Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Rim - Infecções das vias urinárias 1 🔬 Rim - Infecções das vias urinárias Prof. Valéria ➯ A pielonefrite (infecção das vias urinárias altas) é a doença renal mais comum, quase sempre o processo é bacteriano, essas bactérias são da flora intestinal normal na grande maioria das vezes pode ser subdividida em: a. Aguda b. Crônica: além da causa bacteriana há outros fatores que predispõe processos agudos de repetição ➯ A pielonefrite acaba sendo uma complicação de um processo infeccioso das vias urinárias baixas, predominantemente da bexiga ➯ Então, é uma cistite (infecção das vias urinárias baixas) e por uma VIA ASCENDENTE o processo ganha o rim ➯ Complicação séria Infecção urinária ➯ A infecção urinária é um processo infeccioso, geralmente, bacteriano que acomete as vias urinárias dos rins a bexiga ➯ Os agentes que causam essa infecção urinária são, na grande maioria das vezes, provocados por bactérias da flora intestinal normal ➯ Acomete interstício, túbulos, cálice, pelve e ureter Patogênese ➯ Esse processo infeccioso chega ao rim por duas vias: 1. Ascendente, canalicular ou urinária: há um processo infeccioso baixo, que acomete a bexiga e por REFLUXO ele acaba acometendo os rins Não só por refluxo, mas processo com alta virulência em que bactérias são drenadas para os linfáticos e podem acometer os rins 2. Hematogênica ou descendente: quando o paciente tem algum outro FOCO INFECCIOSO, seja dentário, uma endocardite, foco séptico pulmonar, nessas situações vai se ter uma bacteremia e as bactérias vão se depositar secundariamente nos rins (menos frequente que o ascendente) � Processo bacteriano, geralmente gram -, da flora intestinal normal. Mas, na verdade, qualquer agente biológico pode causar esse processo: Escherichia coli (85-90%) Enterobacter Klebsiella Proteus Pseudomonas Fungos Micobactéria Vírus Infecção ascendente ➯ Inicialmente há uma colonização da uretra distal pelas bactérias da flora intestinal normal ➯ As bactérias possuem características de adesão e se aderem ao epitélio e ao uretélio ➯ A colonização da uretra distal e por manipulação das vias (sonta ou cistoscopia) as bactérias ascendem para a ebxiga ➯ Na bexiga as bactérias se mutiplicam por um fato predisponente como a estase urinária ➯ O resíduo urinário favorece a mutiplicação e promove o processo infeccioso baixo Rim - Infecções das vias urinárias 2 ➯ Por um refluxo vesicureteral ou refluxo intrarrenal a urina contaminadas chega ao rim ➯ O processo infeccioso urinário alto se estabelece → pielonefrite Nem sempre a manipulação externa da uretra é a causadora da pielonefrite As mulheres são mais propensas de desenvolver a doença (uretra ser mais curta, fatores hormonais que favorecem a aderência da bactéria ao urotélio, a ausência de substâncias bactericidas presentes no líquido seminal e a traumas durante o ato sexual) → excessão dos polos etários Nas crianças o sexo masculino é mais propenso, recém-nascidos ou nos dois primeiros anos de vida → as mal formações das vias urinárias são mais comuns e favorecem o surgimento de processos infecciosos As doenças prostáticas determina dificuldades no esvaziamento da bexiga após os 50 anos, sendo os 60 o pico de infecção nos homens A gravidez também é bastante comum processos infecciosos justamente por questões hormonais que favorecem a adesão da bactéria ao urotélio, bem como no final da gestação por compressões, dificuldade no esvaziamento completo da bexiga A Diabetes Melito → bexiga neurogênica, que também favorece resíduo urinário, mas toda a resposta inflamatória reparativa no paciente com DM é feito de uma forma retardada, favorecendo a infecção Nesses pacientes ainda ocorre o favorecimento das complicações infecciosas em vários locais, órgãos e tecidos. A instrumentação favorecendo a ascensão das bactérias da uretra distal para dentro da bexiga A deficiência imunológica também favorecen toda as doenças infecciosas e aqui, além dos processos infecciosos, agentes não habituais Pielonefrite aguda ➯ Inflamação purulenta do parênquima renal, no interstício, túbulo, pelve, cálices, fica toda a estrutura renal comprometida ➯ Forma uma inflamação com fenômenos exsudativos, predominantemente neutrocitários ou neutrofílicos, com congestão e edema Achados característicos → CILINDROS PURULENTOS Esses cilindros purulentos são moldes de exsudatos neutrocitários, que se formam dentro dos túbulos, vão drenar pela via urinária e vão ser encontrados no exame comum de urina, são chamados de cilíndricos pois os túbulos têm uma luz cilíndrica Histologia: exsudato neutrofílico, podendo comprometer o interstício e os túbulos, formando o exsudato, quando esses cilindros são encontrados no exame de urina vai estar relacionado ao processo infeccioso alto. Rins com pielonefrite é possível ver o exsudato purulento na superfície renal Rim - Infecções das vias urinárias 3 Complicações ➯ Necrose papilar ➯ Pionefrose: transformação do rim em um saco purulento → destrói, necrosa a arquitetura normal do rim, transformando, como se fosse um abcesso renal ➯ Abscesso perinefrético: quando esse processo necrosante compromete a gordura perirrenal, transformando um abcesso perinefretico Essas complicações são observadas em processos de alta virulência associada a necrose tecidual e uma grande quantidade de exsudato purulento Isso vai determinar a transformação do rim num abcesso (pionefrose) ou quando esse processo se estende além dos limites anatômicos do rim e compromete o tecido perirrenal (abcesso perinefrético) Evolução ➯ Não tem nenhum aspecto peculiar, tem a substituição por um tecido conjuntivo formando cicatrizes irregulares, essas cicatrizes são associadas com inflamação e deformidades dos cálices e pelve ➯ Essas deformidades favorecem estase intrarrenal e novos processos infecciosos ➯ Normalmente relacionada à pielonefrite aguda de repetição, levando à cicatrizes e deformidades concomitantes, favorecendo novos processos infecciosos Sintomas Dor no ângulo costo-vertebral de início súbito Alterações sistêmicas associados aos sintomas urinários baixos: Febre; Mal-estar; Dor supra púbica; Aumento da frequência; Micção dolorosa Piúria: presença na urina de piócitos, que são neutrófilos necróticos; Cilindro purulentos Na histologia, a exsudação neutrofílica, comprometendo tanto o interstício quanto a luz dos túbulos Necrose papilar. Áreas de necrose cinza-claro envolvendo as papilas (setas). Rim - Infecções das vias urinárias 4 Pielonefrite crônica ➯ Além do processo infeccioso (mais comum), relaciona-se também com obstrução das vias urinárias e refluxo vesico-ureteral, refluxo vesico-renal Nesses refluxos tem a urina contaminada, semeando o ureter e o rim, provocando esse processo infeccioso renal, mas as fibroses de processos infecciosos prévios favorecem estase intrarrenal e novos focos infecciosos O processo infeccioso geralmente é bacteriano, mas favorecido por obstrução e refluxo Causas 1. Pielonefrite obstrutiva crônica Causas funcionais, com resíduo urinário que favorece o processo infeccioso Se tiver foco de endocardite ou uma bacteremia a contaminação pode se dar por via hematogênica Se o paciente tiver um resíduo urinário, a bactéria se implanta dentro dessa área de estase e forma um meio propício para a proliferação bacteriana, provocando um processo infeccioso renal Em um obstrução complexa a urina ganha o rim pelos linfáticos, formando uma espécie de linfangite, que vai semear a urina estagnada acima do ponto de obstrução 2. Pielonefrite por refluxo A forma mais comum de cicatrização da pielonefrite crônica A nefropatia de refluxo ocorre precocemente na infância como resultado da sobreposição de uma infecção urinária em pacientes portadores de refluxo vesicoureteral congênito e de refluxo intrarrenal O refluxo pode ser uni ou bilateral; logo, o dano renal contínuo pode causar cicatrização e atrofia de apenas um rim, ou envolver ambos, levando à insuficiênciarenal crônica O refluxo vesicoureteral ocasionalmente causa lesão renal na ausência de infecção (refluxo estéril), mas somente quando a obstrução é grave O refluxo é favorecido por uma implantação anormal do ureter na parede vesical, uma implantação horizontalizada ao invés de oblíqua, que faz com que tenha um trajeto mais longo, a nível de parede vesical A) Pielonefrite crônica. A superfície (à esquerda) tem cicatrizes irregulares. O corte (à direita) revela papilas planas ou ausentes. B) Vista de pequeno aumento mostrando uma cicatriz renal corticomedular com um cálice subjacente deformado e dilatado. Note a tireoidização dos túbulos no córtex. Típicas cicatrizes grosseiras de pielonefrite crônica associadas ao refluxo vesicoureteral. As cicatrizes são geralmente polares e estão associadas aos cálices aplanados À direita um ureter com implantação anormal, mais horizontalizada ao invés da oblíquoa (esquerda) Rim - Infecções das vias urinárias 5 Quanto maior o trajeto, mais oblíquo, mais fácil é a oclusão do ureter durante a micção Durante a micção tem a contração da muscular própria, músculo detrusor da bexiga, ao contrair ele oclui o ureter e impossibilita o refluxo ➯ Então, no processo crônico, tanto o refluxo quando a obstrução favorece processos infecciosos agudos de repetição ➯ Eventualmente, o refluxo de uma urina estéril pode determinar uma pielonefrite crônica só pelo impacto da urina nos polos renais, a urina reflui e impacta no polo superior e cai no polo inferior ➯ Tem processo infeccioso associado só pelo impacto mecânico, vai lesionando, provocando fibrose e inflamação crônica de baixa magnitude ➯ Quanto maior o processo cicatricial, mais o rim fica diminuído de tamanho → contração renal Os processos inflamatórios crônicos são associados a fibrose e ela retrai tecido, no momento que ele está retraindo segmentos renais com a evolução da doença, ele vai diminuir o rim como um todo � É importante para diferenciar de um rim terminal pela glomerulonefrite, a pielonefrite tem uma contração assimétrica, enquanto na glomerulonefrite é uma contração simétrica, o rim vai diminuir como um todo Morfologia: Nas imagens ao lado é possível ver a dilatação da pelve, a formação de deformidades que formam essas cavidades frequentemente preenchidas por material purulento e inflamatório A cápsula aderida a superfície renal Se a cápsula se desfaz com facilidade ou se tem pontos de adesão, que promovem a ruptura dessa capsula é geralmente associados a processos cicatriciais prévios Microscopicamente: há um aspecto tireoideo que se observa no rim, vai ter túbulos dilatados com material proteico na sua luz, hialino, acidofílico EQU: eles vão corresponder a cilindros hialinos, que são moldes proteicos pelo exsudato inflamatório em um processo inflamatório crônico no rim Essa proteína tem um aspecto muito semelhante a tireoide, logo o processo é chamado tireoidização renal ou rim tireóideo. Infiltrado linfocitário sobretudo nos locais onde se tem cicatrizes fibrosas Rim - Infecções das vias urinárias 6 Pielonefrite Xantogranulomatosa ➯ O termo xantoma é aplicado quando se tem coleções de macrófagos que fagocitaram lipídios Processo infeccioso renal, que se tem grande destruição de tecidos e essas células necróticas vão ser fagocitados por macrófagos, dando um aspecto xantomatoso ➯ Esses nódulos xantomatosos podem ser confundidos, tanto macroscopicamente quanto microscopicamente, com um carcinoma renal O carcinoma renal é constituído por células claras (citoplasma com grande quantidade de lipídios e glicogênio) ➯Principal agente: Proteus (60%) O material purulento que se acumula dentro das cavidades que se formam são de difícil erradiacação, pois há uma dificuldade dos antibióticos chegarem ao centro dessas cavidades, favorecendo novos processos infeccisos concomitantes Esse tipo de pielonefrite tem início insidioso ou por pielonefrite recorrente O diagnóstico costuma ser tardio na investigação de hipertensão e insuficiência renal, perda de função tubular com poliúria e noctúria, bacteriúria pode estar ausente nos estágios tardios Cistites ➯ Processo inflamatório da bexiga, são classificadas em agudas ou crônicas ➯ De uma maneira geral, as infecções crônicas e agudas não apresentam padrão específico, se apresentam na maioria das vezes com as características inflamatórias Aguda: congestão, edema, exsudato neutrofílico Crônica: predomínio de células mononucleares, sem padrões específicos Aspecto tireoideo Possível ver que a capsula, áreas de retração na superfície. Quando o rim é aberto, é possível ver que metade dele é substituída por cavidades contendo material purulento. Rim - Infecções das vias urinárias 7 Cistite hemorrágica: pode predominar esse padrão mais específico, que é junto com a cistite inespecífica terá uma hemorragia importante Pacientes que fazem quimioterapia favorece a cistite hemorrágica → droga citotóxica Cistite folicular: além dos achados de inflamação crônica, tem agregados linfóides, formando folículos linfoides É importante reconhecer esse padrão, porque geralmente no exame endoscópio o paciente apresenta uma mucosa granulas, esses grânulos correspondendo aos acúmulos de linfócitos formando folículos linfoides Cistite eosinofílica: tipo especial em que se tem grande número de eosinófilos na lâmina própria, isso é um achado geralmente inespecífico ➯ Em um certo número de casos não se consegue achar uma causa para esse exacerbado número de eosinófilos na bexiga ➯ Pode ainda estar associado a processos alérgicos Formas especiais de cistite: 1. Cistites intersticial: Também chamada de Dor Pélvica Crônica Sensação desagradável relacionada a bexiga (dor, pressão, desconforto) Associadas com sintomas do trato urinário (urgência, aumento da frequência, micção dolorosa) por mais de 6 semanas, na ausência de infecção ou outras causas identificáveis Esse é um processo idiopáticos, que acomete preferencialmente mulheres, com história de outras doenças de fundo imunológico Esse processo evolui para um estágio de fibrose da bexiga, podendo determinar uma contração vesical importante, bem como ulcerações extremamente dolorosas A paciente terá toda a sintomatologia relacionada a cistite clássica, portanto infecciosa, mas as culturas são sistematicamente negativas O diagnóstico é suspeitado pelo exame endoscópio Não se costuma fazer esse exame para processo infeccioso de vias urinárias, a não ser que o processo seja de repetição, indo para a investigação e é o que acontece nesse caso Quando se faz a dilatação da bexiga caracteristicamente apresenta pontos hemorrágicos na mucosa, que são ditos glomerulações, tal qual glomérulos hemorrágicos presentes na mucosa Um achado característico, é um número maior de mastócitos que essas mulheres apresentam na lâmina própria 2. Malacoplaquia: Não é um processo específico do rim, ele pode ocorrer em vários outros órgãos como pulmão, endométrio, tecido ósseo, onde quer que haja processos infecciosos de longa duração Esse processo se caracteriza por aglomerados de macrófagos, que tem no seu citoplasma corpos de Michaelis-Gutmann → corpos calcificados no citoplasma de macrófagos → determina macroscopicamente a presença de placas amareladas Esse padrão específico de resposta inflamatória crônica se desenvolve relacionados a defeitos na fagocitose em que o fagolisossomo não desaparece, não se dissolve e o que acontece é uma deposição de cálcio Esse processo de malacoplaquia se desenvolve onde quer que haja processos infecciosos com alteração no fagolisossomo 3. Cistite polipoide: Tende a se desenvolver associada a cateterização de demora da bexiga Acaba por agredir a mucosa e provocando um processo inflamatório localizado com um edema bem característico e provocando saliência nas mucosas que dá um aspecto polipoide Cistite aguda inespecífica, acima tem o urotélio, a lâmina própria com vasos congestos, edematosoevidenciado pela distância entre as células, o pontilhado observado corresponde ao exsudato netrofílico. Um processo clássico inespecífico. Rim - Infecções das vias urinárias 8 Ainda não explicada, pois não há uma justifica ou uma relação desse maior número de mastócitos com o quadro clínico apresentado, mas é um dos achados que se observa E com a evolução, aparecem ulcerações dolorosas e uma associação com fibrose difusa da parede, provocando uma contração importante da bexiga � A importância do reconhecimento desse padrão de inflamação é o diagnóstico diferencial do carcinoma urotelial papilomatoso, com padrão de saliência na mucosa semelhantes à cistite polipoide Lesões metaplásicas na bexiga: 1. Cistite glandular ou cística: Em pacientes com processos infecciosos inflamatórios da bexiga de repetição, pode ocorrer invaginação do urotélio para dentro da lâmina própria e eventualmente formando ninhos → Ninhos de Brunn Esses ninhos de urotélio podem sofrer metaplasia glandular, formando cistite glandular ou cística A mucosa fica com aspecto glandular diferente, avermelhada �Deve sempre diferenciar um aspecto inflamatório de uma cistite inflamatória ordinária de um carcinoma urotelial “in situ” (biopsiar) 2. Metaplasia escamosa: Tente a ocorrer em processos de longa evolução, sobretudo em regiões endêmicas, onde se tem a esquistossomose, como na Ásia, Oriente Médio Os ovos do parasita se alojam na bexiga, determinando um processo inflamatório de longa evolução e substituindo o urotélio por um epitélio mais resistente, no caso o epitélio escamoso (metaplasia) Essa metaplasia escamosa associada aos ovos do esquistossomo favorece carcinoma epidermoide � Existe um epitélio escamoso normal presente no trígono vesical em mulheres que não deve ser confundido com essa metaplasia escamosa associada a processos de longa evolução Sintomas da cistite São clássicos e mais do que suficiente para o diagnóstico, sintomas como: Frequência aumentada: paciente chega a urinar de 15 em 15 minutos Disúria: micção extremamente dolorosa, tipicamente, em queimação Dor abdominal baixa: ou supra púbica, uma pressão, um peso na região da cistite Diagnóstico: se o paciente começa a ter processos infecciosos de repetição, procura-se algum fator que favoreça os processos de repetição Ninho de Brunn (canto superior direito) com invaginação do urotélio, no meio (ponto vermelho) o urotélio com múltiplas camadas com uma luz no seu interior formando a cistite cística Substituição do epitélio urotelial por um epitélio colunar, essa é a cistite glandular
Compartilhar