Prévia do material em texto
Cozinha Regional Brasileira Chef Paulo Verissimo Região Sudeste Espírito Santo Até o século XIX, o Espírito Santo era uma das províncias de pouco destaque. O panorama começou a mudar com a chegada dos imigrantes italianos e alemães e dos brasileiros de outros estados. A condição de ilha fez que a capital, Vitória, mantivesse a identidade culinária , da qual fazem parte centenárias receitas indígenas e europeias. Enquanto nas cidades litorâneas prevalece a culinária de origem indígena, na região serrana mudam o clima (mais frio) e a cozinha. Com forte influência italiana a cidade de Santa Teresa apresenta uma saborosa mistura entre pratos típicos da região do Vê neto e de Trentino com brasileiros. Do outro lado da serra , em Domingos Martins, fica o reduto alemão com a riqueza das receitas pomeranas. Nas regiões em que a influência africana foi relativamente pequena, no Espírito Santo é quase nula. A cor do dendê das Bahia, também é apreciado, mas à maneira indígena, produzida pelo urucum. A moqueca capixaba não leva leite de coco como a baiana e o azeite é o de oliva, que entra também em muitos outros pratos. A panela de barro é, sem dúvida, uma das maiores expressões da cultura popular do Espírito Santo. Desde a sua origem - nas tribos indígenas que habitaram o litoral do Estado - até os dias de hoje, a técnica de sua confecção e a estrutura social das artesãs pouco mudou. O trabalho artesanal das paneleiras sempre garantiu a sobrevivência econômica de seus familiares, como também de suas tradições. A região de Goiabeiras, ao norte da Ilha de Vitória, sempre foi o local tradicional da produção de panelas de barro. No início, o trabalho era de cunho familiar e as panelas eram feitas nos quintais das casas das paneleiras, atualmente existe uma cooperativa de artesãs. Além da moqueca capixaba, outro prato indígena adotado até hoje pelos capixabas é o muxá, (equivalente ou sinônimo do mugunzá ou do curau de outras regiões do Brasil), feito de milho socado em pilão, coco, açúcar, cravo e canela. Banana-da-terra, com canela e açúcar, é presença diária e obrigatória na mesa capixaba: com ela o peixe, a carne-seca e o feijão ficam muito mais gostosos. Em matéria de doces, a variedade é muita: bolo de mandioca- puba, assado no forno ou assado no braseiro. Milho verde transformado em pamonha, bolinhos de aipim, beijus de tapioca, cuscuz de tapioca e arroz, manuês, pães de cará, de milho, de aipim, cremes assados com brasas em cima, doces de compota, jenipapina e refrescos de fruta, o bolo “montanha de neve”, indispensável nos aniversários e nos casamentos, recheado com goiabada da boa e coberto com suspiro bem alvo, e muito bagaço de coco. A lista de doces continua, com nomes gostosos e poéticos: “lábios de moça”, “lençol de noiva”, “espera marido”, “palminhas de noiva”, “creme das virgens”, “não chega para ninguém” e “beijos de moça bonita”, para terminar com um refresco delicioso de abacaxi, que se chama “xixi de moça”. Urucum: (do tupi uru-ku = "vermelho") ou urucu. É uma árvore originária da América Tropical. Na culinária brasileira, a forma mais comum de encontrá-lo é como colorau, que deve ser bem solto e seco. Mas o óleo também é comum, especialmente no Espírito Santo. São Paulo http://gabrielarighetto.files.wordpress.com/2008/01/sao_paulo_cidade.jpg http://gabrielarighetto.files.wordpress.com/2008/01/sao_paulo_cidade.jpg Hoje considerada a capital brasileira da gastronomia, tem as raízes de sua cozinha na história dos tropeiros, que em suas jornadas pelo Brasil adentro, transpunham, muitas vezes, a fronteira dos estados, viajando por semana ou meses levando mantimentos e animais de tração para serem vendidos principalmente em Minas. Nessas longas viagens, os alimentos precisavam ser secos, como feijão-preto quase sem caldo, com pedaços de carne-seca e toucinho, servido com farofa e couve picada, evitando, assim, com que se estragasse e facilitando o transporte. Foi então que surgiu o Feijão-tropeiro, prato incorporado às cozinhas de São Paulo e Minas. Nas antigas fazendas de café, no final do século XIX e começo do século XX as refeições incluíam ingredientes caipiras. Os doces eram feitos no tacho de cobre. IÇÁ Conhecida como tanajura, é a fêmea da formiga saúva, responsável pela perpetuação da espécie. Seu abdômen, destacado do corpo e torrado, constituem iguaria muito apreciada na culinária popular. Por todo o Vale do Paraíba sempre houve grandes apreciadores de içás. Monteiro Lobato foi grande apreciador da iguaria e a ela se refere em vários textos de sua obra sempre plena de indicações de caráter folclórico. Lobato certa vez disse que a içá é o caviar da gente taubateana. CAIÇARAS O caiçara absorveu muito a cultura culinária indígena. As comunidades caiçaras nasceram a partir do século XVI da miscigenação de brancos de origem portuguesa com grupos indígenas das regiões litorâneas (Tupinambás) e negros libertos que se afastaram das influências das áreas urbanas (cidades e vilas). A palavra caiçara é de origem tupi-guarani: “caa” significa galhos, paus, “mato”, enquanto que “içara” significa armadilha – armadilha de paus – denominando, assim, às comunidades de pescadores tradicionais da zona litorânea do sul do Rio de Janeiro, de São Paulo e norte do Paraná. Bananas: Nenhuma fruta se compara à importância deste fruto. Nanica, naniquinha e nanicão, se distinguem pelo tamanho do pé. Tem a banana vinagre, que recebeu este nome pelo seu sabor acre e é boa para comer assada, tem a casca avermelhada e é bem amarelinha por dentro. A cultura gastronômica caiçara é muito rica: a mandioca, o peixe e os frutos da mata são os alimentos mais consumidos por eles, além da colheita de palmito. o meio de transporte no mar é a canoa de origem indígena, feita de um único tronco. Mandioca: Nesta cultura a utilização da mandioca é bem forte, devido à raiz cultural indígena, depois de ralada a massa de mandioca é posta em fornos a lenha, feitos de uma chapa redonda de cobre. Uma variedade de produtos saem dos fornos, destacando-se: Beiju (ou biju): Fabricado a partir da goma extraída do caldo da mandioca. Das sobras da fabricação do beiju é feita a farinha de tapioca. Na massa pode-se acrescentar coco ralado, amendoim, coco-indaiá, brejaúva ou outros ingredientes que darão um gosto especial ao beiju. Farinha d’água: Mais grossa e escura do que as outras, feita de mandipuva ou mandioca fermentada e um pouco azeda. Farinha manema: Variedade de farinha d’água mais grossa e dura, que após misturada com café é um alimento considerado forte. Farinha picica: Forneada com diversos temperos, especialmente folhas de alfavaca e pimenta, é apreciada como acompanhamento de peixes. Farinha surui: farinha fina, mal torrada, de qualidade inferior, usada na preparação de pirão e que deve ser consumida logo. Farinha de guerra: Farinha da terra (comum), mais torrada que as outras e que, se bem guardada, conserva-se por mais tempo. Usada nas viagens ou quando o caiçara vai trabalhar na lavoura distante. Farofa: feita de farinha de mandioca, misturada com toucinho, carne e bastante tempero. No litoral sul paulista, a partir da farinha pode-se fazer: Bolo-de- roda, feito com a goma, com formato de roda, muito apreciado no café da manhã. Coruja, tipo de pão feito com farinha de mandioca e amendoim, enrolado em folha de bananeira. Cuscuz de mandipuva, feito com farinha fermentada, a qual se ajuntam amendoim, ovos e banha de porco. Pão de aipim, feito com mandioca-mansa, trigo, fermento, coco ralado fresco, açúcar e ovos. Paspalhão, espécie de beiju, feito de farinha de mandioca, temperada com sal e erva-doce e assado em folhas de bananeira. O DIA DE CADA PRATO Há bem mais de meio século existe em são Paulo a tradição de reservar um prato especial para cada dia da semana. Foi a forma encontrada pelos restaurantes para melhorar a organização da cozinha. Feijoada às segundas? Nem pensar. Em São Paulo,o prato consumido tradicionalmente às quartas-feiras e sábados. O prato principal das segundas-feiras é o virado à paulista ou o picadinho de filé mignon. Terça é dia de dobradinha ou de pastéis, feijão, couve e farofa. Na quinta faz sucesso com macarrão com frango, rabada com polenta, ou ainda, carne-de-sol desfiada. Sexta é dia de variar com peixe, geralmente pescada-branca ou bacalhau. E no domingo, nos restaurantes ou em casa, são imbatíveis o macarrão ou a lasanha. BOTECO Ao falar do Sudeste é impossível não falar do boteco, verdadeira instituição no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em São Paulo. A palavra vem de botequim, que designa um estabelecimento comercial de alimentação popular, que serve bebidas, tira-gosto e alguns pratos de comida caseira. O boteco teria sua origem no Rio de Janeiro e em São Paulo, no início do século XX, no florescer da industrialização, sendo uma opção que oferecia alimentação barata aos operários, já sem tempo de fazer a refeição em casa. Mais tarde passou a ser um local descontraído, muito frequentado pelas pessoas no final da tarde, depois do trabalho, com o propósito de bebericar, jogar conversa fora e petiscar (coxinha de frango, bolinho de bacalhau ou de carne e pasteizinhos, entre outros). FRUTAS O Sudeste possui algumas frutas, verduras e legumes muito peculiares que, ao lado dos queijos típicos, compõem uma mesa bastante particular, tanto nas refeições principais quanto no café da tarde. No interior de São Paulo, a fruticultura é importante na economia e desenvolve-se um polo turístico chamado Circuito das Frutas, abrangendo 10 cidades, entre as quais: Indaiatuba, Itatiba, Jundiaí e Vinhedo. Entre as frutas encontramos: uva, morango, pêssego, maracujá, goiaba, caqui e acerola. Minas Gerais http://bp3.blogger.com/_sB0DOKcmkmg/Rl3-IT_D7dI/AAAAAAAAAeU/hp5gX7VxPNs/s1600-h/IMG_1380a.jpg http://bp3.blogger.com/_sB0DOKcmkmg/Rl3-IT_D7dI/AAAAAAAAAeU/hp5gX7VxPNs/s1600-h/IMG_1380a.jpg A cozinha mineira encanta não somente porque é a mais característica do Brasil, mas sobretudo porque é feita de pratos ricos em sabor e cheios de histórias próprias. São histórias bem brasileiras que remontam à época dos escravos, o ciclo do ouro, das pedras preciosas e que nos falam de cidades importantes como Ouro Preto, Diamantina, Sabará e outras, onde se escreveram muitas páginas da história brasileira. A cozinha mineira é toda baseada nos produtos de fundo de quintal, o porco, a galinha, o quiabo, a couve, o fubá. Por isso mesmo, é simples mas de um sabor inigualável e marcante. Está intimamente ligada à cultura do povo que a iniciou através das cozinheiras das grandes fazendas. A carne preferida do mineiro é a de porco, principalmente lombo gordo e linguiça. Toucinho dá gosto ao feijão. Peixe de água doce é frequente na mesa mineira: surubim, dourado, mandi, lambari, bagre e, vez por outra, piracanjuba. O dourado, entretanto, é o rei dos rios, excelente apesar das espinhas miúdas. E prato de festa, com pirão enfeitado de ovos cozidos. QUEIJOS No Serro e na Serra da Canastra, tradição e a geografia se unem para atestar os melhores queijos mineiros. O Serro é uma pequena cidade montanhosa com pouco mais de 20 mil habitantes, no Alto Jequitinhonha, a 300 Km de Belo Horizonte. Na época do ciclo do ouro, foi um dos principais núcleos mineradores do estado. Hoje o local se destaca pela produção queijeira. O queijo do Serro tem casca esbranquiçada e se transforma numa crosta fina e amarelada quando é curado por alguns dias. A massa é branca e consistente e às vezes ligeiramente quebradiça. Seu sabor é acentuadamente mais ácido que o do queijo-de-minas industrializado. O queijo da Serra da Canastra tem 3 estágios de maturação: fresco, meia cura e curado, apresentando sabor picante e encorpado, consistência firme e massa compacta. Tanto o queijo do Serro quanto o da Canastra possuem uma longa história, além da tradição e da origem em comum: ambos descendem do famoso Queijo Serra-da-Estrela, de Portugal e foram os primeiros portugueses que habitaram Minas Gerais, no período do ouro, que trouxeram as matrizes. Consta que o próprio D. João VI, no início do século XIX, incentivou a produção do queijo-de-minas artesanal. QUITANDAS Palavra de origem africana, Kitanda significa o tabuleiro em que se expõem as mercadorias diversas de vendedores ambulantes ou em feiras livres. No interior do Brasil é também o pequeno estabelecimento comercial onde se vendem ovos, frutas, verduras, cereais, material de limpeza e pequenos objetos da lida doméstica. Em Minas Gerais, além da definição acima, aplicou-se às comedorias ligeiras, em sua maioria de origem africana, mas desenvolvidas pelo gênio culinário das pretas velhas em colaboração com as sinhás-dona. Quer dizer tudo aquilo que é servido com o café, exceto o pão: bolos, fatias, biscoitos, sequilhos, broas, sonhos ou aquela sobremesa especial, feita de produtos vindos dos quintais, como o doce de leite, a goiabada com queijo ou a compota de fruta que se oferece após o almoço. Jabuticaba: Fruto de casca negra e suculenta polpa branca, que envolve uma única semente. Além de consumidas ao natural, dela se faz licor, geleia, vinho, aguardente, sorvete, recheio de bolo. Goiaba: Nativa do Brasil. As mais apreciadas são as de polpa vermelha e é delas que se faz um dos doces mais típicos brasileiros, a goiabada. A goiabada cascão, feita em tacho de cobre, leva pedaços da casca. Servida com pedaço de queijo-de-minas forma a sobremesa brasileira mais clássica: Romeu e Julieta. Jiló: Conhecido também como jinjiló é consumido, antes de seu amadurecimento, como legume, é na verdade um fruto amargo. Em Minas é geralmente consumido refogado com cebolinha ou em farofas. Cidra: Muito apreciada em Minas, essa fruta cítrica se assemelha a uma laranja azeda, só que com casca grossa e bem maior. Seu uso mais conhecido é no preparo do doce de cidra ou do furrundum (com gengibre, açúcar mascavo ou rapadura). Cambuquira: Nome dado ao broto e às folhas da aboboreira, muito usada refogada, quando toma a textura de espinafre refogado. O escaldado de cambuquira é muito consumido no Vale do Paraíba. Couve-manteiga: Trazido de Portugal e esse integrou perfeitamente à culinária brasileira, principalmente no Sudeste, é o acompanhamento clássico da feijoada. Ora-pro-nobis: Conhecida também como quiabinho-do- reino, “carne de pobre”, pois apresenta um teor de 25% de proteína em suas folhas. Depois de cozida fica com aspecto semelhante ao espinafre. Riquíssima em ferro é extremamente utilizada no interior de Minas em deliciosos refogados. Munheca: É o broto da samambaia. Muito utilizado na culinária mineira em cozidos com carne de porco ou frango. Taioba: Conhecida também por orelha- de-elefante, usada principalmente como planta ornamental. Folha originária da América Central e que, aqui no Brasil, é um pouco mais popular nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. As folhas e o talo são as partes comestíveis, usadas em refogados. Quitoco: Originária da América do Sul. É conhecido também pelos nomes de Tabacarana, Lucero, Madrecravo, Lucera, Erva-lucera. Muito utilizado na culinária do Serro, no Vale do Jequitinhonha, serve para temperar carnes de frango e porco. Geralmente pilado com dentes de alho e sal. Vida Cotidiana Em Minas Gerais é tradição que sejam feitas 5 refeições ao dia, enquanto nos outros estados geralmente são feitas apenas 3 refeições diárias. CAFÉ DA MANHÃ Em Minas, o café é acompanhado de quitandas: broa, bolo e mingau de fubá, biscoitos de polvilho, requeijão caseiro e pedacinhos de queijo. Nas grandes metrópoles, onde se dedicam menos tempo a essa refeição, ela se torna mais frugal, com apenas um café com leite ou café puro e pão com manteiga. Em São Paulo, contamos com o popular café com leite (pingado, média), com pão com manteiga, ou só o café preto. ALMOÇO Em Minas entra no cardápio arroz com tutu de feijão, carne delata (conservada na banha de porco) e refogado de abóbora madura. Também é opção o frango ensopado, acompanhado de farinha de milho ou de mandioca, lombo de porco e couve refogada. De sobremesa, doce de leite, ambrosia e/ou goiabada com queijo. É refeição comum do cotidiano do Sudeste o arroz, o feijão, a carne de vaca ou de porco, acompanhados de batatas fritas e salada de alface com tomate. Pela influência italiana, macarrão e polenta mole. LANCHE DA TARDE Hábito comum em Minas, por volta das 15 horas, é composto de quitandas, como bolos, roscas, broas, biscoitos, sequilhos, acompanhados de café, chás ou sucos de frutas da época. JANTAR Em todos os estados da região, geralmente é composto do almoço requentado, acrescido as vezes de uma sopa. Em algumas ocasiões o jantar é substituído por um lanche. CEIA É mineiro o costume de comer antes de dormir. Na ceia, por volta das 22 horas, come-se pão de queijo feito na hora, bolinho de fubá ou biscoito de polvilho frito, com chá de erva-cidreira ou hortelã ou café com leite. Rio de Janeiro Belle Époque Foi um período na história da França que começou no fim do século XIX e durou até a Primeira Guerra Mundial. A Belle Époque foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre a França e seus vizinhos europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. A arte e a arquitetura inspiradas no estilo dessa era, em outras nações, são chamadas algumas vezes de estilo “Belle Époque”. ART NOUVEAU O estilo chamado Art Nouveau (“arte nova” em português) foi típico da Belle Époque. Em vez de se basear nos sólidos modernos da arte clássica, a “art nouveau” valorizava os ornamentos e as curvas sinuosas baseadas nas formas elegantes das plantas e dos animais. As principais obras desse estilo são prédios, objetos de decoração (móveis, portões, vasos) e joias. Antiga joia da coroa portuguesa, o Rio de Janeiro talvez seja o melhor representante da sua gastronomia e dos seus hábitos alimentares. Pelas ruas cariocas as mercearias assemelham-se às encontradas nas cidades portuguesas. Raridades como a Confeitaria Colombo, no centro da cidade, trazem costumes completamente portugueses como as caixinhas onde são embalados os doces, tal qual em qualquer congênere lusitana. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a6/ConfeitariaColombo1.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a6/ConfeitariaColombo1.jpg A Confeitaria foi fundada em 1894 por imigrantes portugueses de Coimbra, tendo um extenso rol de clientes célebres entre a sociedade brasileira. Entre os clientes famosos da Confeitaria estão Chiquinha Gonzaga, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Villa-Lobos, Lima Barreto, José do Patrocínio, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, entre muitos outros. http://www.pbase.com/andremendonca/confeitaria_colombo_outside http://www.pbase.com/andremendonca/confeitaria_colombo_outside Em nenhum outro lugar do país encontra-se tamanha variedade de restaurantes portugueses. Na mesa de quase todos os bares, os bolinhos de bacalhau acompanham a cervejinha gelada. Em 1889 é fundada a Cervejaria Antarctica Paulista (em São Paulo), em 1904 é a vez da Cervejaria Brahma (no Rio de Janeiro). Os botequins são herança direta das tabernas de Lisboa, com o bacalhau à Brás, as mais deliciosas empadinhas do país, caldo verde, linguiça na aguardente, polvo ao vinagrete. E todas essas “comidinhas” confraternizam com coisas da terra como aipim frito e inesquecíveis batidas de limão. A boêmia das noites do Rio criou alguns pratos famosos como a sopa Leão Veloso e o Filé à Oswaldo Aranha. A fome da madrugada fez a fama do angu-do-gomes, servido em carrinhos distribuídos pelo centro da cidade: angu de milho coberto por um ensopadinho de bofe. Nos lares cariocas, porém, é como em todo Sudeste: arroz com feijão, só que preto mesmo no dia-a-dia; bife com fritas; uma saladinha; e o caseiríssimo camarão ensopado com chuchu. Na histórica Petrópolis e em Itaipava, região serrana onde viveu a coroa portuguesa, ficou famoso o roteiro de belas pousadas e bons restaurantes. Não por acaso é onde se encontra o chamado “vale dos Gourmets”. FEIJOADA Designação comum dada a diversos pratos que são normalmente preparadas a base de feijão e carne de porco. Ao contrário da já assentada concepção do surgimento do prato nas senzalas, feito a partir das sobras de carne da casa-grande a feijoada teria surgido no século XIX a partir da adaptação do cozido à portuguesa, prato que remonta ao Império Romano e encontra seus semelhantes na Itália, casouela; na França, cassoulet e na Espanha, fabada. Neste caso, os portugueses acrescentaram ao prato o feijão-preto, pois a mistura de carnes com legumes e feijão era um tabu alimentar para os colonos e, além disso, o rabo, as orelhas e os pés de porco não eram considerados restos e eram muito apreciados na Europa. Pela falta de arroz no Brasil Colônia, os alimentos tinham por base o milho e a mandioca, além do feijão. FILÉ OSWALDO ARANHA Um dos grandes articuladores da Revolução de 1930, Oswaldo Aranha (que foi ministro da Fazenda, do Interior e da Justiça, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, ministro das Relações Exteriores e chefe da delegação brasileira à primeira sessão especial da Assembleia Geral da ONU) não imaginava que criaria um dos pratos mais famosos da cidade. A invenção passou para a História - filet à Oswaldo Aranha. Toda semana, o grande político e estadista, amigo pessoal de Getúlio Vargas, almoçava no restaurante Cosmopolita, na Lapa, na época mais conhecido como Senadinho, porque era ponto de encontro de políticos. Pedia um filet (contrafilé) alto, com muito alho e para acompanhar, arroz branco, farofa e batata portuguesa (a redondinha). Hoje é feito com filet mignon. SOPA LEÃO VELOSO Igualmente cobiçada é a sopa Leão Veloso, outro clássico carioca. De sabor forte, leva caldo de cabeça de peixe e camarão, frutos do mar, coentro e alho-porró. Surgiu no restaurante Rio Minho, na Rua do Ouvidor, no Centro, uma instituição na cidade, com seus 121 anos de história, inspirada na francesa bouillabaisse. Leão Veloso era um gourmet experimentado. Foi embaixador do Brasil na França, de onde trouxe a fórmula da sopa de peixes, que no Rio Minho sofreu adaptação aos ingredientes nacionais. A sopa tem muita personalidade e leva polvo, mexilhões, lulas, além de bastante tempero. MANÉZINHO ARAÚJO Pernambucano, cantor e compositor de emboladas. Foi um dos primeiros garotos-propaganda do Brasil, cantando jingles do sabonete Lifebuoy e sendo contratado pela fábrica do Óleo de Peroba. Atuou também como jornalista no rádio e na imprensa, onde escrevia uma coluna. Também foi um dos primeiros artistas a trabalhar na recém-criada televisão brasileira. Em 1954 abandonou a carreira artística. Bibliografia Bueno, Ana; Diegues, Antonio Carlos & D’Alessio Vito. Culinária Caiçara. Ed. Dialeto. 2006. Cascudo, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. Ed. Global. 2004. Chaves, Guta & Dolores Freixa. Larousse da Cozinha Brasileira. Larousse do Brasil. 2007. Fernandes, Caloca. Viagem Gastronômica Através do Brasil. Ed. SENAC, 2008. Freyre, Gilberto. Açúcar. 3ª ed. Ed. Massangana, 1987. Neto, Nelusko Linguanotto . Dicionário Gastronômico – Pimentas. 1ª ed. Gaia Editora. 2007. Silva, Paula Pinto e. Farinha, Feijão e Carne-seca. Ed. SENAC, 2008.