas hierárquicas de programas e projetos. Para que os projetos possam ser priorizados, é necessário identificar os critérios mais relevantes para a organização em termos de negócio, e também o investimento necessário para execução dos projetos. Normalmente os critérios predominantes nessa etapa são os financeiros, e para isso são utilizadas métricas como Payback, TIR, Investimento Total, e outras. Por outro lado, na análise também precisam aparecer as métricas de benefício que nem sempre são tão claras na fase anterior. A resultante dessa etapa é uma visão em formato de planilha ou matriz onde essas variáveis podem ser comparadas e avaliadas, como na figura a seguir: Quando se trabalha com várias variáveis a comparação entre os projetos pode ser difícil. Como comparar, por exemplo, um projeto que entrega sozinho um valor enorme ao plano estratégico, mas que consome 70% do orçamento da organização, com outro projeto que não entrega um valor tão alto, mas que exige um investimento baixo e por isso permitiria a execução de um portfólio com ótima entrega de valor no conjunto? Uma técnica para permitir essa avaliação é o uso de um esquema de pontuação com pesos. Cada critério avaliado recebe um peso, e os valores obtidos em cada critério levam a uma pontuação geral. Por exemplo: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25 4. Seleção Dificilmente uma organização consegue colocar energia em todos os projetos de transformação que gostaria de executar. A etapa de seleção consiste em identificar o ponto de corte a partir da capacidade organizacional de executar projetos nesse momento/ano/período. E isso deve ser feito antes mesmo de entrarmos na priorização, para que os envolvidos tenham bem claros os critérios de renúncia de projetos — porque alguns vão ser cortados da execução imediata. O critério principal é sempre a capacidade orçamentária — quanto a organização está disposta ou liberada para investir nos projetos, seja diretamente em termos financeiros, seja em termos de liberação de recursos humanos para trabalhar em projetos. Complementarmente pode-se estabelecer também um limite máximo de projetos em paralelo para mitigar o risco de drenar energia demais da operação. Outros critérios interessantes a considerar são: grau de risco; se o projeto é mandatório ou opcional; carga de envolvimento de profissionais importantes para a operação da empresa; necessidades de contratação de produtos/ serviços dos quais a organização não dispõe; impacto do projeto na estratégia; e retorno esperado (financeiro, qualidade, aumento de clientes, visibilidade). 2.2 Etapa de Desenvolvimento do Portfólio A etapa de desenvolvimento do portfólio é a definição dos projetos que serão executados no próximo ciclo. 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Priorização Como você pode ver pela sequência de passos, a priorização técnica é praticamente um resultado natural das etapas anteriores. Se as métricas foram estabelecidas, as pontuações foram definidas e aplicadas, falta agora ordenar a lista e identificar quais projetos estão com a pontuação mais alta, ou seja, são mais interessantes para a organização. No entanto, essa etapa é fundamental, porque ela entrega o resultado da seleção de projetos utilizando os critérios definidos. Uma das formas de apresentar esse resultado é utilizando o mesmo gráfico de bolhas já usado em etapas anteriores, mas com a indicação da linha de corte que define quais projetos entram no portfólio e quais ficam aguardando na fila: Balanceamento Embora muitas discussões certamente tenham ocorrido ao longo das etapas anteriores, é somente com o resultado da priorização que os envolvidos conseguem ter uma visão do cenário real futuro, considerando principalmente as renúncias que terão que fazer em função de projetos que não foram priorizados para o próximo ciclo de execução. Na etapa de balanceamento as discussões se tornam mais focadas em garantir coerência ao conjunto de projetos selecionados visando um cronograma de execução que faça sentido para entregas de valor contínuas e rápidas. Algumas das análises realizadas nessa fase são: Exemplo de um gráfico de bolhas indicando a priorizaçãoe a seleção dos projetos de um portfólio. Fonte: Axelos (2011, p. 59). Elaboração: CEPED/UFSC (2023) Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27 Comunicação de ajustes Ao longo de todos esses passos muita gente deve ter se envolvido com o processo, seja para participar ou somente fornecer informações. É fundamental que a comunicação dos projetos selecionados seja feita para todos, inclusive como parte da divulgação da própria estratégia organizacional. • Conferir se os projetos selecionados não têm dependência de entre- gas de projetos não priorizados. • Conferir se não haverá restrição ou superalocação de recursos huma- nos. Uma superalocação poderá exigir troca de projetos. • Garantir que diferentes áreas ou objetivos estão contemplados no conjunto de projetos priorizado. O equilíbrio das entregas para dife- rentes áreas da organização é importante para que objetivamente a or- ganização vá evoluindo uniformemente, mas também subjetivamente para que todos se sintam contemplados na execução estratégica. • Há casos em que os projetos são de interesse político ou financeiro de alguma área, e nesse caso acontecem negociações para troca de projetos considerando valores não mapeados nos critérios tabulados. • É preciso também olhar para os projetos não priorizados e avaliar se eles não precisam de execuções prévias (dependência de entregas anteriores). Assim, mesmo que um projeto não seja tão importante no 1º ciclo, talvez ele precise ser priorizado para garantir as entregas que os outros projetos precisam. Por exemplo, um projeto de capacitação pode ser pré-requisito para o desenvolvimento de um novo serviço. Os movimentos que o grupo de trabalho faz para mover os projetos entre os conjuntos priorizados e não priorizados são chamados de forcing (forçar). Se os projetos estão em uma lista, é utilizado force up / force down (forçar para cima / forçar para baixo), e se estão em um gráfico chama-se force in / force out (forçar para dentro / forçar para fora). 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2.3 Etapa de Execução do Portfólio Já dentro do ciclo de execução dos projetos o portfólio tem duas grandes responsabilidades que são: • Autorização: assim que os projetos são selecionados e aprovados eles “entram” no processo de gestão de projetos, ou seja, precisam ser formalmente entregues ao responsável por sua execução (gerente de projeto) e passar por um procedimento de abertura. Nessa etapa acontece também a orientação para execução dos projetos (governança do portfólio). • Revisão e reporte: é o acompanhamento da execução dos projetos, com reporte periódico de saúde e tomada de decisão. Ao longo do ciclo de execução devem acontecer as revisões estratégicas periódicas, com eventuais mudanças de prioridade, inclusão de novos projetos e outras movimentações, o que leva a gestão de portfólio a retomar o processo e rodar novamente os passos de desenvolvimento que vimos anteriormente. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Até a próxima! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29 ABGI BRASIL. Apoiamos empresas a otimizarem seus investimentos em PD&I e reduzirem os riscos de inovar. S.d. Disponível em: https://brasil.abgi-group.com/ radar-inovacao/artigos-estudos/qual-a-localizacao-ideal-para-desenvolvimento-de- projetos-pdi. Acesso em: 9 mar. 2023. AXELOS. Management of Portfolios (MoP). Londres: TSO, 2011. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos – PMBOK, 7ª Edição. [S. l.]: PMI, 2021. Referências https://brasil.abgi-group.com/radar-inovacao/artigos-estudos/qual-a-localizacao-ideal-para-desenvolvimento-de-projetos-pdi https://brasil.abgi-group.com/radar-inovacao/artigos-estudos/qual-a-localizacao-ideal-para-desenvolvimento-de-projetos-pdi https://brasil.abgi-group.com/radar-inovacao/artigos-estudos/qual-a-localizacao-ideal-para-desenvolvimento-de-projetos-pdi 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3: Os Domínios do Gerenciamento dos Portfólios segundo o PMBOK Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, espera-se que você reconheça os domínios da gestão de portfólio segundo o PMBOK. Para garantir que os projetos estratégicos atinjam seu objetivo não é suficiente fazer uma boa etapa de seleção e depois acompanhar a execução dos programas e projetos. Ao longo da execução a gestão de portfólio precisa ter olhar estruturado para algumas perspectivas de forma a garantir que os projetos tenham a estrutura necessária para sua execução e o caminho livre para fazerem suas entregas. Em outras palavras, o olhar do portfólio não é exclusivo para os projetos, mas muito da energia precisa ser dedicada para o ambiente onde os projetos estão sendo executados. O PMI apresenta essas perspectivas como os domínios da gestão de portfólio, ou Portfolio Management Domains. Eles trazem boas práticas para garantir alinhamento do plano de execução do portfólio com o plano estratégico. Domínios da Gestão de Portfólio, segundo o PMI. Fonte: PMI (2017). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31 A seguir, acompanhe os detalhes de cada um desses domínios. Muito mais do que garantir que os projetos definidos sejam executados, o alinhamento estratégico consiste em garantir que o portfólio em execução esteja alinhado com as necessidades da organização, ou seja, garantir que o portfólio esteja com os projetos certos para o momento atual da organização. Na prática e de forma simplificada, temos essas duas situações que podem acontecer e que exigem ações de realinhamento disparadas pela gestão do portfólio: A Estratégia Pode Estar Mudando Muito tem se discutido sobre a dificuldade dos seres humanos em enxergar um futuro próximo, em função dos avanços tecnológicos, das inovações e da velocidade com que os negócios se transformam. Se você não conhece, é aconselhável ler um pouco sobre os termos que definem essa nova dinâmica de mundo, como VUCA (Volatile = Volátil, Uncertain = Incerto, Complex = Complexo e Ambiguous = Ambíguo) e BANI (Brittle = Frágil, Anxious = Ansioso, Nonlinear = Não Linear e Incomprehensible = Incompreensível). Há algumas referências ao final da unidade! 3.1 Alinhamento Estratégico “O alinhamento da gestão estratégica e da gestão de portfólio possibilita que as ações da organização permaneçam consistentes com as expectativas da gerência sênior e dos stakeholders. Sem isso, há um sério risco de que o portfólio não consiga executar a estratégia traçada e que os programas e projetos em execução adicionarão pouco ou nenhum valor – certamente menos valor do que é esperado. O alinhamento estratégico do portfólio deve ser considerado um processo de mão dupla. Além do monitoramento contínuo da estratégia e decisões do nível executivo, as práticas devem prover feedback do portfólio sobre o impacto e viabilidade dessas decisões estratégicas.” - Standard Portfólio Management 4ª Edição, 2017, p.29. 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Essa dificuldade se reflete no plano estratégico das empresas. Há alguns anos era comum o mercado traçar metas estratégicas de 5 anos, hoje o horizonte de longo prazo diminuiu para 3 anos, e em alguns setores é inferior a 1 ano. E a lógica disso é que não vale a pena investir tempo em grandes planos estratégicos se é certo que o cenário de negócio vai mudar. Sem entrar em detalhes sobre como fazer gestão estratégica em um mundo VUCA (pois esse não é o tópico aqui), a gestão de portfólio precisa garantir que o monitoramento da estratégia de negócios seja feito com espaço para identificação e revisões de metas, e existem muitas técnicas para isso, como o uso de OKRs trimestrais. Ao identificar incompatibilidade entre as metas estratégicas e o valor dos projetos, a gestão de portfólioprecisa entrar em ação, revisando os direcionamentos aos seus programas e projetos. Os Projetos Podem não Estar Levando ao Resultado que a Estratégia Precisa Dificuldades operacionais ao longo da execução podem levar os projetos a caminhos alternativos ou até a ficarem impossibilitados de atingir os objetivos propostos, dentro do prazo e do custo previstos. A solução para esse risco é manter o foco no objetivo estratégico que o criou. O uso de dinâmicas ágeis para execução dos projetos atende perfeitamente essa premissa, autorizando a equipe a customizar a execução do projeto desde que não perca de vista as premissas iniciais. O uso de dinâmicas mais tradicionais de execução de projetos exige um monitoramento mais presente da gestão de portfólio, principalmente sobre os riscos identificados. No fim das contas, o que garante um alinhamento estratégico constante é estabelecer rituais periódicos de acompanhamento com projetos e programas e também com o nível executivo, preferencialmente com todos juntos em alguns momentos. Nem sempre os desvios e riscos aparecem de forma tão explícita em documentos formais ou até relatórios de status, muito desse domínio precisa ser garantido com comunicação constante e sensibilidade para perceber os primeiros sinais de desalinhamento. 3.2 Governança Governança é o conjunto de ações que devem ser tomadas para garantir confiabilidade a uma organização. Em governança corporativa defende-se os princípios da transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade, e esses mesmos princípios devem ser aplicados na gestão de portfólio. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33 A governança, portanto, é um conjunto de normas, regras, diretrizes, processos, e qualquer outro elemento que direcione a gestão de portfólio para funcionar de maneira correta e o mais fluída possível. Em alguns esportes se diz que o árbitro precisa ser invisível, e só aparecer quando houver alguma questão do jogo que precise de esclarecimento ou mediação. Essa figura facilitadora é bem diferente do que costumamos entender como um árbitro mais controlador, que interfere constantemente na atividade e é consultado pelos jogadores em busca de aprovação ou direcionamento. Pense que quanto mais claras as regras do jogo estiverem, quanto mais autônomas as equipes de projeto forem, menor o esforço e o desgaste de todos. Então, no que se refere à governança do portfólio, o melhor dos mundos é quando o portfólio consegue montar um framework de orientações acessível por todos, e ao longo desse tópico você verá algumas ideias práticas de como isso pode ser construído e disponibilizado. Mas antes, entenda o conteúdo que pode ser útil em um framework de governança de portfólio. • Processos e responsabilidades da gestão de portfólio: tudo o que já vimos até esse ponto do curso, a maneira como os projetos são selecionados, os critérios de priorização e seleção, como funcionam os rituais da gestão de portfólio, os templates que são utilizados. • Processos e responsabilidades da gestão de projetos: o que é tratado como projeto, quando e como formalizar um projeto, metodologias para gestão de projetos, fluxos e artefatos que podem ser utilizados para gestão de projetos. • Diretrizes, orientações ou políticas para gestão orçamentária dos projetos, tratamento de crise, prestação de contas. • Papéis e responsabilidades. • Estrutura de comitês organizacionais envolvidos em gestão de portfólio. • Diretrizes gerais para comunicação, armazenamento de dados, treinamentos que serão oferecidos para entregas de projetos. • Ferramentas disponíveis para execução dos projetos, com treinamentos e exemplos que possam ser utilizados. 34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Apresentação do plano de portfólio para o ciclo atual: quais os objetivos estratégicos, as métricas, os projetos selecionados, e onde acompanhar a evolução desses projetos. • Templates e diretrizes para monitoramento do status dos projetos. Como cada ambiente organizacional é único, os níveis de exigência em termos de transparência e responsabilidade também variam e impactam muito no nível de controle que é necessário dar ao portfólio. Ao desenhar a governança de portfólio é preciso considerar os seguintes fatores para calibrar adequadamente a rigidez das práticas: • Quantidade de programas e projetos do portfólio que devem obedecer a recursos legais ou regulatórios. • Nível de exigência da organização para a gestão dos recursos do portfólio - documentação, comunicação, auditorias. • Quantidade de mudanças a que o portfólio está exposto. • Tipo de gestão da empresa - mais centralizada ou descentralizada. • Performance esperada dos projetos, expressa em suas métricas financeiras ou não financeiras. Para definir o formato em que a governança do portfólio será disponibilizada ao público envolvido com os projetos, é importante avaliar antes duas coisas: 1 Qual a estrutura da própria organização para disponibilizar suas políticas e processos, e qual a cultura das pessoas em termos de consulta a esses documentos. Os colaboradores estão acostumados a consultar ativamente e seguir políticas e processos? Ou as pessoas são mais passivas e acostumadas a receberem treinamentos e e-mails com diretrizes? 2 Como é a dinâmica de execução dos projetos, e quais estruturas seriam mais acessíveis para esse público especificamente. As equipes trabalham fisicamente no mesmo local, são distribuídas, trabalham remotamente? Os projetos usam dinâmicas com contato permanente ou diário, conversam bastante entre si, ou as tarefas são distribuídas e as equipes interagem pouco, conversando o mínimo necessário? Essa avaliação serve para entender se a cultura de portfólio (diretrizes, processos) seria facilmente transmitida dentro da dinâmica das equipes, ou se é necessário reforço formal de distribuição de informação. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35 Realizado o diagnóstico, seguem três ideias de práticas que as empresas têm utilizado para divulgar a governança de portfólio. Portal de Projetos, ou Portal do Portfólio Essa é a prática mais comum em empresas estruturadas. Um site com uma seção para os processos, outra seção para as políticas, uma seção para os indicadores, e outra seção para acompanhamento dos projetos. Eventualmente podem ser inseridos também um espaço para armazenamento de documentos importantes (repositório), apresentação das equipes, índice para documentos e informações legais, treinamentos, e outros assuntos de interesse das equipes. Plano de Portfólio Quando a estrutura do portfólio é mais inicial, talvez não seja tão vantajoso investir ainda em um site, mas pode ser montado um arquivo com o índice de todas as informações úteis, em algumas empresas chamado de Plano de Portfólio. Esse arquivo necessariamente faz menção às metas do portfólio para o período, tem a lista de projetos selecionados, e pode conter os links para informações úteis para a governança, como a lista dos responsáveis pelos projetos, matriz de decisão com responsáveis e critérios, link para informações de processos e políticas organizacionais, e um calendário de rituais de portfólio e atualizações. Ferramenta de gestão de projetos Outra alternativa é adotar direto uma ferramenta de gestão de projetos que possa concentrar todas as informações, além da própria rotina dos projetos e da gestão de portfólio. O mercado dispõe de ótimas e poderosas ferramentas pagas e gratuitas (com liberação limitada de recursos) como EPM (Microsoft), o Jira (Atlassian), Trello, Artia (EUAX), Monday, Asana, NetSuite (Oracle), e muitos outros. No entanto, é importante que a ferramenta seja vista como um meio de disponibilizar a informação, e não subestimar o esforço de definir a governança, o que deve ser feito independente da ferramenta. Embora todos os domínios da gestão de portfólio sejam importantes, doisdeles são os pilares: o alinhamento estratégico garante que a gestão de portfólio esteja executando os projetos certos para os resultados esperados, e a governança de portfólio define a forma mais adequada e eficaz de executar os projetos. 36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A gestão de capacidade do portfólio objetiva regular, otimizar e balancear a necessidade de recursos dos projetos com sua disponibilidade e custo. Tiago Oliveira, em seu Guia Referencial (2021), inclusive intitula essa seção de “gestão de oferta e demanda por recursos”, deixando bem explícita a função de entender os recursos necessários e equilibrar essa demanda com a capacidade que a organização tem de disponibilizar esses recursos. Embora boa parte dessa disciplina seja dedicada a alocação de recursos humanos, refere-se a todos os recursos necessários aos projetos, o que inclui também os recursos financeiros, os intelectuais — como patentes e registros regulatórios — e também os ativos organizacionais — como estrutura física, equipamentos e conhecimentos imprescindíveis para que o trabalho seja feito de forma correta. A gestão de capacidade não é simples de ser executada, porque envolve capturar as necessidades de recursos de todos os projetos e buscar oportunidades de compartilhamento, riscos de escassez, eventualmente intermediação de contratações que possam trazer benefícios aos projetos em conjunto. A gestão de portfólio também pode ajudar criando estruturas que facilitem esse compartilhamento diretamente pelos projetos, como nos seguintes exemplos: • Adoção de um sistema de alocação de salas e outros recursos físicos; • Definição de políticas relacionadas à contratação de terceiros visando limitar as contratações a um conjunto restrito de fornecedores previamente qualificados para os produtos/serviços; • Adoção de ferramentas de gestão de alocação (mapas de alocação) onde os projetos podem consultar a disponibilidade de recursos que atendam às características técnicas que precisam, e reservá-los. Seja através de ferramenta, seja através de uma planilha, o gestor de portfólio precisará trabalhar a otimização de recursos em algum instrumento em que ele consiga visualizar os recursos e a necessidade que os projetos têm de cada um. Seguem algumas imagens de mapas de alocação simples: 3.3 Gestão de Capacidade Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37 Mapa de Alocação e Capacidade de Equipe da Hub Planner. Fonte: Hub Planner (2020). Exemplo 1 de Mapa de Alocação Simples. Fonte: Moreira (2017). 38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ao identificar restrições de alocação as ações podem ser de negociação de prazos de alocação dos recursos, de alteração de perfil dos recursos que os projetos vão alocar, e de busca de alternativas para otimização entre os próprios projetos. Também devem ser avaliadas as possibilidades para aumentar a disponibilidade de recursos pela organização, o que pode envolver decisão de aquisição de recursos que a organização possa fornecer (ao invés de contratar de terceiros), ou a de aumentar a terceirização de recursos para não comprometer o custo fixo da organização. Além disso, capacitar os colaboradores internos nas demandas técnicas mais requisitadas é sempre uma ótima opção porque desenvolve o público interno e contribui para engajamento e produtividade. Pode também haver necessidade de direcionar as alocações conflitantes com base nas prioridades dos projetos dentro do portfólio, ou seja, realmente decidir qual projeto irá alocar um recurso primeiro. Nesse caso, é importante que haja uma política de governança estabelecendo a ordem, e que isso seja de conhecimento de todos os projetos. Exemplo de visão de super alocação de recursos. Fonte: Ten Six (2017). Por fim, como essa disciplina envolve as pessoas que vão trabalhar nos projetos (gente), é fundamental uma parceria entre a gestão de portfólio e a área responsável por talentos e desenvolvimento humano dentro da organização. A gestão integrada Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39 A lógica da gestão de stakeholders para portfólio é a mesma que é usada para projetos. Então deixando momentaneamente de lado a parte em que é definida a importância da gestão de stakeholders para o portfólio, você vai direto para um passo a passo de como fazer essa gestão sem complicar ou burocratizar o dia a dia do portfólio. O processo para gestão de stakeholders pode ser resumido nos seguintes passos: 3.4 Gestão de Stakeholders das necessidades de recursos humanos entre o RH e a gestão de portfólio melhora a performance e dá mais segurança para os executivos na medida em que métricas específicas podem ser monitoradas e controladas pela gestão organizacional. Ciclo da gestão de stakeholders na gestão de portfólio. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Identificar e Entender as Expectativas dos Stakeholders Convidamos você a refletir por alguns momentos, analisando as perguntas a seguir. • Quem, dentro e fora da organização, tem interesse direto nos objetivos que o portfólio precisa atingir? • Há alguém com interesse de que os projetos não logrem sucesso? Por quê? • Quem são os beneficiados pelas entregas dos projetos? • Quem precisará ceder recursos e tempo para que os projetos sejam executados? • As entregas dos projetos vão substituir processos, produtos ou serviços já existentes? Quem são as pessoas responsáveis por esses processos, produtos ou serviços que serão substituídos? • Há fornecedores envolvidos? • Será necessário ou interessante firmar parcerias de outras unidades/ departamentos/secretarias? • Quem são os executivos que terão poder de autorizar os projetos? • Quem são os executivos que irão reportar as evoluções dos projetos? Provavelmente a lista resultante de pessoas interessadas e envolvidas com o portfólio é enorme. É preciso então adotar um método para identificar o poder de influência que cada uma delas tem em advogar a favor ou contra os projetos, de definir o sucesso ou fracasso de um ou mais projetos. Nem sempre essa é uma tarefa fácil, mas compartilhar essa lista com algumas pessoas dos projetos, e também com o sponsor do portfólio, pode ajudar a olhar as influências por diferentes perspectivas: influência técnica, influência política, influência de opinião/relacionamento, e outras. Utilizando a mesma mecânica, a outra variável importante é o interesse que a pessoa tem no sucesso dos projetos, ou nos resultados estratégicos que o portfólio vai gerar. Mais uma vez não é uma tarefa fácil, até porque a visão de portfólio e resultado estratégico nem sempre é tão clara para que defina o comportamento das pessoas no dia a dia. O conhecimento de alguém sobre os resultados estratégicos pode ser altíssimo e ela estar engajada com o plano estratégico, mas individualmente estar insegura sobre sua condição, sentindo que perderá poder ou mesmo precisará se capacitar ou mudar de área. Mudanças geram insegurança e desconforto, mesmo que inconscientemente. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 41 A lista resultante, quando colocada em um gráfico, dá a indicação da melhor forma de planejar o envolvimento e a comunicação com cada um dos grupos, como mostra a figura a seguir: Visão de Poder x Interesse na gestão de stakeholders. Fonte: Kretan et al. (2009). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Planejar o Engajamento dos Stakeholders no Ciclo de Gestão de Portfólio Dificilmente se consegue dar atenção a todos os grupos de stakeholders de forma personalizada. Mas é possível, com certeza, estabelecer alguma forma de comunicação com todos os grupos. A comunicação constante, mesmo que seja apenas para informar do andamento dos projetos, garante o cumprimento da diretriz de transparência e abre espaço para eventuais contatos dos interessados.O plano de comunicação deve endereçar as ações possíveis e necessárias para todos os grupos. Independente da lista de pessoas, o Framework de Governança já pode ter definidas as estratégias de engajamento e comunicação com os stakeholders, o que pode ficar customizado, por exemplo, da seguinte forma: 42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Plano de comunicação do portfólio. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Para os grupos 1 e 2 sugere-se a abertura de forma personalizada, pessoa a pessoa, e avaliação de táticas específicas, quando for o caso. Manter comunicação efetiva, direcionada e constante Além do envio de status periódico, e avaliação de questões críticas do portfólio chamando o envolvimento dos interessados, uma forma de monitorar a efetividade das ações de engajamento é criar canais onde as partes interessadas possam manifestar desconfortos, sejam os delas próprias ou do público que as cerca. Algumas empresas utilizam pesquisas de satisfação diretas, mas quando se trata do portfólio as práticas mais comuns são o monitoramento interpessoal (conversas com colegas, participação em reuniões executivas) e a inclusão de questões em pesquisas de satisfação do ambiente interno, também chamadas pesquisas de clima. De forma indireta, essas pesquisas conseguem capturar ilhas de desconhecimento (isolamento) e de descontentamento com o andamento dos projetos ou com a execução da estratégia, o que permite ações mais setorizadas. É importante destacar que o foco aqui é o envolvimento de partes interessadas na perspectiva de portfólio, ou seja, do conjunto de projetos que atendem aos objetivos estratégicos da organização. Cada projeto do portfólio terá sua própria avaliação de partes interessadas e sua dinâmica específica de envolvimento e engajamento, com foco em requisitos e nas suas entregas de negócio. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43 3.5 Gestão de Riscos Tecnicamente a gestão de riscos no portfólio é bastante parecida com a gestão de riscos dos projetos. Utilizam-se os mesmos instrumentos, matriz de risco, métricas, e ações de resposta. No entanto, a gestão de portfólio tem responsabilidades adicionais, mais amplas, pois parte do seu olhar está no suporte à gestão de riscos dos projetos, e parte está nas análises de risco relacionadas ao negócio. Veja a seguir um resumo dessas duas grandes atuações da gestão de portfólio na gestão de riscos: Prover estrutura: processos e ferramentas para gestão dos riscos nos projetos • Categorizar os riscos • Implantar processo similar ao de lições aprendidas – coleta de dados nos projetos para alimentar as análises do portfólio. • Identificar o apetite de risco da instituição. • Avaliar continuamente os riscos dos projetos e tomar ações no sentido de prevenir os demais – transformar em processos, políticas, construir relacionamentos. • Ajudar os projetos a quantificar os riscos - mentoria e acompanhamento. • Identificar os riscos de um projeto que afetam outros projetos. • Atuar proativamente na mitigação ou eliminação dos principais riscos institucionais. Alimentar os executivos com informações de negócios contendo análises de risco • Transparência. • Monitorar o mercado e o negócio, e criar cenários onde as métricas de risco tenham valor para as decisões. • Avaliar proativamente quanto de risco a estratégia comporta, e prover reserva de contingência no nível der portfólio para suportar os projetos em perdas relacionadas a riscos ocorridos. 44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quanto maior o nível de autonomia dos projetos, e maior o nível de maturidade da instituição nas práticas de gestão, mais próxima do negócio a gestão de portfólio estará. Principalmente se a organização estiver atuando de forma instrumentalizada, com uma plataforma de gestão de portfólio completa, elimina- se a necessidade de atuação dos gestores no registro e grandes avaliações de dados em planilhas, e a própria plataforma provê suporte à tomada de decisão desde que corretamente calibrada com os parâmetros. Grandes decisões implicam invariavelmente em mais risco, incerteza., comprometimento do investimento e, por consequência, em capacidade de mudança da organização. Assim, decisões estratégicas exigem escolhas forçadas de priorização em relação a opções concorrentes. A decisão que não seja a melhor compromete e atrasa o futuro da organização, e o tempo não volta. 3.6 Gestão de Valor A gestão de valor ou dos benefícios é provavelmente a principal responsabilidade do portfólio, pois é o que lhe dá sentido. De nada adiantaria organizar os projetos, fornecer estrutura para que os projetos sejam executados, acompanhar os resultados, para chegar ao final e não conseguir demonstrar a entrega de valor. O modelo MoP, da Axelos (vinculado ao PRINCE2) indica as seguintes macrotarefas ou key success factors para a gestão de valor: Key Explicação Criação de um framework para gestão de benefícios Os projetos e todos os envolvidos precisam estar seguros quanto à estrutura disponível para gestão dos benefícios, que deve incluir a categorização, quantificação, coleta e validação de valores e evidências. Fazer a projeção de benefícios Informar e validar com todos os envolvidos a projeção de quando os benefícios serão disponibilizados. Essa projeção ajuda a dar cadência à execução dos projetos. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45 O maior desafio desse processo, pelo menos em fase inicial, diz respeito ao estabelecimento de uma estrutura para gestão de benefícios. O Standard for Portfolio Management do PMI (2017) diz que as métricas relacionadas a valor podem ser tangíveis ou intangíveis. Criar plano com projeções de realização de benefício e investimentos Planificar a gestão de investimentos com a gestão de benefícios, e confirmar a capacidade de execução do portfólio. Gerir os benefícios ao longo da execução dos projetos A gestão de benefícios precisa ser revista sempre que há algum tipo de revisão do portfólio, além dos momentos formais de revisão estratégica. Garantir report dos benefícios desde o início O dashboard de acompanhamento do portfólio precisa considerar em suas visões os benefícios gerados. Implementar revisões de benefícios após fechamento dos projetos As revisões de benefícios incluem não somente o acompanhamento de benefícios até o encerramento de todos os projetos do portfólio, como também as revisões no processo de gestão de benefícios com lições aprendidas ao longo do ciclo. 46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Patricia Magnano (2012) sugere uma categorização um pouco diferente: Sem dúvida nenhuma, os critérios financeiros são os mais utilizados porque não dependem da natureza do projeto, mas estão intimamente relacionados com a capacidade de investimento da organização. Eles sempre estarão combinados com outras métricas, mas é fundamental saber traduzir o valor em termos financeiros por 2 motivos. 1 Métricas financeiras são uma linguagem universal, e refletem de forma incontestável o valor obtido como resultado de um projeto/portfólio. 2 Nem sempre o projeto gera lucro (ou se paga) em um espaço curto de tempo, tornando algumas vezes o investimento muito difícil de ser justificado. Uma análise financeira detalhada vai conseguir mostrar quando será o ponto em que o investimento dará retorno, e de quais outras variáveis ele depende. Gráfico demonstrativo do Payback. Fonte: Pimentel (2020). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Por causa dessa importância, segue um resumo das principais métricas financeiras utilizadas para justificativa e acompanhamento de valor no portfólio: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47 Gráfico demonstrativo do VPL. Fonte: Priority Partners Strategic Consulting (s.d.). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Gráfico exemplo da TIR. Fonte: Pereira (s.d.).Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Exemplo de como o ROI pode ser demonstrado graficamente. Fonte: Cabarroz (2018). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Cabe ao gestor do portfólio identificar quais métricas fazem sentido para justificar ganhos ou benefícios, em cada situação. Que bom que você chegou até aqui! Agora é hora de você testar seus conhecimentos. Então, acesse o exercício avaliativo que está disponível no ambiente virtual. Bons estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49 AXELOS. Management of Portfolios (MoP). Londres: TSO, 2011. BASTOS, Rodrigo. Estratégia em um Mundo VUCA – O Fim de Uma Era. [Target Teal]. 2017. Disponível em: https://targetteal.com/pt/blog/estrategia-em-um- mundo-vuca-o-fim-de-uma-era. Acesso em: 17 fev. 2023. CABARROZ, Caique. O que é ROI e como usá-lo para obter mais controle dos seus investimentos?. [IDEAL]. 2018. 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Disponível em: https://blog.softexpert.com/disponibilidade-alocacao-recursos-forma-simples/. Acesso em: 17 fev. 2023. OLIVEIRA, Tiago Chaves. Guia Referencial para Gerenciamento de Projetos e Portfólios de Projetos. Brasília, DF: ENAP, 2021. PEREIRA, Leonardo. O que é a TIR e como calcular. [Dicionário Financeiro]. S.d. Disponível em: https://www.dicionariofinanceiro.com/tir-taxa-interna-retorno/. Acesso em: 17 fev. 2023. PIMENTEL, Rodrigo. Entenda as vantagens da Energia Solar. [Blog EletroJr]. 2020. Disponível em: https://eletrojr.com.br/2020/05/12/energia-solar-vantagens/. Acesso em: 17 fev. 2023. 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ROITMAN, Alberto. Acabou o mundo VUCA. Conheça o mundo BANI. [LinkedIn]. 2020. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/acabou-o-mundo-vuca- conhe%C3%A7a-bani-alberto-roitman/?originalSubdomain=pt. Acesso em: 17 fev. 2023. SMARTSHEET. Legacy Resource Management and allocation. S.d. Disponível em: https://help.smartsheet.com/pt/articles/1346969-legacy-resource-management- allocation. Acesso em: 17 fev. 2023. TEN SIX. Investigating and addressing resource over-allocation in microsoft project. 2017. Disponível em: https://tensix.com/investigating-and-addressing- resource-over-allocation-in-microsoft-project/. 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O governo brasileiro instituiu, através do Decreto nº 9.319 de 21 de março de 2018, o Sistema Nacional para Transformação Digital (SinDigital). O SinDigital é composto pela Estratégia Brasileira para Transformação Digital (E-Digital), seus eixos temáticos e uma estrutura de governança. Projetos e portfólios trabalham basicamente com desenvolvimento e implantação de produtos e serviços, afetando diretamente o dia a dia das pessoas. Comumente as equipes dos projetos se deparam com ambientes onde a mudança comportamental efetivamente precisa ficar no centro da atenção, trazendo a necessidade de entendimentos dos conceitos a seguir, e escolha por abordagens mais humanizadas de execução. Unidade 1: O que o Mundo e as Empresas Querem com a “Transformação Digital”? Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, espera-se que você reconheça as variáveis que compõem um ambiente e projetos de transformação digital, além do conceito de mindset digital. Para isso, será apresentada uma introdução ao aspecto humano nas iniciativas de transformação digital, através de conceitos relacionados a cultura organizacional e mindset digital. 1.1 Transformação Digital não é só sobre Tecnologia! 52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Representação gráfica da E-Digital. Fonte: Brasil (s.d.). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). O objetivo principal de um investimento tão alto na transformação digital de um país é garantir que os serviços públicos evoluam no sentido de agregar os componentes tecnológicos necessários e adequados para que estejam integrados às práticas digitais da sociedade e que consigam responder ou até extrapolar às expectativas de qualidade, agilidade e produtividade do público usuário. Ou seja, é um movimento de adaptação aos 2 principais componentes da evolução humana: tecnologia e pessoas. Mas qual dos dois determina a velocidade e a direção da transformação digital? Vamos tentar pegar o fio da meada do pensamento revisando a história da evolução tecnológica no mundo. Em algum momento da pré-história o homem começou a criar utensílios. É difícil dizer se as primeiras criações foram acidentais ou intencionais, mas essas primeiras criações com certeza despertaram no ser humano a consciência de que ele era capaz de criar artefatos que lhe facilitavam a vida. Resquícios de povos antigos mostram imagens de homens caçando com lanças e pedras talhadas, o que lhes deu uma alimentação de melhor qualidade. Os mesmos artefatos serviam para defesa, o que lhes deu a capacidade de permanecer por mais tempo no mesmo lugar. Homem pré-histórico. Fonte: Freepik (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53 Bem mais tarde e mais adiantado nas técnicas de controle do fogo, este foi usado para produzir artefatos de metal. Isso combinado à evolução
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