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AULA 6 CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS Profª Ana Carolina Bustamante 2 TEMA 1 – A MOTIVAÇÃO COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO Crédito: Kieferpix/Shutterstock. Por muito tempo, as organizações não deram muita importância à motivação, pois acreditavam que o importante era dar condições adequadas de trabalho, como remuneração em função da produção, local de trabalho ventilado e com boa luminosidade, entre outros. Porém, com base em experiências na empresa Western Eletric, em Hawthorne, ficou clara a importância da motivação das pessoas em relação à produtividade. De acordo com Bergamini (2008), a palavra motivação deriva do latim, motivus, movere, que significa mover. Seu sentido fundamenta-se no entendimento que o comportamento humano é estimulado, energizado, incentivado por alguma razão, algum motivo. Motivar as pessoas dentro das organizações, no entanto, tem se mostrado um grande desafio, devido à complexidade e à diversidade humana. Segundo Levy-Leboyer (1974, p. 70), “duas pessoas, colocadas na mesma posição profissional encontram-se desigualmente motivadas”. Essa é, sem dúvida, uma afirmação que desafia e mostra as inúmeras vantagens de mapear os aspectos motivacionais que permeiam o indivíduo e representa a base para se traçar objetivos pessoais para obtenção do sucesso. 3 Weil (1997 citado por Cavalcanti et al., 2009, p. 17) apresenta uma história que demonstra como as pessoas atribuem sentidos ao seu trabalho: Certo dia, um transeunte observa a seguinte cena: dois operários estão construindo um muro, o mesmo muro; havia uma diferença notável entre o pedaço de muro construído por um e pelo outro: do primeiro estava ainda baixinho, enquanto o do outro era três vezes maior. O primeiro estava com ar resignado, carrancudo, com evidente má vontade. O outro, ao contrário, cantava, feliz e alegre. O transeunte, intrigado, pergunta ao primeiro: “O que é que você está fazendo?” Ele responde: “Estou construindo um muro, não está vendo?”. E ele torna a perguntar: “E para que você está fazendo isto?”. Ele responde: “Ora, para ganhar a vida…”. Perguntando a mesma coisa ao outro operário, este respondeu, com um grande sorriso nos lábios: “Estou construindo uma catedral”. A história apresentada nos faz refletir sobre como a motivação é geradora de energia que impulsiona as pessoas a executarem suas funções. A motivação é uma ação de dentro para fora, que movimenta a ação das pessoas para realizar algo. É a passagem de um estado atual em que a pessoa se encontra para um estado desejado. Sabe-se que, na esfera profissional, o trabalho tem, para cada indivíduo, um importante significado, capaz de reforçar ou comprometer a autoestima. 1.1 A importância da motivação Para que seja possível compreender melhor a importância da motivação, apresentaremos a história de vida de Gabrielle Douglas, mais conhecida como Gabby. Desde que nasceu, ela e sua família viviam em uma van, pois não tinham nem mesmo uma casa para morar. Ela era ainda muito jovem quando o pai abandonou a família. A partir de então, Gabby foi criada pela mãe e mais três irmãos, em situação de extrema pobreza. Apesar das dificuldades financeiras, quando ela completou seis anos, a sua mãe a matriculou em uma escola de ginástica. Mas lá, infelizmente, Gabby sofreu bullying e, por muitas vezes, foi intimada por suas colegas, mas, mesmo assim, ela não desanimou e se dedicou à ginastica. Já aos oito anos, Gabby se tornou a campeã do estado da Virginia (EUA). Aos 14 anos, Gabby mudou-se para Iowa, para morar com uma família de acolhimento e treinar com um famoso treinador, Liang Chow. Apesar de sentir muitas saudades de casa, persistiu e, aos 16 anos, venceu o campeonato norte- americano, o que lhe rendeu a participação nas Olimpíadas de 2012. Em entrevista ao New York Times, ela mencionou: “Estou indo para inspirar muitas 4 pessoas. Todo mundo vai ficar se perguntando como eu consegui isso tudo tão rápido. Mas eu estou pronta para brilhar” (Macur, 2012 citado por Gazzaniga et al., 2018, p. 403). Em 2012, Gabby foi a primeira norte-americana a ganhar uma medalha de ouro, tanto em competições individuais como em equipes. Tornou-se a primeira pessoa afro-americana e a primeira mulher a ganhar o título individual. Ao ser questionada sobre como ela foi capaz de superar tantas dificuldades e de chegar tão longe, ela respondeu: “Eu tive um monte de dificuldades, mas nunca deixei que essa dor ferisse o que eu fazia no ginásio. Sempre colocava meu coração na ginástica e me motivava todos os dias, não importante o que estive acontecendo” (Macur, 2012 citado por Gazzaniga et al., 2018, p. 403). A história de Gabby Douglas confirma o que apontam alguns estudiosos da área da motivação: para eles, a chave para o sucesso é a motivação e o esforço com persistência. A motivação e as emoções são indissociáveis, ou seja, as pessoas são motivadas a agir de determinadas formas e a alcançar sucesso pela maneira como se sentem. Alcançar os objetivos esperados, após um longo e árduo trabalho, proporciona o sentimento de felicidade e satisfação. Assim, todas as pessoas podem ter experiências bem-sucedidas quando estão motivadas a obter sucesso. 1.2 Teoria da motivação Temos diversas teorias que abordam a motivação. Entre as teorias relacionadas à motivação no trabalho, a mais conhecida é a Hierarquia das Necessidades Humanas, criada pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow (1908 – 1970), em 1943. Iremos abordá-la em nosso conteúdo. Ele explica a motivação dos seres humanos a partir de suas necessidades, as quais são organizadas hierarquicamente em cinco níveis de sucessiva importância e complexidade, como demonstra a figura “Hierarquia das necessidades humanas, de Maslow”. 5 Fonte: Bustamante, 2022. Conforme observado na figura, na base da pirâmide, estão as necessidades básicas, como alimentação, afeto, sono etc. Quando não satisfeitas, tomam a atenção total da pessoa. Por exemplo, uma pessoa com fome tentará encontrar alimento e, consequentemente, os demais estímulos não serão prioridade naquele momento. O segundo degrau da pirâmide diz respeito à necessidade de segurança e de estabilidade. O homem sente a necessidade de se proteger da privação e de fugir dos perigos que o rodeiam. Quando as necessidades primárias já estão satisfeitas, o indivíduo precisa garantir que os meios possíveis para as satisfazer não lhe faltem no futuro. Por exemplo, uma pessoa dependente de seu único emprego pode experienciar um quadro de intenso medo de que algo lhe aconteça e de que perca sua fonte de sustento. A terceira necessidade da hierarquia diz respeito à necessidade social ou de pertencimento. Superadas, pelo menos, temporariamente, as necessidades básicas e de segurança, a pessoa passa a se preocupar com seus Autorrealização Status Sociais Segurança Básicas 6 relacionamentos interpessoais, ou seja, ela busca se identificar com determinado grupo social. Ele precisa de afeto, amizade, amor e companheirismo. Caso essa necessidade não seja satisfeita, a pessoa pode se tornar agressiva, hostil e arredia, apresentando baixa autoestima e sentimento de solidão. Na quarta hierarquia, está a necessidade de status ou do ego. Trata-se da necessidade de receber reconhecimento como sujeito, alguém único. Mesmo que a pessoa pertença a um grupo social, ainda assim, precisa se destacar, distinguir- se de alguma maneira. Ao satisfazer essa necessidade, a pessoa se sente confiante e capaz. Mas caso não atinja, se sentirá inseguro, podendo desenvolver atividades compensatórias autodestrutivas. No topo da pirâmide, encontra-se a necessidade de autorrealização. Essa necessidade é a mais difícil de alcançar, uma vez que permite que as pessoas se realize completamente como ser humano. Essa satisfação permiteque a pessoa use seus recursos pessoais e suas potencialidades de crescimento para seu próprio benefício. Nesse estágio, a pessoa costuma expressar seu estado privilegiado, tentando tornar-se alguém que contribui, de alguma maneira, com a sociedade em que vive. Essa necessidade é almejada por todos, porém, apenas uma minoria a atinge. Não deixem de pesquisar as demais teorias existentes: Teoria dos dois fatores de Herzberg, Teoria ERC (Existência, Relacionamento e Crescimento) de Clayton Alderfer, Teoria do Esforço e Teoria da Equidade e a Teoria da Expectativa de Victor Vroom. O comportamento motivacional reflete um estado interior de carência. Por isso, quanto mais intenso é esse estado, maior será a força motivacional. Melhor será o desempenho das pessoas em vários âmbitos (social, acadêmico e profissional). 7 TEMA 2 – AUTOGERENCIAMENTO MOTIVACIONAL Crédito: Hitdelight/Shutterstock. Antes de ser considerado um ser racional, o homem deve ser percebido como um ser emocional. As emoções positivas ou negativas envolvem os acontecimentos ocorridos durante a vida do indivíduo. Amabile e Kramer (2011) apresentaram a Teoria do Progresso que é baseada em pesquisas que mostram que a motivação das pessoas é influenciada pela forma como elas concluem seu trabalho, sua visa de desempenho. Os autores descobriram que quando os três componentes da vida profissional interna – motivação, emoções e percepção foram positivas, as pessoas foram mais criativas, produziram melhor, demonstram espírito de equipe e engajamento. E o oposto também acontecia, se percebiam negativamente, seus resultados acompanhavam essa situação. Mas então como trabalhar as emoções? Drucker menciona que devemos constantemente nos perguntar: Quais são as minhas forças? Quais são os meus valores? Onde pertenço? Qual deve ser a minha contribuição? É se autoconhecer, é a transparência nas emoções e ideias. Gerrig e Zimbardo (2005, p. 445) afirmam que a emoção pode ser representada como “um padrão complexo de transformações corporais e mentais”. A força e a intensidade emocional apresentam diferentes níveis de “excitação fisiológica, sentimentos, processos cognitivos e reações 8 comportamentais”. Assim, quanto mais alto o grau de motivação, maiores a resposta e a intensidade emocional que permearão o indivíduo. Partindo da identificação com clareza dos aspectos intrínsecos que levam à satisfação do indivíduo, surgem necessidades e expectativas que conduzem à motivação. Para maior clareza sobre os aspectos motivacionais que mobilizam o indivíduo, é necessário compreender que o autogerenciamento motivacional é uma porta que se abre pelo lado de dentro. Segundo Minarik (1987, p. 45) “a motivação interior impulsiona o indivíduo a utilizar suas aptidões”. Nesse caso, trata-se de um reforço das habilidades e atitudes que o indivíduo tem e exerce sobre o ambiente em que se encontra inserido. Charles Manz e sua equipe criaram uma estrutura simples e objetiva para aperfeiçoar o autogerenciamento. Eles definem autogerenciamento como: um processo de modificação de nosso próprio comportamento pela alteração sistemática do modo como organizamos diferentes sugestões em nosso mundo, do modo como pensamos sobre aquilo que esperamos mudar e do modo como ligamos consequências comportamentais a nossas ações. (Manz, 1996, p. 12) A estrutura abordada considera que a mudança pessoal não é um evento único, mas um processo de múltiplas influências, em que todos temos a capacidade de mudar nossos mundos, o que nos ajuda a aprender coisas novas. São estratégias que impomos a nós mesmos para influenciar nosso comportamento. Conheça as cinco estratégias comportamentais para melhorar o autogerenciamento abordadas por Baldwin et al. (2008): • Auto-observação – exploração: observe e colha informações sobre comportamento específico que escolheu como alvo para a mudança. • Metas autoestabelecidas: determine o que comportamentos mais efetivos e estabeleça metas específicas para seus próprios comportamentos. • Gerenciamento de sugestões: organize seu ambiente de trabalho de modo que ele o ajude a desempenhar os comportamentos que você quer mudar. • Pensamentos positivos e ensaio: examine seu comportamento mentalmente e imagine uma aplicação bem-sucedida. Pratique o novo comportamento em oportunidades disponíveis e busque retorno. • Autorrecompensa e punição: providencie para si mesmo recompensas valorizadas ligadas ao desempenho de comportamentos desejáveis ou 9 punições ligadas a comportamentos indesejáveis A identificação do potencial motivacional pessoal implica, sobretudo, o conhecimento de si mesmo. Em um segundo momento, vêm a aceitação e a influência que o ambiente exterior exerce sobre o indivíduo. Para que isso ocorra, são necessários estratégia e planejamento pessoal especial, visto que se dá ao indivíduo total responsabilidade e liberdade de escolha pelo tipo de ação a ser realizada. É importante a consciência de que cada pessoa deve perseguir os próprios objetivos motivacionais. A autoavaliação e a análise dos reais interesses e satisfações são fundamentais para a definição dos objetivos motivacionais e para o atingimento destes. É necessário refletir sobre as próprias satisfações, necessidades e motivações e, com base nisso, traçar objetivos. É por meio dessa reflexão que o grande potencial produtivo e criativo existente no interior de cada indivíduo pode ser transformado em comportamento natural, espontâneo e intuitivo. Conhecer a si mesmo e compreender as próprias atitudes e os comportamentos essenciais é fundamental para o autogerenciamento motivacional. Refletir sobre as atitudes do dia a dia é um exercício para a melhoria constante e para o sucesso pessoal. A motivação representa uma porta que se abre pelo lado de dentro, ou seja, por meio da análise dos próprios comportamentos e ações. A preocupação em identificar, conhecer e classificar os diferentes comportamentos humanos é uma preocupação e é interesse de estudos antigos. No início do século passado, algumas análises foram desenvolvidas com o objetivo de identificar e determinar as causas das diferenças entre as pessoas e suas semelhanças comportamentais. Na visão de Hunter et al. (2013), se entendemos que nossos estados internos afetam o comportamento, então o desafio da produtividade consiste em lidarmos efetivamente com esses estados e os melhorarmos. A prática do autogerenciamento permite ao profissional jogar uma luz em sua “caixa preta interior”, iluminar seus processos internos e transformá-los para aumentar sua efetividade. O autogerenciamento é uma das competências que compõem a Inteligência Emocional. Esse tema abordaremos mais à frente. Daniel Goleman, criador da expressão Inteligência Emocional, ressalta que, antes de desenvolver 10 o autogerenciamento, é necessário conhecer a si mesmo, prestando atenção a nós mesmos e a nossos sentimentos. É uma habilidade de gerenciar nossa experiência interna envolvendo pensamentos, emoções e percepções. DuBrin (2003, p. 130) propõe que a motivação intrínseca e a autodeterminação consideram as pessoas que se realizam mais como “agentes ativos das forças ambientais do que reagentes passivos delas”. A falsa motivação é o resultado de uma autopercepção distorcida e imprecisa da verdadeira necessidade e satisfação. Buscar manter um equilíbrio entre o trabalho, a vida social (família e amigos), lazer, saúde física, mental e estar coerente com seu sentido de vida é se autocuidar, é se autogerenciar. TEMA 3 – CICLO PESSOAL DE DESENVOLVIMENTO O autogerenciamento efetivo começa de dentro. O profissional que é capaz de gerenciar a si mesmo será apto a gerenciar outros com efetividade. A compreensão da efetividade pessoal tem como foco o conhecimento e os comportamentos, aqueles que de fatolevam ao aprendizado e à ação e que estão diretamente relacionados à melhoria da própria competência pessoal. É sempre um grande desafio o processo de melhoria pessoal, pois despejamos muita esperança de que tudo dê certo. Porém, nem sempre isso acontece, pois são feitas reflexões com análises muito superficiais e com pouca clareza de como a melhoria pessoal realmente pode acontecer. Contudo, um número realmente baixo de pessoas conhece a si mesmo e tem a autodisciplina para realizar o que é necessário para aprender novas habilidades. Mas vamos entender primeiramente o sentido da palavra desenvolver. Desenvolver significa romper lanços, amarras, ou seja, o desenvolvimento exige que a pessoa rompa com um padrão já adquirido para adoção de um novo, aumentando as capacidades independentemente da dimensão humana e das possiblidades desenvolver o potencial. Se autodesenvolver assumiu grande importância no século XXI, como uma das principais competências do profissional. Para os cientistas do desenvolvimento humano, existem três principais domínios ou aspectos do eu: físico, cognitivo e psicossocial. No desenvolvimento físico, tem-se o crescimento do corpo e do cérebro, incluindo os padrões de mudança nas capacidades sensoriais, habilidades motoras e saúde. 11 O desenvolvimento cognitivo refere-se ao padrão de mudança nas habilidades mentais, tais como aprendizagem, atenção, memória, linguagem, pensamento, raciocínio e criatividade. E o desenvolvimento psicossocial aborda sobre o padrão de mudança nas emoções, personalidade e relações sociais (Papalia; Feldman, 2013, p. 32). Baldwin et al. (2008) apresentam alguns mitos da efetividade pessoal: O aprendizado do gerenciamento vem com idade e experiência - aprender é trabalho duro e vem de um desejo consciente e persistente de levar em consideração modelos efetivos, aprender e reter o que eles fazem e praticar novos comportamentos consistentes; Nós nos conhecemos – na verdade, várias pesquisas mostraram que a diferença entre o modo como nós percebemos e o modo como os outros nos percebem costuma ser significativa. Essas diferenças, muitas das quais não enxergamos, costumam resultar em problemas ou fracassos de autogerenciamento. A verdadeira autoconscientização é o fundamento da efetividade pessoal; Oportunidades de crescimento se encontram exclusivamente em nossas fraquezas. Temos sucesso por causa daquilo que fazemos bem. Contudo, é comum ficarmos tão concentrados em melhorar os pontos fracos que negligenciamos nossas forças. O desenvolvimento pessoal de novas habilidades é importante, mas é preciso que você também dedique algum tempo para esclarecer o que faz bem e então tentar se colocar em situações nas quais pode elevar suas forças até a excelência; Não sou eu, são eles - se for para aprender uma única “verdade” do gerenciamento, que seja esta: você jamais conseguirá controlar totalmente o comportamento dos outros, mas tem controle sobre o próprio comportamento. O melhor modo de mudar os outros é, em primeiro lugar, mudando você mesmo; Os melhores gerentes são muitíssimos organizados e loucos por trabalho - o gerenciamento efetivo de tempo não trata primariamente de eficiência ou de controle neurótico do tempo, mas de capacitação pessoal para reduzir estresse, conseguir equilíbrio e fazer o que realmente queremos fazer. A meta é trabalhar com mais inteligência, e não trabalhar arduamente. Ainda de acordo com os autores, existem algumas estratégias que podem ser consideradas para um desenvolvimento pessoal: auto-observação, metas autoestabelecidas, gerenciamento de sugestões, pensamento positivo e autor recompensa. O desenvolvimento pessoal deve atentar-se para tanto para hard skills como para soft skills. Mas o que vem a ser isso? Vamos entender no próximo tópico. 3.1 Hard skills e soft skills A expressão hard skills vem do inglês hard, que significa rígido e skill, habilidade. Corresponde às habilidades da pessoa, conquistadas por meio de ensino formal e treinamento. 12 Para que um profissional seja bem-sucedido, precisa desenvolver habilidades para adquirir, consolidar e compartilhar com os outros novos conhecimentos. As organizações têm cada vez mais contratado profissionais que possuem grande bagagem de conhecimento, suas capacidades de hard skills, que são suas competências técnicas ensinada na escola, e podem ser adquiridas por treinamento e estudos. (Martins, 2017, p. 3) Geralmente, as habilidades em hard skills são consideradas no processo de seleção de pessoas, uma vez que habilidades técnicas são essenciais para que o profissional consiga desenvolver sua função. Dessa maneira, em um processo seletivo, na maioria das vezes, são exigidas as hard skills específicas, como formação em determinado curso superior (graduação), domínio em inglês, Excel avançado, mestrado em área específica, operação determinado maquinário, entre outros. Sgobbi e Zanquim (2020) corroboram com esse pensamento, pois para eles as hard skills são habilidades que podem ser quantificadas e aprendidas de maneira simplista, tratando de conhecimentos aprendidos diariamente por meio de uma leitura, trabalho ou sala de aula, podendo os profissionais comprovarem por meio de diplomas, cursos e vários outros meios que demonstram o seu aprendizado. Eles ainda complementam que, algumas características, o profissional independente da área deve apresentar em suas competências técnicas como: Ter uma visão estratégica do mercado, compreendendo oportunidades e criando caminhos secundários ao ponto de estabelecer um diferencial no atendimento ao cliente; possuir capacidade de interação com o cliente, ouvindo suas necessidades e criando soluções visionárias perante tal abordagem; ter conhecimento sobre tecnologia e possíveis tendências que afetam seu mercado por meio de investigações e uso de metodologias cabíveis que facilitem a criação de um produto inovador; possuir capacidade de criar um diferencial, estudando alternativas na criação de um produto ou serviço, obtendo assim uma vantagem competitiva e também, possuir capacidade de estabelecer metas e planejamentos, organizando de modo estruturado tudo aquilo que for necessário para executar o plano de ação. Sendo assim, tais características são algumas hard skills, ou seja, competências técnicas que visam melhor aprimoramento do profissional. (Sgobbi; Zanquim, 2020, p. 32) Enquanto as hard skills se referem às potencialidades técnicas desenvolvidas pelo lado esquerdo do cérebro (a parte correspondente à lógica), as soft skills equivalem às habilidades emocionais e mentais reguladas pelo lado direito do cérebro. O melhor candidato é aquele que consegue unir o maior número possível de hard skills e soft skills, pois as duas habilidades são essenciais e necessárias para o desenvolvimento humano. 13 Diferentemente das hard skills, as soft skills estão diretamente relacionadas à inteligência emocional e são, em geral, adquiridas a partir das experiências vividas pelas pessoas ao longo de suas vidas. Conforme Clemente (2019), as soft skills mais valorizadas no mercado de trabalho, hoje, são: pensamento criativo, comunicação assertiva, ética nas organizações e espírito de liderança. Podemos dizer que um dos marcos da evolução do homem foi o desenvolvimento de habilidades para acumular conhecimento e, posteriormente, aplicá-los e compartilhá-los com os demais seres humanos, dando origem ao que denominamos cultura. A partir dessas potencialidades, os seres humanos evoluíram conquistando consideravelmente em relação a seus ancestrais, produzindo, acumulando e transmitindo conhecimento de geração em geração. Faz parte da natureza humana transformar o conhecimento a partir de novas descobertas, que possibilitam melhor compreensão acerca dos fenômenos que nos cercam, produzimos novos conhecimentos, questionamos os elementos domudo à nossa volta. Habilidades e competências que dizem a respeito do comportamento do profissional são determinados pelas soft skills. Podemos dizer que as soft skills podem ser observadas pelas habilidades de comunicação, pensamento crítico, criatividades, autoconhecimento, gerenciamento de projetos, mentalidade de equipe, vontade e capacidade de aprender, entre diversas outras características eficazes que empresas buscam no profissional. Habilidades estas baseadas na inteligência emocional, que passam a ser imprescindíveis em um mundo repleto de mudanças, inovações e novas exigências. TEMA 4 – INTELIGÊNCIAS EMOCIONAL E ESPIRITUAL 4.1 Inteligência emocional A teoria da inteligência emocional foi criada por Daniel Goleman e teve grande impacto sobre líderes, funcionários de empresas e pessoas em geral. Para ele, ter um QE (quociente emocional) elevado representa saber lidar com os próprios sentimentos e emoções e com os dos outros à sua volta, sendo uma vantagem competitiva em nosso mundo atual. 14 Crédito: pathdoc/Shutterstock. Goleman (1995 citado por oliveira, 2010) argumenta, para justificar sua teoria, que ter um QI elevado já não é uma condição suficientemente privilegiada, frente à complexidade da realidade contemporânea e consiste na capacidade do indivíduo perceber, nomear, administrar e compreender a emoção em si e nas outras pessoas, buscando utilizar para facilitar a sua adaptação ao meio em que vive. O conceito de Inteligência Emocional pauta-se em cinco habilidades básicas e interdependentes: autoconsciência, automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade. 15 Quadro 1 – Habilidades básicas da IE HABILIDADES DEFINIÇÃO Autoconsciência As pessoas mais seguras acerca de seus próprios sentimentos são melhores pilotos de suas vidas, tendo uma consciência maior de como se sentem em relação a decisões pessoais, desde com quem se casar a que emprego aceitar. Automotivação Pôr as emoções a serviço de uma meta é essencial para centrar a atenção, para a maestria e para a criatividade. Autocontrole As pessoas que são fracas nessa aptidão vivem constantemente lutando contra sentimentos de desespero, enquanto outras se recuperam mais rapidamente dos reveses e perturbações da vida. Empatia As pessoas empáticas estão mais sincronizadas com sutis sinais do mundo externo que indicam o que os outros precisam ou o que querem. Isso as torna bons profissionais no campo assistencial, no ensino, vendas e administração. Sociabilidade A arte de se relacionar é, em grande parte, a aptidão de lidar com as emoções dos outros. É a aptidão que reforçam a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal. As pessoas excelentes nessa aptidão se dão bem em qualquer coisa que dependa de interagir tranquilamente com os outros; são estrelas sociais. Fonte: elaborado com base em Goleman, 1995. A IE pode ser considerada a capacidade de lidar com as próprias emoções e com as emoções alheias. Baseia-se no autocontrole emocional e autoconhecimento. Autoconhecimento ou autoconsciência pode ser definido como “a capacidade de compreender seus estados de espírito, emoções e impulsos, bem como o efeito desses seus estados sobre as outras pessoas” (Oliveira, 2010, p. 331). As principais características de pessoas que têm esse traço são: capacidade 16 de se autoavaliar, autoconfiança, capacidade de rir de si mesmo e admitir seus próprios fracassos. Já o autocontrole é “a capacidade de controlar e redirecionar impulsos e estados de espírito que sejam perturbadores para a pessoa; bem como uma propensão a não fazer julgamentos precipitados, mas pensar antes de agir” (Oliveira, 2010, p. 332). Pessoas com autocontrole apresentam características como sentimento de bem-estar, mesmo em situações ambíguas; confiança em si mesmas, integridade pessoal e abertura às mudanças. Importante: autocontrole não significa controlar as emoções. Por exemplo, ter o controle de não chorar quando se perde um ente querido. Quando se exerce demasiadamente esse tipo de controle, o ser humano está colocando em risco a sua saúde, exigindo de si um esforço emocional muito grande. Na teoria de Goleman (citado por Oliveira, 2010), ter o controle das emoções significa tem em seu domínio, autonomia para expressá-las ou não. Não necessitando se esforçar para aparentar e não deixar transparecer suas emoções e sentimentos. Quando falamos em automotivação, estamos tratando de uma paixão pela atividade desenvolvida “derivada de motivos que não contemplam o dinheiro ou o status que essa atividade possa conferir à pessoa; é uma propensão para perseguir com energia e persistência seus objetivos pessoais ou profissionais” (Oliveira, 2010, p. 333). Suas principais características são: comprometimento particular com a empresa e o trabalho, otimismo apesar de evidências de fracassos e forte impulso na busca de objetivos. A empatia é “a capacidade que as pessoas têm de compreender a constituição emocional das outras; e, ainda, a habilidade para tratar as pessoas de maneira compatível com as reações emocionais que elas apresentam” (Oliveira, 2010, p. 334). É considerada essencial na comunicação e nas relações interpessoais. As principais características das pessoas com empatia são: sensibilidade para compreender as diversidades culturais nas relações interpessoais, habilidade para estimular os talentos nas organizações e excelente habilidade para atender os clientes e colegas da empresa. A sociabilidade envolve a aplicação da empatia bem como saber negociar as necessidades dos outros buscando equilibrá-las às suas, sendo capaz de 17 entrar em sintonia com os sentimentos do outro e entender como ela pensa sobre as coisas. A sociabilidade consiste na habilidade que possibilita à pessoa “administrar adequadamente seus relacionamentos e criar redes de contato [...], assim como a capacidade de encontrar pontos em comum com outras pessoas e, a partir destes, cultivar afinidades com elas” (Oliveira, 2010, p.334). As principais características de indivíduos sociáveis são: capacidade de persuasão, eficiência em liderar mudanças e experiência em constituir e liderar equipes. As pessoas sociáveis sentem prazer em estar e conviver com os outros e, muitas vezes, são admiradas pelas pessoas à sua volta. 4.2 Inteligência espiritual É um equívoco pensar que o emprego dos valores espirituais foi superado dentro das organizações. A espiritualidade continua sendo um tema sedutor da vida humana. Temas instigantes relacionados à essência de nossa existência, cujas respostas não são encontradas nos laboratórios científicos se constituem como guias das ações dos homens. Nesse sentido, são comuns questionamentos como “de onde viemos?”, “quem somos nós?”, “o que fazemos na Terra?”, “o mundo está dividido entre espírito e matéria?”, “os fins justificam os meios?”. Diante de tantas mudanças como os novos caminhos da economia mundial, crise de energia como outros, entendeu-se a necessidade de estabelecer uma nova relação dos seres humanos com o ambiente e, nesse contexto, a retomada dos valores espirituais como forma de unir o universo ao particular. De acordo com Arruda (2005), a religiosidade resgata os valores perdidos e pessoas que lidam com esses valores esbarram nos aspectos sensíveis da condição humana. Além das inteligências emocional e intelectual, uma nova inteligência tem impacto na vida do homem para favorecer seu equilíbrio, a inteligência espiritual. Esse tipo de inteligência promete ser a nova chave para alcançar o sucesso e a produtividade no mundo corporativo, pois as pessoas conseguirão lidar melhor com questões que são essenciais como: criatividade, espírito de equipe, intuição, comunicação eficaz, bem-estar e qualidade de vida. 18 Crédito: BruceRolff/Shutterstock. Cada vez mais percebemos a busca pelo autoconhecimento, equilíbrio e evolução do homem. E isso pode ser comprovado pelo aumento das vendas de livros de autoajuda. Até mesmo a medicina tradicional vem se rendendo à espiritualidade e muitos médicos, conscientes de que grande parte das doenças está associada a questões psicológicas como as psicossomáticas, têm recomendado tratamentos alternativos, como meditação, para amenizar tensões. Pessoas com inteligência espiritual apresentam algumas das seguintes características: valores éticos, compaixão, intuição, criatividade, fé, visão holística, respeito pelo meio ambiente, senso de justiça, compaixão e responsabilidade social. Estudos realizados recentemente por neurocientistas de todo o mundo apontaram a existência de um local no cérebro chamado Ponto de Deus, responsável pelas vivências espirituais dos seres humanos. Eles o chamaram de terceira inteligência ou inteligência espiritual (Arruda, 2005). Torralba (2013, p. 10 e 46) complementa quando destaca que A inteligência espiritual faculta ao ser humano a análise valorativa da própria existência e dos ideais e horizontes de sentido da mesma, porém, também, abre outras possibilidades que não estão contidas no 19 termo existencial. [...] toda pessoa tem dentro de si a capacidade de buscar a integração de seu ser com a realidade mais ampla que a sua e, ao mesmo tempo, dispõe da capacidade para encontrar um caminho para tal integração. A inteligência espiritual envolve os aspectos emocional e racional, emergindo com uma nova visão para pensar o comportamento humano, pois fazemos parte de algo maior, estamos integrados ao todo. Nascimento (2016) destaca dez princípios básicos da inteligência espiritual conforme quadro a seguir: •Profundo conhecimento das crenças, valores, anseios, motivações e a capacidade de não mentir sobre eles Autoconhecimento elevado com sinceridade pessoal •Viver e se responsabilizar por cada momento de sua vida numa atitude protagonista e não vítima das situações Espontaneidade •Viver e agir conforme suas crenças e valores não negociáveis Autossugestão • Enxergar fronteiras amplas nas suas relações e redes de contatos, sempre com senso de pertencimento Visão holística • Muito além da empatia, significa estar profundamente conectado com o seu próximo e sociedade como um todo Compaixão • Saber valorizar pessoal e culturas diferentes de você e não os menosprezar Diversidade 20 Fonte: elaborado com base em Nascimento, 2016. p. 134-135. A inteligência espiritual está atrelada à essência do ser humano, que busca viver uma vida com propósito, equilíbrio, harmonia. • Desenvolver altíssimo senso de convicação e não se deixar contaminar pela multidão Independência • Situar-se como apenas personagem em um trama grande e, mesmo assim, ter ciência do seu papel no todo. Humildade • Habilidade de perguntar e entender os porquês das questões fundamentais da vida Senso de propósito • Profundo senso de servidão e de retribuição à vida Senso de vocação 21 TEMA 5 – FEEDBACK PARA FECHAR TODO O PROCESSO Crédito: Fizkes/Shutterstock. O feedback é uma ferramenta importante em vários processos da organização. Nas organizações, o feedback tem o intuito de fornecer informações a respeito do desempenho no trabalho. Esses dados orientam o profissional, contribuindo para o alcance de objetivos pessoais e organizacionais, facilitando, assim, seu crescimento profissional. O principal objetivo do feedback é oferecer as informações necessárias para que os profissionais possam potencializar suas forças e superar suas fraquezas. E, além de melhorar, ele é capaz de motivar. Segundo Pontes (2016), o feedback pode ocorrer por meio de um processo formal ou informal, podendo ser transmitido de maneira oral ou escrita. Ele orienta os funcionários na direção dos objetivos da empresa. Trata-se de uma análise construtiva do desempenho do colaborador da empresa, que envolve a abertura de um canal de comunicação claro entre os envolvidos. Esse canal permite que o colaborador entenda o que a organização espera dele e como percebe seu desempenho. Tais informações, por sua vez, propiciam a melhoria de sua atuação e seu desenvolvimento profissional. Além do feedback fornecer informações, ele tem um caráter motivacional, pois reconhece e recompensa o esforço e a persistência. 22 Um dos papéis do feedback é informar ao profissional como está seu desempenho e sua conduta aos olhos do seu gestor e de seus pares. Williams (2005) descreve quatro tipos de feedbacks: Positivo: quando temos por objetivo reforçar comportamentos que consideramos adequados e que desejamos que se repitam; corretivo: quando temos por objetivo modificar comportamentos que consideramos inadequados; ofensivo: é assim considerado quando seu conteúdo e sua forma desvalorizam e desqualificam o profissional. Além de não propiciar a mudança desejada, pode comprometer de forma severa a relação deste na organização; insignificante: quando o interlocutor não entende seu conteúdo ou propósito devido à forma vaga ou genérica utilizada pelo emissor da informação. Fornecer e receber feedback exige treinamento e muita prática. Por ser um processo comunicativo, o feedback envolve questões técnicas, pessoais, sociais e culturais, por isso, sempre aprenderemos um pouco mais sobre essa arte ao praticá-la. Diante do exposto, verificamos que o feedback é uma ferramenta importante, pois é por meio dessa ferramenta que os profissionais podem corrigir seus comportamentos e sua maneira de pensar, podendo ser um momento de motivação e uma ocasião para a empresa decidir sobre o desenvolvimento profissional de seus integrantes. Além disso, o feedback é uma grande ferramenta não somente para apontar o que precisa ser melhorado, mas para dar um retorno dos esforços que vêm sendo realizados dentro da organização. Por exemplo, um grupo de profissionais participou de um processo de treinamento e, depois de determinado tempo, após apresentarem e colocarem em prática o conhecimento adquirido nesse treinamento, eles podem receber o feedback da empresa pelos seus esforços e pela disseminação desse conhecimento na organização, agregando valor ao negócio da empresa. Almeida (2008), citado por Ramos e Cruz (2015), apresenta cinco pontos essenciais para a eficácia do feedback: a) estabelecer uma relação de confiança recíproca para diminuir as barreiras entre o comunicador e o receptor; b) reconhecer que o feedback é um processo de exame conjunto; c) aprender a ouvir; a receber feedback sem reações emocionais defensivas; d) aprender a dar feedback de forma habilidosa, sem conotações emocionais intensas; e) delinear um plano de desenvolvimento para correção dos pontos negativos e negociar metas, prazos e compromissos mútuos. 23 Para que o feedback seja eficaz em sua finalidade primordial, que é o de dar subsídios para que se desenvolvam comportamentos desejados, é necessário fazer a escolha certa de como realizar o feedback. Ele faz com que pessoas possam modificar seus comportamentos na direção desejada, manter os comportamentos já adequados e adquirir novas habilidades. 24 REFERÊNCIAS ALBRECHT, K. Inteligência Social. São Paulo: M. 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